Marilia Oliveira Doutorado Original Integral
Marilia Oliveira Doutorado Original Integral
Marilia Oliveira Doutorado Original Integral
São Paulo
2023
1
Versão Original
São Paulo
2023
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3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Mauro e Vera, por todos os ensinamentos e valores. Por
proporcionarem a mim e aos meus irmãos a educação que vocês não tiveram a
oportunidade de ter e o caráter que sempre carregaram junto a vocês. Vocês são a base
de nossa linda família.
Aos meus irmãos Willian e Leonardo, por serem a parte mais doce de minhas
lembranças. Por sempre me apoiarem e acreditarem em mim, por toda a torcida e pelo
extremo cuidado. Não vejo a hora de estarmos juntos novamente.
As minhas cunhadas Gabriela e Ana Paula, por todas as risadas e momentos de
descontração. Por cuidarem tão bem de meus irmãos e por trazerem muita felicidade a
nossa família.
Ao meu sobrinho Maurício, meu grande amor, por ser a pessoa mais especial em
minha vida. Por me ensinar tanto desde o dia em que chegou a este mundo. Por todo o
amor e felicidade que me traz e por me inspirar a ser alguém melhor a cada dia. Não tem
um dia em que eu não penso em você. Obrigada por trazer a melhor parte de mim.
Estaremos sempre juntos, mesmo com a atual distância de cidade e país. Eu te amo!
Ao Prof. Dr. Jean Pierre Schatzmann Peron, meu orientador e grande amigo, pela
oportunidade única de aprender com sua mente brilhante, por todo o apoio e incentivo
científico e pessoal. Serei eternamente grata por todos os anos de aprendizado com você
e por essa linda amizade que construímos há anos. Te levarei para sempre comigo.
Aos meus avós Eurípedes e Terezinha, nossos anjos, por trazerem meu pai a este
mundo. Por todos os esforços em tornar a vida de uma família tão grande mais leve e digna.
Por sempre buscarem o melhor a seus filhos e por todo o amor com seus netos e bisnetos.
Eu nunca me esquecerei de vocês e gostaria que estivessem aqui neste momento.
Aos meus avós Mariano e Olga, por todo o carinho e amor. Por sempre desejarem
o melhor a mim e por estarem sempre presentes, mesmo com a distância em que
enfrentamos. Obrigada por todas as conversas, brincadeiras, histórias e comidas. Torço
para ter vocês aqui por muitos e muitos mais anos.
Aos meus padrinhos Jorge e Silvia, pelo sentimento de amor, carinho e cuidado.
Obrigada por serem meus segundos pais e meus tios favoritos. A vida é muito mais feliz
com vocês.
A minha prima Beatriz, por ser como uma irmã e por estar presente em todos os
momentos bons ou ruins de minha vida. Por tudo o que vivemos em nossa infância e
adolescência e por toda a vida adulta que temos pela frente. Estaremos sempre juntas!
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Aos meus primos Mariane, Daniela, Matheus, Douglas e Andrews, por tornarem a
infância mais leve e alegre. Por todas as brincadeiras e desavenças, importantes para nos
tornamos pessoas melhores.
A minha prima Gabriela e toda sua família, por terem me recebido tão bem na casa
de vocês e por tornarem os Estados Unidos uma extensão de casa.
À Carolina, Lilian e Nagela, por todos os momentos juntas e pela parceria. Tive muita
sorte de ter a amizade de vocês desde antes do início do doutorado e por tê-las em minha
vida durante todo este período. Obrigada pelos ensinamentos científicos, pela companhia
em dias difíceis e em todos os congressos, e por todos os conselhos de vida. Estaremos
sempre juntas e, agora, em outro país. Que venham muito mais churrascos, pizzas, viagens
e bebedeiras internacionais.
À Ariana, minha grande amiga, Lucas, seu marido e Heitor, o fruto dessa união, pela
amizade em todos estes anos e por todos os finais de semana e feriados especiais. Por
fazerem parte de toda a minha vida pessoal e profissional. Por sempre estarmos juntos,
mesmo com a distância. Tenho certeza de que será assim por toda a vida.
Aos meus amigos Mayara e João, que se tornaram especiais e que trazem o bem.
É sempre muito bom estar com vocês.
Ao Prof. Dr. Rafael Machado Rezende, por acreditar em mim desde o primeiro dia.
Por me receber tão bem em seu laboratório e por me ensinar a pensar como uma grande
cientista. Obrigada por ser quem você é, com sua simplicidade, carinho e alegria. Obrigada
pela oportunidade de estar com você novamente, não vejo a hora de voltar e iniciarmos a
próxima etapa juntos.
Ao Prof. Dr. Howard Liu Weiner, por ceder o espaço de seu laboratório para eu
desenvolver nossa pesquisa. Por todas as reuniões e apoio financeiro.
Ao meu grande amigo e irmãozinho Gabriel, por ter contribuído tanto em tão pouco
tempo de amizade. Por ter me trazido paz em meio a tantos experimentos e novidades. Por
ter grande parte de meu coração e minhas lembranças em Boston. Você foi essencial para
esta experiencia ter sido única e incrível. Com você eu me senti em casa e, não é à toa,
pois compartilhamos o mesmo teto, as mesmas comidas e o mesmo laboratório. Obrigada
por ter me acolhido, me ouvido e por estar sempre presente em minha vida até os dias de
hoje. Esta amizade eu levarei por toda a vida.
À Kassiana, por toda sua leveza e delicadeza. Por também termos compartilhado o
mesmo teto e por fazermos parte da rotina e vida uma da outra. Aprendi muito com você e
seu jeito calmo e sereno de ser e conduzir sua pesquisa. Espero muito estarmos juntas em
Boston novamente.
6
Aos gringos Danielle e Taha, por serem como irmãos e por toda a amizade e
companheirismo nestes últimos anos. Boston não seria a mesma cidade sem vocês. Team
Bro Forever!
À Thais, por sua amizade e pensamento positivo. Por sua ajuda e aconselhamentos.
Eu aprendi tanto com você, cientificamente e pessoalmente. Você é uma pessoa incrível e
eu tive a sorte de dividir a vida em Boston com você.
Aos meus colegas do laboratório do Prof. Dr. Howard, Liam, Mathijs, Mary, Ella,
Christine, Tian, Millecent, Kusha, Estefania, Megha, Caroline, Luke e Mahsa por todo o
apoio e ajuda. Desejo tudo de mais especial na vida de cada um e espero nos
reencontrarmos no futuro.
A todos os alunos e amigos que passaram pelo laboratório do Prof. Rafael, Gabriela,
Felipe, Maria Júlia, Isabelly, Júlia, Roberta, Lívia, Ana Clara, Toby e Patrick por tornarem o
dia a dia divertido e por toda a ajuda em dias caóticos de experimento. Vocês foram
essenciais no desenvolvimento de grande parte desta tese.
Aos colegas de mundo em Boston, Camilo, Melissa, Kylynne, Xiaoming, Ana
Brandão, Michael, Kilian, Nico e Udbov por tornarem o laboratório mais divertido.
Aos melhores ‘roommates’, Anderson, Maria, Michele, Salvatore, Federica e Miyuki
por todas as conversas, refeições e companhia. Por tornarem minha primeira casa longe
do ninho extremamente feliz e agradável. Levarei vocês sempre comigo.
Aos colegas do laboratório de Interações Neuroimunes, Wesley, Rafaela, Beatriz,
Laura, Tiago, Brendo, Yan, Jonathan e Sandra, por toda a discussão de resultados e pela
agradável companhia em todos estes anos.
Aos colegas que tive o prazer de dividir o Departamento de Imunologia da USP por
anos, Igor, Rafael, Aline, Thiago, João e Flávia, pela companhia e por tornar a ciência mais
alegre e divertida.
À banca de qualificação, Profa. Dra. Patrícia, Dra. Luana e Prof. Dr. Vinícius, por
todas as sugestões e conselhos.
A todos funcionários do Departamento de Imunologia do ICB, em especial à Maria
Eni, Claudia, Aurea, Sandra e João, por estarem sempre dispostos a ajudar a todos os
alunos.
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APOIO FINANCEIRO
“É precisamente na fronteira do
conhecimento que a imaginação tem
seu papel mais importante; o que ontem
foi apenas um sonho, amanhã poderá
se tornar realidade.” – Marcelo Gleiser
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LISTA DE FIGURAS
Figura 18: Produção intracelular de Il-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T αβ CD4+ nos tecidos
afetados pelo modelo de colite crônica induzido por DSS em camundongos
Cd4CrexGrin1f/f................................................................................................................. 58
Figura 19: Sinais e sintomas da colite crônica induzida por transferência de células T de
camundongos Cd4CrexGrin1f/f...........................................................................................59
Figura 20: Distribuição e fenótipo de linfócitos T αβ CD4+ nos tecidos afetados pelo modelo
de colite crônica induzido por transferência de células T de camundongos
Cd4CrexGrin1f/f..................................................................................................................61
Figura 21: Produção intracelular de Il-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T αβ CD4+ nos tecidos
afetados pelo modelo de colite crônica induzido por transferência de células T de
camundongos Cd4CrexGrin1f/f...........................................................................................62
Figura 22: Avaliação da tolerância oral em camundongos Cd4CrexGrin1f/f.......................63
Figura 23: Distribuição e fenótipo de linfócitos T αβ e T γδ no baço de camundongos
Cd4CrexGrin1f/f em modelo de tolerância oral....................................................................64
Figura 24: Produção intracelular de IL-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T αβ CD4+ no baço
de camundongos Cd4CrexGrin1f/f em modelo de tolerância oral........................................65
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Lista de primers utilizados para avaliação de mRNA dos genes em interesse.....39
Tabela 2: Frequência de linfócitos T αβ (CD4+ e CD8+) e T γδ nos órgãos linfoides de
camundongos Cd4CrexGrin1f/f naïve.................................................................................72
Tabela 3: Frequência de linfócitos T αβ (CD4+ e CD8+) e linfócitos T γδ e expressão de
CD25, FoxP3 e CD103 por linfócitos T CD4+ nos órgãos linfoides de camundongos
Cd4CrexGrin1f/f submetidos a três modelos distintos de colite...........................................73
Tabela 4: Produção intracelular de IL-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T CD4+ de
camundongos Cd4CrexGrin1f/f submetidos a três modelos distintos de colite....................73
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LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................................17
ABSTRACT........................................................................................................................18
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................19
1.1. Glutamato e NMDAR................................................................................................19
1.2. Microbiota e o sistema imune no GALT.................................................................... 23
1.3. Doenças inflamatórias intestinais.............................................................................26
1.4. O sistema nervoso entérico......................................................................................29
2. OBJETIVOS ............................................................................................................33
2.1. Objetivos específicos...............................................................................................33
3. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................34
3.1. Animais....................................................................................................................34
3.2 Tolerância Oral.........................................................................................................34
3.3 Colite induzida com DSS..........................................................................................34
3.4 Colite induzida por transferência de linfócitos T........................................................35
3.5 Separação magnética de células T CD4+ e CD8+ do baço.......................................35
3.6 Obtenção de células do baço, timo, linfonodos mesentéricos e cecais.....................36
3.7 Obtenção de células da mucosa intestinal................................................................36
3.7.1 Linfócitos intraepiteliais intestinais...........................................................................37
3.7.2 Linfócitos da lâmina própria intestinal.......................................................................37
3.8 Extração de RNA e síntese de DNA complementar (cDNA).....................................38
3.9 Quantificação de mRNA por PCR em Tempo Real...................................................39
3.10 Citometria de fluxo....................................................................................................39
3.11 Permeabilidade e trânsito intestinal..........................................................................40
3.12 Histologia do cólon....................................................................................................41
3.13 Imunofluorescência do intestino delgado..................................................................41
3.14 Análise estatística.....................................................................................................42
4. RESULTADOS..............................................................................................................43
4.1 Expressão de NMDAR por linfócitos T αβ.................................................................43
4.2 Alteração na expressão de genes relacionados ao fenótipo Th1, Th17 e Treg no
baço, linfonodos mesentéricos e compartimento intraepitelial do intestino delgado de
camundongos Cd4CrexGrin1f/f...........................................................................................46
4.3 A deleção de NMDAR especificamente em linfócitos T αβ não prejudica a
permeabilidade e o trânsito intestinal..................................................................................48
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RESUMO
ABSTRACT
DE OLIVEIRA, M.G. The role of the ionotropic glutamate receptor NMDAR on αβ T cells
of the intestinal mucosa in an experimental murine model. PhD Thesis (Immunology) –
Biomedical Sciences Institute, University of Sao Paulo, 2023.
1. INTRODUÇÃO
durante sua ativação em órgãos linfóides secundários, e não somente quando essas células
infiltram o SNC. Trabalhos recentes demonstraram que DCs tímicas podem ser
consideradas fontes fisiológicas de glutamato assim como as células epiteliais tímicas
(TECs), o que sugere um possível papel do glutamato também em órgão linfóides primários,
atuando principalmente na seleção tímica levando em consideração que timócitos em
desenvolvimento expressam os receptores de glutamato do tipo NMDAR em altas
concentrações (Storto et al., 2000; Affaticati et al., 2011).
Como já citado, a função biológica do glutamato é exercida pela ativação de
transportadores e de duas famílias de receptores de membrana encontrados principalmente
em neurônios pós-sinápticos, chamados de receptores metabotrópicos (mGluRs) e
receptores ionotrópicos (iGluRs). Existem oito receptores metabotrópicos acoplados à
proteína G (mGluRs1-8), classificados em três subgrupos com base nas sequências
homólogas de seus aminoácidos. São eles: grupo I (mGluR1 e mGluR5), grupo II (mGluR2
e mGluR3), grupo III (mGluR4, mGluR6, mGluR7 e mGluR8) (Schoepp e Conn, 1993; Pin
e Duvoisin, 1995; Conn e Pin, 1997). Já os receptores ionotrópicos, são assim denominados
por ativarem canais iônicos, e são subdivididos em três subfamílias: os receptores AMPA
(do inglês, α-amino-3-hydroxy-5-methyl-4-isoxazolepropionic acid receptor), os receptores
KA (do inglês, kainate receptor) e os receptores NMDAR (do inglês, N-methyl-D-aspartate
receptor). Estes receptores são assim nomeados pois, seus agonistas mais seletivos são:
ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolepropiônico (AMPA), cainato (do inglês, kainate -
KA) e N-metil-D-aspartato (NMDA), respectivamente (Kew e Kemp, 2005).
Os receptores ionotrópicos são multímeros proteicos transmembrânicos arranjados
na forma tetramérica (Laube et al., 1998) ou pentamérica (Dingledine e Conn, 2000). Todos
constituem canais iônicos permeáveis a cátions, como por exemplo sódio (Na+) e cálcio
(Ca2+), sendo que essa permeabilidade pode variar dependendo das famílias e das
subunidades que compõem cada receptor (Danbolt, 2001; Kew e Kemp, 2005; Hertz, 2006;
Watkins e Jane, 2006). Os receptores AMPA e Cainato são permeáveis ao sódio (Na+) e
potássio (K+) e responsáveis pela rápida ativação da neurotransmissão excitatória no SNC.
Já o receptor NMDA é altamente permeável a cálcio (Ca2+), liberando o potássio (K+)
extracelular, tendo sua função baseada na potenciação de longo prazo (Segovia et al.,
2001).
Como já discutido, o receptor NMDAR é formado por quatro subunidades codificadas
por três famílias de genes diferentes: NR1 (Grin1), NR2 (Grin2) e NR3 (Grin3). A
subunidade NR1 possui um só gene, porém com oito variantes de splycing (Nakanishi et
al., 1992). A subunidade NR2 possui quatro isoformas denominadas NR2a, NR2b, NR2c e
22
NR2d e a subunidade NR3 possui duas isoformas, NR3a e NR2b. O NMDAR é formado por
duas subunidades invariantes NR1, as quais se ligam ao co-agonista glicina, e outras duas
subunidades variantes que se ligam ao glutamato, podendo ter seis opções, as
subunidades NR2a, NR2b, NR2c, NR2d ou as subunidades NR3a ou NR3b. As
subunidades NR2a-d são comumente expressas nas porções anteriores do cérebro,
diencéfalo, mesencéfalo e nas células granulares do cerebelo. Já as subunidades NR3a-b,
menos comumente encontradas, são expressas principalmente nos períodos iniciais do
desenvolvimento fetal (Monyer et al., 1994; Danysz e Parsons, 1998).
Quando em repouso, o receptor NMDA está bloqueado por íons de magnésio (Mg2+)
e, para sua ativação, é necessária uma despolarização para a abertura do canal iônico
através da saída dos íons de Mg2+ e da ligação dos agonistas, glicina e glutamato. Essa
despolarização pode ser dependente da ativação de outros iGluRs (Mcbain e Mayer, 1994).
Figura 1: Estrutura do NMDAR. O receptor ionotrópico de glutamato NMDAR está representado acima,
possuindo seu sítio de ligação ao agonista glutamato (esferas verdes) nas subunidades NR2 (A-D) e seu sítio
de ligação ao co-agonista glicina (esferas vermelhas) na subunidade invariante NR1. Quando em repouso, o
canal iônico está bloqueado por íons de magnésio (esferas cinzas). Após sua ativação e despolarização da
membrana, os íons de magnésio são liberados, promovendo a abertura do canal iônico com o influxo de íons
de cálcio e sódio (esferas azuis) e efluxo de íons de potássio (esferas laranjas). Figura criada no
BioRender.com.
al., 2011). De fato, altas concentrações de glutamato fora da fenda sináptica podem induzir
uma ativação excessiva de seus receptores, com grande influxo de Ca2+ e posterior morte
celular por apoptose, num processo conhecido por excitotoxicidade (Mcdonald et al., 1998;
Matute et al., 2006; Bai et al., 2013).
De forma interessante, os receptores de glutamato, principalmente o NMDAR, além
de serem expressos em células neuronais também são encontrados em células da glia em
modelos experimentais e em humanos, porém suas funções ainda não são bem
compreendidas (Hösli e Hösli, 1993; Steinhäuser e Gallo, 1996; Vernadakis, 1996; Conti et
al., 1999; Shelton e Mccarthy, 1999; Bergles et al., 2000).
Desde a década de 90, diversos estudos demonstraram que receptores para
neurotransmissores também são expressos por células do sistema imune, como por
exemplo os linfócitos T e B de camundongos e humanos. Dentre eles podemos citar
receptores para dopamina, das diferentes subfamílias (Santambrogio et al., 1993; Barbanti
et al., 1996; Ricci et al., 1998), receptores nicotínicos de acetilcolina α7 (Rosas-Ballina et
al., 2011), receptores β2 adrenérgicos expressos por linfócitos T reguladores (Guereschi et
al., 2013) e receptores serotoninérgicos 5-HTr (Young et al., 1993; Laberge et al., 1996).
Mais recentemente, a expressão de receptores de glutamato também foi observada em
macrófagos (Mantuano et al., 2017) e em linfócitos T (Lombardi et al., 2001; Kvaratskhelia
et al., 2009; Fallarino et al., 2010; Mashkina et al., 2010; Kahlfuß et al., 2014), sendo
possível ainda observar o bloqueio de NMDAR em linfócitos T através da utilização do
antagonista memantina (Kahlfuß et al., 2014). De fato, tanto células da resposta imune inata
como células da resposta imune adaptativa expressam receptores de glutamato de ambas
as famílias (Storto et al., 2000; Pacheco et al., 2006).
Apesar da atuação do glutamato fora do SNC e da presença dos NMDAR em células
do sistema imune, mais precisamente os linfócitos T, poucos trabalhos na literatura
buscaram compreender sua biologia e, tampouco é sabida sua função em diferentes
contextos da resposta imune, como por exemplo no GALT.
sendo eles: colite induzida por químicos (Wirtz et al., 2007; Neurath, 2012), modelo de colite
de transferência de células T (Powrie, 1995) e modelo de colite crônica espontâneo.
Existem pelo menos três tipos de reagentes químicos utilizados no primeiro modelo citado
acima, sendo o dextran sulfato de sódio (DSS) o principal e mais utilizado na literatura
podendo gerar manifestações agudas ou crônicas e envolvendo, principalmente células
imunes inatas, seguido pelo hapteno ácido 2,4,6-trinitrobenzenosulfônico (TNBS) e pela
oxazolona (Boismenu and Chen, 2000). O modelo de colite de transferência de células T é
o segundo modelo mais estudado, causado pela transferência adotiva de células T naïve
(CD4+CD45RBhigh) a animais deficientes de células T e B (Rag1-/-), possibilitando assim a
investigação de bases imunológicas tanto na indução quanto na progressão da inflamação
intestinal, por ser um modelo crônico mediado por células T (Powrie, 1995; Leach et al.,
1996).
29
através de sua ligação a neurônios sensores locais que aumentam os processos digestivos
através do reflexo vago-vagal (Tomé, 2018).
Desde a década de 90 estudos relatam a presença de neurônios secretores de
glutamato nos gânglios dos plexos mioentérico e submucoso de porquinhos-da-índia e ratos
(Kirchgessner et al., 1997; Liu et al., 1997). Foi demonstrado que fibras nervosas
glutamatérgicas são abundantes em ambos os plexos ganglionares e na região mucosa.
No íleo de cobaias, todos os neurônios glutamatérgicos co-expressam colina
acetiltransferase (ChAT) e substância P (SP) (Liu et al., 1997). Estes neurônios presentes
no plexo submucoso de cobaias que expressam ChAT e SP são considerados neurônios
aferentes primários que se projetam para a mucosa e respondem a estímulos sensoriais do
intestino (Kirchgessner et al., 1992).
As evidências de receptores ionotrópicos e metabotrópicos de glutamato no sistema
nervoso entérico se deram por imunohistoquímica e hibridização in situ também na década
de 90, onde foi relatado a expressão do RNA mensageiro para NR1 em neurônios do
intestino de ratos (Burns et al., 1994; Burns e Stephens, 1995). Além da subunidade NR1,
as subunidades NR2a e NR2b do receptor NMDA também foram encontradas em neurônios
dos plexos mioentéricos e submucoso do íleo de porquinhos-da-índia (Liu et al., 1997) e do
cólon de ratos, onde também encontraram a subunidade NR1 em fibras nervosas na
mucosa. Sendo assim, o NMDAR pode estar presente tanto em neurônios primários
aferentes espinhais (Mcroberts et al., 2001) quanto vagais (Hornby, 2001).
A concepção de que o sistema nervoso e o sistema imune podem influenciar um ao
outro de maneira sofisticada foi proposta pelo menos há duas décadas atrás (Ader et al.,
1990). Recentemente, sabe-se que o sistema nervoso entérico e o sistema imune estão
intimamente relacionados, pois se associam para manter a homeostase entre o corpo e a
microbiota. Foi demonstrado, por exemplo, que microrganismos comensais regulam a
motilidade intestinal através da interação de neurônios entéricos e macrófagos encontrados
na camada externa da musculatura do intestino grosso (Muller et al., 2014). Além disso, as
fibras nervosas que inervam a mucosa do intestino delgado penetram apenas o tecido
conjuntivo da lâmina própria, local, como já mencionado, de grande abundância de células
do sistema imune e, que, de forma inquestionável devem interagir para promover a
homeostase tecidual (Furness, 2008).
Sendo assim, levando-se em consideração a importância do GALT na modulação da
resposta imune local, associada à presença do neurotransmissor glutamato, seja advindo
do SNE, seja de células dendríticas teciduais ou da dieta, no presente projeto, investigamos
os fenômenos celulares e moleculares presentes nesta interação. Mais especificamente,
32
Figura 3: Interações neuro-imunes nos intestinos. 1) A maioria das células imunes são encontradas na
região da lâmina própria intestinal, enquanto os corpos celulares neuronais são restritos aos plexos
mioentérico e submucoso, regiões onde também se encontram macrófagos musculares e mastócitos.
Processos neuronais extrínsecos e intrínsecos inervam todas as camadas de ambos os intestinos.
Perturbações no lúmen intestinal são sentidas inicialmente por IECs, células imunes inatas ou diretamente
por neurônios. Entre vários possíveis circuitos neuro-imunes, quatro são descritos: 2) circuito neuro-imune
local curto entre a lâmina própria e células imunes presentes na camada muscular, assim como o sistema
nervoso intrínseco e extrínseco. 3) Interações neuro-imunes vagais envolvendo fibras nervosas aferentes e
eferentes originadas da medula oblonga. 4) a- Interações neuro-imunes de longo alcance com fibras intestino-
fugais projetadas da medula espinhal ou de gânglios b- fibras aferentes e eferentes originadas no gânglio da
raiz dorsal ou medula espinhal, respectivamente. Adaptado de Fernandes, H. V. e Mucida, D. Cell, 2017.
2. OBJETIVOS
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Animais
Foram utilizados camundongos C57BL/6 Cd4CrexGrin1f/f e seus controles Grin1f/f, de
ambos os sexos, com 8 a 10 semanas de idade. Ambos os animais foram mantidos em
estantes ventiladas sob condições controladas de temperatura, umidade e iluminação (ciclo
claro/escuro) no Biotério do Departamento de Imunologia. Todos os experimentos foram
aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais do Instituto de Ciências Biomédicas
da Universidade de São Paulo (CEUA-ICB/USP) em 12/11/2018, nº de protocolo
1287040618 (Anexo 1). Para o experimento de colite através da transferência de células
T, foram utilizados camundongos machos Rag1-/- de 8 semanas de idade obtidos do
Jackson Laboratory e mantidos no Biotério do Brigham and Women’s Hospital na Harvard
Medical School aprovados pela Comissão de Animais, segundo protocolo 2016N000230
(Anexo 2).
fluxo, conforme o item 3.10. O peso corporal e os seguintes sinais e sintomas clínicos e
macroscópicos foram monitorados diariamente: perda de peso, diarreia, sangue oculto nas
fezes, sangramento retal, comprimento do intestino grosso, adesões e obstruções
intestinais. Para o modelo experimental de colite aguda, camundongos Cd4CrexGrin1f/f e
seus controles Grin1f/f de 8 semanas de idade ingeriram 2.5% de DSS em sua água por
sete dias, em três ciclos. O primeiro e segundo ciclo incluíram sete dias de DSS seguido de
14 dias de repouso, através da substituição por água normal, e o terceiro ciclo consistiu em
sete dias de DSS seguido por três dias de repouso com água normal. Os animais foram
sacrificados no dia 52 para as mesmas análises do modelo de colite aguda.
vitamina e 10% de soro bovino fetal - SBF) para a contagem celular. Para o enriquecimento
e separação de células CD4+ ou CD8+ foram utilizados os kits MagniSort TM Mouse CD4 T
Cell Enrichment Kit e MagniSortTM Mouse CD8 T Cell Enrichment Kit, separadamente. Parte
das células foram ressuspendidas na concentração de 1 x 10 7 células/100 µL e depositadas
em tubo de 5 mL. Em seguida, foi adicionado 20 µL do coquetel de anticorpos de cada kit,
separadamente, a cada 100 µL de suspenção celular e o tubo foi vortexado e incubado por
10 minutos a temperatura ambiente (TA). As células foram lavadas e seus sobrenadantes
descartados. A seguir, foi adicionado a mesma proporção das beads de seleção negativa
e as amostras foram novamente incubadas por 5 minutos a TA. Foi adicionado até 2.5 mL
do volume total do tampão de separação e foi homogeneizado por pipetagem. O tubo foi
inserido dentro do magneto e as amostras foram incubadas por mais 5 minutos a TA. O
sobrenadante foi passado para um novo tubo, vertendo cuidadosamente por 1 segundo.
Nesse sobrenadante estavam contidas as células negativamente selecionadas, CD4+ ou
CD8+. As células foram passadas para novos tubos de 1.5 mL e armazenadas em TRIzol
para posterior análise por PCR em tempo real.
Com os intestinos abertos, as fezes e muco foram removidos. Foram realizados cortes de
1,5 a 2 cm e os pedaços de tecido foram adicionados a um tubo cônico de 50 mL contendo
10 mL de HBSS -/- com 10% de SBF, 15 mM de HEPES, 5 mM de EDTA e 1 mM de DL-
Dithiotreitol (DTT). O tubo foi incubado por 20 minutos em um agitador aquecido à 37 ºC.
As células do epitélio e da lâmina própria foram separadas de acordo com as etapas 3.7.1
e 3.7.2, respectivamente. Passamos os pedaços de intestino delgado sobre uma peneira
de aço inoxidável depositada em um becker de 500 mL para a remoção do sobrenadante,
onde estão contidas as células epiteliais e linfócitos intraepiteliais. Os pedaços do tecido
foram transferidos a um novo tubo cônico de 50 mL contendo 10 mL de HBSS -/- com 2
mM de EDTA e 25 mM de HEPES, livre de SBF e agitados por aproximadamente 30
segundos. O conteúdo foi novamente depositado sobre a peneira. Este procedimento foi
repetido mais duas vezes, para a separação completa das células epiteliais e intraepiteliais.
um novo tubo cônico de 50 mL. Adicionamos mais 9 mL da solução de digestão a cada tubo
e este foram incubados por 35 minutos em um agitador aquecido à 37 ºC. Foi adicionado
10 mL de HBSS com 5 mM de EDTA após a incubação, para estacionar a ação enzimática
da Liberase e DNase, e o conteúdo foi depositado em uma peneira de 100 μm sobre um
novo tubo cônico de 50 mL. O tecido sobre a peneira foi macerado com o auxílio de um
êmbolo de seringa de 1 mL e, em seguida, adicionamos mais 10 mL de HBSS (-/-) com 5%
de SBF e 25 mM de HEPES sobre o tecido. A suspenção foi centrifugada a 500 g por 5
minutos, a 4 ºC. O sobrenadante foi descartado e o pellet foi ressuspendido em 5 mL de
Percoll a 37%e, em seguida, transferido para um novo tubo de 15 mL e centrifugado a 800
g por 20 minutos, a 22 ºC com o freio desligado. Após isso, o sobrenadante foi removido
cuidadosamente por aspiração e o pellet foi ressuspendido em 1 mL de meio RPMI e,
novamente, transferido para um novo tubo de 15 mL. Foi adicionado mais 9 mL do meio ao
tubo e este foi centrifugado a 500 g por 5 minutos, a 4 ºC. O sobrenadante foi descartado e
o pellet ressuspendido em 1 mL de meio RPMI completo para posterior contagem de células
e marcação para análise por citometria de fluxo.
Tabela 1. Lista de primers utilizados para avaliação de mRNA dos genes em interesse.
incubadas por 15 minutos a temperatura ambiente com 1:1000 de Zombie Aqua Fixable
Viability (Biolegend), para exclusão de células mortas. Em seguida, as células foram
lavadas com FACS Buffer (HBSS -/-, 2% de SBF, 2 mM de EDTA e 25 mM de HEPES) e
incubadas com o coquetel de anticorpos anti-mouse: CD4 (1:300 - BV605), CD8a (1:300 -
BV711), CD8b (1:300 - APC-Cy7), CD25 (1:200 - PE), CD45 (1:300 - BUV395), CD103
(1:200 - BUV496), TCRβ (1:200 - PE-Cy7) e TCRγδ (1:200 - PercP) (Biolegend) por 30
minutos a 4 ºC, diluídos em FACS Buffer. Para a marcação do NMDAR foi utilizado 1:100
do anticorpo biotinelado anti-NMDAR1 (Biolegend, 818606), junto com os marcadores de
superfície, seguido pela incubação por mais 30 minutos a 4 ºC com 1:300 da estreptavidina
(BV421, Biolegend, 405226). Após as incubações relatadas, as células foram novamente
lavadas com FACS Buffer e o sobrenadante removido. As suspensões utilizadas para o
painel de marcação de NMDAR1 foram em seguida adquiridas, sem fixação. As demais
células foram fixadas por 20 minutos a temperatura ambiente com o fixador
Cytoperm/Cytofix Transcriptional Factor Staining Buffer Set (eBioscience-Invitrogen, 00-
5523-00) e lavadas e ressuspendidas em FACS Buffer para então serem adquiridas. Para
a marcação intracelular, após a incubação de três horas as células passaram pelas mesmas
etapas descritas acima (marcação de viabilidade, coquetel de anticorpos de superfície e
fixação). As células foram permeabilizadas com Perm/Wash Buffer (eBioscience) e lavadas
em seguida a fixação. O sobrenadante foi removido e, em seguida, foi adicionado o seguinte
coquetel de anticorpos intracelulares anti-mouse: IL-10 (1:100 - PE-TexasRed), IL-17 (1:100
– BV711), IFN-γ (1:100 - BV421) e FoxP3 (1:100 - AlexaFluor 488) (Biolegend) diluídos em
Perm/Wash, e as células foram incubadas de 30 minutos a 1 hora a 4 ºC. A seguir, as
células foram lavadas novamente e ressuspendidas em FACS ou Perm/Wash Buffer. As
aquisições de citometria de fluxo foram realizadas no citômetro FortessaLSR ou Symphony
(BD Biosciences) utilizando o software DIVA (BD Biosciences). Todos os dados foram
analisados no software FlowJo versão X.07 (TreeStar Inc.).
4. RESULTADOS
Figura 4: Avaliação da expressão de NMDAR por linfócitos T αβ CD4+ no baço, timo, linfonodos
mesentéricos e cecais, lâmina própria e compartimento intraepitelial do intestino delgado e cólon.
Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram sacrificados com 8 semanas de idade e todos os tecidos citados
foram removidos. O percentual da subunidade NR1 do NMDAR em células T αβ CD4+ foi avaliado por
citometria de fluxo. Foram utilizados de 2 a 5 camundongos por grupo, provenientes de dois experimentos
independentes.
44
Figura 5: Avaliação da expressão de NMDAR por linfócitos T αβ CD8+ no baço, timo, linfonodos
mesentéricos e cecais, lâmina própria e compartimento intraepitelial do intestino delgado e cólon.
Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram sacrificados com 8 semanas de idade e todos os tecidos citados
foram removidos. O percentual da subunidade NR1 do NMDAR em células T αβ CD8+ foi avaliado por
citometria de fluxo. Foram utilizados de 2 a 5 camundongos por grupo, provenientes de dois experimentos
independentes. *Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
Figura 7: Expressão gênica das isoformas NR2a, NR2b, NR2c e NR2d do NMDAR no baço, linfonodos
mesentéricos e intestino delgado. Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram sacrificados com 8
semanas de idade e foram removidos o baço, os linfonodos mesentéricos e o intestino delgado. Os linfócitos
T αβ CD4+ e CD8+ do baço foram separados por coluna magnética, enquanto foram avaliadas as suspensões
celulares totais dos linfonodos mesentéricos e do compartimento intraepitelial do intestino delgado. As
suspensões celulares de cada tecido foram armazenadas em TRIzol para posterior extração do mRNA. Em
seguida, foi realizado a síntese do cDNA de cada respectiva amostra e o PCR em tempo real para a análise
dos genes Grin2a, Grin2b, Grin2c e Grin2d. Foram utilizados de 6 a 17 camundongos por grupo, provenientes
de três experimentos independentes. *Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
48
Figura 8: Expressão gênica de Il2, Il6, Il17, Foxp3 e Tbx21 no baço, linfonodos mesentéricos e intestino
delgado. Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram sacrificados com 8 semanas de idade e foram
removidos o baço, os linfonodos mesentéricos e o intestino delgado. Os linfócitos T αβ CD4+ do baço foram
separados por coluna magnética, enquanto foram avaliadas as suspensões celulares totais dos linfonodos
mesentéricos e do compartimento intraepitelial do intestino delgado. As suspensões celulares de cada tecido
foram armazenadas em TRIzol para posterior extração do mRNA. Em seguida, foi realizado a síntese do
cDNA de cada respectiva amostra e o PCR em tempo real para a análise dos genes Il2, Il6, Il17, Foxp3 e
Tbx21. Foram utilizados de 4 a 6 camundongos por grupo, provenientes de três experimentos independentes.
Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
íleo e seu conteúdo luminal foi quantificado por fluorescência, determinando assim o
trânsito intestinal. Na Figura 9A está ilustrado o desenho experimental. Foi possível notar
uma concentração de Dextran-FITC semelhante no soro dos animais de ambos os grupos,
sugerindo assim que não houve alterações na permeabilidade intestinal (Figura 9B), em
decorrência da deleção do NMDAR em linfócitos T αβ. O mesmo foi notado na concentração
de Dextran-FITC presente no conteúdo luminal dos segmentos duodeno, jejuno e íleo do
intestino delgado avaliados (Figura 9C), novamente sugerindo que não houve mudanças
no trânsito intestinal entre os grupos.
A.
Figura 13: Sinais e sintomas da colite aguda induzida por DSS em camundongos Cd4CrexGrin1f/f.
Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram tratados ou não com DSS a 2.5% por 7 dias e sacrificados no
dia 10 de tratamento para a coleta do intestino grosso. O percentual de perda de peso está representado em
A e os intestinos grossos de todos os grupos representados em B. As análises de peso do intestino grosso e
comprimento do cólon encontram-se em C e D, respectivamente. Em E a representação histológica do cólon
distal de ambos os grupos tratados com DSS e em F está representado o escore histológico da colite aguda
de acordo com as classificações relatadas no item 3.12 de materiais e métodos. Foram utilizados 10
camundongos por grupo, provenientes de dois experimentos independentes. *Considerado estatisticamente
diferente quando P≤0.05.
Figura 14: Distribuição e fenótipo de linfócitos T αβ e T γδ nos tecidos afetados pelo modelo de colite
aguda induzido por DSS em camundongos Cd4CrexGrin1f/f. Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram
sacrificados com 8 semanas de idade e foram tratados com DSS a 2.5% por 7 dias e sacrificados no dia 10
de tratamento. Os linfonodos cecais, ceco e cólon foram coletados. As frequências de linfócitos T αβ totais
(A, G, M e S), CD4+ (B, H, N e T), CD4+CD25+ (C, I, O e U), CD4+FoxP3+ (D, J, P e V), CD8+ (E, K, G e W)
e linfócitos T γδ (F, L, R e X) foram avaliadas por citometria de fluxo de acordo com ceLN, ceco-LP, cólon-LP
e cólon-IEL. Foram utilizados de 5 a 10 camundongos por grupo, provenientes de dois experimentos
independentes. *Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
Figura 15: Produção intracelular de Il-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T αβ CD4+ nos tecidos afetados
pelo modelo de colite aguda induzido por DSS em camundongos Cd4CrexGrin1f/f. Camundongos Grin1f/f
e Cd4CrexGrin1f/f foram sacrificados com 8 semanas de idade e foram tratados com DSS a 2.5% por 7 dias e
sacrificados no dia 10 de tratamento. Os linfonodos cecais, ceco e cólon foram coletados. As células totais
dos ceLN, ceco-LP, cólon-LP e cólon-IEL foram estimuladas com PMA, ionomicina e monensina por três horas
e, em seguida, avaliadas quanto a produção de IL-10 (A, D, G e J), IL-17 (B, E, H e K) e IFN-γ (C, F, I e L)
por citometria de fluxo. Foram utilizados de 5 a 10 camundongos por grupo, provenientes de dois
experimentos independentes. *Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
O modelo de colite aguda induzida por DSS é mediado principalmente por células
imunes inatas. Assim sendo, avaliamos o papel da deleção do NMDAR em linfócitos T αβ
em um modelo de colite crônica também induzido por DSS, onde células T desempenham
um papel importante na patogênese da inflamação intestinal. Para isso, camundongos
Cd4CrexGrin1f/f e seu grupo controle Grin1f/f foram tratados com DSS por 7 dias, de acordo
com o item 3.3 de materiais e métodos, seguidos por 14 dias de repouso e então novamente
tratados com DSS por mais dois ciclos. Os camundongos foram sacrificados no dia 52 de
tratamento. Como mostrado na Figura 16A, apesar de ambos os grupos de camundongos
tratados com DSS perderem peso em todos os ciclos, não foram observadas diferenças
entre os camundongos Cd4CrexGrin1f/f e o grupo controle Grin1f/f. Em conjunto, também não
foram observadas diferenças entre os grupos em relação ao peso do intestino grosso
(Figura 16C) e comprimento do cólon (Figura 16D), nem mesmo diferenças no escore
histológico (Figura 16E).
58
Figura 16: Sinais e sintomas da colite crônica induzida por DSS em camundongos Cd4CrexGrin1f/f.
Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram tratados ou não com DSS a 2.5% por 7 dias durante três ciclos
e sacrificados no dia 52 de tratamento para a coleta do intestino grosso. O percentual de perda de peso está
representado em A e os intestinos grossos de ambos os grupos representados em B. As análises de peso do
intestino grosso e comprimento do cólon encontram-se em C e D, respectivamente. Em E a representação
histológica do cólon distal de ambos os grupos tratados com DSS e em F está representado o escore
histológico da colite crônica de acordo com as classificações relatadas no item 3.12 de materiais e métodos.
Foram utilizados 9 camundongos por grupo, provenientes de apenas um experimento. *Considerado
estatisticamente diferente quando P≤0.05.
Figura 17: Distribuição e fenótipo de linfócitos T αβ e T γδ nos tecidos afetados pelo modelo de colite
crônica induzido por DSS em camundongos Cd4CrexGrin1f/f. Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f foram
tratados ou não com DSS a 2.5% por 7 dias durante três ciclos e sacrificados no dia 52 de tratamento. Os
linfonodos cecais, ceco e cólon foram coletados. As frequências de linfócitos T αβ totais (A, G, M e S), CD4+
(B, H, N e T), CD4+CD25+ (C, I, O e U), CD4+FoxP3+ (D, J, P e V), CD8+ (E, K, G e W) e linfócitos T γδ (F,
L, R e X) foram avaliadas por citometria de fluxo de acordo com ceLN, ceco-LP, cólon-LP e cólon-IEL. Foram
utilizados 9 camundongos por grupo, provenientes de apenas um experimento. *Considerado estatisticamente
diferente quando P≤0.05.
Também investigamos a produção intracelular das citocinas IL-10, IL-17 e IFN-γ por
linfócitos T CD4+ dos linfonodos cecais, lâmina própria do ceco e cólon, e compartimento
intraepitelial do cólon no modelo de colite crônica através da técnica de citometria de fluxo
(Figura 18). Por conta dos baixos números de linfócitos intraepiteliais do cólon, as análises
não foram satisfatórias e não serão mostradas a seguir. Nenhuma diferença foi observada
a não ser pelo aumento na produção de IFN-γ por linfócitos T CD4+ presentes na lâmina
própria do cólon de camundongos Cd4CrexGrin1f/f em comparação ao grupo controle Grin1f/f
(Figura 18I).
Figura 18: Produção intracelular de Il-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T αβ CD4+ nos tecidos afetados
pelo modelo de colite crônica induzido por DSS em camundongos Cd4CrexGrin1f/f. Camundongos Grin1f/f
e Cd4CrexGrin1f/f foram tratados ou não com DSS a 2.5% por 7 dias durante três ciclos e sacrificados no dia
52 de tratamento. Os linfonodos cecais, ceco e cólon foram coletados. As células totais dos ceLN, ceco-LP e
cólon-LP foram estimuladas com PMA, ionomicina e monensina por três horas e, em seguida, avaliadas
quanto a produção de IL-10 (A, D e G), IL-17 (B, E e H) e IFN-γ (C, F e I) por citometria de fluxo. Foram
utilizados 9 camundongos por grupo, provenientes de apenas um experimento. *Considerado estatisticamente
diferente quando P≤0.05.
60
Figura 19: Sinais e sintomas da colite crônica induzida por transferência de células T de camundongos
Cd4CrexGrin1f/f. Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f de 8 semanas de idade foram sacrificados e o baço e
linfonodos inguinais, axilares e cervicais foram coletados. Após cell sorting, células T CD4+ naïve de ambos
os grupos foram transferidas adotivamente a camundongos Rag1-/- receptores. Camundongos Rag1-/-
receptores foram sacrificados 12 semanas após a transferência e o intestino grosso foi coletado. O percentual
de perda de peso está representado em A e os intestinos grossos de ambos os grupos representados em B.
As análises de peso do intestino grosso e comprimento do cólon encontram-se em C e D, respectivamente.
Em E a representação histológica do cólon distal de ambos os grupos e em F está representado o escore
histológico da colite crônica de acordo com as classificações relatadas no item 3.12 de materiais e métodos.
Foram utilizados 5 camundongos por grupo, provenientes de apenas um experimento.
Figura 20: Distribuição e fenótipo de linfócitos T αβ CD4+ nos tecidos afetados pelo modelo de colite
crônica induzido por transferência de células T de camundongos Cd4CrexGrin1f/f. Camundongos Grin1f/f
e Cd4CrexGrin1f/f de 8 semanas de idade foram sacrificados e o baço e linfonodos inguinais, axilares e cervicais
foram coletados. Após cell sorting, células T CD4+ naïve de ambos os grupos foram transferidas adotivamente
a camundongos Rag1-/- receptores. Camundongos Rag1-/- receptores foram sacrificados 12 semanas após a
transferência e os linfonodos mesentéricos, linfonodos cecais e cólon foram coletados. As frequências de
linfócitos T αβ totais (A, F, K e P), CD4+ (B, G, L e Q), CD4+CD25+ (C, H, M e R), CD4+FoxP3+ (D, I, N e S)
e CD4+CD103+ (E, J e O) foram avaliadas por citometria de fluxo de acordo com mLN, ceLN, cólon-LP e
cólon-IEL. Foram utilizados 5 camundongos por grupo, provenientes de apenas um experimento.
*Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
Figura 21: Produção intracelular de Il-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T αβ CD4+ nos tecidos afetados
pelo modelo de colite crônica induzido por transferência de células T de camundongos Cd4CrexGrin1f/f.
Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f de 8 semanas de idade foram sacrificados e o baço e linfonodos
inguinais, axilares e cervicais foram coletados. Após cell sorting, células T CD4+ naïve de ambos os grupos
foram transferidas adotivamente a camundongos Rag1-/- receptores. Camundongos Rag1-/- receptores foram
sacrificados 12 semanas após a transferência e os linfonodos mesentéricos, linfonodos cecais e cólon foram
coletados. As células totais dos mLN, ceLN, cólon-LP e cólon-IEL foram estimuladas com PMA, ionomicina e
monensina por três horas e, em seguida, avaliadas quanto a produção de IL-10 (A, E, I e M), IL-17 (B, F, J e
N), IFN-γ (C, G, K e O) e IL-17/IFN-γ (D, H, L e P) por citometria de fluxo. Foram utilizados 5 camundongos
por grupo, provenientes de apenas um experimento. *Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
64
Figura 24: Produção intracelular de IL-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T αβ CD4+ no baço de
camundongos Cd4CrexGrin1f/f em modelo de tolerância oral. Camundongos Grin1f/f e Cd4CrexGrin1f/f de 8
semanas de idade ingeriram OVA ou não em sua água por 5 dias. Interrompemos a ingestão de OVA por dois
dias e, em seguida, os camundongos foram imunizados com OVA/CFA. 10 dias após a imunização, os
camundongos foram sacrificados e o baço foi coletado. As células totais do baço foram estimuladas com PMA,
ionomicina e monensina por três horas e, em seguida, avaliadas quanto a produção de IL-10 (A), IL-17 (B),
IFN-γ (C) e IL-17/IFN-γ (D) por citometria de fluxo. Foram utilizados de 5 a 10 camundongos por grupo,
provenientes de dois experimentos independentes. *Considerado estatisticamente diferente quando P≤0.05.
67
5. DISCUSSÃO
Com o decorrer dos anos, nosso grupo vem estudando o receptor ionotrópico de
glutamato NMDAR no SNC em um modelo experimental de Esclerose Múltipla, chamado
de encefalomielite autoimune experimental (EAE). Nosso grupo já demonstrou que o
bloqueio do NMDAR, através de seu antagonista específico MK801, foi capaz de reduzir o
escore clínico da EAE em camundongos imunizados com MOG35-55, o que se dá pela
redução da excitotoxicidade causada pela ativação deste receptor (manuscrito em
preparação).
Por outro lado, pouco se sabe sobre o papel do NMDAR em células T, mesmo sendo
estudado por mais de 20 anos e mesmo tendo sido mostrado sua expressão por estas
células há mais de 10 anos (Mashkina, Cizkova et al. 2010).
Baseado nestes fatos, nossos estudos primeiramente visavam compreender o papel
do NMDAR especificamente em linfócitos T αβ no contexto da fisiopatologia da EAE e
durante o desenvolvimento destes linfócitos T no timo, visto que os timócitos em
desenvolvimento expressam este receptor e que sua deleção possa influenciar seu
repertório.
As funções do receptor ionotrópico de glutamato NMDAR em células imunes,
principalmente em linfócitos T, vêm sendo descritas ao longo dos últimos anos. Este
receptor é responsável por aumentar os níveis de Ca2+ intracelular logo após a ativação de
linfócitos T (Miglio, Varsaldi et al. 2005), o que pode levar a ativação da PKC dependente
de Ca2+, aumento nos níveis de espécies reativas de oxigênio e indução de corpos
apoptóticos ou necróticos nestas células (Boldyrev, Carpenter et al. 2005).
Durante todos estes anos, o papel do glutamato e de seu receptor ionotrópico
NMDAR têm sido principalmente investigados no contexto da fisiopatologia de doenças
neurodegenerativas, como Alzheimer e Esclerose Múltipla (Lowinus, Bose et al. 2016;
McFarland and Martin 2007).
Contudo, recentemente foi relatado a função do glutamato como o principal
combustível responsável pela homeostase do tecido intestinal seja este proveniente da
dieta (Tomé 2018) ou, até mesmo, produzido pelos neurônios do sistema nervoso entérico,
podendo agir sobre as células imunes presentes na lâmina própria intestinal (Swaminathan,
Hill-Yardin et al. 2019).
Devido a isto e ao fato de que o intestino é o principal órgão linfoide que abriga
células T em todo o corpo, nossos estudos e foco tomaram esta direção.
Primeiramente, confirmamos a deleção específica do NMDAR em linfócitos T αβ
68
T CD4+ do baço possuem um perfil gênico Th1 aumentado, enquanto células dos
linfonodos mesentéricos e do compartimento intraepitelial do intestino delgado possuem um
perfil misto Th1/Th17 aumentado.
O ensaio utilizado para avaliação da permeabilidade intestinal foi desenhado de
acordo com Cifarelli et al., 2017, que demonstrou que o pico de Dextran-FITC 4-kDa no
soro de camundongos background C57BL/6 ocorre após 2 horas de sua administração.
Contudo, nossos resultados sugerem que os animais Cd4crexGrin1flox possuem
permeabilidade intestinal semelhante aos animais do grupo controle Grin1f/f. Nossas
análises para determinação do trânsito intestinal, conforme Woting et al., 2018, sugerem
que o trânsito intestinal em ambos os animais avaliados ocorre de maneira semelhante e,
após duas horas da administração do Dextran-FITC, este é identificado nas porções finais
ou distais do intestino delgado, seguindo para o cólon e intestino grosso. Podemos notar
que todos os segmentos do intestino delgado avaliados (duodeno, jejuno e íleo) apresentam
uma tendência no aumento da concentração de Dextran-FITC, sugerindo assim, uma
possível disfunção na barreira mucosa, apesar de a permeabilidade intestinal não estar
alterada devido ao resultado da concentração de Dextran-FITC no soro destes animais.
Adicionalmente, camundongos Cd4CrexGrin1f/f mostraram uma redução na
frequência de linfócitos T CD4+ e CD8+ no órgão primário timo, o que sugere uma redução
na maturação destas células ou, até mesmo, uma migração maior destas para a periferia.
Notamos ainda um aumento de linfócitos T γδ neste tecido em comparação ao grupo
controle. Já nos órgãos linfoides secundários, notamos um aumento na frequência de
linfócitos T γδ e uma redução em linfócitos T CD8+ presentes no baço de animais que não
possum o NMDAR em linfócitos T αβ. Nos linfonodos mesentéricos houve uma redução em
linfócitos T CD4+ e um aumento em linfócitos T CD8+. Por outro lado, nos linfonodos cecais,
que drenam o ceco e cólon, notamos uma redução na frequência de linfócitos T CD4+. Não
foram observadas alterações linfócitos T αβ CD4+ e CD8+, assim como T γδ presentes na
lâmina própria ou entre o epitélio dos intestinos delgado e cólon. Estes dados sugerem que
a deleção de NMDAR em linfócitos T αβ causam diferenças na distribuição de,
principalmente, linfócitos T CD4+ e CD8+ em órgãos linfoides primários e secundários,
porém não nos intestinos.
Por conta da alta expressão do NMDAR em linfócitos T CD4+ e CD8+ dos intestinos,
nós investigamos se sua deleção poderia afetar a inflamação intestinal em modelos
experimentais de colite aguda e crônica. Embora tenhamos encontrado poucas alterações
no modelo de colite aguda e crônica mediadas por DSS, nós notamos que no modelo de
colite induzida pela transferência de células T CD4+ naïve os animais Rag1-/- que
70
receberam células do grupo controle Grin1f/f desenvolveram uma colite pior que o grupo
receptor de células Cd4CrexGrin1f/f. Ainda assim, camundongos receptores de células
Cd4CrexGrin1f/f mostraram redução na produção de IL-17 e IFN-γ por células T CD4+ dos
linfonodos mesentéricos e cecais em comparação ao grupo controle, o que sugere que o
NMDAR expresso por células T CD4+ possui um papel importante neste modelo,
considerando ainda que não foram observadas alterações na diferenciação in vitro de
linfócitos Th1 e Th17 provenientes de camundongos Cd4CrexGrin1f/f, dados não mostrados.
Estes linfócitos T CD4+ duplo positivos para Il-17 e IFN-γ já foram relatos com patogênicos
neste modelo de colite (Harbour et al., 2015). Além disso, notamos uma redução nas células
T CD4+ de memória presentes nos linfonodos mesentéricos e cecais e também na lâmina
própria dos camundongos receptores de célula T CD4+ que não expressam NMDAR. Estas
células são consideradas importantes na regulação da inflamação intestinal causada neste
modelo específico de colite (Annacker et al., 2005; Bottois et al., 2020).
Devido ao fato de que os modelos de colite permitem apenas a avaliação da
inflamação do cólon, nós, por fim, investigamos o modelo de tolerância oral que permite a
avalição da função do intestino delgado, local onde os antígenos alimentares são
absorvidos. Não encontramos diferenças entre os grupos ao realizarmos a tolerância oral
a OVA. Esses resultados ressaltam a regulação da mucosa intestinal em prevenir
perturbações causadas pela falta do receptor ionotrópico NMDAR, o que sugere ainda o
envolvimento de mecanismos compensatórios desenvolvidos por células intestinais na
ausência de NMDAR em células T αβ.
Em conjunto, nossos resultados demonstram que a deleção do receptor ionotrópico
de glutamato NMDAR em linfócitos T αβ impacta a compartimentalização de linfócitos T
CD4+ e CD8+ em órgão linfoides primários e órgão linfoides secundários, como os
linfonodos que drenam os intestinos delgado e cólon (mesentéricos e cecais). Nossos
resultados ainda apontam para um papel importante do NMDAR expressos por células T
αβ no controle da inflamação intestinal no modelo de colite induzido pela transferência
adotiva de células T. Em suma, nossos dados auxiliaram na compreensão do papel do
receptor ionotrópico NMDAR em células T αβ no controle da homeostase e inflamação
intestinal.
71
6. CONCLUSÕES
Tabela 4: Produção intracelular de IL-10, IL-17 e IFN-γ por linfócitos T CD4+ de camundongos
Cd4CrexGrin1f/f submetidos a três modelos distintos de colite. Resumo dos achados encontrados nos
linfonodos mesentéricos, linfonodos cecais, lâmina própria do ceco e cólon e compartimento intraepitelial do
cólon de camundongos Cd4CrexGrin1f/f em comparação ao grupo controle Grin1f/f. Seta para cima, aumento
da frequência; seta para baixo, diminuição da frequência; s/a, sem alteração na frequência.
74
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Fyonn Dhang, Danielle S. LeServe, Brenda N. Nakagaki, Juliana R. Lopes, Bruna K.
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Amorim M.R.; Carregari V. C.; Brandão-Teles C.; Da Silva Patrick; De Oliveira M. G.;
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● Moreira, T. G., Cox, L. M., Murphy, L., Lobo, E. L. C., Silva, P., Lanser, T., Gauthier, C.
D., Mangani, D., Wasen, C., De Oliveira, M. G., Ekwudo, M. N., Liu, S., Menezes, G.,
Ferreira, E., Gabriely, G., Anderson, A. C., Faria, A. M. C., Rezende, R. M., Weiner, H. L. .
Dietary protein antigens modulate intestinal dendritic cells to control mucosal homeostasis.
Submetido.
● Zanluqui, N. G.; Polonio, C. M.; De Oliveira, M. G.; De Oliveira, L. G.; De Faria, L. C.;
Peron, J. P. S.. Microglia and Border-Associated Macrophages in the Central Nervous
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Anexo 2
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Anexo 3
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Anexo 4
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Anexo 5
91
Anexo 6
92
Anexo 7
93
Anexo 8
94
Anexo 9
95
Anexo 10
96
Anexo 11
97
Anexo 12
98
Anexo 13