Introdução À Lógica - FILOSOFIA

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ESCOLA ESTADUAL “MARIA CAROLINA CAMPOS”

Componente Curricular: FILOSOFIA / 3º anos Prof.: Samuel

Introdução à lógica
"Uma das razões mais importantes para estudar filosofia é
aprender a formar e defender pontos de vista próprios." Mark Sainsbury
Argumentação e vida cotidiana
No decurso de nossas vidas, quase sempre usamos argumentos. Eles estão presentes em todas as partes, desde a
conversa informal entre amigos no botequim até o mais complexo texto científico. Quando, por exemplo, um político
defende seu programa de ação na TV e critica o de seus adversários, está usando argumentos. O mesmo ocorre com o
pai que discute com o filho adolescente a respeito do que ele pode ou não fazer na sua idade; com o professor que
ensina a matéria a seus alunos, etc.
A argumentação é um instrumento sem o qual não podemos compreender melhor o mundo nem intervir nele de modo
a alcançar os nossos objetivos; não podemos sequer determinar com rigor quais serão os melhores objetivos a ter em
mente. Os seres humanos estão sós perante o universo; têm de resolver os seus problemas, enfrentar dificuldades,
traçar planos de ação, fazer escolhas. Para fazer todas estas coisas precisamos de argumentos. Será que a Terra está
imóvel no centro do universo? Que argumentos há a favor dessa ideia? E que argumentos há contra ela? O que é a
consciência? Será que alguma vez houve vida em Marte? Queremos respostas a todas estas perguntas, e a muitas mais.
Mas as respostas não nascem das árvores; temos de ser nós a procurar descobri-las. Para descobri-las temos de usar
argumentos. E quando argumentamos podemos enganar-nos; podemos argumentar bem ou mal. É por isso que a
lógica é importante. A lógica permite-nos fazer o seguinte:
1. Distinguir os argumentos corretos dos incorretos;
2. Compreender por que razão uns são corretos e outros não; e
3. Aprender a argumentar corretamente.
Na verdade, mesmo quem não tem interesse em filosofia poderá ter interesse em lógica — porque, afinal de contas,
todos raciocinamos e argumentamos todos os dias, sem, contudo, sabermos muito bem se estamos a fazê-lo bem ou
mal. Isto não significa que quem não sabe lógica não sabe argumentar. Significa apenas que não sabe argumentar tão
bem como saberia se soubesse lógica. Tal como uma pessoa pode falar sem saber gramática, mas não saberá falar tão
bem quanto saberia se soubesse gramática. Um conhecimento meramente intuitivo da gramática é com certeza
suficiente para a nossa vida quotidiana, mas dificilmente o será para um poeta ou para um romancista ou para um
jornalista. Analogamente, um conhecimento meramente intuitivo do raciocínio e da argumentação é com certeza
suficiente para a nossa vida quotidiana, mas dificilmente o será na filosofia.

I- O que é um argumento?
Um argumento é um conjunto de proposições que utilizamos para justificar (provar, dar razão, suportar) algo. A
proposição que queremos justificar tem o nome de conclusão; as proposições que pretendem apoiar a conclusão ou a
justificam têm o nome de premissas.
Um argumento tanto pode ter só uma premissa, como várias. Contudo, só pode ter uma conclusão. Num argumento, o
objetivo é justificar a conclusão recorrendo às premissas.
Exemplo 1
Premissa: Todos os portugueses são europeus.
Conclusão: Logo, alguns europeus são portugueses.
Exemplo 2
Premissa 1: Se o Bruno é um aluno do 3.º ano, então estuda filosofia.
Premissa 2: O Bruno é um aluno do 3.º ano.
Conclusão: Logo, o Bruno estuda filosofia.
Exemplo 3
Premissa 1: Os insetos possuem seis patas.
Premissa 2: Ora, as abelhas são insetos.
Conclusão: Logo, as abelhas possuem seis patas.
É claro que a maior parte das vezes os argumentos não se apresentam nesta forma. Repara, por exemplo, no
argumento de Kant a favor do valor objetivo da felicidade, tal como é apresentado por Aires Almeida et al. (2003b) no
site de apoio ao manual A Arte de Pensar:
“De um ponto de vista imparcial, cada pessoa é um fim em si. Mas se cada pessoa é um fim em si, a felicidade de cada
pessoa tem valor de um ponto de vista imparcial e não apenas do ponto de vista de cada pessoa. Dado que cada pessoa
é realmente um fim em si, podemos concluir que a felicidade tem valor de um ponto de vista imparcial."

1
Neste argumento, a conclusão está claramente identificada ("podemos concluir que..."), mas nem sempre isto
acontece. Contudo, há certas expressões que nos ajudam a perceber qual é a conclusão do argumento e quais são as
premissas. Repara, no argumento anterior, na expressão "dado que". Esta expressão é um indicador de premissa:
ficamos, a saber, que o que se segue a esta expressão é uma premissa do argumento. Também há indicadores de
conclusão: dois dos mais utilizados são "logo" e "portanto".
Um indicador é um articulador do discurso, é uma palavra ou expressão que utilizamos para introduzir uma razão (uma
premissa) ou uma conclusão. É claro que nem sempre as premissas e a conclusão são precedidas por indicadores.
O quadro seguinte apresenta alguns indicadores de premissa e de conclusão:

Indicadores de premissa Indicadores de conclusão


Pois, porque, dado que, como foi dito, visto que, devido por isso, por conseguinte, implica que, logo, portanto,
a, a razão é que, admitindo que, sabendo-se que, então, daí que, segue-se que, pode-se inferir que,
assumindo que. consequentemente.
Atividades propostas:

1. As proposições expressas pelas frases seguintes são verdadeiras ou falsas? Justifique a sua resposta.
a) Todos os argumentos têm conclusão.
b) Há argumentos sem premissas.
c) Todos os argumentos têm duas premissas.
d) Nenhum argumento tem mais de uma conclusão.

2. Identifique as premissas e as conclusões dos seguintes argumentos, assinalando os seus indicadores quando
houver:
a) Todos os portugueses são europeus. Logo, alguns europeus são portugueses.
b) Se a Filosofia e a Arte são importantes, devem ser estudadas. A Filosofia e a Arte são importantes. Logo, devem ser
estudadas.
c) Algumas pessoas lutam pelos seus próprios direitos. Lutar pelos seus próprios direitos é fazer algo importante.
Logo, algumas pessoas fazem algo importante.
d) Se não houvesse vida para além da morte, então a vida não faria sentido. Mas a vida faz sentido. Logo, há vida para
além da morte.
e) "Os artistas podem fazer o que muito bem entenderem. É por isso que é impossível definir a arte."
f) "Considerando que sem Deus tudo é permitido, é necessária a existência de Deus para fundamentar a moral e dar
sentido à vida."
g) "Se Sócrates fosse um deus, seria imortal. Mas dado que Sócrates não era imortal, não era um deus."
h) Dado que tanto os homens como as mulheres contribuem de igual modo para a sociedade, não deve haver
qualquer discriminação entre os sexos.
i) Nunca devemos faltar ao prometido. Se faltarmos ao prometido, depois ninguém confia em nós. E nesse caso
teremos muitos problemas.
j) O aborto deve ser condenado em qualquer hipótese simplesmente porque é errado matar um ser humano
inocente. Realizar um aborto é matar um ser humano inocente.
k) A legalização do aborto diminui a criminalidade. Filhos não desejados tendem a ser criados com negligência e
crescem com maior probabilidade de vir a praticar crimes. (Revista Veja, janeiro/2004, p. 88).
l) O preconceito contra negros e hispânicos nos EUA diminuiu só na aparência. Pessoas com nomes típicos de negros
são claramente discriminadas nos processos de seleção para emprego. (Revista Veja, janeiro/2004, p. 88).
m) Em um sistema qualquer, seja no esporte, na política, em escolas ou empresas, quando há brecha para que pessoas
lucrem de forma corrupta, algumas vão se corromper. Só a vigilância diminui a corrupção. (Revista Veja, janeiro/2004,
p. 88).
n) Criminosos levam em conta a desvantagem econômica de virem a ser presos. Por isso, o policiamento intensivo e o
aumento do encarceramento têm enorme impacto na diminuição da criminalidade. (Revista Veja, janeiro/2004, p. 88).
o) As cotas para afro-descendentes seriam justificadas somente se a prioridade das universidades públicas não fosse a
formação de profissionais qualificados. Ora, formar recursos humanos altamente qualificados é uma missão estratégica
das instituições de ensino superior. A política de cotas, portanto, distorce a missão prioritária da universidade e deve
ser rejeitada. (Adaptado de O Globo, Editorial, 14/3/2005).
3- Supõe que deseja pedir aos seus pais um aumento da “mesada”. Como justificaria este aumento? Recorrendo a
razões, não é? Temos aqui um argumento, cuja conclusão é: “preciso de um aumento da ‘mesada’”. Elabore o seu
argumento.

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II- Proposições e frases
Um argumento é um conjunto de proposições. Tanto as premissas quanto a conclusão de um argumento são
proposições. Mas o que é uma proposição?
Não devemos confundir proposições com frases. Uma frase é uma entidade linguística, é a unidade gramatical mínima
de sentido. Por exemplo, o conjunto de palavras "BH é uma" não é uma frase. Mas o conjunto de palavras "BH é uma
cidade" é uma frase, pois já se apresenta com sentido gramatical.

Há vários tipos de frases:


Declarativas → A neve é branca. Compromissivas → Prometo devolver o livro
Interrogativas → Será que Deus existe? amanhã.
Exclamativas→ Quem me dera ser imortal! Prescritivas → Não ultrapasse o limite de velocidade.
Imperativas → Fecha a porta!

Só as frases declarativas exprimem proposições. Uma frase só exprime uma proposição quando o que ela afirma tem
valor de verdade. Ter valor de verdade não é o mesmo que ser verdadeira. Uma sentença falsa tem valor de verdade, o
falso. O valor de verdade de uma proposição é a verdade ou falsidade dessa proposição. Uma frase tem valor de
verdade quando é verdadeira ou falsa, ainda que não saibamos se a frase é realmente verdadeira ou falsa. Por
exemplo, a frase “Há vida em outros planetas além da Terra” exprime uma proposição.

Atividade 4:
A. Qual é a diferença entre uma frase e uma proposição?
B. O que é o valor de verdade de uma proposição?
C. Dê três exemplos de frases que expressam proposições.
D. Dê três exemplos de frases que não expressam proposições.
E. Neste exercício, procure reconhecer se as sentenças (frases) tem valor de verdade ou não e, caso tenha valor de
verdade, escreva qual é.
1) Existe vida em outras galáxias. _________________________________________________________________.
2) 2 + 2 = 5. _________________________________________________________________________________.
3) Quem me dera ter uma Ferrari! ________________________________________________________________.
4) 2 + 2 = 4. _________________________________________________________________________________.
5) Silêncio! __________________________________________________________________________________.
6) Alguém pode me dizer as horas? _______________________________________________________________.
7) Prometo ir ao cinema contigo. _________________________________________________________________.
8) Platão foi discípulo de Aristóteles. _______________________________________________________________.
9) Pelé foi presidente do Brasil.____________________________________________________________________.
10) Obedeça à sinalização. _______________________________________________________________________.
11) Japão é um país situado na América do Sul. _______________________________________________________.
12) Que dia lindo! ______________________________________________________________________________.
13) O céu está rosa. _____________________________________________________________________________.

III- Argumentos dedutivos e indutivos


Há dois tipos fundamentais de argumentos: os dedutivos e os indutivos. Alguns autores expressam o argumento
dedutivo como aquele que “partindo de uma sentença geral chega-se a outra menos geral, cujo conteúdo está de
algum modo contido no da primeira. Exemplo:
Todo inseto é hexápode.
Toda abelha é inseto.
Logo, toda abelha é hexápode.
Partindo da afirmação de que todos os insetos são hexápodes, concluem serem as abelhas também hexápodes, pois os
insetos incluem as abelhas. Tais caracterizações são inadequadas quando se trata de analisar argumentos. Veja os
exemplos abaixo.
Exemplo 01: Todas as esmeraldas até agora observadas são verdes. Logo, a próxima esmeralda observada será verde.
(A premissa é ‘mais geral’ do que a conclusão. Isso mostra que a caracterização de raciocínio indutivo como aquele que
‘vai do particular para o geral’ é equivocada).
Exemplo 02: Todos os corvos observados até hoje são pretos. Logo, Todos os corvos são pretos.
Argumentos dedutivos são aqueles nos quais, dada a verdade das premissas, é logicamente impossível a conclusão ser
falsa. Observe o exemplo:
Todo homem é mortal.
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Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
O segundo tipo de argumento: indutivo, é aquele que, estando de posse de enumerações de indivíduos ou de
qualidades, chegamos a uma sentença que de algum modo engloba esta enumeração. É o caso, por exemplo, do
argumento que diz:
Este animalzinho, e este, e mais este... é ← Sentença enumerativa
hexápode.
Este animalzinho, e este, e mais este... é inseto. ← Sentença enumerativa
Logo, todo inseto é hexápode. ← Sentença englobante
Nos argumentos indutivos, mesmo as premissas sendo verdadeiras pode acontecer que a conclusão seja falsa. Nesse
caso, as premissas tornam a verdade da conclusão provável, mas não garantem que a conclusão seja verdadeira.

Atividade em anexo - Distinguir argumentos DEDUTIVOS x INDUTIVOS.

V- Verdade e validade
O termo "validade" tem em filosofia e lógica um significado especializado, diferente do seu significado popular. No dia-
a-dia usa-se o termo "validade" para dizer que algo tem valor, que é interessante, que deve ser tido em consideração;
assim, é comum dizer que uma dada afirmação é válida. Contudo, do mesmo modo que "massa" em física não quer
dizer esparguete e que "altura" em música não quer dizer volume — porque são termos especializados —, ? ANTECEDENTE
também em filosofia e lógica "validade" não quer dizer que algo tem valor. A validade é uma propriedade
exclusiva dos argumentos; não se aplica, neste sentido especializado, a afirmações. As afirmações só podem ser
verdadeiras ou falsas. Por outro lado, a verdade é uma propriedade exclusiva das afirmações que compõem os
argumentos — as premissas e a conclusão — mas não dos próprios argumentos. Os argumentos dizem-se válidos ou
inválidos. Não se pode, pois, dizer que um argumento é verdadeiro nem que uma afirmação é válida. Isto, porque a
validade é uma propriedade da conexão entre as premissas e conclusões, e não uma propriedade das próprias
premissas e conclusões.
Retomemos o exemplo do argumento das abelhas, agora encarando-o de maneira mais detalhada:

Os insetos possuem seis patas. ANTECEDENTE


Ora, as abelhas são insetos.
↓ INFERÊNCIA
Logo, as abelhas possuem seis patas. CONSEQUENTE
Podemos identificar, com facilidade, três partes fundamentais no mesmo. A primeira delas, através da palavra 'ora',
articula duas proposições que funcionam como ponto de partida e cujo conjunto recebe o nome de 'ANTECEDENTE'. A
segunda, através da palavra 'logo', mostra-nos que a terceira proposição é o ponto de chegada, tendo sido obtida a
partir das duas anteriores e recebendo, por isso, o nome de 'CONSEQUENTE'. A terceira parte é mais sutil e difícil de
ser percebida à primeira vista. Trata-se da RELAÇÃO que existe entre antecedente e consequente: através dela, vemos
que, partindo das duas primeiras proposições, temos que chegar necessariamente à terceira. Algo nos empurra,
nos conduz do antecedente ao consequente. Este algo, esta relação de caráter imaterial recebe o nome de
'INFERÊNCIA' (do latim 'infere' que significa 'levar para').
Quando a relação realmente existe e de fato liga o antecedente ao consequente, estamos diante do que se
chama ‘INFERÊNCIA VÁLIDA’. Neste caso, o argumento que a expressa é correto. Quando, porém, a relação é
apenas aparente, não havendo uma efetiva condução do antecedente para o consequente, estamos diante de
uma 'INFERÊNCIA NÃO VÁLIDA'. Neste caso, o argumento que a expressa não é correto e constitui aquilo que
chamamos uma FALÁCIA (alguns autores reservam o termo falácia para os argumentos inválidos que parecem
válidos).
Uma vez de posse do conceito de inferência válida, a primeira coisa a fazer é relacioná-lo com o conceito de
verdade: um argumento que expressa uma inferência válida é sempre necessariamente verdadeiro, ou não? O
esquema abaixo, construído a partir de quatro exemplos de argumentos, fornecer-nos-á os elementos de que
precisamos para responder a esta questão. Os exemplos abaixo nos mostra, exatamente, a independência da noção
de validade com respeito à de verdade.
Exemplo 1
Todo inseto é hexápode.
Toda abelha é inseto. ANTECEDENTE VERDADEIRO
↓ INFERÊNCIA VÁLIDA
Toda abelha é hexápode. CONSEQUENTE VERDADEIRO

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Exemplo 2
Todo inseto é humano.
Toda abelha é inseto. ANTECEDENTE FALSO
↓ INFERÊNCIA VÁLIDA
Toda abelha é humana. CONSEQUENTE FALSO

Exemplo 3
Todo inseto é hexápode.
Todo inseto é invertebrado. ANTECEDENTE VEDADEIRO
↓ INFERÊNCIA NÃO VÁLIDA
Todo hexápode é invertebrado. CONSEQUENTE VERDADEIRO

Exemplo 4
Todo inseto é humano.
Toda inseto é abelha. ANTECEDENTE FALSO
↓ INFERÊNCIA NÃO VÁLIDA
Toda abelha é humana. CONSEQUENTE FALSO

O primeiro exemplo possui antecedente e consequente verdadeiros, pois todas as sentenças que o ? ANTECEDENTE
compõem soa verdadeiras. Como é possível, porém, afirmar que a inferência expressa por este argumento é válida?
Utilizando os diagramas de Venn, tão comuns na teoria de conjuntos, podemos interpretar aquelas sentenças como
segue. Dizer que todo inseto é hexápode equivale a incluir toda a classe dos insetos na classe dos hexápodes.

Hexápode Inseto
Abelha

Com efeito, as sentenças, ‘todo inseto é hexápode’ e ‘toda abelha é inseto’ possuem a mesma estrutura, que pode ser
assim representada: todo A é B. Ora, sem conhecer, os conceitos em jogo, vemos claramente que a última sentença no
máximo nos diz que toda classe A está incluída ou em parte ou em toda a classe B.
Consideremos o seguinte argumento:

(1) Todos os abdus são zeblins (2) Todos homem é mortal. (3) Todos os portugueses têm olhos azuis

∴ Imal é um zeblim ∴ Sócrates é mortal. ∴ Zidane tem olhos azuis


Imal é um abdu Sócrates é homem. Zidane é português

Embora não seja possível identificar as proposições expressas por (1) e (2), não há dúvida de que a conclusão é uma
consequência lógica das premissas (seja o que for que signifiquem). Este exemplo mostra que a relação de inferência
lógica entre premissas e conclusão não depende do conteúdo dos argumentos, mas apenas da forma lógica. O
conjunto dos abdus (seja isso o que for) está contido no conjunto dos zeblins (seja isso o que for). Usando a linguagem


da teoria dos conjuntos, podemos representar esta forma lógica da seguinte maneira:
A B
Os símbolos “A” e “B” designam dois conjuntos indeterminados. O símbolo “⊂ ” denota a relação “estar contido em”
que entre eles se verifica. Se substituirmos “A” e “B” por quaisquer conjuntos à nossa vontade, obteremos tantas
proposições quantas quisermos, todas com a mesma forma lógica.
Os símbolos “A” e “B” designam dois conjuntos indeterminados. O símbolo “⊂ ” denota a relação “estar contido em”
que entre eles se verifica. Se substituirmos “A” e “B” por quaisquer conjuntos à nossa vontade, obteremos tantas
proposições quantas quisermos, todas com a mesma forma lógica, precisamente aquela que as três frases que estamos
a analisar têm em comum. O mesmo acontece no caso seguinte: (i) Sócrates é um ser humano; (ii) Zidane é português;
(iii) Imal é um abdu. Simplesmente, agora não se trata da relação de inclusão entre conjuntos, mas sim da relação de

s∈A
pertença entre um indivíduo e um conjunto. Podemos captar a forma lógica destas frases na linguagem dos conjuntos:

5
O símbolo “s” é uma constante (como “a”, “b” e “c” na equação a – b = c): denota um certo indivíduo. O símbolo “ ∈”
designa a relação de pertença. O símbolo “A” volta a designar o conjunto A. Se juntarmos as nossas duas frases,

(1) A ⊂ B
obtemos a seguinte forma de argumento:

(2) s ∈ A
∴ s∈B
De fato, se o conjunto A está contido no conjunto B, então, qualquer elemento que esteja em A, digamos s, é
elemento de B. Podemos ver que esta é uma consequência lógica das premissas se percebermos que a conclusão
afirma algo que já está implícito nas premissas,

B
A
s

isto é, que s está em B. As relações lógicas expressas nas premissas garantem, para toda a interpretação de “A”, “B” e
“s” que, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão é verdadeira. É isto que significa dizer que a validade de um
argumento depende da forma lógica, e não do seu conteúdo (o conteúdo resulta de qualquer interpretação que se faça
de “A”, “B” e “s”).
Conclusão: se dois (ou mais) argumentos têm a mesma forma, são ambos válidos ou ambos inválidos. Existem, é claro,
muitas formas de argumentos válidos, não apenas uma. Em lógica estuda-se de maneira sistemática as condições
formais de validade dos argumentos.
Num argumento válido só não pode acontecer o seguinte: que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua conclusão
falsa. Todas as outras hipóteses são possíveis. Por outro lado, num argumento inválido, tudo pode acontecer —
precisamente porque não há qualquer conexão entre as premissas e a conclusão.
Podemos assim elaborar a seguinte tabela:

Premissas verdadeiras Premissas falsas


Conclusão verdadeira Válido ou inválido Válido ou inválido
Conclusão falsa Inválido Válido ou inválido

Vimos que a forma lógica determina a validade dos argumentos dedutivos: não é possível dois argumentos dedutivos
terem a mesma forma e só um deles ser válido. A forma lógica garante que, em ambos os casos, se as premissas forem
verdadeiras, a conclusão é verdadeira. A questão é agora a seguinte: será que a forma lógica de um argumento
indutivo, em conjunção com a verdade das premissas, garante uma idêntica probabilidade à conclusão de ambos os
argumentos? Compare-se o exemplo dos corvos com o seguinte:

∴ Todos os cisnes são brancos


(i) Todos os cisnes observados até hoje são brancos

Admitamos que a comparação é feita numa época em que se desconheciam cisnes pretos, digamos, no século XVIII.
Nessa época, as premissas de ambos os argumentos resultam verdadeiras. Além disso, ambos os argumentos partilham
uma forma lógica comum.

∴ Todo o A é B
(ii) Todos os A’s observados até hoje são B’s

No entanto, ao contrário dos argumentos dedutivos, nos argumentos indutivos a forma lógica não estabelece que, se
as premissas forem verdadeiras, a conclusão também é verdadeira. Além disso, a forma de um argumento indutivo, em
conjunto com a verdade das premissas, não garante que a probabilidade da conclusão ser verdadeira é idêntica nos
dois casos. Esta diferença é crucial. Isto mostra que a validade indutiva não depende da forma lógica destes
argumentos.
Como determinar se um argumento é válido?
Podemos seguir esta regra: Mesmo que as premissas do argumento não sejam verdadeiras, imagina que são
verdadeiras. Consegue imaginar alguma circunstância em que, considerando as premissas verdadeiras, a conclusão é
falsa? Se sim, então o argumento não é válido. Se não, então o argumento é válido.
Exemplos:
Sócrates e Aristóteles eram gregos. Logo, Sócrates era grego.
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“Nenhum mortal pode deter o passar do tempo. Você é mortal. Logo, você não pode deter o passar do tempo.”
Sócrates e Aristóteles eram egípcios. Logo, Sócrates era egípcio.

Neste último exemplo, tanto a premissa como a conclusão são, de fato, falsas; mas o argumento é válido. É válido
porque apesar de a premissa e a conclusão serem de fato falsas, é impossível que a premissa seja verdadeira e a
conclusão falsa — e é isso que conta na validade dedutiva. Imagine-se que a premissa era verdadeira: que Sócrates e
Aristóteles eram egípcios. Nesta circunstância, também a conclusão é verdadeira. Logo, o argumento é válido.
Repara que, para um argumento ser válido, não basta que as premissas e a conclusão sejam verdadeiras. É preciso que
seja impossível que sendo as premissas verdadeiras, a conclusão seja falsa. Significa não apenas “impossível na
prática”, mas “logicamente impossível”; isto é, impossível na sua própria concepção.
A distinção é ilustrada pelo seguinte exemplo:

“A Susana lê o Wall Street Journal. Todos aqueles que tem mais de 3 meses de idade lem o wall street. Logo, a Susana
tem mais de 3 meses de idade.”

Apesar de ser impossível na prática alguém que não tem mais de 3 meses de idade ler o Wall Street Journal, isso é,
ainda assim, coerentemente concebível; a ideia em si mesma não envolve qualquer contradição. É, assim, logicamente
possível (embora praticamente impossível) a conclusão ser falsa e a premissa verdadeira. Por outras palavras, a
conclusão, ainda que altamente provável, não se segue necessariamente da premissa. Logo, o argumento não é válido.
Por outro lado, o argumento pode ser transformado num argumento válido mediante a adição de uma premissa:
“Todos os leitores do Wall Street Journal têm mais de 3 meses de idade. A Susana lê o Wall Street Journal. Logo, a
Susana tem mais de 3 meses de idade.”
Deste modo, não é só praticamente impossível as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa: é logicamente
impossível.

Atividade 5:
A- Será que uma afirmação pode ser válida? Por quê?
B- Será que um argumento pode ser verdadeiro? Por quê?
C- Utilizando o diagrama de Venn, analise se os argumentos seguintes são válidos ou inválidos. (FAZER NO CADERNO)

(1) Todo A é B Logo, algum A é C. Logo, Lula é corintiano


CéA
Logo, c é B (6) Todo mineiro é brasileiro
Carlos Drummond é mineiro
Logo, Carlos Drummond é brasileiro (11) Todo mineiro é brasileiro
Lula é brasileiro
(2) Todo A é B (7) Todo mineiro é corintiano Logo, Lula é mineiro
C é B. Zidane é mineiro
Logo, C é A Logo, Zidane é corintiano. (13) Todos os franceses são
(3) Todo A é B canhotos.
Todo B é C (8) Todo mineiro é brasileiro Todos os canhotos gostam de vinho.
Logo, todo A é C Zico é mineiro Logo, todos os franceses gostam de
Logo, Zico é brasileiro vinho

(4) Algum A é B (9) Todo mineiro é brasileiro (14) Alguns franceses são canhotos.
Algum B é C Carlos Drummond é brasileiro Alguns canhotos gostam de vinho.
Logo, algum A é C Logo, Carlos Drummond é mineiro Logo, alguns franceses gostam de
vinho
(5) Todo A é B (10) Todo corintiano é paulista
Algum B é C Lula é paulista

VI- Argumentos sólidos (corretos)


Um argumento válido pode ter uma conclusão falsa, desde que pelo menos uma das suas premissas seja falsa. Dado
que o que interessa na argumentação é chegar a conclusões verdadeiras, os argumentos meramente válidos não têm
interesse. É por isso importante compreender a noção de argumento sólido. Um argumento sólido obedece a duas
condições: é válido e as suas premissas são verdadeiras. Considere-se o argumento abaixo:
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ESCOLA ESTADUAL “MARIA CAROLINA CAMPOS”

Disciplina: FILOSOFIA Prof.: Samuel Alexandre Atividade / anexo

Algum flamenguista é mineiro.


Todo mineiro é brasileiro.
Logo, algum flamenguista é brasileiro.

Neste exemplo temos um argumento válido e, além disso, um argumento correto, pois todas as premissas são
verdadeiras. Um argumento sólido estabelece com certeza que a sua conclusão é verdadeira. O argumento seguinte é
sólido:
“Toda a gente tem um e um só pai biológico. Os irmãos verdadeiros têm o mesmo pai biológico. Ninguém é o seu
próprio pai biológico. Logo, não há qualquer pessoa cujo pai biológico seja também seu irmão verdadeiro.”

Referências bibliográficas:
ANDRADE, Paulo Ruas. Argumentos Dedutivos e Indutivos. Disponível em:
http://srec.azores.gov.pt/dre/sd/115152010600/depart/dcsh/filososia/textos/unidade1/
argumentosdedutivoseindutivos.pdf. Acesso em: 11 fev. 2022.
COPI, I.M. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1974.
MARGUTTI, P.R.M. Introdução à Lógica Simbólica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
MORTARI, C.A. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
MURCHO, Desidério. Introdução à lógica. Universidade Federal de Ouro Preto. Disponível em
https://www.yumpu.com/pt/document/read/12710233/introducao-a-logica-desiderio-murcho. Acesso em: 11 fev.
2022.
MURCHO, Desidério. Lógica e argumentação. Disponível em: http://criticanarede.com/lds_lugarlogica2.html. Acesso
em: 11 fev. 2022.
NOLT, J., Rohatyn, D. Lógica. McGraw-Hill, São Paulo, 1991.
PADRÃO, António Aníbal. Algumas noções de lógica. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/392637069/Algumas-Nocoes-de-Logica-Antonio-Anibal-Padrao. Acesso em: 11 fev.
2022.
Distinguir, dentre os argumentos abaixo, os DEDUTIVOS dos INDUTIVOS.

1. A grande maioria dos entrevistados declarou que não votará no candidato da oposição. Logo, a oposição não vai
ganhar as eleições.

2. Os países subdesenvolvidos se caracterizam principalmente por: insuficiência alimentar, baixa renda per capita e
estrutura sanitária deficiente. O Brasil apresenta essas características. Logo, é um país subdesenvolvido.

3. Na África Negra, 76% da mão de obra estão voltados para a agricultura. O mesmo ocorre com 55% da mão de
obra da América do Sul e 62% da América Central. Por conseguinte, os países subdesenvolvidos se caracterizam
pela grande proporção da população empregada na agricultura.

4. O analfabetismo é igualmente um dos traços característicos do subdesenvolvimento. Enquanto a proporção de


maiores de 10 anos de idade iletrados é de no máximo 4% nos países desenvolvidos, ela aumenta
consideravelmente nos subdesenvolvidos. As taxas são as seguintes: 17 % na Argentina, 2,3 % na Itália e na
Espanha, 41 % na Grécia, 40% em Portugal, 57% no Brasil e Venezuela, 70 % na Turquia, 86% no Egito e Malásia,
mais de 90% na índia e na África Negra. A única exceção é o Japão, com apenas 5%.

5. Como os testes demonstraram que foram precisos, pelo menos, 2,3 segundos para manobrar a culatra do rifle de
Oswald, é obvio que Oswald não poderia ter disparado três vezes - atingindo Kennedy duas vezes e Connally uma
vez - em 5,6 segundos ou menos.

6. A Organização Mundial de Saúde anunciou que a circuncisão deverá ser incluída nos programas de prevenção à
infecção pelo HIV, sobretudo em países africanos. Estudos recentes revelaram que a intervenção para a retirada
do prepúcio reduz em até 60% o risco de contrair Aids. Os três grandes estudos sobre o tema - realizados em
África do Sul, Uganda e Quênia - foram interrompidos antes do tempo previsto devido à queda dramática dos
índices de infecção. Segundo o comunicado, o acesso ao procedimento na África deve ser ampliado com
8
urgência. (Fonte: O Globo 09/3/2007)

7. Jim disse que as abelhas não picariam idiotas; mas não acreditei nisso, porque já experimentara uma porção de
vezes e nunca me haviam picado.

8. Todas as esmeraldas até agora observadas são verdes. Logo, toda esmeralda é verde.

9. Todas as esmeraldas até agora observadas são verdes. Logo, a próxima esmeralda observada será verde.

10. Jânio Quadros renunciou à presidência em circunstâncias excepcionais. Ora, todo aquele que renuncia à
presidência em circunstâncias excepcionais pretende ser reconduzido triunfalmente ao poder. Portanto, o que
Jânio pretendia era isso: ser reconduzido triunfalmente ao poder.

11. Frequentemente, quanto chove fica nublado. Está chovendo. Portanto está nublado.

12. Este paciente deve ter AIDS, não apenas porque apresenta alguns sintomas da doença, mas também porque
admitiu que teve relações sexuais com uma pessoa contaminada.

13. Ou bem uma obra é religiosa, ou bem é científica, sendo que é impossível que uma obra seja simultaneamente
religiosa e científica. A Bíblia é uma obra religiosa. Logo, não é uma obra científica.

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