A Bruxa e A Morte - Sobrenatural - Camila Oliveira
A Bruxa e A Morte - Sobrenatural - Camila Oliveira
A Bruxa e A Morte - Sobrenatural - Camila Oliveira
ISBN Nº 978-65-00-61978-2
Para Bruno
Por mais que eu escreva sobre a morte, nunca vou entender a sua partida
repentina.
ÍNDICE
ÍNDICE
ATENÇÃO
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Epílogo
AGRADECIMENTOS
CONFIRA UM TRECHO
CONTATOS
ATENÇÃO
Este livro pode conter alguns gatilhos: Luto, morte e trauma físico.
Apesar de ser uma série, esse e os livros seguintes poderão ser lidos
separadamente, mas os posteriores podem conter spoilers dos anteriores.
— Ninguém merece viver além do tempo que lhe foi dado. Até
mesmo os imortais têm tempo de vida determinado — Morte replicou em
um tom cortante. — Por que justamente você ou aqueles que recorrem a
você merecem viver mais? Quem é você para determinar o tempo de vida
de alguém?
— Eu... acho que ainda tenho muito a viver. E para isso, preciso de
dinheiro, preciso da minha juventude. — Dei de ombros, tentando parecer
despreocupada. — Feitiços existem para serem utilizados.
Ser prisioneiro da Morte significava não ter uma vida, mas também
não morrer. Ficar para sempre presa em um limbo entre a vida e a morte.
Era horrível.
— Você é livre para transitar por aqui, mas fique fora do meu
caminho — Morte disse e foi em direção ao seu trono.
Andei por aquele lugar imenso e que parecia não ter fim. Um
corredor levava direto para o trono da Morte, mas havia corredores laterais
que levavam para outras salas enormes e vazias. O lugar era todo cheio de
sombras e por mais que parecesse vazio, eu sentia que estava sendo
observada o tempo todo. Havia alguém nas sombras, mas eu não entrei em
nenhuma delas para comprovar a minha teoria.
Notei que ela era muito bonita. Tinha os cabelos ruivos bem lisos e
longos. Os olhos eram azuis-claros, a pele era clara, quase translúcida. Ela
estava vestida de forma austera, usando um terninho todo preto, com camisa
branca e gravata preta. Ela era tão perfeita que não tinha um fio de cabelo
fora do lugar. Não devia ser humana... devia ser uma serva de Morte.
— Eu... — Pigarreei. — Eu sou... Morte me trouxe... aqui. — Me
atrapalhei um pouco para falar, mas consegui respondê-la.
— A Morte mandou que eu arranjasse acomodações para você,
bruxa. É aqui que você vai ficar.
— Sei.
Arregalei os olhos.
— Mas você disse que sabia como sair daqui! — devolvi, confusa.
— Você é uma bruxa, muito parecida com um ser humano. Por isso
será tratada como um — ela disse enquanto andava em direção à porta. —
Serão servidas três refeições por dia e você poderá usar o banheiro anexo
para as suas necessidades mortais.
O que... Percebi que ela estava indo embora. Não.
— Por que ele faria isso se tem vocês, os ceifeiros, para fazerem o
trabalho? — perguntei curiosa.
Parecia ser um cavalo normal, mas com certeza não era, já que
pertencia à Morte. Com aquele cavalo, Morte andaria pela Terra. Eles
trariam o juízo final à humanidade. O apocalipse. O fim.
— Fale.
Além disso, eu não achava que manter a minha juventude fosse algo
tão grave assim contra Morte. Quer dizer, se eu tivesse parado em mim...
mas não. Vendi feitiços e poções para os humanos e outros seres, e eles
viveram além do que lhes era permitido. Eles enganaram a Morte, assim
como eu.
— Eu preciso voltar para casa. — Andei para perto dele. — Eu
tenho uma vida lá. Não posso simplesmente sumir assim.
Com quase 100 anos de vida, pensei que poderia ter algo a mais
com alguém. Mas aí descobri que ele estava destinado a uma companheira
loba. Talvez a deusa tríplice tivesse outros planos para mim. Ou não. Já que
vim parar aqui.
— Ah.
Voltei a encará-lo e ele não tinha tirado os olhos de mim. Senti algo
quente percorrer meu corpo, mas ignorei. O momento era completamente
errado.
— Mas eu tenho a minha vida lá. As pessoas vão me procurar e vão
encontrar a minha casa abandonada. Meus livros e feitiços todos lá,
expostos para quem quiser ver. Meu sumiço vai chamar a atenção das
autoridades. Você voltará a ser enganado, talvez até por humanos.
Morte fechou a cara, quer dizer, ele vivia com aquela cara enfezada,
então, não era muito diferente do normal. Ele era bonito mesmo daquele
jeito.
— Vou mandar um ceifeiro até lá para buscar as suas coisas — ele
decretou.
— Não — repliquei.
Bufei irritada.
Revirei os olhos.
— A demônia e a deusa.
Senti vontade de arrancar os meus cabelos. Pela deusa tríplice!
Morte era muito irritante!
— Que seja! Você não respondeu a minha pergunta!
— Eu vou arrumar um jeito de sair daqui. Nem que use o seu cavalo
para isso!
Nem mesmo meus próprios servos estavam livres desse mal. Mas
uma coisa que nenhum deles sabia era que não podiam me enganar.
Ninguém podia. Era tolice imaginar o contrário.
Decidi que eu mesmo iria atrás dela. Aquele assunto era meu.
Foi uma surpresa ver pela primeira vez o rosto da bruxa. Ela era
diferente de tudo o que eu já tinha visto antes em toda a minha existência.
Não era a beleza de sua juventude preservada com magia. Eu não ligava
para isso, era algo muito humano, fútil. O que eu tinha visto era... algo a
mais. Aquilo não podia ser normal.
E não era.
Minha bruxa.
— Nós estamos aqui apenas para que se prepare, irmão. Talvez você
precise agir em breve — Guerra alertou.
— Não sabia que você tinha uma consorte — Guerra comentou, sem
tirar os olhos de Lilith, que se aproximava confusa.
Apressei meus passos e aparei o seu corpo desfalecido antes que ele
batesse no chão.
Acordei no quarto/cela que tinha sido destinado a mim na mansão
de Morte. Estava sozinha. Pelo menos foi o que eu achei ao olhar
rapidamente pelo ambiente iluminado apenas pela luz de velas.
Lembrei que Morte me disse que aqueles eram seus irmãos, Peste e
Guerra, mas não lembrei de mais nada depois disso. Acho que desmaiei.
Suspirei e passei as mãos pelo rosto e pelo cabelo, que estava uma
bagunça só. Fechei os olhos. Eu precisava tomar banho, mais cedo ou mais
tarde, apesar de estar perdida no tempo e espaço. Minha vida estava uma
enorme confusão. Uma verdadeira loucura.
— Lilith?
Lembrei que mais cedo, quando discuti com Morte, ele disse que
traria as minhas coisas para cá, recusando a minha proposta de voltar para
casa.
Abri a boca, mas a fechei logo em seguida. Fiquei sem saber o que
dizer. Ele realmente tinha mandado buscarem as minhas coisas! Senti meu
peito se fechando ao saber daquilo. Não havia esperança. Eu ficaria para
sempre na mansão de Morte. Até os meus últimos dias, quem sabe até mais
do que isso...
Dei de ombros.
— Sim.
Após comer a comida que tinha sido enviada para mim, saí do meu
quarto/cela e fui para o corredor principal. Eu não sabia bem o que fazer,
então, decidi sair do quarto na esperança de encontrar a ceifeira para
conversar um pouco. Vi que ela estava perto do trono de Morte e ele estava
sentado lá, conversando com alguém ajoelhado aos seus pés. Todos se
ajoelhavam aos pés dele.
Eu iria me aproximar mais, mas a ceifeira me puxou em sua direção,
não permitindo a minha aproximação.
— Não se aproxime — ela avisou em voz baixa, sem soltar o meu
braço.
— Pleiteante?
— Às vezes, as almas estão inconformadas demais com seus
destinos, então, elas vêm aqui para conversar com a Morte e pedir algo
melhor.
— Lilith?
Parei de encarar o demônio que se afastava no corredor e vi que
Morte estava falando comigo.
— Morte.
Senti que nesse momento tudo ficou quieto. Nenhum dos servos de
Morte sequer ousavam respirar. Será que eu tinha ido longe demais? Mas o
que isso me importava? Eu estava presa na mansão da Morte. O que ele
poderia fazer comigo? Me matar?
— Por que você não volta a fazer o seu trabalho e me deixa em paz?
Pensei em dar meia-volta e sair dali, mas senti que Morte queria me
dizer alguma coisa. Ele inclinou a cabeça para o lado, ainda sorrindo.
— Eu quero saber!
— Não tem problema em admitir a verdade. Foi por isso que vim
aqui conversar com você — ele disse enquanto brincava com a chama de
uma vela em cima da escrivaninha. O fogo não o queimava.
Levantei uma sobrancelha e andei para perto dele.
— Não.
Morte tinha... ele tinha falado o que escutei? Não. Eu devia ter
ouvido errado. Morte... o destino... consorte... Será que aquilo tudo não
passava de um sonho? Devia ser um longo sonho que eu não conseguia
acordar.
— Então você quer que eu... fique aqui com você? Quer se casar
comigo? — perguntei sem acreditar nas palavras que saíam da minha boca.
Não parecia real.
Morte negou com a cabeça, o que me deixou mais confusa ainda.
— Eu me senti confuso.
Abri a boca, surpresa. Pelo menos ele não estava apaixonado por
mim... Senti algo murchando dentro do meu peito. Só podia ser alívio...
— Não.
Morte piscou e inclinou a cabeça, confuso.
— Não?
— Não.
— Por quê?
— Não quero me unir a alguém que não tem sentimentos por mim.
Nunca me casei antes porque sempre acreditei no amor. Tenho quase 100
anos de vida e nunca amei ninguém dessa forma, a ponto de querer casar.
Se for para me unir a alguém, então será por amor — respondi determinada.
Morte assentiu.
— Sim. Você é o desafio da minha existência.
Pigarreei e continuei:
— Então seu desafio é esse: faça com que eu me apaixone por você.
Sei que você disse que não é capaz de ter sentimentos, então pelo menos
faça com que eu me apaixone por você e me dê motivos para me tornar a
sua consorte.
Morte continuou com o cenho franzido.
Morte era mais alto do que eu, pelo menos uma cabeça, então ele
baixou a cabeça para olhar em meus olhos. Senti a sua respiração em meu
rosto. O ar não era quente. Tive a ligeira sensação de que ele iria me beijar.
Ou será que era eu que estava com vontade de beijá-lo?
Me virei e chamei outro servo que estava nas sombras. Pedi que ele
providenciasse tudo o que eu precisaria para o meu plano de conquista.
Assim que ele partiu, meu cavalo se aproximou de mim e baixou a cabeça,
aguardando por um agrado.
Passei a mão pela sua fronte e seu pescoço. Aquele cavalo estava
comigo desde sempre, e podia dizer com certeza que ele era uma extensão
de mim. Nós dois estávamos conectados de uma forma sem igual.
Onde eu estava com a cabeça? Senti uma nova onda de gelo em meu
estômago. Morte iria me conquistar e eu estava ansiosa para saber quais
seriam os seus planos. Abri um sorrisinho. Será que eu conseguiria resistir
aos seus encantos sobrenaturais? Ele não teria que fazer muito esforço...
Cheirei a flor que ainda segurava e seu aroma delicado era o mesmo
de uma rosa comum. Abri um sorrisinho ao encarar a flor em minha mão.
Eu tinha gostado. Morte me presenteou de uma forma única e inusitada, que
jamais imaginei que seria presenteada.
— Eu... percebi que você sempre se refere à Morte como “ela”. Não
seria “ele”?
— A Morte não tem um gênero, igual aos seres vivos. Ela é o que é.
— Eu gostei das rosas. Nunca ganhei flores antes e achei seu gesto
muito atencioso. Obrigada — agradeci meio de má vontade.
— Se você quer que eu seja a sua consorte, então não pode ficar
mandando em mim desse jeito. — Cruzei os braços na altura do peito. —
Não é assim que as relações funcionam.
— Então me explique.
— Explicar o quê?
— A dinâmica das relações amorosas.
Pela deusa!
— Você é muito irritante, sabia?
Minha boca se abriu de surpresa. Como ele sabia tanto sobre mim?
Como Morte conseguiu desenterrar aquele assunto? Aquele assunto que
estava enterrado profundamente dentro do meu coração.
Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e antes que ela caísse
no chão, Morte a aparou com um dedo, sem me soltar. Ele observou a
lágrima e franziu o cenho.
— Você não aceita e não entende a morte — ele disse. — Você quer
que elas voltem, mesmo sabendo que não é possível. Você deseja o
impossível.
Como ele podia saber o que passei? Como ele podia sentir o que eu
senti? A dor, a tristeza, a impotência de não poder fazer nada... o luto.
Morte não sabia o que eram aqueles sentimentos. Ele não sabia que depois
que experimentamos aqueles sentimentos na alma, você nunca mais era o
mesmo.
— Posso não ter passado pelo que você passou, mas eu sei o que é.
— Ele acariciou as minhas bochechas com os polegares. — Você está
despertando sentimentos em mim. Você está me transformando em algo
diferente. Algo que talvez... possa sentir.
— Isso não é possível... — murmurei incrédula, mas ele me
interrompeu:
Sete dias?
Não pude pensar muito no que ele tinha acabado de falar porque no
segundo seguinte seus lábios estavam nos meus, em um beijo que jamais
imaginei que estaria dando. Um beijo na Morte.
Minhas mãos foram para o corpo dele, deslizando até as suas costas,
quase tocando as suas asas. Morte gemeu e aprofundou o beijo. Eu pensava
que ele não saberia beijar, mas estava enganada. Morte sabia beijar. Uma de
suas mãos continuou segurando o meu rosto, enquanto a outra segurou a
minha cintura, me apertando mais contra o seu corpo. Morte tinha um gosto
único. Eu não conseguia compará-lo a nada que já tivesse experimentado
antes.
Sua boca deslizou pelo meu pescoço, beijando, lambendo e
chupando a minha pele, me fazendo ofegar de prazer. Ele deu uma leve
mordida na base do meu pescoço, na junção com o ombro. Meu corpo
inteiro se arrepiou. Ele voltou a tomar a minha boca e eu apenas me
entreguei a todas aquelas sensações do momento. Eu jamais imaginei que
Morte seria tão intenso daquele jeito. Seu toque despertou o meu corpo
inteiro.
Engoli em seco.
Assenti.
— Eu ainda não...
— Eu sei. Eu sei que você não está apaixonada por mim, mas está
ficando. Eu posso sentir.
Pela deusa! Eu queria beijá-lo novamente, mas me controlei. Eu
tinha que me controlar. Se eu me apaixonasse, eu não voltaria para casa.
Casa. Minha casa em Luandia, meu lar. Sozinha e nômade. Sempre de
mudança por causa da minha aparente juventude. Era isso que eu desejava
mesmo? Eu não sabia mais dizer ao certo. Morte estava confundindo os
meus sentimentos.
Morte deu um passo para trás, saindo do alcance dos meus braços.
Seus olhos não saíram do meu rosto em momento algum.
Respirei fundo outra vez. Três semanas que poderiam passar voando
naquele lugar. Três semanas que eu poderia facilmente me perder e me
apaixonar.
Sem acreditar, devolvi o livro para a estante e puxei outro: Vita Off
Terram (Vida Fora da Terra). Minha boca se abriu. Aqueles livros ou
tinham sido destruídos há séculos ou tinham sumido misteriosamente da
face da Terra. Agora eles estavam ali, ao meu alcance. Morte tinha me dado
todas aquelas raridades. Ele simplesmente me presenteou com aqueles
livros. Pela deusa!
Me sentei na cama, sem conseguir tirar os olhos das estantes que
preenchiam o meu quarto. A minha pobre estante parecia nada comparada
àquela biblioteca que Morte me deu. Respirei fundo, sem acreditar.
Morte... Ele estava levando o meu desafio muito a sério. Ele estava
determinado a me tornar a sua consorte. Morte...
Me deitei na cama e toquei meus lábios com as pontas dos dedos.
Morte tinha me beijado. E eu tinha gostado. Eu não devia estar em meu
juízo perfeito.
A Lilith Hecate que eu conhecia, estaria nesse momento, procurando
algum manuscrito, grimório ou qualquer livro que fosse naquela biblioteca
enorme que pudesse me ajudar a fugir daqui o mais rápido possível, para
voltar logo para casa. Mas não. Tudo o que eu conseguia fazer no momento
era lembrar do beijo e das sensações que fui preenchida ao estar nos braços
de Morte.
Respirei fundo e senti o forte aroma das rosas negras que estavam
em meu quarto. Eu não fazia ideia de quanto tempo tinha passado, mas elas
continuavam em seu perfeito estado, sem o mínimo sinal de que
começariam a murchar. Morte devia ter feito alguma coisa para preservá-las
daquele jeito.
— Obrigada pelo elogio. Não sabia que você sabia fazer tal coisa.
Ele tinha lido a minha mente? Pela deusa! Acho que ele tinha
percebido o meu olhar de cobiça segundos atrás.
Resolvi entrar no jogo de Morte, sem medir as consequências disso.
Bom, eu nunca media mesmo...
Engoli em seco.
— E se eu quiser isso? E se eu quiser apenas... sexo com você? —
perguntei de um jeito lânguido e sedutor. — E se eu quiser domá-lo?
Morte aproximou seu rosto e roçou seus lábios nos meus. Fechei
meus olhos, me perdendo nas sensações que ele me causava... que a deusa
me ajudasse...
— Eu vou recusar.
Abri meus olhos, surpresa.
— O quê?
— Eu não vou fazer isso, Lilith. Não vou fazer sexo com você até
que esteja completamente apaixonada por mim, até que esteja entregue a
mim, de corpo e alma.
Pisquei, incrédula.
— Mas...
Fui interrompida:
— O vestido que você deverá usar está ali. — Ele apontou para o
tecido preto pendurado na cadeira em frente à escrivaninha. — Meus
irmãos chegarão em breve. Estou te aguardando — ele completou e foi
embora, me deixando com cara de boba.
Cobri o rosto com as mãos e me xinguei por dentro. Trouxa! Fui
entrar no jogo de Morte e me ferrei. Por isso diziam que não se brincava
com a morte.
“A morte é de certa maneira uma impossibilidade, que de repente se torna
realidade.”
Johann Goethe
Eu tinha que admitir que Lilith era uma bela mulher. Não que eu me
importasse muito com a sua aparência, algo tão... humano. Mas Lilith
reunia características únicas em seus traços. Ela tinha altura mediana, o
corpo era proporcional, bem dividido. Ela tinha aquela ligação com a
natureza que todas as bruxas tinham, uma intimidade com a terra e tudo que
é natural. Os olhos verdes eram chamativos e marcantes, e faziam um
contraste interessante com a cor da sua pele oliva. Seu cabelo castanho-
claro era volumoso, cheio de cachos que ela já estava acostumada a domar,
pelo que eu tinha percebido. Apesar de ter quase um século de vida, Lilith
ainda tinha a mente jovem, algo comum nas bruxas, já que elas tinham a
expectativa de vida maior do que a de um ser humano. No entanto, ela era
sábia e já tinha passado por muitas experiências em sua breve vida mortal.
Ela não era imatura, mas era impetuosa e dominante, do tipo que se fazia de
forte, mas por dentro era doce e meiga. Acho que foram essas
características que me atraíram em Lilith.
Acariciei seu rosto com as pontas dos dedos e pude sentir a pele
macia e quente. Eu desejava muito que ela se apaixonasse por mim e
desistisse de sua vida na Terra. Eu poderia oferecer qualquer coisa que ela
desejasse, contanto que ficasse ao meu lado, aqui em meus domínios.
Mas eu também sabia o que Lilith desejava e era a única coisa que
eu não poderia dar a ela: amor. Eu não tinha sentimentos, ou melhor, até
pouco tempo atrás eu não tinha sentimentos. Mas agora, com Lilith aqui e o
destino nos unindo... Eu já sentia a diferença. Lilith tinha conseguido o que
nunca nenhum ser vivo conseguiu antes: despertar sentimentos em mim. O
desejo era o mais forte deles.
Eu não entendia porquê as coisas tinham que ser tão difíceis para
mim. Meus irmãos não pareciam padecer do mesmo problema.
Fiquei observando-a por mais algum tempo, até que ela acordou.
Tive que ir embora depois disso, já que tinha ficado difícil resistir à
tentação que Lilith representava para mim. Meus irmãos chegariam em
breve e eu esperava poder conversar com eles sobre o que estava
acontecendo comigo.
Guerra, Peste e Fome chegaram aos meus domínios ao mesmo
tempo. Meus irmãos vieram acompanhados das consortes e concubinas, o
que representou um número grande de pessoas. Guerra trouxe todas as suas
três concubinas: uma humana, uma vampira e uma loba. Ele adorava as
implicâncias entre as duas últimas. Peste trouxe a consorte, uma humana
que vivia ao seu lado há décadas. Fome trouxe o consorte (um ex-ceifeiro) e
as duas concubinas (bruxas). Eu já conhecia todos, mas nunca fui íntimo de
nenhum deles e eles não pareciam muito dispostos a falar comigo, com
exceção do meu ex-ceifeiro, Eros. Todos ainda estavam vivos por causa de
meus irmãos, que sempre cediam a imortalidade aos seus companheiros.
Era o mesmo que eu gostaria de fazer com Lilith.
— Irmãos. Bom ver vocês e suas companheiras e companheiro.
Fiquem à vontade — os saudei assim que os vi.
— Ainda não.
— Porque eu confessei a ela que não podia amá-la. Então ela propôs
o acordo, já que queria se apaixonar por mim antes de se tornar minha
consorte. Ela quer sentimentos envolvidos na nossa relação — contei.
— E você não pode amá-la? — Guerra perguntou com o cenho
franzido.
— Não. Isso é coisa dos mortais e imortais. Não somos como eles.
Nós existimos, não vivemos. Somos seres que sempre existiram e sempre
existirão. — Balancei a cabeça. — O destino colocou Lilith no meu
caminho como uma forma de desafio.
Ouvir aquilo dos meus irmãos foi como ver o dia nascer pela
primeira vez em minha existência. Nunca pensei dessa forma. Sempre
imaginei que o destino tinha proposto um desafio na minha frente e esse
desafio era Lilith, uma bruxa arrogante que tinha coragem de bater de frente
comigo.
Ele assentiu.
Antes que eu perguntasse ao que ele estava se referindo, seus irmãos
se aproximaram de nós. Quatro pares de olhos negros me observavam de
perto agora.
O que tinha a pele muito clara com os cabelos quase brancos riu e
disse:
— Não é bem um prazer, mas nós entendemos o que você quis
dizer.
Senti meu rosto esquentar. Aqueles quatro eram mais velhos que o
mundo. Claro que eu ia falar alguma merda. No entanto, eu não tinha essa
preocupação quando estava a sós com Morte. Eu não sentia que éramos
diferentes, nós nos entendíamos bem.
Reparei que Morte era o único que não tinha uma cor de pele
definida. Sua pele tinha um aspecto dourado, mas que mudava de acordo
com a iluminação. Além disso, ele era o único dos quatro que tinha asas. No
entanto, Peste era o único que tinha cabelos quase brancos, sendo que o dos
outros era preto. Já Guerra, era o único que tinha barba com aqueles fios
grisalhos pelo meio, apesar de sua aparência ser de alguém jovem. E Fome
era o único que não tinha tantos músculos assim, era esguio e alto, o mais
alto dos quatro. Seu rosto também era andrógino, assim como o de Morte.
Os quatro se entreolharam.
Os irmãos de Morte riram e Morte sorriu para mim. Era tão peculiar
vê-lo sorrindo. Ele vivia com aquela cara enfezada a maior parte do tempo.
Por isso meu nome era Lilith Hecate. Em referência ao meu antigo
coven, assim como todas as bruxas e bruxos que faziam parte dele. Nunca
consegui me desligar totalmente a ponto de suprimir o nome da deusa. A
deusa Hecate sempre estava comigo.
— A deusa dos mortos e da magia. Faz sentido que esteja com
Morte agora. Eu e Minerva fazíamos parte do Coven Demeter. Fome nos
encontrou quando estávamos em uma situação difícil, morrendo à mingua,
décadas atrás. Ele nos conhecia do coven, já que Demeter é a deusa da
agricultura e da comida, que faz uma referência a ele próprio. Fome nos
ajudou por intervenção da deusa Demeter. Foi através dela que ele nos
encontrou e nós três acabamos nos apaixonando. Foi tudo muito rápido.
Quando nós vimos, estávamos nos domínios de Fome, nos tornando suas
concubinas. — Ela agitou a pulseira de ouro em seu punho. — O destino
agiu.
Bebi a água em minha taça, digerindo toda a história de Cordelia.
Não pude deixar de imaginar se a deusa Hecate teve alguma coisa a ver
com meu encontro com Morte. Será que foi a forma que ela encontrou de
me “colocar nos trilhos” outra vez? Ela agiu juntamente com o destino.
Cordelia sorriu.
Cordelia sorriu. Ela era muito bonita. Tinha o cabelo bem preto e
liso, era alta e tinha os olhos azuis. Quase uma modelo. Minerva era do
mesmo jeito.
— Claro que sim! Fome pode nos agradar de diversas formas. Você
precisa ver nós três em ação. É um espetáculo! — ela exclamou, como se
fosse a coisa mais incrível do mundo.
Mateo Alemán
— Morte...
— Eu... quero você. Muito — ela confessou com a voz baixa, sem
desviar os olhos dos meus. Senti meu peito esquentando.
Assenti.
Lilith ficou sem dizer nada por alguns momentos, até que respirou
fundo e disse de forma lenta:
— Você... você é capaz de amar. Mas... mas e o desafio do destino?
— O destino queria me mostrar que eu sou capaz. Tudo é possível.
Até um amor para a Morte.
— Eu... eu nem sei o que dizer. Quer dizer, acho que isso muda um
pouco as coisas entre nós, não é? — Lilith perguntou incerta.
— Um pouco. Ainda espero que você se apaixone por mim, Lilith.
Mas agora você sabe que será amada se ficar aqui comigo.
Ela assentiu.
— O que você não sabe é que... ao me escolher, você terá que abrir
mão de uma coisa. Uma coisa que muitos seres vivos não abrem mão.
Ela assentiu.
O nosso começo não foi dos melhores. Morte estava com raiva de
mim por eu tê-lo enganado por tanto tempo. Depois descobri que o destino
tinha nos unido e que ele pretendia me tornar a sua consorte, mesmo que
não pudesse me amar. Aí eu propus aquele acordo e desde então Morte
vinha se esforçando para fazer eu me apaixonar por ele.
Morte sabia. Ele sabia que eu diferenciava uma foda qualquer do ato
de amor entre dois amantes. A explosão de desejos, da explosão do
encontro de almas. Ele sabia.
Ele sorriu. Sem tirar os olhos de mim e não sei como, ele abriu a
porta e entrou em meu quarto me carregando, como se eu fosse uma noiva
após o casamento. Meu sorriso aumentou.
— Ah...
— É perfeito.
O sorriso dele aumentou.
Ele tocou meu rosto de forma gentil e voltou a me beijar. Sua língua
fazia amor com a minha boca, do mesmo jeito que se pau fazia com a
minha boceta. Eu estava maravilhada e inebriada com todas as sensações
que ele me provocava.
Ele sorriu.
— Bruxa.
— Eu posso ficar horas assim, Lilith. Posso durar o tempo que você
quiser — ele explicou com um sorriso presunçoso no rosto. Nem estava
cansado.
— Como assim?
Morte...
— Não!
O que Morte estava fazendo? Eu queria distância daquele bicho.
Ah. Ah!
— Já disse que não são cobras de verdade, Lilith. Poderia ser outro
animal, mas escolhemos as cobras por sua simbologia. Elas simbolizam o
renascimento, a sabedoria e a sensualidade. — Ele olhou para mim. — O
seu renascimento como minha consorte, a sabedoria na sua escolha de vida
ao meu lado e a sensualidade que nos liga. — Ao terminar de falar, Morte
colocou a cobra no meu braço.
— Pensei que você faria uma festa para comemorar isso. — Agitei a
pulseira para indicar a nossa união. — E a tal celebração?
Revirei os olhos.
— Mas posso chamar meus irmãos para uma nova reunião. — Ele
cedeu a contragosto. — Podemos fazer a celebração como você deseja.
Eu ri.
— Acho que não entendi direito o que você disse, minha doce
companheira.
Era uma opção? Sim, mas eu não me sentia bem com ela.
— Não! Não vou sossegar enquanto não encerrar a minha vida lá,
Morte. Por favor! — Suspirei. — É... é coisa de bruxa. Preciso encerrar
aquele ciclo para um novo reiniciar. Você não entende.
Eu não estava mentindo. Bruxas viviam em ciclos e eu sentia que
aquele em especial tinha ficado em aberto, algo que me incomodava
bastante. Eu tinha iniciado um novo ciclo com Morte e deveria encerrar o
que deixei em aberto em Luandia. Poderia parecer besteira, mas nós bruxas
levávamos isso muito a sério.
Morte passou a mão livre pelos cabelos. Suas asas se agitaram, mas
logo desabaram no chão.
— Tudo bem. Não vou proibi-la, Lilith. Mas você não pode ficar
muito tempo afastada de mim, a pulseira nos liga, não esqueça. — Ele
apontou para o meu pulso. — Você terá 12 horas terrestres para resolver
tudo em Luandia. Quando quiser voltar, fale com a pulseira e eu mandarei a
ceifeira buscá-la.
Morte se levantou de seu trono e veio até mim. Ouvi murmúrios nas
sombras da mansão. Seus servos já sabiam que eu era a consorte de Morte,
mesmo assim, continuavam nas sombras.
— Silêncio — Morte exigiu de forma fria e tranquila, e no mesmo
instante as sombras ficaram quietas.
Bom... vários objetos meus estavam faltando, mas não era a isso que
eu me referia. Além disso, as minhas coisas estavam na mansão de Morte.
Apenas os móveis e outros objetos inúteis tinham ficado para trás. Olhei
para a TV enorme que eu tinha comprado meses atrás. Não sentia falta dela.
Minha casa estava às escuras e as lâmpadas não acendiam. Apenas a
luz do dia entrava pelos vidros das janelas. A conta de luz devia estar
vencida. Ótimo. Fui para o meu quarto e peguei meu celular. Descarregado.
Respirei fundo. Sem energia, não havia como carregá-lo. Não do jeito
tradicional, humano.
Eu sabia que não deveria ter autorizado Lilith a voltar para Luandia.
As horas estavam passando e ela estava demorando demais a voltar. Será
que era tão difícil assim se livrar de uma vida humana? Que segredos e
burocracia envolviam as vidas dos humanos? Lilith levou uma aparente
vida humana por muito tempo. Devia ser por isso que ela ainda não havia
voltado.
Fiquei de pé, sem me importar com a pleiteante aos meus pés. Era
uma arcanja. Em vida tinha sido um ser muito poderoso, mas agora...
implorava pela minha piedade para ir para um lugar melhor. Aquilo era uma
perda de tempo.
— Volte para onde veio e não retorne mais aqui. Você cometeu
assassinatos, tortura, chantagem e até tentativa de filicídio. Suma da minha
frente. Agora. — Fui bem enfático. Não queria mais ficar na presença
daquele ser repugnante. Não sei como ela teve a audácia de vir aqui.
A arcanja não disse nada. Ela ficou de pé e sumiu pelos corredores
da minha mansão, voltando para o lugar de onde nunca deveria ter saído. O
lugar que merecia.
Chamei a ceifeira e desci os degraus que nos separavam.
— Morte.
Me virei e a ceifeira estava atrás de mim, parecendo confusa e mais
pálida do que o normal.
— Diga — ordenei.
Não respondi nada. Segui com a ceifeira. Minha cabeça cheia dos
piores pensamentos possíveis.
Eu estava em uma paz e tranquilidades profundas. Não sentia dor
nem nada parecido. Eu flutuava em um rio de calmaria, as águas serenas e
mornas me guiavam. Eu me sentia muito bem. Melhor do que já tinha me
sentido em toda a minha vida.
— Lilith? Lilith?
Aquela voz... mamãe?
Não...
Abri os olhos e me deparei com uma claridade ofuscante. Não
consegui ver a minha mãe, apenas um lindo dia de sol. Era reconfortante e
lindo, muito lindo. Eu queria ficar ali para sempre.
Mas não consegui.
Senti algo sendo colocado em cima de mim. Era um pano? Por que
alguém colocaria um...? Não. Não. Um pano me cobrindo... eu estava
morta?! Pela deusa! Eu não podia estar morta!
Senti que estavam me deslocando. Eu devia estar deitada em cima
de uma maca e alguém estava me levando para outro lugar. Pela deusa
tríplice! O que estava acontecendo? Por que estavam me levando para outro
lugar? Eu não estava morta!
Eu conhecia aquela voz... ela falou de Ben... Ben! Aquela era a irmã
dele! Leonara! Ou melhor, Leo, como ela gostava de ser chamada.
Leo era médica se eu bem me lembro. Eu devia estar no hospital de
Luandia! Sim! Após o acidente alguém me trouxe para cá. E agora
pensavam que eu estava morta!
— Chame a moça e o rapaz que vieram com ela. Preciso falar com
eles.
— Sim, doutora — alguém respondeu.
Moça e rapaz? Será que eram os meus vizinhos? Leo chorou mais
um pouco e logo depois escutei uma voz desconhecida.
— Não, amor. Não foi culpa sua. Era a hora dela — a mulher disse.
— Não... isso não era para ter acontecido... se ela não tivesse
aparecido... o carro teria me acertado... não foi o que a Morte me disse,
lembra?
Morte? Como ele conhecia Morte? Que droga! Eu não conseguia me
mexer! Queria gritar que estava viva e bem, mas não podia!
— Você não consegue vê-la, Sam? Ela não está por aqui? — Leo
perguntou.
— Não... apesar desse lugar ser cheio de almas, não vi essa moça
aqui. Nossa, isso é tão triste — a mulher falou e fungou. — Ela era minha
vizinha há alguns meses. Era discreta, mas parecia ser legal. Ela gostava do
Zeus.
— Ela não está morta — ele disse com aquela voz que já me não era
nada estranha. — Ela está apenas dormindo.
A sala estava mergulhada em silêncio. Senti o pano sendo retirado
de cima de mim. Meu corpo ainda pesava uma tonelada e eu não conseguia
mexer nem o dedinho se fosse preciso.
— A Morte tem uma consorte? Não sabia que ele podia ter uma. Ele
mandou Jack me levar para os seus domínios... — Samantha comentou
baixinho.
Olhei para a minha antiga vizinha. Era ela! A história que Morte me
contou! E aquele Jack era o ex-servo!
— Assim como fez com vocês dois. — Morte olhou para Samantha
e o rapaz, Jack. — Fiquem longe de problemas. A hora de vocês ainda vai
demorar a chegar — ele avisou.
Jack assentiu. Olhei para Leo, que encarava tudo aquilo atônita.
Reparei que a sua barriga estava um pouco aparente no jaleco. Não sabia
que ela estava grávida. Da última vez que a vi, ela não parecia grávida. Não
fazia tanto tempo assim. Eu acho.
— Espero que Ben esteja bem — disse a ela.
Pisquei. Como ele tinha... a ceifeira. Ela devia ter levado o resto das
minhas coisas. O celular que estava no bolso da minha calça devia ter sido
completamente destruído no acidente.
Eu não tinha pretensão nenhuma de voltar para lá, mas não esperava
que a casa pegasse fogo.
Decidi confiar em Morte. Estava cansada demais para iniciar uma
discussão com ele. Suspirei e encostei minha cabeça no ombro de Morte.
Fiquei satisfeita com a rapidez que ele resolveu tudo. Eu poderia ter
acertado tudo com Morte ao invés de vir aqui, seria mais fácil. Eu ainda
tinha muito o que aprender com Morte.
Passei pouco tempo com Ben, mas sabia do seu amor pelos animais.
Provavelmente ele iria doar uma parte do dinheiro para alguma ONG de
animais abandonados ou investir em trabalhos sociais para esses animais.
Ele era uma boa pessoa.
— Agora vamos. Não podemos mais interferir na vida dos humanos
— Morte disse e se voltou para os três humanos na nossa frente. — Meus
agradecimentos pelo cuidado com a minha consorte. Nos vemos um dia no
futuro. Adeus.
Naquele dia, eu entendi algo que Morte tinha me dito dias antes. A
morte era o fim, mas também era o princípio. Havia algo a mais depois
dela, algo que eu vislumbrei e não vi por completo, graças à imortalidade
que Morte me deu. Havia esperança. E paz.
Morte não disse nada para mim. Apenas me colocou na minha cama
com cuidado e se sentou ao meu lado, de frente para mim, suas asas
encolhidas nas costas. Me recostei nos travesseiros. O cheiro de rosas
estava por todo o quarto, assim como as flores douradas que ainda
enfeitavam todo o ambiente. Morte pegou a minha mão e encarou a pulseira
que eu carregava, pensativo.
Revirei os olhos.
— Então, pode me dizer como foi que eu não morri?
— Eu vou cuidar de você. Você será feliz e ficará bem aqui comigo.
— Os olhos de Morte pareciam marejados, iguais aos meus. — Essa
pulseira salvou a sua vida, meu amor.
Morte tirou as minhas roupas uma por uma, ou melhor, o que sobrou
delas. Em um piscar de olhos, suas próprias roupas sumiram também. Ele
sorriu daquele jeito que me inspirava medo e sedução, e me abraçou. Eu
achava excitante aquela sensação de falso perigo que Morte proporcionava
em mim.
Ele não precisou dizer mais nada. Me virei de frente para ele e me
sentei, encaixando seu pau em mim. Morte gostava quando eu assumia o
controle. Ele não admitiu, mas gostava de ser subjugado por mim. Apenas
em nossos momentos íntimos. Fora isso, ele era o todo poderoso Morte.
Eu estava exausta, mas não apenas do sexo. O meu dia tinha sido
agitado demais. Experiências de quase-morte deviam causar isso.
A vista dos jardins se estendia pelo infinito, mas até aquele lugar
tinha um tamanho determinado. Nem mesmo eu era tão poderoso assim. A
luz do sol era artificial, assim como o brilho das estrelas e da lua, mas Lilith
adorou do mesmo jeito. Eu dividi o tempo em dia e noite, apenas para Lilith
ter uma breve noção da passagem dos dias. Ela tinha me confessado que
achava muito desnorteante não saber disso. E eu sabia muito bem como as
pessoas podiam enlouquecer se perdessem a noção do tempo.
— Teimoso.
FIM
AGRADECIMENTOS
Capítulo 1
Leo
Grávida.
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A NECROMANTE E O CEIFEIRO
Eluana Marino estava voltando para a sua cidade natal para passar
as suas férias com seu pai, após anos afastada do local por traumas do
passado. Belmonte, uma cidade interiorana, é cercada pela mata e pelo
verde e possui suas lendas e mistérios, que Eluana simplesmente ignora e
acha ridículos.
A VIDENTE E O DEMÔNIO
E-mail: camilaoliveiraautora1@gmail.com
Instagram: @camilaoliveiraautora