Como Controlar A Língua - Sinais e Orientações
Como Controlar A Língua - Sinais e Orientações
Como Controlar A Língua - Sinais e Orientações
© Dort Publicações
1ª edição em português: 2023
Todas as citações bíblicas neste livro são da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), exceto
quando especificado o uso da versão Almeida Corrigida e Fiel (ACF).
PRODUÇÃO EDITORIAL:
É com muita alegria que apresentamos esta coleção para os nossos leitores. Criada
especialmente para publicar os escritos práticos do autor Richard Baxter contidos em sua obra: A
Christian Directory (O Diretório Cristão). Este grande tratado é de surpreendente profundidade e
engloba os mais variados temas. Além disso, apresenta alguns pecados contra os quais o crente
precisa lutar ao longo de sua vida.
Dividiremos a obra em vários livros, e cada livro apresentará um tratado específico sobre
determinado assunto. Essa divisão visa facilitar a vida do leitor, tornar o assunto mais
compreensível, estimular a leitura e ampliar a difusão da obra.
A tradução desses tratados é um grande presente para a igreja brasileira, uma vez que são
escritos valiosos para o aconselhamento cristão. Abrangem tudo o que você pode pensar em
relação à fé cristã e oferecem percepções perspicazes para a vida do crente, a partir de uma
teologia prática. Nenhuma obra puritana sobre teologia aplicada chegou perto da popularidade,
do escopo ou da profundidade dessa grande obra.
Com extenso interesse pelo viver cristão, pelo aconselhamento e prática piedosa, esta
obra deveria ser um acréscimo bem-vindo em todas as bibliotecas de nossas igrejas e para todo
aquele que deseja obter sólidas respostas bíblicas às perguntas mais importantes do homem.
Joel Beeke, uma das maiores autoridades sobre os puritanos, disse o seguinte acerca
dessa grande obra de Baxter: “Seus escritos práticos são orientados principalmente para
encorajar a santificação. O Diretório Cristão oferece uma visão acurada sobre a vida do crente,
expondo a teologia prática em mais de um milhão de palavras. Ele lida com centenas dos que os
puritanos chamavam de casos de consciência e dá orientações práticas. É aí que Baxter está no
seu melhor”.
Por isso, siga este conselho: leia esta coleção de forma proveitosa, e bem mastigada, pois,
cada orientação apresentada é útil para as nossas vidas e está regada de fundamentação bíblica
sólida e exemplo prático. Separe um tempo em oração, medite em todos os conselhos e examine
sua vida para que as verdades de Deus inundem o seu coração. Nossa oração é para que o Senhor
utilize esta série para edificar a igreja brasileira e cada irmão, e que essas obras possam guiar os
mais variados aspectos da vida cristã de cada crente. Que esta série ajude a norteá-los a como
crescer na graça e perseverar até o fim.
A editora
ÍNDICE
Prefácio do autor
Capítulo 1: Orientações Gerais
Capítulo 2 | O valor da prudência antes de falar
Capítulo 3 | Instruções contra juramentos profanos e contra o uso do nome de Deus de modo
irreverent
Capítulo 4 | Orientações contra a mentira e o fingimento
Capítulo 5 | Orientações contra a conversa vã e a tagarelice
Capítulo 6 | Orientações contra conversas torpes, caluniosas e obscenas.
Capítulo 7 | Orientações contra a zombaria profana, o desprezo ou a oposição à misericórdia
OUTROS LIVROS DA COLEÇÃO TEOLOGIA APLICADA
MAIS EBOOKS DESSA EDITORA
PREFÁCIO DO AUTOR
AS FUNÇÕES DA LÍNGUA
Orientação II. Entenda bem e lembre-se dos compromissos particulares da língua, uma
vez que a mera limitação do mal não é suficiente. São eles:
a. Glorificar a Deus pela exaltação de seu nome; proclamar os louvores de seus atributos e
obras.
b. Cantar-lhe salmos de louvor e regalar a nossa alma na doce celebração de sua
majestade.
c. Dar-lhe graças pelas misericórdias já recebidas e declarar a outras pessoas o que ele fez
por nossa alma e corpo, por sua igreja e pelo mundo.
d. Orar a ele pelo que desejamos, por nossos irmãos, pela igreja e pela conversão de seus e
nossos inimigos.
e. Suplicar a ele e prometer solenemente por seu nome quando para isso formos
legalmente chamados.
f. Estabelecer nossas alianças e votos essenciais; dar profissão clara de nossa fé, sujeição e
obediência a ele diante dos homens.
g. Pregar sua Palavra, ou proclamá-la em nosso falar; ensinar aqueles que estão sob nossos
cuidados, e instruir os néscios e equivocados quando tivermos oportunidade.
h. Defender a verdade de Deus em assembleia ou debate, e rejeitar a falsa doutrina dos
charlatães.
i. Exortar os homens a suas responsabilidades pessoais e reprovar seus pecados
particulares; e nos esforçarmos para fazer-lhes o bem como pudermos.
j. Confessar nossos próprios pecados a Deus e ao homem sempre que tivermos chance.
k. Almejar o conselho e a ajuda de outros para nossa alma, e buscar a vontade de Deus e o
caminho para a salvação.
l. Elogiar o que é bom nos outros e falar bem de todos os homens – superiores,
semelhantes e subordinados –, desde que haja base e motivo legítimos.
m. Dar testemunho da verdade quando para isso formos chamados.
n. Defender a causa do justo e do inocente, e clamar por eles diante de falsos acusadores;
perdoar as razões e pessoas que têm direito ao perdão.
o. Falar e transmitir aos outros as mesmas boas impressões e afeições da mente com que
Deus opera em nós, e não apenas as verdades explícitas que recebemos.
p. Por fim, sermos instrumentos do diálogo mútuo, da manifestação de nossas afeições e
respeito comum, e cumprirmos todas as nossas ocupações seculares: ensino, artes,
produções etc.
Estes são os empregos e funções da língua.
OS PECADOS DA LÍNGUA
Orientação III. Compreenda e recorde-se de quais pecados da língua devem ser evitados.
Eles são inúmeros, e muitos deles enormes. Os mais visíveis são os seguintes:
(Sem citar mais nada dos pecados por omissão, pois é fácil identificá-los, uma vez que já
nomeei os deveres, sejam estes realizados ou negligenciados).
1. Entre os pecados de comissão, o primeiro que citarei é a blasfêmia, por ser o maior.
Trata-se da reprovação a Deus: falar desdenhosamente de Deus, difamá-lo, ou desonrá-lo,
negando sua perfeição, e aviltá-lo com falsos nomes, doutrinas, imagens, semelhanças,
comparando-o com o homem em qualquer uma das imperfeições humanas – qualquer coisa que
seja uma censura a Deus é blasfêmia. Tal como Rabsaqué agiu ao ameaçar Ezequias (cf. Is 37.8-
13), e como os infiéis e hereges procedem ao negar sua onipresença, onisciência, governo,
justiça, providência peculiar ou bondade. É afirmar qualquer maldade a respeito do Senhor,
como se fosse o autor do pecado, ou desleal em sua Palavra, ou que governa o mundo por mero
equívoco, ou algo semelhante.
2. A falsa doutrina, ou o ensino de coisas enganosas e perigosas como se procedessem
de Deus. Se alguém afirmar falsamente que recebeu isso ou aquilo por inspiração, visão ou
revelação divina, isso faz dele um falso profeta. Contudo, se ele apenas disser erroneamente que
esta ou aquela doutrina está contida na Escritura, ou que foi transmitida à Igreja por tradição, isso
apenas faz dele um falso mestre, o que é um pecado maior ou menor a depender dos agravantes
mencionados a seguir.
3. A oposição indireta à piedade pela falsa aplicabilidade da verdadeira doutrina, a
resistência às pessoas piedosas em nome da santidade e a crítica às verdades e aos deveres
singulares da fé. Ou contrariar indiretamente a verdade ou o dever sob o pretexto de insurgir-se
apenas contra algum modo controverso ou imperfeição naquele que o expressa ou pratica. Um
tipo de defesa dos aspectos e práticas que poderiam subverter ou minar a religião – um esforço
oculto para fazer com que toda piedade séria pareça algo desnecessário. Há muitos que parecem
ortodoxos, todavia são opositores ímpios e maldosos da prática da verdade que eles próprios
sustentam teoricamente e professam categoricamente.
4. A zombaria profana da piedade honesta – o escárnio, a brincadeira e o desprezo
pelas pessoas piedosas como tais. Ou ainda o menosprezo a alguns de seus verdadeiros ou
pretensos defeitos por causa de sua piedade, a fim de torná-las detestáveis, de modo que, por
meio delas, a piedade torne-se odiosa. Quando os homens falam assim, o objetivo e a tendência
de seu discurso são o de levar os demais homens a uma antipatia pela verdade ou santidade; e
seus sarcasmos ou desprezos acerca de alguma opinião, prática ou método particular conduzem
ao desdém pelo exercício sério da fé. É quando zombam de um pregador do Evangelho por
algumas expressões ou falhas, ou por causa da própria verdade, a fim de levar o ministro e sua
doutrina ao desprezo; ou das orações e discursos de pessoas religiosas, no intuito de insultar a
religião.
5. Proibir injustamente os ministros de Cristo de pregar o Evangelho ou de falar em
seu nome; ou levantar-se contra eles em contradição e resistência, impedindo-os de anunciar a
verdade. Como Gamaliel cita, é “combater contra Deus” (At 5.39). No entanto, assim fizeram
aos apóstolos (v.40): “E, chamando os apóstolos, e tendo-os açoitado, mandaram que não
falassem no nome de Jesus, e os deixaram ir”.
Os quais também mataram o Senhor Jesus e os seus próprios profetas, e nos têm
perseguido; e não agradam a Deus, e são contrários a todos os homens, e nos impedem
de pregar aos gentios as palavras da salvação, a fim de encherem sempre a medida de
seus pecados; mas a ira de Deus caiu sobre eles até ao fim.
1 Tessalonicenses 2.15-16
Orientação IV. Uma vez que tenha entendido, então, as funções e os pecados da língua, e
a magnitude deles, a próxima coisa com a qual você deve ser muito cuidadoso e diligente é em
guardar no coração todas as coisas que deveriam dizer respeito à língua, e conservar o coração
limpo de tudo que a língua precisa estar purificada. A obra principal deve ser sobre o coração,
“pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12.34).
● 1. A língua não será efetivamente governada de outra forma: se o coração estiver no
mundo, é mais comum que a língua esteja no mundo. Você pode forçá-la um pouco a
contrariar o coração, mas será uma obediência muito inconstante – se soltar um pouco
as rédeas, pronto. Se o coração for orgulhoso, a língua falará com orgulho; se for
lascivo, vaidoso ou malicioso, as palavras normalmente também o serão.
● 2. Ou, se puder obrigar a língua a contradizer o coração, será apenas uma mudança
hipócrita. Um coração vaidoso, orgulhoso, mundano, devasso, malicioso ou ímpio irá
condená-lo, embora a língua tenha sido forçada a falar de forma humilde, pura, paciente
ou piedosa. Portanto, se deseja superar a vaidade, o mundanismo, a libertinagem, ou
qualquer outro pecado de seu discurso, primeiro prepare-se para vencer o mesmo
pecado no coração, e para revivificar e estimular as graças que lhe são opostas. E se
quiser usar a língua para honrar a Deus e edificar os homens, dê corda ao manancial das
santas afeições que serão como águas para o moinho. É o uso da língua que manifesta a
mente, e o uso do linguajar santo é a expressão de uma mente santa. Você, contudo,
cogita externar algo que não tem? Fará da mentira um dever? Se desejar falar de Cristo
ou do céu com seriedade, avalie se seu coração está voltado para Cristo e o céu. Quando
entrar em qualquer grupo em que queira falar em nome de Deus e para o bem dos
ouvintes, empenhe-se de antemão para causar uma marca profunda em seu coração dos
atributos ou verdades de Deus que pretende expressar, assim como para reavivar em si
mesmo o sentido daquilo que espera que os outros compreendam. Desperte dentro de si
mesmo o amor a Deus, e o amor pela santidade e pela verdade, e um amor pelas almas
daqueles com quem você fala. Então, assim como uma torneira que, quando aberta
libera água, você será como um canal de quem fluirá verdades.
CAPÍTULO 2 | O VALOR DA PRUDÊNCIA ANTES DE
FALAR
Orientação I. Esforce-se para entender os assuntos sobre os quais você quer falar. A
ignorância impede a preparação para o discurso, ou o abastece apenas de coisas inúteis e
vaidade, e então faz você falar de maneira que seria melhor ter ficado calado. O conhecimento e
a sabedoria são depósitos contínuos de agradável e proveitosa conversa: “Todo mestre da lei
instruído quanto ao reino dos céus é como o dono de uma casa que tira do seu tesouro coisas
novas e coisas velhas” (Mt 13.52). Quando um homem domina o assunto sobre o qual falará, ele
está preparado para falar naturalmente a outros sobre esse assunto, e para defendê-lo contra os
opositores. Salmos 37.30-31 diz que “A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o
que é justo. No coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão”. Provérbios
10.31-32 afirma que “A boca do justo produz sabedoria, mas a língua da perversidade será
desarraigada. Os lábios do justo sabem o que agrada, mas a boca dos perversos, somente o mal”.
Os homens sábios nunca têm falta de palavras sábias, porém a boca dos tolos denuncia a sua
loucura. De acordo com Provérbios 15.2, “A língua dos sábios adorna o conhecimento, mas a
boca dos insensatos derrama a estultícia”. Provérbios 14.3 afirma: “Está na boca do insensato a
vara para a sua própria soberba, mas os lábios do prudente o preservarão”. “Os lábios do tolo
entram na contenda, e a sua boca brada por açoites. A boca do tolo é a sua própria destruição, e
os seus lábios um laço para a sua alma” (Pv 18.6-7). Você pode argumentar: “Dizer que se deve
alcançar sabedoria é algo fácil de falar, mas não é fácil ou rápido de conseguir”. Isso é verdade.
Portanto, é igualmente verdadeiro que a língua não é usada e governada com facilidade, uma vez
que os homens não podem expressar sabedoria que não possuem, a menos que seja de forma
mecânica. Sendo assim, você deve seguir o conselho de Salomão em Provérbios 2.1-6:
“E assim a minha língua falará da tua justiça e do teu louvor todo o dia.” (Sl 35.28). “A
minha língua falará da tua justiça todo o dia; pois estão confundidos e envergonhados aqueles
que procuram o meu mal.” (Sl 71.24). “A minha língua falará da tua palavra, pois todos os teus
mandamentos são justiça.” (Sl 119.172). “Seja a minha língua como a pena de um hábil
escritor.” (Sl 45.1).
No entanto, seu próximo cuidado deve ser arrepender-se das falhas que comete, julgar-se
por elas e mudar: lembrando que “não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que
logo, ó Senhor, tudo conheces.” (Sl 139.4).
Orientação XI. Faça uso de um conselheiro ou crítico leal. Somos propensos, por causa
do costume e da parcialidade, a ignorar os erros de nossa própria língua. Um amigo é
extremamente útil neste ponto. Permita, portanto, que seu amigo supervisione-o nesta questão e
corrija o que ele lhe disser. E não seja tolo a ponto de se voltar contra um amigo por causa do seu
erro.
CAPÍTULO 3 | INSTRUÇÕES CONTRA JURAMENTOS
PROFANOS E CONTRA O USO DO NOME DE DEUS DE
MODO IRREVERENTE E VÃO
O QUE É UM JURAMENTO?
I. Jurar é a afirmação ou a negação de algo por apelo a alguma outra coisa ou pessoa –
como testemunha da verdade ou vingador da mentira – que não pode ser acatada como
testemunho ou juiz em tribunais humanos. Uma afirmação ou negação é a essência de um
juramento: o recurso especial é a forma. Não é qualquer apelo ou prova que constitui um
juramento. Apelar para certa testemunha como confiável e capaz de se apresentar em tribunal a
partir de uma testemunha parcial e inconcebível não é juramento. Partir do apelo a um juiz
incompetente, ou a um tribunal inferior, para um juiz competente, ou tribunal superior, não é
juramento. Dizer que tomo o rei por testemunha, ou que recorro ao rei, não é jurar pelo rei.
Contudo, afirmar que tomo Deus por testemunha, ou apelo a Deus como Juiz da verdade acerca
do que digo, é jurar por Deus. Por outro lado, recorrer a Deus como Justo Juiz contra a injustiça
ou crueldade dos homens, sem relação alguma com o seu julgamento ou juízo de qualquer
afirmação ou negação nossa, não é jurar por ele, porque falta a matéria de juramento. O
juramento é um apelo a algum poder sobrenatural ou superior mais terrível do que o do tribunal
ou da pessoa a quem juramos, no intuito de tornar o nosso testemunho mais crível quando faltam
outras evidências de certeza ou credibilidade. Sendo assim, um testemunho ou apelação legítima
não é juramento.
Jurar pode ser tanto justo e lícito quanto pecaminoso e ofensivo. Para um juramento justo
e lícito, é necessário:
1. Que juremos somente por Deus, uma vez que não há qualquer testemunha e juiz
vingativo acima dos tribunais humanos a quem possamos apelar, a não ser a Deus. Por
consequência, jurar por qualquer criatura devidamente, e no sentido pelo qual juramos
por Deus, é idolatrá-la e atribuir-lhe as características de Deus.
2. Um juramento justo requer que a questão seja verdadeira, seja ela afirmativa ou
negativa. E ainda, se for promissória, a matéria deve ser:
a. Honesta e legal;
b. Possível: aquela em que faltar qualquer desses requisitos, é ilegal.
c. É indispensável que haja um objetivo honesto, por ser um componente essencial
em todo o bem e mal morais.
d. É necessário que esteja baseada em apelo suficiente e motivos honestos, e não à
toa ou sem razão justa.
e. A matéria e as circunstâncias devem ser lícitas.
A palavra juramento é uma expressão ambígua, por vezes tomada como aquilo que
significa oficialmente, como descrito antes; em outras ocasiões, confundida com aquilo que é
apenas a matéria e o modo de falar, sem qualquer intenção real de jurar. Ele também pode ser
considerado como toda ação humana na íntegra, incluindo os significantes das palavras e o
propósito conceitual, ou então somente pelo sinal visível ou pelas palavras isoladas. (Assim
como a palavra oração denota, em algumas situações, a forma simples das palavras e, em outras,
as palavras e a intenção que elas carregam. E a palavra sacramento, às vezes, também é
confundida com os sinais externos apenas; e em outras, com os sinais de compromisso mútuo e
condutas que representa). Aqui, pode-se questionar:
Pergunta. Se for juramento ou não o que as pessoas desinformadas e desatentas fazem
com frequência, empregando palavras ou exemplos de um juramento por mero costume, sem
saber o que ele significa, nem ter qualquer ideia ou propósito de apelar para Deus ou para a
criatura pela qual juram. A razão da dúvida é porque se trata apenas da questão ou da parte
aparente de um juramento; e é a forma que o especifica e denomina. Aquele que, por ignorância,
proferir as palavras de um juramento em latim ou grego, como não entende a língua e não tem tal
intenção, não jura.
No que diz respeito a jurar pelas criaturas, até que ponto é pecado? É exatamente o
mesmo caso de adorar imagens, ou de usá-las para essa finalidade. Aquele que adora uma
imagem ou qualquer criatura como Deus, e cuja adoração se encerra basicamente nela, comete
idolatria direta e total, o que é um pecado muito maior, uma vez que o objeto que se idolatra é
mais ignóbil. Se fizer, porém, da imagem ou criatura meramente um meio de prestar culto a Deus
– a quem a adoração se restringe na essência e deve ser prestada sem intermediários – logo não é
idolatria grosseira, embora seja uma adoração falsa e proibida ao Deus verdadeiro. Se a criatura,
contudo, for utilizada tão-somente como instrumento por meio do qual a adoração fosse
oferecida a Deus, então seria lícito tanto usá-la quanto adorá-la (para honrar e reverenciar a Deus
como se manifesta em suas obras; para dar honra a nossos pais e governantes como ministros do
Senhor, o que, no fim das contas, culmina em Deus).[1] O mesmo acontece com o juramento,
visto que faz parte do culto a Deus. Aquele que jura por qualquer criatura como um deus, ou
como o vingador dos que escapam falsamente do julgamento humano, comete idolatria. Foi o
que Juliano fez ao jurar pelo Sol (a quem reverenciava com suas orações e adorava como Deus).
No entanto, quem jura dessa maneira por uma criatura, a ponto de, em última instância, esperar
que Deus lhe sirva de testemunha e vingador – ainda mais quando a criatura for nomeada, ou
então identificada como tendo aparência de idolatria –, acaba por afastar a mente de Deus, ou por
ofuscar escandalosamente a sua honra; ou, de qualquer outra forma proibida, por jurar pelo Deus
verdadeiro intencionalmente, mas de um jeito pecaminoso.
Todavia, aquele que jura francamente por Deus (por um apelo legítimo) e pela criatura
(ou, antes, menciona a criatura), mas em subordinação justa, clara e inofensiva a Deus, é
desculpável. Por isso costumamos pôr as mãos sobre a Bíblia e então jurar: “Que Deus me ajude,
e também o conteúdo deste livro”. Assim, em ocasiões importantes, muitos homens justos, a fim
de ilibarem a si próprios de alguma calúnia, disseram em seus escritos: “Convoco Deus, os anjos
e os homens por testemunhas”. Vários deles, ao citarem as criaturas, antes esperam uma
maldição do que um juramento da parte delas. Por exemplo: Se não for assim, que Deus me
destrua com este fogo, ou com esta água etc.
Pergunta: É lícito colocar as mãos sobre a Bíblia e beijá-la em juramento, como se faz na
Inglaterra?
Resposta: Prestar juramento como estabelecido na Inglaterra, colocando as mãos sobre a
Bíblia e beijando-a, não é ilícito.
Evidência. 1. Aquilo que não é proibido por Deus é lícito (perante ele). Portanto, fazer
um juramento não é condenado por Deus. O menor deles será suficientemente provado ao refutar
todas as intenções de proibição. O maior não precisará de provas.
Evidência 2. Se for proibido, também o será: a. Uma ação de adoração não ordenada,
logo, adoração voluntária; b. Ou uma cerimônia significativa de adoração não ordenada; c. Ou
uma solenidade não ordenada que encerra em si mesma alguma questão ou modelo proibido. Se,
porém, não há impeditivo em nenhum desses aspectos, por conseguinte, não há em nenhum
outro.
a. Uma ação não ordenada na adoração. Na medida em que a consequência se aplica a
tudo, todos os ritos de adoração não ordenados seriam ilegais, portanto, o que é falso.
● As solenidades usadas no juramento (Gn 24.2; 14.22; Ap 10.5) não foram ordenadas e,
mesmo assim, foram lícitas (assunto do qual trataremos mais a frente).
● Deus não ordenou em qual melodia se deve cantar um salmo; em quais capítulos e
versículos dividir a Bíblia; se a Palavra deveria ser usada escrita à mão ou impressa;
quais palavras, método, texto particular escolher; que versão utilizar, e várias outras
coisas semelhantes.
b. Uma cerimônia significativa não ordenada, uma vez que, então, tudo isso deveria ser
proibido, o que não é verdade. 1. O juramento de Abraão ao erguer a mão (e também dos anjos,
em Ap 10); e o do servo de Abraão, ao colocar a mão sob a coxa, foram cerimônias notórias. E
quem afirmar que foram ordenadas deve provar isso. Nós podemos muito bem imaginar o
contrário:
● Já que nenhuma lei semelhante é informada na Escritura, e aqui não aparecer e não ser
dão no mesmo, por causa da perfeição das leis de Deus.
● Porque é mencionado como algum rito costumeiro, como Pareus e outros comentaristas
observam; portanto, não depende de qualquer preceito especial, restrito a Abraão como
profeta, pois não é citado somente um, e sim vários tipos de ritos de juramento erguendo
a mão e colocando-a debaixo da coxa.
3. Quase todos os cristãos realizam alguma cerimônia significativa não ordenada a qual
juram ser legítima. As notas inglesas informam que os costumes dos países são muito variados
neste ponto, mas que a maioria concorda em acrescentar alguma evidência externa às palavras,
por ato ou gesto, ao fazer um juramento, a fim de que seja mais reconhecido e bem lembrado do
que meras palavras de afirmação, promessa ou imprecação. E Josefo (citado por Grotius) nos diz
que, naquela época, era costume entre os judeus jurar recorrendo a essa cerimônia de pôr a mão
sob a coxa (fosse como sinal de sujeição; ou porque era o lugar da espada, o instrumento de
vingança, segundo Grotius e outros; ou na expectativa da descendência prometida, como
pensavam os patriarcas). E o caso da súplica de Abraão mostra isso (Gn 14.24).
4. Uma ação de nenhuma outra parte do corpo é mais censurada por manifestar a mente
do que a língua. Deus nunca disse que você não deve, de forma alguma, expressar sua mente em
assuntos sagrados ou civis, senão pela língua. Uma alteração na expressão do rosto pode
expressá-la; uma cara fechada ou um olhar agradável. O semblante é o indicador da alma. Paulo
levantou a mão para os judeus quando falou por si mesmo. Cristo agiu como se pretendesse ir
mais longe (cf. Lc 24.28). As palavras não são sinais naturais, mas inventados e arbitrários nos
detalhes, embora o poder de expressar palavras criadas e aprendidas assim seja natural. Se for
lícito usar palavras significativas e não ordenadas no culto, é lícito valer-se de atos relevantes
(sob a devida regulação). Portanto, todas as igrejas primitivas utilizaram muitos desses recursos,
e jamais li acerca de um único opositor. Levantar-se durante o credo é uma expressão substancial
de consentimento da qual todas as outras igrejas nunca tiveram escrúpulos. Não só elas, como
também não conformistas antigos e os atuais, até onde sei. Sentar-se, ficar de pé ou ajoelhar-se
enquanto canta os salmos fica a critério de cada um. Tirar o chapéu é uma formalidade ou atitude
séria no culto, não uma ordenança, nem é usada hoje com a mesma relevância de antigamente. E
onde cobrir a cabeça significa reverência, é melhor não deixá-la à mostra. Por essa razão, a
prática no serviço a Deus deve ser adequada: em um país, costuma ser sinal de reverência o ficar
de pé; em outro, sentar-se e curvar a cabeça; em outro, ajoelhar-se; em outro, prostrar-se. Quando
as alianças entre Deus e o povo são renovadas, a concordância pode ser expressa de modo
legítimo, quer colocando-se em pé, quer levantando a mão (por meio do que se costumava
aprovar as coisas sagradas), por subscrição ou por voz, pois Deus nos ordenou a manifestar
consentimento, reverência etc., contudo deixou livres a palavra, o gesto ou o sinal de expressão.
Quem afirma que Deus não permite nenhum outro alcance da mente para as coisas sagradas por
livre vontade, mas nos deixou presos somente às palavras, deve provar o que diz (e terá de fazê-
lo contrariando as Escrituras, a natureza e todo o discernimento e costume de todas as igrejas de
Cristo e do mundo).
III. Quanto ao caso de tomar o nome de Deus em vão, o que, para ser breve, associei ao
juramento, isso acontece: 1. Da forma mais grosseira e hedionda; 2. Ou de um jeito pior.
1. A forma mais grosseira de tomar o nome de Deus em vão é por perjúrio; ou por
recorrer a ele para testemunhar uma mentira. Entre os judeus, vaidade e mentira eram palavras
quase sempre consideradas sinônimas.
2. A prática mais vil de tomar o nome de Deus em vão, contudo, é usá-lo levianamente,
sem reverência, com desprezo, em tom de brincadeira, ou sem motivo justo. Nisso também há
profanação e um pecado enorme, agravado de acordo com o grau de desprezo ou injúria. Numa
conversa banal, é um pecado imenso usá-lo desrespeitosamente, como um adágio: Ó, Senhor; ou
Ó, Deus; ou Ó, Jesus; ou Deus nos ajude; ou Senhor, tenha piedade de nós; ou Deus, envie isto
ou aquilo; ou, de qualquer modo, tomar o nome de Deus em vão. Todavia, usá-lo em zombarias
e desprezo contra a religião, ou fazer cartilhas ou peças teatrais com tais zombarias profanas e
desdenhosas, é uma das maiores vilanias de que a língua do homem pode ser acusada contra seu
criador (tratarei disso mais adiante).
Orientação I. Para evitar toda essa profanação de jurar e tomar o nome de Deus em vão,
a primeira diretriz geral deve ser a seguinte: observar quão grande evidência este pecado é de
uma alma perdida, ímpia e miserável. Por ser considerado um pecado comum ou frequente,
portanto, não há qualquer princípio eficaz no coração que se lhe oponha. À vista disso, tem a
primazia na vontade; e, deste modo, não se arrepende (no que diz respeito a qualquer
arrependimento salvador e restaurador): se tivesse alguma virtude genuína, esta lhe ensinaria a
temer e honrar mais a Deus. Menosprezar a Deus é incompatível com a santidade, caso esta
esteja em nível predominante, uma vez que são atitudes diretamente opostas.
Orientação II. Torne seu coração prevenido contra o mal intrínseco a seu pecado. Você
não cometeria um pecado com tanta facilidade e tão à vontade se não o considerasse
insignificante. Para que tenha consciência disso, considere os agravantes a seguir:
1. Medite em quem é esse Deus a quem você ofende. Não é ele o grande e temível
soberano que criou, sustenta e ordena o mundo segundo a sua vontade? O comandante e juiz de
toda a terra, infinitamente superior ao sol em glória? O Deus santíssimo, que deve ser
mencionado em santidade? E você fará de seu temível nome um provérbio, que passa de boca em
boca? Jurará por este santo nome impiamente? Tomará o nome de seu Deus como dificilmente
faria com o nome de seu pai, ou de seu rei? Vai dispará-lo com irreverência e desprezo, como se
faz com uma bola de futebol? Não sabe mais a diferença entre Deus e o homem? Conheça ao
Senhor, e em breve tremerá diante de seu nome, em vez de insultá-lo por falta de reverência.
2. Avalie quem é você, que se atreve a profanar o santo nome de Deus. Não é você
criatura e súdito dele, sujeito a honrá-lo? Não é um verme, incapaz de resisti-lo? Ele não pode
enterrá-lo no inferno, ou arruinar e se vingar de você com uma palavra, ou menos que isso? Ele
não precisa dizer nada além de “Que seja assim” para executar vingança sobre o maior dos seus
inimigos. Se ele o desejar, assim será feito. Logo, você é uma pessoa apropriada para desprezar
esse Deus e ofender o seu nome? Não é uma complacência maravilhosa da parte dele permitir
que vermes como nós orem, louvem e adorem a ele, e que aceite isso de nossas mãos? Mesmo
assim, você se atreve a insultá-lo e a menosprezá-lo? Por várias vezes tenho ouvido as mesmas
línguas ímpias reprovarem as orações dos santos, como se eles fossem ousados e íntimos demais
de Deus; e pleitearem contra a oração longa ou constante, pois o homem não deve ser tão
audacioso com Deus; e convencerem outros de que Deus não as aceita, e que essas mesmas
orações também ousam jurar pelo nome do Senhor sem constrangimento, e fazem isso sem
cerimônia, em conversas corriqueiras. De fato, os servos de Deus devem estar atentos à ousadia
rude e irreverente, mesmo na oração. Quanto mais, então, deve-se condenar a ousadia de
profanar o santo nome de Deus? Eles devem cuidar da forma como usam o nome do Senhor em
oração e louvor, e você se arrisca a fazer mau uso dele com juramentos, maldições e
conversações vãs?
3. De vez em quando você não ora por esse nome pelo qual jura profanamente? Caso
contrário, parece que renunciou totalmente a Deus, e de fato é um miserável infeliz. Contudo, se
é isso que acontece, que hipócrita você se revela em todas as suas orações, pois se compromete a
reverenciar o mesmo nome de Deus, o qual é capaz de proferir sem reverência, e jurar e
amaldiçoar por ele quando está de joelhos. Faz parte do caráter hipócrita de um homem que ele
se curve ao nome de Jesus, e jure pelo nome de Deus, e ore a Deus na igreja, de quem ele se
esquece ou por quem jura pelo resto da semana. A consciência não lhe aflige por essa hipocrisia,
quando reflete nesse insulto a Deus em suas orações?
4. Medite, homem, na sua angústia, que utilidade terá esse santo nome, que ora você
ofende? Quando a doença e a morte chegarem, então clamarás: “Senhor, Senhor!”. Assim o
nome de Deus será invocado com mais reverência. E você se atreve a fazer dele uma bola de
futebol hoje? Logo, não tem medo de que seja o seu pavor lembrar, no leito de morte, quando
estiver invocando a Deus: “Ah, este é o nome pelo qual eu costumava jurar, ou tomar em vão”?
5. Lembre-se de que milhões de anjos gloriosos enaltecem esse poderoso e santo nome
que você profana e toma em vão. E o fato de que alguns deles não se tornem os executores da
vingança de Deus contra você não o admira? E que a terra não se abra e o engula? Deveria um
verme na terra lançar ao ar, ou jurar profanamente por esse nome, a quem uma legião de anjos
gloriosos engrandece?
6. Suponha que você é mais ímpio do que aqueles que profanam coisas santificadas e
consagradas a Deus. Será que Belsazar foi castigado com a perda do reino e da vida por utilizar
os utensílios do santuário em sua farra?[6] Você consideraria um profano aquele que fizesse da
igreja um estábulo e alimentasse seus porcos com o cálice da comunhão? E não entende que o
nome de Deus tem um nível mais elevado de santidade do que qualquer lugar ou utensílios de
adoração a ele? E, por conta disso, violar o seu nome é profanação maior do que violar qualquer
um deles? A sua língua não o condena de hipocrisia, então, quando você clama em alta voz
contra qualquer pessoa que profana a igreja, ou a pia batismal, ou o cálice da comunhão, ou a
mesa, e, no entanto, você mesmo profana normalmente o santíssimo nome de Deus, e faz uso
dele como um nome comum?
7. Considere quão indignamente você retribui a Deus por ter lhe dado a língua e a
linguagem. Ele lhe concedeu essa nobre capacidade para honrá-lo. E o seu agradecimento é este,
usá-las para desonrá-lo, jurando e tomando o nome dele em vão?
8. Seu sussurro contagioso corrompe os outros. Você costuma fazer com que Deus seja
levado à desonra comum entre suas próprias criaturas, quando ouvem pronunciar seu nome com
desprezo?
9. Esqueceu-se de quão terno e zeloso Deus se mostrou, da honra de seu santo nome; e
de que profetizou terríveis ameaças contra seus profanadores, e de quais julgamentos exerceu
sobre eles? “Nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanarás o nome do teu Deus. Eu sou o
Senhor.” (Lv 19.12). Veja também Levítico 18.21. E, em Levítico 21.6, é dito dos sacerdotes:
“Santos serão a seu Deus, e não profanarão o nome do seu Deus”. Do mesmo modo:
Se não tiveres cuidado de guardar todas as palavras desta lei, que estão escritas neste
livro, para temeres este nome glorioso e temível, o Senhor teu Deus, então o Senhor
fará espantosas as tuas pragas, e as pragas de tua descendência, grandes e permanentes
pragas, e enfermidades malignas e duradouras.
Deuteronômio 28.58-59
Adorar a Deus e confiar nele é chamado de “andar em seu nome” e “invocar o seu
nome”. Veja Miqueias 4.5; Salmos 99.6. O lugar de sua adoração pública é chamado “o lugar,
onde eu fizer celebrar a memória do meu nome” (Êx 20.24; Dt 12.5, 11, 21). “[Eles] santificarão
o meu nome; sim, santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel.” (Is 29.23). “Por
amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha
glória não a darei a outrem.” (Is 48.11). Deus falou a Moisés, e Moisés a Arão quando seus filhos
foram assassinados: “Serei santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado
diante de todo o povo.” (Lv 10.3). E também em Levítico 24.10-14, um homem que blasfemou e
amaldiçoou, ao lutar com outro, foi apedrejado até a morte. E é bem terrível o que Deus diz no
terceiro mandamento: “O Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão”
[Êx 20.7].
10. Você não costuma fazer a oração do Pai Nosso, que diz: “Santificado seja o teu
nome” (Mt 6.9; Lc 11.2), e, ainda assim, profanará o nome que ora para que seja santificado?
Jurar e pronunciar esse nome sem reverência e em vão em suas conversas banais é santificá-lo?
Ou Deus suportará tamanha hipocrisia, ou levará em conta orações hipócritas como essas?
11. O hábito frequente de fazer juramentos é uma acusação injusta aos ouvintes, como se
fossem tão descrentes a ponto de não confiarem em alguém sem juramentos, e tão ímpios, a
ponto de se deleitarem na profanação do nome de Deus. Isso é motivo de consternação para todo
ouvinte honesto.
12. Você está acusando a si mesmo como alguém suspeito de mentir, de quem não se
pode acreditar, pois entre pessoas honestas, uma palavra é digna de crédito sem a necessidade de
juramentos. Portanto, se você fosse considerado uma pessoa honesta, sua palavra pura seria
acreditada. E ao fazer juramentos, você está dizendo a todos que o ouvem que supõe que sua
palavra não é digna de confiança. Por que, então, você precisaria revelar isso tão abertamente aos
outros, se assim fosse?
13. E ao jurar, revela que a suspeita é verdadeira e que, de fato, não se deve acreditar em
você. Desse jeito, está longe demais de tornar suas palavras mais dignas de confiança, pois quem
tem tão pouco escrúpulo e temor a Deus a ponto de jurar profanamente, é difícil que seja
considerada uma pessoa que tenha qualquer senso de uma mentira. O mesmo Deus se ofende
tanto por uma coisa quanto por outra. A pessoa que vive jurando justifica a suspeita de que ela
seja uma mentirosa.
14. Tanto jurar quanto tomar o nome de Deus em vão são dos pecados mais graves,
porque não existe uma tentação mais forte para eles. Geralmente eles não trazem honra, mas
vergonha; não produzem prazer sensual aos sentidos, como a gula, a embriaguez e a impureza; e
quase sempre são cometidos sem benefício algum que atraia os homens para eles. Não se ganha
um centavo sequer com o pecado, motivo pelo qual é complicado descobrir o que nos atrai, ou
por que o cometemos, a menos que seja para mostrar a Deus que não o tememos, ou que
pretendemos desafiá-lo, ou fazer o que achamos que o ofenderá, por mero despeito. De sorte que
se poderia achar que uma graça ínfima serviria para curar um pecado tão improdutivo. Por essa
razão, é um sinal de ingratidão.
15. Quão terrivelmente você atrai a vingança de Deus sobre si mesmo! Amaldiçoar a si
próprio é um pedido de vingança; jurar profanamente é um apelo ímpio e desprezível para o
julgamento de Deus. E você se atreve, mesmo em seus pecados, a apelar para o juízo do eterno?
Não tem mais temor? Então, este julgamento você terá! Contudo, logo lhe será suficiente, e
descobrirá o que significa a palha apelar para o “fogo consumidor.” (Hb 12.29).
Orientação III. Lembre-se da presença de Deus e mantenha o temor no coração, e
lembre-se do julgamento do eterno para o qual você se apressa, e conserve uma consciência terna
e vigilância sobre a sua língua, e assim escapará com facilidade de um pecado como esse. Ousa
injuriar o nome de Deus perante a sua face?
Orientação IV. Escreva o terceiro mandamento, ou alguma daquelas passagens
tremendas das Sagradas Escrituras sobre suas portas ou cama, onde possa lê-los com frequência.
Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de
Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a
cidade do grande Rei; nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo
branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa
disto é de procedência maligna.
Mateus 5.34-37
Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem façais
qualquer outro juramento; mas que a vossa palavra seja sim, sim, e não, não; para que
não caiais em condenação (ou hipocrisia, como o Dr. Hammond acha que deve ser
interpretado).
Tiago 5.12
“Como também qualquer que jurar falsamente será desarraigado.” (Zc 5.3). “Porque a
terra está cheia de adúlteros, e a terra chora por causa da maldição.” (Jr 23.10). “Só permanecem
o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue
imediatamente a outro.” (Os 4.2). Medite bem em textos como esses.
Orientação V. Ame a Deus e honre-o como Deus, e não conseguirá desprezar e insultar o
nome dele. Você reverenciará e honrará o nome da pessoa a quem ama, reverencia e honra. O
ateísmo e a falta de amor a Deus são as razões que o fazem profanar tanto o nome do Senhor.
Orientação VI. Discipline-se após cada transgressão com alguma pena voluntária ou
castigo que possa ajudá-lo a despertar sua reflexão e memória. Se ninguém aplicar a lei sobre
você, imponha mais sobre si mesmo e dê aos pobres. Embora não seja obrigado a fazer justiça a
si mesmo, é possível ajudar medicinalmente a curar-se por intermédio de alguém que tenha
aptidão sensata para isso.
CAPÍTULO 4 | ORIENTAÇÕES CONTRA A MENTIRA E O
FINGIMENTO
O QUE É A VERDADE?
Não somos obrigados a revelar toda a verdade (porque, nesse caso, ninguém guardaria
um segredo), muito menos a qualquer homem que nos questionar. Portanto, não somos obrigados
a nos esforçar para remediar o erro ou a ignorância de cada homem em todos os assuntos, uma
vez que não temos a obrigação de falar coisa alguma para quem quer que seja. E se não sou
forçado a anunciar verdade alguma, ou sequer a minha mente, não sou obrigado a tornar
conhecida toda a verdade, ou tudo o que se passa na minha mente – não, nem a todos aqueles a
quem devo dar a conhecer parte de ambos. Se nos depararmos com alguém em ignorância ou
erro que não estamos obrigados a corrigir (e, às vezes, seria até um pecado fazê-lo, como revelar
segredos dos conselhos ou exércitos do rei a seus inimigos etc.), devemos ajustar nossa fala a
essa pessoa, mesmo em relação a esses assuntos, de modo a não lhe revelar o que não deveria
saber, nem sobre o assunto nem sobre nossa mente. Podemos optar por permanecer em silêncio,
falar de forma obscura ou usar palavras que a pessoa não compreenderá (devido a sua própria
limitação) ou que sabemos que sua incapacidade de entendimento distorcerá. Contudo, não
devemos contar mentiras. Há também uma grande diferença entre falar sem remediar a
ignorância ou o erro do ouvinte em que o encontramos e falar de forma a levá-lo a algum novo
erro. Podemos agir da primeira maneira em muitos casos, nos quais não podemos agir da
segunda. Além disso, há uma grande diferença entre falar palavras que, no uso comum das
pessoas, costumam informar os ouvintes da verdade, embora saibamos que, devido a alguma
fraqueza deles, eles as entenderão mal e se enganarão, e falar palavras que, no uso comum das
pessoas, têm significados diferentes dos quais as usamos. Na primeira maneira, por vezes o
ouvinte é o enganador de si mesmo, e não o falante, uma vez que o falante não é obrigado a lhe
revelar mais nada. No entanto, neste último caso, o orador é o enganador. Além disso, é
fundamental distinguir entre falar com alguém a quem é nosso dever revelar a verdade e falar
com alguém a quem não estamos obrigados a revelá-la, especialmente se nosso dever para com
Deus, nosso rei ou nosso país nos obriga a mantê-la em sigilo. Com base nesses princípios e
distinções, é possível compreender o que constitui uma mentira e esclarecer as dúvidas comuns
que surgem quanto à veracidade ou falsidade de nosso discurso. Por exemplo:
Questão I. Sou obrigado a falar a verdade a cada pessoa que me questionar?
Resposta. Você não está obrigado, de forma alguma, a falar a todos que lhe perguntarem,
em todas as ocasiões; e aquele que se cala não revela a verdade.
Questão II. Sou obrigado a falar a verdade a todos a quem respondo?
Resposta. Às vezes, sua resposta pode ser uma negação de resposta ou recusa em revelar
o que lhe é pedido.
Questão III. Sou obrigado a falar toda a verdade sempre que declaro parte dela?
Resposta. Não, a palavra de Deus é que lhe dirá quando e quanto você deve revelar aos
outros. E se for até onde Deus lhe permitir, não significa, portanto, que deva ir mais longe. Um
soldado capturado pelo inimigo deve dizer a verdade quando for questionado sobre coisas que
não prejudicarão o seu rei e o seu país; porém, deve ocultar todo o restante que possa beneficiar
o inimigo contra eles.
Questão IV. Sempre é pecado falar uma mentira óbvia, ou seja, falar de forma que não
condiz com aquilo que estou comunicando?
Resposta. Nem sempre: às vezes, é possível acreditar em uma inverdade sem pecar, uma
vez que acreditamos nas coisas de acordo com a evidência e aparência delas. Desse modo, se o
engano for inevitavelmente causado por falsa aparência ou prova, sem qualquer culpa de sua
parte, logo estar confuso não será culpa sua. Entretanto, suas afirmações não devem demonstrar
uma certeza além da que você possui, nem mais confiança do que a evidência possa garantir.
Quando disser tal coisa é assim, o significado deve ser somente estou convencido de que é assim,
pois se você disser tenho certeza de que é assim quando não tiver certeza, cometerá afronta.
Questão V. Sempre é pecado falar falsamente ou de forma incompatível com o assunto
quando sei que é falso? Ou seja, é sempre transgressão falar de maneira contrária ao meu
julgamento ou consciência?
Resposta. Sim, pois Deus proibiu tal coisa por razões importantes e graves, como ouvirá
em breve.
Questão VI. É pecado quando não conto uma mentira de que tenho ciência, mesmo que
não contrarie a minha opinião, e nem tenha o propósito de enganar?
Resposta. Sim, e é pecado também quando não nada disso ocorre. É seu dever saber o
que fala e ponderar antes de falar; e sua obrigação estar familiarizado com a verdade ou a
falsidade que você desconhece; e seu dever tomar o cuidado de não enganar outra pessoa
negligentemente. Ora, se ainda assim, negligencia todos esses deveres e, por ignorância e
negligência culpáveis, engana a si mesmo e aos outros, então é um pecado, bem como se você os
ilude conscientemente.
Questão VII. Embora seja um pecado, permanece incerto se é uma mentira?
Resposta. Isso não passa de disputa de nomes, uma controvérsia acerca do nome, e não
da matéria. Desde que concordemos que é um pecado contra Deus e que deve ser evitado, não
importa se chama isso de mentira ou de outro nome. Acho, porém, que deva ser chamado de
mentira: mesmo sabendo que a maioria das definições segue Cícero[7] e afirma que uma mentira é
uma falsidade contada com o propósito de enganar. Contudo, penso que, quando a vontade é
culpavelmente negligente em não enganar, uma inverdade dita de forma negligente merece o
nome de mentira.
Questão VIII. Para livrar minhas palavras da falsidade, elas devem ser sempre
verdadeiras no sentido característico e literal?
Resposta. Não. Neste caso, a determinação de Agostinho[8] é a verdade clara, o que é dito
figuradamente não é mentira (isto é, por esse nome). Falar com ironia, metonímia, metáfora etc.,
não é, portanto, mentir, pois a verdade das palavras reside na capacidade de expressar o objeto e
a ideia, que estão adequadas à compreensão dos ouvintes. São palavras verdadeiras que os
expressam, seja própria ou figuradamente – no entanto, se as palavras forem usadas
figurativamente, em contradição com os ouvintes e o bom senso deles, com o propósito de
enganar, então são uma mentira, a despeito de você usar um símbolo como pretexto para
comprová-las.
Questão IX. Devo empregar minhas palavras de acordo com o senso comum, ou com a
concepção do ouvinte?
Resposta. Sem dúvida, na medida em que pretende informar o ouvinte, você deve falar-
lhe no sentido específico dele. Se ele considera alguma palavra com um significado peculiar,
diferente do senso comum, e você sabe disso, fale no sentido particular dele. Se, todavia, for uma
situação em que você é obrigado a esconder dele, a questão é muito mais complicada. Alguns
acreditam que é mentira e pecado se comunicar com alguém usando termos que você sabe que
ele usará para o seu próprio engano. Outros acreditam que você não é obrigado a se adaptar à
fraqueza do outro e usar uma linguagem contrária ao senso comum, e que não é culpa sua se ele
a interpreta de forma errônea, mesmo que você preveja que não será benéfico que ele a
compreenda, e que você não está obrigado a fazer com que ele a compreenda, mas o contrário. O
próximo item abordará essa questão.
Questão X. É lícito, por meio da fala, enganar outrem, sim, e tê-lo como intenção, desde
que seja feito pela verdade?
Resposta. Não é pecado, em todas as ocasiões, contribuir para o erro ou engano de outro
homem, pois:
1. Existem muitas situações em que não é pecaminoso que alguém cometa um erro, e
esse erro não lhe causa nenhum dano. Portanto, contribuir para algo que não seja
pecaminoso ou prejudicial por si só não é um pecado. Além disso, existem casos em que
um erro, embora não seja pecado em si, pode ser considerado um dever, como pensar
com caridade e benevolência a respeito de um hipócrita, desde que ele pareça sincero.
Nesse caso, contribuir para o erro dele por meio de relatos benevolentes parece ser um
dever, uma vez que tanto ele quanto eu somos obrigados a acreditar no melhor enquanto
for provável.
2. Em muitas situações, a ignorância ou o erro de alguém pode ser altamente benéfico
para ele, e sua vida ou propriedade podem depender disso. Posso saber que, se ele
compreendesse determinadas informações, ele as utilizaria de maneira prejudicial para
si mesmo.
3. Há muitos casos em que o erro inocente de um homem é necessário para a segurança
de outros ou da comunidade.
4. É lícito, em tais casos, enganar esses homens por meio de ações, por exemplo, o
inimigo por estratagemas militares, ou o traidor por sinais que o confundirão. E as
palavras da verdade que de antemão sabemos que ele irá confundir, não por nossa culpa,
mas pela deles próprios, parecem ser menos questionáveis do que ações que têm a
inclinação intrínseca para ludibriar.
5. O próprio Deus escreveu e proferiu palavras que Ele sabia que pessoas ímpias
interpretariam erroneamente e se enganariam. Ele também realizou obras e concedeu
misericórdias que Ele sabia que seriam utilizadas como armadilhas contra elas mesmas.
Se for considerado profano, a prerrogativa ou domínio divinos não podem ser usados
como desculpa. E neste sentido (quanto a permitir e provocar) é dito: “E se o profeta for
enganado, e falar alguma coisa, eu, o Senhor, terei enganado esse profeta.” (Ez 14.9).
Contudo, não devemos pensar como Platão, que é lícito mentir a um inimigo para
enganá-lo, pois
a. Todo engano que contrarie a santidade ou a justiça é pecaminoso.
b. Qualquer engano que envolva uma mentira é pecaminoso. Como diz Agostinho:[9] Há
mentiras que são ditas para a segurança ou comodidade de outrem, não por malícia, mas
por misericórdia, como fizeram as parteiras de Faraó – essas mentiras não são elogiáveis
em si mesmas, a não ser pelo artifício (ou benignidade) delas. Os que mentem assim
merecerão (quero dizer, estarão no caminho), enfim, de serem libertos de toda mentira.
Há também a mentira por brincadeira, que não engana, visto que aquele com quem se
fala sabe que aquilo foi dito em tom de brincadeira. E esses dois tipos não são
irrepreensíveis, porém a culpa não é grande. Um homem perfeito não deve mentir para
salvar a vida – mas é lícito silenciar a verdade, embora não o falar falsamente. Alguns
acreditam que um médico pode mentir para persuadir o paciente a tomar um remédio
para salvar sua vida. Ele pode enganá-lo legalmente, escondendo um medicamento e
usando discursos verdadeiros e obscuros, que ele acredita que o paciente não
compreenderá corretamente, mas não por meio de uma mentira.
Questão XI. Onde reside o vício característico de mentir? No enganar? Ou no falar
falsamente? Ou no falar de modo oposto aos pensamentos?
Resposta. A circunstância agravante de uma mentira é que ela seja um engano
prejudicial. A malignidade do pecado, contudo, não consiste no mero engano do intelecto de
outro homem, pois, como foi dito, pode ser um grande benefício para muitos homens serem
enganados. Por exemplo, a vida de um paciente pode ser salva por isso, quando seu médico
descobre ser necessário que ele tome um remédio que, se não for pelo engano, ele não tomará. E
isso também pode acontecer às crianças e pessoas de cabeça fraca. Portanto, um engano caridoso
como esse não pode ser considerado um pecado. A natureza comum da mentira não se baseia
apenas na intenção de enganar, mas também no ato de proferir falsidades contrárias ao próprio
pensamento. Caso contrário, chegaríamos à conclusão de que todo tipo de engano é pecaminoso
ou que é lícito proferir mentiras ou falsidades sempre que o engano a outra pessoa seja caridoso
ou legítimo, o que não pode ser aceito.
No entanto, nem toda inverdade é uma mentira. Alguns estudiosos fazem distinção entre
mentiri (com o sentido de contrariar a mente) e mendacium dicere [contar uma mentira], como
se contar uma mentira não significasse sempre mentir, por não ser contrário à mente. Então, por
mendacium [uma mentira] eles querem dizer nada mais do que falsum [falso, falsidade].
Logo, concluo que uma mentira é a afirmação voluntária de uma falsidade. E quanto
mais tende a prejudicar o outro, mais é agravada. Uma coisa, porém, é ser prejudicial; outra, ser
mentira. Quando nomeio “falsidade”, quero dizer aquilo que pode enganar o ouvinte. Para que
algo seja considerado uma mentira, é essencial que seja enganador, embora a intenção de
enganar seja encontrada apenas nos tipos mais explícitos de mentiras. Chamá-la de “falsidade”
não seria inadequado, pois não seria falsa se não fosse enganadora ou capaz de enganar. Uma
expressão inadequada ou figurativa que possui um significado correto quando utilizada pelo
falante e ouvinte não é considerada uma falsidade. Em uma língua, uma dupla negação pode ser
uma afirmação, enquanto em outra, pode ser uma forma mais enfática de negação. No entanto,
nenhuma delas deve ser chamada de inverdade pelos outros.
Quando menciono “afirmação”, estou me referindo a qualquer expressão que torne a
falsidade nossa, em contraste com uma narrativa histórica. Repetir uma mentira não é
considerado mentir, pois você está simplesmente relatando o que outra pessoa disse. Com
relação ao termo “voluntário”, ele não abrange apenas ações realizadas conscientemente, com
vontade genuína, escolha deliberada ou consentimento. Ele engloba também aquelas ações que
são realizadas por culpa da vontade, e que podem ser atribuídas a ela. É essencial compreender
essa distinção em relação a todos os pecados. Embora seja verdade que todo pecado seja
voluntário e que não haja pecado sem voluntariedade, a palavra “voluntário” não se refere apenas
ao que é desejado de fato, mas a todas as ações pelas quais a vontade é culpada. Agostinho
afirmava corretamente: “Não é a língua que se torna culpada, a não ser por uma mente culpada”.
É importante ressaltar que a mente ou vontade também pode ser culpada por omissões proibidas,
além das ações. Portanto, uma mentira ou inverdade voluntária ocorre quando a mente e a
vontade não restringem a língua quando deveriam fazê-lo. Exemplos:
Quando um homem erra ou é ignorante por preguiça ou negligência intencional, e fala
falsamente quando pensa que é verdade, há uma falsidade culposa e, por conseguinte,
uma mentira. Ele poderia tê-la evitado e não o fez, e este é o caso da maioria dos falsos
mestres e hereges. Do mesmo modo, se um homem – por paixão, costume ou descuido –
deixar a língua rolar solta antes de seu entendimento, e falar falsamente por não
considerar ou prestar atenção ao que diz, isso é uma inverdade culpável e uma mentira,
e é voluntária. Porque a determinação deveria ter evitado tal coisa e não o fez, embora
ainda não houvesse o propósito de enganar. Veja, então, que existem dois graus de
mentira: a. o mais grosseiro é falar de uma falsidade conhecida, com o propósito de
enganar; b. o outro é falar falsamente por ignorância, erro ou falta de consideração
culpáveis.
Orientação I. Esteja bem informado sobre o mal do pecado da mentira, pois sua causa
comum é os homens pensarem que não há grande dano nele, a menos que alguém seja muito
prejudicado, mas esse pecado não é proibido por Deus apenas por prejudicar os outros, e sim por
carregar nele todo esse mal.
Orientação II. Se quiser evitar a mentira, tome cuidado com a culpa. Corpos impuros
precisam de um véu, e têm muita vergonha de serem vistos. A imperfeição causa a mentira, e
esta aumenta a imperfeição. Quando os homens realizam ações que temem ou se envergonham
de revelar, acreditam ser necessário recorrer à habilidade para ocultá-las. A engenhosidade e a
astúcia, porém, não são bons substitutos da honestidade; em vez disso, agravam a situação, pois
o coração corrompido do ser humano naturalmente busca artimanhas enganosas e desvios, assim,
previna a causa e a oportunidade da sua mentira. Não cometa o erro que demande uma mentira.
Evitar o erro é preferível a ocultá-lo, mesmo que você tenha certeza de mantê-lo muito bem
guardado, o que, na verdade, não é comum, pois a verdade normalmente se revela. Eis a melhor
forma do mundo para evitar a mentira: permanecer inocente. E não faça nada que tema a luz,
pois a verdade e a honestidade não envergonham, nem desejam ser escondidas. Os homens são
muito viciados neste crime: quando a tolice, ou devassidão, ou apetites, ou negligência, ou
preguiça, ou descuido fazem com que falhem, eles logo buscam uma mentira para escondê-la.
Isso equivale a pedir ao diabo que defenda ou cubra suas próprias obras. Homens sábios,
obedientes, cuidadosos, diligentes e conscienciosos, contudo, não precisam de tais artimanhas
miseráveis.
Orientação III. Tema a Deus mais do que aos homens. O medo excessivo do homem é
uma causa comum de mentira. O medo faz com que as crianças mintam com tanta facilidade para
escapar da punição, e a maioria das pessoas que estão sujeitas a sofrer muito com os outros corre
o risco de mentir para evitar o seu desagrado. Por que não temer mais a Deus, cujo
descontentamento é indescritivelmente mais terrível? Seus pais ou mestres ficarão zangados e
ameaçarão corrigi-lo. Deus, todavia, ameaça amaldiçoá-lo, e sua ira é um fogo consumidor. A
desaprovação de ninguém pode atingir sua alma e se estender pela eternidade; correrá para o
inferno a fim de escapar do castigo na terra? Lembre-se: sempre que for tentado a escapar de
qualquer perigo por meio de uma mentira, você se deparará com um perigo mil vezes maior; e
nenhuma dor da qual escape por meio da mentira poderá causar metade da dor que ela causa. É
uma atitude tão tola quanto curar a dor de dente cortando a cabeça.
Orientação IV. Engula o seu orgulho e rebaixe sua excessiva consideração pelos
pensamentos dos homens. O orgulho torna os homens muito desejosos de reputação e
impacientes demais com a opinião dura dos outros, de modo que todos os esforços honestos dos
orgulhosos são insuficientes para conquistar a reputação desejada, deixando a mentira como a
única alternativa. A vergonha é um sofrimento tão intolerável para eles que fazem da mentira o
disfarce familiar de sua nudez. Aqueles desprovidos de riquezas encontram orgulho em mentir
para se fazerem parecer importantes, enquanto os que não têm nobreza de nascimento fabricam
uma linhagem nobre por meio da mentira, e aqueles que são desprezados em seus ambientes
familiares constroem uma reputação respeitável entre estranhos com enganos. O que carece de
instrução, de títulos, ou de qualquer coisa de que se orgulhe, tentará suprir as suas necessidades
por meio de uma mentira. Aqueles que cometem crimes vergonhosos, se arrogantes, preferem a
mentira ao invés da vergonha.
No entanto, se o orgulho for curado, a tentação de mentir se desvanecerá. Você será tão
indiferente a questões de honra ou reputação que não arriscará que sua alma desagrade a Deus
por isso. Não que alguém deva ser insolente, ou totalmente indiferente à reputação, porém
ninguém deve supervalorizá-la, nem antes preferi-la à sua alma, nem procurá-la por meios
ilegais. Evite a vergonha fazendo o bem, sem se conter (apenas certifique-se de ter um propósito
superior). Sêneca disse: “Há mais pessoas que evitam o pecado por vergonha do que por virtude
ou boa vontade”. É bom quando a virtude é tão respeitada e o vício tão desaprovado que aqueles
que não possuem virtude desejam ao menos a reputação, enquanto aqueles que não abandonam o
vício buscam escapar da vergonha. É benéfico que existam motivos humanos para conter aqueles
que não se preocupam com os divinos. No entanto, assim como os motivos humanos não
concedem virtude salvadora, os meios diabólicos e perversos estão longe de evitar qualquer dano
pernicioso e, na verdade, são meios certos de causá-lo.
Orientação V. Fuja da ambição e da dependência humana desnecessária. Os ambiciosos
entregam-se aos homens, e, portanto, lisonjeiro deve ser o seu ofício. E o quanto de mentira é
necessário para compor a bajulação, nem preciso lhe dizer. Raramente a verdade é considerada o
instrumento mais apropriado para a bajulação. Pelo contrário, a verdade costuma ser o caminho
que leva ao desprezo. “Aqueles que pregam a verdade livremente e sem lisonjas, e reprovam
veementemente as más ações, não têm o favor dos homens”, diz Ambrósio.[10] “Eles sempre
buscam a verdade com inimizade”.[511] O ódio é a consequência natural da verdade, da mesma
forma que a inveja é da felicidade. Quando perguntaram a Aristipo por que Dionísio falava tão
mal dele, ele respondeu: “Pelo mesmo motivo que todos os outros homens o fazem”, insinuando
que não era surpreendente que o tirano tivesse pouca paciência para a verdade e a franqueza,
assim como acontece com a maioria das pessoas. Elas são tão suscetíveis à culpa que todos,
exceto os aduladores, parecem tratá-las com demasiada severidade e agravar suas feridas. Aqui
reside grande parte da desgraça dos indivíduos de grande poder, pois poucos ou ninguém lida
honestamente com eles, e acabam sendo adulados até a ruína. Como Sêneca bem observou: “Aos
ricos, quando têm tudo, falta-lhes uma coisa: aquele que diz a verdade. Pois, se você se tornar
dependente ou cliente de pessoas prósperas e poderosas, precisará renunciar à verdade ou à
amizade”. Hierom achava que, por essa razão, Cristo não tinha uma casa onde repousar a cabeça,
porque não bajulava ninguém e, portanto, ninguém o recebia na cidade. E o pior de tudo é: onde
reina a bajulação, esta é considerada um dever, e sua negligência, um vício. Como Hieron diz:
“O que é mais lamentável, é que, por ser considerada um sinal de humildade e bondade, pode
acontecer que alguém que não sabe bajular seja tido como invejoso ou orgulhoso”.
No entanto, chegará o tempo em que o bajulador será odiado até por quem se agradava
de seus elogios falaciosos. O engano e as mentiras satisfazem à pessoa lisonjeada apenas por um
tempo, até que ela mesma descubra o amargor dos efeitos, e os frutos lhe digam que era apenas
um tipo adocicado de inimizade. Logo, não se sentirá satisfeita por muito tempo com o próprio
bajulador. A lisonja acaba sempre por ser doçura perniciosa, como Agostinho a chama. Existem
dois tipos de perseguidores: o opositor (ou depreciador) e o bajulador. Contudo, a língua do
bajulador fere mais do que a mão do opositor. E não pense que a grandeza ou o favor de qualquer
homem irá escusá-lo ou salvá-lo de suas mentiras, porque o Deus que os vinga é soberano. Diz
Agostinho: “Mas quem acha que existe algum tipo de mentira que não é pecado, enreda
vergonhosamente a si mesmo, enquanto se considera um honesto enganador dos outros”. Se
quiser ser honesto, “Não sejais servos de homens” (1Co 7.23).
Orientação VI. Não ame a cobiça. Para um homem cobiçoso, a mentira parecerá um jeito
fácil de alcançar o seu lucro, de fechar um bom negócio, ou de vender uma mercadoria quebrada
por mais do que vale. Aquele que ama o dinheiro mais do que a Deus e a consciência,
desagradará a Deus e à consciência por dinheiro, por este ou qualquer outro pecado.
Orientação VII. Aprenda a confiar em Deus. A mentira é a prática de quem pensa que
pode prover a si mesmo e mudar sozinho. Até mesmo os erros de Abraão e Isaque[11] (ao dizerem
que as esposas eram suas irmãs), e o de Davi ao se fingir de louco,[12] procederam de alguma
desconfiança em Deus. Eles não teriam achado que isso seria necessário para solucionar seus
problemas se tivessem confiado a vida plenamente a Deus. Tanto a ganância quanto a mentira de
Geazi[13] resultaram da falta de confiança em Deus. Se um homem estiver seguro quanto à
proteção do Senhor, e que é melhor seguir a vontade de Deus em todas as coisas do que a própria
vontade, que proveito ele acha que teria em mentir, ou em qualquer recurso pecaminoso?
Orientação VIII. Não dê muita credibilidade às notícias ruins. A malícia é um pecado tão
louco e tão inconcebível, e as línguas dos homens geralmente tão descuidadas do que dizem, que,
se você facilmente acredita em histórias maliciosas, está, na verdade, aceitando as palavras do
diabo e se tornando seu servo ao espalhar mentiras maliciosas. Acha que por elas serem contadas
por muitos, e ditas com confiança, pode acreditar legitimamente ou relatar o que ouve? No
entanto, isso é apenas achar que a vulgaridade, a maldade e o atrevimento dos mentirosos lhe
darão razão para ir atrás deles, até por conta de serem tão maus. Vai latir e morder porque os cães
fazem tais coisas? Se alguém é ferido por uma serpente, você deveria ajudar a curá-lo, não
desejar feri-lo também. É tão comum que pessoas egoístas, gananciosas, maliciosas, parciais e
facciosas contem mentiras e sejam ousadas em suas falsidades que é essencial que você, se
deseja não se tornar um mentiroso, seja cauteloso ao relatar qualquer coisa que ouça deles. Essas
pessoas criam histórias a partir do nada, inventando mentiras sem fundamento ou base (cf. Pv
17.4; Os 7.3; Na 3.1).
Orientação IX. Não se precipite em falar as coisas antes de prová-las. Avalie o que você
diz e se informe antes de falar. Após ter contado uma mentira, não é uma vergonha precisar sair
por aí dizendo que achava que fosse verdade? Logo, por que falar de algo que cogita, e não
esperar até entender melhor do que se trata? Se falar do assunto era assim tão urgente, você
deveria ter se limitado a dizer eu acho que é isso. Prove todas as coisas, e então retenha o que é
bom (cf. 1Ts 5.21), e declare o que é verdadeiro. Diz Cícero: “Não há nada mais vergonhoso do
que a imprudência, nem nada tão indigno da gravidade ou da constância de um homem sábio do
que sustentar uma falsidade; ou, sem qualquer hesitação, defender o que não foi suficientemente
investigado, constatado e conhecido”.
Orientação X. Preveja o que pode enlaçá-lo em uma mentira, a fim de conseguir evitá-lo.
Não deixe que a oportunidade e a tentação peguem-no desprevenido. A prevenção tornará mais
fácil vencer a tentação, a qual lhe será forte demais se inesperada.
Orientação XI. Adquira uma consciência sensível e ande como diante dos olhos e
ouvidos de Deus, e como alguém que está avançando para o julgamento divino (cf. At 5.4; Is
59.13; Ez 13.9-19). Uma consciência cauterizada ousa se aventurar em mentiras ou qualquer
coisa; mas o temor a Deus é o preservador da alma. O que faz as pessoas mentirem, e acharem
que não precisam lidar com ninguém além dos homens? Imaginam que confundem o homem
com uma mentira, e escondem a verdade. Contudo, caso se lembrassem de que têm de dar contas
a Deus, e de que ele está sempre presente e não pode ser enganado; e de que o seu julgamento
trará à luz todas as coisas ocultas, e denunciará todas as suas mentiras diante do mundo inteiro,
não aceitariam pagar tão caro por um manto rasgado e sujo, por um tempo tão curto. Não é de
espantar que os homens que não temem a Deus sejam mentirosos e não acreditem no dia do
julgamento.
Orientação XII. Para salvar os outros da mentira, bem como a si mesmo, certifique-se de
vigiar seus filhos contra ela e ajudá-los com sabedoria a entender o mal que ela provoca. Pois as
crianças são muito propensas a ela, e a correção insensata as assusta e faz com que mintam para
se livrarem, assim como a tolerância e a conivência as encorajam para o engano. Faça-os ler
sempre textos como estes: “Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com
o seu próximo.” (Lv 19.11). “Aquele que fala a verdade no seu coração” e etc. (Sl 15.2). (Ver
também Pv 17.7; Os 4.8). “Porque dizia: Certamente eles são meu povo, filhos que não mentirão;
assim ele se fez o seu Salvador.” (Is 63.8). “Quando ele profere mentira, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” (Jo 8.44). “E não entrará nela coisa alguma que
contamine, e cometa abominação e mentira.” (Ap 21.27). “Mas, ficarão de fora os cães – e
qualquer que ama e comete a mentira.” (Ap 22.15). “Porque se taparão as bocas dos que falam a
mentira.” (Sl 63.11). “O que usa de engano não ficará dentro da minha casa; o que fala mentiras
não estará firme perante os meus olhos.” (Sl 101.7). “A falsa testemunha não ficará impune e o
que respira mentiras não escapará (perecerá).” (Pv 19.5). “O governador que dá atenção às
palavras mentirosas, achará que todos os seus servos são ímpios.” (Pv 29.12). E também Salmos
31.18; 52.3. “Abomino e odeio a mentira; mas amo a tua lei.” (Sl 119.163). “O justo odeia a
palavra de mentira.” (Pv 13.5). “Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu
próximo; porque somos membros uns dos outros.” (Ef 4.25). Assim como um homem não
mentiria para enganar seus próprios membros, também não deveríamos enganar uns aos outros.
Resumindo, onde prevalece o amor a Deus e ao próximo, a verdade prevalece; mas onde
prevalecem o amor-próprio, a parcialidade e o interesse carnal, a mentira se torna uma serva
familiar e um meio considerado necessário para esses fins.
A mentira é um pecado tão comum e tão grande, e são muitos os casos sobre ela que
ocorrem todos os dias, que, embora eu ache que o que foi dito ofereça matéria suficiente para
respondê-los, citarei mais alguns deles claramente, a fim de ajudar na satisfação dos que não
podem receber respostas gerais para todos os seus casos particulares.
Orientação I. Entenda bem o que é conversa vã, pois muitos consideram vão o que não é,
e muitos não consideram vão o que de fato é. Portanto, abrirei essa questão antes de prosseguir.
Observe essas qualificações, e sua alegria e conversa descontraída não serão inúteis:
1. Que sejam assim e tanto quanto úteis para manter a alegria e vivacidade de espírito,
que são benéficas para a saúde e o dever; pois se as recreações para o corpo são lícitas, então os
divertimentos para a língua são lícitos, desde que sejam adequados ao seu propósito.
2. Que sua linguagem seja agradável, temperada com sal, e não uma comunicação
corrompida e imunda, não faça piadas com imoralidade ou pecado.
3. Que sejam inofensivas para os outros, não se divirta com os pecados ou fraquezas de
outros homens. Não faça piadas com o erro alheio.
4. Que sejam oportunas, e não quando outro estado de espírito for mais conveniente, nem
quando um discurso mais sério ou mais importante deveria acontecer.
5. Que sejam moderadas e não excessivas, não desperdiçando tempo em vão, nem
acostumando a mente dos falantes ou ouvintes à leviandade, ou os afastando das coisas que
deveriam ser preferidas.
6. Que tenham o cuidado de que toda a alegria e conversa sejam santificadas por um
propósito santo: em tudo, que a intenção seja animar os espíritos e se preparar para o serviço a
Deus, como faz ao comer e beber, e em todas as outras coisas.
7. E misturem (com reverência cuidadosa) algumas questões sérias, para que o propósito
e a aplicação não sejam esquecidos, e sua alegria não seja tão vazia e infrutífera quanto a dos
ímpios. Conversas esportivas, agradáveis e recreativas não são vãs, mas lícitas sob essas
condições.
8. Lembrem-se, ainda, de que a conversa mais santa e proveitosa deve ser a mais
agradável para nós, e não devemos, por meio do enfado, desviar-nos para a alegria carnal como
mais desejável, a não ser somente para a alegria natural e honesta, como companheira necessária
para alegrar os ânimos (Tg 5.13).
Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e
profanos e às oposições da falsamente chamada ciência, a qual professando-a alguns, se
desviaram da fé. A graça seja contigo. Amém.
1Timóteo 6.20-21
“Evite as conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez
mais para a impiedade.”
2Timóteo 2.16
4. O uso de uma infinidade desnecessária de palavras, até sobre aquilo que é bom e
necessário por si só, e que seria mais bem explicado de maneira mais breve (Jó 35.16). Mesmo
na pregação ou na oração, as palavras podem ser vãs, isto é, se não forem adequadas ao assunto e
aos ouvintes. É preciso perceber que as mesmas palavras são necessárias para um tipo de
ouvintes, no entanto são vãs para outro. Por essa razão, assim como os ministros devem ter o
cuidado de adequar a oratória aos ouvintes, assim também os ouvintes devem estar atentos para
não chamarem de vão, de modo crítico e precipitado, o que é dispensável para eles, ou para
semelhantes a eles. Pode ser que estejam presentes várias pessoas incultas, que o pregador
conhece melhor do que você; e os néscios esquecem o que é dito de forma concisa, eles precisam
receber tudo, em muitas palavras e repetidas vezes, do contrário não entendem, ou não se
lembram do que aprenderam. Contudo, ainda assim, o excesso efetivo de palavras, mesmo sobre
as coisas sagradas, deve ser evitado.
Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra
alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam
poucas as tuas palavras. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar,
palavras néscias.
Eclesiastes 5.2-3
Orientação II. Entenda também os agravantes das palavras vãs e quais delas são pecados
mais graves, a fim de que possam ser evitadas com mais cuidado. Embora todas as palavras vãs
sejam pecado, nem todas são igualmente pecaminosas, as piores são as que se seguem:
1. Quando as palavras vãs são constantes, multiplicam-se e se tornam a conversa e o
costume comuns, o que é o caso de alguns homens, porém abundantes em mulheres faladeiras,
cuja disposição natural inclina-as a tais coisas. Aquele que tem, portanto, menos sagacidade e
muita presunção e paixão, terá uma enxurrada de palavras para uma gota de senso. Caso se reúna
com uma pessoa muito paciente e ociosa a ponto de dar-lhe ouvidos, ficará sentado com ela por
uma hora inteira, sim, por muitas horas, para contar-lhe primeiro como vai o relacionamento dele
com o cônjuge, ou com os filhos, ou com os empregados. Em seguida, falará do gado, da casa ou
das terras; e depois, contará as novidades e começará uma longa conversa sobre os assuntos de
outras pessoas, que ele não conhece e com as quais não têm nenhuma relação. Logo depois,
falará sobre o tempo; e então, do mercado – do que está barato ou caro; contará o que fulano lhe
disse, e o beltrano lhe contou; uma história dos velhos tempos, e como o mundo mudou e os
tempos antigos eram melhores do que os de agora. Sem demora, ele lhe relatará o que tal pessoa
fez de errado, e o que ele disse dela; e quão mau é este ou aquele homem, e o que disse ou fez de
errado; e qual é a notícia do país quanto a este e aquele temas. Ato contínuo, irão narrar que
roupas sicrano usa, e quão fino e elegante é certo alguém; quem conserva bem uma casa, e quem
é mesquinho e avarento. Se estiver à mesa, terá algo a dizer sobre cada prato, e cada tipo de
carne ou bebida – as novidades, principalmente, ocupam grande parte de sua conversa (cf. Ez
33.30). E será ótimo se, em tudo isso, o sermão, ou a oração, ou a vida do pregador não forem
introduzidos para preencher as lacunas do discurso; e pode ser que o conselho, e as leis e os
feitos do rei sejam contaminados por tagarelices irreverentes desses papagaios, bem como
aspectos e pessoas mais mesquinhas. Como disse Teofrasto,[16] aquele que não quiser cair em
confusão fuja deles com toda a pressa que puder. Se o tédio for um sintoma tão grande disso
como se diz, eu preferia achar que isso lançaria alguém na miséria. Quem não tem nada a fazer
neste mundo, nem nada pelo mundo vindouro; e não usa o tempo, nem a inteligência, nem a
língua, nem as mãos, mas acorda como se estivesse dormindo, e vive como se precisasse fingir,
já que está morto; que não tem patrão, nem trabalho, nem salário, porém acha que nasceu para
ver o farfalhar das folhas, ou ouvir o zunido das moscas; deixe-o escolher uma companhia assim,
sentar e ouvir essas pessoas conversarem.
Quanto a mim, posso suportar com mais facilidade que me chamem de rabugento,
orgulhoso, descortês ou de qualquer coisa. Mais que isso, eu preferiria cavar, arar ou limpar
canis a suportar o tédio de seus discursos. Dionísio condenou um homem à morte por criticar sua
poesia, entretanto, mandou que o trouxessem para prová-lo mais uma vez. O homem levantou-se
no meio da recitação e disse: “Vamos lá, deixe-me ir para a forca; prefiro morrer a ficar tão
exausto”. Não sou tão impaciente; contudo, ficaria feliz se pudesse dormir bastante enquanto
preso a uma companhia dessas. E se tivesse de mandar para a escola uma pessoa que estivesse
doente do mal do falatório, o distúrbio da fala, eu pagaria (como Isócrates[17] ordenava) de bom
grado o dobro ao professor: a metade para ensiná-lo a segurar a língua, e a outra para ensiná-lo a
falar. Penso que muitos desses homens e mulheres estariam praticamente curados se estivessem
tão cansados de falar quanto eu fico de ouvi-los. Quem permite a tais andorinhas tagarelas
acumularem-se em sua chaminé parece querer que sua sopa tenha o sabor das fezes delas. Ou
ainda, mesmo que tenham algum conhecimento e bondade para abrandar o discurso, o palratório
excessivo revirará o estômago; e o excesso pode fazer com que alguns estômagos enjoados
tenham aversão até mesmo aos alimentos mais saudáveis. Pompeu estava tão farto dos falatórios
de Tully, que desejou estar ao lado de César, só assim ele me temeria (afirmou ele), considerando
que o convívio com ele, agora, me cansa.
2. Se for feita com uma arrogância orgulhosa e presunçosa da própria perspicácia, num
desprezo grosseiro pelos outros. É o que acontece com o excesso, quando não se tem educação
ou paciência para esperar até que outra pessoa termine de falar. É considerar os outros tão
prolixos que sua lista não mais vigorará quando chegarem ao fim. Sim, muitos supostos eruditos
e opinantes sofrem deste mal, sem vergonha alguma, ou respeito pela ordem, ou pela própria
reputação, têm tanta pressa de responder, e de eles próprios falarem, que interrompem a fala dos
outros pela metade, como se dissessem: Cale a boca e deixe que eu, o mais sábio, fale. E a
desculpa deles é: você demora tanto que terei esquecido a metade do que pretendo falar antes que
você chegue ao fim. Se, porém, for uma disputa, ou sobre assuntos importantes, é quase sempre
muito mais vantajoso para a verdade e para os ouvintes falar tudo o que deve ser necessariamente
considerado em conjunto, num discurso ininterrupto, pois as peças da verdade têm certa
dependência umas das outras, como os membros de um corpo, ou as rodas de um relógio, que
não são discernidas separadamente – metade da razão deles é se adequarem às outras partes. Isso
posto, a apresentação (nesses casos) por meio de fragmentos, palavras cortadas e interrupções
frequentes e mútuas é bater papo ou discutir, e não revelar a verdade com a clareza e a seriedade
que ela exige. Aqueles, pois, que acusam os outros de falar por muito tempo no intuito de
desculpar seus cortes grosseiros podem aproveitar a solução de Agostinho: “Longe de mim
considerar a loquacidade como um defeito quando as palavras são necessárias, mesmo que a arte
seja dita com prolixidade”. Os vastos volumes de Agostinho, Crisóstomo, Suarez, Calvino, sim,
do próprio Tostatus, raramente são acusados de palavras vãs. Se atribuir a cada um o mesmo
intervalo de tempo, um discurso sereno é mais adequado e poupa melhor o tempo do que
desentendimentos e trocas de palavras entrecortadas. E se sua memória não consegue reter tudo o
que foi dito, faça anotações, ou peça ajuda, solicitando que se repita, ou responda a parte que
você lembra.
3. A conversa vã é pior quando envolve assuntos sagrados e tende a profaná-los. Isso
ocorre quando as pessoas falam irreverentemente sobre as Escrituras ou controvérsias religiosas,
ou planejam, por meio de linguagem fluente, o fomento de alguma divisão, ou a propagação de
algum erro, ou a exposição de suas capacidades. Hieron afirma: “Usar palavras de forma
rebuscada e causar admiração no povo ignorante é coisa de pessoas incultas, nada é tão fácil
quanto enganar a plebe vulgar e inculta com a volubilidade da língua, que admira mais tudo o
que não entende”. A eloquência profana é o pior tipo de tagarelice.
4. As palavras vãs se tornam um pecado ainda mais grave quando são exaltadas,
justificadas e consideradas lícitas, como se fossem algo excelente. Isso é evidente em alguns
estudiosos infelizes que dedicam dias e meses a estudos triviais e desnecessários, enquanto
Cristo, a sabedoria de Deus (ou o tema da filosofia divina), é negligenciado (Cl 2.8). Aqueles que
ouvem suas supostas curiosidades críticas poderiam, como Paulo, proclamar: “O Senhor conhece
os pensamentos dos sábios, que são vãos” (1Co 3.20). Se compararmos suas vidas com seus
estudos, talvez nos recordemos de que “tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus,
nem lhe deram graças; antes, em seus discursos, se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu” (Rm 1.21).
5. Palavras vãs tornam-se um pecado agravado quando são estudadas e pomposamente
apresentadas com grande esforço e custo, como algo para se gloriar, como em peças de teatro e
romances. Isso é pior do que estabelecimentos de tabaco, onde os homens vendem drogas. O
prazer, o amor, o trabalho, a despesa, o tempo, o engano, a tentação, a impenitência são grandes
agravantes desse pecado.
Orientação IV. Se não deseja ser um falador inútil, cuide para que seu coração se ocupe
de algo útil; e sua língua familiarize-se e acostume-se com sua função e trabalho apropriados.[19]
A mente e o coração desocupados são os motivos do discurso inócuo, fútil e vão. A consciência
pode alertá-lo quando sua língua se entrega à futilidade, indicando que, naquele momento, não
há sensação de pecado, dever ou a presença de Deus em seu coração. Não há amor santo nem
zelo por Deus; você está adormecido para Deus e para tudo o que é bom. Nesse estado de
letargia, você se incomoda e fala levianamente sobre qualquer coisa que venha à mente. Além
disso, não considera como uma questão de consciência falar sobre o que é bom, quando, na
verdade, isso o protegeria da vaidade e do mal. Lembre-se da infinidade de assuntos mais
importantes que existem para falar:
● O mal do pecado, a multidão e a sutileza das tentações, e a maneira de resisti-los;
● As falhas a lamentar, as evidências a investigar, as misericórdias a manifestar com
gratidão;
● A grandeza, a bondade e todos os atributos de Deus para louvar;
● Todas as obras de Deus para admirar, assim como todas as criaturas do mundo para
contemplar, e todas as admiráveis providências e governo de Deus para observar;
● O mistério da redenção, a pessoa, o ministério, a vida, os milagres, os sofrimentos, a
glória, a intercessão e o reino de Cristo;
● Todas as secretas ações santificadoras do Espírito Santo;
● Todas as ordenanças de Deus, todos os meios de graça, todos os nossos deveres para
com Deus e o homem, e toda a Sagrada Escritura;
● Além da morte e julgamento, céu e inferno, as inquietudes da Igreja de Deus, e a causa
das pessoas com quem você conversa e podem precisar de sua instrução, exortação,
admoestação, repreensão ou conforto.
Não há trabalho suficiente nisso para ocupar sua língua e mantê-la longe da conversa vã?
(cf. Pv 23.16; Sl 145.6,11-13,21). Conscientize-se dos deveres ordenados em Efésios 4.29: “Não
saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para
que dê graça aos que a ouvem”.
E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;
falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao
Senhor no vosso coração.
Efésios 5.18-19
“Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus” (1Pe 4.11).[20] A omissão
pecaminosa de um discurso bom é a causa da prática pecaminosa da vaidade. Sobretudo quando
o próprio coração é vaidoso; pois tal qual o homem é, assim está pronto a falar. “Do mundo são,
por isso falam do mundo, e o mundo os ouve” (1Jo 4.5). Isaías 32.6 diz: “Porque o vil fala
obscenidade, e o seu coração pratica a iniquidade, para usar hipocrisia, e para proferir mentiras
contra o Senhor”.
Orientação V. Caminhe sempre com Deus, em sua presença, e no temor de suas leis e
julgamento, para que a consciência seja mantida desperta e sensível (cf. Jr 8.6; Pv 6.22; Sl 77.12;
149.11). Se entender que Deus o ouve, e se lembrar de que sua língua está submetida a uma lei, e
que “de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo” (Mt
12.36), você se policiará de falar sem necessidade. Se a lei de Deus estivesse dentro do seu
coração (Sl 11.8), e escondida nele (Sl 119.11), seu coração estaria preparado (Sl 57.7). A
Palavra de Deus, então, seria o gozo do seu coração (Sl 119.111), e sua língua, então, falaria do
juízo (Sl 37.30). Uma consciência sensível sofrerá mais por uma palavra fútil do que uma
consciência cauterizada e insensata por um juramento, uma mentira ou uma calúnia, pois “o
temor do Senhor é limpo” (Sl 19.9), e “pelo temor do Senhor, os homens se desviam do pecado”
(Pv 16.6). “Antes permanecem no temor do Senhor todo dia.” (Pv 23.17).
Orientação VI. Esquive-se do ócio (cf. 1Tm 6.13; 1Pe 4.15). Os inativos da comunidade,
que não têm mais nada a fazer a não ser conferir, elogiar e fofocar acerca dos assuntos alheios, e
que têm tempo de ficar sentado por horas a fio juntos, sem propósito algum, são os mais
responsáveis por conversa fiada. Cavalheiros ociosos, mendigos, mulheres bisbilhoteiras que não
têm o que fazer, velhos sem temor a Deus e crianças desocupadas são os que podem ficar
sentados, falando pelos cotovelos de coisas que pouco interessam, como se dormissem o tempo
todo. Todas as pessoas que não têm o que fazer estão repletas de pragas de pensamentos e
palavras inúteis.
Orientação VII. Afaste-se de amigos que falam demais e não têm do que se ocupar: ou,
se não puder evitá-los, não lhes responda – deixe que falem sozinhos, a menos que seja para
repreendê-los ou levá-los a uma conversa mais proveitosa. Pois quando alguém ouve vaidade,
inclinar-se-á a falar vaidade. E esses ímpios falam com falsidade cada um com o seu próximo,
como se a língua lhes pertencesse tanto, que nenhum senhor pudesse controlá-las (cf. Sl 12.1-6).
O filósofo afirmaria: Aquilo que você não ouviria, não fale; e o que não falaria, não ouça. A
maioria é como papagaios – sempre repetem as palavras que ouvem. Quão difícil é evitar
conversa fiada entre os que falam inutilmente! Uma palavra vã recorre a outra, e isso não acaba.
Orientação VIII. Evite obras vãs, se quiser evitar palavras vãs. Pois o homem que se
ocupa em ocupações fúteis, todas as palavras que usa para realizá-lo são igualmente vãs. Que
vida levam, então, os que têm uma vocação ilícita! Quando os próprios negócios e transações são
pecaminosos, os complementos, as palavras acerca deles, serão pecaminosos e, portanto, toda a
vida será pecado contínuo. Em razão disso, prefiro ser o mais vil serviçal a ser um desses
homens. Especialmente os atores de teatro deveriam pensar nisso, assim como os que passam
horas inteiras, sim, a metade do dia, quando não noites, em jogos, ou em esportes vãos e
pecaminosos, que variedade de palavras ociosas é utilizada no meio deles! Cada lançamento de
dados e cada carta que jogam contém uma palavra torpe; de maneira que um homem sóbrio
ficaria fatigado e envergonhado ao ouvi-los.
Orientação IX. Não se lancem em excesso de negócios mundanos, como alguns fazem,
assumindo mais tarefas do que podem cumprir, sem necessidade. Isso só leva a uma variedade
excessiva de pensamentos e palavras desnecessárias. E tudo o que é gasto em servi-los em suas
ocupações vãs é vão, mesmo que a tarefa em si não seja vã.
Orientação X. Não permita que uma mente viciosa faça parecer indispensável ou
conveniente algo que é vão. Corações carnais, alheios a realidades mais nobres, não veem como
frívolas tudo o que satisfaz suas inclinações sensuais ou o que seu interesse carnal requer. Um
homem que busca agradar a todos acha que a civilidade o obriga a fazer visitas e elogios
desnecessários, a responder a pessoas que só estão conversando fiado, e a não ficar sentado em
silêncio ao lado delas, e não contradizê-las. Ele acha mais importante ser educado do que
obedecer a lei de Deus. Do mesmo modo, acha falta de educação não brindar com todos os que
estão bebendo, e também não responder a cada fofoqueiro.
Orientação XI. Tome cuidado com a mente orgulhosa e presunçosa, que julga o próprio
discurso excelente. Apenas seja humilde, e você preferirá ouvir a falar. Quando, porém, todos os
seus caprichos e imprudências lhe parecem assuntos maravilhosos, logo será como uma criança,
até que se livre deles, todos devem reverenciar e atender ao seu orgulho e loucura sem
questionar, ou serão considerados distraídos por que o ignoraram.
Orientação XII. Evite a paixão e companheiros passionais. A paixão é loquaz e não pode
ser controlada, porém resiste ao refrear da razão e reproduz palavras piores do que vãs (cf. Pv
14.17; 15.18; Ec 7.8-9).
Orientação XIII. Esteja alerta a um estilo brincalhão desordenado (cf. Ec 2.2; 7.6; Ef
5.4), ele habitua a mente à leviandade tola, não sabe o que é limite, e gera palavras vãs tão
numerosas quanto a carne podre gera vermes. E é um pecado grandioso, pois é habitual e, com
certo prazer e orgulho, gloria-se na presunção, na leviandade pecaminosa e na loucura.
Orientação XIV. Em especial, entenda que serviço tem de prestar a Deus ou aos homens,
não importa na companhia de quem esteja, e adeque suas palavras ao serviço e à companhia (cf.
Pv 22.17; 12.18; 13.20; 15.2,7,31). Há palavras que são inúteis e inconvenientes quando estamos
com uma pessoa; contudo, necessárias ou apropriadas com outra. Se pretender conversar com os
néscios e ímpios, transforme o discurso em uma forma compassiva de instrução ou exortação. Se
com homens mais sábios e superiores a você, questione e aprenda com eles, e extraia deles o que
pode edificá-lo.
Orientação XV. Evite cair na armadilha de uma curiosidade desnecessária na fala, mas
escolha as palavras que sejam mais adequadas ao tema, aos ouvintes e ao coração deles. Caso
contrário, seu discurso será avaliado como incomodamente vão; e você se orgulhará dele como
sofisticado, o que será sua vergonha. Palavras hipócritas, que não procedem do coração, estão
mortas e corrompidas, não passam de sombras da linguagem verdadeira, como se lhes faltasse a
veracidade e o valor da mente que lhe são vitais. As palavras são como leis – valorizadas pela
autoridade, importância e finalidade mais do que pela curiosidade e estilo; ou como o dinheiro –
avaliado pelo domínio, metal e peso, e não pela raridade da gravura, imagem ou material. Tudo o
que é falso, ainda que intrinsecamente refinado, é destituído de valor.
Orientação XVI. Imagine que você tenha registrado as palavras ociosas de um dia (as
suas ou as de qualquer outro tagarela) e as leia durante toda a noite! Não se envergonharia de
tamanha quantidade de vaidade e confusão? Ah, que livro daria, caso alguém escrevesse o que
sai da boca de faladores ociosos! Que desonra seria para a natureza humana! Alguns poderiam
ser levados a questionar se o homem é, de fato, uma criatura sensata, ou se todos são, no mínimo,
assim? Lembre-se então de que tudo está registrado por Deus e pela consciência, e de que toda
essa miscelânea de vaidades será revista, e delas daremos conta.
Em suma (pois não devo cometer a falta que reprovo), não considere o comportamento
da conversa fiada um pecado insignificante. Nunca permita que um membro tão negligente e
traiçoeiro como a língua fique desprotegido; e nunca fale de algo que não ousaria afirmar como o
que diz o Salmo 19.14: “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu
coração perante a tua face, Senhor, rocha minha e redentor meu!”.
Sobretudo, no entanto, mais do que os outros, as seguintes pessoas devem vigiar contra
palavras vãs:
1. Os pregadores, que são pessoas duplamente santificadas, e cuja língua, por ser
consagrada a Deus, não deve ser alienada à vaidade por sacrilégio. Isso é pior do que a
alienação desrespeitosa dos lugares, utensílios ou receitas da igreja. Portanto, detestem
isso mais do que esses casos.
2. Os anciãos, cujas palavras deveriam ser solenes e sábias, e cheias de instruções para
reprimir a leviandade da juventude; a infância e a juventude são vaidade, contudo a
velhice não deveria ser assim (cf. 1Tm 4.12; Jó 12.12; Ec 11.10).
3. Pais e mestres, que devem ser exemplos de seriedade e serenidade para suas famílias,
e reprimir tais falhas nos que estão sob sua autoridade por meio de repreensões e
correções.
4. Os que são mais bem qualificados do que outros, com conhecimento e eloquência,
usando a língua para edificação. A conversa vã é um pecado duplo para eles.
5. Os que são conhecidos como pessoas santas e religiosas, pois se supõe que orem e
falem muito contra a conversa fiada e, portanto, eles próprios não devem ser culpados
dela. “Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o
seu coração, a religião desse é vã.” (Tg 1.26).
6. Os que são ignorantes e precisam muito do discurso edificante dos outros.
7. Os que vivem entre pessoas sábias e santas, por intermédio das quais podem ser
muito edificados.
8. Os que estão cercados de gente que fala demais, e sabem que necessitam cuidar mais
da língua na companhia deles do que da carteira entre os malfeitores.
9. Aqueles (em especial as mulheres) que, por natureza, são viciados em falar demais, e,
por essa razão, devem ser mais vigilantes, conhecedores que são do mal e perigo dessa
atitude.
10. Pessoas vazias e raivosas, que carregam uma tentação contínua sobre si. Todas elas
devem ser particularmente vigilantes contra a conversa vã.
E por ora,
1. Especialmente quando estão entre aqueles que podem ser mais prejudicados por isso.
2. E quando estiverem indo para o culto, ou acabado de chegar dele, ou realizando os
deveres sagrados etc.
CAPÍTULO 6 | ORIENTAÇÕES CONTRA CONVERSAS
TORPES, CALUNIOSAS E OBSCENAS.
A EXPLANAÇÃO
Para prevenir as respostas ou desculpas do zombador, devo aqui esclarecer:
1. Por piedade, não quero dizer nada além de uma devoção plena a Deus e do viver para
ele, a doutrina e a prática que estão de acordo com as Sagradas Escrituras. Não me refiro a
fantasias de homens enganados, nem às opiniões particulares de qualquer seita, e sim à prática do
próprio cristianismo.
2. No entanto, devo informar-lhe que é prática comum desses escarnecedores
concentrarem-se mais no concreto do que no abstrato; na pessoa em vez da doutrina pura; e
oporem-se aos crentes piedosos dessa maneira, mesmo alegando não se opor à piedade. Os
motivos são os seguintes:
a. Porque se atrevem a ser mais ousados com a pessoa do que com a regra e a doutrina
do próprio Deus. Se desprezassem a Bíblia, ou a piedade diretamente, portanto, eles
vilipendiariam tão declaradamente o próprio Deus, que o mundo clamaria de vergonha
contra eles, e a consciência os inquietaria. No entanto, quando a piedade está em tal
vizinho, ou nesse pregador, ou naquele homem, eles acreditam que podem tratá-la com
menos reverência, alegando que o que fazem é contra a pessoa e não contra o cerne da
questão;
b. Quanto aos homens, eles têm algo mais para alegar como motivo para seus
zombamentos. Na humanidade, a piedade é latente, invisível, difícil de ser comprovada
em termos de sinceridade e obscura no que diz respeito à prática. Se alguém que zomba
de um homem piedoso disser: ‘Ele não é piedoso, mas um hipócrita’, neste mundo não
há uma justificativa perfeita que possa refutar tal calúnia. Contudo, a evidência provável
de uma confissão e de uma vida piedosa é tudo o que podemos apresentar. Entretanto, a
piedade, conforme apresentada nas Escrituras, se expõe diante de todos e não pode ser
negada, a menos que se negue a própria palavra de Deus.
c. A piedade, como rege a Sagrada Escritura, é perfeita, sem mácula alguma capaz de
dar qualquer pretexto ao escarnecedor. A piedade nos homens, entretanto, é muito
imperfeita, e combinada com pecados, com falhas que o mundo quase sempre é capaz
de discernir, e os próprios piedosos são levados a confessar. Por essa razão, um
escarnecedor pode encontrar algum argumento plausível neles. E ao ridicularizar os que
professam a piedade como se todos fossem hipócritas, ele não exemplificará as virtudes
dessas pessoas, mas as faltas: como na embriaguez de Noé, e no incesto de Ló, e no
adultério e assassinato de Davi, e na negação de Cristo por Pedro. Ainda assim, o dardo
será lançado contra a própria piedade, e a conclusão não será a de afastar os homens da
embriaguez, do adultério ou de qualquer pecado, mas da própria piedade valorosa;
d. A piedade, como prescrita na regra, é para eles algo mais adormecido e
imperceptível, não causando tanto incômodo, pois conseguem simplesmente fechar suas
Bíblias ou ignorá-las como meras palavras positivas. No entanto, a piedade manifesta
nos crentes, nos seus mestres e vizinhos, é mais clara para eles: mais atuante, mais
problemática e, portanto, mais odiada. Em uma carta inanimada ou em um santo
falecido, que não os incomoda, eles até conseguem elogiar. No entanto, nos vivos, a
piedade os perturba, os molesta. E quanto mais próxima está deles, mais se exasperam
contra ela. A palavra de Deus é a semente da piedade, que os ofende menos, até que
germine e produza o fruto que condena a vida perversa que levam.
3. E do mesmo modo que os opositores e escarnecedores costumam atingir a piedade
através da pessoa e de seus defeitos, também atacam determinadas partes do culto a Deus por
intermédio de algumas formas ou circunstâncias, ou das imperfeições dos homens na sua
condução. Não é a pregação ou a oração que eles desprezam, caso você acredite neles, porém
este ou aquele estilo, ou imperfeição, na pregação e na oração. O objetivo de tudo isso, porém,
não é ajudar qualquer homem a ter um desempenho melhor, e sim tornar odiosos os que são mais
sérios ao fazê-lo, e então, persuadir os homens de que é uma coisa desnecessária.
4. Observe ainda que não é a representação ou a parte morta da religião que mais ofende
esses homens e a que eles mais se opõem, mas a vida, o zelo e a diligência dos crentes. Assim,
ainda que os piedosos não se distingam desses indivíduos na profissão de qualquer doutrina ou
cerimônia, mesmo assim os odeiam e desprezam por praticarem com sinceridade aquilo que eles
próprios professam hipocritamente.
5. Por fim, observe também que esta não é uma discordância entre seitas, grupos ou
igrejas com base em opiniões divergentes, mas sim algo que ocorre dentro de qualquer grupo
quando o assunto envolve algum aspecto sério da religião. Mesmo entre os papistas, existem
indivíduos espirituais, sérios e santos, que são alvo de zombaria e oposição por parte dos
profanos que fazem parte de sua própria igreja. Sêneca e outros nos relatam que, entre os pagãos,
a rigorosidade na virtude moral era alvo de desprezo por parte dos rudes e sensuais. Contudo,
mesmo que a disputa remonte ao início entre a semente da mulher e a da serpente, em todos os
lugares onde as diferenças eclesiásticas geram controvérsias, essa inimizade sorrateira se insinua
com astúcia, tirando vantagem delas. Os cristãos discordantes, por sua vez, utilizam apelidos ou
armas mais afiadas uns contra os outros, atingindo assim o cerne do próprio cristianismo.
Orientação I. Para a cura dos que já estão contaminados com um pecado tão hediondo, a
principal instrução é entender a grandeza dele e suas consequências miseráveis:
Avalie o que você ridiculariza. Sabe contra o que abre a boca? Você achincalha ou se opõe aos
homens:
1. Ao amarem a Deus de todo o coração, alma e força, não confessa que esse é o dever de
todos os seres viventes? E que não é digno de ser chamado cristão aquele que não ama a Deus
acima de todas as coisas? Você não pode negar essas verdades. No entanto, deseja se opor a
elas? Não as negue, pois são exatamente aquilo a que você se opõe, seja aos homens que amam a
Deus, seja aos que demonstram seu amor a ele. Se amasse o Senhor com a mesma intensidade
que eles, o buscaria e o serviria com a mesma diligência. Não reconhece que, se o amasse de
todo o coração, alma e força, o buscaria, serviria e obedeceria de todo o coração, alma e força?
Se os crentes zelosos ultrapassam isso, zombe deles sem piedade. Se amam a Deus e o servem
com mais do que todo o coração, alma e poder, então os chame de excessivamente justos. Se
encontrar alguém que ame a Deus ou o sirva melhor do que ele merece, critique e se oponha a
esse homem sem piedade. Você sabe que, quando amamos algo intensamente, é isso que
buscamos e lembramos com mais frequência. Você trabalha pelo dinheiro porque o ama; e eles
trabalham para buscar e servir a Deus porque o amam. Somente um demônio contrariaria ou
zombaria das pessoas por amarem a Deus ou por demonstrarem seu amor por ele.
2. Ao se deleitarem naquilo que é mais prazeroso, como o conhecimento elevado e
celestial, e um estado santo de alma e vida; ao se regozijarem na lei do Senhor e meditarem nela
dia e noite (cf. Sl 1.2); ao se deleitarem na oração sagrada e nos louvores ao seu Criador; e ao se
deliciarem nas reflexões e menções das alegrias eternas, garantindo assim sua vocação e eleição.
O que, senão o exercício desses desejos e deleites sagrados, você ridiculariza? E não levaria a fé
e a santidade tão a sério quanto eles, se também desfrutasse de tantas dessas delícias? Passas
horas incontáveis junto às tuas panelas, ou engajado em jogos e esportes, ou discutindo vaidades,
simplesmente porque te deleitas nelas? E ainda assim zomba dos que se demoram orando ou
ouvindo a Palavra de Deus, já que é o seu deleite? Ah, alma desafortunada! Deus, em breve,
revelará quais delícias, as deles ou as tuas, são mais racionais e justas! E qual obra, a deles ou a
tua, é mais digna de ser ridicularizada!
3. Por entregarem somente o que devem ao Deus que os criou e redimiu. Eles não
pertencem ao Senhor? E ele não lhes deu todas as suas propriedades e poderes? E todas as suas
habilidades e posses não são dele? O que não receberam dele? E essa é sua justiça e honestidade,
ridicularizar os homens por se oferecerem para pagar suas dívidas e dar a Deus o que lhe
pertence? Se encontrar alguém que devolve mais ao Eterno do que lhe deve, desdenhe desse
homem intransigente e excessivamente justo, e não pegue leve. Entretanto, se os homens não
devem ser ridicularizados por pagarem as dívidas que têm com você, não escarneça dos homens
por pagarem os seus débitos para com Deus e entregarem o que é dele. Assim como devemos dar
a César o que é de César, também a Deus o que é de Deus.
4. Por obedecerem com esmero ao seu supremo mestre; por realizarem com diligência a
obra maior, melhor e mais essencial em todo o mundo. E acha que isso é um bom exemplo para
seus próprios servos? Certamente, se um homem deve ser ridicularizado por servir a Deus, ainda
mais deve sê-lo por servir a alguém como você. Sabe onde podemos encontrar um mestre
melhor, a quem sirvamos com motivação mais nobre do que a Deus? Ele nos fez seus mordomos,
confiou-nos seus bens, e você nos menospreza por sermos fiéis em nossa mordomia?
Ridiculariza seus súditos por obedecerem ao rei de todo o mundo, e acha que isso é um bom
exemplo para os súditos do rei? Obedecer ao rei deveria ser motivo de escárnio? Ou acredita que
a autoridade de Deus é inferior? Ou que a obediência a ele é menos louvável?
5. Não, você ridiculariza os homens por fazerem apenas parte de seu dever e cumprirem
apenas uma parte ínfima de sua dívida. Pois o homem tão santo, a quem você ridiculariza por
fazer muito, faz menos do que deveria. Você sabe que os melhores homens amam a Deus e o
servem menos do que ele merece; e que os mais cuidadosos ficam aquém da perfeita observância
de suas leis. E mesmo assim desprezará os homens por fazerem tanto, quando eles sabem, e você
confessa, que fazem muito pouco? Se fizessem tudo, somente cumpririam o seu dever (cf. Lc
17.10).
6. Porque eles não se posicionam, com sua inteligência e vontade, contra seu Criador.
Deus ordenou-lhes: “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição” (2Pe 1.10); e
“entrai pela porta estreita” (Mt 7.13); e “na sua lei medite de dia e de noite” (Sl 1.2); e amá-lo de
todo o coração e força; e “orar sem cessar” (1Ts 5.17). E você ironiza os homens por
obedecerem a esses mandamentos! Ora, o que espera que façamos, homem? Diremos a Deus que
somos mais sábios do que ele? E que não faremos a sua vontade, mas a nossa? E que
conhecemos um caminho melhor do que o determinado por ele? E que ele está equivocado, e
quer nos enganar com suas leis? Gostaria que os homens fossem espontaneamente loucos e
rebeldes declarados contra Deus?
7. Porque eles confiam nele, que é a própria verdade e bondade. Para nós, é inconcebível
que ele possa nos enganar por sua palavra, ou que nos imponha qualquer lei que não seja justa,
ou exija de nós qualquer missão que nos cause dano, ou pela qual saiamos perdedores. Por essa
razão, resolvemos obedecê-lo o mais cuidadosamente possível, porque confiamos que a própria
bondade não nos maltratará, e a própria verdade não nos enganará: esta é uma questão a ser
desprezada? Os filhos não confiariam em seu pai?
8. Por não pecarem contra o conhecimento e a experiência que consideram certos. Eles
reconhecem que uma vida santa é a melhor, embora você não. Eles conhecem a razoabilidade, a
doçura e a necessidade de uma vida de santidade. E deveriam renunciar a seus próprios
entendimentos? Ser ignorantes porque você é ignorante? E arrancar os próprios olhos porque
você é cego? Os homens serem mais sábios do que você é um crime? E isso no que diz respeito a
Deus e a sua salvação? Eles têm experimentado o que é uma vida santa, e você não. Provaram do
que significa uma vida de fé e obediência: e abdicariam da própria experiência? Os que provaram
o mel devem afirmar que ele é amargo porque você, que nunca o provou, diz isso? Ai, homens
irracionais com os quais temos de lidar!
9. Por se amarem; sim, por amarem sua alma e cuidarem de sua saúde e bem-estar. Como
pode um homem amar de fato a si mesmo, e não amar a sua alma, que é ele mesmo? E como é
possível um homem amar a sua alma e não preferi-la às preocupações insignificantes da carne? E
não tomar o maior cuidado com sua máxima felicidade eterna? Pode um homem amar de verdade
a si mesmo e, ainda assim, condenar a si mesmo, ou desperdiçar o pouco tempo em que deveria,
se é que alguma vez o fez, desenvolver a sua salvação? Você desprezará quem cuida de seus
filhos ou de seu próprio gado? Você os ama e, portanto, cuida deles com zelo. E aquele que ama
sua alma não deve cuidar dela? Amar a si mesmo é natural para os humanos: e como alguém
pode amar o próximo, se não ama a si mesmo?
10. Porque amam o céu mais do que a terra, e porque desejam viver para sempre com
Deus e com todos os santos anjos celestes. Pois o que esses homens fazem com tanta devoção, a
não ser serem salvos? O que fazem senão “buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua
justiça?”, e “trabalhar não pela comida que perece” (Jo 6.27); e acumular “tesouro no céu” (Mt
6.20); e depositar o “coração lá” (v.21); e “buscar as coisas que são de cima, e pensar nas coisas
que são do alto” (Cl 3.1-3 – Veja Fp 3.19-20). E se é uma questão tão desprezível buscar o céu,
sem dúvida você nunca pensa em ir para lá; a menos que pense em chegar até lá desprezando os
que o buscam.
11. Porque não estão dispostos a ser condenados e nem a fazer alguma coisa que sabem
que os condenaria; ou a negligenciar algo sem o qual não há esperança de escapar do inferno.
Eles acreditam nas ameaças de Deus e, por conseguinte, acham que nenhum sofrimento é grande
demais para escapar de sua ira. Creem que uma vida santa é uma maneira necessária e fácil de
evitar o tormento eterno, porém se você pensa o contrário, mantenha sua opinião até que a graça
ou o inferno o tornem mais sábio. E não zombe de um homem que não brinca com a própria
condenação e se joga no inferno tão desesperadamente quanto você.
12. Porque eles não destruirão a si mesmos deliberadamente. Não foi suficiente você
denunciá-los a outros? Ou você mesmo matar algum de seus vizinhos? Deseja que eles façam
isso com as próprias mãos, e escarnece deles se não quiserem? Ah, monstro cruel! Que deseja
que um homem habite no fogo do inferno para sempre! E que para lá fosse por sua livre e
espontânea vontade! Isso é dez mil vezes pior do que desejar que ele corte a própria garganta.
Você diz: Deus me livre! Não desejo nada disso! Por que, homem, você faz o que não sabe?
Aquele que tenta induzir um homem a se enforcar, não é o mesmo que o tenta a matar e roubar?
Se o Deus justo determinou imutavelmente em sua lei que “sem santidade ninguém verá o
Senhor, e que Cristo virá em fogo ardente para se vingar dos que não obedecem ao seu
evangelho, e que serão condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na
injustiça” (Hb 12.14; 2Ts 1.8-10; 2.12) e uma vez que o Senhor estabeleceu que o inferno será o
preço da impiedade, você não espera que amaldiçoem a eles próprios, já que deseja que sejam
ímpios? Se você acredita que exista inferno, então me diga o que um homem pode fazer para
assassinar sua alma e se condenar, a não ser tornar-se um ímpio? Se este caminho não leva ao
inferno, então não há perigo em nenhum outro. Você acha que o diabo merece ser chamado de
assassino de almas? Caso contrário, parece que você assumirá às claras o papel do diabo; mas se
ele merece, então o raciocínio de todo o mundo julgue se esse homem não merece muito mais,
ou fará muito mais contra si mesmo do que o diabo jamais fez ou fará? O diabo não pode nada
além de tentar, mas você gostaria que os homens cometessem aquilo a que ele os tenta, e de fato
pecassem e negligenciassem uma vida santa.
E qual é o pior: quem pratica o mal ou quem apenas os seduz a ele? Se o diabo foi
chamado de “vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa
tragar” (1Pe 5.8), como deve ser chamado o homem que faz muito mais contra si mesmo do que
todos os demônios no inferno o fazem? Claro que ele é um devorador ou destruidor de si mesmo.
Diga-me, seu escarnecedor desleixado! Você considera o trabalho do diabo bom ou ruim? Se for
bom, receba o seu quinhão e se orgulhe dele quando chegar o fim. Se for ruim (enganar as almas
e atraí-las para o pecado e o inferno), por que quer que os homens causem ainda mais mal a si
mesmos? Quem peca é pior do que o que tenta. Responda-me, de que jeito o diabo leva os
homens a ferirem a si mesmos e amaldiçoarem sua alma, a não ser atraindo-os para o pecado?
Ele não tem outra maneira de destruir qualquer homem no mundo, exceto tentando-o ao que você
incita os homens a fazerem; até mesmo a pecar contra Deus e descuidar de uma vida santa.
Portanto, está claro que você zomba e se opõe aos homens porque eles não querem ser piores do
que demônios para si próprios.
13. Além do mais, opõe-se aos homens por não abandonarem a Deus! O que é renunciar
a Deus, senão recusar-se a amá-lo, honrá-lo e obedecê-lo como Deus? Ele mesmo nos disse que
“é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos
que o buscam.” (Hb 11.6). E não é essa busca diligente que você despreza? É óbvio, então, que
deseja afastar os homens de Deus e fazer com que o abandonem, como você fez.
14. Porque não são hipócritas; e por serem aquilo que você hipocritamente se
autodenomina e gostaria de ser. Você diz de si mesmo que é um cristão; e não é exatamente por
serem cristãos sérios que os ridiculariza? Afirma que crê em Deus; contudo não é por obediência
e serviço a Deus que você menospreza os outros? Reconhece que a Escritura é a palavra de Deus,
mas é por seguirem as Sagradas Escrituras que achincalha outras pessoas? Diz que crê na
comunhão dos santos; e zomba dos que mantêm a comunhão dos santos na prática. Diz crer que
Cristo julgará o mundo, e mesmo assim despreza aqueles que levam a sério a preparação para
seu julgamento. Ora para que o nome de Deus seja santificado, e seu reino venha, e sua vontade
seja feita na terra como no céu; e não obstante, ridiculariza os que santificam seu nome, e são
súditos de seu reino, e se esforçam para fazer sua vontade. Ó, fariseu miserável! E, no entanto,
essa sua língua finge que é pela hipocrisia deles que os odeia e ridiculariza, quando na verdade é
porque eles não são dissimulados e tão cegos e insensatos como você! Pode haver maior
hipocrisia no mundo do que odiar e desprezar a prática séria do que professa? E a vida diligente
que condiz com o que a própria língua confessa crer? Se você disser que é por trabalharem
demais e serem muito rigorosos, eu lhe respondo, se não é a vontade de Deus que ajam dessa
forma, ainda que eu não risse deles, procuraria torná-los tão justos quanto você! Se, porém, for a
vontade de Deus, então me diga, você acha que eles fazem mais do que os que estão no céu? Ou
que vivem com mais rigor do que os que vivem no céu? Se sim, oponha-se a eles e não
economize. Se não, por que orar para que a vontade de Deus seja feita na terra como é no céu?
15. Por desempenharem aquilo para que foram criados, e para quê a razão, vontade e
todas as suas faculdades existem. Retire isso deles, e não servem para nada, um animal é bom
para servir o homem, e as plantas para alimentá-lo; no entanto de que serve o homem, ou para
que foi feito, senão para servir ao seu criador? E você o despreza por aquilo pelo qual ele veio ao
mundo? Também pode odiar uma faca porque ela corta, ou uma foice por desbastar, ou um
relógio por contar as horas do dia, já que não foram feitos para outra coisa?
16. Por serem salvos por Cristo e por seguirem o seu exemplo. Para que Cristo veio ao
mundo a não ser para “destruir as obras do diabo” (1Jo 3.8); e para “salvar o seu povo dos seus
pecados” (Mt 1.21); e para “nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu
especial, zeloso de boas obras.” (Tt 2.14). E Cristo, para assombro de homens e anjos, fez-se
carne e habitou entre os homens, e deu-lhes sua santa doutrina e exemplo, e sofreu a morte no
lugar deles – tudo isso para levar os homens à pureza zelosa. E você ousa desprezá-lo? O que é
isso senão desprezar seu salvador e fazer pouco caso de toda a obra da redenção, pisar no Filho
de Deus e aviltar seu sangue, sua vida e seus preceitos?
17. Por serem renovados e santificados pelo Espírito Santo. Qual é a obra do Espírito
Santo em nós, senão nos santificar? E o que significa nos santificar, afora nos lavar do pecado e
nos levar à dedicação completa de nossa alma e vida a Deus? Você acredita no Espírito Santo ou
não? Se sim, o que isso quer dizer senão crer nele como o santificador dos eleitos de Deus? E o
que você entende por santificação, que não essa pureza e santidade de coração e vida? E mesmo
assim se atreve a desonrá-lo?
18. Por imitarem os santos antigos cujos nomes você parece honrar, e em honra de quem
celebra festas. Você se compromete a honrar o nome de Pedro, Paulo, Estevão e João; de
Agostinho, Jerônimo, Crisóstomo e de outros santos de Deus. No entanto, desprezará aqueles
que se esforçam para imitá-los? Pesquise e veja se algum desses homens, após se converter,
viveu no luxo, jogando cartas e dados; ou em profanação; e se algum deles era contra uma vida
santa, muita oração, ouvir e ler as Escrituras, meditação e obediência cabal a Deus. Logo, que a
vergonha não seja sua, mas minha. Aqueles que mais diferem deles são os que mais merecem
desprezo.
19. Por se arrependerem de seus pecados pregressos e por aceitarem a misericórdia que
Cristo comprou, e Deus lhes ofereceu, e enviou seus mensageiros para suplicar-lhes que
aceitassem. É possível que se arrependam da antiga impiedade e não se apartem dela e se
corrijam? Se soubesse o que eles sabem, você se arrependeria e não zombaria dos homens por se
arrependerem. Caso conhecesse o dom de Deus, você imploraria por ele e o aceitaria de bom
grado, e não escarneceria dos que o aceitam.
20. Por manterem a aliança que você também fez com Deus no batismo. Você zomba dos
que guardam a aliança que fizeram no batismo. Que monstro de contradições é um ímpio
hipócrita! No batismo, você não renunciou à carne, ao mundo e ao diabo, e abriu mão de si
mesmo em aliança com Deus Pai, Filho e Espírito Santo? E ainda não entende o que fez? E
despreza os que o fazem? O que significa entregar-se a Deus no batismo, a não ser recebê-lo
como seu Deus, seu Salvador e santificador, a quem deve amar, buscar e obedecer em santidade,
de todo o coração, alma e força? Quem odeia guardar a aliança não passa de um violador da
aliança.
Até aqui, tenho lhe mostrado a que você se opõe e o quê ridiculariza: agora, direi mais do
que você faz, mostrando-lhe os agravantes do pecado e sua relevância.
1. Reflita, em todas essas coisas, que inimigo declarado de Deus é você, e que soldado
manifesto do diabo, o que mais pode fazer contra Deus, e dar o seu pior, do que escarnecer de
todo o seu trabalho e de seus servos? Ele não teme seu poder ou raiva; você não pode atingi-lo.
Quantos milhões de vermes como você ele é capaz de lançar no inferno, ou destruir em um
instante! É em seus servos e na obra deles que o Senhor é honrado ou contrariado aqui, e os
mortais demonstram seu amor ou ódio por ele. E como podes planejar, se quiseres dar o teu pior,
servir ao diabo de forma mais notória do que se opondo e ridicularizando a obra de Deus? Se
esses não são os servos de Satanás, ele não tem mais nenhum.
2. Considere que terrível insígnia de miséria carrega sobre si! Você carrega a marca de
Satanás, a morte e o inferno em sua testa, por assim dizer. Ainda que houvesse alguma dúvida se
um devasso, ou bêbado, ou fornicador pode estar em estado de graça, mesmo assim é
inquestionável que um escarnecedor da piedade não está, na verdade, seria estranho que alguém
que zomba da santidade pudesse ser santo. É difícil que haja algum tipo de homem no mundo
que esteja mais indubitavelmente em estado de condenação do que você. É um mistério para nós
o que Deus fará com os infiéis e pagãos que nunca receberam os meios para a salvação; porém, o
que ele fará com todos os incrédulos e ímpios que os receberam, sem sombra de dúvida, nós
sabemos. Ainda mais o que ele fará com os que não só são vazios de santidade, mas a desonram.
Não nego: ainda há tempo de você se converter e ser salvo. Ah, que Deus “lhe dê
arrependimento para conhecer a verdade”, a fim de que “torne a despertar, desprendendo-se dos
laços do diabo, em cuja vontade está preso.” (2Tm 2.25-26). A respeito de Basílio, está escrito
que, por meio de suas orações, ele fez com que o diabo devolvesse um escrito pelo qual um
homem miserável lhe vendera a alma, para que pudesse desfrutar da filha de seu senhor; e que o
homem se arrependeu e foi liberto. Se você puder ser regenerado, será um dia feliz. Até agora,
porém, tão certo quanto a Escritura é verdadeira, você é uma criatura miserável e um homem
arruinado se morrer na condição em que está. Oh, com que medo deveria se levantar e deitar, se
você tivesse juízo, receoso de morrer antes de se converter.
3. Desprezar a santidade é um desafio à graça, como se renunciasse à misericórdia de
Deus, você faz o pior que pode para afastar toda a esperança e tornar seu caso incurável e sem
esperança. Pois, se algum dia você for salvo, será por esta graça e vida santa que você despreza,
por acaso escarnecer da graça é o caminho para alcançá-la? E é possível que o Espírito Santo
venha habitar no homem que despreza suas obras santificadoras?
4. Fazer pouco caso da piedade é desafiar a Deus e abrir mão de sua paciência e, em
breve, executar a vingança dele contra você! Pode se surpreender caso ele faça de você um
monumento de sua justiça e colocá-lo para que todos os outros sejam alertados? Quem é mais
adequado para isso do que os opositores desdenhosos de sua graça e obra? Não apresse a
vingança, homem; chegará a hora certa. Pode um verme desafiar o Deus do céu?
5. Quão pouco você compreende de tudo a que você se opõe! Alguma vez já
experimentou uma vida santa? Se o tivesse feito, não falaria contra ela; se não o fez, não se
vergonha de falar mal daquilo que não conhece? É uma coisa que ninguém pode entender
completamente sem viver, experimente-a um pouco, e depois diga o que acha.
6. Já pensou em quantos julgamentos há contra você e em quem você contradiz e
despreza?
● Se você despreza a fé genuína, a pregação, a leitura, a oração, a meditação e a prevenção
estrita do pecado, você contradiz o próprio Deus; pois ninguém em todo o mundo é tão
santo, ou tão a favor da santidade, quanto ele. Portanto, em última análise, é contra ele
que toda a sua malícia é dirigida; ao próprio Deus, o Pai, e o redentor, e o santificador.
● Você se coloca contra todas as evidências das Escrituras;
● E contra todas as obras de Deus, pois todos conspiram para chamar o mundo à santidade
e obediência rigorosa a Deus.
● E você contradiz todos os profetas e apóstolos, e todos os antigos pais da igreja; e todos
os mártires e santos de Deus que já existiram no mundo; e todos os ministros e pastores
fiéis e instruídos da igreja que existem ou já existiram; e todos os piedosos em todo o
mundo; e todos os que já tiveram a experiência de uma vida santa, e quem é você para
desprezar todos eles? Porventura é mais sábio do que todos os ministros e pessoas
piedosas do mundo? Ou todos os apóstolos e santos mártires de Cristo que já existiram?
Sim, e do que o próprio Deus?
7. Você já notou como o discurso de Cristo e de seus apóstolos eram diferentes do seu?
Eles zombavam dos homens por serem muito diligentes, por agradarem a Deus e salvarem a sua
alma? Leia apenas os seguintes trechos e julgue: Mateus 5.8,11,20; 6.21-33; 7.13-14; 1Pedro 18;
2Pedro 3.11; 1.10; Hebreus 11.6; Mateus 5; Romanos 8.1,5-9,13; Filipenses 3.18-19; Hebreus
12.28-29.
8. A sua atuação para com o mundo não é tão significativa quanto a daqueles a quem
você se opõe em prol do céu? Sente-se ofendido por eles pregarem e orarem por tanto tempo?
Acaso você não passa mais tempo nos seus afazeres mundanos? E os amantes de festas não
prolongam suas horas em banquetes, visitas, jogos e recreações? E você está incomodado por
eles falarem tanto do céu? E você não fala ainda mais da terra? E, na sua cabeça, qual dessas
coisas merece mais que a busquemos e falemos dela? No final, qual delas provará ser a melhor?
E qual trabalho será mais digno de chacota?
9. O que ganharia se a sua vontade se realizasse, e a oração, a pregação e a santidade
fossem banidas do mundo como você gostaria? E se os homens, a fim de agradá-lo,
desagradassem a Deus e rejeitassem a própria alma para sempre? Sentir-se-ia bem se a terra fosse
tão parecida com o inferno? Já é uma tristeza para os homens piedosos pensar em quão pouca
santidade há no mundo, é difícil que já tenha surgido uma ideia mais triste em meu coração do
que a de examinar todas as nações da terra, e refletir em como a ignorância e a impiedade
sobejam, e em como são raros os que são verdadeiramente santos; e que criatura desumana é essa
que ainda desejaria que eles fossem menos, e rejeita a pouca sabedoria e misericórdia que resta
no mundo! (Rm 11.1-2).
E haveria algum gozo para você no inferno, caso os homens o seguissem até lá para
agradá-lo? Não, seria o seu tormento eterno ver lá tantos destruídos para sempre por darem
ouvidos a seus conselhos perversos. Não diga que você não é tão cruel, e que não deseja a
condenação deles, também não deseja a sua própria. No final, o efeito é o mesmo, se for o
caminho para lá que deseja. Você também pode dar veneno a um homem e zombar de outro por
comer e beber, e ainda assim dizer, não é a sua morte que eu desejo. Mas eles morrerão se forem
guiados por ti.
10. O homem que não faz tanto pela salvação da alma de seus vizinhos não é tão cruel
quanto você, que os ridiculariza por tentarem salvar as próprias almas? Se você estivesse doente,
eu me recusaria a orar por sua vida? Ou se eu soubesse que isso poderia salvar a alma de outra
pessoa, consideraria quaisquer meios ou esforços grandes demais? Se não, acredito que posso
fazer por mim mesmo o que a misericórdia me ordena fazer por outra pessoa.
11. Estamos em uma época propícia para menosprezar a santidade, quando, ao mesmo
tempo, há incontáveis almas no céu, e elas alcançaram esse estado através do caminho da
santidade? E há inúmeros seres no inferno, todos lá por não terem seguido a vereda da santidade?
Enquanto você desdenha dela em suas palavras, eles clamam em desespero pela insensatez de tê-
la negligenciado. Uma alma no céu daria atenção às suas zombarias se voltasse a viver na terra?
Ou uma alma no inferno seria ridicularizada lá, caso fosse testada com outra existência? Se neste
exato momento você pudesse contemplar o sofrimento das almas ímpias no inferno e as alegrias
das almas santas no céu, você ousaria zombar novamente da santidade? Por favor, reveja suas
ações com vergonha e, pela fé, vislumbre aquilo que os olhos mortais não conseguem enxergar.
12. E se os homens se renderem às suas chacotas e abandonarem uma vida santa para
agradá-lo? Você se comprometeria a justificá-los ou seria responsável por eles diante daquele
Deus, que exigiu santidade e condenará todos os ímpios? Você os livraria e os salvaria da
condenação? Ah! pobre alma, não será capaz de salvar a si mesma! E você os considerará sábios,
se desagradarem ao Senhor e forem para o inferno para agradar a alguém como você?
13. Você não largará a sua casa, ou terra, ou direito; nem comida, ou bebida, ou
descanso por causa de escárnio, acaso os lançaria fora se outro zombasse de você por usufruir
dessas coisas? Creio que não faria isso. E você espera que os sábios abram mão da salvação
porque sofrem sarcasmos?
14. Acharia aceitável se escarnecessem de seus filhos ou servos por lhe amarem ou
obedecerem? Ou que seu próprio cavalo fosse desprezado por servi-lo? E eles devem mais a
você do que todos nós devemos a Deus?
15. Deus os honra e ama muito, por isso mesmo você os odeia e ridiculariza. João 16.27
e 14.21: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que
me ama será amado por meu pai; e eu o amarei e me manifestarei a ele”. Salmos 11.7 diz: “
Porque o Senhor é justo, e ama a justiça; o seu rosto olha para os retos”. Salmos 146.8: “O
Senhor ama os justos.”
E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do
Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu
Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e
não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós pai, e vós sereis para
mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso.
2Coríntios 6.16-18
E ousas desprezar os filhos e filhas do altíssimo? Até por algo pelo qual ele prometeu
recebê-los e ser um pai para eles? Quão oposto, então, você é a Deus!
Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a
casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém agora diz o Senhor:
Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me
desprezam serão desprezados.
1Samuel 2.30
E você será um de seus desprezadores, opondo-se àquilo pelo que Deus mesmo prometeu
honrar a outros?
16. Odiar e desprezar a santidade significa odiar e desprezar a própria imagem de Deus,
e a representação mais evidente de Deus que há debaixo do céu – inclusive aquela pela qual
Cristo desceu do céu para nos dar a primeira porção; e o exemplo da vida santa de Cristo,
gravada no coração pelo Espírito de Deus (Lc 19.27). E quem despreza essa imagem de Deus,
despreza o Espírito Santo que a criou; e menospreza a Cristo, que nos deu o primeiro modelo; e
desdenha do próprio Deus, de quem é a imagem. Crisóstomo diz, “Deus é amado e odiado em
seus servos tal qual um rei é honrado ou desprezado à sua imagem.” E quem se atreve a
desprezar a Deus, a Jesus Cristo, ao Espírito Santo e à imagem de Deus sobre seus filhos, creio
que nunca deveria ter o descaramento de esperar ser salvo pelo Deus que ele despreza.
17. Você é o opróbrio da natureza humana, e faz com que o homem se pareça tanto com
um demônio que fica difícil provar que os demônios são capazes de ser muito piores. Pode haver
pecado maior do que uma criatura desprezar e ridicularizar a imagem e as leis de seu criador? E
odiar, e se opor, ou perseguir os homens por obedecê-lo e buscarem agradá-lo e salvarem sua
alma? O que poderia fazer de pior caso se empenhasse para ser tão mau quanto possível? Que
vergonha o seu intelecto ser tão cego! E o teu coração tão perverso! Desprezar o sol por brilhar,
ou a terra por dar frutos, não chegaria aos pés de uma vergonha tão grande, pois embora sejam
criaturas de Deus, eles não carregam a imagem da santidade do Senhor como os seus filhos o
fazem. No fim, quando ele condenar os homens, será por essa razão. Mateus 25.40 diz: “E,
respondendo o rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes (ou não o fizestes) a um
destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (ou não).” Ah, que espanto que a natureza
humana possa chegar ao ponto de odiar, opor-se e desprezar a imagem do seu criador, a
obediência a ele, e zombar da santidade de Deus! É uma grande questão se levar os homens a
cometerem tais pecados não é o maior pecado do diabo, e se cometê-lo é pior do que tentar
alguém a cometê-lo. E quanto ao homem que tem um salvador que se entregou por ele, desprezar
a graça de seu salvador e zombar de seus servos dessa maneira deve ser muito pior do que o
diabo agir assim, já que não possui salvador, perdão e esperança alguma lhe foram ofertados,
mas está encerrado debaixo de desespero eterno. Da mesma forma, é pior que uma criança
amaldiçoe seu pai, ou o despreze, do que um inimigo o faça. Reflita e estremeça: esse zombar ou
insurgir-se à obra do Espírito Santo muito se aproxima da blasfêmia imperdoável contra ele (cf.
Mt 12).
18. Que maldade não se pode esperar de você, que é capaz de cometer tamanho pecado?
O seu próximo não deveria esperar que os interesses carnais o levassem a cometer qualquer dano
contra ele? É errado ele pensar que você seria um ladrão, um assassino, um promíscuo, um
enganador, a menos que não seja tentado a cometê-los? Ou que trairia o seu rei e seu país? Ou
seria infiel ao seu amigo mais verdadeiro, caso se sentisse tentado a isso, já que menospreza os
homens por obedecerem ao próprio Deus? (cf. Sl 123.4). Aquele que ousa ignorar o seu criador,
redentor e santificador, e cuspir ignomínia sobre a própria santidade, a imagem do seu juiz,
hesitaria diante de qualquer maldade a que fosse igualmente tentado? Quanto a mim, se alguma
vez confiar a você, ou a qualquer homem semelhante, a vida ou a liberdade, ou o valor de um
tostão, confiarei no seu interesse, e não na sua honestidade e consciência. Confiarei em você
pouco mais do que confiaria no próprio diabo que o governa.
19. Por fim, considere o que achará de si mesmo quando a morte e o julgamento
chegarem (leia também Jd 14-15; Sl 1). Quando estiver prestes a ser julgado por Deus, será que
se sentirá confortável ao pensar que então estará diante da presença do Deus a quem você
desprezava? Quando vir Cristo voltar com milhares de seus santos anjos para julgar o mundo,
sentirá algum consolo ao pensar: eis aquele de cuja vida santa, preceitos e servos eu zombei ou
persegui na terra? Agora, serei julgado por aquele de quem escarneci. Ah, que situação terrível!
Um escarnecedor ou perseguidor da santidade ser julgado pelo Deus santo, cujos caminhos
renegou e perseguiu! (cf. Pv 9.12; 29.8; Is 28.14). Se você disser: “Não foi a Cristo, mas a uma
pessoa que ridicularizei”, observe Mateus 25.40,45; Lucas 19.27; Atos 9.4: “Saulo, Saulo, por
que me persegues?”. Se desprezar um filho por aquilo em que ele se parece, imita ou obedece ao
seu pai, no dia do julgamento de sua desgraça, descobrirá que o maior e principal alvo de seu
desapreço foi o próprio pai. Logo, eu preferiria ser o sapo mais vil a ser um homem assim. E
então, vai manter o que disse? Sustentará suas calúnias e reprovações? Condenará ou desprezará
os piedosos ao vê-los justificados à direita de Cristo, ou glorificados com ele no céu? Não! Como
em Malaquias 3.18, quando Deus separa suas joias, “voltareis e vereis a diferença entre o justo e
o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve”. Assim, você engoliria com prazer todas
as palavras de reprovação e desprezo que já falou contra um santo, e gostaria que nunca as
tivesse proferido! Afirmo-lhe que é indecoroso o fato de que o mesmo homem que hoje despreza
a piedade tremerá tão depressa diante do Deus justo ao lembrar-se delas!
Considero essas revelações da terrível natureza deste pecado como as melhores
orientações contra ele; pois do mesmo modo que é um pecado que não lhe acrescenta nada,
também é um pecado que pode abandonar sem dificuldades, se estiver disposto. Todavia para os
que ainda estão apenas sob ameaça dele ou a ponto de cometê-lo, acrescentarei estas outras
orientações para mantê-los afastados de uma maldade tão violenta.
Orientação I. Evite a companhia dos homens perturbados, que ousam insultar os servos e
os caminhos de Deus. Há algo na natureza corrompida deles que o inclinará a imitar as mais
horríveis blasfêmias, se ouvi-las com frequência. Em nossos dias, testemunhamos que, ao
imitarem outros, homens têm sucumbido a pecados inomináveis, brindando ao diabo e
transformando “Deus me condene” em uma expressão corriqueira. Portanto, não se torne
companheiro deles.
Orientação II. Esteja atento para não se perder em pecados que levem à cegueira da
mente e à insensibilidade do coração. Não abandone Deus, para que Ele não o abandone. São
geralmente aqueles que foram abandonados por Deus que chegam a esse estado desesperador de
pecado, a ponto de o Livro de Homilias[21] descrevê-los da seguinte maneira: “A terceira
categoria ele chama de escarnecedores, ou seja, homens cujos corações estão tão saturados de
malícia que não se contentam em permanecer no pecado e conduzir suas vidas em toda sorte de
maldade; mas também condenam e desprezam a misericórdia, a verdadeira fé, a honestidade e a
virtude nos outros. Quanto aos dois primeiros tipos de homens, não direi que não possam se
arrepender e se converter a Deus; quanto ao terceiro, creio que posso afirmar, sem temor do
julgamento divino, que nenhum deles jamais se converteu a Deus pelo arrependimento, mas
persistiu em sua abominável maldade, acumulando condenação para o dia do inevitável
julgamento de Deus”. Embora considere isso excessivamente severo, ainda representa o
julgamento da Igreja da Inglaterra e é terrível para aqueles que escarnecem e professam
concordância com tal perspectiva.
Orientação III. Tenha cautela ao menosprezar as circunstâncias ou formas de adoração
que não lhe agradam, pois esses menosprezos chegam tão perto da própria adoração que as
mentes dos ouvintes podem facilmente ser levadas a desonrar a essência em detrimento da forma
ou conjuntura ridicularizadas. Isso claramente exala uma profanação audaciosa, algo que cristãos
sérios e sóbrios repudiam. No caso de idolatria, ou quando o próprio conteúdo da adoração é
ímpio e proibido, não nego que Elias, que ridicularizou os sacerdotes de Baal, possa ser imitado,
às vezes, e com cautela (cf. 1Rs 18). No entanto, fazê-lo com base em diferenças insignificantes
na forma ou contextos de adoração é o caminho para ensinar os homens a transformarem toda
religião em motivo de escárnio e desprezo.
Se, ao redor do rei, você perceber alguma característica de vestimenta, ornamento ou
participação de seus seguidores que não lhe agrade ou que julgue ridícula, se olhar para ele com
um riso zombeteiro, não poderá se desculpar dizendo: “Não ri do rei, mas dessa ou daquela coisa
acerca dele”, uma vez que a presença do soberano deveria tê-lo impedido de agir como se
estivesse escarnecendo dele. Agora, sei que você dirá: “Não é a adoração a Deus, mas a tais
palavras ou gestos do ministro que eu desprezo”. Fique atento ao lidar com as coisas sagradas;
não brinque tão perto do fogo consumidor; não dê motivos para outros ridicularizarem a coisa
em si porque você menospreza os detalhes, mesmo que sejam inadequados.
Não vimos que, enquanto os cristãos facciosos fazem piadas, alcunhas e escárnios uns
contra os outros, os inimigos profanos e comuns da fé se aproveitam deles e os retomam contra
toda a piedade séria, para perturbação dos outros e a sua própria condenação? E, nestes tempos
conturbados, nossa experiência tem mostrado que os religiosos e os profanos são os que estão
prontos a usar de escárnios e desprezos contra as coisas e pessoas que não lhes agradam; e que
homens sóbrios, pacíficos e sensatos de qualquer lugar abominam tais coisas. Por exemplo: todos
os homens sóbrios acharam desagradável e profano ouvir alguns jovens e pessoas impetuosas
zombarem da oração coletiva, chamando-a de “guisado”, e a vestimenta eclesiástica de “o
vestido da prostituta da Babilônia”. E a partir daí, o mesmo espírito os levou a zombar com tanta
arrogância e amargura de ministros, universidades, erudição, templos, dízimos e de todos os
elementos de adoração; sim, do dia do Senhor, e do canto dos salmos, e da pregação, e de quase
todos os deveres da religião. Quando os homens pretendem lutar em nome de Deus com o
espírito e as armas de Satanás, o mundo e a carne, não há limites de onde podem chegar à
impiedade, e fazerem a obra de Satanás do jeito de Satanás. Por outro lado, enquanto alguns
escarneciam com demasiada reprovação dos que divergiam deles a respeito da forma de governo
e cerimônias da igreja, como os Preciosistas e Puritanos, a multidão de profanos logo se
aproveitou disso e transformou essas palavras em reprovações tão comuns e amargas do povo
piedoso, sóbrio e pacífico da terra, que o Sr. Robert Bolton[22] diz: “Estou convencido de que,
desde que a malícia contra Deus se apoderou pela primeira vez dos anjos condenados, e as graças
do céu habitavam no coração do homem, jamais uma palavra pobre e perseguida passara com
mais contrariedade e ranger de dentes pela boca de todos os tipos de homens não regenerados do
que o nome de puritano faz até hoje – o qual, não obstante, como agora é comumente
compreendido, e quase sempre resulta do mau humor e do espírito de ofensa e bom convívio, é
uma alcunha honrosa, posso dizer assim, de cristianismo e graça”.
Orientação IV. Tenha muito temor de tornar as pessoas piedosas desprezíveis, apesar de
suas falhas reais, para que os ímpios não avancem sem obstáculos para o desprezo da própria
piedade, pois é fácil observar com que aptidão o vulgar julga a doutrina e a fé pela pessoa que a
professa. Se um católico romano ou sectário vive uma vida santa, tome o cuidado de não
menosprezar essa pessoa, mesmo que o seu escárnio se fundamente nos erros deles, visto que até
um santo equivocado é honrado por Deus. E onde quer que haja santidade, ela é a coisa mais
grandiosa, resplandecente e predominante naquele que a possui. Portanto, confere-lhe maior
honra do que qualquer erro ou fragilidade possa infamá-la. Tal como a pessoa de um rei não
pode ser desonrada por uma menção reprovável de suas debilidades, a fim de que não se reflita
em seu cargo, também a pessoa de um homem santo não deve ser desabonada, para que não se
reflita em sua fé.
Não que a pessoa de qualquer homem deva atestar ou assegurar seus defeitos, ou que
devamos julgar os defeitos ou comportamentos pelos homens, em vez de julgar os homens por
suas atitudes: você deve julgá-los pelo que é predominante. Desse modo, critique seus erros de
maneira a preservar a honra de suas virtudes e religião, e de suas pessoas em virtude de suas
virtudes. Portanto, critique as quedas de Noé, Ló, Davi e Pedro de modo a tornar o pecado mais
odioso, mas não de modo a tornar suas pessoas desprezíveis, para que a fé desses homens não
seja lançada ao desprezo. Observe aqui a diferença entre a menção das quedas de homens bons
feita pelos piedosos e pelos ímpios. Os piedosos as mencionam para fazer com que o pecado
pareça algo mais a ser temido e vigiado, e para que a santidade pareça mais excelente e
necessária. Já os ímpios as mencionam (e as leem nas Escrituras) para se convencerem de que o
pecado não é tão ruim e perigoso quanto os pregadores afirmam, e que a santidade difere pouco
de uma vida carnal.
Orientação V. Não julgue os servos de Deus apenas pelo que lhe relatam, sem um
conhecimento considerável deles. Dentre uma multidão de inimigos – escarnecedores e
perseguidores da piedade, grandes ou pequenos, importantes ou comuns – não consigo me
lembrar de um sequer que não seja alguém que nunca tiveram a felicidade de conhecer melhor,
seja por alguma familiaridade, seja pela constatação das fases desconhecidas de sua vida; ao
contrário, quase sempre são aqueles que conhecem apenas de ouvir falar, ou de vista, ou por não
terem qualquer intimidade. E se vivessem com eles nas mesmas casas, ou tivessem familiaridade
com eles, essa seria a maneira mais provável de mudar sua ideia e discursos; a menos que sua
convivência fosse apenas com alguns dos cristãos mais ignorantes, impetuosos ou
destemperados.
Orientação VI. Previna-se contra a falta de empatia e malícia com qualquer pessoa,
sobretudo com os servos de Cristo. Pois isso cega o julgamento, e enlouquece os homens com
uma paixão venenosa, e fará com que desprezem e se enfureçam contra os servos santíssimos do
Senhor. O mínimo de amor verdadeiro para um cristão, como cristão, contribuiria muito para a
cura de todo esse pecado.
Orientação VII. Desconfie para não se envolver em uma seita ou facção, e fique atento
ao zelo carnal da dissidência e ao espírito de divisão, que normalmente fazem com que os
homens considerem lícito, quando não necessário, desprezar as pessoas que julgam seus
opositores, e dessa forma consigam impedi-las de atrapalhar o interesse de sua causa ou grupo.
Assim, católicos e, por extensão, os facciosos de todos os grupos, justificam suas difamações
como um desarmamento necessário dos inimigos de Deus (pois todos que diferem deles devem
parecer assim); e um despojamento da honra que poderia causar dano. Assim, o mal mais odioso
disfarça-se de bem, e Deus é apresentado como opositor do amor que é o cumprimento de sua
lei, e como patrono dos escarnecedores de seus filhos; porém, com certeza, ele despreza os
escarnecedores (cf. Pv 3.34).
Orientação VIII. Previna-se do pecado e da infidelidade, porque, uma vez que o
entendimento é iludido, e considera a religião em si somente um engano ou fantasia, e a piedade
apenas presunção e hipocrisia, não espanta que faça disso uma chacota. E esses escarnecedores
se justificarão nessas coisas, e acharão que não fazem mal. Uma mente cega é uma grande praga.
Concluo com estes sinceros pedidos aos crentes:
1. Não dê aos homens motivo de escárnio por sua imprudência, escândalo, egoísmo ou
paixões, enquanto se ocupa com a honra a Deus e com a salvação dos homens. Como diz
Crisóstomo: “Assim como aquele que carrega o estandarte do rei precisa ser bem protegido na
batalha, do mesmo modo o que carrega o nome e a obra de Deus e da santidade”.
2. Não desanime por causa dos escarnecedores, eles são até brandos se comparados com
o que Cristo sofreu por você e com o que os próprios escarnecedores sofrerão.
[1]
Este prefácio está contido na obra A Christian Directory. Publicaremos esta obra em diversos livros, separando cada livro por temáticas diferentes.
[2]
Pitágoras foi um importante matemático e filósofo grego [N. do E.].
[3]
Cf. Sl 16.2; Sl 96.2; Sl 135.3; Sl 148.13; Sl 29.2.
[4]
Não foi possível identificar a quem o autor se refere [N. do E.].
[5]
Sêneca foi um filósofo estoico e um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano [N. do E.].
[6]
Daniel 6.1-5
[7]
Provavelmente Baxter está se referindo a Marco Túlio Cícero que foi o maior orador de Roma e um prolífico autor de vasta correspondência e textos de
filosofia e política [N. do E.].
[8]
Agostinho de Hipona. De Mendacio.
[9]
Agostinho de Hipona. De Mendacio.
[10]
Aurélio Ambrósio, mais conhecido como Ambrósio, foi um arcebispo de Mediolano que se tornou um dos mais influentes membros do clero no século IV.
Ambrósio era um fervoroso adversário do arianismo [N. do E.].
[11]
Cf. Gn 20.2; Gn 12.10-20; Gn 26.7
[12]
Cf. 1Sm 21.10-15
[13]
2Rs 5.15-27
[14]
AUGUSTINE, Saint. The Enchiridion, Manual.
[15]
Cf. Êx 1.15-21
[16]
Teofrasto (72 a.C. – 287 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga. Era oriundo de Eressos, em Lesbos, seu nome original era Tirtamo, mas ficou conhecido pela
alcunha de ‘Teofrasto’, que lhe foi dada por Aristóteles, segundo se diz, para indicar as qualidades de orador.
[17]
Isócrates (436 a.C. – 338 a.C.) foi um orador e retórico ateniense. Chamado de o pai da oratória, pois foi o primeiro a escrever discursos que serviam de
modelo a seus discípulos. Foi ele quem implantou a retórica no currículo escolar de Atenas.
[18]
Moeda que representou a vigésima parte da libra esterlina até 1971.
[19]
Cf. Is 32.4-6; Mt 12.34,36; 2Co 4.13; Jo 3.11; 1Jo 4.5; Pv 16.23; Sl 40.5; Ct 7.9.
[20]
Ver também Salmos 119.172; 49.3; 35.28.
[21]
O “Livro de Homilias” refere-se a uma coleção de sermões oficiais da Igreja da Inglaterra. Esses sermões foram compilados durante o reinado de Eduardo VI
(1547-1553) e, posteriormente, durante o reinado de Isabel I (1558-1603). O objetivo do Livro de Homilias era fornecer diretrizes e instruções padronizadas para
a pregação nas igrejas anglicanas. Os sermões abordavam uma variedade de temas, incluindo doutrina, moralidade, ética e práticas religiosas. O trecho
mencionado é uma referência a um desses sermões [N. do E.]..
[22]
Robert Bolton (1572–1631) formou-se em Oxford, foi professor universitário e tornou-se ministro do evangelho em Broughton, Northamptonshire.
[1]Talvez valesse a pena uma nota a respeito desse aspecto de adoração de imagens.
QUEM SOMOS?
A DORT é uma editora cristã que tem como objetivo publicar grandes clássicos da
Teologia Reformada para abençoar e fortalecer a igreja brasileira.
Acreditamos que a igreja brasileira carece de reforma e que, apesar de haver muitos bons
livros já traduzidos, existem muitos outros tesouros completamente esquecidos.
Por isso, nossa missão é mudar essa realidade e verter mais obras para a nossa língua
materna, a respeito dos mais variados aspectos da vida cristã e teologia e sob uma perspectiva
reformada.
OUTROS LIVROS DA COLEÇÃO TEOLOGIA APLICADA
REDES SOCIAIS
Instagram
Youtube
MAIS EBOOKS DESSA EDITORA