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O exercício da Medicina, até um passado historicamente
recente, era cercado de uma aura de divindade
Mesmo assim, já no Código de Hammurabi da Babilônia do séc. XVIII a.C. havia regras que previam penas aos médicos em caso de erros A mão do médico que palpa, o dedo que percute e o ouvido que ausculta o paciente são: ▪ substituídos por sofisticados instrumentos ▪ Interferem no binômio médico-paciente
A relação entre as partes torna-se mais
frouxa já que o diagnóstico passa a ser muitas vezes uma atribuição multidisciplinar Médico da família Nova visão da relação médico paciente Nova visão do paciente em relação ao médico Evolução das legislações e do acesso à Justiça Paciente como cliente (Código de Defesa do Consumidor) Médico- técnico altamente especializado, frio, impessoal (relação) Muitas Faculdades de Medicina Superpopulação de advogados A cirurgia ensina: ▪ As indicações do tratamento cirúrgico, ▪ As bases anatômicas e fisiopatológicas e ▪ A sistematização dos vários procedimentos, ▪ Os efeitos da agressão cirúrgica e os resultados e consequências que essa terapêutica produz: ▪ De posse destes conhecimentos, o médico tem a autorização “aplicar o tratamento em benefício dos doentes de acordo com sua capacidade e consciência, evitando qualquer malefício” Não basta o profissional estar tecnicamente habilitado a executar o ato cirúrgico, mas é preciso: ▪ Ponderar os danos e benefícios que a intervenção pode causar; ▪ Saiba escolher a melhor conduta para o doente; A cirurgia, sendo a modalidade mais agressiva da terapêutica, só pode ser exercida por profissionais cientificamente preparados, manualmente adestrados e moralmente idôneos Uma intervenção mal indicada ou mal conduzida pode causar maior dano do que a doença que a motivou. Ao cirurgião mais experiente e amadurecido cumpre relevar com cordura a insegurança dos mais jovens, orientando-os e ensinado- os generosamente na arte de curar.
No Brasil as delimitações do trabalho médico
estão explicitadas no Código de Ética Médico O médico cirurgião tem responsabilidade TOTAL por tudo que se passa dentro da sala cirúrgica, pelo paciente, pelo ato operatório e por seu resultado Deve ter pleno conhecimento da anatomia da região que irá abordar, da patologia e da técnica operatória Deve ter pleno conhecimento da situação do paciente que irá operar; Nunca deve iniciar a operação antes de certificar-se que o instrumental necessário esteja à sua disposição Deve exigir as melhores condições possíveis para realizar a operação Deve dirigir-se aos seus auxiliares com voz clara e ordens precisas Deve exigir ordem e silêncio durante a operação Nem todo mal resultado na assistência médica é sinônimo de erro profissional É necessário que se comece a desfazer o preconceito que existe em torno de alguns resultados atípicos e inesperados no exercício profissional médico Não é justo concordar com a alegação de que todo resultado infeliz e indesejado seja obrigatoriamente de uma culpa médica. ESFERA ÉTICA
ESFERA CIVIL
ESFERA CRIMINAL
O processo civil busca a reparação do dano material, o processo penal
a proteção da sociedade, já o processo ético junto ao Conselho Regional de Medicina visa a disciplina da conduta profissional médica. A infringência do Artigo 29 ocorreu em quase 50% dos casos – "Praticar atos profissionais danosos ao paciente, que possam ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência". Dos outros Artigos do Código de Ética Médica, citamos: Capítulo I Princípios Fundamentais ▪ Artigo 2º - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.
▪ Artigo 5º - O médico deve aprimorar continuamente seus conhecimentos e
usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.
▪ Artigo 4º - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da
Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão. Capítulo III Responsabilidade Profissional ▪ Artigo 31– Deixar de assumir responsabilidade sobre procedimento médico que indicou ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham assistido o paciente. ▪ Artigo 32 – Isentar-se de responsabilidade de qualquer ato profissional que tenha praticado ou indicado, ainda que este tenha sido solicitado ou consentido pelo paciente ou seu responsável legal. ▪ Artigo 34 – Atribuir seus insucessos a terceiros e a circunstâncias ocasionais, exceto nos casos em que isso possa ser devidamente comprovado. ▪ Artigo 44 – Deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir a legislação vigente. Capítulo V Relação com Pacientes e Familiares ▪ Artigo 57 – Deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnósticos e tratamento a seu alcance em favor do paciente. ▪ Artigo 69 – Deixar de elaborar prontuário médico para cada paciente. Assim, o Conselho Regional de Medicina (CRM) toma a prerrogativa legal de: ▪ receber denúncias, ▪ apurar os fatos, julgar os profissionais e ▪ ponderar qual sanção deve ser aplicada a cada tipo de infração deste código. O médico denunciado está sujeito à apuração da denúncia, que tem duas fases: ▪ a sindicância (expediente) é a fase preliminar para averiguação dos fatos denunciados, coleta de provas, manifestação escrita ou audiência com os envolvidos. Se forem constatados indícios de infração ética, passa-se à segunda fase, chamada de processo ético-disciplinar (PD). A notificação do acusado e a fase da instrução do processo, quando o denunciante e o denunciado têm iguais oportunidades de apresentar provas de acusação e defesa, inclusive com a opção da presença de advogados. O próximo passo é o julgamento, realizado pelas Câmaras de Julgamento do CRM. São formados por conselheiros, que decidirão pela inocência ou culpa do médico. As sanções disciplinares do médico estão previstas no artigo 22 da Lei Federal 3268/57. Começam com : ▪ Advertência Confidencial em Aviso Reservado, ▪ Censura Confidencial em Aviso Reservado, ▪ Censura Pública em Publicação Oficial, ▪ Suspensão do Exercício Profissional por até 30 dias ▪ Cassação do Exercício Profissional, que necessita ser referendado pelo Conselho Federal. Além da denúncia ao CRM, o paciente ou familiar insatisfeito tem o direito de acionar o profissional na Justiça, nas esferas Criminal e Cível. Necessidade de se compensar um eventual erro cometido, no Direito moderno essa reparação tem natureza pecuniária;
Havendo dano, sem as excludentes de
culpabilidade, o direito à indenização é certo segundo o caput do artigo 159 do CC que diz: ▪ "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano" Nova visão sob a responsabilidade civil Massificação das relações sociais
Médico Prestador de serviço
Paciente Usuário (cliente) MEIO- ▪ Obrigação do médico não é curar o doente, mas utilizar todo o seu zelo e conhecimentos profissionais em cada caso. ▪ Não há como garantir o perfeito e matemático resultado do labor ▪ Em resumo: o contratado se obriga a cumprir com os DEVERES DE CONDUTA DO MEDICO, e não com o êxito. RESULTADO FINAL- Há o compromisso do contratado a um resultado específico, que é o cerne da própria obrigação O contratado compromete-se a atingir objetivo determinado, de forma que, quando o fim almejado não é alcançado, tem-se inexecução da obrigação. Cirurgia Plástica, Anestesia, Hemoterapia "Os médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas são obrigados a satisfazer o dano, sempre que da imprudência, negligência ou imperícia, em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir, ou ferimento".
A culpa em sentido estrito tem três vertentes: a
imprudência, a negligência e a imperícia. Imperícia: não utilizou todos os meios disponíveis e recomendado pela boa prática médica Negligência: atuou com descaso, não buscando o melhor resultado Imprudência: não valorizou os riscos que poderiam advir da conduta adotada ▪ Negligência: FAZ MENOS ▪ Imprudência: FAZ MAIS ▪ Imperícia: FAZ O QUE NÃO SABE Falta de cuidados e precaução. A negligência é um ato omissivo, quando o médico deixa de observar regra profissional já bem estabelecida e reconhecida pelos colegas da especialidade. Operar lado contrário de uma hérnia inguinal Alta Médica prematura - O médico que dá alta ao paciente que ainda necessita de tratamento hospitalar também pode ser considerado negligente quando em razão de seu ato vem o paciente sofrer danos a saúde, sofrer seqüelas ou falecer. Amputar uma perna quando a outra é que estava doente. É falta de atenção, cuidado, é ilícito penal e ilícito civil, cabe ação de indenização, independente da ação penal em razão do lesão corporal Um clínico que ao tratar de um enfermo portador de apendicite, não o transfere de imediato, para um cirurgião, preferindo fazer um “tratamento conservador” Um médico “confiando” no colega, deixa o plantão na certeza da pontualidade deste, o que não vem a se verificar Prática ilegal por estudantes de Medicina: ▪ Presume-se que o estudante ao realizar suas funções num hospital, esteja sempre sob orientação de um médico- em qualquer ato de negligência, imprudência ou imperícia decorrente do estagiário, configura-se ao superior hierárquico (que será o responsável) Letra do médico: receitas indecifráveis Esquecimento de um corpo estranho em cirurgia Negligência dos centros complementares de diagnóstico Negligência em transfusões de sangue Imprevisão do agente em relação às conseqüências de seu ato. Atitudes não justificadas, precipitadas, sem cautela. Irreflexão: sabe do risco, ignora a ciência e age assim mesmo; A imprudência se caracteriza pela prática de atos de risco não justificados, afoitos, sem a cautela necessária. Exemplos ▪ É imprudente o médico que avalia, diagnostica e receita por telefone ▪ Um cirurgião que, podendo realizar uma operação por método conhecido, abandona esta técnica e, como consequencia, acarreta para o paciente um resultado danoso Técnicas cirúrgicas não consagradas Praticar cirurgia de risco sem os equipamentos necessários a um atendimento de emergência. Fazer duas anestesias simultâneas. Alguns médicos anestesistas correm o risco e atendem duas ou mais cirurgias ao mesmo tempo. A simples prática deste expediente já configura ilícito penal. O ilícito civil somente será possível havendo qualquer tipo de dano ao paciente. Responsabilidade solidária - cirurgião tambem é responsável!! Realização de uma operação cesariana sem a equipe cirúrgica mínima necessária. Um cirurgião que abre mão da presença de um cirurgião auxiliar em cirurgia eletiva poderá incorrer em ilícito ético caso não consiga terminar o procedimento, ou este apresente alguma complicação por falta do auxiliar, levando a um dano. Cabe-nos salientar que o Conselho Federal de Medicina reconhece, desde 1987 através do Parecer Consulta PC/CFM 02/87, que uma cirurgia programada ou não programada é um ato caracterizado como procedimento médico, sendo o cirurgião titular considerado como responsável direto e o cirurgião primeiro auxiliar como imediato, do que inferimos ser este necessariamente um profissional médico habilitado a continuar e/ou finalizar o ato cirúrgico, caso haja impedimento do cirurgião titular, sem conseqüências danosas ao paciente. É admissível a presença de outros profissionais não médicos na equipe cirúrgica, mas, na função de instrumentador e quando tecnicamente habilitado para exercer tal tarefa. Ressalvam-se os casos de emergência em que não haja possibilidade de convocação de outros profissionais médicos para execução do ato cirúrgico Falta ou deficiência de conhecimentos técnicos. Falta de observação das normas. Despreparo É imperito ainda o médico cirurgião que, equivocadamente, corta músculos, veias ou nervos que não podem ser suturados, gerando seqüelas para o paciente. É comum pessoas que se submetem a cirurgias plásticas e têm músculos seccionados e perdem os movimentos da expressão. Ou que submetendo-se a uma cirurgia de varizes tem seccionado o nervo fibular comum, com seqüelas para o paciente. A responsabilidade penal se origina pela ação ou omissão Diz o artigo 18 do CP quais são, genericamente, os tipos de crimes possíveis: ▪ I- doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; ▪ II- culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia". , a vontade do agente não era de causar dano, mas isso veio a ocorrer. No exercício da Medicina, o médico pode cometer crimes dolosos. ▪ A prática do aborto ainda é um crime na nossa legislação, excetuando-se para salvar a vida da gestante ou em caso de estupro). O auxílio ao suicídio (art. 122), Omissão de socorro à pessoa ferida (art. 135), a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo direto e iminente (art. 132), O constrangimento a tratamento ou cirurgia contra a vontade do paciente (art. 146), A revelação de segredo profissional sem justa causa (art. 154), A omissão de notificação de doença compulsória (art. 269), O charlatanismo (art.284). ▪ È a vontade consciente e livre de anunciar e inculcar meios de tratamento, curas infalíveis, de maneira secreta. Atestado falso (art 302) Ato médico: ▪ Específico: conjunto de práticas e de ensinamentos exercido ou supervisionado de forma exclusiva pelos que estão legalmente habilitados para o exercício da profissão médica e aceito e recomendado pelas instituições responsáveis pela fiscalização da medicina ▪ Está delimitado por um núcleo conceitual que inclui a propedêutica e a terapêutica médica: atestar óbito, praticar uma anestesia ou proceder uma laparotomia Os não formados em medicina não podem nem devem exercer a profissão médica; Podem ou devem exercer a medicina em algumas situações consideradas inadiáveis ou imprescindíveis, Assim um acadêmico de Medicina que, diante de um caso urgente e grave, assistir o paciente, impondo uma conduta ou terapêutica exigida, não estaria exercendo ilegalmente a Medicina Depoimento médico Análise de Prontuário Estudo da Petição do autor da demanda
●Caixeta FCTA in: www.jusnavigandi.com.br
●França GV in: Direito Médico, Fundo Editorial Procienx, VI
edição- 1995 Importante o preenchimento correto Conter dados do Consentimento Informado Prontuário Eletrônico (CFM-resolução 1639/2002) TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Consentimento é permissão que o paciente dá ao cirurgião, de fazer exames diagnósticos ou intervenções Para valer, deve ser informado Linguagem acessível Informar: objetivos, justificativas, desconfortos, riscos, alternativas Para valer deve ser voluntário Duas vias Não substitui a relação médico paciente Cuidado Atenção Critério Respeito Atualização •Deveres do médico: •Deveres de Informação •Atualização profissional •Abstenção de abusos •Deveres de vigilância, de cuidados e de assistência Concluímos ressaltando que a responsabilidade final do ato cirúrgico é do cirurgião titular, cabendo a ele a escolha e designação de seus auxiliares, conforme a expectativa da cirurgia proposta. Porém, a não observância de normas básicas da boa prática médica o expõe a sanções ético-disciplinares em caso de dano ao paciente. Fim Bom dia