Negros Da Terra - Formas de Escravismo Indígena
Negros Da Terra - Formas de Escravismo Indígena
Negros Da Terra - Formas de Escravismo Indígena
indígena
Prof. Luis Henrique Souza dos Santos
Descrição
Os processos de redução da diversidade dos povos indígenas à lógica de exploração colonial e a agência
nativa pela sobrevivência de seus costumes e visões de mundo.
Propósito
Objetivos
Módulo 1
Reconhecer a diversidade étnica das populações nativas antes e durante a conquista da América pelos
europeus.
Módulo 2
Identificar as formas que o escravismo assumiu sobre os povos indígenas no Brasil colonial.
Módulo 3
Analisar a configuração das resistências indígenas nas ações coloniais para com os povos nativos.
meeting_room
Introdução
O mês era agosto, no ano de 2021. Você, caro estudante, deve ter acompanhado nos noticiários e nas redes
sociais as manifestações com numerosos indígenas nas largas avenidas de Brasília e, mais
especificamente, no acampamento de milhares deles na Esplanada dos Ministérios. De forma simbólica, o
acampamento recebeu o nome de “Luta pela vida”, e contou com mais de seis mil indígenas, de mais de 170
etnias distribuídas pelo Brasil. Essa mobilização tinha um propósito: demonstrar a insatisfação dos povos
nativos para com a tese do “Marco Temporal”, que estava em julgamento no Supremo Tribunal Federal.
O “Marco Temporal” foi assim denominado por estabelecer um limite – a promulgação da Constituição de
1988 – para que os povos originários pudessem demandar a demarcação de suas terras, garantindo dessa
maneira a inviolabilidade de seu território. Com essa determinação, os indígenas só poderiam recorrer à
justiça para requerer a demarcação se comprovassem, juridicamente, a ocupação daquelas terras até a
promulgação da Constituição de 1988.
Entre os dizeres dos indígenas em agosto de 2021, disseminou-se a frase: “Nossa história não começa em
1988”. É aqui que nossa atenção deve estar ao nos depararmos com casos como esse relativo às
populações originárias. Como pode o Estado brasileiro determinar uma data para que esses povos
reivindiquem suas terras, quando eles existem muito antes da própria fundação do Brasil?
A sobrevivência dos povos indígenas no mundo contemporâneo tem sido creditada à mudança de
mentalidade da legislação portuguesa (durante o período colonial) e brasileira (após a independência) com
relação às populações nativas aldeadas, isoladas e assimiladas. No entanto, esse discurso predominante
ignora a própria agência dos povos originários na sua conservação, apesar dos avanços do “homem branco”
sobre suas terras e cultura. Será a respeito desses problemas que nos debruçaremos no decorrer deste
tema.
1 - O Novo Mundo com velhos habitantes
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a diversidade étnica
das populações nativas antes e durante a conquista da América pelos
europeus.
Todo esse longo emaranhado de regiões é fruto de um processo histórico de ocupação dessas terras,
fundamentalmente por portugueses, pela apropriação do trabalho negro escravizado e de imigrantes
europeus, além do gozo da mão de obra indígena. Entender a complexa trama de relações que levaram à
colonização e criação do Brasil é um desafio com o qual não conseguiremos lidar neste momento. Porém,
iremos abordar, com o máximo de profundidade possível, as relações estabelecidas entre os povos nativos
e a colonização:
Quem são os povos indígenas?
De partida, deve-se destacar que o termo “índio” é impróprio, assim como a própria
denominação indígena, já que, originalmente, foi utilizada pelos europeus para caracterizar,
como sendo a mesma coisa, povos de corpos, línguas e costumes muito distintos uns dos
outros. Além disso, seu uso pode ser traçado como aquele que é natural da Índia, ou seja, do
subcontinente asiático ao qual os europeus buscaram chegar no período das Grandes
Navegações, nos séculos XV e XVI.
Pensemos em um exemplo:
Atentos aos efeitos provocados pelo ato de nomear povos tão distintos, podemos refletir
sobre a palavra “tapuia”. Ao aportar no litoral atlântico do Brasil, os portugueses encontraram
agrupamentos nativos do grupo linguístico tupi-guarani. Nas regiões da Bahia, deparam-se
com os tupinambás, povo que ficou conhecido por sua disposição para a guerra e pelos
rituais de canibalismo. Nesse contato com os tupinambás, os portugueses assumiram muitas
de suas estratégias de relação com outros povos mais para o sertão, chamados de tapuias,
significando bárbaros, desprovidos “de aldeia, agricultura, canoa, rede e cerâmica” (FAUSTO,
2000, p. 48).
Em suma, estamos diante de uma rede de significados ao tratar dos povos nativos no período colonial:
Primeiro
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Segundo
As áreas de conhecimento que têm realizado maiores avanços nos estudos dessas populações no território
brasileiro são a antropologia e a arqueologia. Especialmente a arqueologia tem conseguido mapear o longo
período de ocupação desses povos, que remonta a, pelo menos, 12 mil anos. Sendo assim, estamos aqui
diante de uma história que conhecemos muito pouco, já que, com frequência, começamos a falar da vida
dos povos originários a partir da colonização, que ocorreu há apenas cinco séculos. Nas escavações que
vêm sendo realizadas por todo o país, destaca-se a presença da cerâmica, manipulada de diferentes formas,
especialmente nas tradições aratu e uru (FAUSTO, 2000, p. 54).
Aratu
É proveniente do nordeste brasileiro. Parece ter desaparecido antes mesmo dos efeitos da conquista no
século XVI, já apresentando decadência nos séculos X-XI.
Uru
É proveniente da região amazônica. Parece ter se tornado predominante a partir dos séculos X-IX (FAUSTO,
2000, p. 54).
Essas formas de se confeccionar e manipular peças em cerâmica são relevantes para a datação e o
mapeamento do deslocamento de povos e seus respectivos costumes, além de destacarem a própria
organização das aldeias ou ocupações.
Outro lugar-comum ao tratar dos povos indígenas é a aldeia, pensada sempre de maneira circular e as
habitações, em formato de oca.
A disposição anelar das aldeias, no entanto, está identificada com as povoações na região do Alto Xingu,
com tradições linguísticas distintas que, antes do período da conquista, parecem ter construído espaços de
convívio e fortificação contra tupis ou jês – quem sabe até os dois –, que eram menos sedentarizados e
mais belicosos. É provável que essa disposição anelar tenha se expandido com o passar dos séculos e com
as realocações, tópico que retornará ao nosso diálogo.
A população que vivia na floresta amazônica, assim, era diversa, complexa e, fundamentalmente,
descentralizada. Uma das principais preocupações de antropólogos e arqueólogos do século XX – talvez se
apropriando de preocupações presentes nos textos de autoridades coloniais – era a ausência de estado
entre esses povos.
Muitas explicações foram aventadas, com destaque para a suposição que vigorou durante muito tempo de
que a não formação de um estado, à semelhança do que ocorreu no império inca, se dava pela presença da
própria floresta. Não era possível construir estradas, não havia plantações extensivas, nem era possível
concentrar grande contingente nos núcleos populacionais. No entanto, olhar para os povos da várzea
amazônica e das margens dos principais rios do sul amazônico somente pela sua falta foi o principal erro
dessas interpretações.
Diante da profusão de povos pelo território, uma estratégia adotada pelos antropólogos e por linguistas tem
sido a de mapear os troncos linguísticos e suas variações. Podemos destacar dois esforços de fôlego na
apresentação e preservação da diversidade cultural e linguística nativa no Brasil.
O primeiro é o “Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes”, de Curt Nimuendajú, etnólogo alemão
que se estabeleceu profissionalmente no Brasil e desenhou algumas versões desse monumental mapa nos
anos 1940 para diferentes instituições (NIMUENDAJÚ, 2017). Além do mapeamento, esse documento
propicia uma compreensão de certos deslocamentos de grupos indígenas, destacando sua mobilidade e
adaptação. O outro esforço, mais recente, é do Centro de Documentação de Línguas Indígenas (CELIN)
localizado no Museu Nacional/UFRJ, que lida com a grande diversidade indígena e estabelece conexões
sem apresar a cultura multiétnica nativa.
No império português, as Câmaras Municipais têm uma função fundamental na organização local e, apesar
de congregarem os chamados “ homens bons” da região, tornaram-se apoio e utilizavam suas ações para
reivindicar privilégios com a Coroa lusitana. Guida Marques, em artigo de 2014, destaca essa posição dupla
das câmaras, estudando mais especificamente o caso da Bahia durante o século XVI e XVII e sua luta
contra os “gentios” (MARQUES, 2014). Os índios que não eram vertidos ao cristianismo, considerados
“bravos” ou “bravios”, passavam à categoria de “bárbaros”, podendo, assim, ser caçados e feitos escravos.
Pela limitação de expansão dos europeus sobre a América, esses índios geralmente ocupavam o que era
chamado de “sertão”, terra desconhecida e para dentro.
Homens bons
Homens pertencentes ao que convencionamos chamar de "elite" colonial. Nesse grupo, ao longo do período
colonial, podemos incluir os grandes proprietários de terras, de fazendas de cana, de fumo, de algodão e,
principalmente, senhores de grandes plantéis de escravos. Somente no século XVIII e XIX podemos incluir,
nessa denominação genérica, os grandes comerciantes, que, nos séculos XVI e XVII apesar de vultuoso
patrimônio, eram considerados de condição social inferior aos senhores de engenho e de fazendas.
Nesse longo processo de assentamento das populações de origem europeia, principalmente portuguesas,
chamadas no geral de colonos, o contato com os povos nativos gerou conflitos e acomodações. No que se
refere aos conflitos, podemos destacar as incursões indígenas às fazendas, as incursões para expulsar e
apresar índios lideradas pelos bandeirantes (aspecto que trataremos mais à frente), entre outras rusgas de
colonizadores e seus descendentes com os indígenas.
Obra de Jean Baptiste Debret, 1830.
Já com relação às acomodações, destacam-se esses mesmos conflitos nos quais os nativos tomam
partido. Ou seja, ao tratar com diferentes povos, europeus aliavam-se a determinado grupo, ao passo que
guerreavam com outros.
Um dos exemplos mais conhecidos dessas parcialidades entre indígenas e europeus está na tentativa de
colonização francesa no Rio de Janeiro, com a construção do forte de Coligny sob a liderança de Nicolas
Durand de Villegaignon, nos anos 1550. Após disputas religiosas entre os franceses, um grupo de
protestantes decide abandonar a fortaleza e buscar a sorte de sobrevivência entre os tupinambás. Do relato
de um dos missionários que decidiu aventurar-se por pequeno período entre os índios, Jean de Léry,
depreende-se, também, que os franceses não eram os únicos a estabelecer alianças com os povos nativos,
nem mesmo a viver entre estes.
Assim, abrimos espaço para tratar de dois tipos bastante comuns no período da conquista. Muito
corriqueiros para várias nações europeias, eram os náufragos e o que em português convencionou-se
chamar de lançados. Um costume dos marinheiros, quando se colocavam em direção a terras
desconhecidas, era recolher meninos para a viagem; à medida que se aproximavam da costa, lançavam
esses jovens em terra firme, para que estabelecessem contato, por imersão, com as populações nativas. De
outra feita, buscando a sobrevivência, os náufragos das embarcações se assentavam com os povos nativos,
descobrindo seus modos e sua linguagem. O caso mais conhecido na história do Brasil talvez seja o de
Diogo Álvares Correia, o Caramuru, que passou a vida entre os indígenas na Bahia e se tornou conexão
importante para o estabelecimento dos portugueses no Recôncavo, costurando casamentos de seus filhos
e filhas com homens lusitanos (AMADO, 2000).
O segundo tipo, que recebe maior atenção da historiografia e da memória popular acerca da colonização e
seus contatos com os indígenas, foram os missionários religiosos.
No caso do Brasil, a ordem religiosa que mais se destacou foi a Companhia de Jesus, fundada em Roma na
esteira do Concílio de Trento e do movimento de Contrarreforma. Voltados para a conversão de pagãos e
para a luta contra o protestantismo na Europa, os jesuítas rapidamente se dedicaram à redução das
populações ameríndias ao cristianismo romano. Representativa dessa importância foi a presença dos
inacianos nas embarcações que chegaram à Bahia para a fundação de Salvador e do sistema de Governo-
Geral, com o Governador Tomé de Sousa, em 1549.
O missionário espanhol José de Anchieta foi, junto com Manuel da Nóbrega, o primeiro jesuíta que Ignacio de Loyola (fundador da Companhia
de Jesus) envia para a América.
Por fim, cumpre destacar que a ocupação do litoral pelos europeus e seus descendentes na construção de
fazendas e cidades voltadas para o comércio atlântico, durante o século XVI e XVII, contou com a
assimilação e dizimação das populações indígenas, como já é conhecido pelos debates mais recentes da
historiografia. Contudo, as populações nativas sobreviveram à conquista. E essa sobrevivência está
relacionada tanto a um isolamento em virtude dos limites de avanço da conquista no território quanto aos
próprios deslocamentos de grupos inteiros na busca por segurança e por mitos de salvação. Nesse sentido,
destacamos dois exemplos bastante elucidativos da sobrevivência pela transumância:
Busca pela “terra sem mal”
Trata-se de uma prática conhecida como messiânica pela historiografia, liderada pelos caraíbas, aos quais
eram atribuídos poderes de cura e profecia no tronco linguístico tupi (VAINFAS, 1995). Os caraíbas,
diferentemente do que se considera sobre as religiosidades nativas, não estavam fixos em uma tribo e eram
caracterizados justamente pela sua desterritorialização e por ocupar a floresta (FAUSTO, 2000, p. 58).
Família Caraíba.
Índios Bororo.
Ou seja, os deslocamentos em virtude da pressão da conquista sobre o sertão podem ter sido fatores
motivadores para a miscigenação e criação de novas identidades e novas práticas entre povos indígenas.
Tomemos aquele que ficou marcado como o primeiro relato do encontro entre portugueses e indígenas –
conhecidos mais tarde sob a denominação de botocudos, do tronco linguístico macro-jê –, a célebre carta
de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal sobre a descoberta das terras de Vera Cruz. Sem nos
debruçarmos sobre toda a carta, alguns trechos são interessantes para notarmos tópicas da relação entre
europeus e os ameríndios (HOLANDA, 2000).
Depois de aportarem na foz de um rio, encontraram-se com um grupo de cerca de vinte indígenas, todos
nus, os quais não “estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com
tanta inocência como têm em mostrar o rosto.” (CAMINHA, fl. 2v). A inocência do indígena era uma das
tópicas mais recorrentes da cronística portuguesa, assim como associá-la à infância, estabelecendo os
degraus de evolução social no qual o ameríndio se encontra no primeiro estágio (HOLANDA, 2000). Outro
aspecto fundamental eram os interesses portugueses nas conquistas de novas terras: ouro e prata. Para tal,
Caminha constrói interessante contato entre indígenas e o capitão-mor da frota.
(CAMINHA, fl. 3)
Na esperança de encontrar na Terra de Vera Cruz o que os espanhóis já descobriam mais ao norte, para
além dos mitos disseminados entre navegadores, os portugueses colocam nas ações dos indígenas o
prenúncio de grandes riquezas no Brasil. Somente no final do século XVII, nos sertões da América
portuguesa, se achou ouro. Porém, as suspeitas e expectativas existiam desde a primeira hora da
colonização.
Para além de propaganda de um território com possíveis metais preciosos, as descrições do Novo Mundo
sob domínio português tiveram outras funções.
Comentário
As histórias, crônicas, cartas e os mapas tornaram possível o conhecimento da geografia local, apesar de
vários espaços desconhecidos e das populações – sob o olhar de determinadas parcialidades dos próprios
indígenas que iam estabelecendo contatos. Ao habilitar a apreensão da forma de organização e alguns
poucos aspectos de sua cosmogonia e formas de vida, tanto no Reino (em Portugal e Espanha) quanto nas
cidades, durante os séculos XVI, XVII e XVIII se estabeleceram normas e legislações para lidar com os
indígenas. Essas leis, é claro, não foram uniformes e contaram com contradições e modificações
recorrentes.
Simultaneamente à aparição das primeiras notícias que circularam na Europa sobre habitantes no Novo
Mundo nos anos finais do século XV, tiveram início debates sobre a natureza da alma “selvagem” e de como
lidar com esses seres. Todo questionamento era possível, inclusive se eram homens. Se sim, como
chegaram lá, uma vez que, até onde sabiam, esse novo continente estava completamente separado da
Europa e da África?
Nesse sentido, vale destacar que, na temática que nos importa, o principal debate se estabeleceu entre
jesuítas e dominicanos ao longo do século XVI sobre a natureza e a liberdade do indígena. O índio era
passível de livre-arbítrio? Ele conhecia a verdade do evangelho e a esqueceu – como ocorria com africanos
e indianos – ou ele era inocente, sem qualquer conhecimento de Jesus? Esse tipo de questionamento
motivou uma verdadeira guerra de tinta com a defesa de diferentes pontos de vista. Tal debate emerge de
um esforço de legitimação tanto da conquista dos novos territórios quanto da submissão – seja pela
vassalagem ou pela escravidão – dos povos nela descobertos (ZERON, 2005).
Um dos grandes problemas dessa controvérsia era estar baseada nas descrições de navegadores
impressionados com as descobertas e com a tentativa de enquadrar todo o novo em velhos quadros
teóricos. Daí emergem figuras míticas nos mares e na terra, como o ibupiara, monstro descrito pelos nativos
e temido pelos portugueses (CAMENIETZKI; ZERON, 2000).
Obra Fundação de São Paulo, de Antônio Parreiras, 1913.
Emergem, também, os títulos que permitiram encaixar os ameríndios na escada civilizacional europeia,
como “selvagens”, “gentios”, “bárbaros”, entre outros. Essas categorias foram mobilizadas de diferentes
formas. Quando interessados na defesa da conversão à fé católica, o índio era gentio, pois podia ouvir e
assimilar a palavra dos missionários; quando fazia investidas contra as fazendas, resistindo e se opondo à
presença dos brancos, o indígena era bárbaro e bravo.
As diferentes categorias nas quais os ameríndios eram classificados geraram distintas posições tomadas
pela Coroa, pelas Câmaras Municipais e pelos colonos. Por isso a importância das descrições de Pero
Magalhães Gandavo, Gabriel Soares de Sousa, Frei Vicente de Salvador, Antonil, entre outros cronistas dos
primeiros séculos de ocupação portuguesa da América. A partir desses relatos de viagens e do cotidiano da
conquista, são publicadas leis que, em alguns momentos defendem a liberdade inquestionável dos
indígenas, depois sua possibilidade de apresamento em caso de “guerra justa”, para, no século XVIII,
restringir o contato com os índios à atuação do Estado.
Por fim, outro aspecto fundamental do contato entre europeus e nativos foi a língua. Comumente temos
referência à “língua tupi” quando nos deparamos com nomes de origem indígena. A língua é um aspecto
crucial para a construção de conceitos e categorias, como temos visto, além da redução e compreensão do
outro. Assim, chama atenção uma das primeiras anotações sobre a língua dos nativos da costa por Pero de
Magalhães Gandavo, cronista real:
A língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos vocábulos
difere em algumas partes; mas não de maneira que se deixem uns aos outros
de entender: e isto até altura de vinte e sete graus que daí por diante há outra
gentilidade, de que nós não temos tanta notícia, que falam já outra língua
diferente. Esta de que trato, que é geral pela costa, é muito branda, e a qualquer
nação fácil de tomar. Alguns vocábulos há nela de que não usam senão as
fêmeas, e outros que não servem senão para os machos: carece de três letras,
convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto
porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem
desordenadamente sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.
“Vivendo desordenadamente”, cumpria aos portugueses ensinar-lhes como viver da maneira correta. Por
isso a importância que foi dada para o ensino de latim aos indígenas, nos primeiros anos da colonização, e
para a compilação da chamada “língua geral” tupi. Esse esforço foi empreendido por José de Anchieta, que,
em 1595, publica um vocabulário da língua brasílica. Era necessário reduzir a dispersão de línguas em uma
só a ser ensinada para os missionários e tornar possível a domesticação do selvagem (DAHER, 2012;
GOODY, 1988).
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Uma história apagada
Assista agora a uma explicação sobre o apagamento do papel dos povos locais, desde a idealização dos
europeus como bons selvagens até a ideia de não adaptação por determinismos geográficos e afins.
Determinismos geográficos
Peças do cientificismo do século XIX que defendiam que as características das raças humanas eram
determinados, melhorados ou piorados, dependendo das condições climáticas.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
No processo de conquista da América, os portugueses criaram categorias e denominações, muitas
vezes generalistas, sobre os povos que encontraram. A seguir, estão algumas dessas categorias e
nomeações, com sua explicação. Assinale aquela que está correta:
Aratu era a tradição cultural na qual estavam inseridos todos os povos nativos da
A
América portuguesa, percebida pelos colonos logo em sua chegada.
Os povos que viviam na floresta amazônica eram conhecidos por uru, principalmente
C
pela sua integração econômica e social com os povos do cerrado e do semiárido.
Com sua chegada pelo litoral atlântico do que se constituiu, posteriormente, como Brasil, os
portugueses encontraram agrupamentos nativos que faziam parte do grupo linguístico tupi-guarani.
Nas regiões do que chamamos hoje de Bahia, encontraram os tupinambás. Do contato com os
tupinambás, os portugueses construíram muitas de suas estratégias para relação com outros povos
mais para o sertão, que ficaram conhecidos como tapuias, que significava bárbaros, desprovidos “de
aldeia, agricultura, canoa, rede e cerâmica” (FAUSTO, 2000, p. 48). Ou seja, havia uma rede de
significados ao tratar dos povos nativos no período colonial: em um primeiro lugar o olhar dos
colonizadores sobre os indígenas; e, depois, o olhar dos indígenas sobre outros indígenas.
Questão 2
Considere as afirmativas a seguir:
I. Os primeiros contatos entre europeus e nativos se davam pelos “lançados”, homens que, muitas
vezes, tornavam-se completamente integrados à cultura ameríndia.
II. No Brasil, os missionários religiosos mais importantes foram os jesuítas, que construíram colégios
nas cidades e aldeamentos dos indígenas nas proximidades dos centros urbanos.
III. Em função da pressão sobre as terras no litoral e no sertão, é possível observar o deslocamento das
populações indígenas em busca de mitos de salvação e de novos espaços para se isolar dos
colonizadores.
A I e II estão corretas.
Há, contudo, uma barreira legal imposta à escravização de outrem na contemporaneidade, mais
especificamente após a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, na esteira
dos documentos e decisões da recém-criada Organização das Nações Unidas, três anos antes. Essa
obstrução, no entanto, é recente.
Autoridades, leigas ou religiosas, durante séculos se lançaram no ofício de construir consensos para
justificar a existência da escravidão.
Atenção!
Conhecer o processo de fundamentar a escravização – com frequência um trabalho intelectual que recorre
a motivos teológicos e históricos – é fundamental para compreender como ela se dá na prática – com suas
consequências legais e a violência com a qual ocorre.
No contexto das Grandes Navegações, do século XV em diante, muito foi escrito sobre o tema da
escravidão, a liberdade e a legitimidade de comércio de seres vivos do continente descoberto e dos já
conhecidos, porém com novas rotas e novos agentes envolvidos.
Em outras palavras, apesar da distância e das diferentes populações que foram encontradas nesses locais,
o esforço de conquista da América, África, do subcontinente indiano e do extremo oriente esteve permeado
pelo interesse comercial e pela vontade de descobrir como lidar com esses povos desconhecidos.
Nau de Pedro Álvares Cabral.
Para tal, os aventureiros que se lançaram nessas conquistas produziam descrições sobre os costumes e
práticas dos nativos; esses relatos rodavam a Europa, em diferentes proporções, claro; e nos principais
centros intelectuais – universidades, principalmente – realizaram-se discussões acaloradas sobre o tema.
Não é possível mensurar os debates sobre a liberdade dos indígenas da América portuguesa sem
considerar que contendas semelhantes ocorriam para outras regiões do globo (SCHWARTZ, 1988).
Lançam mão das tradições já recorrentes, como o modelo aristotélico, e realizam novas proposições para
encaixar esses desconhecidos habitantes da América.
Alunos em uma aula da Universidade de Salamanca, no século XVII.
Um dos principais espaços de onde emanam interpretações foi a Universidade de Salamanca, de onde
teólogos de relevo, como Francisco de Vitoria e seus discípulos, constroem definições para articular a teoria
político-religiosa corrente e o domínio ibérico sobre as novas conquistas (ZERON, 2005, p. 208). Nesse
sentido, a legitimidade da escravidão dos ameríndios foi largamente discutida, sendo pilar de controvérsias
que se estendem por todo o século XVI. Na tradição político-teológica moderna, um dos pontos de partida
era o chamado direito natural, uma forma de considerar atribuições divinas à dignidade humana e seu uso
costumeiro.
Em outras palavras, eram o conjunto de normas que, não codificadas em leis estatais, não poderiam ser
emitidas pelos monarcas nem tocadas por eles. Dentro do direito natural estaria o direito à vida e à
liberdade – para ficar em dois tópicos que foram amplamente discutidos a partir do Renascimento na Itália
e a respeito dos domínios ibéricos sobre a América. Como conciliar, então, o direito natural à liberdade com
a submissão de outrem?
Nos centros intelectuais ibéricos se construiu um consenso, ainda que tenha sido fruto de décadas de
controvérsias, em torno de três justificativas possíveis para a escravidão do indígena:
Guerra justa
A ti l d t i “bá b ” “í di b i ” í l d ibl i ã
Articulando categorias como “bárbaros” e “índios bravios” era possível driblar a oposição que
existia na sociedade colonial portuguesa, especialmente na figura dos jesuítas que buscavam
converter e aldear os indígenas. Nesse cenário, qualquer episódio de violência executado por
nativos podia ser interpretado como “guerra justa”, tornando juridicamente seguro verter
aquele ser humano em escravo (CUNHA, 2009, p. 174).
Os “legitimamente havidos”. Aqui estamos diante de uma solução menos clara, mais dúbia do
que a “guerra justa”, bastante complexa para ser efetivamente clara (CUNHA, 2009, p. 174).
Nesse ponto, nos deparamos com diferenças objetivas entre as sociedades portuguesas e
ameríndias: Existiam escravos na cultura indígena? Caso existissem, tinham função
mercantil? Se nos guiarmos pelos cronistas, os índios vendiam seus conterrâneos de outras
etnias vertidos em escravidão; contudo, há pouca evidência menos tendenciosa sobre o
assunto (FAUSTO, 2000, p. 39).
Quadro de Henrique Bernardeli intitulado O Ciclo da Caça ao Índio, mostrando um bandeirante em primeiro plano.
De partida, importa destacarmos o que seria esse “interior”. Entre os séculos XVI e XVII, a ocupação da
América portuguesa esteve concentrada no litoral, ainda que houvesse tentativas de construir cidades na
subida de importantes rios, como o São Francisco, e no interior de baías, como a Bahia de Todos-os-Santos
e a Baía de Guanabara. Sendo áreas profícuas para o abastecimento externo e o escoamento de produções
locais, posicioná-las próximas a rios permitia um controle maior sobre a zona urbana, especialmente no que
se refere à preocupação para com investidas de índios bravios, mocambos e quilombos que viriam a se
formar com o desenvolver do processo de colonização.
A marcha de missionários era outra grande fornecedora de informações sobre o interior, na busca de almas
para conversão e para aldear.
Outro fator da interiorização do Brasil foi a pecuária. Contrariamente ao que se afirma no senso comum
sobre a criação de gado na América portuguesa, esta não era realizada por homens livres e com
conhecimento bem delimitado de suas terras. Na esteira dos importantes trabalhos sobre História Agrária,
sob liderança de Maria Yedda Linhares, Francisco Carlos Teixeira Silva esclarece o intricado cenário de
expansão da pecuária com base nas sesmarias e no arrendamento de terras (SILVA, 1997, p. 120).
Fundamentalmente, o gado era criado por escravos, constantemente em contato e conflito com povos
nativos, quase sempre de maneira hostil, e com fronteiras quase inexistentes.
Tela de Frans Post (1612-1680) que mostra uma paisagem brasileira com um carro de boi.
Era comum a concessão de terras pela Coroa por intermédio de seu Governador-Geral – que era como
funcionava a concessão de sesmarias – sem muito critério de distâncias. Esse padrão se modifica no final
do século XVII, quando ocorre a tentativa de estipular dimensões de três por uma léguas por sesmaria
(SILVA, 1997, p. 121). Tais medidas, contudo, não resolveram as discordâncias com relação à propriedade e
na legítima ocupação das terras do sertão.
Na mesma medida em que o gado se expande, rotas de deslocamento são construídas no interior,
aproveitadas pelos tropeiros. Não é possível, assim, discutirmos a existência de estradas no interior sem
compreender que esse espaço não era vazio; era desconhecido aos portugueses e seus descendentes,
porém ocupado por populações indígenas que dali foram expulsas ou dizimadas.
Quadro Rancho Grande (dos Tropeiros), de Benedito Calixto, de 1921.
Apesar de estarem atualmente identificados com as regiões centro-oeste e sul, os tropeiros eram
recorrentes nas demais regiões do território, uma vez que realizavam o transporte de produtos no mercado
interno. A própria presença dos tropeiros, assim, nos permite pensar a respeito de um dos problemas sobre
os quais a historiografia brasileira se debruçou com afinco no século XX: a existência de um mercado
interno no período colonial.
Se o foco da ocupação extensiva do território era no litoral, e as fazendas e terras produtivas mais
cobiçadas estavam próximas à costa, correr o risco de se expor aos perigos do interior prova a necessidade
de circulação de mercadorias nesse espaço. Existiam, assim, produtos a serem comercializados que não
vinham das frotas do Atlântico nem se destinavam ao consumo europeu. Em meados do século XVIII, era
comum, inclusive, a circulação de peles e carnes da região do Prata com a Região Sul do Brasil (GIL, 2002, p.
33-34).
Com o agravamento dos interesses portugueses no interior, passa a ser recorrente a figura dos sertanistas,
homens com alguma experiência militar, especializados nas investidas a esse espaço. Como foi comum
entre os bandeirantes paulistas, tais sertanistas com frequência falavam línguas nativas, compartilhavam
de certos hábitos dos indígenas e da presença de muitos índios. Mais uma vez, devemos estar atentos à
possibilidade de parcialidades entre as populações indígenas, aliando-se, quando julgavam necessário e
interessante, aos europeus, mesmo na redução, caça e extermínio de outros nativos.
Comentário
No decorrer dos séculos XVII e XVIII, com a expansão territorial que temos descrito, seja pela busca por
novas terras produtivas ou para criação de gado, as Câmaras Municipais atuam como agentes importantes
no financiamento e no apoio legal de expedições de dizimação e apresamento de indígenas. Aspecto pouco
coberto na historiografia sobre a administração municipal brasileira, o suporte dos concelhos aos
sertanistas está largamente documentado.
Apresamento indígena pelas entradas
paulistas no sertão
Vamos conversar agora sobre a denominação “negros da terra”. É preciso ter duas coisas em mente:
primeiro, que todo o processo de violência contra os indígenas e sua expulsão de regiões que habitavam
tradicionalmente para explorar a terra e seus recursos naturais faz parte da estrutura da expansão colonial.
E, segundo, que as demandas por escravização dos povos nativos e sua utilização em serviços diversos,
especialmente nos séculos XVI e XVII, não foi monopólio dos bandeirantes.
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Há um esforço realizado pela historiografia tradicional paulista, sobretudo com autores como Afonso
de Taunay, que buscaram no bandeirante o herói de um período áureo da história paulista.
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gavel
Encontramos Capistrano de Abreu, que viu na ação dos sertanistas paulistas a ação devastadora da
diversidade indígena do interior.
Contudo, há trabalhos – como os de Alcântara Machado e Sérgio Buarque de Holanda – que visam
descortinar a atuação desses homens do passado sem considerar heróis nem vilões (SANTOS, 2009, p. 47),
além do livro incontornável de John Monteiro, Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São
Paulo, de 1994. Desde então, muitos trabalhos têm versado sobre as motivações e implicações dos
sertanistas paulistas.
Comentário
O movimento historiográfico revela, na verdade, uma disputa social em torno da figura do bandeirante e dos
efeitos de sua ação no sertão. O século XX foi marcado também pela mudança de mentalidade em relação
aos indígenas, com a sua condição de tutela pelo Estado sendo – pelo menos – deixada de lado, e sua
agência política sendo reconhecida a partir da Constituição de 1988.
Voltando-nos então para a sociedade colonial, os bandeirantes foram, sim, figuras centrais no conhecimento
do interior. Foram, também, fundamentais no entendimento da língua. Apesar da imagem que a literatura, a
pintura histórica e a historiografia elogiosa buscaram construir, os bandeirantes possuíam hábitos similares
aos indígenas. Há relatos de sua dificuldade de comunicação, na língua portuguesa, com habitantes de
outras capitanias (HOLANDA, 1994, p. 20; p. 28).
A Capitania de São Vicente, integrada no século XVIII a São Paulo, se tornou o principal ponto de partida de
expedições do litoral em direção aos sertões. Durante o período da União Ibérica – quando a coroa
espanhola exerceu domínio sobre a coroa portuguesa, entre 1580 e 1640 – havia certa tolerância às
investidas dessas expedições, pois os limites entre a América hispânica e a América portuguesa, além de
bastante indefinidos, eram fluidos.
Nesse sentido, havia incentivo das autoridades coloniais para essas expedições: buscar rotas para conectar
os portos do Atlântico com o Potosí; estabelecer relações entre o litoral e as populações que se
constituíram nas margens dos principais rios do interior; e, é claro, exercer pressão, expulsar e apresar os
indígenas (MONTEIRO, 1994).
No período de atuação de grandes nomes do bandeirantismo, como Manuel de Borba Gato, Raposo Tavares
e Sebastião Pais de Barros, entre outros, muitos foram os serviços que prestaram à Coroa e às elites
coloniais. Desses três mencionados, destaca-se Raposo Tavares e Sebastião Pais de Barros, que, junto a
outras centenas de bandeirantes, riscavam o interior do Brasil, chegando aos rios afluentes do Amazonas no
norte e sua desembocadura no Atlântico.
Outro exemplo de deslocamento e de serviço às autoridades coloniais foi Domingos Jorge Velho, sertanista
paulista responsável pela destruição do famoso Quilombo dos Palmares, em 1694, em Pernambuco. Apesar
de ser foco de resistência de negros escravizados, ex-escravizados ou livres, Palmares também tinha
presença de indígenas. Jorge Velho foi contratado para dar fim aos numerosos mocambos que
confederados compunham em Palmares (LARA, 2021, p. 14). Vemos, assim, uma versatilidade desses
bandeirantes.
Mais do que andar pelo interior atrás de índios para escravizar e revender no litoral – aspecto questionado
atualmente pela historiografia – e de buscar as “drogas do sertão”, eles podiam ser contratados para
realizar entradas no território, afugentar índios bravos e impedir ou destruir os quilombos. Apesar de ficarem
para a história tradicional como figuras marginais, que viviam quase como bárbaros e nas matas, estiveram
bastante integrados na economia e na política colonial, voltados para as atividades em que se tornaram
especialistas.
Podemos, assim, aproveitar nossa menção ao trabalho escravo africano e tratar de outro tema problemático
no senso comum sobre a escravidão no Brasil e as contribuições recentes da historiografia para esse
assunto: É comum observarmos nos livros didáticos a assumpção de que existe uma sequência no que se
refere à escravidão indígena e africana na economia colonial. Essa premissa coloca em primeiro plano as
iniciativas legais da Coroa em proibir a escravidão indígena, ao passo que incentivava, especialmente pelo
valor comercial, a escravidão negra africana. Tal processo teria se dado em finais do século XVI, juntamente
a uma indisposição dos nativos de trabalho ostensivo na lavoura.
Além de falsa, essa afirmação está permeada pelo racismo para com os povos nativos, sempre
apresentados como preguiçosos e não afeitos ao trabalho nas descrições de naturalistas e viajantes
europeus a aldeias durante nossa História, tópica também recorrente nos cronistas dos séculos XVI e XVII.
Muito pelo contrário:
Apesar das restrições legais impostas à escravidão indígena, foram criadas formas institucionais de
contornar as contingências. Foi o caso dos “administradores particulares dos índios”, como aparece em São
Paulo, ou dos “capitães dos índios”, no Rio de Janeiro (MONTEIRO, 1994, p. 137). Efetivamente, executava-se
um uso forçado do trabalho; porém, na lógica colonial, assumia função de tutela ante os índios,
considerados na infância social.
Essas concepções teóricas acerca da raça e da condição social importam, pois refletem as
maneiras de uma sociedade interpretar a si mesma, além de expressarem quais setores
dominantes realizam tal interpretação.
No caso dos “negros da terra”, era relativamente disseminada a concepção – ao longo dos
séculos XVI e XVII – da possibilidade de sua escravidão, adaptada, depois, aos critérios da
guerra justa, compra legítima ou salvamento da escravidão de outros grupos indígenas.
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Guerra justa
Veja agora uma apresentação sobre o que foi e a noção de guerra justa.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Assinale a opção que contém as três as justificativas aceitas pela intelectualidade ibérica para a
escravização indígena:
A Guerra justa; profanação de igrejas; roubo de fazendas.
Questão 2
O bandeirantismo recebeu atenção de muitos historiadores ao longo da nossa história. Entre muitas de
suas características. Assinale a única opção a seguir que contém uma das muitas características desse
movimento:
A Capitania de São Vicente tornou-se um ponto de partida de expedições em direção aos sertões.
Durante a União Ibérica havia certa tolerância às investidas dessas expedições, pois os limites entre a
América hispânica e a América portuguesa, além de bastante indefinidos, eram fluidos. Havia incentivo
das autoridades coloniais para essas expedições na busca de rotas para conectar os portos do
Atlântico com o Potosí; no estabelecimento de relações entre o litoral e as populações que se
constituíram nas margens dos principais rios do interior; e na pressão, expulsão e apresamento dos
indígenas (MONTEIRO, 1994).
3 - Guerras contra a conquista
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar a configuração e as
consequências das resistências indígenas e as mudanças nas ações
coloniais para com os povos nativos.
Cena da Expedição do Tenente-Coronel Affonso Botelho. Aquarela de Joaquim José de Miranda (Séc. XVIII).
Porém, Puntoni destaca que o mesmo ciclo de conflitos se estende desde o que denomina de Guerras do
Recôncavo da Bahia (1651-1679) até o princípio do século XVIII (PUNTONI, 2002, p. 13). Assim, de partida,
observamos que não faz parte de um processo único e direcionado de colonos contra grupos indígenas
específicos.
Relembrando
“Bárbaros” eram aqueles que não comungavam dos mesmos valores e, de maneira mais direta, da mesma
língua e costumes praticados por aqueles que se consideravam civilizados. Em outros termos, portugueses
e seus descendentes consideravam bárbaros todos aqueles índios que não se curvavam facilmente à
conversão e à assimilação. No caso desses índios bravos, a teologia cristã vigente na época moderna – e
amplamente discutida por grandes intelectuais ibéricos – previa a possibilidade da “guerra justa”. Ainda a
partir da guerra justa, era legítima, inclusive, a escravização do indígena capturado, o que se plasmou na
legislação portuguesa sobre o tema. Note-se que essa forma de encarar a resistência indígena e assumir
possibilidades de resposta era bastante vaga, abria margens para interpretações e não previa uma
verdadeira fiscalização das ações no sertão.
A Guerra dos Bárbaros opera com a mesma “inconsistência”. Foi motivada e realizada a partir de noções
muito gerais sobre as populações indígenas. Assim, o título “bárbaros” se torna apropriado, já que muitas
vezes não havia o trabalho de registrar quem se estava dizimando. Portugueses e seus descendentes na
colônia tomaram, por exemplo, a denominação tapuias para descrever povos que não eram tupis,
assumindo as concepções desses últimos sobre uma diversidade de povos. “Os tapuias eram tomados por
ampla e duradoura muralha que se erguia no sertão, obstando a expansão do Império e a propagação da
“verdadeira” fé, como empecilho ao desenvolvimento da economia pastoril e à exploração dos minérios”
(PUNTONI, 2002, p. 17). Em um sentido mais geral, então, a Guerra dos Bárbaros assume a função de
libertar territórios dos índios bravios e torná-los passíveis da expansão colonial.
Sobre o tema central da guerra, é preciso elucidar que os índios não chegaram às guerras coloniais somente
como foco de ataque.
Felipe Camarão, foi indígena brasileiro que lutou junto aos portugueses contra a dominação holandesa.
Os nativos estiveram integrados nos contingentes militares em diversos momentos. Tomemos o período de
dominação holandesa sobre o Nordeste brasileiro, rigidamente entre 1630 e 1654, quando são profícuas as
descrições sobre a presença de índios nas batalhas entre portugueses e batavos, em ambos os lados
(MIRANDA, 2011; LENK, 2013). Outro episódio conhecido da intimidade dos indígenas nas guerras em que
colonos se envolviam, ainda na luta contra os holandeses, foi a chegada de Salvador Correia de Sá e
Benevides, em 1649, para libertar Angola dos batavos na companhia de centenas de índios flecheiros.
O capitão-mor do Rio de Janeiro atravessou o Atlântico com indígenas para rechaçar os inimigos e, assim,
conseguir retomar para Portugal o controle sobre o comércio de escravos (BOXER, 1973).
A denominação Guerra dos Bárbaros, assume, então, uma entonação planificadora, ou seja, deu sentido
único a uma multiplicidade de conflitos ocorridos no interior por distintos grupos indígenas contra a
expansão colonial. Puntoni compara a confecção de tal conjunto com a sonhada Confederação dos
Tamoios no poema romântico de Gonçalves de Magalhães no século XIX, uma vez que também em
contexto de guerra se supõe uma união em que, na verdade, há diversidade. Na esteira dessa estratégia
discursiva, historiadores do século XIX e do início do século XX denominaram a resistência dos índios do
semiárido nordestino como “Confederação do Cariri”, supondo que se tratavam todos da mesma etnia
(PUNTONI, 2002, p. 77). Estamos, dessa forma, diante de uma generalização tão dissonante com a realidade
diversa dos indígenas quanto chamá-los de tapuias ou bárbaros.
Em meados dos anos 1650 inicia-se um longo processo de contenção das “descidas” dos gentios em
direção a Salvador.
O foco dos nativos hostis à presença portuguesa, contudo, não era a capital do estado do Brasil, e sim as
cidades, vilas e fazendas mais para o interior do Recôncavo, como Jaguaripe, Cachoeira e, mais ao sul,
Boipeba e Camamu. Interessante notar que essas vilas eram responsáveis pelo fornecimento de alimentos a
Salvador, especialmente a farinha de mandioca, base alimentar da colônia (LENK, 2013; KRAUSE, 2015, p.
29).
As chamadas “jornadas do sertão” eram organizadas de maneira esparsa ao longo do século XVII; porém,
foi a partir dos anos 1650 que assumiram um papel integrador da política centralizadora do Governo-Geral –
sob comando de diferentes governadores – e da utilização de sertanistas provenientes de São Vicente ou
que lá haviam adquirido alguma experiência. Às campanhas amparadas em sistemas de “jornadas”
sucederam-se períodos de guerra e de paz no Recôncavo da Bahia, compiladas por Pedro Puntoni (2002, p.
91-120) da seguinte forma:
1651-1656
J d d S tã
Jornadas do Sertão
1657-1659
Guerra do Orobó
1669-1673
Guerra do Aporá
1674-1679
Longe de estabelecer uma periodização fixa e estável, essa demarcação é importante para
compreendermos que, assim como as populações nativas se adaptavam aos avanços portugueses no
território, mobilizavam de maneira dispersa ataques e empreendiam guerras aos colonos pela sua
sobrevivência. Não se tratava, assim, de uma guerra única.
Ao abordarmos esse extenso tema das Guerras dos Bárbaros, o principal episódio com o qual nos
deparamos é a destruição da resistência nativa à expansão agrária e pecuária no sertão das Capitanias do
Norte. Em termos da geografia atual, estamos falando sobretudo dos atuais estados do Piauí, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Essas regiões foram dominadas pelos holandeses em
meados do século XVII, onde também estabeleceram contatos com os indígenas que, segundo as
descrições portuguesas, estiveram sempre abertos às alianças com os neerlandeses. O parco domínio dos
lusitanos sobre a região, mesmo após a expulsão dos holandeses, levantava a preocupação dos moradores
que se dedicavam sobretudo à pecuária.
Para tal levante, outro nome tornou-se corrente entre os colonos das Capitanias do Norte: Muro do Demônio,
em clara referência à concepção religiosa que assumia a oposição nativa à presença portuguesa.
Em termos objetivos, essa Guerra do Açu se estendeu até 1713, porém foi na década de 1680 que seus
desdobramentos mais sangrentos se deram. Com tropas comandadas por Manoel de Abreu Soares, Antônio
de Albuquerque Câmara, Domingos Jorge Velho e Matias da Cunha, foram reunidos homens, entre brancos,
índios e negros. Os esforços não surtiram o efeito esperado em reprimir os nativos do Açu e decorreram na
devastação de fazendas e em mortes tanto de portugueses alocados no Norte quanto de indígenas
“domesticados”. O encaminhamento do fim da Guerra foi fruto, inclusive, de acordos costurados por
Canindé, principal das aldeias dos janduís, que comandava por volta de vinte e duas aldeias, com o
governador-geral Antônio Luís da Câmara Coutinho.
Em 1750, foi assinado o Tratado de Madrid, na esteira de negociações entre Portugal e Espanha sobre
disputas territoriais na região da Amazônia e do sul, mais especificamente entre a Colônia de Sacramento e
os Sete Povos das Missões. No norte, com uma ocupação bastante restrita da floresta por portugueses e
seus descendentes, o mesmo ocorrendo do lado espanhol, as tensões não eram tão altas. Ao sul, contudo, a
assinatura do tratado implicou revolta dos índios guaranis. Antes de nos determos na revolta, passemos a
lidar com as tensões que envolvem a assinatura do Tratado de Madri.
À semelhança dos demais conflitos estabelecidos entre colonos e indígenas, esse foi um documento
negociado e assinado na Europa e que apresentava reverberações e interesses na América. Seu conteúdo
versava sobre o argumento já antigo de Portugal quanto à titularidade da Colônia de Sacramento, localizada
na embocadura do rio da Prata, região de interesse dos portugueses pelo escoamento de mercadorias e
metais vindos do Potosí. Em contrapartida, os chamados Sete Povos das Missões foram fundados por
jesuítas com índios aldeados na porção portuguesa de uma área em disputa entre Portugal e Espanha nas
regiões em que hoje encontram-se os limites de Brasil, Argentina e Paraguai.
Com a assinatura do tratado em 1750, as coroas ibéricas buscaram resolver o impasse trocando a posse
das regiões. Portugal abandonaria sua reivindicação da Colônia de Sacramento, prometendo deslocar os
portugueses de lá para o Brasil; e a Espanha defendia a ocupação das Missões no “continente” do Rio
Grande – como era então conhecida a região da América portuguesa –, fazendo com que índios e jesuítas
abandonassem seus povoados (QUEVEDO, 1996, p. 12-13).
Porém, as autoridades reinóis, de ambas as cortes, depararam-se com uma realidade distinta na América.
Os portugueses que lidavam com o comércio da Bacia do Prata não tinham interesse em abandonar seus
negócios e trocar de posto. Já no interior do Rio Grande, guaranis e jesuítas rejeitaram abandonar suas
povoações. Os Sete Povos, na verdade, faziam parte de um conjunto de quase trinta povoados fundados
pelos jesuítas no processo de aldeamento e reorganização diante do avanço de bandeirantes sobre as
populações ameríndias desde o século XVII (ALMEIDA, 1997, p. 42-43).
O domínio da Companhia de Jesus sobre diferentes aspectos da sociedade colonial encontrou amparo,
desde o século XVI, no financiamento e apoio legal dos monarcas ibéricos.
Na Cabana de Pindobuçu, 1920
Benedito Calixto
Óleo sobre tela, c.i.d.
42,00 cm x 65,50 cm
Tais concessões, seja em matéria de ensino, de gestão de um vasto patrimônio subordinado aos Colégios
Jesuíticos (LEITE, 1938, p. 530-544), ou na catequese e aldeamento indígenas, concederam grande poder
aos jesuítas na Europa, mas principalmente nas conquistas, em especial na América. Na prodigalidade real,
os jesuítas construíram hegemonia na admoestação dos nativos na região do Rio Grande.
O que parecia ser um benefício para a Coroa hispânica ao conseguir articular os povos missioneiros-
guaraníticos, em meados do século XVIII tornou-se empecilho para efetivação de seus acordos com
Portugal.
Buscando orientar a fixação dos limites na América meridional, as monarquias ibéricas enviam para as
fronteiras comissões que estariam responsáveis pela demarcação a partir de 1752. Do lado português, o
enviado foi o governador do Rio de Janeiro e das Minas, Gomes Freire de Andrada, e do lado espanhol,
Gaspar de Munive León Tello y Espinosa, marquês de Valdelírios (GOLIN, 2014, p. 61).
Mais do que cobrir cada detalhe da guerra, importa atentarmos para a capacidade de articulação dos
missioneiros guaranis, àquela altura convertidos e instalados em vilas de tradição hispânica em território
reivindicado por Portugal.
Ou seja, é relevante considerar que, apesar da influência e autonomia que os jesuítas exerciam sobre as
populações indígenas, os índios guaranis tiveram capacidade de construir uma oposição generalizada aos
esforços da demarcação. Em 1756 as resistências à aliança luso-espanhola são definitivamente dizimadas,
com a morte de um grande contingente de indígenas até aquela data (QUEVEDO, 1996, p. 28). Apesar de
possíveis semelhanças com outros esforços de oposição dos indígenas à intervenção das autoridades
coloniais nas suas formas de organização, a Guerra Guaranítica apresenta algumas características que a
distinguem nos processos de resistência.
Represetanção do índio missioneiro Sepé Tiarajú.
Esteve em jogo a sobrevivência de uma forma de organização já mudada, ou seja, não se tratava de um
povoamento sem interferências da cultura europeia. Eram povos já bastante cristianizados, com títulos,
interesses e cultura completamente integrados.
A expulsão dos jesuítas dos países ibéricos na década seguinte, assim como a dissolução do Tratado de
Madrid pelo Tratado de El Pardo (1761) – em referência a um dos rios relevantes para os conflitos –,
demonstram uma mudança de mentalidade das coroas para com os indígenas. O indígena passava, assim,
a ser assunto do Estado; sua administração e seu futuro não poderiam mais estar na mão de uma ordem
religiosa que havia construído quase que um governo autônomo dos trópicos.
Questão 1
I. As elites coloniais buscavam formas de expulsão e redução dos chamados “índios bravios” para
expandir a fronteira agrícola e pecuária.
II. As “Guerras dos Bárbaros” foram conflitos entre diferentes povos nativos no sertão nordestino,
especialmente nas “Capitanias do Norte”.
O que se convencionou chamar de “Guerra dos Bárbaros” pela tradição, na verdade se trata de um
conjunto de conflitos entre colonos, militares, sertanistas e indígenas, com certa longevidade. É
necessário desmembrar esses episódios, a fim de superar uma abordagem generalista que coloca em
xeque a agência dos grupos indígenas e colonos. Os principais objetivos das guerras que aconteceram
no sertão eram a expulsão dos nativos de suas terras e a exploração agrícola e pecuária.
Questão 2
Assinale a alternativa que relaciona de forma correta o contexto de atuação da Companhia de Jesus e
as Guerras Guaraníticas na segunda metade do século XVIII:
Aquilo que chamamos de Guerra Guaranítica foi uma resistência das populações
B
nativas guaranis ao abuso de poder político e religioso dos jesuítas na região.
O tratado de 1750 entre as Coroas ibéricas buscava resolver o impasse da posse das regiões. Nesse
sentido, Portugal findaria a reivindicação da Colônia de Sacramento. Já a Espanha defendia a ocupação
das Missões do Rio Grande na região da América portuguesa, fazendo com que índios e jesuítas
abandonassem seus povoados. Os Sete Povos faziam parte de um conjunto de quase trinta povoados
fundados pelos jesuítas quando do aldeamento das populações ameríndias desde o século XVII. Como
resistência em se adequar às determinações, os indígenas dos Sete Povos fizeram guerra às
comissões demarcadoras até 1756, quando foram definitivamente destruídos.
Considerações finais
Chegamos ao fim de nosso estudo sobre as populações indígenas e sua intricada relação com o processo
de colonização do Brasil. Como vimos, os povos nativos do nosso passado colonial devem ser encarados
pela sua diversidade no longo processo de conquista, pelos portugueses, do território da América
portuguesa. Nesse sentido, a arqueologia e a antropologia têm se apresentado como disciplinas
fundamentais para o conhecimento desses povos e de suas práticas culturais, políticas e sociais.
Durante a conquista, entre os séculos XVI e XVII, observamos o avanço da mentalidade escravista ibérica
sobre as populações nativas, deslindando o mito de proteção da liberdade do indígena que vigorava na
legislação e que tinha pouca relação com a realidade dos ameríndios em face dos avanços dos
bandeirantes sobre o sertão.
O uso de categorias teóricas como “bárbaros” e “guerra justa” permitiu o desenvolvimento de estratégias
para manutenção da escravização indígena. Outras categorias foram fundamentais para a expansão desse
modelo, como as hierarquias sociais impostas aos nativos, considerados os “negros da terra”.
Por fim, descortinamos as formas de resistência dos nativos, seja pelas conhecidas “Guerra dos Bárbaros”,
conjunto diverso de conflitos violentos no sertão e nordeste do Brasil no século XVII, ou pela articulação dos
guaranis aldeados nas “Guerras Guaraníticas” no século XVIII, na região dos Sete Povos das Missões.
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Referências
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