Trabalho Antropologiacacy

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Índice

1.Objectivos..............................................................,..........................................................1

2.Introdução...............................................................,.........................................................2

A cultura enquanto suporte da identidade,de tradição e de memória............................3

2.1.Noção da cultura..........................................................................................................3

2.2 Cultura enquanto suporte da identidade....................................................................4

3. Características da cultura.............................................................................................6

3.1 Funções da cultura......................................................................................................

Ii.Valores

1. Noção de Valo..................................................................................................................

1.1. Características de Valores..........................................................................................

III.– IDEOLOGIA

1.Noção de Ideologia..........................................................................................................

2. Componentes da Ideologia..........................................................................................

3. Mecanismos da Ideologia..........................................................................................

IV - IDEOLOGIA, CULTURA, IDENTIDADE, TRADIÇÃO E MEMÓRIA........................

Conclusão................................................................................................................

Bibliografia...................................................................................................................

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1. Objetivos

1.1. Objetivo gerai

Compreender o conteudo a cultura enquanto a suporte de identidade, de tradicao e de memoria,

1.1.1. Objetivos específicos

 Indicar os factores e processos de construção do império colonial e a pluralidade cultural;

 Caracteríszar a cultura

 Mencionar as funções da cultura

1.1.2. Metodologia

 Para a realização deste trabalho, o grupo usou a seguinte técnica: consultas bibliográficas
que consiste em estudo sistemático desenvolvido com base em material publicado em
livros e redes electrónicas, isto é material acessível ao público em geral.

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.2. INRODUҪᾸO

O presente trabalho subordinado ao tema a cultura enquanto a suporte de identidade, de tradicao


e de memoria, enquandra˗se no quadro tematico na disciplina de Antropologia Cultural. O estudo
desse aspecto torna˗se crucial para compreeder em que sentido sociológico, podemos dizer que a
cultura é tudo aquilo que os homens criaram ao longo do tempo e em todos os domínios, numa
dada sociedade.

A cultura constitui uma referência básica para o entendimento do social e do político, definindo a
matriz e o suporte da identidade, da tradição e da memória de qualquer povo e de qualquer
sociedade. Na verdade, a realidade social está estruturada em dispositivos que constituem o
campo em cujo seio se manifestam as interacções e os fenômenos, quer individuais, quer
colectivos; esta estmturação manifesta-se em diversos níveis: no nível gmpal, no nível
institucional e no nível ambiental. Estes diversos níveis interpenetram-se e coexistem. Na sua
base, situa-se a cultura que, não sendo uma realidade em si mesma, configura a realidade,
tomando-a social, através de um conjunto complexo de factores, tais como as diversas
aprendizagens respeitantes à maneira de ser social dos indivíduos e dos grupos, numa
determinada sociedade .

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A CULTURA ENQUANTO SUPORTE DE IDENTIDADE, DE TRADIÇÃO E DE
IVIEMÓRIA

2.1 CULTURA

2.1.Noção de cultura

Cultura é um conjunto de elementos de ordem material e mental, algo que, através da sociedade,
se recebe do passado, sofrendo naturais alterações, quer por abandono de certos elementos, quer
por absorção de elementos novos.

A cultura é, todo um conjunto de saberes e de práticas compartilhadas, representando um


modelo de significações para um determinado sistema, que se transmitem por tradição, em
sintonia de identidade, operada pela memória colectiva.

A cultura recebe-se do passado e transmite-se para o futuro. Se um elemento cultural deixar de


ser transmitido, deixando de ter identidade e de ser memorizado, acabará por deixar de fazer
parte da cultura da sociedade considerada.

A noção de cultura é, presentemente, muito falada em termos de discurso social. Foram as


investigações antropológicas que alertaram para o facto de as variações culturais influírem
decisivamente no comportamento social.

Existe uma certa dificuldade em definir, sinteticamente, a noção de cultura, facto que se deve
provavelmente à evolução do próprio termo. Inicialmente, designava o "cultivo da terra". Por
uma certa analogia utilizou-se para designar "cultura da alma", do espírito; daí dizer-se de
alguém, que desenvolveu as suas capacidades intelectuais, que é culto. No Séc. XVIII, vários
historiadores alemães, que se debruçaram sobre a evolução e o progresso da Humanidade,
utilizaram este termo também para designar a idéia de movimento progressivo, de

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aperfeiçoamento, não sô de um indivíduo, mas também das colectividades, e da própria
Humanidade. A palavra ganhou uma conotação de colectivo.

A definição científica de cultura é, no entanto, devida à Antropologia e, sobretudo, à Etnologia.


Deve-se a Tylor (1964) uma das primeiras definições de cultura que ele utiliza como sinônimo
de civilização:

"A cultura ou a civilização, entendida no sentido etnográfico amplo, é esse conjunto complexo
que engloba os conhecimentos, as crenças, a arte, o direito, a moral, os costumes e todas as
outras aptidões e hábitos que o Homem adquire enquanto membro de uma sociedade".

2.2A Cultura, Enquanto Suporte de Identidade

Para Linton (1945), a cultura tinha a ver com a maneira de se viver numa determinada sociedade.
Na perspectiva de Linton, a cultura é o conjunto de comportamentos apreendidos,
compartilhados e transmitidos aos membros de uma sociedade; é, pois, uma herança social,
segundo Linton.

Outro antropólogo americano, Malinowski (1947), baseou a sua definição de cultura na função
dos factos, enquanto elementos culturais. A sua teoria é a de que a cultura é um sistema capaz de
responder às necessidades humanas. Estas são de três tipos: básicas (alimentação), derivadas
(comunicação, educação) e integradoras (religião).

O termo cultura, em Sociologia, baseia-se na idéia de cultura da Antropologia embora tenha


demorado bastante mais tempo a ser adoptado visto que alguns dos seus precursores não o
utilizaram; por exemplo, Durkheim usou, no mesmo sentido, a idéia de actividade social.
Também aqui, ao transitar do alemão para o inglês, a noção de cultura sofreu transformação,
surgindo mesmo uma certa confrontação entre a noção de cultura e a de civilização. Encontram-
se, em geral, duas definições distintas e praticamente opostas. A mais comum refere-se aos
aspectos mais espirituais da vida colectiva, enquanto fruto da reflexão e do pensamento "puro",
enquanto elaboração da sensibilidade e do entendimento. A noção de civilização aplica-se, então,
aos meios que servem os fins utilitários e materiais da vida humana colectiva; a civilização tem
um caracter racional que exige o progresso das condições físicas e materiais do trabalho, da

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produção, da tecnologia, etc. No entanto, em regra geral, quer os antropólogos, quer os
sociólogos não se preocupam em seguir esta distinção.

A cultura permite, pois, compreender os modos colectivos de actuar como respostas aceites
segundo os valores comuns a um grupo.

Ao nível da psicanálise, Freud apresentou uma noção de cultura que se assemelha à idéia de
Superego: a cultura humana compreende, por um lado, todo o saber e todo o poder adquiridos
pelos Homens para dominar as forças da Natureza e, por outro, todas as organizações necessárias
para fixar as relações entre eles.

O Homem é um ser de desejos, utilizando o objecto cultural (a cultura) como substituição do


objecto perdido (desejado); deste modo, imagina-se senhor da realidade. A longa infância do
homem determina o seu comportamento, a sua dependência do outro (a mãe) para satisfação das
suas necessidades; essa satisfação encontra também resposta na cultura. Há proibições a certas
pulsões que são necessárias ao desenvolvimento humano. A cultura é, pois, a interiorização das
proibições necessárias à sobrevivência de uma sociedade.

Integrando estas diversas concepções de cultura, podemos propor a definição, de Guy Rocher,
oriunda do pensamento de Tylor: "a cultura é um conjunto articulado de maneiras de pensar, de
sentir e de agir mais ou menos formalizadas que, sendo apreendidas e partilhadas por uma
pluralidade de pessoas, servem, de uma maneira simultaneamente objectiva e simbólica, para
organizar essas pessoas numa colectividade particular e distinta" (Rocher, 1989).

3.Características da cultura

Uma das características essenciais da cultura é o facto de ela ser um fenômeno social, isto é, de
as maneiras de viver (sentir, agir e pensar) serem produzidas e adquiridas socialmente. Os
elementos culturais são reconhecidos como constituintes da maneira de viver de um conjunto
social, embora sem se excluírem variações individuais. Os elementos culturais têm sempre um
contexto social. Daí que as culturas englobem as formas de vida social que possam ser isoladas

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de outras de igual natureza; quer isto dizer que a cultura é pertença de um dado grupo. Situa-se
aqui o conceito de "área cultural"; esta é a área geográfica onde se encontram os mesmos traços
culturais; é identificada como um círculo em cujo centro se encontram os gmpos cujos traços
culturais são os mais característicos dessa área.

A noção de cultura não se aplica sô a uma sociedade global; existe também a cultura de uma
classe social, de uma região; daí a utilização do termo "subcultura" para designar uma entidade
parcial dentro de uma sociedade global ou a relação de uma cultura com outra mais vasta em que
a primeira se insere.

Uma outra característica da cultura consiste em ela agir como modelo, uma vez que as maneiras
de pensar, de sentir e de agir estão mais ou menos estandardizadas, sendo esta formalização dos
comportamentos mais- ou menos flexível. O modelo é referência imposta ao indivíduo, mas
facilita-lhe a organização da sua própria forma de vida, ou seja, na sociedade, não existem
comportamentos isolados; as normas, as atitudes, as acções e os juízos são particularmente iguais
aos dos outros. Os modelos culturais podem ser característicos de uma sociedade global ou de
uma categoria dentro dela e constimem, de qualquer modo, um conjunto explícito de condutas.
Podem ser mais ou menos formalizados; são muito formalizados num código, numa cerimônia,
num protocolo; são-no menos, e em vários graus, nas artes, em certos sectores das regras de boa
educação, etc. Cada cultura admite variações individuais e quanto menos formalizadas forem as
maneiras de agir, de pensar e de sentir, maior é a parte de interpretação e de adaptação pessoal
permitida e exigida.

Podemos aqui falar de uma cultura ideal (a cultura ideal é aquela que engloba as maneiras de
viver propostas pela sociedade) e de uma cultura modal, compreendendo diversas formas em que
as maneiras de viver, apresentadas como ideais, são realmente realizadas na maioria dos casos.
Aponta-se também como característica essencial da cultura o processo, a maneira como a cultura
é apreendida ou transmitida. A aquisição da cultura resulta de diversos processos de
aprendizagem. Estes processos são definidos pelos termos Socialização e Enculturação.

Por socialização entende-se a integração, mais ou menos conseguida, de um indivíduo num


gmpo. A enculturação vai um pouco mais longe, pois implica não só a adaptação, mas também a
interiorização dos modelos culturais aceites como normas pelo grupo. Embora separados para

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facilidade de análise, estes dois mecanismos fazem parte do mesmo processo pelo qual, ao longo
da vida, a pessoa humana apreende e interioriza os elementos socioculturais do seu meio, os
integra na estmtura da sua personalidade sob a influência de experiências de agentes especiais
significativos e se adapta, assim, ao ambiente social em que vai viver.

Além destes processos (que são específicos), há um outro, o da Aculturação; este termo
aproxima-se da idéia de "empréstimo cultural" referida por Herskowitz.

Segundo este autor, a aculturação compreende os fenômenos resultantes do contacto directo e


contínuo entre dois gmpos de indivíduos de culturas diferentes com trocas importantes nos
modelos culturais típicos de um ou outro gmpo.

3.1.Funções da Cultura

A cultura desempenha várias funções psicossociais.

Socialmente, a cultura tem como função reunir uma variedade de pessoas numa colectividade
específica, favorecendo a adaptação do homem ao seu meio ambiente e ao conjunto das
realidades com que tem de viver.

1. Através da identificação, isto é, da conquista da identidade, da maneira de pensar, de agir e


de sentir que lhes são comuns, a cultura dá às pessoas que integram uma determinada
colectividade uma identidade colectiva, numa linha de tradição e de memória. Para tal, a cultura
apoia-se em factores objectivos mas que, através dela e nela, ganham uma significação mais
cultural. A tradição e a memória são alargadas. Por exemplo, os laços de sangue são
transformados através da cultura em laços de parentesco; a coabitação geográfica em pátria,
nação e propriedade; a divisão do trabalho em hierarquia social, prestígio social e classe social.

2. A cultura propõe também modelos, enquanto processos de continuidade da tradição, de


modo a constmírem-se novos modos de vida. Contém e reinterpreta valores de modo mais ou
menos sistemático, oferece aos indivíduos escolhas e opções entre valores dominantes e outros.
Esta escolha não é, porém, ilimitada e as opções também são restritas, embora umas sejam mais
privilegiadas do que outras.

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A cultura é um universo mental, moral e simbólico comum a uma pluralidade de pessoas em
função do qual podem comunicar entre si, reconhecer laços, interesses comuns, divergências e
opiniões, sentindo- -se cada um individualmente e todos colectivamente como membros de uma
entidade que lhes é superior, chamada gmpo, colectividade ou sociedade.

3. A função psicológica da cultura tem a ver com a sua função de formar a personalidade de
cada indivíduo. É como que um molde que lhes propõe modos de pensar, conhecimentos, idéias,
maneiras de se exprimir, formas de gostar, meios para satisfazer necessidades fisiológicas, etc.
Kardiner integra esta função no conceito-chave de personalidade de base. Assim, uma criança
que nasce e cresce numa cultura particular vai gostar de determinados pratos, comer de
determinada forma, ligar sentimentos a certas cores, casar de determinada maneira. Se a mesma
criança fosse colocada noutra cultura, apôs ter nascido, iria provavelmente gostar de outra
comida, provavelmente usar outros talheres e casar de outro modo.

O molde não é, no entanto, rígido; tem flexibilidade, de modo a permitir adaptações pessoais.
Essa flexibilidade do molde cultiiral tem, no entanto, limites; ao ultrapassá-los, o indivíduo passa
a ser marginal nessa sociedade, podendo, contudo, passar a outra..

II – VALORES

1.Noção de Valor

Uma cultura é constituída por um conjunto de valores que actuam numa dada sociedade; estes
manifestam-se, através dos papéis que dão origem a sanções.

Em todas as culturas existem certas normas determinantes de como viver a vida. Estas normas
não sô se expressam em mandamentos e proibições, em sistemas religiosos e filosóficos, mas
também no modo como se processa a vida diária: no convívio com os outros seres humanos e no
tratamento dos problemas que surgem diariamente.

O conceito de valor social foi criado pelos antropólogos e pelos sociólogos para descrever uma
sociedade em ordem a captar as suas principais características.

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Segundo Kluckhohn (1951), o valor "é uma concepção explícita ou implícita do desejável,
específica ou característica de um grupo, orientando as modalidades e o sentido da sua acção".
Na actualidade, os psicólogos sociais consideram os valores como sendo o resultado de
interacções complexas entre o indivíduo e o meio que o rodeia e supõem a análise rigorosa dos
mecanismos intemos de uma sociedade bem como dos modos de conduta determinados por
aquilo que os indivíduos crêem ser aceitável, desejável, bom ou mau para eles.

O sociólogo Guy Rocher afirma ser o valor uma maneira de ser ou de agir que uma pessoa ou
uma colectividade reconhecem como ideal e que faz com que os seres ou as condutas aos quais é
atribuído sejam desejáveis. Enquanto ideal, o valor implica, portanto, a idéia de uma qualidade
de ser ou de agir superior a que se aspira. Os valores são sistemas de avaliação social resultantes
de uma interacção dinâmica entre o indivíduo e a sociedade, constimindo as normas culturais do
juízo social.

2. Características essenciais dos Valores

1. Os valores apresentam-se, como um conjunto de ideais que servem de base a critérios de


avaliação dos indivíduos, dos comportamentos e dos objectos; os valores sitiiam-se na ordem
ideal e não na ordem dos objectos concretos ou dos acontecimentos. Isto significa que os valores,
porque ideais, implicam a idéia de uma qualidade ou de um modo de agir superior, a que se pode
aspirar.

Os valores organizam-se em tormo de objectivos que ocupam um lugar central no sistema,


ordenando-se hierarquicamente, a partir deles, os objectivos secundários.

Os valores convidam ao respeito e à adesão e, por isso mesmo, inspiram os comportamentos que
são sempre julgados à luz desses mesmos valores.

3. Os valores são relativos, isto é, são sempre específicos de uma sociedade. Cada sociedade tem
os seus próprios valores, os seus próprios ideais.

4. Os valores revestem-se de uma certa carga afectiva não estando isentos de sentimentos nem
de motivações. São factores poderosos na orientação das acções das pessoas e das colectividades,
sobretudo no aspecto religioso.

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5. Os valores, numa dada sociedade, encontram-se dispostos segundo uma ordem ou escala
hierárquica; não se encontram nunca isolados, nem simplesmente justapostos; têm entre si nexos
complexos, estando articulados de um modo coerente, constituindo, no seu conjunto, aquilo a
que se chama o sistema de valores. Na formalização da noção de valor estão presentes as
concepções do homem e da natureza, as relações interpessoais e as relações estabelecidas entre o
homem e a natureza.

Significa que os sujeitos e as colectividades, dentro do universo dos valores, optam por aqueles
valores que são mais conformes do que outros ao seu ideal de vida, à sua visão do mundo, à idéia
que fazem da natureza, do homem e do seu destino. Porém, a mesma pessoa pode fazer um
conjunto de opções de valores num dado contexto. A opção pelos valores não é, portanto, a
mesma para o mesmo indivíduo, em todas as situações, pois está intimamente ligada ao contexto
social.

III – IDEOLOGIA

1.Noção de Ideologia

A noção de valor associa-se a noção de ideologia como elemento basilar da cultura.

No Século XVIII, a noção de ideologia designava a ciência dos fenômenos mentais; introduziu-
se progressivamente nas ciências sociais a partir da definição que Marx deu inicialmente.

Marx atribuiu dois sentidos à ideologia : o primeiro refere-se aos sistemas de representação
elaborados pela moral, pela religião e pela política, determinando a consciência que os
indivíduos têm das coisas e da sociedade; o segundo sentido engloba o aspecto de um processo
mais amplo que é o de alienação e que, por sua vez, faz intervir dois pólos distintos: por um lado,
as idéias da classe dominante que se convertem em idéias dominantes (neste sentido, a ideologia
define a representação da classe dominante, de acordo com a sua posição e os interesses que
impõe); por outro lado, é constituída pela classe dominada que sofre as idéias dominantes (não
pode ter uma visão exacta da realidade, pois as relações sociais em que está inserida produzem
uma concepção errônea da história humana).

Althusser (1973) situa o conceito marxista de ideologia na perspectiva de uma dinâmica


subjectiva ao defini-la como "uma representação da relação imaginária dos indivíduos com as

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suas condições reais de existência"; esta concepção da ideologia coloca o acento essencialmente
na sua estmtura e no seu funcionamento: a ideologia constitui uma relação de representação,
funcionando sobre bases materiais. Desta posição deduz-se que uma ideologia não existe por si
mesma, à margem dos indivíduos concretos que actuam no sistema em que se encontram. O
ponto de vista de Althusser faz da ideologia um fenônemo social central.

Na perspectiva das Ciências Sociais, a ideologia é considerada, globalmente, como um sistema


de representações que, implicando valores, proporciona uma interpretação da realidade. Sendo
assim, toda a ideologia, enquanto sistema de representações e de acções, remete explícita ou
implicitamente, para uma ontologia.

A ideologia designa toda a forma sistematizada de representações que proporciona uma


explicação da realidade em geral e do funcionamento social em particular; é uma constmção
sociocognitiva que ministra um modelo de avaliação das situações e propõe, no contexto de uma
dada sociedade, uma orientação coerente dos comportamentos individuais e colectivos.

Segundo Deconchy (1989), a ideologia é um processo psicossocial em que existe um trabalho de


constmção de imagens de subsistência e de tradição como modelos de referência. Em suma, a
ideologia designa um sistema de idéias e de juízos explícitos e geralmente organizados que serve
para descrever, interpretar ou justificar a situação de um grupo ou de uma colectividade; inspi
rando-se em valores, propõe uma orientação precisa à acção histórica desse grupo ou dessa
colectividade.

Esta noção comporta, em especial, três elementos :

1. A ideologia apresenta uma forma sistemática, coerente e organizada; possui o caracter de


"doutrina", no sentido lato do termo;

2. A ideologia refere-se a valores; F. Dumont afirma que a ideologia poderia ser considerada
como "racionalização de uma visão do mundo" (isto é, um sistema de valores);

3. A ideologia incita uma colectividade à acção ou, pelo menos, dúige-a, fomecendo-lhe fins e
meios.

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No universo político analisa˗se a ideologia de um modo específico; onde os sistemas de crenças
e de símbolos aparecem directamente determinados pela problemática da relação com o poder.
As ideologias políticas podem, assim, ser definidas como sistemas de idéias pelos quais os
indivíduos, os grupos e os partidos explicam e justificam os fins e os meios da sua acção.

2. Componentes da Ideologia

Existem dois tipos de componentes na ideologia: estrutural e justificativa por um lado;


fundamental e operativa, por outro.

A estrutural e justificativa é constituída por elementos estruturais e justificativos. Há elementos


estruturais que determinam uma situação, produzindo tipos específicos de acção. Os elementos
justificativos constituem o conjunto de meios e variam segundo as circunstâncias e as
necessidades, permitindo legitimar uma situação definida pela ideologia recorrendo à emoção e a
toda a forma de racionalização.

Para Seliger (1976), estes elementos são interdependentes. Embora a ideologia seja captada
como uma unidade, representa, na realidade, um sistema de componentes assimétricas e
flutuantes.

Na componente fundamental e operativa, distinguem- -se as seguintes dimensões:

A dimensão fundamental que compreende os princípios que servem de guia às acções colectivas
e às decisões individuais; e a dimensão operacional que reagrupa os princípios que põem em
funcionamento os meios utilizados em ordem à obtenção de fins imediatos.

A existência destes dois níveis permite captar, como demostrou Seliger, a existência de um
conflito, não só entre a ideologia e a acção, mas também no próprio seio da estmtura ideológica.
Há um conflito entre estes dois níveis, isto é, entre aquilo que, por um lado, pode fazer- -se e
aquilo que, por outro, deve fazer-se.

3. Mecanismos da Ideologia

Os mecanismos da ideologia permitem-nos compreender como funcionam as ideologias bem


como os papeis que desempenham:

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1 - A Reificação Social

As instituições sociais idealizam as relações entre os indivíduos. A ideologia manifesta-se


especialmente nas relações entre os indivíduos (relação superior/subordinado, professor/aluno,
etc). Os grupos dirigentes possuem um tipo de representações que tende a considerar que os
outros são incapazes de cumprir as funções que se lhes atribuem.

2 -A Divisão Categorial

Este segundo mecanismo ideológico traduz-se na fragmentação da realidade fazendo-a funcionar


de um modo dúbio; trata-se da representação da sociedade na qual se identificam relações entre
gmpos opostos.

Moscovici (1968) estudou as oposições da "divisão natural". De acordo com a profissão


(agricultor, artesão, engenheiro, cientista, etc ) cada um tem o seu sector limitado. A partir daqui,
criou-se a divisão entre os trabalhadores manuais e os trabalhadores intelectuais; cada um tenta
preservar os seus interesses de categoria e manter uma distância "aceitável" entre as diversas
categorias.

3 -A Criação de Mitos

A ideologia opera através de um certo número de mitos cuja função é servir de suporte e de
orientação às actividades e às crenças.

Barthes (1973) demonstrou como é que o mito é um instrumento da ideologia distinguindo nele
várias funções :

• a eliminação da história (apresentação intemporal);

• a identificação enquanto generalização tendente a evitar elementos particulares;

• a quantificação da qualidade: pretende-se entender melhor a realidade apoiando-se em feitos


medidos como o êxito, a popularidade, etc;

• a apresentação de verdades irrefutáveis.

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IV - IDEOLOGIA, CULTURA, IDENTIDADE, TRADIÇÃO E MEMÓRIA

A ideologia, segundo a noção apresentada, não é a totalidade da cultura, mas sim um elemento
da cultura.

Pode falar-se da ideologia de um gmpo restrito ou parcial (partido político, sindicato, exército,
determinada profissão, etc.) bem como da ideologia de uma sociedade global (nação, país, etnia).
A ideologia ocupa, uma posição privilegiada na cultura. Através dela, temos acesso directo a
uma perspectiva da colectividade, que pode, ao mesmo tempo, servir-nos de ponto de partida
para as nossas análises e fazer-nos atingir as principais fontes e agentes da mudança social.

A ideologia é, com freqüência, princípio de divisão, fonte de conflito no seio de uma


colectividade e entre as colectividades. E é aqui que a ideologia mais se distingue dos valores e
da cultura e se revela nitidamente como um elemento da cultura.

Aponta para a unanimidade, ao passo que a cultura e os valores apelam para um consenso de
certo modo natural.

A ideologia assume, assim, no seio da cultura, uma posição mais racional e mais explícita do
que os valores, em ordem à estruturação social, numa linha de identidade, de tradição e de
memória.

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Conclusão

A noção de cultura é uma noção polissémica, mas toda ela contextualizada no âmbito de um
dinamismo de identidade, de tradição e de memória. Por isso a definimos como um conjunto de
modalidades da experiência social, constmida sobre saberes aprendidos e organizados como
sistema de signos que possibilita aos membros de um determinado gmpo a constmção de um
modelo de significações em ordem à estmturação e definição de comportamentos adaptados
numa dada sociedade: Como diz Hall (1979), "toda a sociedade é cultura". Referimos duas
componentes essenciais da cultura: por um lado, a existência de valores enquanto normas
culturais do juízo social; por outro lado, a existência de ideologias enquanto formas
sistematizadas de representações sociais. Os valores e as normas são partes integrantes da
cultura, actuando, em conseqüência, como elementos organizativos das representações e dos
comportamentos.

Verifica-se, através da análise das diferentes características e das diferentes funções da cultura,
que esta informa todo o tecido dos sistemas sociais, mas não constitui uma realidade
independente e autônoma; a cultura é, sim, uma realidade que integra todas as formas de
expressão da vida social e colectiva, numa linha de identidade, de tradição e de memória, no
contexto das relações intersubjectivas, numa dada comunidade.

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Bibliografia:

Fischer, G. N. (1992): Campos de Intervención en Psicologia Social, Narcea, Madrid. Rocher,


G. (1989): Sociologia Geral - A Acção Social, Presença, Lisboa. Barthes, R. (1973):
Mythologies, Le Seuil, Paris. Berry, J. W. (1984): Culture and Cognition: Readings in Cross-
Cultural Psychology, Methuen, Londres Deconchy, J. P. (1989): Psychologie sociale: Croyances
et idéologies, Klincksieck, Paris. Dumont, F. (1974): Les idéologies PUF, Paris. Eliade, M.
(1975): Le Sacré et le Profane, Gallimard, Paris. Linton, R. (1969): Uindividu dans sa société,
Gallimard, Paris. Moscovici, S. (1968): Essai sur Vhistoire humaine de Ia nature, Flammarion,
Paris.

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