1º Bimestre Sociologia

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Sumário

1. SOCIOLOGIA: DIALOGANDO COM VOCÊ ............................................................3


1.1. Ciências sociais e ciências da natureza ...............................................................5
1.2. A sociologia como ciência da sociedade ..............................................................6
1.3. O senso comum e a Sociologia .............................................................................9
1.4. A sociedade na cabeça de cada um .................................................................... 11
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 19
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1. SOCIOLOGIA: DIALOGANDO COM VOCÊ

Como surgiu a sociologia

A partir do século XV, a sociedade europeia vê-se em um turbilhão de mudanças


significativas. Em primeiro lugar, temos o surgimento do capitalismo em sua forma mercantilista
— quando os Estados recém-formados e unificados começam a traçar acordos comerciais e
estabelecer novas rotas para compra e venda de produtos. Ademais, temos uma classe social que
havia surgido no fim da Idade Média e começava a fortalecer-se, sobretudo em alguns lugares da
Europa, como França e Itália, devido à participação no comércio mercantilista: essa classe é a
burguesia.
O fortalecimento da burguesia levou ao maior investimento na navegação e na descoberta
de novas rotas comerciais pelos oceanos. Todo esse processo culminou na chegada e colonização
dos povos europeus (em especial portugueses, espanhóis e, mais tarde, ingleses) em terras do
continente americano, que até então eram desconhecidas pelos povos da Europa, da Ásia, da Índia
e da África.
O contato do homem branco com os nativos da América despertou nos europeus,
detentores de uma maior tecnologia para a época em alguns aspectos, a ideia de que eram
superiores culturalmente. Ao mesmo tempo, o europeu tinha curiosidade pela cultura e pelo modo
de vida dos povos americanos, o que levou os primeiros exploradores das terras americanas a
tentarem entender e classificar a cultura nativa.
Isso resultou em um contato extremamente etnocentrista, pois o europeu via o nativo
como inferior. Não obstante, esse contato também serviu como base para os primeiros sinais de
um conhecimento que mais tarde fará parte do amplo conjunto de estudos, que, junto à sociologia,
faz parte das ciências sociais: a antropologia.
Mais tarde, a Europa viveu outras revoluções, dessa vez mais rápidas e intensas: a
Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Na Inglaterra começam a surgir as primeiras
indústrias, empreendidas por uma parte da burguesia que havia enriquecido muito com o comércio
e com o empréstimo de dinheiro. No início do século XIX, o modo de produção industrial tomava
conta de grandes centros urbanos europeus, como Londres e Paris.
Por conta disso, houve intenso êxodo rural nesses locais, o que ocasionou uma explosão
demográfica, seguida por vários problemas sociais decorridos da falta de emprego para todos:
fome, miséria, violência, condições precárias de saneamento e, consequentemente, alastramento
de epidemias. A vida nos centros urbanos para a população mais pobre era caótica. Mesmo para
aqueles que conseguiam trabalhar nas indústrias, a vida era difícil, devido à desumana exploração
de sua mão de obra por parte da burguesia, o que resultou em exaustivas jornadas de trabalho e
baixa remuneração.
No final do século XVIII, a Revolução Francesa causou um longo período de
instabilidade política para os franceses, que, após o fim do Antigo Regime (a monarquia), viram-
se diante de um vazio político que resultou em diversas experiências políticas, muitas das quais
fracassaram. O cenário era de instabilidade política e econômica, fome, violência e desordem
social.
Diante disso, o filósofo francês Augusto Comte idealizou um projeto de melhoria e
progresso social com base em um movimento que ficou conhecido como positivismo. O
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positivismo tinha como objetivo trazer o progresso à sociedade por meio do avanço científico,
tecnológico, da ordem social e da disciplina individual.

Auguste Comte foi o criador do positivismo

Para concretizar o seu projeto, Comte aceitou como necessária a criação de uma nova
ciência que, tal como as ciências naturais, estudasse e classificasse a sociedade, a fim de entendê-
la e modificá-la. No início, essa ciência foi batizada por Comte de física social. Mais tarde, ela
seria nomeada pelo mesmo pensador como sociologia, que significa: ciência da sociedade. Assim,
Comte ficou conhecido como o “pai” da sociologia.
Apesar de propor a criação da ciência da sociedade, o trabalho de Comte, assentado no
positivismo, não foi capaz de estabelecer um método preciso e único para o correto funcionamento
da sociologia, pois não avançou muito além da especulação e da problematização filosófica. Diante
disso, o escritor, professor, psicólogo e filósofo francês Émile Durkheim, ao resgatar e criticar o
positivismo de Comte, estabelece o primeiro método de análise sociológica, baseado no que o
pensador chamou de reconhecimento dos fatos sociais.
Esse feito foi considerado o estabelecimento da sociologia como ciência bem estruturada,
o que tornou Durkheim o primeiro sociólogo de fato. Esse, que era professor universitário, também
introduziu a sociologia como disciplina no Ensino Superior, nos cursos de Direito, Psicologia e
Pedagogia.
Além de Durkheim, Karl Marx e Max Weber apresentaram métodos significativos para
os estudos sociológicos, o que colocou esses três pensadores como a tríade da sociologia clássica.
Para Marx, a sociologia deveria basear-se na produção material da sociedade, vista pelo pensador
como uma histórica luta de classes entre exploradores e explorados, o que deu origem ao método
materialista histórico-dialético. Para Weber, a sociedade era composta pelo conjunto de ações
humanas individuais, que deveriam pautar-se por modelos ideais para que fossem analisadas e
comparadas.
O trabalho de Max Weber influenciou as áreas da sociologia, filosofia, ciência política,
administração e do direito.
Por meio dos três primeiros métodos clássicos, a sociologia desenvolveu-se e incorporou
a si o estudo de outras ciências que, juntas, compõem o conjunto das ciências sociais. São elas: a
antropologia, a ciência política e a economia.

Para que serve a sociologia

A importância da sociologia é compreendida com base em seu modelo utilitário, o que a


difere da filosofia. Enquanto, esta se apresenta como um conjunto de saberes não organizados
cientificamente e que têm uma finalidade em si mesmos, ou uma finalidade no próprio
conhecimento, aquela é uma ciência. Enquanto ciência, a sociologia tem uma finalidade exterior a
si.
O trabalho do sociólogo serve para identificar, classificar e analisar a organização social
como um todo. Partindo do comportamento individual (com elementos da psicologia) e do
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comportamento social, o sociólogo tenta compreender a sociedade a fim de apresentar teorias que
possam permitir a intervenção social por meio de outras ciências e técnicas.
A sociologia tenta entender a sociedade como um todo, mas busca elementos nas suas
áreas afins, como a economia (que estuda os aspectos econômicos gerais de uma sociedade, como
produção e relação financeira), a antropologia (que estuda o ser humano por meio sua cultura e de
suas origens) e a ciência política (que se dedica a entender as organizações políticas e os modos
de organização do ser humano em sociedade, envolvendo noções como governo, Estado etc.).
Os resultados científicos obtidos pela sociologia servirão de base para a intervenção social
de outros profissionais de outras áreas do conhecimento. Um jurista ou um advogado, por exemplo,
precisam conhecer bem essa área para que tenham uma visão maior e mais ampla dos crimes e das
leis, entendendo esses elementos como peças de uma complexa sociedade. Um arquiteto urbanista
precisa compreender a sociedade e suas organizações para estabelecer os melhores meios de
projetar casas e cidades que melhor satisfaçam as necessidades sociais.
Quando um médico se depara com uma possível epidemia ou com a simples repetição de
doenças e sintomas, ele pode aliar os estudos de diagnóstico clínico individual nos pacientes aos
conhecimentos sociológicos, para tentar compreender uma possível origem social dos problemas
de saúde.

1.1. Ciências sociais e ciências da natureza

Diferenças entre Ciências Sociais e Ciências Naturais

Ciências sociais e ciências naturais são dois campos de estudo com diferenças
consideráveis. A ciência social é qualquer estudo que está centrado na sociedade e seu
desenvolvimento. Assim, ciências sociais incluem uma variedade de campos, tais como a
antropologia, educação, economia, relações internacionais, ciência política, história, geografia,
psicologia, direito, criminologia e similares.
Antropologia é uma ciência social que lida com a história do homem. A economia é uma
ciência social que estuda as várias teorias e problemas relacionados com a produção de bens,
distribuição de bens e, claro, o consumo de riqueza.
Por outro lado, ciências naturais são os ramos da ciência que estudam os detalhes do
mundo natural através de métodos científicos. É importante saber que as ciências naturais
empregam métodos científicos para ir fundo em detalhes sobre o comportamento natural e
condição natural. Esta é a principal diferença entre ciências sociais e ciências naturais.
Ciências como a lógica, matemática e estatística são chamadas de ciências formais e elas
também são diferentes das ciências naturais. Astronomia, Biologia, Ciências da Terra, Física,
Química, Oceanografia, Ciências de Materiais e Ciências Atmosféricas são algumas das ciências
naturais bem conhecidas.
É interessante notar que temas como meteorologia, hidrologia, geofísica e geologia
também se enquadram como ciências naturais uma vez que todas elas envolvem métodos
científicos na sua abordagem.
Estas são as principais diferenças entre dois termos importantes, a saber, as ciências
sociais e as ciências naturais.
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1.2. A sociologia como ciência da sociedade

O que a sociologia estuda?

O sociólogo tem a missão de estudar a sociedade como um todo organizado por pessoas
em comunidades. Os meios para isso são hoje os mais variados, o que permite ao profissional em
questão tentar compreender vários aspectos sociais, como violência, globalização, guerras,
consumo, expectativa de vida, organização das cidades, exclusão social etc.
A sociologia tem como objetivo a compreensão da sociedade
Os métodos para essa compreensão também são variados. Como a sociologia é uma
ciência, ela precisa de garantias metodológicas para que o seu trabalho seja confiável. Por isso, é
necessário que o sociólogo se atente para padrões de repetição dos fenômenos, a fim de estabelecer
um padrão de comportamento social. Além disso, o sociólogo utiliza dados fornecidos por
entrevistas individuais com pessoas de um mesmo grupo social ou de grupos diferentes e, como
ferramenta de comparação, utiliza um ramo da matemática chamado estatística.
Sociologia e psicologia
Em alguns aspectos, podemos dizer que a sociologia e a psicologia caminham juntas e
que têm métodos parecidos, porém com amplitudes diferentes. Enquanto a sociologia busca
compreender o social, a psicologia procura a compreensão do individual. Enquanto a sociologia
busca compreender uma sociedade por meio de seus indivíduos (e recorre à psicologia para
compreender o que é da ordem do individual), a psicologia busca entender o indivíduo baseando-
se muitas vezes na sociedade em que esse está inserido (recorrendo à sociologia para tal
compreensão).
Sociologia e filosofia
Muitas pessoas pensam que sociologia e filosofia são a mesma coisa ou que são
essencialmente parecidas. Essa crença, no entanto, é fruto de uma generalização do senso comum.
Assim como as outras tantas ciências, a sociologia surgiu graças a um trabalho filosófico iniciado
pelos primeiros pensadores ocidentais no século VI a.C. No entanto, são várias as especificações
que a tornam uma ciência e um ramo do saber completamente distinto da filosofia.
Muitas vezes os sociólogos recorrem à filosofia para desenvolverem seus estudos. No
entanto, somente isso não é suficiente para estabelecer um vínculo de igualdade entre as duas áreas
do saber, inclusive porque, enquanto a sociologia é considerada uma ciência, a filosofia é
considerada um conjunto teórico de conhecimentos que visam produzir e movimentar o saber
teórico e abstrato.
Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia
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ATIVIDADES

QUESTÃO 1
(UEM - 2011) - O evolucionismo social do século XIX teve um papel fundamental na
constituição da sociologia como ramo científico. Sobre essa corrente de pensamento, que reunia
autores como Augusto Comte e Herbert Spencer, assinale o que for correto.
a) O evolucionismo define que as estruturas, naturais ou sociais, passam por processo de
diferenciação e integração que levam ao seu aprimoramento.
b) O evolucionismo propõe que a evolução das sociedades ocorre em estágios
sucessivos de racionalização.
c) O evolucionismo considera o Estado Militar como a forma mais evoluída de
organização social, fundamentada na cooperação interna e obrigatória.
d) O evolucionismo rejeita o modelo político e econômico liberal, baseado na livre
iniciativa e no laissez-faire, considerando-o uma orientação contrária à evolução social.
e) O evolucionismo defende a unidade biológica e cognitiva da espécie humana,
independente de variações particulares.

QUESTÃO 2
(UEM - 2011) - Sobre a relação entre a revolução industrial e o surgimento da
sociologia como ciência, assinale o que for correto.
a) A consolidação do modelo econômico baseado na indústria conduziu a uma grande
concentração da população no ambiente urbano, o qual acabou se constituindo em laboratório
para o trabalho de intelectuais interessados no estudo dos problemas que essa nova realidade
social gerava.
b) A migração de grandes contingentes populacionais do campo para as cidades gerou
uma série de problemas modernos, que passaram a demandar investigações visando à sua
resolução ou minimização.
c) Os primeiros intelectuais interessados no estudo dos fenômenos provocados pela
revolução industrial compartilhavam uma perspectiva positiva sobre os efeitos do
desenvolvimento econômico baseado no modelo capitalista.
d) Os conflitos entre capital e trabalho, potencializados pela concentração dos operários
nas fábricas, foram tema de pesquisa dos precursores da sociologia e continuam inspirando
debates científicos relevantes na atualidade.
e) A necessidade de controle da força de trabalho fez com que as fábricas e indústrias do
século XIX inserissem sociólogos em seus quadros profissionais, para atuarem no
desenvolvimento de modelos de gestão mais eficientes e produtivos.

QUESTÃO 3
A sociologia surgiu para suprir a necessidade de se entender os fenômenos sociais e as
regras fundamentais pelas quais se baseiam nossas relações. Entretanto, a sociologia
contemporânea difere-se da ideia original, na medida em que:
a) entende-se que as sociedades são como organismos vivos, com leis de funcionamento
estabelecidas e imutáveis.
b) é amplamente aceito que as diferenças raciais determinam características do convívio
do sujeito, uma vez que é a raça que estabelece o comportamento social.
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c) entende-se que as sociedades e as relações sociais possuem infinitas variações, não


sendo possível traçar leis gerais que justifiquem ou expliquem, em termos absolutos, todas as
formas de interação humana no mundo social.
d) deixou de ser uma área do conhecimento válida, uma vez que não é possível estudar
uma sociedade em razão da enorme quantidade de diferenças entre os sujeitos que a compõem.

QUESTÃO 4
O autor considerado “pai” da sociologia, Augusto Comte, acreditava que a nova ciência
das sociedades deveria igualar-se às demais ciências da natureza que se pautavam pelos
fenômenos observáveis e mensuráveis para que assim fosse possível apreender as regras gerais
que regem o mundo social do indivíduo. Essa perspectiva ideológica é chamada de:
a) Iluminismo.
b) Darwinismo.
c) Dadaísmo.
d) Positivismo.

RESPOSTAS
Questão 1
A alternativa “B” é a correta. O evolucionismo social define que os estágios anteriores de
primitivismo social só são superados mediante a racionalização do mundo e do ser humano, em
uma lógica eurocêntrica que via o restante do mundo como “bárbaros” ou “primitivos”.

Questão 2
A alternativa “A” é a correta. A ideia de uma ciência voltada para o estudo das
sociedades e os fenômenos sociais surgiu inicialmente com Augusto Comte nas suas observações
dos novos fenômenos sociais que surgiam em meio à Revolução Industrial, estabelecendo-se
mais tarde propriamente como “Sociologia” com os trabalhos de Émile Durkheim.

Questão 3
A alternativa “C” é a correta. A sociologia contemporânea perdeu seu intuito de buscar
leis e regras gerais para explicar os fenômenos sociais que estuda. Na busca pelo entendimento, a
sociologia volta-se para a observação de casos individuais ou em grande escala para entender as
possíveis motivações e consequências do fenômeno.

Questão 4
A alternativa “D” é a correta. Augusto Comte foi um dos principais autores do
positivismo, que entendia que o verdadeiro conhecimento só era construído por meio da
experimentação sensível do objeto de estudo. A utilização do método científico de mensuração,
experimentação e observação tinha por finalidade estabelecer leis e regras fundamentais para o
funcionamento dos fenômenos observados.
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1.3. O senso comum e a Sociologia

Em outras áreas do conhecimento, as fronteiras entre a prática disciplinada e o senso


comum são bastante nítidas. Pensemos, por exemplo, na Física e na Biologia: elas não se
preocupam em enunciar sua relação com o senso comum, porque, afinal, elas apostam na
“descoberta” de novos mundos, de novos conhecimentos sobre a natureza, que se distanciam dos
saberes comumente compartilhados na sociedade.
Também em várias ciências humanas essa diferença entre o senso comum e o saber
científico é nítido. O (A) linguista pode ter interesse na descoberta de uma nova sintaxe falada por
segmentos populacionais de uma grande cidade ou por povos tradicionais, isto é, por pessoas que
não precisam dominar a linguística para usarem cotidianamente sua língua. O (A) historiador (a)
pode encantar-se com os rituais de casamentos de sociedades antigas a despeito do fato de que
também em nossa sociedade as pessoas casam-se, ainda que tais cerimoniais possam ser diferentes
e motivados por sentidos diversos, isto é, com outros significados. O (A) economista pode querer
explicar o funcionamento do mercado e as taxas de juros cotidianamente praticadas no nosso dia
a dia, mas seu conhecimento sobre economia é de natureza muito diferente daquela do consumidor
cotidiano.
O que queremos dizer com isso é que, para a Sociologia, a sintaxe falada pelas pessoas,
os rituais de casamento de nossa própria sociedade, a compra e a venda de mercadorias no nosso
dia a dia, em suma, tudo aquilo que estamos acostumados a praticar cotidianamente, constituem
seu objeto de estudo; assim como os próprios procedimentos científicos, incluindo os da
Sociologia.
Nem é preciso dizer que tudo o que constitui o conjunto das ciências interfere diretamente
em nossas vidas: o conhecimento da Física e da Botânica, por exemplo, baliza nossa relação com
a natureza, com o ecossistema, e gera consequências diversas – da bomba atômica ao uso racional
dos recursos naturais –; o conhecimento dos economistas pode
garantir tanto uma melhor distribuição de renda e menor
desigualdade social como a alteração no quantitativo de empregos
e de renda, o aumento ou a diminuição da taxa de juros etc.; o
conhecimento histórico do passado de nossas sociedades pode
contribuir tanto para construir e reforçar identidades regionais ou
nacionais como para induzir a mudanças políticas impactantes. Na
maior parte das vezes, os saberes científicos acumulados das mais
diversas áreas do conhecimento tornam-se vivenciados e sentidos
cotidianamente e, portanto, parte integrante da nossa própria
experiência, da nossa rotina. Em suma, constituem-se em
“conhecimento prático orientado para os parâmetros sociais pelos
quais interagimos” (BAUMANN; MAY, 2010, p. 19).
Ocorre, todavia, que aquilo que entendemos ser o “senso
comum”, isto é, essa gama de conhecimentos tácitos – ricos, mas desordenados, não sistemáticos,
desarticulados –, permite-nos lidar com as situações do nosso dia a dia, mas, frequentemente, não
é refletido em nossas rotinas. Ou seja, poucos são os momentos e as situações em que paramos
para pensar sobre o significado daquilo que muitos de nós vivenciamos e/ou reproduzimos. Menos
frequente ainda é compararmos nossa rotina com a de outras sociedades, comunidades e grupos
sociais. Muitas vezes, creditamos alguns impasses que vivenciamos a questões pessoais,
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individuais ou, no máximo, familiares e julgamos o comportamento alheio a partir de escolhas


morais tomadas sem conexão ou diálogo com “o outro”. Nesse sentido, em primeiro lugar, a
Sociologia busca subordinar o senso comum a algumas regras cognitivas, procura exercer sobre
as rotinas não pensadas uma espécie de controle ou, nas palavras de Bauman, estabelecer regras
de uma “responsabilidade discursiva” que possa ser sempre aberta à verificação de outros(as)
sociólogos(as).

Assim, a crença na credibilidade da ciência – no caso, da


Sociologia – apoia-se na “esperança de que os cientistas tenham seguido as
regras do discurso responsável” (BAUMAN; MAY, 2010, p. 21).

Uma segunda questão que envolve a relação entre Sociologia e


senso comum diz respeito ao tamanho do campo que pode ser explorado
pela Sociologia. Para a maioria de nós, esse campo resume-se à observação
dos nossos próprios “mundos da vida”, isto é, das nossas interações
cotidianas, dos motivos que damos para nossas ações ou presumimos para
as ações dos(as) outros(as), essa atitude é, geralmente, parcial e unidimensional. Já a Sociologia
coloca em relação esses vários mundos, essa multiplicidade de experiências. Enfim, transcende o
“mundo vivido” individual ou grupalmente em busca de um sentido mais amplo, em que essa
complexa rede de interdependências e interconexões possa ser revelada.
Uma terceira diferença entre senso comum e sociologia está no sentido que cada um de
nós atribui à vida humana, isto é, à relação entre nossa trajetória individual e eventos e
circunstâncias relacionados a ela. Tendemos a atribuir, muitas vezes, demasiada intencionalidade
a situações que nos atingem diretamente: boa vontade de alguém para nosso sucesso, más intenções
quando algo nos prejudica. Essa compreensão radica-se no pressuposto, de certa forma ingênuo,
de que somos os(as) únicos(as) “autores(as)” de nossas próprias vidas. Na verdade, há uma rede
de relações e de interdependências cujos resultados não intencionais e não previstos regem o
conjunto de interações da vida humana. Nesse sentido, pensar criticamente a relação entre
indivíduo e sociedade é o pressuposto básico da Sociologia.
Em suma, a Sociologia busca abordar e desafiar o conhecimento compartilhado sobre
nossas rotinas, em geral tidas como auto evidentes, inquestionáveis, fundadas numa crença de que
elas são, por serem tão familiares, “naturais” e “imutáveis”. Nesse sentido, a Sociologia, sempre
em diálogo com outras ciências humanas, propõe perguntas que têm o poder colocar em questão
nossas certezas e convicções. Ela nos convida a desfamiliarizar o mundo vivido.
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“Pensar sociologicamente é dar sentido à condição humana por meio de uma


análise das numerosas teias de interdependência humana – aquelas mais árduas realidades
a que nos referimos para explicar nossos motivos e os efeitos de suas ativações. [...]
Quando aborda e desafia nosso conhecimento partilhado, a sociologia nos incita e encoraja
a reacessar nossas experiências, a descobrir novas possibilidades e a nos tornar, afinal,
mais abertos e menos acomodados à ideia de que aprender sobre nós mesmos e os outros
leva a um ponto final, em lugar de constituir um processo dinâmico e estimulante cujo
objetivo é a maior compreensão. Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis
e tolerantes em relação à diversidade, daí decorrendo sentidos afiados e olhos abertos para
novos horizontes além das experiências imediatas, a fim de que possamos explorar
condições humanas até então relativamente invisíveis. [...] A arte de pensar
sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática da liberdade.
Quanto mais disso aprender, mais o indivíduo será flexível diante da opressão e do
controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação.” (BAUMAN, Z.; MAY, T.
Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010, p. 25-26.)

1.4. A sociedade na cabeça de cada um

As representações sobre os fatos sociais são representações coletivas, são percebidas em


coletivo. É como se houvesse dois de nós dentro de nós mesmos: um ser individual, em cuja cabeça
existem estados mentais referentes apenas a nossa pessoa, a nossa vida como indivíduos, e, ao
mesmo tempo, um ser social. Na cabeça desse ser social que habita em nós não trafegam apenas
estados mentais pessoais, mas um conjunto de crenças, de hábitos, de valores, os quais não revelam
coisas que "pensamos com nossa própria cabeça" (se é que tal coisa poderia existir, na visão de
Durkheim). A sociedade vive na cabeça de cada um e, assim como o Cristo bíblico, onde dois ou
mais estiverem reunidos em seu nome ela estará no meio deles. Mais que isso até, pois se
destacarmos um único indivíduo da sociedade onde ele vive e o levarmos para outra sociedade ou
mesmo para uma ilha deserta, ele levará um pouco da sociedade consigo, dentro de sua cabeça.
Lembram-se do modo como Robinson Crusoé sobreviveu após o naufrágio? Pois é, foi graças à
sociedade e seus saberes, que viviam dentro de sua cabeça, apesar da ausência física das demais
pessoas. Portanto, não apenas o indivíduo faz parte da sociedade, uma parte da sociedade faz parte
dele. Na construção do resultado comum dessa colaboração, diz Durkheim, cada um entra com sua
quota-parte; mas os sentimentos privados só se tornam sociais quando se combinam entre si, são
compartilhados e geram em decorrência algo novo. Por causa das combinações e das mutações
que sofrem ao se combinarem, os sentimentos individuais se transformam em outra coisa. Esta
sociedade viva na cabeça de cada indivíduo e ao mesmo tempo exterior a cada pessoa e que a
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obriga a comportar-se conforme o desejo da sociedade, não existe individualmente, mas somente
pela cooperação, entre os indivíduos.
https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/a-Sociedade-Na-Cabe%C3%A7a-De-
Cada/61406995.html

Indivíduos e instituições sociais

Ao estudarmos o primeiro capítulo deste caderno, vimos que o foco da Psicologia Social
é estudar o comportamento de indivíduos no que ele é influenciado socialmente. Estudamos que
nós nos tornamos sociais quando nascemos, ou até mesmo antes, devido nossas condições
históricas. Mas como isso acontece? Em todos os momentos da nossa vida, diante da nossa
formação filogenética e ontogenética, somos influenciados pelos meios sociais. Então, não
podemos dizer que o homem é um ser isolado. Somos seres individualizados e, ao mesmo tempo,
coletivos, somos influenciados pela sociedade a partir das relações culturais. Por isso, estudar o
processo de socialização, os agentes socializadores e a cultura e o conceito de identidade social é
de fundamental importância para você compreender os problemas sociais que ocorrem atualmente
na nossa sociedade. Então, convido você a conhecer um pouco mais sobre nós mesmos!
O propósito desta seção é levá-lo a compreender a relação indissociável entre indivíduo,
sociedade e cultura; e a entender o que é identidade social, a partir do processo de socialização do
indivíduo. Para que você tenha um excelente êxito, especialmente neste capítulo, é preciso ter
noção do que foi apresentado anteriormente, especificadamente o objeto de estudo da Psicologia
Social, a partir de uma perspectiva histórico-social, visto que ela é uma ciência que se preocupa
em estudar a interação social que envolve o pensamento que também é social. Caso ainda tenha
dúvidas sobre esse assunto, sugerimos que retome aos nossos estudos do capítulo um, e que faça
uma pesquisa na internet sobre esse assunto no sitio . A compreensão desses conceitos é
importante, pois neste estudo, começaremos a ampliar nossas discussões a respeito da temática e
perceberemos que, desde que somos concebidos, interagimos movidos por uma inadiável
necessidade humana. Para compreender o porquê dessa necessidade, deveremos estudar os agentes
socializadores que contribuem para o nosso processo de socialização e formação da personalidade,
bem o conceito de identidade social.

Culturas Sociais
O indivíduo: ser social Cada indivíduo, ao nascer, segundo Strey (2002, p. 59), “encontra-
se num sistema social criado através de gerações já existentes e que é assimilado por meio de inter-
relações sociais”. O homem, desde seus primórdios, é considerado um ser de relações sociais, que
incorpora normas, valores vigentes na família, em seus pares, na sociedade. Assim, a formação da
personalidade do ser humano é decorrente, segundo Savoia (1989, p. 54), “de um processo de
socialização, no qual intervêm fatores inatos e adquiridos”. Entende-se, por fatores inatos, aquilo
que herdamos geneticamente dos nossos familiares, e os fatores adquiridos provém da natureza
social e cultural. Reflita Lembre-se: personalidade é um somatório sincrético, resultante da ação
dos fatores hereditários/genéticos (constituição física, caracteres morfológicos e físico-químicos)
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e dos ambientais (interação entre as pessoas e o mundo, que envolve os hábitos, valores,
capacidades, aspirações, etc.), ou seja, diz respeito à “totalidade daquilo que somos” (PISANI,
1996, p. 14).
Então, a nossa personalidade é reconhecida diante do papel que nós representamos, por
meio das nossas ações. E as nossas condutas é produto de socialização. O homem é um animal que
depende de interação para receber afeto, cuidados e até mesmo para se manter vivo. Somos animais
sociais, pois o fato de ouvir, tocar, sentir, ver o outro fazem parte da nossa natureza social. O ser
humano precisa se relacionar com os outros por diversos motivos: por necessidade de se
comunicar, de aprender, de ensinar, de dizer que ama o seu próximo, de exigir melhores condições
de vida, bem como de melhorar o seu ambiente externo, de expressar seus desejos e vontades.
Essas relações que vão se efetivando entre indivíduos e indivíduos, indivíduos e grupos, grupos e
grupos, indivíduo e organização, organização-organização, surgem por meio de necessidades
específicas, identificadas por cada um, de acordo com seu interesse.
Vivemos em diversos grupos (familiares, de vizinho, de amigos, de trabalho) nos quais
interagimos e crescemos. Os mais diversos grupos sociais influenciam na vida do indivíduo. O
indivíduo tem, para si, claras as características que o diferencia dos demais, como seus fatores
biológicos, seu corpo físico, seus traços, sua psiquê que envolve emoções, sentimentos, volições,
temperamento. Todavia, o indivíduo, como objeto de estudo da psicologia social e da sociologia,
é considerado, segundo Ramos (2003, p. 238), da seguinte maneira: indivíduo dentro dos seus
padrões sociais, vive em sociedade, como membro do grupo, como “pessoa”, como “socius”.
A própria consciência da sua individualidade, ele a adquire como membro do grupo
social, visto que é determinada pelas relações entre o “eu” e os “outros”, entre o grupo interno e o
grupo externo. Entende-se por grupos internos o grupo de família, da escola. São os grupos de
igualdade de atitudes, de opiniões. Já os grupos externos correspondem a grupos no qual não
pertencemos, como por exemplo, as famílias que passam nas ruas, que encontramos em clubes
sociais e esportivos etc.
Então, quando estudamos sobre o indivíduo, percebemos a forma como ele organiza o
seu pensamento, seu comportamento. Assim, iremos concluir que essa construção e organização
ocorrem, a partir do contato que tem com o outro. Por isso, temos a necessidade de estudar não só
o indivíduo enquanto ser social, mas este influenciado por padrões culturais diante da sociedade
em que vive, pois a cultura fornece regras específicas. Assim, para compreendermos o indivíduo
e a sociedade, precisamos entender a cultura à qual pertencemos.

Cultura

O indivíduo, enquanto ser particular e social, desenvolve-se em um contexto


multicultural, em que temos regras, padrões, crenças, valores, identidades muito diferenciadas.
Assim, a cultura torna-se um processo de “intercâmbio” entre indivíduos, grupos e sociedades. A
partir do momento em que faz uso da linguagem, o indivíduo se encontra em um processo cultural,
que, por meio de símbolos, reproduz o contexto cultural que vivencia.
Strey (2002) aponta que o indivíduo tanto cria como mantém a sua cultura presente na
sociedade. Cada sociedade humana tem a sua própria cultura, característica expressa e identificada
pelo comportamento do indivíduo.
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Segundo Strey (2002, p. 58), “o homem é também um animal, mas um animal que difere
dos outros por ser cultural”. Para ele, a cultura refere-se ao conjunto de hábitos, regras sociais,
intuições, tipos de relacionamento interpessoal de um determinado grupo, aprendidos no contexto
das atividades grupais. Assim, não podemos considerar a cultura como algo isolado, mas como
um conjunto, integrado de características comportamentais aprendidas. Essas características são
manifestadas pelos sujeitos de uma sociedade e compartilhadas por todos. Com isso, a cultura
refere-se ao modo de vida total de um grupo humano, compreendendo seus elementos naturais,
não naturais e ideológicos.
Segundo Ramos (2003, p. 265), “as culturas penetram o indivíduo [...] da mesma forma
que as instituições sociais determinam estruturas psicológicas [...] o homem pensa e age dentro do
seu ciclo de cultura”.
Partindo desses princípios, devemos considerar o indivíduo como sujeito ativo no
contexto cultural. Ele tem a liberdade de tomar decisões, por meio de novas interpretações. Ele
recebe a informação e constrói, criativa e coletivamente, um processo cultural voltado à época
histórica atual que vivencia. Ele mesmo constrói suas regras, por meio das atividades coletivas,
podendo alterá-las, da mesma forma que é afetado por elas.
Podemos considerar a cultura como uma herança social, que é transmitida por
ensinamento a cada nova geração. Portanto, devemos conhecer a realidade cultural do indivíduo
para compreender suas práticas, costumes, concepções e as transformações que ocorrem na sua
vida. E é nessa realidade sociocultural que o indivíduo se socializa. Sua personalidade, suas
atitudes, opiniões se formam a partir dessas relações sociocultural, em que controla e planeja suas
próprias atividades.
Assim, Savoia (1989, p. 55) garante que “o processo de socialização consiste em uma
aprendizagem social, através da qual aprendemos comportamentos sociais considerados
adequados ou não e que motivam os membros da própria sociedade a nos elogiar ou a nos punir”.
Daí a necessidade de estudarmos os agentes socializados do processo de socialização. Veja!

Agentes socializadores do processo de socialização

Bom! Vimos que nós fazemos parte de diversos grupos sociais e que é por meio desses
grupos que o nosso processo de socialização ocorre. Temos, então, como agentes socializadores,
de acordo com Savoia (1989), três grupos: a família, a escola (agentes básicos) e os meios de
comunicação em massa. O primeiro contato que o ser humano tem, ao nascer, é a família:
primeiramente, com a mãe, por meio dos cuidados físicos e afetivos, e, paralelamente, com o pai
e os irmãos, que transmitem atitudes, crenças e valores que influenciarão no seu desenvolvimento
psicossocial.
Num segundo momento, tem a interferência da escola. Geralmente, nessa fase, o
indivíduo já traz consigo referências de comportamentos, de orientação pessoal básica, devido ao
contato inicial com a família. Já os meios de comunicação em massa são considerados como agente
socializador, diante das inovações tecnológicas na atualidade histórica, porém nem sempre eles
têm consciência do seu papel no processo de socialização e na formação da personalidade do
indivíduo. Na família e na escola, existe uma relação didática e, com a TV, a relação é diferente,
visto que a comunicação é direta e impessoal (SAVOIA, 1989).
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O processo de socialização ocorre durante toda a vida do indivíduo (SAVOIA, 1989); por
isso, esse processo é dividido em etapas:
 socialização primária: ocorre na infância com os agentes socializadores citados
anteriormente, que exercem uma influência significativa na formação da personalidade social;
 socialização secundária: ocorre na idade adulta. Geralmente, nessa etapa, o indivíduo
já se encontra com sua personalidade relativamente formada, o que caracteriza certa estabilidade
de comportamento. Isso faz com que a ação dos agentes seja mais superficial, mas abalos
estruturais podem ocorrer, gerando crises pessoais mais ou menos intensas. Nesse momento,
surgem outros grupos que se tornam agentes socializadores, como grupo do trabalho;
 socialização terciária: ocorre na velhice. Pela própria fase de vida, o indivíduo pode
sofrer crises pessoais, haja vista que o mundo social do idoso muitas vezes se torna restrito (deixa
de pertencer a alguns grupos sociais) e monótono. Nessa fase, o indivíduo pode sofrer uma
dessocialização, em decorrência das alterações que ocorrem, em relação a critérios e valores. E,
concomitantemente, o indivíduo, nesta fase, começa um novo processo de aprendizagem social
para as possíveis adaptações a nova fase da vida, o que implica em uma ressocialização.
Todo esse processo de socialização que os seres humanos vivenciam está ligado à cultura
do indivíduo, como também a uma estruturação de comportamentos, à medida que aprendemos e
os internalizamos. Essa estruturação e atribuição de significados ocorrem por meio da interação
com os outros. Isso faz com que criamos expectativas sobre esses comportamentos diante do grupo
social, desenvolvendo papéis sociais, pois o processo de socialização pode ser visto também como
um processo pelo qual cada indivíduo configura seu conjunto de papéis.

Papéis sociais

Ao nascer, já temos alguns papéis prescritos como idade, sexo ou posição familiar. À
medida que adquirimos novas experiências, ampliando nossas relações, vamos nos transformando,
adquirindo outros papéis que são definidos pela sociedade e cultura (SAVOIA, 1989). Em cada
grupo no qual relacionamos, deparamo-nos com normas que conduzem as relações entre as
pessoas, algumas são mais sutis, outras mais rígidas. São essas normas que caracterizam
essencialmente os papéis sociais e que produzem as relações sociais (LANE, 2006).
Reflita Quais são os papéis que você adquiriu ao longo da sua história de vida? Você é a
mesma pessoa de quando nasceu? Fazer uma retrospectiva da sua história pode ajudar a você a
elucidar essas questões, além de reconhecer sua trajetória de vida, suas experiências que foram
importantes no seu processo de socialização e formação da personalidade. Perceberá que, ao longo
do tempo, adquiriu vários papéis sociais, com novas responsabilidades também sociais, como por
exemplo: os papéis profissionais, os papéis de estudante.
Entende-se que os papéis que adquirimos nas nossas experiências e relações vão designar
o modelo de comportamento que caracteriza nosso lugar na sociedade. Esses papéis podem ser
objetivos ou subjetivos. Em relação a isso, Savoia (1989, p. 57) assevera que outro aspecto do
papel social é que ele pode ser objetivo – aquilo que os outros esperam de nós, ou subjetivo -,
como cada indivíduo assume os papéis de modo mais ou menos fiel aos modelos vigentes na
sociedade. Quando esses dois aspectos não coincidem, podem transformar-se em obstáculo na
interação social. Isso significa que a objetividade e a subjetividade se configuram como um
processo dialético de desenvolvimento da configuração social, dinâmico, e está em constante
interação na vida do indivíduo, como ser histórico, capaz de promover transformações sociais,
visto que o desempenho do papel nunca é solitário.
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Porque desempenhamos vários papéis sociais (de filha(o), pai ou mãe, patrão ou
empregado), estes podem se cruzar por meio de uma situação divergente gerando conflito de
papéis. Essas incompatibilidades podem ocorrer por diferentes motivos, como, por exemplo, o
conflito de valores, que Pisani (1996, p. 140) cita: “um cientista pode perceber que seus valores
religiosos não se coadunam com a experiência de laboratório que precisa desenvolver”.
O que se percebe é que o conflito de papéis pode variar quanto à intensidade, diante da
importância que se dá a cada papel de conflito, o que pode provocar perturbações na pessoa. Além
disso, dependendo do papel que o indivíduo exerce, ele adquire um lugar na sociedade que é
denominado de status, que, juntamente com os papéis sociais, determinam sua posição social
(PISANI, 1996).
Então, papel é o comportamento, a ação, enquanto o status é o prestígio que se adquire.
Savoia (1989, p. 60) afirma que “o papel é o comportamento que os outros esperam de nós e o
status é o que acreditamos ser”. Nesse sentido, os papéis que desempenhamos e os status que
acreditamos ter, diante da sociedade, explicam nossa individualidade, nossa identidade social e
consciência de-si-mesmo que adquirimos, a partir das nossas relações sociais. Assunto esse que
abordaremos a seguir.

Identidade social e consciência de si mesmo

Se alguém perguntar a você sobre quem é você, o que responderia? E se perguntassem


sobre a sua identidade, como a definiria? Procure responder esses questionamentos, antes de dar
continuidade a leitura do capítulo. E aí? Parou para pensar? Agora pergunto: já nascemos com a
nossa identidade definida? Se procurar responder esses questionamentos, você perceberá que não
é tão simples respondê-los. Existem vários fatores que precisamos discutir e conhecer. Então,
vamos mergulhar nessas páginas que nos ajudarão não somente a compreender os outros, mas a
nós mesmos.
Vamos lá! Dar a resposta de “quem sou eu” é fazer uma representação da nossa
identidade. Mas é preciso analisar como se dá esse processo. Muitas vezes, tendenciamos
responder a esse questionamento, falando das nossas características físicas, sexo, características
da personalidade, signo, idade, profissão etc. Então, para entendermos esse processo de
autoconhecimento, a psicologia construiu o conceito de identidade, que para Sawaia (2006, p. 121)
tem “valor fundamental da modernidade e é tema recorrente nas análises dos problemas sociais”.
Quando pensamos em conceito de identidade, logo pensamos em imagens,
representações, conceito de si mesmo, como se o indivíduo se reconhecesse identificando traços,
imagens, sentimentos, como parte dele mesmo. Mas esse conceito é produzido a partir das relações
que mantemos com os outros (LANE, 2006).
A partir do momento em que reconheço o outro, reconheço a mim mesmo como um ser
único particular. Essa diferenciação geralmente ocorre com a mãe, que é o primeiro “outro” com
quem temos contato. Nesse momento, por meio das relações, começamos a construir nossa
identidade. E, à medida que adquirimos novas experiências ampliando nossas relações sociais,
vamos nos transformando, adquirindo novos papéis. Então a identidade é algo mutável em
permanente transformação. É um processo que se dá desde o nascimento do ser humano até sua
morte. Por isso, podemos dizer que a nossa identidade está em constante mudança.
Lane (2006, p. 22) enfatiza que “apenas quando formos capazes de [...] encontrar razões
históricas da nossa sociedade e do nosso grupo social que explicam por que agimos hoje da forma
como o fazemos é que estaremos desenvolvendo a consciência de nós mesmos”. Isso nos faz
entender que a consciência de si pode alterar a identidade social, na medida em que interrogamos
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os papéis que desempenhamos e suas funções históricas (LANE, 2006). Essa consciência é
reconhecer quem sou eu enquanto indivíduo, enquanto integrante de um grupo social, a partir das
relações do meu ser social. Isso só será possível, a partir do momento em que tenho o “outro”
como referência.
Sawaia (2006) afirma que essa consciência não pode ser consciência “em si”, mas para si
e para o outro. E Myers (2000) reafirma isso, quando diz que o autoconceito que o indivíduo
adquire de si mesmo decorre das experiências sociais vivenciadas, que influem no papel que ele
desempenha nos julgamentos sobre si e sobre outras pessoas e as diversidades culturais. Nesse
sentido, percebemos que a construção da nossa identidade se dá por meio das relações sociais, dos
papéis que desenvolvemos.
O indivíduo constrói a sua história, como um ser individualizado e, ao mesmo tempo,
social. Esse processo de transformação pode trazer angústia, dúvidas o que pode gerar uma crise
de identidade, diante da contradição que o indivíduo vive, entre a necessidade de se padronizar
para ser aceito em um grupo e a necessidade de se destacar como único (SAWAIA, 2006).
Essa crise é geralmente percebida na transição da infância para a adolescência, em que o
indivíduo passa por diversas transformações tanto físicas, como psicológicas e sociais. Mas isso
pode ser superado a partir da tomada de consciência e das relações que mantém com o outro. A
objetividade e subjetividade são fundamentais para o processo de construção da nossa identidade.
A experiência humana se objetiva na realidade criando singularidades (hábitos, tradição)
e as instituições são subjetivadas, por meio da introjeção pela socialização. A psicologia social
crítica busca a compreensão da relação individual – social, por meio dessa interação
indivíduo/sociedade, visto que a identidade do indivíduo se dá por meio dessa relação,
considerando o indivíduo com a sua história particular como um ser de transformações.
A atividade do indivíduo é a sua realização concreta, e a expressão da sua subjetividade
diante da definição papeis exercidos por ele. Ela é subjetiva (envolve afeto de um eu individual) e
objetiva (contato com o mundo exterior). Nesse processo o indivíduo constrói o seu mundo, da
mesma forma que constrói a si mesmo, sua identidade, suas relações, suas experiências
vivenciadas.
Para finalizar esta seção, é importante que você tenha compreendido que nós construímos
o nosso “eu”, a partir do contexto social e cultural e que nós somos formados pelo processo de
aprendizagem e de socialização, pela consciência coletiva. O jeito como você se expressa,
comunica, anda reflete o contexto social que vive ou que viveu. As interações sociais que
estabelecemos são denominadas pela cultura existente. Então, podemos compreender que, por
meio do estudo do processo de socialização, poderemos entender os fenômenos psicossociais do
indivíduo e da cultura presente na sua história.
Mas, também temos que lembrar que os padrões comportamentais e as normas geralmente
não se aplicam a todos os sujeitos de uma mesma sociedade. Essas diferenciações estão vinculadas
ao sexo, à idade, às características individuais, às necessidades de cada indivíduo, aos subgrupos
internos em toda sociedade. Cada cultura registra o indivíduo, com a sua marca. Isso o influencia
na estruturação da sua personalidade que é decorrente de uma combinação orgânica, dos padrões
de sua cultura e de suas experiências individuais em contato com o mundo físico e social, como
também influencia na sua identidade social. Contudo, o indivíduo é um ser único, possuidor da
sua individualidade, porém, modelado pela cultura, pela sociedade que vive.
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ATIVIDADES
1. Comente a frase a seguir, com argumentos teóricos, a partir do que foi estudado no
capítulo 1 desta apostila. “O indivíduo é um ser inseparável da sua cultura e da sociedade em que
vive”. Lembre-se: escreva sua resposta e socialize com os colegas; por meio da web-interatividade
compartilhe suas considerações com os professores da disciplina.
2. Analise as afirmativas que seguem, relativas aos agentes socializadores do processo de
socialização. I. O processo de socialização ocorre até a fase adulta. II. Os agentes socializadores
são: a família, a escola e os meios de comunicação em massa. III. Os agentes socializadores que
mais exercem influência na formação da personalidade social são os agentes básicos. IV. Os meios
de comunicação de massa têm medida do alcance do seu papel no processo de socialização e na
formação da personalidade do indivíduo. Estão corretas, apenas, as afirmativas
a) I e II c) II e III
b) I e IV d) III e IV
3. Analise as afirmações a seguir. Os papéis sociais que o indivíduo desempenha e os
status que ele acredita ter diante da sociedade explicam a individualidade o indivíduo, a sua
identidade e a consciência de si mesmo. Porque os papéis que o indivíduo adquire nas suas
experiências e nas relações vão designar o modelo de comportamento que caracteriza o seu lugar
na sociedade juntamente com os status que ele também adquire e que determina sua posição social.
A esse respeito, é possível concluir que
a) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
b) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.
c) a primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa.
d) a primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira.
4. A psicologia construiu o conceito de identidade que tem valor fundamental da
modernidade e é tema recorrente nas análises dos problemas sociais, pois a identidade é
a) algo imutável, mas importante para a compreensão dos comportamentos humanos.
b) um processo isolado das ações coletivas que o indivíduo mantém com o meio em que
vive.18 c) um processo que se dá desde o nascimento até por volta dos 10 anos de idade, quando
a personalidade está totalmente estruturada.
d) um processo que está em permanente transformação e que contribui para o
reconhecimento do eu enquanto indivíduo e enquanto integrante de um grupo social, a partir das
relações sociais.
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REFERÊNCIAS

LANE, Silvia T. Maurer. O que é psicologia social. 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
MYERS, David G. Psicologia Social. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.
PISANI, Elaine Maria. Temas de psicologia social. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
RAMOS, Arthur. Introdução à psicologia social. 4. ed. Santa Catarina: UFSC, 2003. SAVOIA,
Mariângela Gentil. Psicologia social. São Paulo: McGraw-Hill, 1989.
SAWAIA, Bader (Org.). As artimanhas da Exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade
social. 6. ed. Petrópolis, 2006.
STREY, Marlene Neves (Org.). Psicologia Social Contemporânea. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2002. Disponível em:
https://www.unitins.br/BibliotecaMidia/Files/Documento/BM_633856684394224298apostila_au
la_2.pdf. Acesso em: 23/02/2022.
TRINDADE, Alexandro Dantas; ROCHA, Neli Gomes; OLIVEIRA, Luciana Paula da Silva de.
Sociologia e Senso Comum. In: _______. Curso de Especialização em Educação na Cultura
Digital: Aprendizagem de Sociologia no Ensino Médio e TDIC. Brasília, DF: MEC, 2014.

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