Ciências Da Religião - Aulas 1 A 10
Ciências Da Religião - Aulas 1 A 10
Ciências Da Religião - Aulas 1 A 10
Apresentação:
“A religião primitiva é diferente das formas mais elevadas do pensamento religioso, mas
não é irreligião. Ela pertence ao real e o exprime. Por detrás das aberrações contidas na
manifestação religiosa primitiva, esconde-se alguma necessidade humana, individual ou
coletiva. Assim, não há religião falsa, todas são verdadeiras a seu modo [...].
Por razões de método, deve-se tomar para estudo a religião primitiva: é preciso começar
pelo mais simples e, gradativamente, chegar ao mais complexo. Como todas as religiões
são comparáveis, há [...] elementos essenciais que lhe são comuns, não somente em seus
aspectos exteriores, mas nos mais profundos, permanentes e humanos: o conteúdo da
ideia de religião em geral”. Frase de Émile Durkheim , sociólogo francês, extraída do livro
“As formas elementares da Vida Religiosa”, lançado em 1912, em Paris.
Você já deve ter lido, em bons jornais, notícias sobre religião: festas católicas, santuários
religiosos, mobilizações políticas da bancada parlamentar evangélica, perseguições a
minorias religiosas no Brasil e em outros países etc.
Você parou para se perguntar o que todas essas notícias expressam? Podemos dizer que
esses exemplos divulgam a presença da religião como crença e como comportamento no
mundo atual.
Nesta aula, problemas você aprenderá mais sobre o caráter científico das Ciências da
Religião e os sobre os quais se debruça.
Objetivos:
Compreender as origens das Ciências da Religião.
Identificar o caráter acadêmico-científico das Ciências da Religião.
Analisar fatos e contextos básicos para as Ciências da Religião.
Premissa
As Ciências da Religião possuem suas origens em um século conturbado, violento,
cheio de mudanças sociais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e morais.
Dois grandes pensadores desse século cunharam uma frase famosa: “Tudo o que
era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são
finalmente forçadas a encarar friamente sua posição social e suas relações mútuas”.
(MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. [s./l.])
Por isso você está convidado a conhecer escolas teóricas, autores e temas mais
fundamentais para não se perder na floresta dos estudos da religião.
Leitura
Você notará que os mitos contam histórias mágicas, nas quais a realidade não é
apresentada de forma racional e lógica, com cadeias causais. A realidade, podemos
dizer, é narrada pelo pensamento mítico-mágico como algo fantástico, incrível,
absurdo ou extraordinário. É uma forma de conhecimento do mundo baseada em
sensações, imagens hiperbólicas e na imagem do maravilhoso.
Notemos que esse pensamento mítico finca suas raízes em um longo período na
Grécia, talvez desde o século X a.C. (Antes da Era Comum, dez séculos antes do
nascimento de Cristo) até o século V d.C. (Depois da Era Comum).
Porque viveram em uma época anterior e Sócrates (469 a.C.-399 a.C.), um dos
maiores filósofos da história, nascido em Atenas, Grécia.
Sócrates não deixou nada escrito, mas seu discípulo, Platão (427 a.C. — 347 a.C.)
escreveu sobre seu mestre.
Saiba mais
Sócrates. Você sabia que a expressão “só sei que nada sei”, nunca foi dita
pelo filósofo de Atenas? Essa frase era uma inscrição no Templo de Delfos,
dedicado ao deus Apolo. Depois de visitar o Oráculo de Delfos, e ouvir uma
sacerdotisa (pitonisa), Sócrates adotou esse lema. O lema completo era:
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o
que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar
algum.” Mas não entenda esse lema como de busca interior, psicológica. Não
havia, naquela época, a ideia de subjetividade individual.
Quer saber mais? Leia o texto escrito por Platão, Apologia de Sócrates,
disponível em: http://www.revistaliteraria.com.br/ plataoapologia.pdf
<http://www.revistaliteraria.com.br/plataoapologia.pdf> , acesso em
05 fev. 2018. Esse texto é considerado um dos mais belos da Filosofia
ocidental.
Recomendamos ainda um bom livro para saber mais, com linguagem acessível
e popular: GHIRALDELLI JR, Paulo. Sócrates. Pensador e educador. A filosofia
do conhece-te a ti mesmo. São Paulo: Cortez, 2015.
Convidamos você a olhar esta imagem, uma famosa pintura da Renascença Italiana,
“A Escola de Atenas” (Scuola di Atenas, no original).
A escola de Atenas – Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_Atenas.jpg
Foi pintada por Raffaello Sanzio (1483-1520) e ilustra a Academia de Platão,
composta entre 1509-1510 a partir de uma encomenda do Papa Júlio II para
decorar um palácio no Vaticano.
Aristóteles segura a Ética (um dos seus livros), a palma da mão estende-se para
frente e para baixo, simbolizando o mundo sensível e as formas empíricas.
A nossa época é a época da crítica, à qual tudo tem que
(KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 5).
O contexto sócio-histórico-cultural
das Ciências da Religião
Sabemos que o século XIX é um século de guerras, invenções, epidemias, expansão
e descobertas científicas. Ao lermos um pouco da história, temos a impressão que o
tempo ficou mais acelerado, em especial no Ocidente. Entre as grandes mudanças
vividas, temos a Revolução Industrial e as dominações neocoloniais europeias.
O intercâmbio, pacífico ou guerreiro, entre povos, tribos e civilizações, ocorre há
milhares de anos. No século XIX constamos que houve formas específicas:
01
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Lembramos que esse século é marcado pelo grande sucesso das ciências naturais e
físicas. Temos, por exemplo, o grande impacto da teoria de Charles Darwin (1809-
1882), em seu livro, A origem das espécies, publicado em 1859, com muitas
descobertas sobre os mecanismos de evolução das espécies animais, inclusive a
humana.
O século XIX nos mostrou que, entre os animais e nós, não há uma distância tão
insuperável como muitos pensaram e defenderam. Tudo isso, enfatizamos, gerou
profunda mudança na maneira de reconhecer a realidade, o mundo, a vida, a
religião. Estamos falando, por exemplo, do positivismo e do evolucionismo.
Podemos entender que esses dois movimentos se tornaram, para além de uma
teoria das Ciências Naturais e da Filosofia, uma maneira de ver o mundo e os
homens.
acessíveis [...].
O século XIX nos mostrou que, entre os animais e nós, não há uma distância tão
insuperável comVocê notou que a palavra veio entre aspas? Para os povos
indígenas, por exemplo, a “religião” não é uma parte da realidade, pois ela está
integrada a tudo, sem estar separada do resto (da vida coletiva, da comunidade, do
ritual, do mito). Por isso, falamos em tradições ou cosmologias índias. A
definição de religião não é consensual entre os estudiosos.
Ao lermos esses estudos do ponto de vista das Ciências da Religião e com mais
atenção, veremos que tais livros, tidos como sacros, foram escritos ao longo de
séculos em diversos contextos e por diferentes autores, com vários tipos de
linguagem (poética, épica, trágica, sapiencial etc.).
Importa falar sobre a cientificidade das Ciências da Religião, isto é, sua autoridade
para investigar os fenômenos religiosos tendo como horizonte a busca da
neutralidade dos valores (neutralidade axiológica) e da objetividade relativa, como
assim se expressou Max Weber (1864-1920).
e objetividade relativa?
Atenção
Perceba que o uso da palavra religião no singular quer dizer que, a partir das
religiões concretamente existentes, é possível construir conceitos teóricos
que expressem modelos, padrões que ajudam a explicar e a compreender o
que vemos na prática. Em outras palavras, apesar de todas as variedades
empíricas das religiões, que devem ser consideradas em suas semelhanças e
diferenças, é possível construir um modelo teórico para interpretar e
entender as experiências religiosas vividas por tanta gente.
As Ciências da Religião não adotam uma postura elogiosa e confessional, isto é, não
procuram defender uma religião ou professar uma fé, ao contrário. A posição teórica
mais importante defende que um conhecimento científico da religião é mais
produtivo se mantivermos uma linha não normativa, isto é, que busque investigar a
religião em suas múltiplas dimensões, manifestações e contextos socioculturais sem
levar em conta julgamentos de valor ou quaisquer julgamentos sobre a validade
moral de sua existência. (USARSKI, 2013, p. 51)
Por exemplo, existem pelo Brasil, inúmeras igrejas chamadas igrejas cristãs
inclusivas porque aceitam a existência e o modo de ser da minoria LGBTI (Gays,
Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Intersexuais). As ciências da religião
fazem uma análise dessas igrejas sem julgá-las melhores ou piores do que outras
igrejas cristãs por conta do princípio da neutralidade axiológica e da objetividade
científica relativa.
Por isso é importante que você preste atenção no que escreve Frank Usarski (2013,
p. 51):
A Ciência da Religião não instrumentaliza seus objetivos em
prol de uma apologia a uma determinada crença privilegiada
pelo pesquisador.
Em outras palavras, a postura das Ciências da Religião é a da “indiferença” diante
do objeto do seu estudo. (USARSKI, 2013) Essa postura é uma técnica de
observação e estudotécnica de observação e estudo e que você pode traduzir
como distanciar-se das crenças e das militâncias pessoais para observar, com
mais amplitude e por outros ângulos de vista, o objeto, no caso, a religião.
Para que você tenha um exemplo concreto, nas religiões cristãs, as ideias religiosas
giram em torno de noções como pecado/salvação e Deus/Diabo, o que não ocorre
em religiões como as de influência africana (candomblé, tambor-de-mina, batuque)
e as orientais (hinduísmo, budismo).
Atividade
A atividade consiste em refletir sobre três perguntas:
Internacionalização (1945-1989)
Pluralização (1990-atual)
Para que saiba alguns elementos fundadores, os primeiros passos das Ciências da
Religião foram estes:
Nesse longo processo de nascimento, não podemos deixar de citar dois estudiosos
importantes:
01
02
São, respectivamente:
Visite os sites dessas associações. Saiba mais sobre textos, eventos, congressos,
artigos, revistas acadêmicas e outros assuntos das Ciências da Religião.
Saiba mais
Você sabia já houve uma reunião mundial sobre religiões? Foi em setembro de
1893 com o Parlamento Mundial das Religiões, em Chicago (EUA).
Centenas de estudiosos, pesquisadores e membros de diversas religiões vindos
do mundo inteiro se reuniram para conversar sobre paz, tolerância e
espiritualidade.
Atividade
1 - “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos
primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que
representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas
acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais
merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.”.
(OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia.
Campinas: Papirus, 2000. p. 24.).
Relato 2 – Do Livro do Gênesis (Bíblia cristã) (900 a.C. Oriente Médio): “No
princípio, criou Deus os céus e a Terra. E a Terra era sem forma e vazia; e
havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a
face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a
luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e
às trevas chamou Noite. [...] E fez Deus as feras da Terra conforme a sua
espécie, e o gado conforme a sua espécie, e cada coisa que se arrasta sobre a
Terra conforme a sua espécie e viu Deus que era bom. E disse Deus: Façamos
o homem à nossa imagem... Então Deus criou o homem à sua imagem”.
(Bíblia, Livro do Gênesis, cap. 1, v. 1- 9 e 25-27).
Notas
David Hume1
2
Immanuel Kant
2 - Immanuel Kant (1724 - 1804). Nascido em Königsberg, antiga Prússia, este filósofo
é considerado o fundador da “Filosofia Crítica”. Principais obras: História universal da
natureza e teoria do céu (1755); Observação sobre o sentimento do belo e do sublime
(1764); Crítica da razão pura (1781); O que é o Iluminismo? (1784); Fundamentação da
metafísica dos costumes (1785); Crítica da razão prática (1788); Crítica do julgamento
(1790); A religião nos limites da simples razão (1793); A paz perpétua (1795); A
metafísica dos costumes (1797).
Referências
FILORAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Cências das Religiões. 8. ed. São Paulo:
Paulinas, 2016.
PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (Orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São
Paulo: Paulinas: Paulus, 2013.
Próximos Passos
Explore mais
Introdução:
Nesta aula, você verá os problemas da definição de religião. No senso-comum, a
origem da palavra religião é apontada como religare, (ligar de novo, ligar algo que
estava rompido) do latim clássico, mas há muito mais elementos que importa a você
conhecer, por isso é importante que você tenha uma visão histórica bem
fundamentada.
Objetivos:
Compreender as características acadêmicas do estudo da religião.
Identificar os principais tipos de definição ou conceituação de religião.
Estabelecer ampla visão histórico-filosófica sobre os conceitos de religião.
Conceito de religião
Para definirmos religião, é preciso que nos libertemos
de toda ideia preconcebida.
Se a filosofia e a ciência nasceram da religião, é que a
própria religião começou por fazer as vezes de ciências
e de filosofia.
(DURKHEIM, 1912)
G1.globo.com <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/igreja-para-publico-lgbt-
discute-religiao-sem-preconceito-no-am.ghtml> . Acesso em: 28 out. 2017.
Goo.gl/4CRXtQ <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/igreja-para-publico-
lgbt-discute-religiao-sem-preconceito-no-am.ghtml> . Acesso em: 01 nov. 2017
A segunda, do Jornal Estado de São Paulo, do dia 01-11-2017, intitulada:
Goo.gl/WfZAra <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/igreja-para-publico-
lgbt-discute-religiao-sem-preconceito-no-am.ghtml> . Acesso em: 01 nov. 2017
Você pode perceber, a partir dessa rápida olhada, que definir religião é uma
tarefa complexa, difícil, controversa, plural (diversidade de perspectivas) e
sempre inacabada. Mas, podemos dizer que as frases do sociólogo Émile
Durkheim, na abertura desta aula, nos trazem o melhor caminho para os
pesquisadores.
Para definirmos religião é preciso que nos libertemos
de toda ideia preconcebida.
O que podemos entender da posição expressa, nessa frase, é que a ideia
preconcebida, isto é, aquela que todos têm de religião antes de estudar
religião, pode ser um obstáculo ao pesquisador que deseja obter uma visão
acadêmica, menos ingênua e mais crítica.
Vivemos uma época de fraturas nos grandes consensos que um dia existiram,
mas, ao mesmo tempo, de muros erguidos (intolerâncias políticas e
religiosas), de grandes deslocamentos sociais, espaciais e culturais e, ao
mesmo tempo, de temores e antagonismos.
Há, nessas críticas, uma beleza poética, por exemplo, quando Nietzsche nos
disse não acreditar em um Deus que não dança. Infelizmente, devido aos
fortes problemas educacionais, no Brasil, ouvimos muitas interpretações ruins
de uma das frases mais impactantes, “Deus está morto”, devendo ser
entendida como uma crítica à filosofia metafísica e ao positivismo, que
representou o avanço da concepção de mundo científico como a forma
dominante na modernidade.
Essas perguntas não são fáceis de responder, mas para a perspectiva adotada
pelas Ciências da Religião não são uma perspectiva “religiosa”, ou seja, não é
o objetivo dessas ciências responder questões sobre a existência ou não
existência “empírica” de Deus, alma, vida eterna, reencarnação, milagres,
entidades espirituais etc.
Sabemos que a divisão entre natural e cultural foi criada pelo pensamento e
pela cultura europeia a partir do século XVIII e XIX. Por exemplo, o
Iluminismo defendia o homem como natural e racional, enquanto que o
Romantismo, logo a seguir, com tom conservador, valorizou os aspectos da
cultura, da história e das tradições.
David Hume, filósofo escocês que citamos na aula 01, falava em religião
natural do homem selvagem (alusão aos povos índios das Américas), em
oposição a uma religião instituída, não natural (Velho Continente).
Quando tentamos aplicar esse termo para explicar outras realidades, surgem
problemas. O termo religião dificilmente se aplica ao cotidiano de muitos
povos, embora eles possuam práticas e crenças que parecem remeter à ideia
de “outro mundo” ou à de seres mágicos e misteriosos. Muitos pesquisadores
optam por usar o termo cosmologias índias (e, em seguida, o nome da tribo
ou da etnia) para dar conta da estrutura de vida desses povos.
substancialistas,
funcionalistas e
funcionalistas e
As definições substancialistas
Antes de apresentarmos as definições que buscam uma suposta substância da
religião, falaremos um pouco sobre a controversa origem linguística e um
pouco de sua história.
01
02
No contexto dos cultos romanos aos deuses e às leis da cidade romana, essa
ideia opunha-se a neglegere, ou seja, à falta de cuidado com o culto, daí a
palavra negligência.
se nós nos compararmos às nações estrangeiras, nós
podemos parecer iguais ou mesmo inferiores nos
diferentes domínios, menos em religião, isto é, no culto
aos deuses, onde nós somos de longe superiores.
A prática religiosa romana é zelosa e busca uma relação respeitosa com os
deuses que torna necessária a repetição precisa dos ritos. O relegere, nesse
sentido, tem a ver com “refazer novamente”, indicando, segundo a cientista
da religião, Cristiane Azevedo: “uma disposição subjetiva, um movimento
reflexivo ligado a algum temor de caráter religioso: ‘refazer’ uma escolha já
feita (retractare, diz Cícero), revisar a decisão que dela resulta, tal é o sentido
próprio de religio”. (AZEVEDO, Cristiane. A procura do conceito de religio:
entre o relegere e o religare. In: Revista Religare, João Pessoa, v. 7, n. 1, p.
90-96, março de 2010).
Textura(Fonte:Shutterstock.com)
com máscaras e tambores africanos.
A história do Cristianismo nos mostra que não é uma resposta tão fácil, pelo
menos, desde o ponto de vista das Ciências da Religião.
Vale a pena transcrevermos o que escreveu Hock (2010, p. 19) sobre essa
parábola: “por um lado, as religiões concretas — no caso, Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo — são submetidas a uma crítica voltada [...] contra
suas respectivas pretensões de superioridade. Por outro lado, essa crítica se
baseia na ideia da religião única e verdadeira em si que abre aos seres
humanos futuro e vida (sobrevivência)”.
Saiba mais
A substância ou essência da
religião
Cabe aqui fazer uma reflexão sobre o verbo definir, que dá origem ao
substantivo definição.
dar fim;
apontar com precisão;
revelar;
tornar claro e sem margem de dúvidas;
traçar fronteiras.
Trazemos com isso a ideia de que a definição do termo religião é uma tarefa
que nunca termina, é incompleta e provisória.
Para este filósofo e teólogo alemão, o sagrado seria o elemento mais universal
das sociedades humanas. Poderíamos citar dois de seus elementos mais
centrais, segundo Otto:
O Numinoso
Esses dois itens inviabilizam qualquer estudo científico que, por definição, é
exotérico (externo), público, submetido a críticas, análises, processos de
refutação e falsificação (ou seja, testagem dos limites dos termos e
conceitos).
Nas palavras do historiador Aldo Terrin, ele “deve agir com ‘instrumentos
científicos’, renunciando a qualquer discurso apologético que possa servir de
sustentação para a validade da experiência religiosa” (TERRIN, Aldo Natale. O
sagrado off limits: a experiência religiosa e suas expressões, São Paulo:
Loyola, 1998, p. 15).
Mircea Eliade (1907-1986), outro grande estudioso das religiões, lembra que,
para o mundo moderno, a religião, como forma de vida e concepção do
mundo, confunde-se com o Cristianismo. Ele nos diz que é preciso alargar as
concepções e percebermos que existem muitas manifestações, desde as mais
primitivas — antigas no tempo e no espaço — às mais modernas.
As definições funcionalistas
Contrapondo-se às definições substancialistas, surgem o que chamamos de
definições funcionalistas as quais possuem origem nas Ciências Sociais da
religião (História, Sociologia e Antropologia da religião, em especial).
Leitura
As definições compreensivas
Procuram aproximar-se com cuidado do termo religião. A religião não é
entendida nem como substância ou essência fora do tempo e do espaço e
nem como mera função social ou cultural.
Podemos dizer que esses dois grandes conjuntos “religiosos” ligam o termo
religião a sentidos “negativos”, tais como, máscara, frieza, formalidade
exagerada, relações superficiais e alienadas, falsidade, ritualismo estéril e
outros sentidos.
Não podemos deixar de notar que essas acusações e críticas são parecidas
com aquelas que os polemistas cristãos acusaram a religião greco-romana ao
tentar redefinir o termo religio.
Atividade
1 - O sentido de religio seria confirmado pelo termo derivado religiosus
que designa “zeloso em relação ao culto”. Há outro sentido, o religare,
significando ligar o que estava quebrado ou partido. Um sentido foi
afirmado pelos romanos pagãos. O outro pelos cristãos convertidos.
Referências
SILVEIRA, Emerson José Sena da. Uma metodologia para as ciências da religião?
Impasses metodológicos e novas possibilidades hermenêuticas. In: Paralellus
(online), Recife, v. 7, p. 73-98, 2016. Disponível em: http://www.unicap.br/ ojs/
index.php/ paralellus/ article/ view/ 672/ 856
<http://www.unicap.br/ojs/index.php/paralellus/article/view/672/856> .
Acesso: 24 out. 2017.
Próximos Passos
Explore mais
Assista a este vídeo curto, O que define uma religião? Disponível em:
https://www.youtube.com/ watch?v= 3fyiV1fcB3U
<https://www.youtube.com/watch?v=3fyiV1fcB3U> . Acesso em 06 fev.
2018.
Apresentação:
As ciências das Ciências da Religião foram incorporadas ao longo de tempo e em
função das profundas controvérsias travadas em torno do estudo da religião. É
importante que você saiba que as principais subdisciplinas que auxiliam as Ciências
da Religião são as seguintes:
Fenomenologia da religião;
História das religiões;
Sociologia e Antropologia da religião;
Psicologia da religião;
Geografia da religião e outras.
Objetivos:
Compreender as perspectivas das Ciências da Religião;
Analisar as orientações básicas das disciplinas das Ciências da Religião;
Descrever fatos básicos da composição disciplinar das Ciências da Religião.
Contexto
Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não
precisa de existir para haver.
As diferenças entre as duas ciências não invalidam o diálogo entre elas, mas é
possível identificar uma história especifica, com ênfases e métodos que
evoluíram ao longo do tempo e dos estudos.
Quase em todo lugar em que a Ciência da Religião começou a estruturar-se,
dentro das universidades e centros de pesquisa, ela teve de lutar em três
frentes de batalha.
Primeira frente
Segunda frente
Terceira frente
01
02
Vocação interdisciplinar das Ciências da Religião, acolhendo e reinterpretando
a contribuição da Teologia, Psicologia, Filosofia, História, Sociologia,
Antropologia e Geografia e, por meio desse processo de intercâmbio,
originando as Ciências da Religião.
03
Comentário
Primeira perspectiva
Segunda perspectiva
Saiba mais
É famosa sua frase: Sapere Aude! ou seja, “ousai saber”, a procura ativa
do conhecimento, sem subordinação aos ditames que não os de uma
razão universalmente válida.
... e esta:
“Deus enquanto Deus — como ser espiritual ou abstrato, isto é, não
humano, não sensível, acessível e objetivo só para a razão ou para a
inteligência, nada mais é do que a essência da própria razão; mas esta é
representada pela Teologia comum ou pelo teísmo mediante a
imaginação como um ser autônomo, diferente, distinto da razão. É, pois,
uma necessidade interna, sagrada, que com a razão se identifique
finalmente a essência da razão distinta da razão; portanto, que se
reconheça, realize e atualize o ser divino como a essência da razão.
Nesta necessidade, se funda o grande significado histórico da filosofia
especulativa”.
Saiba mais
Confira o livro:
FEUERBACH, Ludwig. Princípios da filosofia do futuro. Disponível em:
https://goo.gl/XnsLia <https://goo.gl/XnsLia> . Acesso em 07
fev. 2018.
Assista a este vídeo sobre a Gaia Ciência: Café Filosófico - "A Gaia
Ciência" de Nietzsche - Túlio Madson. Disponível em:
https://goo.gl/oLm8Bt <https://goo.gl/oLm8Bt> . Acesso em: 20
nov. 2017.
O olhar fenomenológico sobre a
religião
Você viu que as críticas feitas à religião colocaram em foco um processo de
desnaturalização e desencantamento, ou seja, a religião nada mais é do que
um fenômeno humano em suas raízes mais fundamentais.
Os principais autores dizem que o sagrado não poderia ser totalmente e bem
compreendido dentro dos cânones da ciência positiva e objetivista. Você
perceberá que a religião é apresentada, vista e entendida como um domínio
singular da existência humana.
Saiba mais
Zoroastrismo
A ‘história’ das religiões, entendida como disciplina
autônoma, com objeto e método próprios, representa
uma conquista cultural de libertação, por parte da
dimensão religiosa e de suas dinâmicas, dos vínculos
de tipo teológico, estabelecido na segunda metade do
século XIX.
Você notará que, no livro do filósofo escocês, David Hume, História natural da
religião (de 1757), ele não se contrapõe à noção de Deus criador da natureza,
mas defende uma separação entre “a fé nos princípios fundamentais do
verdadeiro teísmo e da verdadeira religião”, segundo palavras dos
historiadores Firolamo e Prandi (2016, p. 59).
A partir daí você notará que Hume investiga a suposta origem dos
sentimentos (medo, horror, alegria) e sua relação com a religião. Para isso,
ele compara o monoteísmo e o politeísmo que foi considerada a primeira e
mais antiga religião da humanidade e considera o culto politeísta mais
tolerante com os outros cultos, cooptando-os e adaptando-os (deuses, cultos,
cerimônias e tradições).
Atenção
É importante que você saiba que a Arqueologia teve um papel central nesses
estudos, por exemplo, os achados de estruturas pré-históricas, como são
chamadas as estruturas anteriores ao surgimento dos sistemas de registro
escritos (alfabetos).
Comentário
Você já deve ter ouvido ou lido algo sobre o imenso e rico continente
africano, mas, em geral, o senso comum é preconceituoso e enxerga
pouco as riquezas. A África foi palco de grandes civilizações, como a
egípcia, a núbia. Houve grandes impérios e tribos, etnias e línguas
variadas, sistemas “religiosos” e míticos muito diversos, sendo os mais
famosos aqueles que contam as histórias dos orixás, divindades
associadas à natureza e aos ancestrais dessas tribos e povos.
O olhar sociológico e o
antropológico sobre a religião
Olhar sociológico
O olhar sociológico tem origem, como você pode suspeitar, diversa e plural, do
mesmo modo que o histórico, aliás, quase são as mesmas fontes. Mas, no
século XIX ele se distinguiu da História e da Antropologia.
Os fundadores desse olhar, que você verá com mais detalhes na aula sobre as
escolas sociológicas e antropológicas, estavam preocupados com a religião
entendida como produto e função da sociedade, bem como com suas
influências sobre a vida e as dimensões sociais, políticas e outras.
01
A da religião
02
A da metafísica
03
A da ciência positiva
Saiba mais
Nasce daí a ideia de uma “missão civilizatória” que revelou ter uma face
dupla:
Aos olhos dos cientistas da época, era uma questão urgente documentar
modos de vida e existência que estavam em vias de extinguirem-se, segundo
sua ótica.
Nasce, perceba bem, a ideia dos museus, ou seja, lugares onde objetos e
materiais são organizados para contar uma história supostamente
progressiva. Há muitas críticas ao evolucionismo, entre elas o modelo teórico
(evolução linear, direta, necessária) e o critério usado (progresso técnico-
material) para pensar os dados obtidos.
Esse olhar voltado ao que era considerado exótico e estranho (ao diferente, à
alteridade, como a Antropologia gosta de dizer) também foi direcionado à
própria Europa, que descobriu dentro de si um rico universo de crenças e
religiões populares, lendas, contos, que estavam:
Olhar sociológico
O olhar antropológico também tem, em sua história, as mesmas raízes que os
olhares histórico e sociológico. Mas, somente no século XIX, ele se tornou
distinto e com métodos próprios.
Atenção
Tenha em mente que o sentido de Psicologia variou no tempo e não pode ser
tomada apenas no moderno significado que foi adquirido, ou seja, o de ciência
que estuda a subjetividade humana (comportamento, cognição, afeto,
estruturas mentais etc.).
01
02
A relação entre realidade geográfica, mito, rito, religião, espaço sagrado são
antigas, remontam, por exemplo, aos cultos funerários, que implicavam em
uma disposição espacial de objetos, do corpo, do lugar etc.
Saiba mais
O Hades era representado por uma profunda caverna dividida por um rio
lendário de fogo, o Estige, no qual as almas estavam. Os deuses gregos
eram tidos como imortais, mas não eram transcendentes como o Deus
hebreu ou o Deus cristão, tinham paixões e virtudes avassaladoras.
Essa geografia mítica, que inclui ilhas encantadas, seres monstruosos e seus
lugares, é descrita nas obras Odisseia e Ilíada). Saiba que o mapa mais
antigo, pelo menos até o momento, data de 2500 a.C. e mostra um rio,
provavelmente o Eufrates, na região entre Irã e Iraque, tida como a mítica
região do Jardim do Éden.
Atividade
1. Entre a metade do século XIX e o início do século XX, identifique 3
grandes filósofos que ajudaram as Ciências da Religião a pensar o
sentimento e o processo histórico.
Notas
Teologia, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) 1
Referências
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São
Paulo: Paulinas, 2016.
Próximos Passos
As escolas fenomenológicas e suas contribuições aos estudos de religião;
As noções de sagrado e suas repercussões;
A autonomia e a especificidade da experiência religiosa.
Explore mais
Apresentação:
Provavelmente, você já deve ter se perguntado “Quais as diferenças entre as
religiões?” ou “Quando o ser humano teria reverenciado uma dimensão “maior” do
que ele, normalmente denominada, pela Fenomenologia da Religião, de sagrado?”:
essas perguntas, entre outras, estão na trajetória e na obra dos pesquisadores, em
sua maioria, teólogos, filósofos e historiadores que criaram e elaboraram a
Fenomenologia da Religião, uma escola teórica que reflete sobre a experiência
religiosa e o sagrado, isto é, um conjunto de teorias, autores, conceitos, livros e
textos que, unidos por semelhanças, procuraram pensar sobre a experiência religiosa
e o sagrado.
Objetivos:
Compreender as principais ideias das escolas fenomenológicas;
Identificar os principais autores das escolas fenomenológicas;
Desenvolver ampla visão sobre os conceitos fenomenológicos da religião.
Reflexões iniciais
Exerça um pouco sua imaginação. Pense sobre estas descrições imaginárias:
Você poderá se deparar hoje, com críticas a esse termo, já que teólogos,
historiados ou “cientistas das religiões” adaptaram de formas variadas a
doutrina filosófica (Fenomenologia) criada por Edmund Husserl (1859-
1938), inclusive deixando de lado alguns pressupostos e trocando de
lugar algumas ideias.
1
Um método analítico que se baseia em uma explicação das formas religiosas
mais essenciais.
Uma escola teórica que busca as estruturas mais universais e profundas dos
fenômenos religiosos.
Primeira evidência
Segunda evidência
Um dos mais importantes filósofos a criticar essa orientação, embora não seja
da linhagem fenomenológica, foi Wilhelm Dilthey, que desferiu uma crítica às
concepções positivistas da Psicologia e propôs uma psicologia descritiva e
analítica.
Fenomenologia da Religião
Compreensiva: a escola holandesa
Um dos mais importantes historiadores e filósofos foi o holandês Gerardus van
der Leeuw (1890-1950), que publicou, em 1933, Phänomenologie der
Religion, um esforço para construir um método especial de Fenomenologia da
Religião.
1
O primeiro componente de suas ideias é a retomada de Husserl, que você já
soube.
Comentário
Pense no seguinte exemplo: você deseja pesquisar um culto religioso
de uma religião X. Não basta apenas descrever os itens, as
características, os atores ou agentes, os objetos e as linguagens
presentes. É preciso saber o que o culto significa como um todo.
Primeira parte
Segunda parte
Terceira parte
Focada nas relações entre sujeito e objeto das religiões, analisam-se a ação
externa (sacrifício, rito, culto) e a ação interna (intenção, motivos etc.).
Quarta parte
Quinta parte
Saiba mais
Gerard van der Leeuw diz que em todas as religiões há dois significados
principais do sagrado:
Considera-se Rudolf Otto, que você viu na aula 03, um dos fundadores
dessa escola. A obra maior deste autor é o livro O sagrado que muitos
não consideram uma obra fenomenológico se o termo fenomenologia for
tomado ao “pé da letra”.
Saiba mais
É importante que você saiba que este outro pesquisador das escolas
fenomenológicas, orientalista (estudioso das culturas do mundo oriental)
da civilização persa/iraniana e filósofo sueco, criticou os pressupostos da
fenomenologia em três elementos:
Leitura
Eliade escreve uma obra muito vasta, e nos livros em que ele trata da
história das ideias e crenças religiosas, o simbolismo religioso é
essencial: objetos, traços, alfabetos, poemas, canções, orações etc. Ele
fez tipologias das muitas hierofanias. Note, por exemplo, as urânicas (do
céu), as ctônicas (da terra), etc. Leia: Hierofania ou manifestações
do sagrado. <galeria/aula4/anexo/hierofania.pdf>
Atividades
1. Leia com atenção este trecho do livro O sagrado, de Rudolf Otto: “Por
‘racional’ na ideia do divino entendemos aquilo que nela pode ser
formulado com clareza, compreendido com conceitos familiares e
definíveis. Afirmamos então que ao redor desse âmbito de clareza
conceitual existe uma esfera misteriosa e obscura que foge não ao nosso
sentir, mas ao nosso pensar conceitual, e que por isso chamamos de ‘o
irracional’.”
(OTTO, p. 97-98).
Notas
Paleolítico Superior e Inferior1
Ritos de passagem2
Ritos propiciatórios3
Ritos para atrair ou readquirir a boa vontade do sagrado ou de seres divinos; agradar
à divindade, aplacar sua ira ou justiça, obter o perdão das faltas etc.
Einfühlung4
Método indutivo5
Apriorismo6
Teogonia7
Cosmogonia8
Campo filosófico que reflete sobre a origem do Universo, a visão de mundo, o mesmo
que cosmogênese.
Antropogonia9
Referências
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. A essência das religiões. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2016.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São
Paulo: Paulinas, 2016.
Próximos Passos
Explore mais
Leia este breve livro do filósofo português Américo Pereira. Em 30 páginas, ele
apresenta as principais ideias da Fenomenologia da Religião:
PEREIRA, Américo. Fenomenologia da experiência religiosa. Disponível em:
https://goo.gl/c5rRrp <https://goo.gl/c5rRrp> . Acesso em 07 fev. 2018.
Disciplina: Ciências da Religião
Apresentação:
As religiões estão presentes entre homens e mulheres desde há muito tempo, conforme você
viu na aula 04. Você já deve ter se perguntado: se depois de tantos estudos, pesquisas e
investigações ainda há coisas por se descobrir ou por se reinterpretar à luz de novos conceitos
e argumentos?
Objetivos:
Compreender as escolas históricas das Ciências da Religião;
Identificar as características das escolas históricas nas Ciências da Religião;
Reconhecer fatos e contextos das escolas históricas nas Ciências da Religião.
Introdução
Você é convidado a refletir sobre as escolas que estudaram a religião do ponto de vista
histórico. Como elas construíram essa abordagem? Essa construção deve levar em
conta a crise das ciências humanas.
Leitura
Esse termo teria aparecido, pela primeira vez, em 1867, dentro das obras escritas por
Friedrich Max Müller (1823-1900), linguista, historiador, orientalista (estudioso das
culturas e civilizações orientais) e mitólogo (estudioso dos mitos).
Seria a historiografia dos símbolos, dos mitos e das linguagens das culturas e das
civilizações que forneceria a base para a Ciência da Religião ser uma ciência
compreensiva de um dos mais poderosos fenômenos humanos, a religião.
Essas narrativas são sentidas por fiéis, adeptos e crentes como uma avalanche de
linguagem que toma corpo e se encarna em uma história. Os mitos fundem as imagens
do mundo e das práticas sociais em uma unidade imaginada e ideal.
Logos
Mythos
Atenção
O termo ‘religião’ passou a significar algo mais que Cristianismo. Tomou corpo o
método histórico-filológico baseado nos seguintes elementos:
Esse grande projeto científico das Ciências da Religião recebeu o nome de História
comparada das religiões, pois visava comparar e contrastar as religiões e suas
tradições, seus mitos, ritos etc., construindo uma morfologia religiosa.
01
A que estuda a difusão espacial dos elementos que compõem uma cultura (machado,
flecha, calçado, técnicas de cultivo, mitos e ritos).
02
03
Das diretivas 2 e 3, emerge a escola de Viena, liderada por Wilhelm Schmidt (1862-
1954), padre vienense e intelectual católico.
Você poderia indagar: qual era o método dessa escola?
Veja um exemplo:
Exemplo
Um historiador escocês das religiões, Alfred Lang (1844-1912), trouxe uma
hipótese muito controversa acerca da origem dos cultos religiosos. Dizia ele ter
encontrado evidências de que muitas populações não letradas e não
escolarizadas, em especial na África, acreditam em um Ser Supremo, com claras
funções de referência ética e com a função de criador primordial que, depois de
criar, retraiu-se e permaneceu inativo após contemplar as maldades humanas.
O que está na base dessa ideia seria o monoteísmo7 ético. Schmidt escreveu uma
obra com 12 volumes (Ursprungder Gottesidee , traduzido como Gênese da ideia de
Deus) para tentar provar a tese do Urmonotheismus.
Porque esse monoteísmo seria, na visão dessa escola, a forma lógica e racional mais
simples e original e se harmonizaria com uma suposta necessidade — universal e
também original — do espírito humano de conhecer e compreender a origem do
cosmos e da vida.
Naquela época, houve um conflito entre uma corrente teórica chamada historicismo
italiano, liderada pelo filósofo e historiador Benedetto Croce (1866-1952) que defendia
o storicismo assoluto [historicismo absoluto] e outros pensadores que defendiam a
autonomia das religiões como categoria disciplinar na história.
Veja que o historicismo absoluto defendia a história como o verdadeiro conhecimento
do real, do universal concreto, ou seja, o conhecimento histórico é todo o
conhecimento. A história é um tribunal, para Croce, que não condena e nem absolve,
não faz censura nem faz louvor, pois apenas conhece e compreende.
Saiba mais
Para Croce, a História das Religiões seria apenas uma coletânea erudita de dados
e, por isso, não seria uma ciência ou disciplina científica com legitimidade. Para
afirmar a validade da História das Religiões surgiram críticas em oposição à tese
do padre de Viena, por pesquisadores daquela que ficou conhecida como a Escola
Italiana de História das Religiões.
01
02
Primeiro ponto
A defesa da laicidade da pesquisa histórico religiosa
Segundo ponto
A introdução da metodologia comparativa
Pettazzoni dedicou-se aos estudos da religião no mundo antigo e oriental e aos estudos
etnológicos (sociedades tribais étnicas sem escrita). As obras visavam desmontar a
tese da escola de Viena, são ela:
Dio: formazione e sviluppo del monoteismo nella storia delle religione (Deus: formação
e desenvolvimento do monoteísmo na História da Religião)
Segundo as ideias de Pettazzoni, os mitos de criação são parte dos mitos de origem e
a criatividade é parte do mito da criação, que possui uma função específica: dar a
justificativa para a existência e estrutura atual do cosmos e da vida.
Preste atenção nos seguintes exemplos e fatos, pois as ideias de ser supremo, criação
e origem estão relacionadas às estruturas sociais, políticas e econômicas das
sociedades e civilizações:
1
Veja que, segundo Pettazzoni, para explicar como o monoteísmo se formou, é preciso
partir das religiões de cunho monoteísta (Judaísmo, Zoroastrismo3, Cristianismo e
Islamismo) e de como o politeísmo foi negado. Você pode ser perguntar: como isso
ocorre?
Em geral, ocorre por obra de um reformador (por exemplo, Abraão, Zoroastro, Jesus e
Mohammad4) que anuncia uma nova religião, rejeita as divindades anteriores
(negação do politeísmo) e proclama a unicidade de Deus e estabelece a saída da magia
ritual dos cultos para a ética da conduta de vida.
Saiba mais
Alerta metodológico
Há, de acordo com Pettazzoni, uma luta entre uma fé politeísta, que se enfraquece e
uma nova consciência religiosa, a do monoteísmo, que é afirmada. Na escola italiana, o
método comparativo é consolidado e a preocupação com as diferenças e semelhanças
é constante, procurando equilibrar essas duas polaridades.
Quando os fatos religiosos são vistos como produtos históricos, sociais e culturais,
submetidos aos métodos históricos e quando as categorias de análise usadas
também passam a ser criticadas em sua origem e desenvolvimento (segundo as
suas temporalidades e contextos), as atitudes preconceituosas e racistas são
criticadas.
Brelich também fez um estudo sobre os deuses gregos (I Greci e gli dei — Os
gregos e os deuses) ressaltando a originalidade da religião grega. O que haveria
de interessante nessa obra? você poderia ficar curioso.
Em geral, o politeísmo é explicado pela tese de que teria havido, no decorrer dos
séculos, a personalização de forças naturais e funções sociais, emergindo daí os
deuses, que passaram a ser venerados. Nesse aspecto, a tensão entre a escola
fenomenológica e histórica é forte: a armadilha fenomenológica, na visão da
escola italiana, é a proposição de um modelo universal que contenha a
multiplicidade dos sistemas religiosos, diluindo o caráter processual.
As histórias são contadas em ocasiões específicas, com relatos das origens (il nillo
tempore — assim era no princípio, naquele tempo etc.), cuja função é dupla:
De Martino diz que o numinoso de Otto não pertence à metodologia dos estudos
históricos, mas à esfera dos testemunhos diretos e, por isso mesmo, mais no
campo de uma fonte de informação religiosa ou uma fonte mística, mais do que
um método e uma teoria sobre o sagrado e a religião.
Uma de suas grandes contribuições: dar espaço aos estudos das religiões
populares, dos sistemas mágicos e religiosos do povo simples e camponês,
religiões que eram desprezadas e sofriam forte preconceito e incompreensão. Por
exemplo, os estudos sobre os cantos fúnebres e as técnicas usadas para superar o
luto. Veja no livro Morte e pianto rituale nel mondo antico (Morte e pranto no
mundo antigo).
A religião pode ser instrumento de transformação social. Por isso, na ótica desse
pesquisador italiano, é necessário estudar as religiões em suas trajetórias no
tempo e no espaço.
Saiba mais
Ei-las:
Saiba mais
Leia um artigo breve sobre a relação entre história e religião, e um dos mais
importantes conceitos por ele desenvolvido, a ideia de longa duração:
BRAUDEL, Fernando. História e ciências sociais. A longa duração. Disponível
em: http://www.revistas. usp.br/ revhistoria/ article/ view/
123422/119736
<http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/123422/119736
> . Acesso em 08 fev. 2018.
Caberia citar para você uma das pesquisadoras da área de História das Religiões,
Karen Armstrong (1944), embora não seja historiadora de formação. Dos livros que
escreveu, facilmente acessíveis, observe alguns:
Em defesa de Deus
O Islã
Desdobramentos contemporâneos
Veja que os especialistas falam de História das Religiões e das religiosidades, para
marcar uma fronteira:
Religiões
Religiosidades
Por isso, preste atenção no que defende Nicola Gasbarro: a existência de uma
distância entre ortodoxia e ortoprática.
A religião é compreensível historicamente antes pela análise
da prática e do exercício do culto do que pela estrutura do
dogma e/ou pelo sistema de crenças. Como provocação
metodológica, proponho utilizar a noção de ‘ortoprática’ a
antepor e contrapor à de ortodoxia no estudo da religião —
religiões. [os negritos são do professor].
GASBARRO, 2006.
GASBARRO, 2006.
Você entende melhor a religião quando o seu olhar de pesquisa recai sobre as práticas
concretas das pessoas, dos indivíduos e dos grupos, que são históricas e sociais,
mudam ao longo do tempo.
Ronaldo Vainfas
Sylvana Brandão
Atividades
1. Leia este pequeno texto:
“Podemos retornar ainda mais no tempo, pois há evidências ainda mais antigas
sobre o interesse de pensadores pelo estudo da religião, que rementem ao séc. V
a.C. Os filósofos pré-socráticos, na Grécia, denunciavam uma forte curiosidade
pela religião. Parmênides (530-460 a. C.) e Empédocles (495-435 a.C.) teceram
reflexões racionais sobre os deuses e mitos gregos; Demócrito (460-370 a. C.)
interessou-se pelas religiões estrangeiras, especialmente as da Babilônia;
Heródoto (484-425 a. C.) descreveu religiões do Egito, da Pérsia, da Trácia e da
Cítia; Platão (429-347 a. C) estudou as religiões bárbaras; Aristóteles (384-322 a.
C) a degenerescência da religião; Teofrasto (372-287 a.C.) foi considerado o
primeiro historiador grego das religiões, produzindo textos sobre a temática,
divididos em 6 volumes”. (PRADO, 2014, p.04-31, p. 4).
Tendo isso em vista, sobre o começo da História das Religiões, o século XIX foi
fundamental. Assinale, em relação a isso, a opção correta:
Notas
Reflexão1
A História das Religiões foi uma das primeiras Ciências da Religião a nascer e a se estabelecer
nas universidades europeias. Esse fato é fundamental e cheio de questões para os rumos
atuais dessas Ciências. Mas, veja que Eusébio de Cesaréia (260-340), teólogo cristão, foi um
dos que procuraram fazer a historiografia voltada para a área da religião, embora
concentrando-se no Cristianismo.
Durante toda a longa Idade Média, desde a Queda do Império Romano até as primeiras
caravelas portuguesas e espanholas a “História das Religiões” ficou restrita a uma história
eclesiástica, contada por bispos e padres, em geral católicos, apologética.
Com a era das reformas religiosas, que começa muito antes da Reforma Protestante — feita
pelos grandes reformadores, como Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564),
Ulrico Zwinglio (1484-1531) e Thomas Müntzer (1490-1525) —, outras versões da história do
Cristianismo são contadas e levadas em consideração.
Uma obra lançada ao final do século XVII começa a mostrar outro panorama: a História
imparcial da Igreja e das heresias (1699-1700) de Gottfried Arnold (1666-1714) trouxe uma
virada crítica quando defendeu um estudo imparcial das fontes (documentos originais) e ao
chamar atenção para a importância dos elementos subjetivos na vivência religiosa e defender
a tolerância.
Note que se migrou de uma historiografia confessional limitada para uma historiografia ampla
e laica.
Onividência mágico-oracular2
Oráculo
Termo que significa duas coisas ao mesmo tempo, a divindade consultada ou o sacerdote
encarregado da consulta à divindade e transmissão de suas respostas.
Onividência
Que tudo vê, que tudo conhece e tudo sabe. Expressão composta pela raiz do latim onmi,
todo, totalidade, e vide, visão.
Onividência mágico-oracular
Zoroastrismo3
Zoroastrismo4
Chamado também de mazdeísmo, é uma religião monoteísta surgida no Irã, baseada nos
ensinamentos do profeta Zaratustra ou Zoroastro (628 – 551 a.C.). Segundo as tradições
desta religião, Zoroastro viveu na Ásia Central, atualmente leste do Irã e Afeganistão. No
sistema de crenças, Ahura Mazda é a divindade maior, criadora de todas as coisas boas e
Ahriman é o princípio destrutivo, as trevas. Possui um livro sagrado, Zend-Avesta, contendo
hinos, rituais, instruções, legislação. Foi, a rigor, a primeira religião monoteísta surgida entre
os seres humanos.
Segunda geração5
Terceira geração6
Emmanuel Le Roy Ladurie (1929-), Marc Ferro (1924-2014), Philippe Ariès (1914-1984) e
Pierre Nora (1929-)
monoteísmo 7
Referências
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo:
Paulinas, 2016.
GASBARRO, Nicola. Missões: a civilização cristã em ação. In: MONTERO, Paula (org). Deus na
Aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Globo, 2006.
LIMA, Carlos R. V. Cirne. Mitologia e história. In: SCHÜLER, Donald; GOETTEMS, Míriam
Barcellos (orgs.). Mito ontem e hoje. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p. 208-216, 1990, p.
208.
PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo:
Paulinas: Paulus, 2013.
PRADO, André Pires do; SILVA JÚNIOR, Alfredo Moreira da. História das Religiões, história
religiosa e ciência da religião em perspectiva: trajetórias, métodos e distinções. In: Religare,
João Pessoa, v.11, n.1, março de 2014, p. 04-31, p. 4.
Próximos Passos
Leia estes três artigos científicos, eles apresentam o que é a História das Religiões:
Apresentação:
“O significado social da religião deve ser buscado na sua capacidade de oferecer
categorias e símbolos, que ao mesmo tempo facilitam a compreensão, por parte do
homem, da sua atuação e lhe dão a possibilidade de avaliá-la e enfrentá-la
emotivamente” (WILSON, 1985, p. 29)
Você já deve ter lido em bons jornais e revistas, por exemplo, notícias que expressam
relações estatísticas entre sociedade e religião ou entre fatos sociais e fenômenos
religiosos. Para efeito de ilustração, tomemos o Censo do IBGE no quesito religião.
Objetivos:
Compreender as categorias sociológicas das Ciências da Religião.
Reconhecer as principais ideias das Ciências Sociais da Religião
Identificar fatos e contextos básicos para as Ciências Sociais da Religião
Introdução
O nascimento da Sociologia se dá em seu esforço de diferenciação das outras
ciências em duplo movimento, ao estudar a religião e os processos sociais
modernos.
01
Identificar e compreender os conteúdos sociais que constituem qualquer
sistema religioso.
02
Analisar os fenômenos religiosos, as suas mudanças e a sua composição,
como fator de conexão de estruturas sociais.
03
Entender as modalidades sociológicas por meio das quais e dentro das quais,
os sistemas religiosos constroem suas próprias estruturas simbólico-
institucionais (os papeis sociais, as ideologias religiosas, o aparato dos
poderes religiosos, as estruturas doutrinais).
Veja quais:
nas palavras de Firolamo e Prandi (2016), conhecida como a “lei dos três
estágios”:
religioso,
metafísico e
científico (positivo-industrial), que se sucederiam como se fossem
uma evolução “natural”.
Resultado final
por fim.
August Comte
Saiba mais
Antonio Gramsci
Veja que análises são pertinentes ainda hoje, por exemplo, nenhuma
religião ou igreja é um bloco unitário. Nas palavras de Gramsci:
contradições sociais;
relação de força com outras ideologias e aparelhos ideológicos em
cada Estado;
contradição entre estratégias nacionais e internacionais.
Atividade
1. Leia um trecho de texto a seguir: “Este é o fundamento da crítica
irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a
religião é de fato a autoconsciência e o autossentimento do homem, que
ou ainda não conquistou a si mesmo ou já se perdeu novamente.”.
(MARX, 2010. p. 145).
Saiba mais
Em 1912, o sociólogo francês escreveu o livro As formas elementares da
vida religiosa” e textos menores, por exemplo, La definition des
phénomenes religieux (A definição dos fenômenos religiosos, de 1899) e
O problema religioso e a dualidade da natureza humana, publicado no
Brasil na revista Religião & Sociedade, uma das mais importantes da
área.
Símbolos religiosos.
Segundo Durkheim:
Antes de tudo, a religião supõe a ação de forças sui
Durkheim, 1977
Os seres sobrenaturais (divindades, espíritos, transcendente etc.), não
têm existência real (em si mesmos), mas são a representação simbólica
da consciência coletiva que toma conta do indivíduo, suscitando
sentimentos e moralidades.
Exemplo
Mito
É como a sociedade se vê, se simboliza e como conta sua história para si mesma
(plano ideal).
Rito
(...) é uma coleção dos meios pelos quais a fé se cria e se
recria periodicamente.
Durkheim
Há, portanto, uma dupla gênese do social e do religioso, ou seja, à gênese societária
da religião, corresponde uma gênese religiosa da sociedade. É por este movimento de
criação e recriação constante de seu “sagrado” que a sociedade se faz por existir, é
isso trazido à existência por meio dos rituais.
As funções do sagrado
A prece
01
Atividade
2. Considere o trecho de texto a seguir: “Portanto, há na religião algo destinado
a sobreviver a todos os símbolos particulares nos quais o pensamento religioso
se envolveu sucessivamente. Não pode haver sociedade que não sinta a
necessidade de conservar e reafirmar, a intervalos regulares, os sentimentos
coletivos e as ideias coletivas que constituem a sua unidade e personalidade
[...]. Os antigos deuses envelhecem ou morrem, e não nascem outros [...]. Virá
dia em que as nossas sociedades conhecerão novamente horas de efervescência
criadora, durante as quais novas ideias surgirão, novas fórmulas aparecerão e,
por certo tempo, servirão de guia para a humanidade [...]”. (DURKHEIM, 2006)
2
3
01 - Max Weber
o processo de racionalização e
a metodologia de tipo ideal.
02 - Ernst Troeltsch
03 - George Simmel
Saiba mais
Leia o texto Filósofos da escola sociológica alemã <> para aprofundar seu
conhecimento.
Atividade
3. Considere o trecho de texto a seguir: “Um dos componentes do espírito do
moderno Capitalismo, e não apenas deste, mas de toda cultura moderna: a
conduta racional baseada na ideia de vocação, nasceu — segundo tentou se
mostrar nesta discussão — do espírito da ascese cristã. Basta reler o trecho de
Franklin, transcrito no início deste ensaio, para perceber que os elementos
fundamentais do que lá se denominou o ‘espírito do Capitalismo’ são justamente
os que ora apresentamos como conteúdo da ascese vocacional do puritanismo,
apenas sem a sua fundamentação religiosa, já desaparecida no tempo de
Franklin”. (WEBER, 2004)
Saiba mais
A dissidência é uma forma de responder melhor a uma nova realidade rejeitada pelo
grupo religioso original. Os pobres, os excluídos ou as minorias de todo tipo (sexuais,
étnicas, raciais) são mais sensíveis ao não conformismo do que os ricos, poderosos,
bem-instituídos etc.:
Saiba mais
Intolerância religiosa
01
02
Por meio de uma memória “verdadeira ou autorizada”, que é uma das versões, aquela
que ganhou a disputa com outras memórias.
01
02
A racionalização, que demole a plausibilidade do passado religioso como ato de
fundação.
03
04
05
Observe as consequências:
Apesar de escrever pouco sobre religião, ele publicou textos influentes. Por exemplo,
Gênese e estrutura do campo religioso, que faz uma leitura original das ideias de
Marx, Durkheim e Weber, articuladas entre si para compreender o fenômeno
religioso.
Para Bourdieu, toda religião exerce a função política de eternizar uma dada ordem
hierárquica entre grupos, gêneros, classes ou etnias.
Pierre Bourdie, Sociólogo Francês.
Como seria essa resolução?
Dar-se-ia pela proposição dos conceitos de:
Trabalho religioso
Campo religioso
01
Todo mundo produz os bens religiosos e todo mundo consome, sem distinção
e hierarquia.
02
Na prática, essas polaridades não se realizam, mas são balizas teóricas que ajudam a
pensar a situação real que gangorra entre esses dois extremos.
Profeta/seita
A religião foi/é uma das mais poderosas estruturas de plausibilidade. Ou seja, o que é
social, construído historicamente, a partir dos dados naturais/biológicos, aparece
como divino, sacralizado. Por vários motivos, alguns inscritos na própria religião,
como no caso do Judaísmo e Cristianismo, conjugado com mudanças
sociais/históricas (pluralismo de valores, modos de viver, produzir, criar família etc.),
a religião perdeu plausibilidade e, no mundo ocidental moderno, a partir do século
XVI, recuou de importantes áreas da vida humana (Estado, cultura, arte, ciência,
política).
Notas
Ethos1
Igreja Positivista 2
Referências
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São
Paulo: Paulinas, 2016.
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel, 1843. São Paulo: Boitempo,
2010 p. 145.
PIERUCCI, Antônio F.; PRANDI, Reginaldo. Assim como não era no princípio: Religião
e ruptura na obra de Procópio Camargo. In: Novos Estudos, CEBRAP, São Paulo, n.
17, maio de 1987.
SIMMEL, Georg. Religião: ensaios. São Paulo: Olho d'Água, 2009, volumes 1 e 2.
Explore mais
Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos
disponíveis no ambiente de aprendizagem.
Leia os textos:
Introdução
Cultura e sociedade são, entre os seres humanos, um par indissociável. Os grandes temas do olhar
antropológico sobre a religião, foram, desde o início, o mito, o rito e a magia.
E por quê? Porque o rito remete aos gestos, às cerimônias, às liturgias, enfim, à ação simbólica
coletiva que consagra tempo/espaço, confirma valores e marca passagens de estado
individual/grupal.
A magia remete às formas primitivas, coletivas e individuais ao mesmo tempo, de contato com o
sagrado ou o supranatural.
Você deve estar curioso para saber como é o olhar antropológico sobre religião. Como se fosse um
toque inicial, pense ou imagine um rito religioso, uma narrativa ou história religiosa que seja muito
diferente daqueles ritos e narrativas aos quais você está acostumado.
Objetivos
Compreender as origens das escolas antropológicas nas Ciências da Religião.
Analisar conceitos e autores das escolas antropológicas nas Ciências da Religião.
Identificar fatos básicos das escolas antropológicas nas Ciências da Religião.
Introdução
Entre 1415 e 1884-1885, mais ou menos, você notará grandes movimentos que as nações
europeias fizeram: expansão marítima, colonialismo e neocolonialismo. As duas datas,
observe bem, correspondem à Conquista de Ceuta, na ponta da África, por parte do Reino de
Portugal (próximo ao Estreito de Gibraltar, atualmente é uma cidade autônoma da Espanha) e
à Conferência de Berlim, proposta por Portugal, mas levada a efeito pela Prússia, antigo país.
1412
No movimento da reconquista católica, o Reino de Portugal toma Ceuta e estabelece as
bases para as grandes navegações.
1884 - 1885
A partilha da África foi sacramentada pelas potências europeias e os seus recursos e as
suas riquezas foram apossados e divisões territoriais.
Brasil, América Latina e América do Norte nasceram nesse caudal expansivo da cultura1 e
materialidade ocidentais que, apesar da diversidade interna (por exemplo, os modos de ser-
no-mundo e ver-o-mundo luso-ibérica e anglo-saxã), representou um evento com grandes
consequências, positivas e negativas (massacres, campos de concentração/extermínio em
massa de seres humanos, pobreza etc.).
Cultura1
Conceito antropológico complexo, elaborada pela Antropologia, está ligado ao processo
humano de criação, coletiva e individual, de sentido, símbolo, significado, linguagem e
instituições.
Comentário
Os próprios sistemas míticos e rituais desses povos, a religião, passou a ser vista com
outros olhos.
Desde...
Saiba mais
Tupinambás2
Nome genérico dado a um grande grupo de sociedades índias que viviam na região litorânea
do Brasil, entre o Rio Grande do Norte e Paraná, caracterizado, entre outras coisas, pela
prática da antropofagia ritual. Durantes as guerras internas, os guerreiros valentes eram
aprisionados, bem-cuidados e preparados para um ritual festivo no qual o grupo o mataria e
comeria sua carne.
Etnocentrismo3
Culturas, mitos, ritos, religiões são relativos aos povos e às sociedades, não são absolutos,
são relativos a tempos e espaços singulares.
Atividade
1. Sobre os precursores da Antropologia, sabe-se que muitas reflexões sobre os
costumes e a história de outros povos foram empreendidas. Com as grandes
navegações, num primeiro momento, e o colonialismo, num segundo, o choque entre
culturas trouxe diversas consequências. Michel de Montaigne (1533-1592) escreveu um
texto intitulado Dos canibais, discorrendo sobre a presença dos tupinambás na corte
francesa de Carlos IX.
a) O encontro colonial com outros povos provocou muita destruição, mas não mudou
a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
b) O encontro colonial com outros povos provocou destruição e mudou pouco a
mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
c) O encontro colonial com outros povos provocou pouca destruição, mas não mudou
a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
d) O encontro colonial com outros povos provocou pouca destruição e pouco mudou a
mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
e) O encontro colonial com outros povos provocou destruição, mas também impactou
a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
No final do século XIX, a partir da herança reflexiva, surgiu um novo conceito de cultura. (Fonte: FotografieLink /
Pixabay)
No final do século XIX, pense um pouco, um novo conceito de cultura nasce a partir dessa
herança reflexiva acoplada ao grande volume de dados e informações que chegavam de
povos, etnias e culturas bem como da tradução de textos sagrado de antigas civilizações e
religiões e descobertas arqueológicas nos mais variados campos, inclusive dos povos semitas
(hebreus).
Por essa época, vingou o paradigma evolucionista, e influenciou boa parte da mentalidade
acadêmica, cultural e social. Houve uma indevida transposição das ideias de Charles Darwin
(1809-1882). Nesse período, três nomes se destacam como iniciadores da Antropologia como
ciência, dois ingleses e um americano:
Veja a primeira definição de cultura, em 1881, feita por Tylor no livro Primitive culture
(Cultura primitiva):
“A Cultura, ou civilização, entendida em seu amplo sentido etnográfico, é aquele
conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, os direitos, os
costumes e qualquer outra capacidade e hábito adquirido pelo homem como membro de
uma sociedade”.
A primeira tentativa de definir a religião primitiva veio com Tylor e a ideia de animismo,
que evidenciaria a importância, para o homem primitivo, da experiência do sonho e da
morte.
Culturalistas, funcionalistas e
estruturalistas
Observe que a crença integra a experiência humana geral. Por isso, a religião, a magia e
todas as formas culturais das crenças não podem ser separadas de sua matriz cultural e ser
estudada isoladamente do contexto no qual são expressas, vividas e experimentadas.
Comentário
Para Franz Boas, cada cultura deve ser estudada como um sistema que possui lógica e
autonomia específicas, levando em consideração a totalidade a partir da análise dos
dados biológicos, linguísticos, históricos e culturais. Por exemplo, estudar uma dança ou
uma crença religiosa por si mesma, sem remetê-la à cultura, sociedade, ao momento
histórico e aos contextos, é um sério erro metodológico.
Sincrônica
Transversalidade da cultura no tempo e no espaço.
1
2
3
Magia, ciência e religião e outros ensaios, de 1948, com uma dedicatória a James Frazer
É incompleto, para a perspectiva antropológica, estudar religião ou outro aspecto (parentesco, por exemplo), sem se
referir ao elemento cultural, social e histórico. (Fonte: pathdoc / Shutterstock)
É um método poético e difícil, pois depende da interação humana, bons informantes que
conheçam a realidade a ser pesquisada etc. Há diversas formas:
Trabalho religioso
Refere-se ao processo de produção de práticas, discursos e bens simbólicos sagrados que
atendem a uma necessidade de expressão de uma classe, grupo ou sociedade.
Campo religioso
Remete a um campo de forças em que agentes e instituições disputam capital simbólico —
dando legitimidade, poder, prestígio —, produzindo e consumindo bens religiosos de salvação
(rituais, discursos, valores etc.).
Todo mundo produz os bens religiosos e todo mundo consome, sem distinção e
hierarquia.
O que é mito?
Na análise do mito, Malinowski pensa assim:
O mito é uma narração de um evento inaugural, possui eficácia porque atua na consciência
coletiva.
No mito, encontra-se uma explicação poética, um modelo moral-valorativo, que o grupo
elabora, internaliza e compartilha.
Veja bem:
Há um universo consolidado por uma tradição de práticas, pois a ideia e o objetivo são claros
e pontuais.
Sobre as atividades cotidianas, há mitos que explicam sua presença, sua importância, sua
força e servem de valores de inspiração moral. As proposições culturalistas e funcionalistas
foram criticadas por outras escolas teóricas.
O não tratamento das tensões, conflitos, mudanças e rupturas que alteram os sistemas e as
funções.
Atividade
2. Para a escola antropológica Funcionalista, o ritual mágico e a técnica “científica”
possuem funções específicas, por exemplo, regular as emoções durante uma atividade
cotidiana e garantir sua eficácia concreta, podendo conviver em uma mesma situação.
Nos estudos etnográficos de Bronislaw Malinowski sobre a magia, religião e a ciência,
são descritas situações como os preparativos para pescaria em alto-mar, que sempre
traz riscos, afazeres cotidianos.
a) Podem conviver em uma mesma situação porque regulam distintos significados dos
problemas cotidianos.
b) Não podem conviver uma mesma situação porque regulam distintos significados
dos problemas cotidianos.
c) Podem conviver uma mesma situação porque não regulam distintos significados dos
problemas cotidianos.
d) Não podem conviver uma mesma situação porque regulam distintos significados
dos problemas cotidianos.
e) Podem conviver uma mesma situação porque desregulam distintos significados dos
problemas cotidianos.
E. E. Evans-Pritchard (1902-1973)
A ênfase do antropólogo inglês recaiu sobre o rito, como ação, que envolve uma
coletividade, confirma seus valores comuns e as passagens de status (da criança para o
adulto, casamento, morte etc.) e consagra eventos e realizações da sociedade.
estratificação social4
Processo de divisão ou organização de uma sociedade em classes sociais, segmentos ou
grupos socioeconômicos, ou castas hereditárias, com poderes, papéis e funções. A
estratificação pode agravar muito a desigualdade social.
Saiba mais
Atividade
3. A escola estruturalista enxerga a religião a partir de uma ótica universalista,
privilegiando o mito, a racionalidade e a lógica, em detrimento do rito. Lévi-Strauss, no
texto O feiticeiro e sua magia, estudou a eficácia simbólica, analisou casos em que a
crença na magia provocou reações concretas, como no xamanismo 5, e comparou isso
à técnica psicanalítica como ritual.
Diante disso, é correto dizer que a eficácia mágica ocorre por:
Xamanismo5
Leitura
O rito, o ritual opera a fusão entre o mundo vivido e o imaginário presentes nas narrativas
míticas A religião, em Geertz, expressa uma teoria geral da cultura 6.
Cultura6
1. Lévi-Strauss
Retoma uma vertente mais universalista, abstrata, lógico-formal para explicar a religião.
2. Clifford Geertz
Volta-se para a análise dos significados e, com isso, a vertente relativista é retomada.
Para ele, uma adequada teoria da religião se alcança com a integração entre
considerações históricas, psicológicas, sociológicas e semânticas.
Segundo Geertz:
A experiência religiosa final tomada subjetivamente é também a
verdade religiosa final tomada objetivamente
Reflita que Geertz, no texto O beliscão do destino: a religião como experiência, sentido,
identidade e poder, pondera sobre as mutações históricas e os reposicionamentos da religião,
que assumiu distintas formas de expressão, envolvida na construção de identidades
particulares e protagonista em disputas e conflitos políticos.
Escala
Valores
Comunicacional
Político-social
Outra frente de reflexão da Antropologia sobre o fenômeno religioso é a que pensa sobre os
modos de como se conhece a religião. Reflita sobre um elemento apresentado pela
antropóloga Rita Segato, no texto, Um Paradoxo do relativismo: discurso racional da
Antropologia frente ao sagrado (publicado em 1992), que fala do paradoxo entre a atividade
de relativização do antropólogo e a adesão de forma absoluta do praticante religioso à
religião da qual ele faz parte.
A atitude dos antropólogos (relativização), frente ao universo
A saída seria um olhar mais integrado, embora se saiba do impasse entre as duas
perspectivas.
Atividade
4. Leia com atenção o que Clifford Geertz escreve sobre o problema do sofrimento como
problema religioso, pois se trata de conferir sentido, e não evitar o sofrimento: “[...] os
símbolos religiosos oferecem uma garantia cósmica não apenas para sua
capacidade de compreender o mundo, mas também para que, compreendendo-o, deem
precisão a seu sentimento, uma definição às suas emoções que lhes permita suportá-lo,
soturna ou alegremente, implacável ou cavalheirescamente”. (Grifos do autor da aula.
GEERTZ, 2008, p. 67)
Tendo em vista a escola Interpretativista, assinale a alternativa correta:
Notas
INSERIR TÍTULO AQUI1
Referências
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo:
Paulinas, 2016.
GEERTZ, Clifford. A religião como sistema cultural. In: ______. A interpretação das culturas. Rio
de Janeiro: LTC 2008, p. 67.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O feiticeiro e sua magia. In: ____. Antropologia estrutural. 5. ed. Rio de
janeiro: Tempo Brasileiro, [s./d.], p. 211
MALINOWSKI, Bronislaw. Il mito e il padre nella psicologia primitiva. Roma: Newton Compton,
1976.
Próximos Passos
Principais ideias e os principais autores que analisaram a religião como fenômeno psicológico, ou
seja, relativo às crenças e aos comportamentos individuais;
Explore mais
Leia os textos:
Apresentação
A Psicologia da Religião não se restringe a essa temática, ao contrário, ela abrange
áreas que vão desde os estudos cognitivos-comportamentais e neurológico — o
funcionamento do cérebro e do corpo e sua influência sobre a experiência religiosa,
por exemplo —, até os estudos mais próximos da Psicologia Social — a interinfluência
entre sociedade e personalidade individualizada no campo da religião —, aos mais
próximos da Filosofia — a ideia de experiência, o fundamento das emoções e afetos,
a memória, a personalidade etc.
Objetivos
Compreender as origens da Psicologia da Religião.
Identificar as principais escolas da Psicologia da Religião.
Localizar fatos e contextos básicos para a Psicologia da Religião.
Introdução
1
A Psicologia Comportamental enfatiza os aspectos observáveis do
comportamento, incluindo os cognitivos.
2
A Psicologia Fenomenológica buscará os significados da religião para as
pessoas, em termos de subjetividade. Mas, o comportamento religioso é
complexo, e, por isso, é fundamental que as várias perspectivas teóricas
possam somar-se, no sentido de abranger, quanto possível, os processos
psicológicos envolvidos nesse comportamento.
Há muitos métodos empregados para se estudar o comportamento religioso e
isso depende do objetivo da pesquisa e do objeto estudado. Por exemplo, para
estudar a crença religiosa de uma pessoa em particular ou de algumas
pessoas de um mesmo grupo religioso você pode utilizar entrevistas
individuais, abertas ou fechadas.
1
Você pode utilizar uma pesquisa de observação-participante
Ferramenta metodológica baseada no registro escrito das interações e da
convivência de um pesquisador com um indivíduo ou grupo por ele
pesquisado. Falas, ritos, momentos etc. são registrados em um caderno
ou diário de campo. O pesquisador participa, portanto, com o grupo das
atividades e interações e reflete sistematicamente sobre, usando, ou não,
entrevistas, fotografia e outras ferramentas., na qual presenciará as
atividades.
Observação-participante1
Atividade 1
Os fenômenos da mente, da memória, dos sentimentos, que estão
presentes nas vivências religiosas, já eram conhecidos e pensados por
muitos, entre eles Agostinho que tentou conciliar a tradição moral cristã
e a tradição filosófica grega.
As primeiras investigações
psicológicas
No primeiro momento de constituição da Psicologia, Wundt a considerava
como ciência da experiência e os dados eram os fenômenos, e sua função
seria analisar os elementos que formavam os processos conscientes e suas
leis.
Considere que, nesse caso, os processos mentais são dinâmicos, e não algo
parado, estático. Com suas observações, elaborou três “leis”:
Saiba mais
Fé e investigação científica
Reflita um pouco sobre essas duas dimensões, pois não se opõem, como
alguns pensam. As teorias evolucionistas ou quaisquer outras teorias
científicas não se opõem a uma fé religiosa por um fato básico: são
linguagens e figuras distintas, com âmbitos, objetivos e alcances
distintos.
Para que você tenha uma noção concreta do que seriam essas
“enfermidades da emoção religiosa”, é interessante citar um dos casos
mais polêmicos de “possessão demoníaca” do mundo ocidental: o
fenômeno das freiras de Loudun, França que foram alegadamente
visitadas e possuídas por demônios.
Leitura
Movimentos orientais
Pentecostalismo
Reavivamentos
Fundamentalismo
Secularismo2
Pragmatismo norte-americano3
John Dewey4
Quacre5
A contribuição germânico-sueca ao
estudo da religião
Na Europa, as maiores contribuições para a análise da religião sob o prisma
psicológico cabem a Sigmund Freud (1856-1939) e Carl Gustav Jung (1875-
1961).
operações semânticas.
Coletividade
Apesar dessa ideia, o líder da Psicanálise diz que o método psicanalítico não é
religioso ou antirreligioso, mas um instrumento para compreender as
estruturas psíquicas dos indivíduos que aderem ou praticam uma religião.
A parte iluminista e evolucionista da teoria freudiana é cética em relação ao
fenômeno religioso, mas, há outras partes, veja bem, que ajudam a pensar a
relação entre crença religiosa e desejo. Daí as analogias, expressas em um
texto escrito em 1907 (Atos Obsessivos e práticas religiosas), entre
comportamento ritual e práticas obsessivas e entre crenças e mundo onírico
(mundo dos sonhos).
Porém, essa ideia tornou-se uma crítica ideológica que acostumou ver na
religião, e nas suas muitas manifestações, apenas uma neurose, uma histeria
etc.
Saiba mais
Retomando o livro Totem e tabu, veja que, para Freud, toda religião é uma
tentativa de enfrentar um problema decorrente do assassinato do pai da
horda, conciliar o sentimento de culpa com o desafio do filho em relação à
figura do pai. Por exemplo, no raciocínio freudiano, Jesus libertaria os homens
da ofensa cometida contra o Pai, o pecado original, que seria o parricídio
(assassinato do pai). E, de forma muito instigante, pense um pouco sobre
suas palavras:
Com a mesma ação em que oferece ao pai a máxima
expiação possível, o filho também alcança o objetivo
FREUD, [s./d.]
Carl Jung, seguidor de Freud, rompeu com seu mestre e propôs uma
reorientação das interpretações sobre a religião. Para isso, haveria, segundo o
psicanalista suíço, uma distinção entre duas formas de pensar, aquela que se
orienta para fora e aquela que se dirige para a fantasia:
Primeira linguagem
Segunda linguagem
A segunda é a linguagem dos afetos, sentimentos e imagens inefáveis,
que ultrapassa a linguagem verbal racional e se move por uma lógica do
símbolo e do mito.
Jung chama essa constelação de arquétipos, formas a priori da organização psíquica e categorias do
pensamento simbólico. Esse modo de pensar recebeu o nome de Psicologia analítica ou Psicologia
arquetipal. | Fonte: PublicDomainPictures / Pixabay
JUNG, 2011
Psicologia analítica6
Teoria originada a partir das ideias do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung,
baseada em conceitos como arquétipos, inconsciente coletivo e processo de
individuação. A formação filosófica de Jung, sua experiência em hospital
psiquiátrico, o interesse por diversas religiões, inclusive orientais, o estudo de
Mitologia comparada, Antropologia e Alquimia foram fundamentais para a
construção da Psicologia Analítica. No Brasil, a mais destacada discípula de
Jung foi a alagoana Nise da Silveira (1905-1999). Essa médica revolucionou o
tratamento psiquiátrico violento e cruel dos anos 1940-1980 (choques
elétricos, banhos gelados e outros), propondo um tratamento humanizado dos
pacientes psiquiátricos que usava a arte e a Psicologia analítica.
Saiba mais
Leitura
Atividade 4
Sobre a contribuição de Sigmund Freud e Carl Jung, para a Psicologia da
Religião, assinale a alternativa correta:
A Psicologia da Religião
contemporânea
2
Estudos sobre a influência ou relação entre religião cérebro, mente e
comportamento individual, por exemplo, os supostos efeitos benéficos da
meditação religiosa ou da atitude religiosa perante a vida.
Porém, note que todas essas linhagens de pesquisa possuem pontos fracos e
fortes. Tome, como exemplo, os estudos sobre os efeitos de comportamentos
e atos religiosos sobre a saúde ou enfermidade, em especial, os efeitos sobre
o cérebro.
E, veja, ainda que se houvesse uma relação causal, não há nada nela
mesma que poderia dar segurança total de que a causalidade ocorrerá da
mesma forma e do mesmo jeito em um futuro próximo. Qualquer
atividade, musical, física, artística, sexual, provoca alterações nos
padrões cerebrais, afeta nossas percepções, nossos sentimentos, e,
dependendo da intensidade, regularidade e forma, afeta o
comportamento cotidiano.
Leitura
Como uma questão final, reflita sobe os dois perigos que os pesquisadores da
religião podem incorrer:
Atividade 6
A atividade consiste em revisar a aula e responder às questões:
Notas
INSERIR TÍTULO AQUI1
Referências
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São
Paulo: Paulinas, 2016.
Próximos Passos
Os problemas relativos ao conceito de religião: sua variedade e diversidade.
Explore mais
Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos
disponíveis no ambiente de aprendizagem.
Leia o texto Nova era evangélica, confissão positiva e o crescimento dos sem-
religião <https://goo.gl/mc2Q5p> . Acesso em 26 fev. 2018.
Se você quiser mergulhar em águas mais profundas, leia esta tese de doutorado em
Ciência da Religião, defendida na PUC-São Paulo:
Apresentação
A religião se apresenta, se expressa e é reconhecida como religião a partir de algumas linguagens e estruturas,
independentemente da polêmica sobre seu caráter total ou parcialmente autônomo em relação às outras dimensões sociais ou
de ser ou não uma função social ou uma experiência profunda do sujeito.
Como a religião fala e como ela pode ser vista como um tipo de linguagem é o que você é convidado a ver nesta aula. A religião
pode ser a linguagem do poder, da violência e pode expressar-se como poder e como violência, mas também capaz de ser a
linguagem do amor e da tolerância e expressar amor e tolerância. Reflita sobre essas ambiguidades.
Alguns dizem que há na religião, uma vocação autoritária; outros que há uma vocação amorosa e uns terceiros dizem que a
religião é utilizada por outras forças em busca de legitimação e poder. De qualquer forma, a religião é uma linguagem, possui
linguagens e fala de si e do mundo por meio dessas linguagens, uma tripla condição que a torna um fenômeno complexo e
fascinante.
Objetivos
Reconhecer a religião com linguagem fundamental.
Identificar as linguagens e formas de organização da religião.
Localizar fatos e contextos básicos para as linguagens da religião.
Introdução
O que é uma linguagem?
Nesta aula, você é convidado a pensar um pouco sobre a teoria da linguagem cujo precursor influente, foi o linguista e
filólogo genebrino Ferdinand de Saussure (1857-1913). Observe que Saussure pensou a linguagem como um sistema de
signos e afirmou que este era uma relação entre significante e significado, ou seja, um elemento que agrupava um som
(áudio-imagem) a uma ideia (conceito).
Introdução à Simiótica com o professor Bernardo Espíndola | Fonte: Youtube
URL
Uma das teses mais instigantes para sua reflexão pessoal é a do agrupamento arbitrário, puramente convencional, entre
significante e significado. Pense um pouco, não há som ligado de forma eterna e inapelável ao agrupamento de letras da
palavra asa, por exemplo.
Comentário
Você se acostumou, por heranças sociais e culturais, a associar esta palavra ao som correspondente e à imagem ou
sentido evocado por ela. Isto é, você pode entender a linguagem como um sistema de signos criados sem conexão
previamente estabelecida “por natureza” ou “por alguma força divina”.
O som da palavra cão não tem nenhum vínculo com a ideia de cão. Saussure revolucionou os estudos de linguagem
e chamou atenção para o caráter arbitrário da natureza do signo: há uma ligação puramente relacional entre o
significante e o significado (o som e a ideia), ou seja, seria uma relação negativa.
O filósofo austríaco-britânico pode ajudar você a entender mais o tema. Ele foi outro pensador que revolucionou a
teoria da linguagem, elaborou analogias entre a linguagem e o jogo de xadrez: as regras, que caracterizam o
xadrez como o jogo de xadrez não tem nada a ver com a forma das peças. Por exemplo, para que você compreenda
melhor, é possível usar qualquer coisa no lugar da rainha, uma tampa de refrigerante, um pedaço grosso de
madeira e chamar essa peça de rainha se a função for de rainha, ou seja, andar em todas as direções dentro do
tabuleiro do xadrez.
Assim, o signo (e seus elementos, o significante e o significado) é a peça do jogo e, portanto, não depende de uma
forma ou qualquer essência singular para existirem, mas, nesse caso, depende apenas da função dentro do sistema
a que pertence, uma linguagem.
Suas existências seriam definidas em função das regras que estruturariam a linguagem, mas, sob uma condição, se
tudo aquilo que cerca o signo não é. A tampinha de cerveja pode desempenhar a função de rainha, no jogo de
xadrez e, por isso, ela, a tampinha, não faz a função do cavalo ou da torre e somente nessa rede de relações e
funções (no caso, desempenhar o papel da rainha) é que aparece como se estivesse vestindo uma coroa.
Para Derrida, há um jogo de paradoxos que você pode entender da seguinte forma: toda presença do significado é
uma ausência e toda ausência dele (significado) é uma presença. O significado se põe negativamente, ou seja, só se
põe negando uma série de outros significados e, agindo dessa forma, se apresenta (fenômeno, o que está à vista) à
medida que se retira.
Sutulo / Pixabay
Essas linguagens que se formaram ao longo de séculos durante o desenvolvimento humano, estabeleceram sistemas de
relações muito diversos, distintos que se diferenciaram e não podem ser confundidos. Por exemplo, a ciência moderna,
desde sua ascensão a partir do século XVI, com Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1643-1727), entre outros,
mudou a linguagem da investigação.
Na linguagem cientifica, a relação e a função essencial são expressas em cadeias de causalidade, explicadas em uma
1
lógica rigorosa sem falácias Nas próprias ciências, com as questões postas e com o passar do tempo, as polêmicas e
disputas, as linguagens científicas se diferenciaram, e surgiram as Ciências Humanas e Sociais, e dentro delas, as
Ciências da Religião.
Nesse sentido, a verdade não precisa mais ser definida como inventada ou descoberta, mas como uma propriedade de
enunciados da linguagem em correspondência com o contexto e a realidade.
Falácias1
Palavra com origem no latim fallacia, indica a característica ou propriedade de algo que engana ou ilude. Pode ser
entendida como uma linguagem que simula uma veracidade; sofisma. As falácias informais são difíceis de identificar, pois
possuem uma forma lógica válida. No âmbito da lógica, uma falácia consiste no ato de chegar a uma determinada
conclusão errada a partir de proposições que são falsas. Há muitos tipos, por exemplo, a falácia do espantalho: a
distorção de um argumento inicial ao mesmo tempo em que se tenta legitimar o argumento distorcido, para refutar o
argumento original (não distorcido). O argumento que é refutado não é o argumento que foi inicialmente apresentado.
Veja um exemplo a partir de um diálogo imaginário entre duas pessoas: Maria: “— Indivíduos menores de 20 anos
deveriam ser proibidos por lei de comprar bebidas alcoólicas”.
Marta: “— Isso é incentivar que indivíduos com mais de 60 anos consumam mais e vendam álcool para os menores de
20 anos! É inadmissível!”.
Neste exemplo, Marta distorceu o argumento do Maria inventando palavras para tentar refutá-la.
Onde se poderia ver isso?
polissemia intrínseca. Por exemplo, a expressão, “ele é um gatão”, pode remeter um gato de
raça grande, a um homem bonito ou a um leão feroz.
Cada palavra inscrita nas linguagens traz um grande número de significados, independente de seus usos, que são os
mais distintos possíveis e que mudam conforme o tempo, a história e a sociedade. Você pode notar, assim, o poder da
linguagem em sua arbitrariedade porque há uma dupla determinação:
1
O contexto determina o significado dado no texto.
2
O significado também determina o contexto dado.
Imagina o texto bíblico, por exemplo, o quanto é complexo e o quanto um teólogo precisa levar em conta os tipos, os
modos e as formas de linguagens e de gêneros textuais, as formas de recepção do texto etc.
fonte: http://odetalhedapalavra.blogspot.com/2012/01/texto-biblico-
indispensavel-em-uma.html
Note que não se lê uma poesia que fala do corpo humano da mesma forma como se lê e se entende um texto médico de
anatomia, um texto acadêmico das Ciências Sociais sobre o corpo ou uma passagem bíblica que fala sobre o corpo. Se
isso for feito, haverá confusão, falta de discernimento. Essa propriedade paradoxal da linguagem, cria o que Derrida
chamou de desconstrução, que você pode entender da seguinte forma:
Todo texto, ao se colocar e firmar (afirmar), se põe de modo negativo-positivo (nega, adia e
indica significados), se desconstruindo ao mesmo tempo em que necessita se construir. Em
outras palavras, os textos são, por conta da linguagem, “autodestrutivos” porque é uma
característica factual, e comprovada, da linguagem humana.
Pensamento humano e linguagem são muito similares e, por conta disso, você pode pensar que o próprio pensar humano
é desconstrutivo. Se você tentar sair da prisão da linguagem, voltará para o mesmo lugar: é a linguagem que constrói
nosso mundo e simultaneamente nos mantém nele, na sua fraqueza, nos muitos contextos e em suas muitas semânticas
relativas.
A linguagem cria o eu, diriam os filósofos pós-modernos, e você poderia dizer, a linguagem da religião cria a religião. Não
haveria, nesse sentido, uma essência anterior à linguagem, mas a própria ideia de essência é produto da linguagem, e,
nesse caso, entenda essência como o desejo de que as coisas sejam mais fixas, permanentes, menos sujeitas às
mudanças.
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Daí você pode entender a famosa ideia de desconstrução, que muita gente acusa, sem ter lido nenhum “pós-moderno”. A
desconstrução é permitida a você não por decisão voluntária de sua própria cabeça, mas porque as características da
linguagem assim o exigem e o definem.
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Por isso, as traduções entre linguagens são, no sentido estrito, impossíveis ao pé da letra,
ou seja, só é possível uma aproximação tateante entre linguagens e seus significados dentro
de cada contexto e estrutura. Perceba que a comunicação poderia parecer impossível, mas
ela é sempre possível a partir de ajustamentos e correspondências entre linguagens e
sujeitos, o que é feito o tempo todo.
Descarta os fundamentalismos
Na verdade, os fundamentalismos são frutos da má leitura dos textos sagrados, o resultado de confusão entre as
funções, os termos e as posições de uma linguagem e do diálogo entre as linguagens ou mesmo o empobrecimento
da linguagem. Saiba que um vocabulário e uma linguagem empobrecidos limitam a compreensão e a autonomia dos
seres humanos, tornando-os pobres e dificultando sua capacidade de interpretar os significados e as posições dos
signos nas estruturas da linguagem;
Por isso, as “contradições” na Bíblia, apontadas por muitos ateus, são, na verdade, dificuldade de entender os
gêneros, as linguagens e as funções das palavras no texto sagrado. Muito das acusações contra a ciência, como as
feitas pelas campanhas de famílias contra a vacinação de crianças, às vezes, vindas de pessoas engajadas
religiosamente, provém de incompreensões de como funcionam as qualidades e limitações da linguagem científica.
Pense um pouco sobre os três paradigmas de leitura, produção de textos e linguagem que decifra e interpreta
outras linguagens (a metalinguagem): pode-se ler um texto heurística (hermenêutica), política, estética e
tecnicamente
Pense um pouco sobre os três paradigmas de leitura, produção de textos e linguagem que decifra e interpreta outras
linguagens (a metalinguagem): pode-se ler um texto heurística (hermenêutica), política, estética e tecnicamente
1
Se você deseja apreciar ou fruir o texto, você está sob o paradigma estético.
Se você quer usar o texto para algum fim que envolva terceiros (convencer, fazer apologia de alguma coisa, atacar
alguém ou um grupo, marcar uma posição), então o paradigma é político.
Se você quer compreender o texto como ele deve ser compreendido, em termos técnicos, entendendo quem o escreveu
e em seu contexto original, então o paradigma é heurístico ou hermenêutico, e, nesse caso, deve-se levar em conta os
estudos sobre a história da recepção desse texto ao longo do tempo.
Moral
Poética
Erótica
O desejo, o corpo.
Sapiental
Reflexão e sabedoria.
Histórica
Cada linguagem, veja bem, precisa ser considerada dentro de seus limites e em
diálogo com o contexto onde os livros e textos foram produzidos e como os
mesmos foram recebidos ao longo da história pelas diversas comunidade e grupos
e as interpretações que deles fizeram.
Atividade 1
As religiões que possuem escrituras sagradas, como o Cristianismo, o Hinduísmo, o Budismo, o Islamismo e o
Judaísmo, enfrentam um dos maiores desafios, que é a interpretação das palavras sagradas escritas no texto. A
interpretação passa pela questão de entender a religião como linguagem.
Nesse sentido, considerando a questão da religião como uma linguagem assinale a alternativa correta:
a) Um texto sagrado expressa um tipo único de linguagem e só pode ser interpretado por um tipo de linguagem.
b) Um texto sagrado contém um tipo único de linguagem e só pode ser entendido com um único tipo de
linguagem.
c) Um texto sagrado expressa diferentes tipos de linguagem e só pode ser bem entendido se se consideram as
funções dessas linguagens.
d) Um texto sagrado é a expressão de diversos tipos de linguagem e só ser entendido a parir de um único tipo de
linguagem.
e) Um texto sagrado é fruto de muitos tipos de linguagem e só pode ser entendido com um tipo de linguagem.
Atividade 2
A religião pode ser vista como a expressão de linguagens, por exemplo, uma linguagem espaço-territorial. Em
outras palavras, toda religião existe em um espaço e território e possui uma linguagem espacial. Mircea Eliade
analisa essa linguagem, no livro O sagrado e o profano.
a) Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo, ou seja, o espaço apresenta rupturas e quebras; há
porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.
b) Para o homem religioso, o espaço é homogêneo, ou seja, o espaço não apresenta rupturas e quebras; não há
porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.
c) Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo, ou seja, o espaço não apresenta rupturas e quebras; não
há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.
d) Para o homem religioso, o espaço é homogêneo, ou seja, o espaço apresenta rupturas e quebras; não há
porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.
e) Para o homem religioso, o espaço é heterogêneo, ou seja, o espaço não apresenta rupturas e quebras; há
porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.
Um sistema de crenças
Um código ético
Um sistema de organização
Emile Durkheim escreveu, em sua obra maior, As formas elementares da vida religiosa, que não encontramos, na
história, religiões sem igreja, ou, traduzindo seu pensamento, toda religião implica uma forma de organização social.
Veja que a religião é uma linguagem encarnada em práticas e ritos concretos, mas uma linguagem que socializa os
indivíduos, fazendo com que estes aprendam um papel social.
Segundo o antropólogo Marcelo Camurça (2013, p. 287-298):
Os ritos coletivos praticados por meio das ‘igrejas’, enquanto culto às divindades, são a
forma de inculcar no indivíduo os sentimentos sociais que por meio da religião fazem-no
sentir parte da sociedade.
Marcelo Camurça
O sagrado, como expressão do social, nasce da efervescência e vai progressivamente se institucionalizando e uma
“religião” e daí em uma “igreja”, com ritos, regras, normas etc.
Com isso, muda-se a autoridade e a transmissão do carisma, passando a ser controlado pelos adeptos do líder, que
passam a se organizar e racionalizar a mensagem carismática. Você poderia se perguntar, por um exemplo, e Weber
responde: o Cristianismo.
Carisma2
Comentário
Após o desaparecimento de Jesus, seu carisma fundador foi transformado em uma Igreja, uma organização
hierocrática que se mantém por meio do “carisma de função ou de cargo”, um tipo de dispositivo permitindo que a
comunidade ou o grupo continue, por outras vias, o carisma pessoal e individual do fundador ou líder.
A rotinização do carisma se dá pela via legal-racional — quando se criam normas e estruturas legais e racionais,
burocráticas.
Ou
Pela via da tradição — quando se criam normas e regras baseadas em costumes e hábitos que vão se arraigando.
Religião como linguagem do sagrado e como
linguagem sagrada
Mircea Eliade (1907-1986)
O historiador, filósofo e cientista da religião romeno trata muito bem desse aspecto. O sagrado é uma presença e uma
linguagem permanente e universal, é uma linguagem que os seres humanos possuem.
O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo
absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato da manifestação do
sagrado, propusemos o termo hierofania. Este termo [...] exprime apenas o que está
implicado no seu conteúdo etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela. [...].
(Grifos do professor.
ELIADE, 1992, p. 13
A linguagem do sagrado se expressa como paradoxo, porque, ao mesmo tempo em que fala a todos os seres humanos,
encarna-se para seres humanos em determinadas épocas, símbolos, formas e religiões. Por exemplo, em sua maioria, as
religiões possuem uma noção de “centro do mundo”, o lugar mais importante do Universo, que, obviamente, é diferente
para cada religião específica.
Para os cristão e judeus, Jerusalém é fundamental, para os cristãos-católicos, além de Jerusalém, Roma, a cidade eterna.
Repare que, nos mitos que envolvem esses lugares, existem narrativas de jardins e árvores da vida, expressões
simbólicas presentes entre judeus, cristãos e muçulmanos, assim como o paraíso.
Estrela de Davi
Continuando os exemplos, todas as religiões possuem uma temporalidade profana e um tempo sagrado, no qual se
repetem (por meio dos rituais), os atos ou eventos fundadores, a cosmogonia no dizer de Mircea Eliade.
Nas cosmogonias, o elemento feminino e o masculino existem em combinações variadas, mais “patriarcais”, nas religiões
semíticas, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo e mais “matriarcais” no caso das cosmologias de povos
étnicos.
As palavras “patriarcal” e “matriarcal” devem ser usadas com cuidado e no sentido de ver a
primazia do pai ou da mãe, sem julgamento de valor.
As festas e os tempos festivos existem nas religiões como linguagens específicas dentro da linguagem maior. O mito é
uma linguagem de linguagens que você já viu em aulas anteriores e está presente nas religiões como a forma de um
modelo exemplar.
nunca é simplesmente fisiológico; é, ou pode tornar-se, uni ‘sacramento’, quer dizer, uma
comunhão com o sagrado.
Não há um ato ou gesto sagrado em si mesmo, e que o sagrado ou o profano, apesar de serem signos universais,
dependem do jogo de linguagens e dos contextos em que esse jogo ocorre.
Atividade 3
A ciência, a religião e a poesia são linguagens distintas, com contextos, histórias e funções distintas que mudaram
ao longo do tempo, segundo o filósofo Wilhelm Dilthey (1833-1911).
a) Na linguagem cientifica, a relação e a função essencial não são expressas em cadeias de causalidade,
explicadas em uma lógica rigorosa sem falácias.
b) Na linguagem religiosa, a relação e a função essencial são expressas em cadeias de causalidade, explicadas em
uma lógica rigorosa sem falácias.
c) Na linguagem poética, a relação e a função essencial são expressas em cadeias de causalidade, explicadas em
uma lógica rigorosa sem falácias.
d) Na linguagem cientifica, a relação e a função essencial são expressas em cadeias de metáforas e analogias
poéticas, explicadas em uma lógica simbólica.
e) Na linguagem religiosa, a relação e a função essencial são expressas de diversos modos, o poético, o moral, o
sapiencial etc.
Nas palavras do geógrafo da religião, Gil Filho (2008), no livro Espaço sagrado. Estudos em geografia da religião, não é
possível entender a religião sem entender suas linguagens espaciais e territoriais. As religiões apresentam-se no espaço
cultural, social econômico e político com linguagens universais e específicas.
Por exemplo, todos os templos de todas as religiões possuem divisões, estruturas, lugares definidos para funções,
imagens e símbolos específicos etc.:
Na religião amazônica...
O Santo Daime, em geral, seus templos possuem bancos e posições em semicírculo, uma mesa central e divisão entre
homens e mulheres.
Na igreja pentecostal
Na igreja Congregação Cristã, no Brasil, os bancos são dispostos em filas horizontais e sucessivas, homens e mulheres
estão em lados opostos, o que não se verifica em outras Igrejas pentecostais.
Comentário
Perceba que os espaços e seus usos, e as linguagens, mudam com o correr dos tempos. Por exemplo, nos templos
católicos entre os séculos XVI e XVIII, no Brasil, quase não havia cadeira ou banco para que as pessoas se
assentassem.
Até os anos 1960, antes do Concílio Vaticano II, separavam-se homens e mulheres, que usavam véus sobre a cabeça,
sendo que cada cor simbolizava uma situação:
Mas como?
Entre os anos 730 e 1492 d.C., data da queda da cidade espanhola de Granada, capital do império muçulmano Al-
Andaluz, as regiões que hoje são Portugal e Espanha ficaram sob forte influência islâmica. Perceba que, no mundo das
religiões, uma linguagem dicotômica, do tipo “eles são inimigos e nós somos bons”, não é uma boa linguagem para um
teólogo ou um pesquisador das religiões compreender de fato e com profundidade.
Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo: o espaço apresenta roturas
[rupturas], quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras. ‘Não
te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tira as sandálias de teus pés, porque o lugar
onde te encontras é uma terra santa.’ (Êxodo, 3: 5). Há, portanto, um espaço sagrado, e
A religião como linguagem espacial estabelece os signos do sagrado e do profano, mas, veja que é preciso levar em
conta a posição e o contexto dos signos, os contextos históricos, sociais, políticos etc.
Atividade 4
A religião pode ser entendida como organização, ou seja, uma estrutura que pretende perdurar no tempo e no
espaço transmitindo a mensagem religiosa. Muitos foram os autores que analisaram esse aspecto das religiões.
a) Uma religião possui como elementos básicos, um sistema de crenças, um código ético e um sistema de
organização.
b) Uma religião, na perspectiva durkheimiana, é uma linguagem encarnada em práticas e ritos concretos, mas
uma linguagem que socializa os indivíduos.
c) Uma religião, na perspectiva durkheimiana, é uma linguagem que marca a passagem do carisma selvagem
para uma situação de rotina, a rotinização do carisma.
d) Uma religião, na perspectiva durkheimiana, não é uma linguagem do conflito entre o sagrado selvagem,
efervescente e espontâneo e o sagrado domesticado, burocratizado.
e) Uma religião, na perspectiva durkheimiana, não é uma linguagem que marca a passagem do carisma selvagem
para uma situação de rotina, a rotinização do carisma.
Religião como linguagem política: laicidade e
secularização
A religião não ocupa mais o lugar que ocupou, por exemplo, na Idade Média, que entre os séculos V e XVI d. C., com
muita diversidade e questões impedem você de vê-la como algo uniforme, invariável ou homogêneo, mesmo
considerando-se a centralidade de questões teológicas e religiosas.
A religião, em especial a que se manifestava como uma instituição (as igrejas, Católica e Protestante) era a face social,
cultural e política do mundo ocidental. Veja que muitos fatos históricos e sociais abalaram paulatinamente essa
centralidade e a religião, como linguagem de poder e como poder da linguagem, será reposicionada e ressignificada.
Os abalos da Revolução Francesa (1789) e do Iluminismo, da Revolução Industrial (século XVIII e XIX), da Revolução
Tecnológica e Biogenética (século XX e XXI), alteraram definitivamente a religião como linguagem do poder. Observe que
outras linguagens do poder passaram a se expressar: o Estado e seus aparelhos de sustentação, o poder judiciário, o
legislativo e o executivo, procuraram separar-se — com mais ênfase, no mundo ocidental ou sob sua influência — dos
ditamos dogmáticos de uma religião e afirmaram postulados políticos democráticos e universais.
Você é convidado a pensar um pouco sobre o fato de que tal mudança não significou expulsar religião dos espaços
públicos e sociais. Ao contrário, as religiões modificaram-se, se revestiram de novas formas de linguagem a interagirem
de múltiplas formas com o espaço político e midiático, por exemplo, legitimando demandas e identidades desde as mais
conservadoras às mais progressistas.
Note que, entre 1961 e 1973, Camargo escreveu três livros que abriram o caminho para uma nova linguagem acadêmica
sobre a religião no Brasil:
1
2
3
Igreja e desenvolvimento
A Sociologia da Religião, no Brasil, como em outros lugares do mundo, nasceu no momento de declínio do
Cristianismo/Catolicismo, em momento de forte mudança social, cultural, urbana, comunicacional. Para o sociólogo
paulista tratava-se, observe com atenção, de compreender a religião como mudança e transformação, ruptura com as
ordens tradicionais, enfim, religião enquanto instituição/força/dimensão inseparavelmente ligada à sociedade, aos seus
dilemas, aventuras e desventuras.
Saiba mais
Um dos textos mais instigantes de Pierucci, Religião como solvente: uma aula <https://goo.gl/zYdAJn> , é
guiado por várias questões, inclusive esta: por que as religiões da “tradição”, da “continuidade”, do “consenso”
(Umbanda, Catolicismo, Luteranismo), minguaram no Brasil ao longo dos censos populacionais? Com isso, Pierucci
propõe algumas teses sobre a estruturação do campo religioso, a produção das individualidades e a articulação
entre raça, cor, classe social e expressões religiosas.
Em suas palavras:
A religião universal de salvação individual, forma religiosa que no desenvolvimento geral
da cultura tende a predominar sobre as demais, funciona como um dispositivo de
outro que o protende e projeta numa outra relação com a temporalidade de seus laços
sociais, que remove o mais próximo para o passado enquanto projeta no estranho o
doravante-próximo.
PIERUCCI, 2006
O mundo religioso perdeu a evidência de natural, pois com as profundas mudanças sociais, o esboroamento da
separação burguesa entre público e privado, novos meios de comunicação etc., embora a religião passou a ser vista
como símbolo de identidade. Pouco a pouco, reflita bem, a religião adquiriu novos sentidos, inclusive públicos, políticos e
sociais, mobilizou massas, mudanças e lutas reacionárias (voltar ao antigo esquema, especialmente o moral-sexual) e
revolucionárias (mudar completamente as condições sociais, culturais e econômicas).
Como diferenciação institucional entre as esferas de valor do mundo moderno (religião, arte, ciência, política, sexo etc.),
cujos motivos iniciais encontram-se no interior do sistema religioso cristão-ocidental. A magia e a religião deixam de ser
a totalidade absoluta das comunidades humanas e tornam-se sistemas ou segmentos em constante fricção e interação
com outros sistemas (política, arte, acadêmica, ciência, sexualidade).
Como racionalização e desencantamento do mundo (recuo da magia e da religião como fundamentos da imagem do
mundo e do homem) e sua re-apresentação como sistemas em interação com outros sistemas (política, ciência etc.). Ou
seja, a ciência e suas narrativas racionais ocuparam o lugar central das explicações do mundo e seu funcionamento, da
vida e do ser humano, deslocando as explicações teológicas e religiosas para outros planos da existência e do mundo.
Mas, concomitantemente, nos tempos contemporâneos, o elemento mágico e o elemento religioso podem ser conjugados
por cientistas e pesquisadores em suas vidas pessoais e privadas.
Como desregulação do religioso (mercado e campo religioso) e recuo dos poderes normativo-institucionais frente ao
individualismo como modo de vida. Quem demostra muito bem essa tese, é a socióloga da religião Danièle Hervieu-Léger
(1947-), que analisou como as crenças religiosas se recompõem na modernidade, influenciadas por uma forte linguagem
emocional e corporal.
Como enfraquecimento da metafísica e da ontologia em toda cultura ocidental e as reações a esse processo, por
exemplo, a nostalgia de uma identidade pesada e atrelada a um passado idealizado, que irão influenciar os movimentos
fundamentalistas e de retomada de uma tradição romantizada e distorcidas em muitas religiões universais, por exemplo,
budistas, cristãos, islâmicos.
5
Como secularização da esfera pública e estatal (e laicização), ou seja, a perda do controle religioso sobre as estruturas
públicas e estatais, embora as igrejas, em geral cristãs, tentem manter influência, em muitos países, sobre estruturas
público-legais, militando contra o aborto e "casamento gay", por exemplo, a partir da atuação de bancadas religiosas.
Alguns pesquisadores defendem que a laicidade não deve ser confundida com a secularização. Esta última pode ser vista
como a perda das determinações do religioso ou do sagrado [dessacralização] e de suas instituições sobre o conjunto da
vida social, política, estética, jurídica, cultural, cognitiva-intelectiva-científica, educacional e econômica de uma
sociedade.
A laicidade está relacionada com a derrocada da influência religiosa na relação jurídica Igreja-Estado. Ambas, laicidade e
secularização, solapam o monopólio dos argumentos religiosos e sua pretensão de exclusividade sobre os assuntos
humanos. Doravante, a religião não terá mais o monopólio da legalidade/legitimidade para fundamentar as estruturas
sociopolíticas, jurídicas e culturais.
http://www.vermelho.org.br/noticia/272405-1
forçados, desde então, a abrir mão do uso da coerção, da censura e da imposição violenta
das verdades da fé. Na visão de alguns pesquisadores, a laicidade estatal, no Brasil, não
possui força normativa e cultural para promover a secularização e assegurar sua própria
reprodução.
http://www.ofmscj.com.br/?p=3594
No dizer do sociólogo da religião Ricardo Mariano (MARIANO, 2011), ao contrário, tem “sido acuada pelo avanço de
grupos católicos e evangélicos politicamente organizados e mobilizados para intervir na esfera pública”, pois “gozam de
situação legal privilegiada”, conseguindo “volta e meia, através de seus lobbies e de sua representação parlamentar,
forçar uma insuportável capitulação do poder público”.
A laicidade não constitui propriamente um valor ou princípio nuclear da República
brasileira, que deve ser defendido e preservado a todo custo, nem a sociedade brasileira
é secularizada como a francesa e a inglesa [...] o que [...] constitui séria limitação às
pretensões mais ambiciosas de laicistas.
Atividade 5
A religião, na modernidade, se tornou uma linguagem política, de protesto e identidade. Mas, entre o mundo
medieval e o mundo moderno, emergiram a laicidade e a secularização.
a) A religião, como linguagem de poder e como poder da linguagem, ocupa lugar central no mundo moderno.
b) A religião, como linguagem de poder e como poder da linguagem, não ocupou lugar central no mundo do
medievo.
c) A religião, apesar de perder a centralidade no mundo moderno, reproduziu velhos sentidos e não mobilizou
mudanças e lutas reacionárias.
d) A religião, no mundo moderno, adquiriu novos sentidos públicos, políticos e sociais, mobilizou mudanças e
lutas reacionárias.
e) A religião, como centro do mundo moderno, perdeu sentidos públicos, políticos e sociais, mas mobilizou
mudanças e lutas reacionárias.
Notas
INSERIR TÍTULO AQUI1
Referências
CAMURÇA, Marcelo. Religião como organização. PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (orgs.). In: Compêndio de Ciência da
Religião. São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013, p. 287-298.
DILTHEY, Wilhelm. Introdução às ciências humanas — tentativa de uma fundamentação para o estudo da sociedade e da
história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. p. 159.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 13.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016.
GIL FILHO, Sylvio Fausto. Espaço sagrado. Estudos em geografia da religião. Curitiba: Intersaberes, 2008.
MARIANO, Ricardo. Laicidade à brasileira. Católicos, pentecostais e laicos em disputa na esfera pública. In: Revista Civitas,
Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 238-258, p. 254, maio-ago. 2011, disponível aqui <https://goo.gl/M64oBT> . Acesso em: 05
fev. 2018.
PIERUCCI, Antônio Flávio. Religião como solvente: uma aula. In: Novos estudos. CEBRAP. São Paulo, n. 75, p. 111-127, jul.
2006. Disponível em: aqui <https://goo.gl/GnfB67> . Acesso em: 05 fev. 2018.
SILVEIRA, Emerson Sena; MORAES JÚNIOR, Manoel Ribeiro de. A dimensão teórica dos estudos da religião: horizontes
histórico, epistemológico e metodológico nas Ciências da Religião. São Paulo: Fonte Editorial, 2017.
Próximos Passos
Espiritualidade e “pós-modernidade”.
Explore mais
Leia os textos:
Elementos para uma cartografia da fé: usos religiosos do espaço urbano e interpelação da laicidade
<https://goo.gl/MA1Vs1> . Acesso em 26 fev. 2018.
Turismo religioso popular? entre a ambiguidade conceitual e as oportunidades de mercado
<https://goo.gl/zK7gNY> . Acesso em 26 fev. 2018.
O potencial da Ciência da Religião de criticar ideologias — um esboço sistemático <https://goo.gl/TG5fE9> .
Acesso em 26 fev. 2018.
Disciplina: Ciências da Religião
Apresentação
As reflexões acadêmicas sobre as linguagens da religião são desafiadas por uma
pauta de fenômenos que não cessa de ampliar-se, exigindo novas competências dos
pesquisadores dos fenômenos religiosos, inclusive os teólogos: abertura de mente,
disposição para aprender novas linguagens, sensibilidade ampla, inclusive artísticas,
controle consciente dos preconceitos religiosos, políticos e artísticos.
Objetivos
Compreender a religião como linguagem das Ciências da Religião.
Identificar a linguagem estética e política da religião.
Apontar fatos e contextos básicos das linguagens da religião.
Introdução
História da humanidade
Modernidade
A religião e a linguagem
Você viu o quanto a religião está ligada ao espaço, o quanto o sagrado se fez
no espaço e é no espaço que a religião desenvolveu formas específicas de
experiência, individual e coletiva, do religioso.
sacralidade.
Atividade
1. A religião possui muitas linguagens e é, ela mesma, uma poderosa
linguagem. Em relação à linguagem espacial da religião, assinale a
alternativa correta:
Observe que muito tempo depois essas tradições foram registradas, por
exemplo, nas grandes civilizações mundiais (egípcia, babilônica, assíria, as
hindus, inca, maia, astecas, etrusca, grega, romana etc.).
Cada uma dessas civilizações é um mundo, com muita riqueza, com milhares
de anos. É preciso falar das centenas de pequenas sociedades existentes e
que existiram em todos os lugares do mundo, com seus ritos, cultos, suas
divindades etc.
Saiba mais
Muito desse rico material foi perdido, mas uma parte foi registrada por
etnólogos, antropólogos, missionários, viajantes de grandes centros e
cidades mundo afora. As transformações, ao longo da história, foram
muitas, mas é possível agrupar em torno de alguns momentos
(nomadismo, invenção da agricultura, invenção do alfabeto, era do
bronze e do ferro, era das grandes civilizações). No Mesolítico e Neolítico,
mais ou menos entre 10 e 8.000 a.C., ocorreu o fim da glaciação (longos
invernos) e a invenção da agricultura.
Muito desse rico material foi perdido, mas uma parte foi registrada por
etnólogos, antropólogos, missionários, viajantes de grandes centros e
cidades mundo afora. As transformações, ao longo da história, foram
muitas, mas é possível agrupar em torno de alguns momentos
(nomadismo, invenção da agricultura, invenção do alfabeto, era do
bronze e do ferro, era das grandes civilizações). No Mesolítico e Neolítico,
mais ou menos entre 10 e 8.000 a.C., ocorreu o fim da glaciação (longos
invernos) e a invenção da agricultura.
Comlech
Por isso, acreditava-se que Cnum criava os corpos das crianças nas margens
dos rios, como o oleiro amassa e elabora o barro, colocando-as no ventre das
suas mães sendo que a alma (ka) seria soprada por Heqet, a deusa da
fertilidade com cabeça de sapo, no momento do nascimento.
* Surata 2
(Fonte: https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/93
<https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/93> )
(Fonte: https://www.bibliaonline.com.br/vc/sl/93
<https://www.bibliaonline.com.br/vc/sl/93>
Saiba mais
Upanishads
Rig-veda
Sama-veda
Yajur-veda
Atharva-veda
Leitura
Dica
Assista a este raro documentário raro, Lendas dos Orixás - Minissérie
Mãe de Santo <https://www.youtube.com/watch?
v=aJ2o5shbfYM> , da extinta TV Manchete, com narração da atriz Zezé
Motta. Acesso em 27 fev. 2018.
Pense também que quando se fala religião, é preciso levar em conta muitas
diferenças, estruturas e grupos internos. Na história do Mundo Ocidental
houve muitos conflitos entre religião e arte, muitas vezes devido a
incompreensões de homens e mulheres que desconhecem as linguagens da
religião e da arte. Mas, por outro lado, houve muito enriquecimento mútuo
entre religião e arte.
Você não poderia deixar de, pelo menos, ver outros nomes como:
Giotto di Bondone (1276-1337);
Leonardo da Vinci (1452-1519);
Rafael Sanzio (1483-1520);
Michelangelo Merisi de Caravaggio (1571-1610);
Rembrandt Harmensz van Rijn (1606-1669);
Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), autor da famosa escultura O êxtase
de Santa Tereza;
tantos outros artistas, pintores, músicos etc.
Pelo título, você já deve imaginar que se trata da saga do povo hebreu
que viveu cativo no Egito esperando pelo libertador Moisés, que os
conduziria até Canaã, a Terra Prometida por Deus. O diretor procurou
recriar as culturas egípcia e hebreia (parte do filme foi rodada no Monte
Sinai e no Egito), os dilemas enfrentados por Moisés etc.
O livro de Êxodos, na tradição judaico-cristã e o filme Os dez
mandamentos contam que ele teria sido adotado pela irmã do Faraó,
após sua mãe criar uma estratégia para burlar o edito de morte baixado
contra os hebreus (colocar o recém-nascido em uma cesta próximo ao
lugar onde a família real se banhava), e se tornado um príncipe,
aprendendo, portanto, a cultura egípcia.
A religião e as linguagens
mercadológica, da mídia, do
consumo e da política
A Reflita um pouco sobre como o mercado, o consumo e as mídias imperam
no mundo moderno. É preciso assinalar a diversidade e a polissemia
presentes no ciberespaço: redes sociais eletrônicas, chats, portais,
hipertextos, blogs e vlogs, todos eles portadores de especificidades técnicas e
comunicacionais, todos eles são campo de atuação das ortodoxias ou das
heterodoxias 5.
As páginas eletrônicas das grandes e pequenas tradições religiosas contam-se
aos milhares, algumas ligadas a grupos atuantes de clérigos, leigos,
movimentos e associações que investem dinheiro e tempo na organização e
manutenção dessa complexa engenharia da memória. O que emerge é uma
imagem dinâmica, múltipla e polissêmica, afinal, qualquer tradição religiosa
submetida a um “microscópio”, fará saltar aos olhos muitas diversidades
internas, algumas vezes sutis.
Nas redes sociais, a memória da tradição religiosa é apropriada de forma
polissêmica e fragmentada e é a partir desse acesso seletivo que a mesma é
apresentada, publicizada e defendida como verdade legítima. Assim, a religião
tornou-se uma linguagem política de reação conservadora ou de busca pela
igualdade e justiça social. Tornou-se elemento de identidade em muitos
sentidos, resumidos em duas direções:
Espiritualidade e pós-modernidade
Uma das questões mais polêmicas nas pesquisas das Ciências da Religião tem
sido a relação entre pós-modernidade e espiritualidade.
Leitura
Na espiritualidade predominam a disposição de serviço,
a tolerância para com a crença (ou a descrença) alheia,
a sabedoria de não transformar o diferente em
divergente.
BINGEMER, 2016
O fato é que o processo de secularização apresenta
uma face positiva e não apenas negativa
Bingemer, 2016
Saiba mais
Notas
Arte rupestre1
Refere-se às eras pré-históricas (anteriores à escrita), encontradas em paredes e
tetos de cavernas, rochas etc. Temos a pintura rupestre, feita com pigmentos, e a
gravura rupestre, imagens gravadas em incisões em rocha, madeira ou ossos. Há
variados estilos, técnicas e materiais. Geralmente, representam animais, natureza e
pessoas.
Surata2
Observe que esse livro foi criado como apoio aos cursos de História da Religião que o
filósofo, historiador e cientista da religião romeno lecionava na Universidade de
Chicago, EUA.
Ortodoxias religiosas4
Heterodoxias5
Referências
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes. 1992, p. 59.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São
Paulo: Paulinas, 2016.
PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (Orgs.). Compêndio de Ciência da Religião.
São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013.
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