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Número 817 Brasília, 25 de junho de 2024.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

SÚMULAS

SÚMULA N. 669

O fornecimento de bebida alcóolica a criança ou adolescente, após o advento da


Lei n. 13.106, de 17 de março de 2015, configura o crime previsto no art. 243 do
ECA. Terceira Seção, aprovada em 12/6/2024, DJe de 17/6/2024.

SÚMULA N. 670

Nos crimes sexuais cometidos contra a vítima em situação de vulnerabilidade


temporária, em que ela recupera suas capacidades físicas e mentais e o pleno
discernimento para decidir acerca da persecução penal de seu ofensor, a ação
penal é pública condicionada à representação se o fato houver sido praticado na
vigência da redação conferida ao art. 225 do Código Penal pela Lei n. 12.015, de
2009. Terceira Seção, aprovada em 20/6/2024, DJe de 24/6/2024.

SÚMULA N. 671

Não incide o IPI quando sobrevém furto ou roubo do produto industrializado


após sua saída do estabelecimento industrial ou equiparado e antes de sua
entrega ao adquirente. Primeira Seção, aprovada em 20/6/2024, DJe de
24/6/2024.
SEGUNDA SEÇÃO

PROCESSO EREsp 2.036.447-PB, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,


Segunda Seção, por maioria, julgado em 12/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Ação de repetição de indébito. Cobrança de juros


remuneratórios sobre tarifas bancárias declaradas ilegais
em sentença anterior. Obrigação acessória. Discussão
compreendida na primeira demanda. Eficácia preclusiva
da coisa julgada. Impossibilidade.

DESTAQUE

A eficácia preclusiva da coisa julgada impede o ajuizamento de nova ação para pleitear a
restituição de quantia paga a título de juros remuneratórios incidentes sobre tarifas bancárias
declaradas nulas em anterior ação de repetição de indébito.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a definir sobre a possibilidade de ajuizamento de nova ação para


pleitear a restituição de quantia paga a título de acessórios (juros remuneratórios) incidentes sobre
tarifas bancárias declaradas nulas em sentença proferida em ação anterior, na qual a instituição
financeira foi condenada à devolução de valores cobrados indevidamente pela instituição financeira.

A eficácia preclusiva da coisa julgada impede a apreciação das questões deduzidas e


dedutíveis, ainda que não tenham sido examinadas, desde que atinentes à mesma causa de pedir.

Desse modo, o fato de, na primeira demanda, o autor pleitear a restituição em dobro "do
valor cobrado indevidamente" e na segunda pedir especificamente a "restituição em dobro do total
cobrado em obrigações acessórias" referentes às mesmas tarifas não é suficiente para autorizar a
conclusão de que se trata de lide diversa, pois a causa de pedir das duas demandas é a mesma.
Consoante consta do voto proferido no acórdão paradigma, no REsp n. 1.899.115/PB,
relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, ao analisar caso idêntico, a Terceira Turma reconhecera a
existência de coisa julgada material em relação ao pedido de repetição de indébito dos juros
remuneratórios, nos seguintes termos: "(...) se a parte eventualmente esqueceu de deduzir, de forma
expressa, a pretensão de ressarcimento dos juros remuneratórios que incidiram sobre as tarifas
declaradas nulas na primeira ação, não poderá propor nova demanda com essa finalidade, sob pena
de violação à coisa julgada. Não se pode olvidar que o acessório (juros remuneratórios incidentes
sobre a tarifa) segue o principal (valor correspondente à própria tarifa), razão pela qual o pedido de
devolução de todos os valores pagos referentes à tarifa nula abrange, por dedução lógica, a
restituição também dos encargos acessórios cobrados, sendo incabível nova ação para rediscutir
essa matéria".

Na hipótese sob exame, a discussão acerca da quantia paga a título de encargos acessórios
estava compreendida - embora certamente pudesse ter sido mais explicitamente formulada na parte
final da petição inicial dedicada ao "pedido" - na primeira demanda, em que pleiteada a devolução
dos valores cobrados indevidamente a título de taxas e tarifas, sendo incabível o ajuizamento de
nova ação para ampliar o alcance de sentença atingida pela coisa julgada material.

PROCESSO EAREsp 2.211.940-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 12/6/2024,
DJe 18/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Instabilidade do sistema de eletrônico. Comprovação


posterior ao ato de interposição do recurso.
Tempestividade. Prorrogação Automática do prazo.
DESTAQUE

Admite-se a comprovação da instabilidade do sistema eletrônico, com a juntada de


documento oficial, em momento posterior ao ato de interposição do recurso.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A Lei do Processo Eletrônico (Lei n. 11.419/2006) determina, em seu art. 10, que se o
sistema do Poder Judiciário se tornar indisponível por motivo técnico, o prazo fica automaticamente
prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à resolução do problema.

Tal entendimento foi reiterado e ampliado no art. 224, §1º do atual Código Processual
Civil, o qual estabelece que, não somente os dia do vencimento, mas também os do começo, serão
protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com o dia em que houver
indisponibilidade da comunicação eletrônica.

Por outro lado, é entendimento deste STJ que a mera alegação de indisponibilidade do
sistema eletrônico do Tribunal, sem a devida comprovação, mediante documentação oficial, não tem
o condão de afastar o não conhecimento do recurso, em razão da impossibilidade de aferição da sua
tempestividade.

Isso posto, um dos documentos idôneos a comprovar a indisponibilidade do sistema é o


relatório de interrupções, que deve ser disponibilizado ao público no sítio do Tribunal, conforme
disciplina o art. 10, da Resolução n. 185 do CNJ.

Contudo, apesar de haver recomendação para que este relatório seja publicado em até 12h
do dia seguinte ao da indisponibilidade, por questões técnicas nem sempre isso acontece - até
mesmo porque nessas ocasiões já está havendo uma instabilidade que dificulta o acesso ao sistema
eletrônico, sendo desarrazoado, portanto, exigir que, no dia útil seguinte ao último dia de prazo para
interposição do recurso, a parte já tenha consigo documentação oficial que comprove a instabilidade
de sistema, sendo que não compete a ela produzir nem disponibilizar este registro.

Tal exigência significaria onerar duplamente o jurisdicionado por falha técnica que
somente é imputável ao Judiciário. Primeiramente porque parte foi impedida de interpor o recurso
na data pretendida, em virtude da instabilidade do sistema eletrônico do Tribunal; e, se até o dia útil
seguinte, este mesmo Tribunal não disponibilizar documento oficial que ateste a falha técnica, o
recurso interposto será considerado intempestivo.
Dessa forma, a fim de evitar-se uma restrição infundada ao direito da ampla defesa,
necessário interpretar o art. 224, §1º do CPC e o art. 10 da Lei do Processo Eletrônico de forma mais
favorável à parte recorrente, que é mera vítima de eventual falha técnica no sistema eletrônico de
Tribunal. Assim, admite-se a comprovação da instabilidade do sistema eletrônico, com a juntada de
documento oficial, em momento posterior ao ato de interposição do recurso.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC), art. 224, §1º

Lei n. 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico), art. 10

Resolução CNJ n. 185, art. 10


PRIMEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.143.882-SP, Rel. Ministro Paulo Sérgio


Domingues, Primeira Turma, por unanimidade, julgado
em 11/6/2024, DJe 18/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Sucessão empresarial pela União. Transmissão de


cláusula compromissória pactuada antes da Lei n.
13.129/2015. Sujeição da Administração Pública à
arbitragem. Obrigatoriedade. Ato jurídico perfeito.

DESTAQUE

Não é legítimo o descumprimento de cláusula compromissória pactuada por sociedade


empresária que foi sucedida pela União, mesmo antes das alterações promovidas pela Lei n.
13.129/2015 na Lei de Arbitragem, sob pena de ofensa ao ato jurídico perfeito.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O entendimento de que antes das alterações promovidas na Lei de Arbitragem pela Lei n.
13.129/2015 era vedado à administração pública sujeitar-se ao procedimento arbitral contraria a
orientação dominante na doutrina especializada e destoa dos precedentes do Superior Tribunal de
Justiça e do Supremo Tribunal Federal, ao tempo em que essa possibilidade não era explícita na
legislação.

Dessa forma, não é legítima a pretensão da União em afastar o juízo arbitral quando
suceder sociedade empresária que houver celebrado contrato contendo cláusula compromissória de
arbitragem, em data anterior à liquidação e consequente incorporação do seu patrimônio pelo Ente
Federal. Ainda que se entendesse que a sucessão pela União teria mudado o regime do contrato, esse
entendimento não poderia invalidar o compromisso passado, sob pena de ofensa ao ato jurídico
perfeito.
Não tem relevância o fato de que a sucessão da União ocorreu sobre uma ação
indenizatória já em curso, que tem como causa de pedir o alegado descumprimento do contrato. Isso
porque, conforme entendimento positivado no art. 8º da Lei n. 9.307/1996 e pacificado em doutrina
e jurisprudência, a cláusula compromissória constitui um negócio jurídico autônomo, que tem
justamente a finalidade de permitir a resolução de disputas, expressando a vontade das partes de
que o juízo arbitral permaneça competente durante as controvérsias envolvendo o contrato.

Ainda, contraria a boa-fé objetiva que a União, por um lado, postule indenização pelo
descumprimento de contrato e, por outro, queira afastar a cláusula compromissória nele inserida.

Seja pela validade da cláusula compromissória, seja pela imposição ético-jurídica de que
sejam preservadas as legítimas expectativas dos contratantes, deve-se aplicar no caso o
entendimento que preconiza a transmissibilidade desse tipo de cláusula em caso de sucessão.

Destarte, o Enunciado n. 16, aprovado na 1ª Jornada de Direito Comercial do Conselho da


Justiça Federal, dispõe que "o adquirente de cotas ou ações adere ao contrato social ou estatuto no
que se refere à cláusula compromissória (cláusula de arbitragem) nele existente; assim, estará
vinculado à previsão da opção da jurisdição arbitral, independentemente de assinatura e/ou
manifestação específica a esse respeito".

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 9.307/1996, art. 8º

Lei n. 13.129/2015

ENUNCIADOS DE JORNADAS DE DIREITO

Enunciado 16, da 1ª Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justiça Federal


PROCESSO AREsp 2.001.082-SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria,
Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
18/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Contribuição ao PIS e da COFINS. Base de cálculo. Valores


pagos a correspondentes bancários. Não caracterização
como despesas de intermediação financeira. Dedução.
Impossibilidade.

DESTAQUE

Os valores pagos pelas instituições financeiras a seus correspondentes bancários não


podem ser deduzidos da base de cálculo da Contribuição ao PIS e da COFINS, por não se tratar de
despesas com a operação de intermediação financeira propriamente dita.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

As instituições financeiras, de acordo com o art. 17 da Lei n. 4.595/1964, têm entre suas
atividades a operação de intermediação financeira, a qual consiste na captação de recursos dos
agentes econômicos superavitários (poupadores), remunerados com juros, para emprestá-los aos
agentes deficitários (tomadores), com a cobrança de juros.

Para exercer essa atividade, as instituições financeiras podem se valer da contratação de


correspondentes bancários que são, em regra, pessoas jurídicas (exceto os prestadores de serviços
notariais pessoa física) contratadas pela instituição financeira para atender clientes e usuários da
contratante, que se responsabilizam plenamente pelo atendimento prestado aos clientes e usuários
por meio da parte contratada.

Desse modo, constata-se que os correspondentes, de fato, facilitam o relacionamento da


instituição financeira contratante com seus clientes e usuários e a realização dos serviços mais
corriqueiros de um banco. Contudo, isso não implica dizer que as despesas desembolsadas para a
manutenção daqueles devem ser deduzidas da base de cálculo da Contribuição ao PIS e da COFINS.
Isso porque as despesas que podem ser excluídas da base de cálculo dos referidos tributos
são aquelas que diretamente estão relacionadas com a intermediação financeira, a qual, por sua vez,
é relação que ocorre entre a instituição financeira e o terceiro, e não entre aquela (instituição) e o
correspondente

O valor da remuneração paga aos correspondentes bancários, que pode ser composta por
comissões, na verdade, constitui despesa administrativa decorrente da escolha da instituição
bancária de se valer daqueles (os correspondentes) como um meio de prestar a atividade de
intermediação financeira, optando por contratá-los em substituição à admissão direta de
empregados e à expansão do número de agências e pontos de atendimento próprios.

Essas últimas despesas, portanto, servem para remunerar a relação jurídica estabelecida
entre a instituição financeira e o seu correspondente bancário, pelo que não se trata de despesas
com a operação de intermediação financeira propriamente dita. Por isso, não podem (tais despesas)
ser deduzidas da base de cálculo da Contribuição ao PIS e da COFINS, pois em nada se relaciona com
o ato econômico em si.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 4.595/1964, art. 17


SEGUNDA TURMA

PROCESSO REsp 2.093.778-PR, Rel. Ministro Mauro Campbell


Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
18/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO, DIREITO ECONÔMICO

TEMA Plataforma digital de venda de passagens. Modelo de


fretamento em circuito aberto. Irregularidade.
Concorrência desleal com as empresas de transporte de
passageiros na modalidade regular. Configuração.

DESTAQUE

O serviço oferecido por plataforma de tecnologia, que envolve operações conjuntas com
empresas de fretamento, anúncio e cobrança individual de passagens para viagens interestaduais, é
um tipo de fretamento em circuito aberto e configura prestação irregular de serviço de transporte
rodoviário de passageiros.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O caso concreto envolve a prestação de serviços de fretamento em circuito aberto


realizado por meio da utilização de plataforma eletrônica em que os passageiros adquirem viagens
para destinos de seu interesse, normalmente em rotas consideradas lucrativas pelas empresas de
transporte de passageiros em geral.

Sobre o tema, o Decreto n. 2.251/1998 define, em seu art. 3º, XI, o fretamento eventual ou
turístico como o serviço que é "prestado à pessoa ou a um grupo de pessoas, em circuito fechado,
com emissão de nota fiscal e lista de pessoas transportadas, por viagem, com prévia autorização ou
licença da Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT".

Por outro lado, dispõe o § 1º do art. 36 do Decreto n. 2.251/1998 que, no transporte


interestadual e internacional de passageiros, sob fretamento contínuo ou eventual/turístico, "não
poderão ser praticadas vendas de passagens e emissões de passagens individuais, nem a captação
ou o desembarque de passageiros no itinerário, vedadas, igualmente, a utilização de terminais
rodoviários nos pontos extremos e no percurso da viagem, e o transporte de encomendas ou
mercadorias que caracterizem a prática de comércio, nos veículos utilizados na respectiva
prestação".

Ou seja, a legislação exige que o serviço de fretamento, para ser autorizado, deve ser
praticado somente em "circuito fechado" (as viagens de ida e de volta são realizadas com os mesmos
passageiros), o que não é o caso de pelo menos grande parte dos serviços oferecidos pela referida
empresa.

Consoante destacado pela ANTT em sua manifestação, sobre o serviço de fretamento,


excluindo-se essa característica, "iria haver uma descaracterização do serviço de fretamento, que
passaria a se aproximar mais de um serviço regular, vez que um passageiro poderia entrar na
plataforma, comprar a viagem de ida para a data e horário que o atendesse melhor e, na sequência,
pesquisar a viagem de volta de seu interesse [...]. Conforme prevê a Res. 4770/2015, em vigor, uma
empresa que deseja operar serviço de transporte regular deve cumprir requisitos muito mais
rigorosos que as empresas que operam somente o fretamento (...)."

Nesse sentido, é insustentável a tese da empresa de que atuaria apenas como


intermediária, pois, de acordo com o recorte fático delineado pelo Tribunal de origem, o modelo por
ela adotado necessariamente envolve operações conjuntas com empresas qualificadas como
parceiras. Tanto é assim que ela própria anuncia e cobra individualmente passagens para viagens
interestaduais, conforme relatório da ANTT.

Dessa forma, o serviço oferecido pela plataforma de fretamento em circuito aberto


implica, na realidade, a prestação irregular de serviço de transporte rodoviário de passageiros. Ou
seja, de forma indireta, a plataforma atua como se fosse uma empresa de transporte regular de
passageiros em quaisquer rotas interestaduais em que há demandas de viagens, ainda que de forma
indireta (pois o serviço é executado por meio de empresas parceiras).

Configurada, portanto, atuação em situação de concorrência desleal com as empresas que


prestam regular serviço de transporte interestadual de passageiros.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO
Decr eto n. 2.251/1998, arts. 3º, XI, e 36, § 1º

PROCESSO REsp 2.024.527-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
18/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL

TEMA Medida Provisória. Suspensão por decisão liminar em


ADI. Invalidação das relações jurídicas objeto de
impugnação judicial. Posterior rejeição pelo Congresso.
Manutenção dos efeitos da liminar concedida durante a
vigência da MP. Ausência de efeitos.

DESTAQUE

Não podem ser consideradas válidas as relações jurídicas regidas por Medida Provisória
afastada por decisão liminar em Ação Direta de Inconstitucionalidade, quando esta decisão ainda se
encontrava em vigor no momento da rejeição da MP.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Supremo Tribunal Federal em diversas ocasiões, rejeitou o controle de


constitucionalidade concentrado da aplicação da MP n. 242/2005, uma vez que sendo rejeitada, só
restariam as relações jurídicas constituídas sob a sua a égide, relações subjetivas que deveriam ser
tratadas por outros meios processuais. A referida Medida Provisória foi suspensa por decisão
liminar na ADI n. 3467- 7/DF, sendo esta ação posteriormente extinta por perda de objeto, uma vez
que o Congresso Nacional rejeitou a Medida Provisória por razões de inconstitucionalidade.

Nesse sentido, o §11º do art. 62 da Constituição Federal de 1988 estabelece que as


relações jurídicas decorrentes de atos praticados durante a vigência de uma Medida Provisória
rejeitada são regidas por ela. Isso significa que os atos realizados sob o amparo da MP permanecem
válidos, mesmo após a sua rejeição.

No presente caso, essa determinação abrange não apenas os atos diretos resultantes da
aplicação da MP, mas também os efeitos decorrentes desses atos, incluindo atos judiciais que
levaram à suspensão da eficácia da MP em controle concentrado de constitucionalidade.

A ausência de higidez jurídica é a marca destas relações formadas por norma jurídica
afastada em controle de constitucionalidade por decisão liminar. Conforme bem pontuado pelo
Tribunal de origem, no momento da edição do Ato Declaratório n. 1, do Senado Federal, em
20/7/2005, que rejeitou a MP, "vigia a medida cautelar concedida pelo STF, suspendendo a eficácia
da referida norma, razão pela qual admitir-se o entendimento defendido pela autarquia, de que se
perpetuariam as consequências concretas produzidas no período de vigência da MP, implicaria em
verdadeira repristinação, fazendo a norma ter efeitos em momento no qual estava suspensa;
repristinação essa que adviria, contraditoriamente, de sua própria revogação.

Dessa forma, uma vez constatada a inconstitucionalidade da norma pelo Supremo


Tribunal Federal por meio de medida liminar, a qual ainda estava em vigor quando da rejeição da
Medida Provisória pelo Congresso Nacional, as relações jurídicas objeto de impugnação judicial não
podem ser consideradas válidas.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal, art. 62, §11º

MP n. 242/2005

PRECEDENTES QUALIFICADOS

ADI n. 3467/DF
TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.135.783-DF, Relatoria Ministra Nancy Andrighi,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
18/6/2024, DJe 21/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DIGITAL

TEMA Motorista de aplicativo. Prática de ato gravoso.


Suspensão imediata do perfil pela plataforma.
Possibilidade. Notificação prévia. Desnecessidade.
Segurança dos usuários. Posterior direito de defesa.
Observância.

DESTAQUE

Não há óbice para a imediata suspensão do perfil profissional de motorista de aplicativo


que pratica ato suficientemente gravoso, com a possibilidade de posterior exercício de defesa
visando ao recredenciamento.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a definir se é possível o descredenciamento definitivo de


motorista de aplicativo, sem direito ao contraditório, à ampla defesa e à notificação prévia.

Nos termos do art. 5º, I, combinado com o art. 12, §2º, da Lei Geral de Proteção de Dados -
LGPD, entende-se que o conjunto de informações que leva ao descredenciamento do perfil
profissional do motorista de aplicativo se configura como dado pessoal, atraindo a aplicação da
LGPD. A transparência é o princípio da LGPD que garante aos titulares informações claras, precisas e
facilmente acessíveis sobre a realização do tratamento de dados.

O titular dos dados pessoais, que pode ser o motorista de aplicativo, possui o direito de
exigir a revisão de decisões automatizadas que definam seu perfil profissional, nos termos do art. 20
da LGPD. Conjugando este dispositivo com a eficácia dos direitos fundamentais nas relações
privadas, entende-se que o titular de dados pessoais deve ser informado sobre a razão da suspensão
de seu perfil, bem como pode requerer a revisão dessa decisão, garantido o seu direito de defesa.

Considerando que, a depender da situação fática, a plataforma de transporte individual


poderá ser responsabilizada por eventuais danos causados ou sofridos por seus usuários, cabe a ela
analisar os riscos que envolvem manter ativo determinado perfil de motorista. Assim, sendo o ato
cometido pelo motorista suficientemente gravoso, trazendo riscos ao funcionamento da plataforma
ou a seus usuários, não há óbice para a imediata suspensão do perfil profissional, com a
possibilidade de posterior exercício de defesa visando ao recredenciamento.

Seriam os casos, por exemplo, de comportamento inadequado do motorista em razão de


assédio ou importunação sexual, racismo, crimes contra o patrimônio, agressões físicas e verbais,
dentre outras questões que envolvem não somente o contratante, senão o consumidor, seu bem-
estar, segurança e dignidade.

Conferido o direito de defesa e ainda assim a plataforma concluir que restou comprovada
a violação aos termos de conduta, não há abusividade no descredenciamento do perfil. Até porque
não se afasta a possibilidade de revisão judicial da questão.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 13.709/2018 (LGPD), arts. 5º, I; 12, §2º; e 20


QUARTA TURMA

PROCESSO REsp 2.095.414-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira,


Quarta Turma, por maioria, julgado em 11/6/2024, DJe
18/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO NOTARIAL E


REGISTRAL

TEMA Cadastros de inadimplentes. Data de vencimento da


dívida. Informação essencial. Necessidade de constar no
banco de dados. Prazo quinquenal. Contados do primeiro
dia seguinte à data de vencimento da dívida.

DESTAQUE

A inscrição e manutenção do nome do devedor em cadastros de inadimplentes está


adstrita ao prazo de cinco anos contados do primeiro dia seguinte à data de vencimento da dívida,
que deverá estar inserida no banco de dados da administradora do cadastro.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, a Lei do Cadastro Positivo e a Lei Geral
de Proteção de Dados pessoais, as informações constantes do Órgão de Proteção ao Crédito devem
ser objetivas, claras, verdadeiras e de fácil compreensão.

Contudo, não há obrigação legal de a administradora do cadastro de inadimplentes inserir


no seu banco de dados todas as informações constantes na certidão de protesto do título. Isso
porque é da competência privativa do Tabelião de Protesto de Títulos o serviço de publicidade dos
dados constantes no título de crédito protestado (arts. 2º, 3º e 27 da Lei n. 9.492/1997).

A função do Tabelionato de Protesto não se confunde com a da entidade mantenedora do


cadastro de inadimplentes, a quem apenas cabe, após prévia notificação do devedor, manter o banco
de dados atualizado com informações dos devedores, pessoas físicas ou jurídicas, a fim de "subsidiar
a concessão de crédito, a realização de venda a prazo ou de outras transações comerciais e
empresariais que impliquem risco financeiro" (art. 2º, I, da Lei n. 12.414/2011).

No mais, de acordo com a Lei do Cadastro Positivo, devem constar no banco de dados da
administradora do cadastro de inadimplentes informações "vinculadas à análise de risco de crédito
ao consumidor" (art. 3º, § 3º, I). Isso significa que, além dos registros tradicionalmente negativos
sobre inadimplência, as instituições responsáveis pelo cadastro também podem incluir informações
positivas, como histórico de pagamentos em dia e comportamento financeiro favorável.

Dados como o nome do credor, portador, CNPJ/CPF, endereço, tipo de título, numeração e
data da emissão do título, não estão intrinsecamente ligados à análise de risco de crédito ao
consumidor. Essas informações são mais relevantes para a documentação específica do título de
crédito e podem ser obtidas diretamente no tabelionato, cujo tabelião é o responsável por divulgar
informações relacionadas a títulos de crédito protestados.

Em contrapartida, a data de vencimento do título é uma informação essencial para a


análise de risco de crédito ao consumidor, devendo obrigatoriamente constar no banco de dados do
cadastro de inadimplentes.

O Código de Defesa do Consumidor (art. 43, § 1º) prevê expressamente que não podem
permanecer no cadastro de inadimplentes informações negativas referentes a período superior a 5
anos. Nesse sentido, foi editada a Súmula n. 323 do STJ.

A data de vencimento da dívida é informação de extrema relevância para determinar o


período de manutenção do dado negativo do consumidor no cadastro de inadimplentes,
desempenhando papel fundamental na gestão adequada das informações sobre os devedores,
contribuindo para preservar a integridade e a precisão dos registros nos cadastros de
inadimplentes.

Essa prática tem por finalidade salvaguardar os direitos dos consumidores, assegurando
que dados desatualizados não comprometam seu acesso ao crédito por um período excessivamente
prolongado. Dessa forma, a negativa do pedido para que conste no banco de dados do cadastro de
inadimplentes a data de vencimento da dívida ofende o art. 43, § 1º, da Lei n. 8.078/1990.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO
Lei n. 9.492/1997, arts. 2º, 3º e 27

Lei n. 12.414/2011, arts. 2º, I , e 3º, § 3º, I

Código de Defesa do Consumidor (CDC), art. 43, § 1º

SÚMULAS

Súmula n. 323/STJ

PROCESSO REsp 2.061.199-RJ, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta


Turma, por unanimidade, julgado em 18/6/2024, DJe
21/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL, DIREITO


EMPRESARIAL

TEMA Registro de marca alheia no Brasil. Ação de nulidade.


Relação comercial entre as partes. Venire contra factum
proprium. Inexistência de má-fé do registrador.
Imprescritibilidade do pedido. Afastamento.

DESTAQUE

Nos termos da CUP (Convenção da União de Paris), para se reconhecer a


imprescritibilidade da ação de nulidade de registro de marca, é necessário demonstrar a
notoriedade da marca e haver má-fé do registrador, decorrente do uso indevido, sendo relevante a
análise do comportamento das partes para tal definição.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia sobre a necessidade de se considerar não somente a má-fé, mas


também a notoriedade da marca, para fins de definir se é ou não imprescritível o pleito de nulidade
do registro.

Sobre a necessidade de se considerar ambos os elementos, para fins de dizer se é ou não


imprescritível o referido pleito de nulidade, as duas Turmas que compõem a Segunda Seção já se
manifestaram no sentido de que "a Lei n. 9279/96 (art. 174) estabelece a prescrição quinquenal
para a pretensão de nulidade do registro, tendo a Convenção da União de Paris de 1883 - CUP (art. 6
bis, 3) excepcionado a regra ao determinar que não haverá prazo para se anular as marcas
registradas com má-fé", consignando-se ainda que "(t)ratando-se de marca notória, em razão do
amparo protetivo diferenciado da norma - para fins de imprescritibilidade da ação anulatória -,
basta ao requerente a demonstração de que a marca reivindicada era notoriamente conhecida, ao
tempo do registro indevido, para obter, em seu favor, a inversão do ônus da prova da má-fé em face
do requerido, anterior registrador e, como reverso, a boa-fé do reivindicante" (REsp n.
1.306.335/RJ, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 25/4/2017, DJe de
16/5/2017).

No caso, o Tribunal de origem, considerando as peculiaridades da espécie, deixou assente


não estarem demonstrados os requisitos legais (CUP) para que fosse reconhecida a
imprescritibilidade da pretensão das autoras de adjudicação ou nulidade de marcas. Assentou que,
embora o signo seja reprodução ou imitação suscetível de produzir confusão de marca registrada
em país signatário da CUP, a marca não era notória no Brasil, entre o público em geral, no início dos
anos setenta, e considerou a peculiaridade de que a má-fé do grupo réu, ainda que constatada, tem
sua eficácia, no caso em discussão, suspensa, durante os trinta longos anos em que as partes, autoras
e rés, mantiveram relacionamento comercial harmônico.

A má-fé foi, portanto, foi afastada pelas instâncias ordinárias, tendo em vista que as partes
mantiveram um acordo comercial ao longo de trinta anos, não podendo, pois, as autoras, com tal
comportamento, dele se beneficiarem. Assim, teria havido uma atuação contraditória com as
pretensões deduzidas na presente ação, por terem as autoras, anteriormente, se relacionado por
três décadas com os réus, auferindo, logicamente, lucro dessa relação empresarial, para, depois de
tanto tempo assentindo, em última ratio, com a utilização da sua marca, postular a sua adjudicação
ou, alternativamente, a nulidade dos registros efetivados pelos réus.

O que a decisão na origem afirmou é que não pode alguém se beneficiar da má-fé da parte
contrária, se com esta manteve relação contratual que lhe teria sido anuente e benéfica, justamente
pelo lapso temporal em relação ao qual a referida má-fé é alegada para viabilizar a pretensão agora
posta em juízo. O ordenamento jurídico repudia esse proceder contraditório, tendo o STJ inúmeros
pronunciamentos sufragando a aplicação de vedação do venire contra factum proprio.

Assim, não há como acolher a alegação de que a imprescritibilidade é objetiva e não


comportaria análise do comportamento das partes acerca de tal questão, uma vez que má-fé é dolo,
ou seja, vontade de agir, e tem total relação com o comportamento da parte, sendo certo que a má-fé
é requisito expressamente previsto no art. 6º, bis, item 3, da CUP, ao dispor que: "(3) não será fixado
prazo para requerer o cancelamento ou a proibição de uso de marcas registradas ou utilizadas de
má fé".

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 9279/1996, art. 174

Convenção da União de Paris de 1883 (CUP)

PROCESSO AgInt nos EDcl no AREsp 1.295.169-DF, Rel. Ministro


João Otávio de Noronha, Quarta Turma, por
unanimidade, julgado em 20/5/2024, DJe 22/5/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

TEMA Previdência privada. Migração de plano. Correção


monetária. Não incidência. Desligamento e resgate.
Súmula n. 289 do STJ.
DESTAQUE

A súmula n. 289 do STJ aplica-se apenas aos casos de desligamento e de resgate, não se
aplicando às de migração entre planos de previdência privada.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 289, segundo a qual "a restituição das
parcelas pagas a plano de previdência privada deve ser objeto de correção plena, por índice que
recomponha a efetiva desvalorização da moeda".

Essa questão já foi decidida no STJ sob a sistemática dos recursos repetitivos, em que
reafirmou o entendimento sumular acima citado (Tema 511: "É devida a restituição da denominada
reserva de poupança a ex-participantes de plano de benefícios de previdência privada, devendo ser
corrigida monetariamente conforme os índices que reflitam a real inflação ocorrida no período,
mesmo que o estatuto da entidade preveja critério de correção diverso, devendo ser incluídos os
expurgos inflacionários (Súmula n. 289 do STJ)".

Por sua vez, de acordo com o Tema 943 do STJ, no julgamento do REsp n. 1.551.488/MS,
decidiu-se que "1.1. Em caso de migração de plano de benefícios de previdência complementar, não
é cabível o pleito de revisão da reserva de poupança ou de benefício, com aplicação do índice de
correção monetária. 1.2. Em havendo transação para migração de plano de benefícios, em
observância à regra da indivisibilidade da pactuação e proteção ao equilíbrio contratual, a anulação
de cláusula que preveja concessão de vantagem contamina todo o negócio jurídico, conduzindo ao
retorno ao status quo ante".

Dessa forma, a Súmula n. 289 do STJ aplica-se apenas aos casos de desligamento e de
resgate, não se aplicando às de migração entre planos de previdência privada.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

SÚMULAS

Súmula n. 289
PRECEDENTES QUALIFICADOS

Tema 511/STJ

Tema 943 /STJ


QUINTA TURMA

PROCESSO AREsp 1.700.368-CE, Rel. Ministro Messod Azulay Neto,


Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 18/6/2024,
DJe 21/6/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL, DIREITO PROCESSUAL


PENAL

TEMA Furto milionário contra o Banco Central. Constrição de


bens. Mandado de segurança postulando a restituição de
valores. Intervenção da Autarquia vítima do crime.
Formação de litisconsórcio passivo necessário.
Necessidade.

DESTAQUE

Não é adequada a decisão que impede a habilitação do ofendido em mandado de


segurança, cujo propósito afeta seus interesses, sendo imperativa a formação do litisconsórcio
passivo necessário.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

As garantias constitucionais do devido processo legal, do exercício do contraditório e da


ampla defesa, sob o prisma da defesa, também deve ser considerada sob a perspectiva do
ofendido/vítima, tendo em vista o inafastável interesse no resultado advindo do processo
instaurado.

Nesta perspectiva, a vítima participa ativamente ao ser ouvida, ao apresentar elementos


de prova ou sugerir diligências, bem como ao atuar em favor da reparação dos danos sofridos em
decorrência da conduta criminosa.

Nessa linha, as alterações do Código de Processo Penal, expressaram a crescente intenção


do legislador de confiar papel relevante ao ofendido seja na fase inquisitorial, seja na fase acusatória
da persecução penal.

Noutro viés, a jurisprudência do STJ e do STF, em regra, não admitia intervenção de


terceiros em ação de mandado de segurança, assim como em habeas corpus. Contudo, ao longo dos
anos, o entendimento desta Corte e do Supremo Tribunal Federal passou a flexibilizar a intervenção
de terceiros em sede de habeas corpus, para permitir a participação do querelante no julgamento do
writ.

Dessarte, se na hipótese de utilização da ação de habeas corpus, na qual se tutela o direito


constitucional de locomoção, a jurisprudência excepcionalmente tem admitido a possibilidade de
intervenção, a mesma compreensão pode ser aplicada ao mandado de segurança, uma vez que o
direito a ser discutido se refere à tutela dos interesses legítimos da vítima, no caso, a reparação de
danos.

Na situação em análise, a ação constitucional na origem, ao impugnar decisão que


indeferiu restituição de valores oriundo de furto milionário, ensejou a ampliação do direito de
participação da vítima (Banco Central) no feito mandamental cujo propósito afeta seus interesses
legítimos de ressarcimento dos danos em decorrência do crime praticado.

Afastar a vítima da discussão que busca delimitar ou condicionar seu direito de participar
ativamente nos feitos que afetam seus interesses viola exatamente o referido direito de participação.

Ademais, diversamente do que ocorre com o habeas corpus, no mandado de segurança


existe norma autorizativa de intervenção de terceiros, devendo ser afirmado, por isso, a sua
admissibilidade.

Nessa esteira, a observância do devido processo legal perpassa pelo atendimento do art.
24 da Lei n. 12.016/2009, materializando-se com a formação do litisconsórcio passivo necessário
(art. 47 do CPC/1973 e art. 114 do CPC/2015), assegurando ao Banco Central o exercício do
contraditório na defesa dos seus interesses no bojo do pedido de restituição de valores arrecadados
com a alienação antecipada de bens adquiridos com produto do furto milionário do qual figura como
vítima.

Em um ordenamento jurídico que, proclama e fomenta a atuação do ofendido na


persecução penal, não se mostra adequado obstar a sua habilitação em mandamus cujo propósito
afeta esfera de interesses da vítima, de modo que é imperativa a formação do litisconsórcio passivo
necessário, sob pena de nulidade.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 12.016/2009, art. 24

Código de Processo Civil (CPC), art. 114


SEXTA TURMA

PROCESSO AgRg no HC 851.985-SP, Rel. Ministro Jesuíno Rissato


(Desembargador convocado do TJDFT), Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 14/5/2024, DJe 17/5/2024.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Habeas corpus. Agravo regimental. Interposição fora do


prazo legal. Intempestividade. Lapso temporal de 5 dias
corridos.

DESTAQUE

O prazo para a interposição do agravo regimental em matéria penal é de 5 dias corridos.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Nos termos do entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça, nas ações que
tratam de matéria penal ou processual penal não incidem as regras do art. 219 do novo Código de
Processo Civil, referente à contagem dos prazos em dias úteis, porquanto o Código de Processo
Penal, em seu art. 798, possui disposição específica a respeito da contagem dos prazos, segundo o
qual todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo
por férias, domingo ou dia feriado.

A entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil não modificou o prazo para
interposição de agravo das decisões do relator em matéria penal, logo, mantida a disposição prevista
no art. 39 da Lei 8.038/1990. (AgRg no AREsp n. 2.087.225/DF, relator Ministro João Batista
Moreira (Desembargador convocado do TRF1), Quinta Turma, julgado em 23/5/2023, DJe
26/5/2023).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC), art. 219

Código de Processo Penal (CPP), art. 798

Lei n. 8.038/1990, art. 39

PROCESSO AgRg no HC 866.758-SP, Rel. Ministro Jesuíno Rissato


(Desembargador convocado do TJDFT), Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 15/4/2024, DJe 18/4/2024.

RAMO DO DIREITO EXECUÇÃO PENAL

TEMA Uso de aparelho celular pelo apenado durante o trabalho


externo. Falta grave. Não configuração. Atipicidade
formal da conduta.

DESTAQUE

A utilização de aparelho celular durante o trabalho externo, sem expressa vedação judicial,
não configura falta grave.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O entendimento da Sexta Turma do STJ é no sentido de que, durante o trabalho externo,


não há previsão legal de incomunicabilidade do sentenciado. Nessa linha, somente nos casos em que
há ordem expressa judicial de não usar telefone fora dos limites da unidade penal, é que o apenado
poderá ser penalizado por falta grave pela infração de desobediência descrita no art. 50, VI, da Lei
de Execução Penal - LEP.
No caso, considerando-se a utilização de aparelho celular na empresa em que o
reeducando prestava serviço na modalidade externa, não há falar em desobediência dos deveres
previstos em lei, uma vez que não houve advertência do juízo quanto ao uso de celular durante o
trabalho externo, bem como a conduta alusiva a uso de celular durante trabalho externo não se
amolda à previsão legal descrita no art. 50, VII, da LEP, vale dizer, inexiste vedação legal à utilização
de aparelho de comunicação fora das penitenciárias.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei de Execução Penal (LEP), art. 50, VI e VII


RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 1.874.133-SP, Rel. Min. João Otávio de


Noronha, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
18/6/2024, DJe 21/06/2024. (Tema 1266).
ProAfR no REsp 1.883.871-SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em
18/6/2024, DJe 21/06/2024 (Tema 1266).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA A Segunda Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps ns. 1.874.133-SP e 1.883.871-SP ao rito dos
recursos repetitivos, a fim de uniformizar o
entendimento a respeito da seguinte controvérsia:
"definir se é possível penhorar o imóvel alienado
fiduciariamente em decorrência de dívida condominial".
PROCESSO ProAfR no REsp 2.072.867-MA, Rel. Ministro Raul Araújo,
Corte Especial, por maioria, julgado em 21/5/2024, DJe
25/6/2024. (Tema 1267).
ProAfR no REsp 2.072.868-MA, Rel. Ministro Raul Araújo,
Corte Especial, por maioria, julgado em 21/5/2024, DJe
25/6/2024 (Tema 1267).
ProAfR no REsp 2.072.870-MA, Rel. Ministro Raul Araújo,
Corte Especial, por maioria, julgado em 21/5/2024, DJe
25/6/2024 (Tema 1267).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA A Corte Especial acolheu a proposta de afetação dos


REsps n. 2.072.867-MA, 2.072.868-MA e 2.072.870-MA
ao rito dos recursos repetitivos, a fim de uniformizar o
entendimento a respeito da seguinte controvérsia:
"possibilidade de aplicação do princípio da fungibilidade
recursal, na hipótese de apresentação de correição
parcial, ao invés da interposição de agravo de
instrumento (art. 1.015 do CPC), contra decisão de
magistrado de primeiro grau que, exercendo juízo de
admissibilidade, não admite apelação e, assim, não faz a
remessa dos autos ao respectivo Tribunal, na forma
prevista pelo § 3º do art. 1.010 do CPC de 2015".

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