Filosofia e Sociologia - Enem

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 48

CIÊNCIAS HUMANAS – ENEM

Componente curricular: Filosofia e sociologia

Filosofia & Sociologia


Página | 1
FILOSOFIA

1. SURGIMENTO DA FILOSOFIA

A palavra Filosofia é de origem grega e significa amigo do saber, foi usada


pela primeira vez pelo matemático grego Pitágoras, no século VI a.C. Os pensadores
gregos dessa época foram os responsáveis pela criação da filosofia ocidental.
Costuma-se dividir a Filosofia Grega em quatro períodos:

a) Período pré-socrático – do século VII ao século V a.C. Caracterizado pela


investigação acerca da physis e pelo início de uma forma de argumentar e expor as
ideias;

b) Período socrático – do final do século V ao século IV a.C. Caracterizado


pela investigação centrada no homem, sua atividade política, suas técnicas, sua
ética. Também considerado o apogeu da filosofia grega;

c) Período pós-socrático – do século IV ao século III a.C. Caracterizado


pela tentativa de apresentar um pensamento unificado a partir de diversas teorias
do passado. Interessava em fazer a distinção entre aquilo que poderia ser objeto do
pensamento filosófico.

d) Período helenístico ou greco-romano – do século III a.C. ao século VI


d.C. Engloba o período do Império Romano e dos Padres da Igreja. Trata-se das
relações entre o homem, a natureza e Deus.

Costuma-se dizer que os primeiros filósofos foram gregos e surgiram no


período arcaico. Chamamos de “milagre grego” a passagem da mentalidade mítica
para o pensamento crítico racional e filosófico. Podemos citar alguns fatores que
contribuíram para o surgimento da filosofia:
 A invenção da escrita e da moeda;
 A lei escrita;
 A fundação da pólis (cidade-Estado).

2. DO MITO AO LOGOS

O Pensamento mitológico surgiu de uma tentativa de explicar o mundo à


sua volta. A complexidade da natureza e da sociedade fizeram os primeiros sábios
a tentar explicar questões importantes como: Por que envelhecemos? Como surgiu a
Physis – natureza? Qual a origem dos homens?

O mito como tentativa de explicação tem origem intuitiva. Vem da


necessidade humana de explicações e do desejo de afugentar a insegurança
diante do desconhecido. A explicação mitológica, não se baseia na razão, mas
antes de tudo, sustenta-se pela fé na ideia da existência de forças superiores,
sobrenaturais que estabelecem modelos exemplares de conduta aos humanos. A
tentativa de explicação do surgimento do universo através de explicações míticas

Página | 2
chamamos cosmogonia. Esta era baseada em mitos (narrativas) que criavam, a
partir de imagens de deuses, de seres inanimados, animais, etc., a estrutura
hierárquica e organizada do mundo.

O surgimento da filosofia significou uma ruptura com o pensamento mítico,


a filosofia ao se preocupar com o logos (lógica) e as noções de causa e efeito, rompe
com o pensamento mítico. A Filosofia surge para substituir o modelo mitológico-
cosmogônico, pelo cosmológico-racional.

3. RAZÃO E VERDADE

São as ideias que sempre nortearam a filosofia desde o filósofo grego


Sócrates. Elas nos trazem o apreço pelo pensar melhor, através do uso da razão e
através dos constantes questionamentos, buscando chegar à verdade. O uso da
razão humana de modo a desnudar o véu da ignorância e derrubar ideias e
comportamentos se for o caso, para a busca da essência por trás das aparências.

A própria ideia de verdade provocava debates acalorados na antiguidade.


Os filósofos sofistas como Parmênides relativizavam-na e defendiam que
diferentes pontos de vista trariam também diferentes verdades, pensamento
totalmente oposto ao de Sócrates que acreditava que através da razão e da
indagação poderíamos destilar o conhecimento até chegar na essência que seria a
verdade. Acreditava numa verdade e moral superior e absoluta.

4. PENSAMENTO PRÉ-SOCRÁTICO

Os filósofos pré-socráticos rompem com as explicações do mundo e dos


seres através da mitologia, procurando explicações racionais. Portanto, temos uma
passagem gradual do pensamento mítico para o pensamento racional (logos).

O uso da razão (logos) para explicar o mundo e os seres está associado ao


surgimento da pólis, isto é, as cidades-estados gregas. Uma das características
marcantes da cidade-estado (especialmente em Atenas) era a discussão política
na ágora (praça pública) pelos cidadãos. Isso contribuiu para o desenvolvimento
do pensamento racional, baseado numa formulação coerente e convincente para
refletir sobre todas as coisas, não somente a política.

Os filósofos denominados pré-socráticos são aqueles que buscaram uma


explicação racional centrada na natureza. Já Sócrates inaugurou outro tipo de
reflexão, voltado ao ser humano (questões morais e políticas). Os primeiros
filósofos procuraram encontrar o princípio substancial existente em todos os
seres, a fonte de todas as coisas (arché). Os filósofos Tales, Anaximandro e
Anaxímenes, todos da cidade-estado de Mileto, foram os primeiros pré-socráticos.

Tales de Mileto (623-546 a.C) é considerado o primeiro filósofo, por ter


começado a tentativa da explicação racional. Buscou no elemento água a fonte

Página | 3
(arché) do conjunto de todas as coisas (physis). Para ele, a água estava presente
em tudo que existia.

Anaximandro (611-547 a.C.), discípulo de Tales, acreditava que a essência


era o movimento e a transformação constante, dizia que na natureza tudo está em
constante transformação e nela nada se perde.
Anaxímenes (585–528 a.C.) disse que o ar é o elemento originário de tudo
o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência (o
ar é a Arché).

Já Pitágoras da ilha de Samos, defendia que o número é a essência e


harmonia do universo. Heráclito através de aforismos (frases curtas e
marcantes) dizia que “a guerra é mãe de todas as coisas”. Por isso, via que o fogo
era o elemento da natureza que governaria os movimentos dos seres com chamas
vivas e eternas. Parmênides (510-470 a.C) proclamou a existência do ser, isto é,
não seria concebível a sua não existência. Sua célebre frase “o ser é, e o n~o ser n~o
é”, mostra que o ser é eterno, a subst}ncia permanente das coisas. Se o ser é tudo, o
não ser não existe, não é nada. Demócrito acreditava que a matéria, em qualquer
forma, era constituída de átomos rígidos, muito pequenos e indivisíveis.

5. PENSAMENTO CLÁSSICO

Se para o pensamento pré-socrático a atenção era com a physis (conjunto


de tudo, a natureza) e sua fonte (arché), a partir do século V a.C, com Sócrates e
Platão, a preocupação será com os seres humanos e suas relações com a vida
moral, social e política.

Os sofistas eram filósofos que ensinavam técnicas de discussão, de


persuasão, para aqueles cidadãos que queriam se destacar na vida pública e
privada. Transmitiam aos seus discípulos todo um jogo de retórica e oratória,
com domínio de doutrinas divergentes e todas possíveis argumentações sobre os
mais variados temas, tanto para convencer a plateia de uma ideia ou refutar
argumentações.

Com o tempo, o emprego da palavra sofista ganhou tom pejorativo de


enganador e impostor, aquele que manipula raciocínios e
produz conclusões falsas. Inclusive, Sócrates irá realizar
vários debates críticos com os sofistas, pois para ele os
sofistas não buscavam o conhecimento verdadeiro, não
buscavam a sabedoria. . A visão de Sócrates e Platão sobre
os sofistas é objetiva. Eles não podem vender e relativizar a
verdade.

O pensamento de Sócrates foi tão marcante para o


pensamento ocidental que seu nome marcou um divisor no
pensamento filosófico. Bem diferente dos sofistas e dos pré-
socráticos, desenvolveu suas reflexões em praças públicas Sócrates
conversando com os jovens, mostrando a necessidade de unir a vida concreta ao

Página | 4
pensamento. Concentrou-se nas problemáticas dos seres humanos, refutando o
relativismo da moralidade e a retórica para atingir interesses pessoais.

Platão, discípulo de Sócrates foi quem deu “voz” a


Sócrates, pois este não deixou nada escrito. A teoria do
mundo das ideias de Platão era dualista, pois dividia a
realidade em dois mundos: o sensível e o inteligível. O
primeiro corresponde à matéria, a aparência. As coisas
são temporárias, mutáveis e corruptíveis. Uma cópia
imperfeita do mundo inteligível. Já este corresponde às
ideias, que permite através do intelecto experimentar a
dimensão do eterno, do imutável, a ideia do bem. Seu
pensamento mais conhecido sem dúvida é a alegoria da
caverna em que tenta narrar o processo de descoberta Platão, discípulo de Sócrates
da verdade, como a saída de uma caverna Aqueles que conseguem sair da caverna
e adquirem o verdadeiro conhecimento tornam-se filósofos e devem retornar ao
meio das pessoas comuns para orientá-las no reto caminho do saber. No que se
refere a política, Platão defendia que somente os filósofos, por amarem e buscarem
a sabedoria, teriam condições de libertarem as demais pessoas das aparências do
mundo sensível, das “ilusões da caverna”. Imaginou uma sociedade ideal, na qual
seria governada por reis-filósofos, que poderiam atingir o mundo das ideias e
colocar em prática a ideia do bem (na perspectiva de bem coletivo).

Aristóteles foi aluno de Platão. No conjunto de


obras denominado Metafísica, Aristóteles buscou
investigar o “ser enquanto ser”. Em termos filosóficos
gerais defende que podemos chegar ao conhecimento da
verdade através do profundo conhecimento do que há de
concreto produzido pelo homem e de seu
comportamento. Para ele essência e aparência são partes
do mesmo todo, principalmente inseparável. Aristóteles
acha que o ser humano não pode ser sensível e ideal, mas
que o ser é uno e uma condição é inseparável da outra.
Ele vai dizer que o ser humano é um animal racional e
Aristóteles político. Para viver de acordo com sua essência humana,
o homem precisa orientar os seus atos através da razão, que o conduzirá à prática
da virtude. Virtude é entendida aqui como meio-termo entre o equilíbrio do
excesso e ausência de um atributo.

6. ESCOLAS HELENÍSTICAS

Período de domínio macedônio e fragmentação do pensamento grego.


Percebe-se aí uma grande influência da cultura oriental na ocidental e vice e versa.
Os helenistas buscavam a ATARAXIA, ou seja, simplesmente a paz de espirito, e
para tanto negaram muito das filosofias anteriores.

Página | 5
1. Cinismo
Era constituída por filósofos que se propuseram a viver como os cães da cidade,
sem qualquer propriedade ou conforto. Seus principais representantes são
Antístenes e Diógenes de Sínope. Pregava o desapego dos bens materiais e
convenções sociais, vivendo com o mínimo.

2. Céticos
Para esta vertente do pensamento tudo é incerto nenhum conhecimento é seguro
e qualquer argumento pode ser contestado. Logo, qualquer busca do conhecimento
verdadeiro é inútil e as pessoas devem se abster em realizar julgamentos. O
principal pensador cético foi Pirro da cidade de Élis, para o filósofo Pirro, o
verdadeiro sábio é aquele que se fecha em si mesmo e silencia, isto é, não emite
nenhum juízo – essa atitude proporcionava a felicidade.

3. Epicurismo
Epicuro pregava que tudo é matéria e o homem deve buscar o prazer, que é o
princípio e o fim de uma vida feliz. Mas essa busca deve ser equilibrada, nos
prazeres necessários. Epicuro é essencialmente moderado e prega a busca do
equilíbrio.

4. Estoicos
Para os estoicos todas as coisas são ligadas por uma essência divina, e tudo é
designado por uma razão divina. Pregam que é necessário ter força para lutar pelo
que se acredita e para alcançar a ataraxia é necessário coragem para enfrentar o
que podemos mudar e aceitar as leis da natureza.

7. A FILOSOFIA MEDIEVAL: RAZÃO E FÉ

A Idade Média foi um longo período. Do século IV ao XIV. Esta época foi de
uma sociedade rural, feudal, servil e cristã. Foi uma época de monarquias
descentralizadas, em que o poder dos reis era justificado pelo poder religioso. O
ritmo era o da natureza e o ditado pela igreja. O pensamento católico medieval terá
uma profunda fundamentação filosófica e teológica nos grandes pensadores da
Igreja.

A filosofia medieval é conhecida como Patrística (os pais da igreja) em que


os fundamentos teológicos do catolicismo são lançados e seu principal
representante é Santo Agostinho. Temos também a filosofia escolástica, mais
ligada a um mundo em transformação, em pleno renascimento urbano. Neste
momento a preocupação da Igreja é a conciliação entre fé e razão e nas
justificativas divinas para o poder dos homens. Nela temos como principal
representante São Tomás de Aquino.

Os renascentistas que criaram o termo “idade das trevas”. Eles se referem


à idade média como um período obscuro, totalmente dogmático, ignorante,
estático, sem dinâmica ou criações importantes. Todas as explicações para os
fenômenos naturais ou não era de sustentação teológica. Predomina o que
chamamos de pensamento teocêntrico (o pensamento religioso ocupa o centro de

Página | 6
tudo). Todo funcionamento da natureza e da vida humana era compreendida como
vontade e benevolência de Deus.

Santo Agostinho nasceu na Argélia, no norte da África, e viveu o


nascimento e consolidação da Igreja enquanto instituição mais poderosa. Possuía
uma profunda influência do Platonismo. Quando adulto converteu-se à doutrina
do Maniqueísmo (que prega que o universo é feita por
um par de opostos: O bem X mal). Extremamente culto
para a época, leu os clássicos dos filósofos gregos e foi o
primeiro a tentar conciliar fé e razão.

Santo Agostinho acreditava que na busca dos


prazeres mundanos o homem busca o amor, mas só
encontrará em Deus. A filosofia agostiniana é uma
constante busca da verdade, que culmina na Verdade, em
Cristo. Pregava o desapego do desejo, o desprezo a si
mesmo e o amor a Deus.
Santo Agostinho

São Tomás de Aquino viveu no século XII


durante o período das transformações trazidas pelo
renascimento urbano e comercial. De acordo com ele,
Deus é o criador de tudo e nada existe sem que tenha
sido criado por ele. Toda natureza é obra do seu amor,
sabedoria e bondade. Sua obra é a maior referência do
pensamento escolástico, que vigorou nas
universidades medievais (espaços católicos) de uso da
razão para chegar à Deus. Era a filosofia cristã ensinada
pelos acadêmicos (escolásticos). O método escolástico
consistia em leitura critica de obras selecionadas,
aprendendo a apreciar as teorias do autor, por meio do
estudo minucioso de seu pensamento e das
São Tomás de Aquino consequências deste.

8. O RACIONALISMO CARTESIANO

René Descartes é considerado o “pai da filosofia


moderna”, porque, ao tomar a consciência como ponto de
partida, abriu caminho para a discussão sobre ciência e
ética, sobretudo ao enfatizar a capacidade humana de
construir o próprio conhecimento. Escreve em tom
pessoal, mais próximo ao estilo de Santo Agostinho, e
narra sua própria trajetória intelectual apresentando suas
dúvidas.

Era um racionalista que procurou por toda a vida


um conhecimento que fosse sólido, simples e confiável.
Procurava uma verdade inquestionável. Pregava que era René Descartes

Página | 7
possível chegar à verdade pela razão, e sua tese mais importante era de que cada
um deveria pensar por si mesmo.

Leva ao máximo a ideia da dúvida, mas diferente dos céticos. Eles


acreditavam ser possível duvidar de tudo, mas Descartes quer um conhecimento
que seja absolutamente resistente à dúvida, que para ele, a própria dúvida. Não
aceitar nada como verdadeiro de antemão.

“Cogito, ergo sum” significa “penso, logo existo”. Descartes alcança essa
conclusão após duvidar da verdade de todas as coisas. A seu ver, mesmo que ele
duvidasse de tudo, não poderia duvidar de que ele mesmo existe pelo menos
enquanto “coisa que pensa”.

9. O CONHECIMENTO

O conhecimento é uma característica exclusivamente humana. Um animal


para sobreviver necessita unicamente da utilização de seus instintos (capacidade
biológica), como por exemplo, o peixe a nadar, a abelha criar sua colmeia e seu mel
ou então uma baleia amamentar seu filhote. Diferentemente o ser humano cria
diferentes formas para sua sobrevivência, pois ao interagir diretamente com o
meio ambiente, produz condições para produção de uma colheita, construção de
seu abrigo para se proteger das adversidades temporais ou então podemos pensar
na construção de uma grande indústria o que demanda muito cálculo, raciocínio
lógico e organização social. A característica humana que pode ser a única espécie
capaz de produzir e se apropriar do conhecimento, se faz presente ao longo da
história social humana. Devido a isso podemos afirmar que o conhecimento passou
por diferentes formas de elaborações, sistematizações e também de
transformações.

Na Antiguidade, mais precisamente na Grécia Antiga, alguns pensadores


(filósofos) buscaram através da elaboração e sistematização do pensamento
estabelecer respostas aos problemas reais, considerando a existência de diferentes
culturas, mas assimilando e modificando seus conteúdos. Dentro desse período
ocorre a presença de diferentes filósofos que buscaram a produção do
conhecimento com o objetivo de explicar ou então de problematizar algo.

Podemos citar Heráclito de Éfeso que dizia “n~o podemos banhar-nos duas
vezes no mesmo rio, porque as águas nunca são as mesmas e nós nunca somos os
mesmos”, com essa frase elaborou a ideia de que a realidade nos remete à
harmonia dos contrários na qual não para de nos transformar uns nos outros.
Sendo assim para Heráclito há a existência da diferença entre o conhecimento
oferecido pelos nossos sentimentos (ilusório) e o conhecimento alcançado por
nossos pensamentos (realidade). Em contraponto a ideia de pensar e agir,
Parmênides de Eleia elaborou o pensamento e a afirmação de que tudo o que
existe é eterno, imutável, indivisível e imóvel, sendo assim só podemos pensar
naquilo que é idêntico a si mesmo. Em seu pensamento afirmava que nossos
sentimentos nos revelam algo falso e enganoso nos demonstrando um mundo em
constante mudança, onde tudo é contrário de si mesmo.

Página | 8
Outro filósofo que contribuiu com a questão do conhecimento foi Sócrates,
esse que afirmava que para conhecermos a verdade devemos distanciar as ilusões
dos sentidos, pois esses nos possibilitam somente as aparências das coisas, as
imposições das palavras e a multiplicidade das opiniões já que essas são
contraditórias e relativas de pessoa para pessoa e em um mesmo indivíduo.
Em oposição ao pensamento socrático havia na Grécia Antiga o que
chamamos de Sofismo, estes recorriam à argumentação como instrumento de
convencimento e afirmavam ser a verdade algo relativo.

Platão propôs a busca pelo conhecimento através das opiniões contrárias e


dos debates, buscando levantar diferenças entre o conhecimento verdadeiro
(conhecimento inteligível – composto pelo raciocínio, esse que nos leva ao
exercício do pensamento purificando nossas sensações e opiniões) e a ilusão
(conhecimento sensível – composto pela crença que nos remete a confiança no
conhecimento sensorial).

Aristóteles elaborou a classificação de sete formas ou graus de


conhecimento, sendo eles: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem,
raciocínio e intuição. Para esse filósofo a organização das sensações nos levam à
percepções que permitem a imaginação. A junção e organização dessas três
características nos remetem à memória, à linguagem e ao raciocínio.

O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete – Aristóteles

O conhecimento racionalista foi uma corrente do conhecimento filosófico


que surgiu para confrontar as ideias religiosas da época, já que os fenômenos
religiosos eram tidos como verdade única. O Racionalismo defende e prioriza a
ideia de que a razão é o fundamento do conhecimento verdadeiro, apoiada em
si mesma sem apoio de experiências sensíveis, sendo a fonte de todo
conhecimento.

Essa forma de conhecimento pode ser vista por três viés, sendo a primeira a
metafísica, abordando um caráter racional da realidade resultando em um mundo
ordenado de forma lógica e sujeito a leis, a epistemológica, que contempla a razão
Página | 9
como fonte de conhecimento verdadeiro e a ética, essa que proporciona destaque
a racionalidade.

O empirismo é a escola de pensamento filosófico que pensa estar na


experiência a origem de todas as ideias, é o que chamam de experiência sensível.
Para essa corrente do conhecimento as sensações e as percepções são causadas
pela relação entre estímulos externos e o cérebro. Ocorre aqui uma relação direta
entre os estímulos de nossas sensações e nosso sistema nervoso, estabelecendo
assim nossos sentidos. O conhecimento é obtido por soma e associação das
sensações na percepção, em um processo que depende da frequência, da repetição
e da sucessão dos estímulos externos e de nossos hábitos. Dentro dessa corrente
filosófica podemos destacar dois grandes pensadores:

a) John Locke (1632-1704): Foi o primeiro a formular o pensamento


empirista. Afirmou que uma criança ao nascer tem seu cérebro como uma tábua
rasa e devido a isso os seres humanos não têm ideias inatas por isso as
experiências nos levam a aquisição de conhecimento. A formação do conhecimento
se dá por meio de um processo de combinação e associação das experiências,
chamado por Locke de ideia simples, na qual a associação por semelhanças ou
diferenças formam ideias complexas.

b) David Hume (1711-1776): Seu pensamento é caracterizado pelo


ceticismo, afirmou que só existe o que percebemos, percepção, essa que tem duas
fontes de origem: Impressão (características fornecidas pelos sentidos, são nossas
percepções) e Ideias (representação das impressões em nossa mente, na medida e
forma em que nos lembramos ou imaginamos). Segundo Hume as ideias são como
cópias de nossas impressões, por isso estão em um plano secundário. Devido a
isso, as experiências são a base de todo conhecimento, na qual podemos chamar de
raciocínio, aquilo que é um fato.

10. FILOSOFIA POLÍTICA E DIREITOS HUMANOS

O termo política é derivado do grego antigo politeía, que indicava todos os


procedimentos relativos à pólis, ou cidade-Estado. Por extensão, poderia significar
tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras
definições referentes à vida urbana.

A política é a arte de governar, de gerir o destino da cidade. Desse modo,


podemos entender a política como a luta pelo poder: a conquista, a manutenção e
a expansão do poder. A política trata, portanto, das relações de poder. Poder é a
capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos
ou grupos humanos. O poder supõe dois polos: o de quem exerce o poder e o
daquele sobre o qual o poder é exercido.

Página | 10
10.1. FUNDAMENTOS DO ESTADO MODERNO

O Estado é uma instituição muito antiga, que acompanhou o


desenvolvimento da civilização. Ao longo da história humana foram adotados os
mais diversos princípios de legitimidade do poder do Estado.

Nos Estados teocráticos, o poder legítimo vem da vontade de deus, o poder


político é exercido pelo imperador, que era considerado o representante de
deus ou o próprio deus na terra. Não existe propriedade privada, pois tudo o que
há na superfície pertence ao imperador, terras, riquezas, tudo. O Estado Egípcio e
Mesopotâmico (este governado por vários povos no decorrer dos séculos) era
teocrático, o imperador era uma figura divina e controlava os homens e grandes
obras para a obtenção de alimentos e realização de obras públicas.

Na Grécia Antiga nunca existiu um estado centralizado, o território era


dividido em várias cidades-Estados (pólis) que gozavam de uma plena autonomia
política. Roma foi um grande estado e com organização de estado centralizado
desde seu nascimento, como uma pequena cidade estado na península itálica. Com
seu crescimento a estrutura administrativa centralizada e organizada cresceu e
desenvolveu-se. Roma foi inicialmente uma monarquia, depois uma república
expansionista controlada pelo senado, por fim um império. Sempre foi governada
pela aristocracia patrícia, que é a elite política, que é guerreira e proprietária de
terras.

O período medieval caracterizou-se pelas monarquias descentralizadas.


Há uma organização monárquica hereditária, mas não há leis escritas por
predominar os costumes germânicos baseados na oralidade e tradição. O rei
tornou-se um poder simbólico, já que o território estava fragmentado em vários
feudos, cada um deles com seu senhor feudal. Cada feudo possuía seu próprio
exército e recolhia impostos em seu favor. A Igreja era a única instituição que
estava presente por todo o território europeu e exercia uma grande influência
ideológica, pois através de seus ensinos justificava a ordem social vigente e as
formas de poder instituídas.

O Estado Moderno foi uma nova forma de organização política do Estado


durante a Idade Moderna, ou seja, entre os séculos XIV e XVIII. No Final do século
XVIII ocorre a revolução Francesa que criará uma nova forma de estado, baseado
nos princípios da divisão de poderes e participação popular, ou seja, quebravam
filosoficamente o sentido atribuído ao poder monárquico e absoluto do estado
moderno. O Estado Nacional Moderno pode também ser chamado de Estado
Nacional Absolutista ou Estado Burguês. A burguesia enquanto classe econômica
passa a financiar o Estado Nacional e seu exército enquanto o Estado criava
politicas favoráveis ao desenvolvimento comercial da burguesia e do reino. O
poder econômico passa a se ligar intimamente ao poder político, que
tradicionalmente está ligado ao poder religioso. Chamamos Estado absolutista
pois o poder está absolutamente concentrado nas mãos do rei. Não havia
constituição e a vontade máxima era a do rei. Controlava tudo: a nobreza, o
comércio, o exército e todos os impostos eram recolhidos em favor do rei. Nesta
época os principais pensadores políticos vão justificar religiosamente o poder do

Página | 11
rei, como Jaques Bossuet e a visão desvinculada da moral religiosa de Nicolau
Maquiavel e Thomas Hobbes.

10.2. DEMOCRACIA

A democracia surgiu na Grécia, mas precisamente em Atenas, que é


considerada o berço da democracia. Foi implantada por volta de 510 a.C., quando
Clístenes liderou um rebelião vitoriosa contra o último tirano que governou a
cidade-estado. O regime político democrático instituído por Clístenes tinha por
princípio b|sico a noç~o de que “todos os cidad~os têm o mesmo direito perante as
leis”. Entretanto, a democracia ateniense era considerada excludente, elitista,
patriarcal e escravista, porque apenas uma pequena minoria de homens
proprietários de escravos poderia exercê-la. Os cidadãos participavam da
Assembleia do Povo, órgão de decisão que ficava a cargo de aprovar ou rejeitar os
projetos apresentados para a cidade. A ágora (praça pública) era o lugar
privilegiado onde o debate em torno dos problemas políticos e sociais enfrentados
pelos cidadãos atenienses se realizavam.

A palavra democracia é formada etimologicamente por dois termos gregos,


demos e kratia, “governo do povo”. Democracia é uma organizaç~o social em que
o controle político é exercido pelo povo. É um sistema de governo que resulta da
livre escolha de governantes, a qual é expressa pela união e a vontade da maioria
dos governados, confirmada por meio de votos.

A cidadania pressupõe a participação efetiva do povo na vida democrática


do país, de forma incontestável, mas coerente, mesmo que a contragosto dos
amantes da autocracia (governo baseado nas convicções de uma só pessoa). O
regime democrático fundamenta-se em três princípios gregos, que enalteceram a
real noção de igualdade na política: isonomia, isegoria e isocracia.

 Isonomia: É a igualdade de todos perante a lei;


 Isegoria: Todos os cidadãos têm igual direito de manifestar sua opinião
política (liberdade de expressão);
 Isocracia: É o direito de o cidadão participar da administração pública e
o ideal da igualdade de acesso aos cargos políticos.

Esses três princípios, desde então, revolucionaram a forma de fazer política,


tornando-se indispensáveis em qualquer democracia, quer sejam pela forma
direta ou representativa. Na falta de qualquer desses três princípios, restará
inexistente a ideia de democracia.

Além disso, para se exercer, de fato, a democracia, devem-se levar em conta


mais três aspectos: o conflito, a abertura e a rotatividade.

 Conflito: Uma das características básicas da democracia é a


heterogeneidade de pensamento, ou seja, a multiplicidade de vozes e
argumentos. Nesse âmbito o conflito só não é inevitável como salutar. A
divergência é parte componente de uma sociedade pluralista. Em uma

Página | 12
sociedade democrática os conflitos devem ser trabalhados, a partir da
discussão, de tal forma que possam ser superados.
 Abertura: Numa democracia as informações devem circular livremente
e a cultura não é privilégio de alguns.
 Rotatividade: Exercer o “lugar vazio”, ou seja, n~o devem existir
privilégios de classe ou de determinados grupos de interesses. Todos
devem ser representados, e nesse sentido, é de fundamental
importância que todos tenham as mesmas possibilidades e que o poder
econômico não prevaleça em face do pluralismo democrático.

Embora a democracia seja a antítese de todo poder autocrático, o exercício


do poder muitas vezes perverte-se nas mãos de quem o detém. Por exemplo, a
transparência é um atributo do espaço democrático, portanto, os governantes
devem tomar suas decisões às claras, para que os governados “vejam” como e onde
as tomam. No entanto, Bobbio diz que “o poder tem uma irresistível tendência a
esconder-se”, uma vez que “quem exerce o poder sente-se mais seguro de obter os
efeitos desejados quanto mais se torna invisível àqueles aos quais pretende
dominar”.

Ademais, aceitar a diversidade de opiniões, o desafio do conflito e a virtude


da tolerância constituem-se como os principais desafios a serem superados na
construção do Estado democrático.

10.3. TEORIAS POLÍTICAS

 PLATÃO (427 a.C. – 347 a.C.)


O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão. Ele escreveu
sobre o assunto principalmente em dois livros, A República e As Leis. Nestes livros,
apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é aquela onde cada
indivíduo desempenha a função na qual é mais habilidoso. Platão propõe que o
Estado e não a família, assuma a educação das crianças até os 7 anos, evitando
assim a cobiça e os interesses decorrentes dos laços afetivos e das relações
humanas inadequadas. A educação promovida pelo Estado tem em vista preparar
os indivíduos para exercerem as três funções fundamentais da vida coletiva: as
atividades que atendem às necessidades materiais, as de guarda e defesa da cidade
e as de governantes. Estes últimos deveriam ser os filósofos, uma vez que são os
homens mais sábios são os únicos preparados para exercer a justiça e a
administração da pólis.

Portanto, Platão propõe um modelo aristocrático de poder em que o poder é


confiado aos mais sábios, ou seja, os filósofos. Trata-se da sofocracia, a melhor
forma de governo, com a instituição do rei-filósofo. Platão critica a democracia
porque, por definição, o povo é incapaz de adquirir a ciência política. A pretensão à
igualdade democrática é falaciosa, porque a verdadeira igualdade baseia-se no
valor pessoal, que é sempre desigual, já que uns são melhores que outros. Para ele,
nessa forma de governo acaba prevalecendo a demagogia, característica do
político que manipula e engana.

Página | 13
 ARISTÓTELES (384 a.C. – 322 a.C.)
Ainda no mundo grego, Aristóteles vai discordar de Platão. Em Política,
Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade daquilo que é
público sobre aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. Para ele, as
pessoas dão mais valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que pertence a
todos. Recusa também a sofocracia, que atribui poder ilimitado a uma parte apenas
do corpo social, os mais sábios, alegando que a exclusão hierarquiza demais a
sociedade. Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma sociedade
perfeita e mais em compreender a realidade política de seu tempo, estudando as
leis de diferentes cidades e as formas de governo existentes. Para Aristóteles, a lei
é o princípio que rege a ação dos cidadãos, é a expressão política da ordem natural.

A melhor forma de organização política, defendida por ele, é um sistema


misto de democracia e aristocracia, chamado politeia, para evitar os conflitos de
interesses entre os ricos e pobres, conseguindo conciliar esses antagonismos, será
mais fácil assegurar a paz social. É dele também a ideia de que o homem é um
“animal político”, isto é, que faz parte da natureza humana se organizar
politicamente.

Formas de governo exemplificadas por Aristóteles

 AGOSTINHO, DE HIPONA (354 d.C. – 430 d.C.)


Em sua obra A cidade de Deus, Agostinho trata das duas cidades: a cidade
de Deus e a cidade terrestre. O pensamento Agostiniano acerca da politica está
permeado e fundamentado na transcendência do ser humano. Ele se articula com a
Teologia sobra a qual deposita suas esperanças, pois a politica, como função
especifica da Cidade Terrestre é importante enquanto atividade que promove a pax
romana temporalis e ao mesmo tempo prepara para a Cidade Celeste. O exercício
do poder politico em Santo Agostinho embora tenha valor relativo, como, aliás,
todo o mundo criado, desempenha um papel importante na sociedade terrestre
como meio que garante o bem comum e a segurança dos cidadãos. Para Santo
Agostinho a politica constitui uma atividade fundamental para que no seio da
sociedade humana haja o bem e a paz. A função politica só será corretamente
vivenciada se for pautada pelo interesse dos governantes em servir e prestar culto
ao verdadeiro Deus

Página | 14
 JACQUES BOSSUET (1627 – 1704)
Para o bispo Jacques Bossuet “Todo o poder vem de Deus, e o rei por ser o
maior representante do poder de Deus na terra deve ser dotado do poder máximo”.
Foi o teórico responsável por envolver política e
religião em sua tese. Ele partiu do pressuposto que o
poder real era também o poder divino, pois os
monarcas eram representantes de Deus na Terra. Por
isso, os reis tinham que possuir controle total da
sociedade. Dessa forma, eles não poderiam ser
questionados quanto às suas práticas políticas. Assim,
o monarca possuía o direito divino de governar e o
súdito que se voltasse contra ele estaria questionando
as verdades eternas de Deus .Sua teoria ficou
conhecida como o direito divino dos reis, sendo
considerado um dos maiores teóricos do absolutismo
monárquico, regime caracterizado pela centralização
de poder político nas mãos dos monarcas entre os Bispo Jacques Bossuet
séculos XVI e XVII.

 NICOLAU MAQUIAVEL (1469 – 1527)


Italiano da cidade de Florença, incorpora em termos políticos o espírito do
renascimento. Sua principal obra O príncipe provocou inúmeras interpretações e
controvérsias. Seu nome muitas vezes é interpretado como sinônimo de pessoas
frias, traiçoeiras e ardilosas (maquiavélicas). Foi considerado um grande teórico e
defensor do modelo absolutista da Europa.

O ponto central do pensamento de Maquiavel é inaugurar uma “nova


ética”, a política, que seria diferente da ética religiosa. A ética cristã se preocupa
fundamentalmente com a salvação da alma e que o
comportamento humano deve ser sempre bom,
enquanto preocupação da ética política é a salvação da
comunidade política, no contexto a salvação da cidade,
que para isso o príncipe pode ser mau se necessário.
Fundamentalmente coloca que o governante não precisa
ser bom e possuir virtudes, mas que é importante que
pareça que as possua. Por isso uma frase que sintetiza
bem seu pensamento é “os fins justificam os meios”.

Um dos capítulos do Príncipe questiona: É


melhor ser temido ou ser amado? Para Maquiavel, se
Nicolau Maquiavel
possuir os dois melhor, mas que diante da necessidade
de escolhas, não há dúvidas: ser temido, pois o amor pode ser desafiado, mas
dificilmente aquilo que se teme.

Maquiavel na obra “O Príncipe” separa a virtú (as virtudes propriamente


ditas) e a fortuna (a sorte). Ele observou que o estadista deve contar, para ter
sucesso, com sua própria capacidade pessoal, sua determinação ferrenha. Deve
dirigir sua energia para um determinado objetivo. A essas qualidades Maquiavel
denominou virtú, virtude, no sentido grego de força, valor, qualidade de lutador e

Página | 15
guerreiro viril. Não segundo os preceitos da moral cristã: bom e justo, verdadeiro.
Também observou que o estadista, ou político, não poderá garantir-se apenas com
suas qualidades pessoais, intrínsecas. Deveria contar também com a sorte (para o
bem ou para o mal), a oportunidade, o acaso, ou, como preferem alguns, o destino.
Ao imponderável, Maquiavel referia-se como fortuna. A dialética entre virtú e
fortuna seria capaz de explicar o sucesso ou o fracasso de projetos de poder.

Assim, ele não prega que o homem deva ser mal, mas que seja pragmático e
se for necessária uma atitude considerada má, como a mentira ou a violência ela
deve ser tomada pelo Estado. É considerado o pai da ciência política pois foi o
primeiro a estabelecer que a política possui sua lógica e ética próprios, separados
da moral religiosa e da ética cristã.

 THOMAS HOBBES (1588 – 1679)


Hobbes foi um dos mais importantes pensadores ingleses. Seu pensamento
é pessimista em relação aos homens, pois acredita que sem o Estado para impor
regras e garantir a segurança deveria haver um soberano com poderes totais para
punir quem saísse da linha. Ele era um defensor do absolutismo monárquico, e o
rei era o Estado.

A teoria do Estado de Hobbes é a seguinte:


quando os homens primitivos vivem no estado
natural, como animais, eles se jogam uns contra os
outros pelo desejo de poder, de riquezas, de
propriedades. Ele defendeu a tese de que “o homem é
o lobo do próprio homem”, afirmando que os seres
humanos nasciam ruins e egoístas por natureza.
Assim, para Hobbes o homem em seu estado natural,
ou seja, sem um Estado e sem leis que garantissem a
propriedade, a segurança e normas de convivência a
vida seria impossível, pois a competição, insegurança
e a violência seriam a regra.
Thomas Hobbes

Esse pessimismo perante a humanidade levou o teórico inglês a propor um


pacto político em que as pessoas conseguiriam conquistar paz e felicidade: o
Contrato Social. Esse pacto dizia que para a humanidade viver em harmonia, ela
deveria abdicar de seus direitos e de suas liberdades e os transferir a um soberano
cujo papel era conter o ímpeto do homem em seu estado de natureza. Dessa forma,
Hobbes legitimou a existência do poder real afirmando que era através dele que as
pessoas não viveriam em um cenário de caos e guerra.

Seu livro mais importante é o Leviatã, em que explica os passos necessários


para sair do pesadelo do estado de natureza e ir para uma sociedade segura na
qual a vida é suportável. O leviatã é um gigantesco monstro marinho e para Hobbes
é uma referência ao grande poder do Estado.

Página | 16
O leviatã

 JOHN LOCKE (1632 – 1704)


John Locke acreditava que o homem adquiria
conhecimento com o passar do tempo através do
empirismo. Defendia o direito à rebelião dos povos
oprimidos. Sua ideia contratualista que propunha que
se o estado não garante direitos individuais era uma
quebra de contrato que justificava a rebelião e sua
ideia de que Deus deu ao homem liberdade, felicidade
propriedade e direito à vida influenciaram os redatores
da constituição dos EUA e está no texto constitucional.

Portanto, Locke defendeu os direitos naturais John Locke


do homem: direito à vida, à liberdade e à propriedade
privada.

 VOLTAIRE (1694 – 1778)


O filósofo francês Voltaire foi um dos mais
importantes pensadores do Iluminismo, defendia a
liberdade de pensamento e não poupava críticas à
intolerância religiosa. Foi um romancista de sucesso e
polemista. Muito conhecido pelas suas ideias sinceras e
sarcásticas. É atribuída a ele a frase que diz “posso n~o
concordar com nada do que diz, mas defendo até a
morte seu direito de dizê-lo.” A Igreja fazia um controle
rígido do que poderia ser lido e muitos de seus livros
foram censurados e queimados em público, inclusive
Voltaire foi prisioneiro na Bastilha por ter insultado um
poderoso aristocrata. Foi um homem que desafiou todas as convenções de seu
tempo e um grande defensor da liberdade religiosa.

Página | 17
 JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712 – 1778)
Rousseau defendia a ideia de um estado
democrático que garanta igualdade a todos. Sua
principal obra é o Contrato social. Filósofo político e
romancista de sucesso em sua época. Sua obra é
permeada de preocupações com a libertação e
emancipação humana e apresenta seu projeto
educacional para manter o homem bom.

Ele acreditava que o homem nasce como uma


folha em branco e as experiências no mundo pervertem
o caráter humano. Ou seja, o homem nasce bom e a
sociedade o corrompe. Afirmava em seu contrato
social que “o homem nasce livre e por toda a parte
encontra-se a ferros”. É o mais radical dos iluministas e
Jean-Jacques Rousseau
o único a ter uma origem humilde. Alguns associam sua
origem às grandes preocupações sociais. Via no surgimento da propriedade o
surgimento da desigualdade.

Mas Rousseau acredita que há um caminho que pode reconduzir o indivíduo


a sua antiga bondade. Ele crê que a carência de igualdade na personalidade
humana é algo que integra sua natureza; já a desigualdade social deve ser
eliminada, pois priva o homem do exercício da liberdade, substituindo esta prática
pela devoção aos aspectos exteriores e às normas de etiqueta. A solução apontada
por Rousseau para esta situação é enveredar pelos caminhos do
autoconhecimento, através do campo emotivo da Humanidade.

 MONTESQUIEU (1689 – 1755)


Montesquieu defendeu a tripartição dos
poderes em sua obra O Espírito das Leis. Para ele o
poder concentrado na mão do rei leva a tirania, então o
Estado deveria dividi-lo em poder executivo (executa
as leis, o governo), legislativo (cria as leis, o congresso)
e judiciário (que julga e fiscaliza os poderes). A ideia
central da teoria dos três poderes é de que um poder
em suas atribuições equilibraria a autonomia e
interviria quando necessário no outro, propondo uma
harmonia e uma maior organização na esfera
governamental de um estado. Pois, segundo ele, “só o
Montesquieu poder freia o poder”.

10.4. O AVESSO DA DEMOCRACIA: TOTALITARISMO E AUTORITARISMO

O totalitarismo foi um fenômeno político no século XX. Mobilizou milhares


de pessoas em diversos países. O totalitarismo, de esquerda, de orientação
comunista, ocorreu na URSS, China, Leste Europeu e outros. O totalitarismo, de
direita, conservador, desenvolveu-se na Alemanha e na Itália, nos regimes nazista
e fascista, respectivamente.
Página | 18
Os regimes autoritários, também tiveram seu grande desenvolvimento no
século XX. Mas diferente dos totalitários, nem todos mobilizaram as massas em
torno dos seus projetos de governo. O autoritarismo é visto em grande quantidade
principalmente durante os anos 1950 e 1960, com as ditaduras militares. Assim
temos, Brasil, Chile, Argentina, Uruguai entre outros.

Os autoritários, geralmente são confundidos com os totalitários. Por ambos


cercearem as liberdades individuais, recorrerem à maciça propaganda política e
dispõem de aparelhos estatais de repressão. Entretanto, um regime autoritário,
por muitas vezes mantém a aparência de democracia e liberdade: permitem a
existência de partidos de oposição, mas que atuam apenas formalmente. Além
disso, no autoritarismo, não se cultua a personalidade do líder, diferente do que
aconteceu na Alemanha nazista, com a exaltação da figura de Hitler.

10.5. DIREITOS HUMANOS

Falar em Direitos Humanos é falar dos Direitos dos Cidadãos, daquilo que é
necessário como garantia dos Direitos Fundamentais e Deveres Individuais e
Coletivos. Falar de direitos humanos é falar do que é requerido aos indivíduos para
poderem ter, por si próprios, uma boa e florescente vida aplicando os seus
próprios e razoáveis padrões de referência.

Mas reconhecer, proteger e realçar os direitos pretende ter como efeito dar
ao indivíduo a oportunidade de ter uma vida boa e florescente, e o Estado tem de
erguer uma teia de leis e sólidas instituições para cumprir essa tarefa. O propósito
de conceber essas leis e Instituições requer um processo político familiar de
debate, negociação e consentimento, e é através dele que a teia de leis se constrói.
Logo, os direitos humanos são políticos e são uma parte importante da razão
pela qual o estado existe e, um importante foco da sua atividade e preocupação. Os
direitos humanos também são políticos na medida em que são os sujeitos de
ocorrências políticas, envolvendo argumentos em forma e poder que são
instrumentos da sua expressão.

Dessa forma, o Estado deve estabelecer uma política legal, real e efetiva
para cumprir essa tarefa. No Brasil existe a Política Nacional de Direitos
Humanos (PNDH) que defende, entre outras coisas, a primazia dos Direitos
Humanos nas políticas internas e nas relações internacionais. Essas políticas
institucionais são importantes, pois é a partir delas que se pode buscar formas de
concretização dos Direitos Humanos.

É preciso ressaltar ainda as diversas declarações de direitos do homem,


como a Declaração Americana (1776), a Declaração Francesa (1789)
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, a Declaração da ONU
(1948) Declaração Universal dos Direitos Humanos, entre outras, que
influenciaram o surgimento das proteções jurídicas dos direitos fundamentais em
diversos países. Essas declarações despontaram como alternativas para garantia
dos direitos tidos como essenciais à condição humana, tornando-se dever de todo

Página | 19
Estado a garantia destes Direitos. O que não significar dizer, como é fácil de
perceber, que o Estado garanta a todos os indivíduos, seus direitos fundamentais:
muitos direitos ainda devem ser garantidos e outras tantas violações desses
direitos precisam ser coibidas.

11. ILUMINISMO

O Iluminismo é o movimento intelectual que surgiu no século XVIII.


Promoveu profundas mudanças na filosofia, ciência e economia. O termo
iluminismo vem de luz, que para eles significava razão. A razão e o conhecimento
transformariam a humanidade ao romper com as “trevas da ignorância” da
Idade Média. Os iluministas queriam romper com o Antigo Regime (Idade
Moderna).

O Antigo Regime caracterizava-se pela presença de monarquias absolutas,


pelo mercantilismo como sistema econômico e por uma divisão social rígida, sem
mobilidade e com privilégios para o clero e a nobreza (não pagavam impostos e
ocupavam cargos públicos por direito).

Os iluministas queriam reunir em textos, todo o conhecimento racional


produzido pela humanidade. Assim surgiram as enciclopédias, a partir do
trabalho de dois pensadores: Diderot e D’Alembert.

Os pensadores iluministas pregavam a República para substituir a


monarquia, a divisão dos poderes em executivo, legislativo e judiciário. Do
pensamento iluminista vieram os princípios da Igualdade, Liberdade e
Fraternidade, que nortearam a Revolução Francesa. O pensamento iluminista
promoveu profundas transformações no mundo. As Revoluções Burguesas
basearam-se nos princípios iluministas. A Revolução Inglesa, Independência dos
EUA, Revolução Francesa e a Independência dos países da América Espanhola
foram diretamente influenciadas pelo iluminismo. No Brasil as revoltas
anticoloniais da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, também eram
iluministas.

Os principais filósofos do iluminismo foram:


Immanuel Kant, John Locke, Voltaire, Montesquieu e
Rousseau.

Immanuel Kant foi uma dos principais pensadores


do período moderno da filosofia. Abordando questões que
abrangiam desde a moralidade até a natureza do espaço e
do tempo, Kant é reconhecido particularmente por
promover a reunião conceitual entre o racionalismo, que
tem em Descartes seu maior expoente, e o empirismo, tal
como apresentado por Hume. Desta forma reunindo o
potencial da razão humana e a relevância da experiência Immanuel Kant
no processo de aquisição produção de conhecimento. Kant revela que o espírito ou

Página | 20
razão, modela e coordena as sensações, das quais as impressões dos sentidos
externos são apenas matéria prima para o conhecimento.

Na obra Crítica da razão pura (1781), Kant busca formular maneiras para
fazermos um bom uso do entendimento. Ao perceber que somos limitados pelo
que nos é dado conhecer, não podermos conhecer a verdades sobre o mundo
“como ele é em si”. Isso porque percebemos e pensamos o mundo de formas
determinadas.

Já em Crítica da razão prática (1788), Kant formula as bases de sua filosofia


moral. O que funda a ação humana e o que nos é dado fazer, constituem assim, um
tratado sobre a moral humana.

A lei moral segundo Kant se divide em imperativo categórico e


imperativo hipotético. O imperativo categórico ordena que se cumpra o dever
sempre por dever, ou seja, ordena que a vontade cumpra o dever exclusivamente
motivada pelo que é correto fazer. Enquanto que no imperativo hipotético o
cumprimento do dever é uma ordem condicionada pelo que de satisfatório ou
proveitoso pode resultar do seu cumprimento. As ações que nele se baseiam são
ações conformes ao dever, feitas a pensar nas consequências ou resultados de
fazer o que é devido.

Os pensadores econômicos do iluminismo eram contrários à intervenção


do Estado na economia típica do mercantilismo. São os Fisiocratas e os Liberais.

A Fisiocracia teve como seu principal pensador François de Quesnay, ele


era contra a intervenção do Estado e contra a acumulação de metais preciosos e
regulamentações do mercantilismo. Para eles terra era a fonte de toda a riqueza,
por isso sua importância fundamental. Deveria haver um imposto único pago pelos
proprietários da terra livrando de tributos o restante da sociedade.

O liberalismo econômico formulado por Adam Smith defendia o “laissez


faire laissez passer” (deixa fazer... deixa passar...), os princípios o liberalismo, ou
seja, a intervenção mínima do Estado na economia. Defendia a livre
concorrência e o livre mercado. Smith acreditava que a riqueza das nações é o
trabalho. Acreditava que havia uma mão invisível que regulava o mercado e as
relações econômicas. É o princípio da autorregularão dos mercados.

12. ÉTICA E MORAL

A palavra ética é derivada do grego éthos, que significa caráter, índole,


maneira de ser de uma pessoa ou de uma comunidade. A ética é a área do
conhecimento filosófico que se dedica a refletir sobre as ações humanas em
relação à vida de cada um e à vida em comunidade. Diz respeito às ações refletidas,
nas quais se pensa e sobre as quais se decide de acordo com o temperamento e
caráter de quem executa.

Página | 21
Para Aristóteles o ser humano é dotado de apetite e desejo, sendo que usa
da racionalidade para direcionar essas características a ações que o dará prazer. O
apetite se equivale a uma paixão (passividade) algo que vai em oposição a ação
(atividade), logo a ética é o meio que utilizamos para evitarmos o vício
(desmedida) e assim atingirmos a virtude (equilíbrio) conquistada pelo exercício
da prudência. Segundo Aristóteles, usando da racionalidade, esse é o meio pelo
qual seremos felizes.

O pensamento de Aristóteles afirma que o papel da ética é o de ensinar bons


costumes baseados no bom caráter, logo considera a moral, pois o fato de não
nascermos virtuosos ou viciosos, torna-se papel da ética tornar nossas práticas
parte de nossos hábitos.

Outro filósofo que contribuiu para estudos sobre ética foi Immanuel Kant,
filósofo alemão nascido no século XVIII influenciado pela filosofia iluminista,
baseou sua concepção de ética na ideia de que as ações humanas são orientadas
por intenções, essas embasadas pela ideia de dever, como devo agir? Ou como devo
fazer? Dentro de sua produção intelectual há dois conceitos centrais, o da razão
teórica (especulativa) voltada para o conhecimento, para o processo de cognição e
a razão prática quando se faz o uso prático da razão, relacionada ao agir, à
determinação da vontade, logo essa razão consiste na capacidade de estabelecer
limites sobre a vontade, impondo-lhe normas que conduzem à moral. Para Kant a
vontade é algo racional, resultado do exercício da razão.

No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A


ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o
comportamento humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras,
tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade. A palavra “moral” é
originária do termo latino morales, que significa “relativo aos costumes”, isto é,
aquilo que se consolidou como sendo verdadeiro do ponto de vista da ação. Desta
maneira, a moral é fruto do padrão cultural vigente e engloba as regras tidas como
necessárias para o bom convívio entre os membros que fazem parte de
determinada sociedade.

No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São


ambas responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do homem,
determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a melhor forma de
agir e de se comportar em sociedade.

13. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

O filósofo francês, Michel Foucault é conhecido por suas teorias acerca da


relação entre poder e conhecimento, e como estes são usados para o controle
social através das instituições. Segundo Foucault, a sociedade faz uso abusivo do
poder através das instituições, escolas e prisões, por exemplo. A era moderna é
definida através da disciplina, que nada mais é do que um meio de dominação que
tem como objetivo domesticar o comportamento humano.

Página | 22
Quanto { educaç~o, Foucault chama a escola umas das “instituições de
sequestro”. Segundo ele, a escola tira os alunos do seu meio para os enclausurar e,
nessa clausura, domesticá-los da forma como a sociedade quer. Antes, a escola era
um local de castigo. Com a era moderna, passa a ser um local de domesticação,
modelo que também é seguido no sistema prisional.

Jürgen Habermas é conhecido por suas teorias sobre a razão comunicativa


e a esfera pública sendo considerado como um dos mais importantes intelectuais
contemporâneos. Seu trabalho abrange uma gama variada de temas, tratando dos
fundamentos de uma teoria social, da análise da democracia, do Estado de direito e
da política contemporânea, particularmente na Alemanha. Esteve preocupado com
o restabelecimento dos vínculos entre Socialismo e Democracia e seu interesse
esteve centrado no desenvolvimento de uma teoria crítica da sociedade.

Em seu sistema teórico, Habermas procura revelar as possibilidades da


razão, da emancipação e da comunicação racional-crítica, latentes nas instituições
modernas e na capacidade humana de deliberar e agir em função de interesses
racionais. Habermas concebe a razão comunicativa – e a ação comunicativa –
como alternativa à razão instrumental.

Página | 23
SOCIOLOGIA

1. SOCIOLOGIA DO TRABALHO E DA PRODUÇÃO

1.1. MODO DE PRODUÇÃO

Modo de produção são todas as formas desenvolvidas pelas sociedades


humanas para produzir a vida material, ou seja, riquezas. Aqui devemos
considerar o significado sociológico de riqueza: o resultado, produto da produção e
dos serviços prestados. Cada um dos momentos da humanidade teve suas técnicas
de organizar a sua produção e sua circulação, e também como são distribuídos e
consumidos os produtos. Desde o início da civilização a humanidade desenvolveu
os seguintes modos de produção:

a) O modo de produção asiático: Surgiu nas primeiras civilizações, na


região conhecida como crescente fértil. O Egito às margens do Rio Nilo, e a
Mesopotâmia entre os Tigre e Eufrates (atual Iraque). Tinha como principais
características: a existência de um governo teocrático, onde o imperador era
adorado como um deus; não havia propriedade privada; todas as terras
pertenciam ao imperador; marcada pelo regime de servidão coletiva, onde todas
as pessoas pagavam impostos ao Estado na forma de produtos e serviços
(construção de grandes obras públicas).

b) O modo de produção escravista: Foi o modo de produção desenvolvido


nas sociedades clássicas: Grécia e Roma. Toda a economia e a vida em sociedade
dependiam da mão de obra escrava. Aqueles que eram escravizados eram os
prisioneiros de guerra. Roma com seu grande expansionismo territorial
conquistou muitos povos e foi o auge do modo de produção escravista. Havia
também a escravidão por dívidas. Em sociedades escravocratas as camadas mais
ricas da sociedade desenvolveram um profundo desprezo pelo trabalho manual. Os
povos clássicos achavam que as atividades manuais tiravam não só a dignidade
humana como a própria condição de humanidade.

c) O modo de produção feudal: Durante a Idade Média desenvolveu-se o


feudalismo, sistema marcado por um intenso processo de ruralização e pelo
desenvolvimento de uma economia autossuficiente. Podemos afirmar que o
feudalismo foi a fusão de duas culturas e modos de produção: O Romano e o
Germânico. Neste período, a Europa foi dividida em vários feudos, cada feudo
estava sob o domínio de um senhor feudal, caracterizando-se por uma grande
descentralização e fragmentação política. O sistema feudal apresenta economia
basicamente agrária e é caracterizado pela relação de servidão entre os servos e
os proprietários de terras. Os servos viviam em condições bastante precárias e
eram explorados com pesados impostos que deviam ser pagos através de trabalho
e parte da produção. Este modo de produção vai entrar em decadência a partir do
século XII quando ocorrem as Cruzadas.

d) O modo de produção capitalista: É o modo de produção hegemônico


no mundo. Sua gênese (origem) ocorreu no século XII como consequência das

Página | 24
Cruzadas que proporcionaram o Renascimento urbano e comercial na Europa.
As características fundamentais do capitalismo são: a propriedade privada, a
sociedade dividida em classes sociais, o livre mercado e a livre concorrência,
acentuados por um processo de desestatização da economia. Seu objetivo final é
o lucro. O capitalismo passou por várias fases de expansão e desenvolvimento,
desde o capitalismo comercial (mercantilismo), o capitalismo industrial
(Revolução Industrial) até o capitalismo financeiro (financiamentos).

e) O modo de produção socialista: Nesse sistema a economia visa em


primeiro lugar os interesses sociais. A base econômica do socialismo é a
propriedade social dos meios de produção, isto é, os meios de produção são
públicos ou coletivos, não existindo empresas privadas. Defende a planificação da
economia e a estatização dos meios de produção. O estágio final do socialismo é
o comunismo, onde não há mais classes sociais. Inicialmente surgiu o socialismo
utópico com Saint Simon, Charles Fourier e Robert Owen. O socialismo utópico se
preocupou apenas em descrever uma sociedade ideal sem apontar os meios para
alcança-la. Em meados do século XIX surge o socialismo científico encabeçado
por Karl Marx e Friederich Engels, que defendiam a revolução proletária. O
socialismo real foi o que, de fato, foi aplicado em alguns países.

1.2. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A MODERNIZAÇÃO PERMANENTE

Na época da transição do feudalismo para o capitalismo, quando ocorreu o


renascimento urbano, o trabalho era realizado ainda pelos artesãos. Eles
dominavam todas as etapas do processo de produção de uma determinada
mercadoria, do molde ao acabamento. O espaço de trabalho era a oficina, também
chamadas de corporações de ofício. Nelas era mantida a hierarquia da produção
artesanal entre o mestre e o aprendiz.

Com o tempo o artesanato foi se transformando em manufatura. Nelas o


trabalhador até continuava a ser artesão, mas não fazia tudo do começo ao fim. A
partir das manufaturas o artesão tornou-se um trabalhador sem entendimento do
processo produtivo. Não dominava mais a totalidade do processo de trabalho e
perdeu também seu controle. O produto tornou-se resultado das atividades de
muitos trabalhadores.

Com o surgimento da maquinofatura o espaço de trabalho passou a ser


definitivamente a fábrica, pois lá estavam as máquinas que “comandavam” o
processo de produção. Todo o conhecimento que o trabalhador usava para
produzir suas peças foi dispensado, ou seja, sua destreza manual foi substituída
pela máquina.

A Revolução industrial marcou a transição da manufatura para a


maquinofatura. Teve início na Inglaterra no século XVIII e espalhou-se pela
Europa. O processo de industrialização tem início a partir da acumulação de
capitais provenientes do período mercantilista, onde havia trocais comerciais
com os países do Oriente (especiarias) e intensa exploração das colônias do Novo
Mundo.

Página | 25
A Inglaterra dominava um grande mercado consumidor, pois muitos países
eram dependentes de seus produtos. As primeiras máquinas eram ligadas à
indústria têxtil e mais tarde à produção de ferro e aço. A primeira invenção foi a
locomotiva a vapor que impulsionou a produção. Mais tarde, surge o telefone, o
automóvel, o computador, etc. O processo de modernização iniciado no século
XVIII foi contínuo e o progresso industrial e desenvolvimento tecnológico estão
ainda hoje em curso, e são cada vez mais rápidos.

Conforme a revolução industrial se espalhou, o espaço da fábrica tornou-se


essencial para o funcionamento da economia, surgem propostas de organização da
produção, com o intuito de aumentar a produtividade e a lucratividade.

O primeiro engenheiro a realizar uma análise racional da produção, que


pretendia que fosse cientifica, foi Taylor. Dividiu em várias etapas o processo
produtivo e o distribuiu por uma esteira. Além disso, passou a exercer um rígido
controle da produção, com o estabelecimento de um tempo para cada movimento.
O corpo e o movimento dos trabalhadores passam a ser disciplinados em razão das
necessidades da máquina. A essa organização fabril dá se o nome de taylorismo.

Henry Ford o inventor do automóvel aperfeiçoou o modelo taylorista,


acrescentando um detalhe que fez a produtividade saltar: a implantação da esteira
móvel. Com a extrema divisão das etapas, controle rígido dos movimentos e
disciplina, é o movimento da esteira que imprime o ritmo de produção. A esse
sistema de produção dá se o nome fordismo. O modelo de organização fordista foi
predominante no mundo capitalista e está diretamente ligado à crise de
superprodução que ocorreu durante a crise de 1929. O fordismo caracteriza-se
por uma produção em série (vários objetos iguais) e em massa (em grande
quantidade, para baratear o custo unitário), por isso as empresas trabalham com
grandes estoques.

O modelo Taylorista-Fordista foi predominante até a década de 70 quando


uma grande transformação na produção foi implementada, primeiramente nas
fábricas japonesas da automobilística Toyota, que mudou o jeito industrial de
produzir e aumentou muito a produtividade. As formas de organizar a produção
foram repensadas para diminuir os custos, aumentar a eficiência e a produtividade.
Para tanto o trabalho humano nas linhas de produção foram substituídos por
linhas de montagem robotizadas. O uso de novas tecnologias e a atualização
constante permitiu a eliminação dos estoques típicos do fordismo. Com a
velocidade da produção agora realizada por robôs, permitiu que a produção
industrial seja feita sob medida. É o que chamamos de Just in time (na hora), a
produção sob medida ao pedido do cliente, maximizando o uso dos recursos,
reduzindo custos e possíveis perdas do estoque. O Toyotismo também é chamado
de produção flexível, pois o uso de tecnologias modernas, sobretudo as de
telecomunicações como a internet permitem a descentralização produtiva.

Página | 26
Principais diferenças entre o Fordismo e o Toyotismo

1.3. AS BASES DO TRABALHO NA SOCIEDADE MODERNA

O trabalho na antiguidade e idade média era visto com enorme preconceito


e desprezo. Com o fim da idade média e a emergência do mercantilismo
(capitalismo comercial), o trabalho “mudou de figura” e novos significados foram
atribuídos a ele. Se antes era visto como atividade penosa, passou aos poucos a ser
considerado algo positivo. Foi preciso convencer as pessoas de que trabalhar para
os outros era bom. Era dito que só assim todos sairiam beneficiados. Para mudar a
concepção de trabalho – de atividade vil para atividade que dignifica o homem –
algumas instituições colaboraram para isso: as igrejas, onde o trabalho passou a
ser considerado um bem divino e quem não trabalhasse não seria abençoado, e a
preguiça passou a ser vista como pecado; os governos que passam a criar leis que
penalizam quem não trabalha; e as escolas que passavam às crianças a ideia de
que o trabalho era fundamental para a sociedade.

As fábricas conforme se proliferaram, criaram um novo espaço e tipo de


trabalho, bastante diferente do que era realizado anteriormente em vários
momentos da história. O controle disciplinar é mantido pelos supervisores, que
avaliam a qualidade do serviço, evitam brigas e fazem cumprir os severos
regulamentos por meio de proibições, regras rígidas de horários e punições
(demissão).

No século XVIII formava-se a chamada, pelo filósofo Michel de Foucalt,


“sociedade disciplinar”, com a criação de instituições fechadas, voltadas para o
controle social, assim como prisões, orfanatos, asilos, hospícios quarteis e escolas.

Os séculos XVIII e XIX foram de grande prosperidade e crescimento


econômico para os grandes industriais. Na mesma medida as condições de
trabalho e a vida do operário tornaram-se cada vez mais sofridas. A imposição de
uma disciplina rígida pelas fábricas, jornadas longas, salários baixos e péssimas
condições de trabalho eram a regra. O sucesso da indústria capitalista contrastava
Página | 27
com a condição do trabalhador. As mudanças provocadas pelas transformações
tecnológicas tiveram resistência dos trabalhadores.

Surgiu na Inglaterra o movimento Ludista, também conhecidos como “os


quebradores de m|quinas”, numa demonstração de resistência à implantação das
fábricas (eram contrários à industrialização devido ao desemprego estrutural que
ela provoca, pois diminui muito a necessidade de mão de obra). Aos poucos os
trabalhadores passaram a se organizar em sindicatos e associações de
trabalhadores, que lutavam por melhores salários e condições de trabalho, tendo
as greves como principal mecanismo de ação política.
Diante destas transformações profundas, olhares diferentes sobre o mundo
tentaram analisar as mudanças e contexto da época. Os autores Émile Durkheim e
Karl Marx são os mais expressivos analistas do assunto. Possuem visões bastante
diferentes sobre a questão do trabalho.

1.4. MARX E A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

Para Karl Marx, a divisão social do trabalho é realizada no processo de


desenvolvimento das sociedades. Para Marx, portanto, a divisão social do trabalho
numa sociedade gera a divisão em classes.

No capitalismo industrial, para Marx, existem fundamentalmente duas


classes: A dos donos dos meios de produção (a burguesia industrial) e os
proletariados (aquele que só possui sua força de trabalho). A partir da observação
das relações de trabalho entre essas duas classes, Marx
percebeu que o trabalhador é explorado à medida que o
valor pago ao trabalhador não corresponde ao tempo
trabalhado, a partir dessa diferença ele formulou a
teoria da Mais Valia. Ele pretendia demostrar
cientificamente que no capitalismo sempre haveria
injustiça social, e que o único jeito de a burguesia
enriquecer e ampliar sua fortuna seria explorando os
trabalhadores. Assim, na jornada normal de trabalho, o
operário produz mais do que recebe de salário.

Segundo Marx, sempre que existir o antagonismo


de classe, existirá o confronto entre as classes sociais Karl Marx
antagônicas (exploradores X explorados). Ele afirmava que a superação do
capitalismo e a construção de uma sociedade sem classes só seriam possíveis por
meio de uma revolução socialista, conduzida pelos trabalhadores, o que ele
chamou de revolução proletária.

1.5. DURKHEIM: A SOLIDARIEDADE E A COESÃO SOCIAL

Émile Durkheim é um dos pais do pensamento sociológico. Diante dos


mesmos problemas e contexto em que Marx escreve sua análise, que se concentra
nas tensões sociais, Durkheim tem um pensamento conservador, ou seja, enquanto
Marx pregava a ruptura radical com o capitalismo, ele defendia que os conflitos
Página | 28
operários tão frequentes no século XIX, especialmente em sua segunda metade,
ocorriam por ausência de instituições e regras claras que trouxessem a coesão
social.

Durkheim compreende que o trabalho fabril estimula a solidariedade. Ela


seria resultado de dois tipos de consciência: A coletiva (ou comum) e a consciência
individual. O sentido sociológico de solidariedade significa laços que unem os
indivíduos em sociedade. Cada homem possui uma
consciência individual, que é influenciada pela
consciência coletiva, que é simplesmente a combinação
das consciências de todos os homens ao mesmo tempo.
No pensamento de Durkheim a consciência coletiva é a
responsável pela formação de nossos valores morais e
pressiona os indivíduos nas suas escolhas. A
consciência individual mais a consciência coletiva
forma o ser social.

Assim a existência de uma sociedade só é


possível a partir de um determinado grau de consenso
entre os indivíduos. Dependendo desse grau temos dois
tipos de solidariedade: Orgânica e Mecânica. Émile Durkheim

A solidariedade mecânica vem da semelhança. As sociedades primitivas e


com organizações sociais tribais, organizavam-se a partir de semelhanças culturais
e sociais entre os indivíduos que se integram por partilhar os mesmos valores
religiosos, de comportamento e interesses materiais que permitam sua existência e
coesão.

Nas sociedades modernas, com maior grau de complexidade na


diferenciação individual e social, existe a solidariedade orgânica. Cada indivíduo
tem uma função e depende dos outros para sobreviver. A solidariedade orgânica
é fruto das diferenças sociais. Elas unem os indivíduos pela necessidade de troca
de serviços e pela sua interdependência. Nas sociedades em que predomina a
solidariedade orgânica os membros são unidos pelo laço da divisão social do
trabalho. A solidariedade orgânica depende de regras claras e comportamentos
sociais bem delimitados, que são reproduzidos pela escola, família, e outras
instituições sociais.

2. O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE

Quem vem primeiro: o Individuo ou a sociedade? É a sociedade que molda


o indivíduo ou o indivíduo que molda a sociedade? O indivíduo é capaz de mudar a
sociedade? Ela nos obriga a fazer o que não queremos? Estas são perguntas
fundamentais para a sociologia, então desde o começo desta ciência foram
desenvolvidos alguns conceitos para que possamos pensar melhor estes
problemas, como instituição, socialização, hierarquia e poder.

Página | 29
Nas comunidades tribais, antigas ou na medieval, o indivíduo não era visto
como importante, mas parte de uma coletividade. Era como se a noção de
indivíduo não existisse e todos se compreendessem como parte de um todo
coletivo.

A ideia de indivíduo vem na Idade moderna com a reforma protestante. O


luteranismo entende o homem como imagem e semelhança de Deus, não
dependendo de intermediários para chegar a ele. Então o desempenho individual
na fé era fundamental e o humano individualmente passa a ter poder. Com o
desenvolvimento do capitalismo a noção de indivíduo firmou-se completamente.

Mas como o indivíduo e sociedade tornam-se uma mesma engrenagem?


Para isso necessitamos do conceito de socialização. São as formas pelas quais o
indivíduo é inserido nas práticas da sociedade. A socialização ocorre através de
instituições como escola, igreja e família. Então está ligado à formação de alguém
num espaço com regras e costumes estabelecidos.

A sociedade é sempre anterior ao indivíduo, pois quando ele nasce as


regras sociais já estão prontas e já existe previamente uma forma daquela
sociedade construir sua vida material. A vida social é possível porque existe uma
ligação entre os indivíduos que falam a mesma língua, possuem mesma cultura e
possuem um certo grau de entendimento para que possam se compreender
enquanto grupo. Todas as relações sociais estão conectadas, formando um todo
social.

Existe uma hierarquia social, ou seja, níveis desiguais na distribuição do


poder político e da riqueza. Em cada sociedade foi estabelecido um tipo de
hierarquia diferente. Na Antiguidade e Idade média as camadas sociais eram
definidas pelo nascimento e não pela renda. Não havia mobilidade social nestas
sociedades, então são chamadas estamentais. Sociedade estamental é aquela em
que não há mobilidade social. Independente da riqueza, se nasceu plebeu será
sempre plebeu. Pobre ou rico. No capitalismo a divisão social é fundamentalmente
baseada em critérios de riqueza. A partir do surgimento do capitalismo usamos o
conceito de classe, que diferente dos estamentos, há mobilidade social.

Chamamos questões sociais alguns problemas que vão além de nosso dia a
dia como indivíduos, que não dizem respeito somente a nossa vida privada, mas
estão ligados à estrutura de uma ou de várias sociedades. É por exemplo o caso do
desemprego. Há também as situações que afetam o cotidiano das pessoas e que são
ocasionadas por acontecimentos que atingem a maioria dos países, como um
grande atentado terrorista. Também assim nas grandes crises econômicas como
em 1929 e o panorama de retração econômica global que podemos observar
atualmente, desde a crise imobiliária nos EUA em 2008.

2.1. DURKHEIM: AS INSTITUIÇÕES E OS INDIVÍDUOS

Émile Durkheim analisa os fenômenos sociais e a sociedade considerando-a


externa aos indivíduos e determinadora de suas ações (a sociedade determina o

Página | 30
indivíduo). Os fatos sociais (consiste em maneiras de agir, de pensar e de sentir)
são anteriores e exteriores aos indivíduos e exercem sobre eles um poder
coercitivo que se impõe sobre as vontades individuais. Os fatos sociais dariam o
tom da ordem social, sendo construídos pela soma das consciências individuais de
todos os homens e, ao mesmo tempo, influenciam cada uma. O importante é a
realidade objetiva dos fatos sociais, os quais têm como característica a
exterioridade em relação às consciências individuais e exercem ação coercitiva
sobre estas.

A ação coercitiva do fato social é o que nos impede ou nos autoriza a


praticar algo, por exercer uma pressão em nossa consciência, dizendo o que se
pode ou não fazer. Se um indivíduo experimentar opor-se a uma dessas
manifestações coercitivas, os sentimentos que nega (por exemplo, o repúdio do
público por um homem de terno rosa) voltar-se-ão contra ele. Em outras palavras,
somos vítimas daquilo que vem do exterior. Assim, os fatos sociais são produtos da
vida em sociedade, e sua manifestação é o que interessa a Sociologia.

Para ele a sociedade sempre prevalece sobre o indivíduo, através de certas


regras que asseguram sua perpetuação. As leis e instituições independem do
indivíduo e pairam acima de todos formando uma consciência coletiva, que orienta
e dá sentido a integração entre os membros da sociedade. Família, escola, igreja,
Estado, sistema judiciário são exemplos destas instituições que dão sustentação e
permanência à sociedade.

Diferente de Marx, que vê a contradição e o conflito como elementos


essenciais da sociedade, Durkheim destaca a coesão social. Para ele o conflito em
sociedade só existe devido à anomia, ou seja, a ausência ou insuficiência de regras
nas relações sociais, ou por falta de instituições que regulamentem estas relações.
Para ele o processo de socialização é um fato social amplo, que dissemina normas e
valores gerais da sociedade e assegura a transmissão de ideias que formam assim
um conjunto homogêneo trazendo integração e se perpetue no tempo.

2.2. MARX: O INDIVÍDUO E AS CLASSES SOCIAIS

Para Marx ideia de indivíduo isolado só surge na sociedade capitalista de


livre concorrência e a divisão social é realizada no processo de desenvolvimento
das sociedades. Da divisão do trabalho surgem as classes. Há sempre uma relação
de oposição entre duas classes, de modo que uma não existe sem a outra. Esta
oposição ele chamou de luta de classes.

Marx diz que as condições sociais já estão impostas, mas que o indivíduo é o
agente transformador da História e da sociedade. Então é a sua relação com o
mundo e as contradições da sociedade que geram os movimentos que
transformam a sociedade. O homem pode mudar a sociedade principalmente
através de sua atuação política.

Página | 31
2.3. MAX WEBER: O INDIVÍDUO E A AÇÃO SOCIAL

A grande inovação que Weber trouxe para a sociologia foi o individualismo


metodológico. Para ele, o indivíduo escolhe ser o que é, embora as escolhas sejam
limitadas pelo grau de conhecimento do indivíduo e pelas oportunidades
oferecidas pela sociedade. O indivíduo é levado a
escolher em todo instante, o que faz da vida uma
constante possibilidade de mudança. O indivíduo
escolhe em meio aos embates da vida social. Essa ideia
faz com que o sentido da vida, da história, seja dado
pelo próprio indivíduo.

A questão central para Weber era compreender o


indivíduo e suas ações. Para ele a sociedade existe
concretamente, mas não é algo externo e acima das
pessoas, e sim o conjunto das ações dos indivíduos
relacionando-se reciprocamente. Tenta entender a
sociedade partindo do individual para o todo. Seu conceito fundamental é o de
ação social. Ela é o modo de se comunicar, de se relacionar, tendo alguma
orientação em relação aos outros. Para que haja uma ação social, o sentido da ação
deve ser orientada para o outro. Seja esta ação para o Max Weber
‘bem’ ou o ‘mal’ do outro. Ele agrupou as ações sociais em grupos: Ação
tradicional, ação efetiva, ação racional.

 A ação tradicional é aquela que ocorre por um costume social arraigado,


enraizado. O indivíduo toma de maneira automática, sem pensar para
realizá-la.
 A ação afetiva tem como base sentimentos de qualquer ordem. É dar vazão
aos sentimentos.
 A ação racional pode ocorrer quanto à valores ou quanto a objetivos (o
indivíduo escolhe levando em consideração os fins que ele pretende atingir).

Ações tradicionais são baseadas em princípios como dever beleza, sabedoria


e dignidade. Suas ações independentemente das consequências se dá por aquilo
em que ele acredita. Ações racionais fundamentam-se numa avaliação da relação
entre meios e fins. O indivíduo pensa antes de agir em uma dada situação para
alcançar um objetivo estabelecido. Para Weber estes tipos de ação social não
existem sozinhos e todos comportam-se com uma mescla deles. São exemplos,
“tipos ideais”, ou seja, construções teóricas utilizadas pelo sociólogo para analisar a
realidade.

Todas as esferas da ação humana estão marcadas por algum tipo de


dominação. Não existe e nem vai existir sociedade sem dominação, porque a
dominação é condição de ser da sociedade. A dominação faz com que o indivíduo
obedeça a uma ordem acreditando que está realizando sua própria vontade. O
indivíduo conforma-se a um padrão por sua própria escolha e acha que está
tomando uma decisão própria.

Página | 32
2.4. AUGUSTO COMTE E O POSITIVISMO

Augusto Comte foi um importante filósofo e sociólogo francês do século


XIX. É considerado o criador do Positivismo e um dos grandes sistematizadores da
sociologia. Ele acreditava que os problemas sociais e as sociedades, em geral,
deveriam ser estudadas com o mesmo rigor científico
que as demais ciências naturais tratavam seus
respectivos objetos de estudo. Comte propunha uma
ciência da sociedade, capaz de explicar e
compreender todos esses fenômenos da mesma forma
que as ciências naturais buscavam interpelar seus
objetos de estudo.

O positivismo é a linha de pensamento


dominante no trabalho de Comte, pauta-se na ideia de
que o conhecimento verdadeiro só pode ser obtido por
meio da experimentação e pelo aferimento científico.
Segundo essa perspectiva, a ciência deve basear-se
Augusto Comte apenas em observações cuidadosas feitas a partir da
experimentação sensorial. Essa seria a única forma possível de inferir leis que
explicariam a relação entre os fenômenos observados.

O funcionamento da sociedade, para Comte, obedeceria a diretrizes


predeterminadas para promover o bem-estar do maior número possível de
indivíduos. Comte formulou uma lei histórica de três estágios. Segundo essa lei, o
pensamento humano partiu de um estágio teológico, quando recorria às ideias de
deuses e espíritos para explicar os fenômenos naturais, e passou para um estágio
metafísico, caracterizado por fundamentar o conhecimento em abstrações - como
essências, causas finais ou concepções idealizadas da natureza. De acordo com
Comte, a humanidade só alcançaria plenitude intelectual ao chegar ao estágio
positivo, que pressupõe a admissão das limitações do entendimento humano. Para
ele, a razão não é capaz de operar a não ser pela via da experiência concreta. Todo
esforço da ciência e da filosofia deveria se restringir, portanto, a encontrar as leis
que regem os fenômenos observáveis.

3. A ESTRUTURA SOCIAL E AS DESIGUALDADES

As sociedades no decorrer do desenvolvimento da civilização


desenvolveram formas de hierarquias sociais. Em cada uma vigorou um tipo de
diferenciação. Na sociedade capitalista a hierarquia é dividida em classes sociais,
um critério ligado à riqueza. Em outras sociedades e outras épocas os critérios
foram sociais (ligados ao nascimento) ou religiosos.

3.1. SOCIEDADE ESTAMENTAL

As sociedades estamentais têm sua hierarquia fundamentada no


nascimento e na origem social. São sociedades estamentais as da Antiguidade

Página | 33
oriental (Egito e Mesopotâmia), Antiguidade Clássica (Grécia e Roma) e Idade
Média europeia. A posição está ligada ao nascimento, então nas camadas,
estamentos superiores, temos normalmente o clero, os guerreiros e a aristocracia
ligada à terra. Os estamentos superiores possuem privilégios, como o monopólio
de cargos públicos, não pagam impostos, e possuem domínio sobre a terra e os
homens. A hierarquia está mais ligada à posse da terra e ao poder que à riqueza em
si. Nas sociedades estamentais não há mobilidade social.

Com o surgimento do capitalismo, a sociedade passa por uma mudança na


hierarquização social, que passa a ser pelo dinheiro. Então era possível
(principalmente entre os séculos XII e XIV) que um burguês, cuja origem é plebeia,
podia ter mais riquezas que um nobre, inclusive financiá-lo. Há uma novidade na
sociedade capitalista: A possibilidade de mobilidade social. É possível nascer
pobre e tornar-se rico, como é possível nascer rico e tornar-se pobre. Então o
conceito classe social é aplicado somente no capitalismo e pressupõe a
possibilidade de mobilidade social.

3.2. POBREZA E RIQUEZA

A pobreza já foi encarada de diferentes formas, no decorrer do tempo. Na


idade média, destacadamente no feudalismo (IX ao XII), em que as visões sobre a
sociedade eram principalmente as da Igreja, a pobreza era vista como positiva. A
pobreza era complementar à riqueza. O pobre desenvolveria a sua condição
espiritual, aproximando-se de Deus e deveria ser humilde diante de sua condição.
Enquanto isso o rico deveria cuidar dos pobres. A pobreza é boa, pois obriga o
pobre e exercer a humildade e ao rico a caridade.

A partir do século XVI teve início uma nova ordem social em que o indivíduo
se tornou o centro das atenções (é a época do Renascimento e da Reforma
Religiosa). A visão sobre a pobreza começa a mudar: Torna-se ambígua. Ao mesmo
tempo em que representava a pobreza de Cristo, ao mesmo tempo era um perigo
para a sociedade. O Estado “herdou” a funç~o de cuidar dos pobres, que na época
medieval era de responsabilidade dos ricos e da Igreja. Com o avanço e
desenvolvimento do sistema capitalista e o individualismo crescente, a pobreza
passa a ser interpretada como resultado da preguiça dos indivíduos.

A partir do século XVIII (o século do liberalismo), as pessoas eram


responsáveis pelo próprio destino e ninguém era obrigado a dar trabalho ou
assistência aos mais pobres. O indivíduo passou a ser visto como responsável pela
própria pobreza.

3.3. DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL

A sociedade brasileira é uma das mais desiguais do mundo. A nossa


distribuição de renda é muito irregular. A sociedade brasileira foi fundada com
base na escravidão. Temos marcas profundas no nosso cotidiano que são frutos
de um passado escravista. A sociedade colonial era rigidamente estratificada e
todo o trabalho feito por mãos escravas. O processo de favelização que hoje é tão

Página | 34
comum no Brasil, na América latina e em países emergentes teve início com a
abolição da escravidão e agravados com o grande número de excluídos sociais em
razão da pobreza que temos no início do século.

É importante lembrar os problemas ligados à super exploração do trabalho


e manipulação política da pobreza. No início da república temos o período
chamado de política do café com leite, em que os grandes coronéis locais (títulos
dados aos grandes proprietários rurais), dominavam seus dependentes pelo
carisma e pequenos favores, os obrigando a votos que mantêm um pequeno grupo
de proprietários no poder.

Sem dúvidas, o êxodo rural contribuiu significativamente no aumento das


desigualdades sociais no Brasil. Em virtude das modernizações no campo, um
grande contingente de trabalhadores migrou para as cidades em busca de
melhores condições de vida, isso provou o inchaço das mesmas e trouxe uma série
de problemas estruturais. Ao chegar no espaço urbano há uma grande dificuldade
de integrar-se à PEA (população economicamente ativa), principalmente devido à
escolarização precária e a falta de qualificação. Engrossam os espaços
marginalizados como cortiços e favelas. A população urbana pobre está empregada
principalmente em subempregos ou trabalhos precários. A maioria está na
informalidade (trabalhos sem registro). A pobreza urbana e os aglomerados
subnormais aumentam muito principalmente entre as décadas de 70 e 90.

As políticas públicas ligadas ao combate à pobreza são escassas e a


construção de um equipamento urbano de serviços de qualidade também,
tornando terrível e difícil o acesso a serviços públicos básicos de qualidade, como
hospitais, escolas e transporte público.

A desigualdade social no país diminuiu principalmente devido às políticas


públicas de inclusão social e distribuição de renda, e do aumento da
capacidade de consumo e oferta de crédito à população. Com a oferta de crédito
(uma amostra do fortalecimento do setor financeiro) proliferam os crediários, que
por facilitarem o acesso, multiplicaram o consumo.

Um dos grandes problemas enfrentados no Brasil são as possibilidades de


ascensão social. Ela é em geral bastante complicada. Melhorou nos últimos anos,
como os índices sobre desigualdade sugerem, mas ainda é um problema delicado.
De acordo como o estudo da FGV o principal mecanismo de ascensão social no país
é a educação. Quanto maior a escolaridade maior a faixa salarial. Assim, a redução
das desigualdades está diretamente ligada a um maior acesso à educação.

4. MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS

As transformações sociais, políticas, e econômicas que culminaram as


revoluções Industrial e Francesa abalaram todos os setores da sociedade
europeia e trouxeram para seus contemporâneos novos dilemas a serem
enfrentados. Muitos autores nesse contexto histórico se esforçaram para entender
o que estava acontecendo e no momento em que os problemas sociais passam a ser

Página | 35
percebidos como passiveis de solução, a sociologia se torna objeto de estudo
científico.

Revoluções são acontecimentos que provocam mudanças e transformações


na ordem social, política e econômica em uma sociedade, ou seja, é o fim do velho e
o surgimento de algo completamente novo. Quando se introduz mudanças,
variações dentro de uma ordem vigente, sem substituí-lo, ou seja, realizar
mudanças que se considerem convenientes ou necessárias pela existência de uma
correlação de forças, podemos chamar de Reforma.

Ao longo da história podemos ver várias movimentações sociais e políticas,


em busca de melhores condições de vida, marcada por reformas e revoluções que
lutam por uma emancipação humana, seja ela a libertação de regimes políticos
opressores, seja pelo direito de existir com nação, ou por recursos básicos à
existência humana.

4.1. PRINCIPAIS REVOLUÇÕES AO LONGO DA HISTÓRIA

A Revolução Inglesa (1642-1660) trouxe profundas transformações para a


história da humanidade. Um levante social e político de alguns senhores de terras e
comerciantes (a burguesia) contra o poder absoluto do rei, nobreza tradicional e o
clero, que buscou limitar o poder do comércio. Após esse conflito civil, as forças
políticas que lutavam contra o absolutismo derrubaram a monarquia e
proclamaram a República, permitindo a eliminação dos laços que prendiam os
ingleses a uma sociedade feudal. O processo revolucionário inglês se apresentou
como um modelo de transição ao capitalismo industrial por meio de lutas entre
monarquia e parlamento. O parlamento adquiriu força política e houve um
crescimento econômico de orientação capitalista, a burguesia toma posse do poder
do Estado, fortalecendo suas relações internas com outras classes sociais e com
outras nações. A partir dessa revolução instaurou-se na Inglaterra uma
monarquia parlamentarista.

A Revolução Americana (1776) – processo de independência, é


considerada uma revolução, pois seu ideário era influenciado pelas ideias
iluministas pregavam a liberdade e o rompimento com os laços coloniais. Foi um
marco no século XVIII, pois enfraqueceu e é um marco na decadência do regime
absolutista, a instituição de um novo governo, direitos iguais e democracia.

A Revolução Francesa (1789) foi uma revolução que transformou toda


uma estrutura social vigente, significou o fim do absolutismo e dos privilégios da
nobreza, e o povo ganhou direitos sociais. O objetivo era de triunfar os ideais
seculares de liberdade, igualdade e fraternidade sobre a ordem social
tradicional, fazendo com que essas ideias se espalhassem pelo mundo. Ao final do
processo da Revolução Francesa o panorama político europeu foi de grande
instabilidade e mudanças abruptas. Ocorreu a restauração monárquica pelo
congresso de Viena. O absolutismo foi novamente derrotado pelas Revoluções
Liberais de 1830. Seguiu-se o surgimento de várias ditaduras, que foram varridas
pela primavera dos povos de 1848.

Página | 36
Revolução Francesa: A liberdade guiando o povo. Pintura de Eugène Delacroix

A Revolução Russa de 1917 teve como base os trabalhadores urbanos e


soldados, organizados em sovietes. A revolução começou com a derrubada do czar
e a tomada de poder pelos bolcheviques, liderados por Vladimir Ilitch Ulianov,
mais conhecido como Lênin. O principal aspecto da Revolução Russa é ela ter sido
orientada pela doutrina comunista, desenvolvida pelo filósofo alemão Karl Marx
no século XIX. A primeira tática da revolução bolchevique foi o chamado
comunismo de guerra, usado sobretudo na luta do Exército Vermelho, liderado
por Trotsky, contra o Exército Branco, de matriz conservadora e
contrarrevolucionária. De 1919 em diante, a ofensiva bolchevique passou ao plano
político e, sobretudo, político-econômico, com a criação da NEP (Nova Política
Econômica), desenvolvida por Lenin em 1921. O governo de Lenin assentou as
bases do que seriam as “repúblicas soviéticas”.

A Revolução Chinesa, ocorrida em 1949, provocou profundas


transformações na China que até hoje se faz presente no cotidiano de seu povo.
Nas primeiras décadas do século XX, a população chinesa passava por intensas
dificuldades econômicas que pioraram drasticamente as condições de vida do povo
chinês. Mediante um movimento contra a presença estrangeira no país, a dinastia
Manchu deu fim ao governo imperial e criou um novo governo: a República da
China. Mesmo com tal mudança, ainda em 1915, o país foi politicamente dominado
pelo governo japonês. Insatisfeitos com a dominação nipônica, uma grande
mobilização política do povo chinês promoveu, em 1921, a criação do Partido
Comunista Chinês. Impedidos de participarem das questões políticas de seu país,
os comunistas chineses, sob a liderança de Mao Tsé-Tung, começaram a mobilizar
as populações camponesas atraídas pela promessa do uso coletivo das terras e a
criação de um sistema político igualitário. Contando com o apoio dos camponeses,
Mao Tsé-Tung criou o Exército Vermelho. Após um longo período de batalhas, os
comunistas dominaram Pequim, em 1949, e Mao Tsé-Tung foi aclamado como
novo líder da República Popular da China.

Página | 37
A Revolução Cubana de 1959 foi uma revolução de caráter popular
liderado por Fidel Castro e o argentino Ernesto Che Guevara, teve por objetivo
depor o governo ditatorial de Fulgêncio Batista e implantar um regime socialista.
Fidel Castro era o grande opositor do governo de Fulgêncio Batista. De princípios
socialistas, planejava derrubar o governo e acabar com a corrupção e com a
influência norte-americana na ilha. Conseguiu organizar um grupo de guerrilheiros
enquanto estava exilado no México. Utilizaram a transmissões de rádio para
divulgar as ideias revolucionárias e conseguir o apoio da população cubana. Com
as mensagens revolucionárias, os guerrilheiros conseguiram o apoio de muitas
pessoas. Muitos cubanos das cidades e do campo começaram a entrar na
guerrilha, aumentando o número de combatentes e conquistando vitórias em
várias cidades. No primeiro dia de janeiro de 1959, Fidel Castro e os
revolucionários tomaram o poder em Cuba. O governo de Fidel Castro tomou
várias medidas em Cuba, como, por exemplo, nacionalização de bancos e empresas,
reforma agrária, expropriação de grandes propriedades e reformas nos sistemas
de educação e saúde. O Partido Comunista dominou a vida política na ilha, não
dando espaço para qualquer partido de oposição. Até hoje os ideais
revolucionários fazem parte de Cuba, que é considerado o único país que mantém
o socialismo plenamente vivo.

4.2. MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NO BRASIL

Como podemos ver, ocorreram revoluções e transformações sociais em


todo o mundo, conquistas por independência e grandes levantes populares. E no
Brasil será que ocorreram mudanças e revoluções? Estudaremos como se deu o
processo de mudanças sociais, políticas e econômicas no Brasil, e quais as
consequências dessas mudanças atualmente.

O processo de independência no Brasil não teve um caráter


revolucionário, apesar do país se tornar independente politicamente. Foi o único
país da América que ainda continuava sendo um Império e um país escravista. O
movimento de instauração de República no Brasil não teve apoio popular, os
grupos sociais que dominavam o Império continuaram dominando na República.

A partir de 1889, o Brasil passou a viver um regime republicano, as


oligarquias regionais tornaram-se hegemônicas na política nacional,
principalmente as paulistas, as mineiras e as gaúchas. A participação política dos
cidadãos era muito frágil, devido a presença de eleições fraudadas, voto de
cabresto, violência e troca de favores, mesmo já existindo a constituição de 1891.

Página | 38
Cartum ilustrando as eleições de cabrestos

Na Primeira República, os presidentes não estavam juntos com o povo e


trabalhadores, porém com o crescimento da população urbana e das massas
trabalhadoras introduzia no cenário político outras necessidades e anseios.

Em 1930 Getúlio Vargas toma o poder, e a transformação se deu pela


mudança de grupos na estrutura social brasileira. Foi criado o Código Eleitoral com
muitas mudanças de caráter social e político, então a nova constituição foi
promulgada em 16 de julho de 1934, tornando o voto obrigatório e secreto, as
mulheres conquistaram o direito de voto, foram concedidos alguns direitos básicos
aos trabalhadores: férias anuais e descanso semanal remunerado, criação do
salário mínimo e da carteira de trabalho, e a consolidação das leis trabalhistas.

Apesar da falta de participação popular, essas transformações foram de


grande importância para a sociedade brasileira até os dias atuais, essas
contradições da revolução de 1930 fizeram um marco nas mudanças sociais no
Brasil.

Outro momento histórico de grande impacto para a estrutura social


brasileira foi o golpe militar de 1964. O Brasil estava passando por uma crise
econômica muito forte desencadeada em 1956. O então presidente Juscelino
Kubitschek, implantou em seu governo o programa “cinquenta anos em cinco”,
na qual promoveu uma industrialização rápida contando com investimentos de
capitais nacionais e estrangeiros, multinacionais foram instaladas no país e o
governo obteve empréstimos para investimentos em infraestrutura. Em 1960, a
nova capital Brasília foi inaugurada, e o resultado negativo foi o aumento da dívida
pública e o crescimento da inflação, o que gerou um acirramento social e politico
de setores de esquerda e direita.

Página | 39
O golpe foi liderado pelos militares que derrubou o governo constitucional
de João Goulart, e então teve início uma violenta repressão aos movimentos
populares e aos políticos de esquerda. Tanques de guerra e caminhões com
soldados tomaram as ruas das principais cidades do país, sedes de sindicatos
foram invadidos e muitos movimentos sociais passaram a viver na ilegalidade.

Mesmo com toda a repressão, houveram grupos de resistência e de lutas


contra a situação pela qual passava o país. No ano de 1968 a juventude de rebelou,
e os estudantes encabeçaram os protestos. As reivindicações dos estudantes
ganharam as ruas das grandes cidades, a União Nacional dos Estudantes (UNE)
manteve uma estrutura de alcance nacional e intensificou os protestos contra a
ditadura e o sistema de ensino.

Apesar de toda a restrição à cidadania e o exercício de nossos direitos civis,


políticos e sociais negados, no período ditatorial o país se modernizou, o que não
significa que a maior parte da população foi beneficiada. Houve desenvolvimento
na área de energia e transportes, na agricultura nacional e no desenvolvimento das
atividades capitalistas modernas. A partir disso, ocorreram mudanças no modo de
vida da população urbana, ocorreu o crescimento da produção de artigos
industriais, como alimentos, roupas, eletrodomésticos, e automóveis. Essas
transformações caracterizaram o país como uma “modernização conservadora”,
pois não há a participação popular, sendo sempre imposta por meio da repressão
do Estado.

Em 1980 o Brasil estava passando por uma crise econômica, mas apesar
disso do ponto de vista político, o país vivia a abertura politica e o retorno à
democracia. Essas conquistas foram impulsionadas pelo movimento Diretas Já e
pela transição ao regime democrático, consolidado pela Constituição de 1988 e
pelo retorno das eleições presidenciais livres e diretas.

O povo nas ruas pede: Diretas Já!


O primeiro presidente eleito Fernando Collor, enfrentou graves denúncias
de corrupção. Com o povo nas ruas, houve uma pressão popular e o Congresso
Nacional promoveu o processo de impeachment do presidente em 1992. O que

Página | 40
mostra a força da população e dos estudantes nas ruas, e que a democracia se faz
com a voz do povo.

Passeata pelo impeachment de Collor em 1992

Após o governo Fernando Collor, o então vice-presidente da República


Itamar Franco, assumiu o cargo, terminando seu mandato. Surge então novas
eleições, na qual vence o candidato Fernando Henrique Cardoso que implanta
políticas neoliberais com caráter privativas e à redução da participação do
Estado na economia. O seu governo foi marcado por inúmeras reivindicações
sociais, pois houve aumento do desemprego e migração dos postos de trabalho
para o mercado informal nos centros urbanos. Intensificou a atuação do
Movimento dos trabalhadores Sem Terra (MST), com ocupações de fazendas e
exigências por uma reforma agrária. Além disso, em contrapartida o governo criou
bolsas sociais como bolsa-escola, o vale-gás e o bolsa-alimentação. Distribuiu
gratuitamente remédios contra o vírus HIV, e incentivou a produção de
medicamentos genéricos.

Nas eleições de 2002 Luiz Inácio Lula da Silva ganhou as eleições contra
José Serra, do PSDB. Lula foi um presidente de caráter popular – migrante de
nordestino, metalúrgico em São Paulo e líder sindical, o que contribuiu para a sua
popularidade. O governo Lula nos primeiros dias iniciou uma política de combate a
fome com o programa Fome Zero, mais tarde substituído pelo Programa Bolsa
Família. Esses programas considerados assistencialistas pela oposição
combateram à pobreza, ampliando a popularidade e o prestígio do então
presidente dentro e fora do país.

Em 2010, ano das eleições presidenciais para a escolha do sucessor de Luis


Inácio da Silva, foi oficializado a candidatura da então ministra-chefe da Casa Civil,
Dilma Rousseff, que venceu no segundo turno das eleições seu adversário José
Serra. Então tornou-se a primeira mulher no Brasil a conquistar o cargo de chefe
Página | 41
de Estado. A presidente Dilma deu continuidade aos programas de bolsas
populares, além dos Programas Bolsa Família e Universidade para Todos, que se
mantiveram da gestão anterior, foram criados outros projetos para promover
melhoria nas áreas da saúde como a Rede Cegonha e educação como o Programa
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC). Vários casos de
corrupção envolvendo grandes empreiteiras, a Petrobrás e financiamentos ilícitos
de campanha vieram a tona. Ocorreram diversas manifestações pró e contra o seu
governo, que acarretaram seu processo de impeachment que a afastou de seu
cargo, sendo substituída pelo seu vice-presidente Michel Temer, que ocupa a
posição de interino até a conclusão do processo de impedimento.

4.3. MOVIMENTOS SOCIAIS

Podemos considerar que movimentos sociais são ações coletivas que tem
por objetivo mudar ou manter uma situação na qual sempre irá envolver relações
de poder e de interesses. Os movimentos sociais podem ser caracterizados de
diferentes formas, sendo que todas elas perpassam por valores, identidade e
ideologia.

As relações de confronto sempre estão relacionadas à presença de um


Estado centralizador ou autoritário, na qual a estrutura social sempre beneficia
uma elite social. Dentro dessa situação membros da sociedade civil se reúnem por
meio da organização de grupos sociais, objetivando assim garantir
constitucionalmente seus direitos civis, políticos, sociais e humanos. Podemos dar
exemplos desses tipos de movimentos, as guerrilhas urbanas e camponesas no
Brasil durante o governo civil - militar (1964-1985) onde o governo havia tirado
diversos direitos da população, as manifestações em prol das Diretas Já, e a nível
internacional o fenômeno nomeado de Primavera Árabe sendo essa uma onda de
protestos e revoluções civis ocorridas em países do Oriente Médio e norte da África
(Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Iêmem e Barein) em que a população de forma
organizada foi às ruas para reivindicar melhores condições sociais e garantias
democráticas derrubando governos ditatoriais.

Os movimentos sociais se mobilizam através de diversas formas, suas ações


possibilitam a transformação ou conservação das leis, da economia, política e
cultura (por exemplo, um país) afetando direta ou indiretamente a vida de muitas
pessoas, caracterizando uma universalização de suas conquistas.

Por outro lado, existem movimentos sociais caracterizados pela busca em


transformar a estrutura e os elementos culturais dentro de uma sociedade. Essas
mobilizações buscam em suas lutas a redistribuição e o reconhecimento social.

Página | 42
Tomemos como exemplo o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto), esse movimento busca a efetivação de uma reforma urbana que garanta
moradia e melhores condições de vida aos trabalhadores brasileiros. Temos
também o MST (Movimento dos Sem Terra) que lutam por uma reforma agrária
no nosso país.

Nos últimos anos, muitos movimentos sociais estão aflorando no Brasil e no


mundo, como o movimento LGBT, o movimento negro e o movimento
feminista.

4.3.1. Movimento LGBT


Em 28 de Julho de 1969 na cidade de Nova York um grupo de lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais resolveram se rebelar contra as violentas
repressões e perseguições promovidas pelos policiais, essa mobilização ficou
conhecida como Revolta de Stone Wall. A revolta iniciada no bar que deu o nome a
revolta foi um marco para os movimentos LGBT, pois a partir daí foi desenvolvido
a elaboração de uma contracultura que questionava os padrões de gênero
heteronormativos que passou a combater a tradição machista e patriarcal. A
resistência gay contra a repressão politizou e mobilizou o movimento, que marcou
a data como o “dia do orgulho gay”. A partir de então desenrolaram diversas lutas
pelo reconhecimento das identidades dos gays pelo mundo todo, visando assim
garantir os mesmos direitos civis, políticos e sociais.

No Brasil, esse movimento conseguiu algumas conquistas sociais, como o


direito a construção familiar homoafetiva com todos os direitos e deveres de
uma união estável, direito antes garantido somente a compostos por homens e
mulheres, direito ao seguro do INSS (Instituto Nacional do seguro Social) por
morte ou auxilio-reclusão ao(à) companheiro(a), direito de adotarem filhos
(homoparentabilidade), direito de declarar parceiro(a) como dependente no
imposto de renda, uso do nome social. Lutam pela criminalização da homofobia,
pelo fim da intolerância de gênero e pela livre expressão sexual.

4.3.2. Movimento negro


Esse movimento trafega pelas questões de redistribuição e de
reconhecimento em muitas de suas lutas. Nas questões de redistribuição devemos
considerar o debate institucional travado em relação às ações afirmativas
objetivando a diminuição das desigualdades sociais nas áreas de educação, saúde,
no emprego, nas questões materiais, proteção social e reconhecimento cultural.
Quando falamos em reconhecimento, abordamos assuntos que visam garantir o
fortalecimento da identidade e a transformação das relações sociais eliminando
padrões culturais que estabeleçam todo e qualquer tipo de discriminação racial.

Página | 43
4.3.3. Movimento feminista
“Não se nasce mulher, torna-se mulher” Partindo da afirmação de Simone de
Beauvoir que podemos pensar na mulher como um sujeito histórico, que constrói
a si e a própria história. Ao longo da história as mulheres já conseguiram alcançar
alguns direito, como o direito ao voto e a participação política, o direito à vida
pública (trabalhar) e a criminalização da violência doméstica contra mulheres com
a Lei Maria da Penha.

O feminismo é um movimento que luta por uma sociedade sem hierarquia


de gênero, esse que não deve conceder privilégios para legitimar as opressões.
Esse movimento luta por questões de redistribuição como salários iguais e o
exercício de papeis sociais, mas também por reconhecimento, para que as
mulheres não sejam julgadas pela beleza físicas, não sejam estereotipadas como
frágeis ou fúteis, para que se reconheça o trabalho não remunerado como o
doméstico.

O movimento feminino também defende a autonomia da mulher sobre seu


próprio corpo e o direito de escolher o que fazer com o mesmo, como por exemplo,
o direito de se abortar, vestir o que quiser e se relacionar com quem quiser. O
feminismo também luta pelo fim da cultura do estupro.

5. CULTURA, O PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL DE UM POVO

O conceito de cultura é estudado em várias áreas das ciências sociais. O


pensador francês Félix Guattari reuniu os significados de cultura em três grupos:
Cultura valor, Cultura alma coletiva e Cultura mercadoria.

 Cultura Valor é o que estabelece a diferença dos indivíduos em termos


de acesso à cultura geral, se o indivíduo pertence a um meio culto ou
inculto, definindo um julgamento de valor sobre a situação;
 Cultura alma-coletiva é sinônimo de civilização. É a ideia de que todas as
pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural. Dessa forma
podemos falar de cultura negra, cultura chinesa, cultura marginal, cultura
regional;
 Cultura mercadoria é a cultura de massa. Não estabelece um juízo de
valor (como a cultura valor), nem a delimitação de um território
específico (como a civilização). Refere-se diretamente a indústria
cultural. Compreende bens e equipamentos (centros culturais, cinemas,
bibliotecas, conteúdos teóricos e ideológicos de produtos como filmes,
livros e músicas).

Página | 44
A principal área dos estudos sociais que se dedica à ideia de cultura é a
antropologia. Cultura é o resultado da formação dos seres humanos. Toda a
construção de conhecimento humana: arte, ciências, filosofia, religião, Estado.

Patrimônio cultural é um conjunto de manifestações de cultura material


e imaterial com importância histórica. A união do patrimônio cultural material e
imaterial forma a identidade cultural. O patrimônio material é concreto, ou seja,
pode ser tocado. Esse patrimônio é composto por manifestações de cultura
material, assim como por espaços naturais (por exemplo, habitats naturais e
formações geológicas). A cultura imaterial possui um grau de abstração, ou seja,
não é concreta. Alguns exemplos são valores, crenças, folclore, danças, músicas,
artes plásticas, festas e religiosidade. Os patrimônios culturais imateriais envolvem
os conhecimentos que são transmitidos de geração a geração

O ser humano tem a capacidade de criar símbolos que organizam a


sociedade, chamados de ordem simbólica. Esta consiste na capacidade humana de
dar sentido as coisas que estão além de sua presença material, ou seja, atribui
significado e valores as coisas e ao ser humano. Logo, chegamos à conclusão que
não há uma única cultura, e sim diferentes e diversas culturas, pois cada grupo
social constrói e transforma a natureza conforme as suas necessidades, permitindo
a criação de diferentes hábitos, regras, normas, religiões, crenças,
comportamentos, instituições sociais e políticas.

A separação em uma cultura erudita e cultura popular é resultado da


diferenciação social de uma sociedade dividida em classes. É o resultado da
manifestação das diferenças sociais. Há uma cultura identificada com os
segmentos populares e outra superior, identificada com as elites.

a) A cultura erudita envolve expressões artísticas de padrão europeu


como as artes plásticas, música clássica, teatro e literatura de cunho universal. São
também produtos culturais, que alguns deles podem ser comprados e
incorporados ao patrimônio.

b) A cultura popular tem sua principal expressão nos mitos, contos,


danças, músicas, artesanato rústico de cerâmica e madeira. Corresponde enfim, à
manifestação genuína de um povo. Mas não se restringe ao que é tradicionalmente
produzido no meio rural, mas também a cultura popular urbana. São expressões
recentes como grafites, o Hip Hop e os sincretismos musicais.

Página | 45
5.1. A ARTE

A arte faz parte de nossa vida, é fruto da construção de conhecimento


humano, portanto elemento da cultura. A produção da arte se dá em sociedade,
e caminha junto com as transformações sociais, sendo assim históricas. O artista,
por mais que produza sua obra muitas vezes de forma solitária, ele está dentro de
um contexto, tendo referências de mundo da conjuntura na qual está inserido, na
realidade que o cerca, sendo capaz de se apropriar dessa realidade e projetá-la de
forma sensível.

Além do artista reproduzir através de sua obra a realidade material na qual


está inserido, é também papel dele apontar novos caminhos e rumos que se
possam seguir, logo a arte não está completamente presa à realidade atual, mas ela
tem a capacidade de viver vários mundos diante de diferentes perspectivas,
através das superações históricas e sociais.

O ser humano como um ser social tem a arte como necessidade, pois é um
sujeito histórico que dá significado ao mundo, nesse sentido a arte tem papel
fundamental na busca de compreensão, não só na esfera do conhecimento
cientifico e técnico, mas por meio da imaginação, do lúdico e da criatividade. A
partir disso, pode-se afirmar que a arte é uma forma do ser humano se
relacionar com o mundo.

A arte para o filósofo Nietzsche é o que nos faz plenamente humanos, pois
nos dá a oportunidade de produzir nossa própria vida, construindo o que somos na
medida em que vivemos.

Página | 46
Página | 47

Você também pode gostar