Quebra Pedras

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Revista Brasileira de Farmacognosia

Brazilian Journal of Pharmacognosy


Received 27 September 2007; Accepted 3 March 2009 19(2A): 471-477, Abr./Jun. 2009

Espécies medicinais comercializadas como “quebra-pedras” em

Divulgação
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Adriana Morais Aita,1 Hélio Nitta Matsuura,1 Clarice Azevedo Machado,2
Mara Rejane Ritter*,1
1
Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento
Gonçalves, 9500, 91509-900 Porto Alegre-RS, Brasil,
2
Faculdade de Farmácia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Av. Ipiranga, 6681, 90619-900
Porto Alegre-RS, Brasil

RESUMO: Este trabalho visa identificar as espécies comercializadas como quebra-pedras em


Porto Alegre, verificar indícios de toxicidade e estabelecer padrões morfológicos para diferenciação
das mesmas. São espécies utilizadas na medicina popular principalmente para afecções nos rins e
bexiga bem como diuréticas. As 16 amostras foram adquiridas de 14 comerciantes atuantes em
bancas fixas ou em feiras-livres. Realizou-se uma revisão bibliográfica para levantamento de
dados referentes à utilização de plantas medicinais com o nome de quebra-pedras em diferentes
cidades do Rio Grande do Sul. Indícios de toxicidade, dados químicos e biológicos destas plantas
foram revisados em diferentes bases de dados e em bibliografia específica. Identificaram-se
sete espécies comercializadas como quebra-pedras em Porto Alegre: Euphorbia prostrata e E.
serpens (Euphorbiaceae), Phyllanthus niruri e P. tenellus (Phyllanthaceae), Desmodium incanum
(Fabaceae), Cunila microcephala (Lamiaceae) e Heimia salicifolia (Lythraceae). Destas, as
espécies de Phyllanthus e Euphorbia são as que apresentam maior semelhança morfológica quando
comercializadas secas e fragmentadas.

Unitermos: Quebra-pedras, medicina popular, morfologia.

ABSTRACT: “Medicinal species sold as “quebra-pedras” in Porto Alegre, Rio Grande do


Sul, Brazil”. The aims of this work were to identify the species sold as “quebra-pedras” in Porto
Alegre, verify signs of toxicity and establish morphological patterns that help to distinguish such
species. Those species are believed to be diuretic and are used in popular medicine mainly to treat
kidney and bladder affections. The samples (16) were purchased from 14 sellers who work in
permanent market stalls or in public marketplaces. A bibliographic revision gathered data on the
use of medicinal plants called “quebra-pedras” in several cities of Rio Grande do Sul. Signs of
toxicity, chemical and biological data of these plants were reviewed from different databases and
specific bibliography. Seven species were identified among those sold as “quebra-pedras” in Porto
Alegre: Euphorbia prostrata and E. serpens (Euphorbiaceae), Phyllanthus niruri and P. tenellus
(Phyllanthaceae), Desmodium incanum (Fabaceae), Cunila microcephala (Lamiaceae) and Heimia
salicifolia (Lythraceae). The greater morphological similarity when dried and fragmented plants
are sold together was verified between Phyllanthus and Euphorbia.

Keywords: “Quebra-pedras”, popular medicine, morphology.

INTRODUÇÃO Acidentes com o uso de plantas podem


ocorrer pela alta concentração de doses, pelo estado
Cada vez mais a população brasileira busca de conservação das plantas e a forma de uso. A
alternativas para o tratamento de doenças. A maioria das identificação incorreta de plantas, bem como o uso de
pessoas não busca atendimento médico, consumindo diferentes plantas com a mesma indicação ou o mesmo
produtos que podem colocar em risco sua saúde. nome popular, pode levar a intoxicações (Rates, 2001).
Zuccolotto et al. (1999) verificaram a Diferentes espécies conhecidas como quebra-
ocorrência de problemas na qualidade de produtos pedras são utilizadas popularmente para problemas
fitoterápicos comercializados em Porto Alegre, tais renais no Rio Grande do Sul, muitas comercializadas
como substituição de farmacógenos, contaminações e fragmentadas, dificultando a identificação correta das
ausência do constituinte químico principal. Ressaltam espécies.
ainda que as amostras provenientes de ervateiros foram Neste trabalho pretendeu-se estabelecer
as que apresentaram o maior índice de rejeição da diferenças morfológicas significativas entre as espécies
qualidade. comercializadas como quebra-pedras em Porto Alegre,

* E-mail: mara.ritter@ufrgs.br, Tel. +51-3308-7571, Fax +51-3308-7755 ISSN 0102-695X


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Adriana Morais Aita, Hélio Nitta Matsuura, Clarice Azevedo Machado, Mara Rejane Ritter

estabelecendo-se padrões morfológicos que servirão e afecções dos pulmões, rinite e tosse (Vendruscolo,
de modelo para a identificação de diferentes espécies, 2004). Caracteres morfológicos: folhas simples,
contribuindo para a caracterização farmacognóstica das opostas, pecioladas, glabras, com bordo serrado ou
espécies de interesse como matéria-prima na indústria esparsamente dentado e tricomas glandulares (Fig. 1).
farmacêutica. Além disso, buscaram-se indícios de Dados químicos e biológicos: o óleo essencial tem como
toxicidade, dados químicos e biológicos destas plantas. principal componente o mentofurano e tujeno, além de
limoneno, β-cariofileno e pulegona (Bordignon et al.,
MATERIAL E MÉTODOS 1997). O primeiro corresponde a uma hepatotoxina.
Outros constituintes foram identificados no óleo
Foi realizada uma revisão bibliográfica de essencial de folhas e flores, como limoneno, 1,8-cineol,
trabalhos efetuados em várias regiões do Estado do linalol, mentofurano, L-copaeno, espatulenol, óxido
Rio Grande do Sul, referentes à utilização medicinal de de cariofileno, 2-pentadecanona, além de mentona
espécies conhecidas popularmente como quebra-pedras. e mentol. Foi relatada ação antidematogênica do
Os trabalhos revisados foram Garlet (2000), Marodin extrato hidroalcoólico das partes aéreas da planta, em
(2000), Possamai (2000), Ritter et al. (2002), Sebold experimento com animais de laboratório. O óleo essencial
(2003) e Vendruscolo (2004). foi ineficaz em camundongos no teste de proteção a
Foram adquiridas, mediante pagamento, no convulsões induzidas por “eletrochoque transcorneal
período de julho de 2005 a julho de 2006, 16 amostras máximo” (ETM). A ação “hepatotóxica” devido à
em diferentes locais da cidade, de 14 comerciantes de presença do mentofurano (componente principal) no
plantas medicinais em bancas fixas ou em feiras-livre, óleo essencial sugere precaução no uso desta espécie.
nos bairros Centro e Bom Fim, locais de maior circulação A não comprovação da ação protetora a convulsões, não
de pessoas e, conseqüentemente, de comerciantes. As indica o uso da planta como calmante. Não há relatos que
amostras encontravam-se como material fresco ou seco, comprovem seu uso para cólicas, diarréias, gripe e tosse.
em ramos inteiros ou rasurados. É relatada atividade antidematogênica para a referida
O material adquirido foi analisado e identificado espécie (Marodin, 2000). A atividade antimicrobiana do
no laboratório de Taxonomia de Angiospermas, do óleo essencial foi efetiva contra espécies de Bacillus sp.
Departamento de Botânica da Universidade Federal do Staphylococcus aureus, e outras bactérias específicas
Rio Grande do Sul, com auxílio da literatura específica (Sandri et al., 2007).
e por comparação com material botânico depositado no
Herbário ICN/UFRGS. Para a identificação das espécies Desmodium incanum DC. - Fabaceae
de Phyllanthus, foi utilizado o trabalho de Machado
(2003) e para as espécies de Euphorbia o trabalho de Nomes populares: pega-pega (Garlet, 2000;
Allem (1975). Sebold, 2003; Vendruscolo, 2004). Uso: em problemas
O sistema de classificação adotado para as de sangue, rins, bexiga e próstata; segura urina frouxa de
famílias é o da APG II (2003). criança (Garlet, 2000), para problemas nos rins (Sebold,
Para cada espécie foi realizada uma busca de 2003) e nos ovários (Vendruscolo, 2004). Caracteres
dados químicos e biológicos na literatura específica morfológicos: folhas compostas pinado-trifolioladas,
e em bases de dados, como Medline 2007 e Science alternas, pecioladas, pilosas, com bordo inteiro e base
Direct 2007. aguda (Fig. 2). Dados químicos e biológicos: presença
de flavonóides, taninos e saponinas (Bianchi et al.,
RESULTADOS E DISCUSSÃO 1989). Não foi encontrada atividade tóxica no ensaio de
toxicidade aguda em camundongos nas doses 250 e 500
Foram identificadas sete espécies pertencentes mg/Kg para extratos aquosos liofilizados (Bianchi et al.,
a cinco famílias: 1989) e mutagênica para o extrato aquoso no teste de
Ames (Vargas et al., 1991).
Cunila microcephala Benth. - Lamiaceae
Euphorbia prostrata Aiton - Euphorbiaceae
Nomes populares: poejinho (Sebold, 2003),
poejo-cheiroso (Possamai, 2000), poejo (Possamai, Nomes populares: quebra-pedras-roxo (Garlet,
2000; Garlet, 2000; Marodin, 2000), poejo-miúdo 2000), quebra-pedras-rasteiro (Sebold, 2003), quebra-
(Marodin, 2000), poejo-graúdo (Vendruscolo, 2004). pedra (Vendruscolo, 2004). Uso: em infecção de
Usos: como tempero, para sinusite e bronquite garganta, inflamação e pedras nos rins (Garlet, 2000).
(Possamai, 2000), tosse (Possamai, 2000; Sebold, Como diurético e para problemas nos rins (Sebold,
2003), gripe (Possamai, 2000; Garlet, 2000), calmante 2003; Vendruscolo, 2004). Caracteres morfológicos:
da tosse, problemas de peito, estômago e cólica de nenê folhas simples, opostas, pecioladas, glabras, com bordo
(Garlet, 2000), para bronquite, dores de barriga, quando serrado ou esparsamente dentado e base assimétrica
se está gripado e enjoado, para expectorar, em infecções (Fig. 3). Dados químicos e biológicos: presença de
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Espécies medicinais comercializadas como “quebra-pedras” em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

ácido galico, corilagina, 1,2,3-tri-O-galloyl-D-glicose, lifolina, litridina, dihidronesodina, 0-0-dimetilifolina


geranina, telimagradina I, II, rugosina A, rugosina (Ragonese et al., 1984). Os quatro alcalóides mais
E, rugosina D e rugosina G (Chen et al., 1992), além estudados são: vertina, liofilina, litrina e nesodina.
de flavonóides (Singla & Pathak, 1989; Pathak et al., Análises clínicas preliminares indicam que vertina e
1991). Foram reportadas atividades antiinflamatórias litrina aplicados oralmente aparentam cessar a atividade
(extrato acetato de etila da planta inteira; flavonóides: psicodisléptica; vertina tem potenciais tranquilizante,
apigenina e luteolina) (Singla & Pathak, 1989; Pathak antiinflamatório e antiespasmódico; litrina têm potencial
et al., 1991) e efeito hipoglicêmico em coelhos normais hidrodiurético (Malone & Rother, 1994). Do extrato
(extrato metanólico do pó da planta) (Handa et al., hidrolisado de folhas foi isolado ácido elágico, além
1989, Alarcon-Aguilara et al., 1998). As espécies de de sitosterol e manitol em grandes quantidades. Apesar
Euphorbia produzem um látex que em contato com a dos alcalóides possuirem atividade anticolinérgica,
pele, pode causar lesões severas, como edemas, bolhas e antiespasmódica e tranqüilizante, tais propriedades
pústulas. Em contato com os olhos, o látex pode causar não explicam totalmente a utilização popular da planta
conjuntivites ou até a cegueira temporária. O látex ou como alucinógena, em determinadas regiões do México
partes da planta, quando ingeridos, causam irritações (Ragonese et al., 1984; Simões et al., 1986). O extrato
na mucosa da boca, gastroenterite, diarréia, vômitos. A aquoso das partes aéreas demonstrou intensa atividade
literatura médica registra casos de convulsões e lesões antibacteriana contra Salmonella typhi (Pérez & Anesini
renais. O uso desta planta é fortemente desaconselhado 1994).
no tratamento de qualquer sintoma ou doença, não
devendo ser usada durante a gravidez (Vendruscolo, Phyllanthus niruri L. - Phyllanthaceae
2004).
Nomes populares: erva-pombinha (Simões et
Euphorbia serpens Kunth - Euphorbiaceae al., 1986; Garlet, 2000), quebra-pedras-de-arvorezinha
(Garlet, 2000), quebra-pedra (Simões et al., 1986; Ritter
Nomes populares: quebra-pedras (Garlet, 2000; et al., 2002; Vendruscolo, 2004), quebra-pedra legítimo,
Ritter et al., 2002; Vendruscolo, 2004), quebra-pedra- quebra-pedra verdadeiro (Vendruscolo, 2004). Uso:
branco (Possamai, 2000), erva-pombinha (Vendruscolo, para bexiga e rins (Garlet, 2000). Internamente as folhas
2004). Uso: em cálculos renais, para bexiga, inflamação são usadas como diuréticas, litolíticas, eupépticas, em
nos rins e como diurético (Garlet, 2000; Possamai, afecções do fígado, icterícia, cólicas renais, moléstias da
2000; Ritter et al., 2002; Vendruscolo, 2004). Caracteres bexiga, retenção urinária e como auxiliar na eliminação
morfológicos: folhas simples, opostas, pecioladas, de ácido úrico. As raízes são também utilizadas em
glabras, com bordo inteiro e base oblíqua (Fig. 4). Dados afecções hepáticas com icterícia e os frutos, as sementes
químicos e biológicos: presença de fenóis, flavonóides, e as folhas em diabetes (Simões et al., 1986). Para dor
cianidinas, taninos e saponinas nas folhas. (Paz et al., nos rins, bexiga, urina trancada, pedra nos rins e como
1992). O látex contém resinas (Maffei, 1997). diurético (Ritter et al., 2002). Caracteres morfológicos:
folhas simples, alternas, pecioladas, glabras, com
Heimia salicifolia Link - Lythraceae bordo inteiro e base oblíqua (Fig. 6). Dados químicos
e biológicos: Presença de flavonóides (quercetina I,
Nomes populares: erva da vida (Simões et astragalina, quercitrina e rutina XXI) (Santos, 1988),
al., 1986; Possamai, 2000; Sebold, 2003), erva-de- lignanas (filantina e hipofilantina) (Row et al., 1966),
santa-luzia, erva-das-vistas (Possamai, 2000), abre- triterpenóides, alcalóides (filocrisina, filalvina) (Santos,
o-sol, vassourinha (Simões et al., 1986). Uso: para 1988) e um alcalóide pirrolizidínico (Lorenzi & Matos
conjuntivite, lavar os olhos e fígado (Possamai, 2000). 2002), cineol, cimol, linalol, salicilato de metila,
Internamente como diurética e purgante; externamente securimina, filantiolina, ácido salicílico (Martins,
como cicatrizante; a planta toda é utilizada como 1994). Foram isolados compostos fenólicos das raízes
repelente de insetos (Simões et al., 1986). As partes como ácido galico, (-)-epicatequina, (+)-galocatequina,
aéreas têm ampla reputação popular de atividades anti- (-)-epigalocatequina, (-)-epicatequina-3-O-galate e
sifilítica, sudorífera, antipirética, laxativa e diurética, e (-)-epigalocatequina- 3-O-galate. Das folhas e caule
são relatados como úteis na preparação de banhos pós- taninos hidrolisáveis como geranina, corilagina
partos e de melhora na cura de ferimentos (Malone & e galoilglicose (Ishimaru et al., 1992). Ainda a
Rother, 1994). Caracteres morfológicos: folhas simples, presença de princípios amargos, ácido ricinoléico e
opostas ou verticiladas, raro as superiores alternas, os extratos aquosos mostraram efeito hipoglicemiante
sésseis ou quase sésseis, glabras, com bordo inteiro e (Simões et al., 1986). Apresenta ação antibacteriana
base cuneada (Fig. 5). Dados químicos e biológicos: (Staphylococcus), antiespasmódica e anticancerígena
presença de heterosídeos (Maffei, 1997). Foram (Sousa et al., 1991). Ensaios mostraram que o extrato
isolados vários alcalóides: criogenina (vertina), litrina, aquoso é ativo contra o vírus da hepatite B “in vitro”
sinicuichina, heimina, sinina, heimidina, nesodina, e “in vivo”, por via intraperitonial, quando aplicado
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Figuras 1-7. Amostras de espécies comercializadas como quebra-pedras. 1. Cunila microcephala Benth. 2. Desmodium incanum
DC. 3. Euphorbia prostrata Aiton 4. Euphorbia serpens Kunth 5. Heimia salicifolia Link 6. Phyllanthus niruri L. 7. Phyllanthus
tenellus Roxb.

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em roedores infectados (Venkateswaran et al., 1987) antibacterianas contra Aeromonas hydrophila, Bacillus
além de ação antihepatotóxica (Syamasundar, 1985) ou subtilis, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus
hepatoprotetora e antioxidante (Harish & Shivanandappa, aureus (Oliveira et al., 2007) e ação antiviral contra o
2006). Foi verificado através de análises clínico- vírus da hepatite B testado em patos (Shead et al., 1992).
laboratoriais que doses do infuso acima das comumente
usadas não mostraram ação tóxica para o homem. Foram Das espécies comercializadas como quebra-
observados que extratos de P. niruri normalizaram os pedras em Porto Alegre, as espécies de Phyllanthus
níveis altos de cálcio urinário diminuindo a formação niruri e Euphorbia serpens são as que apresentam maior
dos cálculos em pacientes (Nishiura et al., 2004) semelhança morfológica quando comercializadas secas
sugerindo que deva interferir nos primeiros estágios de e destacadas dos ramos ou fragmentadas.
formação da pedra e pode representar uma alternativa Nos trabalhos efetuados em outras regiões
no tratamento e/ou prevenção da urolitíase (Barros et do Rio Grande do Sul, Desmodium incanum, Cunila
al., 2003). Foi evidenciado uma elevação da filtração microcephala e Heimia salicifolia são conhecidas por
glomerular e da excreção urinária do ácido úrico. Os outros nomes populares. Provavelmente D. incanum
resultados obtidos podem justificar, pelo menos em parte, e H. salicifolia estão sendo utilizadas atualmente
o uso medicinal da planta em certas afecções renais ou para afecções renais e acabaram sendo denominadas
mesmo nos casos de insuficiência renal (Sousa et al., também por quebra-pedras. Quanto à C. microcephala,
1991). Estudos esclarecem que a utilização da planta provavelmente houve um engano por parte do
promove um relaxamento dos ureteres que, aliado a uma comerciante, ao vender esta espécie como quebra-
ação analgésica (Santos et al., 1995), facilita a descida pedras, já que é tradicionalmente utilizada para afecções
dos cálculos, geralmente sem dor nem sangramento, do trato respiratório.
aumentando a filtração glomerular e a excreção de ácido A grande maioria dos usos relatados pela
úrico (justificando seu uso para pedra nos rins) (Lorenzi população não encontra ainda respaldo nos estudos
& Matos, 2002). O extrato aquoso inibe o virus humano realizados até o momento.
da imunodeficiência tipo-1 trancriptase reversa (HIV-1- As espécies do gênero Euphorbia contêm um
RT) (Ogata et al., 1992). Ainda apresenta ação abortiva látex extremamente cáustico, o qual pode causar lesões
e purgativa em dosagens acima das normais (Martins et na pele (Santucci et al., 1985; Schmidt & Evans, 1980),
al., 1994). nos olhos (Scott & Karp, 1996) e, quando ingerido,
na mucosa gastrointestinal, pode levar a lesões renais
Phyllanthus tenellus Roxb. - Phyllanthaceae (Schenkel et al., 2000).
Em várias amostras constatou-se a presença
Nomes populares: quebra-pedras-de- de material estranho, como pedaços de plástico,
arvorezinha, erva-pombinha (Garlet, 2000); quebra- invertebrados, pedras e outras plantas. Além disso,
pedra (Possamai, 2000; Marodin, 2000; Sebold, 2003; várias se encontravam contaminadas por fungos,
Vendruscolo, 2004), quebra-pedra-claro (Possamai, demonstrando a qualidade duvidosa destes materiais.
2000), quebra-pedra falso, quebra-pedra graúdo Estes dados demonstram que diferentes
(Vendruscolo, 2004). Uso: para bexiga, rins e como espécies conhecidas pelo mesmo nome popular de
diurético (Garlet, 2000; Sebold, 2003), em casos de quebra-pedras são usadas indistintamente como
cálculo renal, cistite, corrimento, como diurética, medicinais, evidenciando a necessidade de estudos
em problemas dos rins e dos ovários, frio da bexiga, complementares e um controle de qualidade eficiente,
inflamações na bexiga e pedra nos rins (Vendruscolo, para uma utilização eficaz e segura.
2004). Caracteres morfológicos: folhas simples,
opostas, pecioladas, glabras, com bordo inteiro e AGRADECIMENTOS
base atenuada (Fig. 7). Dados químicos e biológicos:
presença de alcalóides, ácido gálico (Simões et al., À FAPERGS pela bolsa de iniciação científica
1986), flavonóides, terpenos, lignanas e fenóis (Calixto (processo número 05502482) concedida à primeira
et al., 1997). Plantas do gênero Phyllanthus têm ações autora e ao botânico Ângelo Alberto Schneider pelo
terapêuticas no tratamento de hepatite B e litíase e auxílio na editoração das figuras.
como antinociceptivo (Calixto et al., 1997). Os extratos
fluídos e o decocto das partes aéreas deste vegetal não REFERÊNCIAS
apresentaram atividade diurética, nem antiinflamatória
nos ensaios em ratos (Simões et al., 1986). Atividade Alarcon-Aguilara FJ, Roman-Ramos R, Perez-Gutierrez S,
antinociceptiva foi relatada, em experimentos com Aguilar-Contreras A, Contreras-Weber CC, Flores-
Saenz JL 1998. Study of the anti-hyperglycemic effect
ratos, a partir do extrato das folhas, caule e raízes. Testes of plants used as antidiabetics. J Ethnopharmacol 61:
em ratos com o extrato fluido não relataram o aumento 101-109.
da diurese, e nem sua atividade antiinflamatória, Allem AC 1975. Estudo taxonômico do gênero Euphorbia L.
apresentando baixa toxicidade. Apresenta propriedades (Euphorbiaceae) no Rio Grande do Sul. Porto Alegre,
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