1876711

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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO DE INSTRUMENTO 0710734-60.2024.8.07.0000

AGRAVANTE(S) ARLETE LORENTI BANDEIRA CAPOBIANCO

AGRAVADO(S) BANCO DO BRASIL S/A


Relator Desembargador FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA

Relator Designado Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA


Acórdão Nº 1876711

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO CIVIL. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA


RELATIVA DE OFÍCIO. NOVA REDAÇÃO DO ART. 63 DO CPC. ESCOLHA ALEATÓRIA
DE FORO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO.

1. A Lei nº 14.879, de 4 de junho de 2024 deu nova redação aos parágrafos 1º e 5º do art. 63 do CPC
estabelecendo a possibilidade de declinação de ofício deparando-se com hipótese de escolha aleatória
de foro.

2. O novo diploma, rompendo com a tradição do direito, estabeleceu requisitos para validade das
declarações de vontade feitas em contrato, permitindo a análise pessoal do juiz sobre qual foro será
mais adequado para solução do litígio.

3. Agravo desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA - Relator, GETÚLIO MORAES
OLIVEIRA - Relator Designado e 1º Vogal e SANDRA REVES - 2º Vogal, sob a Presidência da
Senhora Desembargadora SANDRA REVES, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO.
DESPROVIDO. MAIORIA. VENCIDO O RELATOR, REDIGIRÁ O ACÓRDÃO O 1º VOGAL,
DESEMBARGADOR GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA. , de acordo com a ata do julgamento e
notas taquigráficas.

Brasília (DF), 19 de Junho de 2024

Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA


Relator Designado

RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por ARLETE LORENTI BANDEIRA CAPOBIANCO


contra a decisão que declinou da competência para processar e julgar o feito, nos autos da ação de
reparação de danos ajuizada em desfavor do BANCO DO BRASIL S/A.

A parte agravante sustenta, em síntese, que se trata de regra de competência territorial, prevista no
artigo 53, inciso III, alínea “a”, do Código de Processo Civil, razão por que o feito deve ser processado
no domicílio da sede do agravado, ou seja, em Brasília/DF.

Requer, ao final, a suspensão da decisão agravada e, no mérito, o provimento do recurso para declarar a
competência do Juízo de origem para processar e julgar o feito.

Preparo recolhido.

O pedido liminar foi deferido para suspender os efeitos da decisão agravada até o julgamento de mérito
do recurso.

A parte agravada não apresentou contrarrazões.

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Conforme relatado, trata-se de agravo de instrumento interposto por ARLETE LORENTI


BANDEIRA CAPOBIANCO contra a decisão que declinou da competência para processar e julgar o
feito, nos autos da ação de reparação de danos ajuizada em desfavor do BANCO DO BRASIL S/A.

A parte agravante sustenta, em síntese, que se trata de regra de competência territorial, prevista no
artigo 53, inciso III, alínea “a”, do Código de Processo Civil, razão por que o feito deve ser
processado no domicílio da sede do agravado, ou seja, em Brasília/DF.

No caso, a parte agravante tem domicílio em São Paulo/SP.

Com efeito, trata-se de ação de reparação por danos, o que atrai a regra geral de competência
territorial, de natureza relativa, em atenção aos interesses dos litigantes, na forma do artigo 53, inciso
III, alínea “a”, do CPC, ou seja, “onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica”.

Nesse contexto, como se trata de competência territorial relativa, distribuída a ação e fixada a sua
competência, sua modificação somente é permitida por vontade do réu, caso alegue a incompetência
em preliminar de contestação, a teor dos artigos 64 e 65 do CPC, sob pena de prorrogação da
competência.

Além disso, em conformidade com o enunciado de Súmula 33 do STJ, “a incompetência relativa não
pode ser declarada de ofício”, de modo que não poderia o magistrado a quo ter declinado de sua
competência.

Nesse sentido, o entendimento do e. TJDFT:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. BANCO DO BRASIL. PASEP.


COMPETÊNCIA RELATIVA. DECLÍNIO DA COMPETÊNCIA DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE. PESSOA JURÍDICA. SEDE. PREVISÃO LEGAL. 1. Diante de demanda de
natureza pessoal, resta configurada a competência territorial relativa, que não admite o controle de
ofício pelo juiz, nos termos do art. 65 do CPC e da Súmula n. 33 do STJ. 2. Em que pese domiciliado
o Autor-Agravante em outro Estado da Federação, onde se concretizou o negócio jurídico, a parte
optou pelo ajuizamento da ação no foro da sede da pessoa jurídica Ré, nesta Capital, em consonância
com os arts. 46 e 53, III, "a", do CPC. 3. A escolha da parte pela Justiça do Distrito Federal encontra
amparo na Lei, logo não pode ser considerada ilegal ou aleatória. 4. Agravo de instrumento conhecido
e p r o v i d o .
(Acórdão 1828543, 07003997920248070000, Relator: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA, 7ª
Turma Cível, data de julgamento: 6/3/2024, publicado no DJE: 20/3/2024. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)”

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO CIVIL. BANCO DO BRASIL S/A. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. PASEP. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. SEDE DO EXECUTADO.
DECLINAÇÃO DE OFÍCIO. INVIABILIDADE. SÚMULA 33/STJ. DECISÃO REFORMADA. 1.
O colendo STJ tem decidido pela possibilidade de o mutuário propor ação indenizatória, em razão dos
valores disponibilizados a título de PASEP, no foro do seu domicílio, no local onde se acha a agência
ou sucursal ou, ainda, na sede da pessoa jurídica (artigo 53, III, "a", do Código de Processo Civil). 2.
A competência de foro para a Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais contra o Banco do
Brasil S/A, objetivando a condenação da valores da conta vinculada ao PASEP, é territorial - de
caráter relativo, portanto -, ensejando a observância do disposto na Súmula nº 33 do STJ, segundo a
qual "a incompetência relativa não pode ser declarada de ofício". 3. Recurso conhecido e provido.
(Acórdão 1828643, 07511414520238070000, Relator: MAURICIO SILVA MIRANDA, 7ª Turma
Cível, data de julgamento: 6/3/2024, publicado no PJe: 15/3/2024. Pág.: Sem Página Cadastrada.)”

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. BANCO


DO BRASIL S.A. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.
COMPETÊNCIA TERRITORIAL. NATUREZA RELATIVA. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. (...) 2. O art. 46 do CPC determina que a ação fundada em direito pessoal será proposta no
foro de domicílio do réu. Em complemento, o art. 53, III, "a", do CPC dispõe que, para a ação
ajuizada contra pessoa jurídica, é competente o foro do lugar onde está a sua sede. 3. A regra de
competência em questão é de ordem territorial e, por isso, relativa, de modo que não pode ser
declinada de ofício pelo Juízo, nos termos do enunciado de súmula n. 33 do STJ. 4. Cabe
exclusivamente ao réu, nas causas em que o Ministério Público não seja parte ou não intervenha,
alegar a incompetência relativa em preliminar de contestação (art. 337, II, CPC). Caso não o faça, é
prorrogada a competência relativa do órgão judicial, vide art. 65, caput, do CPC. 5. Deve ser
reformada a decisão que declarou, de ofício, a incompetência territorial do Juízo de origem. 6.
Recurso conhecido e provido.
(Acórdão 1816712, 07475143320238070000, Relator: SANDRA REVES, 7ª Turma Cível, data de
julgamento: 15/2/2024, publicado no DJE: 1/3/2024. Pág.: Sem Página Cadastrada.)”

Desse modo, deve ser reformada a decisão que declarou, de ofício, a incompetência territorial e
determinou a remessa dos autos para uma das Varas Cíveis da Comarca de São Paulo/SP.

Registra-se, por fim, que a decisão que deferiu o pedido liminar no recurso examinou devidamente a
questão posta sub judice, bem como não houve mudança fática ou jurídica dos fundamentos que a
integram, mostrando-se suficientes para orientar o julgamento de mérito do agravo. Assim, adotam-se
os mesmos argumentos como razões de decidir.

Diante do exposto, DOU PROVIMENTOao agravo de instrumento para reformar a decisão agravada
e declarar a competência do Juízo de origem para processar e julgar a presente ação de reparação de
danos.

É como voto.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - Relator Designado e 1º Vogal

Peço vênia para divergir.

A Lei Nº 14.879, de 4 de junho de 2024, deu nova redação aos parágrafos 1º e 5º do art. 63 do CPC
estabelecendo:

“§ 1º A eleição de foro somente produz efeito quando constar de instrumento escrito, aludir
expressamente a determinado negócio jurídico e guardar pertinência com o domicílio ou a residência
de uma das partes ou com o local da obrigação, ressalvada a pactuação consumerista, quando
favorável ao consumidor.

§ 5º O ajuizamento de ação em juízo aleatório, entendido como aquele sem vinculação com o
domicílio ou a residência das partes ou com o negócio jurídico discutido na demanda, constitui
prática abusiva que justifica a declinação de competência de ofício.”

A nova redação, conquanto represente uma ruptura com a tradição do Direito (disposição que
constava nas Ordenações, no CPC de 1939, no CPC de 1973 e no CPC de 2015 até a nova lei) e
aparentemente se possa cogitar de interferência na autonomia da vontade dos contratantes, apresenta
uma literalidade que não se pode desconsiderar.

Quis o legislador, ao que parece, estabelecer que até mesmo quando o foro for favorável ao
consumidor - como no caso, em que a demanda foi proposta pelo próprio consumidor segundo seus
interesses- o juiz, mediante análise pessoal, pode entender que outro será o foro mais favorável para
ele.

Na espécie, o Agravante tem domicílio fora do Distrito Federal, e a empresa Ré, conquanto tenha sua
sede nesta Capital, apresentou exceção de incompetência na origem, ou seja, prefere ser demandada
no domicílio do consumidor.

Em tal caso, até que novas luzes sejam lançadas sobre a questão pela doutrina e pela jurisprudência,
prevalece a decisão agravada, não por seus fundamentos, mas pelo advento da nova lei.

Pelo exposto, peço vênia para divergir e NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, mantendo a
decisão recorrida.

É como voto.

A Senhora Desembargadora SANDRA REVES - 2º Vogal

Peço vênia ao eminente Relator para divergir.

Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que declinou de ofício de sua competência para São
Paulo/SP, no qual foi aberta a conta individual, referente à inscrição no Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público (PASEP), e que coincide com o domicílio do autor.

A ação de conhecimento ajuizada pelo autor, visa, em suma, a condenação do réu ao pagamento de
danos por prejuízos decorrentes de suposta má gestão do fundo Pasep, que tem o Banco do Brasil S.A.
como administrador legal. A controvérsia recursal gira em torno da eventual incompetência do Juízo
de origem para processar e julgar a presente demanda.

Verifica-se a natureza civil, e não consumerista, da relação jurídica entre as partes, tendo em vista que
o fundo Pasep, programa de formação do patrimônio dos servidores públicos, é regido por regras
específicas previstas em um conjunto de diplomas normativos, quais sejam, a Lei Complementar n.
8/1970, a Lei Complementar n. 26/1975, a Lei n. 9.715/1998 e o Decreto n. 9.978/2019, sendo certo
que o Banco do Brasil S.A. é o administrador das contas vinculadas ao fundo Pasep apenas por
decorrência de imposição legal.

Trata-se, assim, de competência relativa, territorial, e a declinação de ofício estaria, a princípio,


vedada pelo enunciado de súmula n. 33 do STJ. Em rigor, dessa maneira, caberia ao réu, se entender
conveniente, suscitar a incompetência relativa como questão preliminar de contestação, nos termos do
art. 64 do CPC, prorrogando-se a competência se não se insurgir quanto ao ponto, à luz do art. 65 do
mesmo diploma legal.

O autor reside em São Paulo/SP, a conta vinculada ao fundo Pasep está cadastrada em agência do
Banco do Brasil localizada no mesmo local, os advogados possuem escritório m Recife. Inexiste,
assim, justificativa jurídica hábil ao ajuizamento da demanda no Distrito Federal.

Um dos critérios definidos pelo legislador para determinar o local onde deve ser proposta uma ação é
a chamada competência territorial, definida com fulcro na circunscrição geográfica.

O art. 53, III, a e b, do CPC, pertinente ao caso em análise, dispõe que, quando a ré for pessoa
jurídica, é competente o foro do lugar onde está a sua sede, bem como onde se acha agência ou
sucursal, quanto às obrigações contraídas. Trata-se de regra de competência relativa, que, a princípio,
possibilitaria a livre escolha do autor.

Ocorre que, não se pode desconsiderar, por completo, na seleção do lugar a se ajuizar a ação pela
parte, os chamados fatores de ligação entre os elementos da causa e o foro eleito, sob pena de
desvirtuamento do instituto. Sobre o assunto, Cândido Rangel Dinamarco[1]leciona:
No trato da competência territorial aparece com mais clareza o significado dos fatores de ligação (
momenti di collegamento: Liebman) de uma causa com determinado órgão, que são os responsáveis
pela atribuição daquela a este. As disposições da lei sobre a competência territorial fazem com que
as ligações de fato entre a causa e o foro se convertam em motivos de ligação entre ela e os órgãos
judiciários ali instalados. As partes, os fatos integrantes da causa de pedir ou o objeto do pedido têm
sempre uma dimensão territorial que os põe em visível contato com determinada porção do território
nacional. Ora é o domicílio do réu em tal comarca, ou o imóvel pretendido que se situa numa outra,
ou os fatos danosos que aconteceram aqui ou ali etc. O desenho da distribuição da competência
territorial na ordem judiciária de um país é o resultado do modo como o legislador manipulou esses
fatores de ligação e os combinou, dando prevalência a um em certos casos e valorizando outros em
relação a determinadas outras situações, etc.

A despeito de não haver uma ordem de preferência expressa entre as alíneas do inciso III do art. 53 do
CPC, a hipótese do item b(foro do lugar onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a
pessoa jurídica contraiu) é específica em relação ao do item a (foro do lugar onde está a sede), de
aplicação subsidiária, em prol da segurança jurídica e da coerência do sistema normativo, coincidente,
na hipótese, com o foro do domicílio do autor.

É certo que o princípio do juiz natural exige que a escolha do Juízo competente para julgar uma
determinada demanda seja feita com base em critérios objetivos e pré-estabelecidos (art. 5º, XXXVII
e LIII, da CF[2]). A norma se relaciona, ainda, à organização judiciária de um determinado Tribunal,
com a atribuição de julgamentos de forma orgânica e equilibrada no âmbito de sua extensão.

Nessa mesma linha de compreensão foi editada a Lei nº 14.879, de 4 de junho de 2024, que alterou
o art. 63 do CPC, afastando a possibilidade de escolha aleatória de foro de eleição.

Acerca da possibilidade de declínio da competência para o foro da agência ou sucursal, destaquem-se


recentes acórdãos deste e. Tribunal de Justiça, ad litteris:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO INDENIZAÇAO POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS. PASEP. MOVIMENTAÇÕES FINANCEIRAS. DESFALQUE. SUPOSTA
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO BANCÁRIO. PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO.
DEMANDA PROPOSTA NO FORO DA SEDE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EXECUTADA.
COMPETÊNCIA TERRITORIAL. ESCOLHA ALEATÓRIA DO FORO. DECLINAÇÃO DA
COMPETÊNCIA. INTERESSE PÚBLICO. CABIMENTO. CONCESSÃO DE OPORTUNIDADE
PARA QUE O AUTOR FAÇA O DOWNLOAD DAS PEÇAS DO PROCESSO A FIM DE VIABILIZAR
A DISTRIBUIÇÃO DE NOVA AÇÃO NO JUÍZO COMPETENTE. INEXISTÊNCIA DE CARGA
DECISÓRIA. ATO JUDICIAL IRRECORRÍVEL. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO QUANTO
AO PONTO. 1. O ato judicial que, em virtude do reconhecimento da incompetência do Juízo, faculta
ao autor o download das peças processuais, de modo a viabilizar a propositura de nova ação no foro
competente, não apresenta conteúdo decisório, tratando-se de mero despacho contra o qual não é
cabível a impugnação mediante a interposição de recurso, consoante disposto no artigo 1.001 do
Código de Processo Civil. 2. De acordo com o artigo 53, inciso III, alíneas "b" e "d" do Código de
Processo Civil, é competente o foro do lugar onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações
que a pessoa jurídica contraiu; onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir
o cumprimento. 2.1. No que diz respeito às pessoas jurídicas, o artigo 75, §1º, do Código Civil,
dispõe que, (t)endo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles
será considerado domicílio para os atos nele praticados. 2.2. Nos termos do artigo 139 do Código de
Processo Civil, incumbe ao Magistrado dirigir o processo e zelar pela correta e efetiva prestação
jurisdicional, impedindo a escolha aleatória de foro, que onera não só o juízo, como todo o Tribunal
e a coletividade de jurisdicionados. 2.3. A escolha aleatória de foro onera sobremodo o Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, uma vez que tem a aptidão de tornar morosa a
prestação jurisdicional pelo assoberbamento de ações a serem examinadas. 3. Consoante
entendimento firmado por esta egrégia Corte de Justiça, o fato de a instituição financeira ter sede no
Distrito Federal não é suficiente para determinar a competência na Circunscrição de Brasília, pois o
Banco do Brasil possui agências bancárias na quase totalidade dos municípios do País, havendo o
risco de sobrecarregar as distribuições na Justiça do Distrito Federal. 4. Observado que o objeto da
ação tem origem em conta individual, referente à inscrição no Programa de Formação do Patrimônio
do Servidor Público (PASEP), aberta em outra unidade da federação, na qual há agência do Banco
do Brasil S/A, tem-se por cabível o reconhecimento da incompetência da Justiça do Distrito Federal
para processar e julgar o feito relativa às obrigações cuja satisfação deve ocorrer no próprio
município onde foi celebrado o negócio jurídico. 5. Agravo de instrumento parcialmente conhecido e,
nessa extensão, não provido. (Acórdão 1769114, 07258625720238070000, Relator: CARMEN
BITTENCOURT, 8ª Turma Cível, data de julgamento: 10/10/2023, publicado no DJE: 20/10/2023.
Pág.: Sem Página Cadastrada.)

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INSURGÊNCIA DA PARTE AGRAVADA


CONTRA A DECISÃO QUE DECLAROU A INCOMPETÊNCIA DA CIRCUNSCRIÇÃO
JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA/DF PARA JULGAR A DEMANDA. ESCOLHA ABUSIVA (ALEATÓRIA)
DO FORO. RECURSO DESPROVIDO. I. A parte agravante, apesar de residir no estado do Rio de
Janeiro/RJ, propôs a presente demanda (pagamento da indenização pelo desfalque supostamente
causado em sua conta PIS/PASEP) perante a Justiça do Distrito Federal e Territórios (Vara Cível),
sob o fundamento de que o Banco do Brasil (agravado) tem sede na capital federal. II. A ausência de
justificativa à modificação da competência territorial de foro, por força de "seleção" aleatória
(Código de Processo Civil, art. 63, "caput"), não pode ignorar a exaustiva relação de normas
jurídicas de predeterminação do juízo legal, especialmente mediante a imposição do conhecimento de
fatos jurídicos ocorridos em outra unidade judiciária (Rio de Janeiro/RJ), a qual prestigiaria a
competência exclusiva da parte consumidora e a agência onde teriam ocorrido os fatos (para melhor
instrução). III. Conforme recomendações constantes da Nota Técnica 8/2022, emitida pelo Centro de
Inteligência da Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, a admissão da "eleição de foro"
aleatória não apenas inverteria os valores que norteiam a ordem dos critérios legais de determinação
de competência (exclusiva do consumidor), como violaria certas prerrogativas constitucionais, a
exemplo do número de juízes na unidade jurisdicional ser proporcional à efetiva demanda judicial e à
respectiva população (art. 93, inciso XIII), a alteração da organização e da divisão judiciárias (art.
96, inciso II, "d") e a competência dos tribunais (artigo 125, § 1º). IV. Assim, diante da presente
caracterização de escolha aleatória (abusiva) em relação ao órgão julgador, mostra-se acertada a
decisão de origem de declínio de competência. V. Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (
Acórdão 1787654, 07371734520238070000, Relator: FERNANDO ANTONIO TAVERNARD
LIMA, 2ª Turma Cível, data de julgamento: 16/11/2023, publicado no PJe: 28/11/2023. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)

Ressalte-se, nesse ponto, que a situação demonstrada de escolha aleatória, abusiva, sem amparo
normativo adequado, em preterição ao juiz natural, permitiria, não apenas o distinguishingrestritivo e,
assim, o afastamento daSúmula n. 33 do c. STJ, diante dos fundamentos e ratio decidendidiversos do
aludido precedente,considerando-se, ainda, a preservação do princípio da segurança jurídica com a
tramitação regular do feito no Estado da Federação no qual que reside o autor e possui agência a
instituição financeira ré, mas especialmente a vedação que decorre do § 5º do art. 63 do CPC que veda
o ajuizamento de ação em juízo aleatório, entendido como aquele sem vinculação com o domicílio ou
a residência das partes ou com o negócio jurídico discutido na demanda, porque constitui prática
abusiva que justifica a declinação de competência de ofício.

Assim, com renovadas venias ao eminente Relator, conheço e nego provimento ao agravo, mantendo
indene a r. decisão da origem.

É como voto.

[1] DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 8ª ed. Vol. I. São Paulo:
Malheiros, 2016, p. 680/681.
[2] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

(...)

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

DECISÃO

CONHECIDO. DESPROVIDO. MAIORIA. VENCIDO O RELATOR, REDIGIRÁ O ACÓRDÃO O


1º VOGAL, DESEMBARGADOR GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA.

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