Depravação Total

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Depravação Total - Efésios 2:1–3; Romanos 3:10–12

Por Bruce A. McDowell

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso
deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do
espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre
os quais também todos nós andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e
dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira,
como também os demais. (Efésios 2:1–3) ...tanto judeus
como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito:
Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não
há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se
fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um
sequer. (Romanos 3:9b–12)
Toda religião e filosofia humana no mundo, exceto o
Cristianismo bíblico, têm sustentado que o homem é
basicamente bom e aperfeiçoável através de seus próprios
esforços. O filósofo Inglês do ççséculo dezessete John Locke
(1632–1704) acreditava que o homem nascia como uma
lousa em branco (“tabula rasa”) de inocência.
Jean Jacques Rousseau (1712–1778), o filósofo francês do
século dezoito, acreditava que o homem era bom, assim
iniciando a filosofia humanista que coloca o homem antes
de Deus. Ele disse, “o Homem nasce bom e a sociedade o
corrompe”.
O Islamismo ensina que todos são nascidos puros (de
“musselina” - tecido leve e um pouco transparente, que
serve para vestuário) e naturalmente bons até que sejam
desviados pelo ambiente.
O Homem é visto como aperfeiçoável através do ser
corretamente guiado e lembrado da unidade de Alá.

Contudo, apenas através da revelação de Deus, como


encontrada na Bíblia, é que podemos entender a total
depravação do homem, que mostra ser ele totalmente
incapaz de salvar a si próprio ou de fazer qualquer obra
meritoriamente boa com respeito à sua salvação. Essa é
uma verdade redescoberta na Bíblia durante a Reforma que
transformou a Europa no século dezesseis e tem impactado
o mundo desde então. Infelizmente, nos tempos modernos,
os ensinamentos prejudiciais do Arminianismo têm tido um
papel predominante na maioria das igrejas protestantes, na
medida em que estas se tornam mais antropocêntricas que
teocêntricas.
Esses ensinamentos foram largamente popularizados
através do movimento Wesleyano e dos acampamentos
reavivalistas da América do século dezenove por
pregadores como Charles Finney. Que, por sua vez,
influenciaram as denominações e sociedades missionárias
que enviaram missionários para fundar igrejas protestantes
ao redor do mundo. Então, com a ascensão da teologia
liberal, a pecaminosidade do homem foi minimizada,
enquanto pensava-se que o progresso social, a educação e
o desenvolvimento do potencial humano fossem trazer uma
sociedade ainda mais progressista de amor, justiça,
igualdade e fraternidade. Com as grandes guerras do século
vinte e a horrenda destruição e morte devido às lutas entre
as chamadas nações “cristãs”, essa aspiração desapareceu
em larga escala. Apesar disso, as pessoas continuaram a
pensar que poderiam prosseguir pelas suas próprias forças,
apenas com uma pequena ajuda de Deus no caminho. Na
teologia da libertação, popular na América Latina, foi
adotada uma visão marxista da sociedade. Sob esse ponto
de vista, o homem não é visto como totalmente corrompido
pelo pecado, mas como um povo que fora oprimido
economicamente. A isto é atribuída a corrupção e o pecado
estrutural na sociedade. Pela liberação dos mestres
opressores, as pessoas estariam livres para desenvolver a si
mesmas e a transformar a sociedade existente numa
sociedade de igualdade e justiça. O que ocorre
inevitavelmente é que, quando os oprimidos chegam a uma
posição de poder, eles se tornam também opressores. Isso
porque o coração humano não foi transformado apenas
através de uma mudança na dinâmica social. Mas, graças a
Deus, está ocorrendo uma mudança nessa maré nas igrejas
que buscam ser fiéis às Escrituras de acordo com um
entendimento do evangelho como totalmente obra de um
Deus soberano. A Bíblia claramente nos diz que o homem
não tem nada a contribuir para a sua salvação. Ela é um
dádiva de Deus (Efésios 2:8, 9).

I. Contexto Histórico
Em 1619, um grupo de teólogos publicou um documento
com cinco capítulos que fora escrito em resposta a cinco
pontos de protesto de discípulos de um professor de
seminário na Holanda chamado Tiago Armínio (1560–1609).
Um Sínodo nacional foi chamado para responder a
Representação (protesto). Oitenta e quatro membros e 18
comissários seculares vieram, não só da Holanda, mas da
Alemanha, Bavária, Suíça e Inglaterra. Eles se reuniram por
sete meses e formularam o que ficou conhecido como os
Cinco Pontos do Calvinismo, em homenagem ao reformador
João Calvino (1509–1564), o qual expusera essas doutrinas
no século anterior.
O sínodo restabeleceu todas as doutrinas que haviam sido
sustentadas por praticamente todos os reformadores e pelo
Pai da Igreja Agostinho de Hipona (354–430 D.C.), mil e
duzentos anos antes. Os líderes da Reforma do século
dezesseis eram da mesma opinião de Agostinho no sentido
de que o homem é totalmente depravado e arruinado em
seu estado natural separado da Graça de Deus. Todos os
reformadores dos primórdios eram unânimes em sua visão
de que o homem era completamente impotente em seu
estado de pecado e totalmente dependente da soberania
de Deus para a salvação.
O ponto para os reformadores não era apenas se Deus era o
autor da justificação, mas de fé. A questão em tela era até
onde o Cristianismo era um relacionamento com Deus que
dependia unicamente de Deus para a salvação e tudo mais,
ou de nossa auto-confiança e auto-esforço. Crítico para a
determinação da resposta a essa questão era ter um
correto entendimento da natureza do homem e de sua
capacidade ou carência decorrente dessa condição. Assim,
o primeiro ponto dos líderes da igreja que se encontraram
no Sínodo de Dort na Holanda em 1618–1619 para
responder aos Arminianos era relativo ao pecado e seus
efeitos na natureza humana. Essa doutrina é determinante
para as doutrinas seguintes. Uma vez que todos os cinco
pontos do calvinismo são realmente inseparáveis. Todos
eles ensinam que Deus salva pecadores. Pecadores não
salvam a si próprios de nenhuma forma, nem dividem a
glória da salvação com Deus. A Ele apenas seja toda glória.
Amém.

II. Morte em Pecado


Assim que Paulo começa a explicar para os efésios os
passos pelos quais Deus irá cumprir o Seu propósito de
salvar Seus eleitos, ele lembra a eles do estado em que se
encontravam antes de serem feitos vivos em Cristo pela
sua graça. “Estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados...” (Efésios 2:1). Paulo está falando aqui de nosso
estado espiritual antes de sermos nascidos de novo. A fim
de nos tornarmos vivos, saindo da morte no pecado,
devemos nascer dos céus pelo Espírito de Deus, através da
lavagem pela Palavra de Deus (João 3:5; 1 Coríntios 6:11;
Efésios 5:26). Nossa condição de morte espiritual é o que
herdamos dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. Deus os
criou retos e bons, com um relacionamento correto com Ele.
No Jardim do Éden, Deus plantou a árvore do conhecimento
do bem e do mal e ordenou ao homem, “De toda árvore do
jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento
do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:16, 17). Adão e
Eva intencionalmente desobedeceram o SENHOR e
comeram da árvore. Depois de serem enganados por
Satanás e comerem do fruto proibido, eles caíram de seu
caminho com Deus em morte espiritual, e,
conseqüentemente, morte física. Adão era o líder federal ou
representativo para toda a raça humana. Sua queda em
pecado significou que toda a sua posteridade iria herdar
uma natureza pecaminosa. Isso pode ser comparado a
quando um jogador de futebol (americano) sai de campo,
todo o time é penalizado. O pecado singular de Adão
penalizou toda a humanidade. Paulo explica aos romanos
como isso aconteceu. “Portanto, assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte,
assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram...” (Romanos 5:12). Pode-se comparar o
pecado de Adão para a raça humana a como alguém
colocando veneno em um recipiente de água pura. Daquele
momento em diante, toda porção da água se tornou
venenosa de forma que é impossível obter até mesmo uma
pequena porção de água pura do recipiente. Similarmente,
o ato singular do pecado de Adão poluiu a corrente
sangüínea da raça humana com o pecado desde o
momento da concepção. Essa verdade fica evidente através
das Escrituras. O rei Davi confessou a Deus após ser
confrontado pelo seu adultério dizendo, “Eu nasci na
iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos
51:5). Sua natureza pecaminosa vinha do que ele era e
havia sido desde o nascimento. Davi também expressa isso
no Salmo 58 “Desviam-se os ímpios desde a sua
concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo
mentiras.” (Salmos 58:3). Jó (14:4) e seus dois amigos
Elifaz e Bildade (25:4–6) expressam que o homem não é
puro. Elifaz diz “Que é o homem, para que seja puro? E o
que nasce de mulher, para ser justo? Eis que Deus não
confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos
seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e
corrupto, que bebe a iniqüidade como a água!” (Jó 15:14–
16). Paulo diz mais na passagem de Efésios 2 “e éramos,
por natureza, filhos da ira, como também os demais”
(Efésios 2:3). Em outras palavras, nossa condição espiritual
não decorre do que fizemos, mas decorre do que somos
naturalmente, desde o nascimento. Isso significa que a
única maneira de escaparmos da condição de morte
espiritual em que nos encontramos é que Deus se curve em
misericórdia e radicalmente nos transforme, através de um
novo nascimento. Jesus disse ao líder religioso Nicodemos
“Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que
é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é
espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer
de novo” (João 3:5-7). Anteriormente João aponta que
aqueles que acreditam no nome de Jesus “deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no
seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da
vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de
Deus” (João 1:12, 13). Em outras palavras, essa
transformação em uma vida nova ocorre somente pelo
poder e vontade de Deus.
Entre aqueles que sustentavam uma posição arminiana,
incluindo católicos romanos e ortodoxos, eles viam o
homem como uma pessoa se afogando no mar. Ele está
batendo seus braços e pernas, tentando manter sua cabeça
fora d’água. Ele precisa de ajuda; seus pulmões estão se
enchendo de água, mas ele ainda está vivo e capaz de
fazer algo para ajudar a si mesmo. Jesus aparece em um
bote e joga ao homem afogando um salvavidas. O homem
alcança e segura o salva-vidas por sua própria fé e força.
Então, Jesus o puxa seguramente para o bote, que segue
para a vida eterna. Os calvinistas bíblicos vêem o homem
estando totalmente afogado e morto no fundo do mais
profundo oceano. Ele tem um coração petrificado, feito de
pedra. Ele não pode ver Jesus vindo para salvá-lo porque
ele está morto e totalmente cego para essa dimensão
espiritual.
Assim como Jesus chamou Lázaro para se levantar da
sepultura após estar morto por quatro dias, da mesma
forma ele dá nova vida para nossos pútridos corpos mortos.
Em Seu grande amor e misericórdia Ele nos chama para
uma ressurreição em que nós ouvimos Sua voz porque
fomos levantados para a vida, apesar de antes estarmos
mortos. Então, nós não podemos dizer que tivemos
qualquer parte em nossa salvação, mas que ela foi
totalmente de Deus. Pois somente Deus salva os pecadores.
Como Paulo explica aos colossenses “E a vós outros, que
estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela
incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com
ele, perdoando todos os nossos delitos” (Colossenses 2:13,
grifamos).
III. Escravos do Pecado
Tendo nascido com uma natureza pecaminosa, nós
continuamente possuímos uma tendência a ter
pensamentos maus, falar palavras más e ter atitudes más.
Na realidade, isto é tudo o que temos capacidade de fazer
aos olhos de Deus, porque nós somos escravos do pecado e
cativos do poder de Satanás. Não é que ninguém faça boas
obras. Todos nós fazemos obras relativamente boas. Até
mesmo o pior criminoso que possamos imaginar poderá
fazer algumas obras relativamente boas. Ele pode amar sua
mãe e dar doces para as crianças vizinhas. O chefe local da
máfia pode auferir milhões de dólares do tráfico de drogas
em uma vizinhança pobre levando à ruína várias famílias e
à morte de várias pessoas. Contudo, quando ele dá perus
de graça na época do Dia de Ações de Graça para famílias
em albergues ele é louvado e suas boas ações são
publicadas nos jornais locais. Qualquer boa obra que
fazemos é, na realidade, obra pecaminosa perante Deus a
menos que nós as façamos com a correta motivação de
darmos glória a Deus e não ao nosso próprio orgulho. Como
Isaías diz “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as
nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós
murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como
um vento, nos arrebatam” (Isaías 64:6). Deus está dizendo
que nossas boas obras são como trapos manchados pela
sujeira da menstruação de uma mulher. O Catecismo de
Heidelberg dá uma boa definição para “boas obras”:
Somente aquelas que são feitas através da verdadeira fé,
de acordo com a lei de Deus e para a Sua glória” (Resposta
91). Edwin Palmer explica isso dizendo “De acordo com o
Catecismo, três elementos são necessários para se fazer
verdadeiras boas obras: fé verdadeira, obediência à lei de
Deus e motivo apropriado. Uma obra relativamente boa, por
outro lado, pode ter a correta aparência externa, mas não
ser executada através de fé verdadeira ou para a glória de
Deus. Assim, não-cristãos podem executar ações
relativamente boas, apesar de eles mesmos estarem
totalmente em depravação”.
1 Total depravação não quer dizer que nós somos tão
perversos quanto possível. Ninguém pode pecar todo o
pecado que seria possível. Jesus reconheceu que mesmo os
perversos podem fazer o bem, quando disse “Se fizerdes o
bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa?
Até os pecadores fazem isso” (Lucas 6:33). É através da
graça comum de Deus que Ele restringe a maldade em
todos (2 Tessalonicenses 2:7) e possibilita que eles possam
fazer o bem relativo. Mas mesmo o incrédulo reconhece a
pecaminosidade do homem. “Um velho provérbio chinês
afirma: ‘Existem dois homens bons – um está morto e o
outro ainda não nasceu’”.
2 Paulo relembra os cristãos efésios de sua condição
anterior dizendo “nos quais andastes outrora, segundo o
curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar,
do espírito que agora atua nos filhos da desobediência”
(Efésios 2:2).Ele está dizendo que eles estavam vivendo nas
garras de Satanás, no controle de suas vidas. Jesus disse
aos judeus que se opunham a ele “Em verdade, em verdade
vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado”
(João 8:34). E Ele continuou dizendo “Vós sois do diabo,
que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos.” (João
8:44). Aqueles escravizados pelo pecado estão sob o
controle de Satanás. Essa é a condição de cada um de nós
antes de reconhecermos Cristo como Senhor pela fé. Como
a epístola de João diz “Sabemos que somos de Deus e que o
mundo inteiro jaz no Maligno” (1 João 5:19).
IV. Objetos da Ira de Deus
Nosso pecado não é algo com que Deus “pega leve”. Não,
nosso Deus é um Deus santo que não pode simplesmente
olhar sobre o pecado ou tê-lo em Sua presença. Como o
profeta Habacuque diz, “Tu és tão puro de olhos, que não
podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por
que, pois, toleras os que procedem perfidamente...”
(Habacuque 1:13). Sendo um Deus de justiça, o pecado
deve ser punido. Todos nós merecemos ir para o inferno.
Paulo explica como os cristãos efésios viviam “entre os
quais também todos nós andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e
dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira,
como também os demais” (Efésios 2:3). A ira de Deus é
contra nós até mesmo pela nossa natureza pecaminosa.
Pois tudo deve ser feito para a Sua glória somente. Desde o
nascimento nós falamos mentiras e procuramos somente o
nosso bem-estar. A Escritura nos diz que “se, de fato, é
justo para com Deus ... quando do céu se manifestar o
Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de
fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a
Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso
Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna
destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu
poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e
ser admirado em todos os que creram, naquele dia
(porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho)” (2
Tessalonicenses 1:6–10).
V. Reino Universal do Pecado
Quando Paulo expõe aos Romanos o porquê de precisarmos
da retidão de Cristo para cobrir nossos pecados ele cita os
Salmos 14 e 53, dizendo “Não há justo, nem um sequer;
não há quem entenda, não há quem busque a Deus”
(Romanos 3:10, 11). Esta citação primeiramente declara
que não há ninguém justo aos olhos de Deus. Segundo,
ninguém entende o que é bom. Terceiro, todos são
incapazes mesmo de procurar a Deus. Vamos expandir um
pouco esses pontos. Outra forma de descrever nossa
depravação total é como esta sendo uma total
incapacidade. Isso significa que o homem é incapaz de
fazer o bem, de entender o que é bom ou até mesmo de
desejar o que é bom. Primeiro, todos são pecadores e
necessitam da graça de Deus, já que ninguém é justo. A
pecaminosidade do homem espalhou-se por toda a raça
humana desde a queda de Adão. Como Paulo disse “... pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram
pecadores” (Romanos 5:19). Essa pecaminosidade infiltrou-
se na raça humana mesmo antes da entrega da lei a
Moisés. Antes do Dilúvio “Viu o SENHOR que a maldade do
homem se havia multiplicado na terra e que era
continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gênesis
6:5). Mesmo logo depois do Dilúvio, o SENHOR disse do
homem “porque é mau o desígnio íntimo do homem desde
a sua mocidade” (Gênesis 8:21). Jesus nos ensinou que é do
coração que procede toda forma de pecado (Marcos 7:20–
23). “Nada sai do corpo físico do homem que seja agradável
de olhar ou agradável de cheirar. Da mesma forma que não
existe nada que saia do coração do homem que seja
agradável a Deus (para a salvação).” 3 Adiante, em
Romanos 3, Paulo nos disse “não há quem faça o bem, não
há nem um sequer” (v. 12).
VI. Mentes Obscurecidas pelo Pecado
Segundo, ninguém entende o bem. Não só todos os homens
são mortos no pecado e escravos dele, mas suas mentes
estão obscurecidas pelo pecado. O homem não-regenerado
não tem entendimento das coisas de Deus. Tais coisas são
loucura para ele. Paulo declara que os não regenerados
estão “obscurecidos de entendimento, alheios à vida de
Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza
do seu coração” (Efésios 4:18). No que diz respeito aos
judeus descrentes, Paulo diz que “... os sentidos deles se
embotaram” e “o véu está posto sobre o coração deles” “...
Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu
lhe é retirado (2 Coríntios. 3:1416). O Evangelho de João
descreve a vinda de Jesus ao mundo como a vida que dá luz
aos homens. Seu prólogo diz “A luz resplandece nas trevas,
e as trevas não prevaleceram contra ela” (João 1:5).
Adiante, ele diz que o “Verbo estava no mundo, o mundo foi
feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu [o povo Judeu], e os seus não o
receberam” (João 1:10, 11). O problema que Jesus
encontrou não estava em sua apresentação, seu estilo ou
suas habilidades de comunicação. Ninguém teria feito
melhor trabalho em comunicar a verdade. Pelo contrário,
eram os duros e descrentes corações que eram incapazes
de entender a verdade. Jesus disse aos judeus “Se vos digo
a verdade, por que razão não me credes? Quem é de Deus
ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos,
porque não sois de Deus” (João 8:46–47). João explica
porque corações duros e obscurecidos de descrentes
evitam a luz da verdade de Deus. “O julgamento é este:
que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as
trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois
todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se
chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas
obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de
que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em
Deus.” (João 3:19-21). Como Paulo falou do poder e da
glória da cruz de Cristo aos coríntios, ele explicou porque
muitos a rejeitaram: “Certamente, a palavra da cruz é
loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos
salvos, poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). Adiante, ele diz
“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de
Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las,
porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios
2:14). O cientista e filósofo Francês Blaise Pascal (1623–
1662) disse: “Existem apenas dois tipos de homens: os
justos, que se acreditam pecadores; e o resto, pecadores,
que se acreditam justos”. Existem vários teólogos e
pastores que passam a maior parte de suas vidas
estudando a Bíblia, sem, contudo, nunca terem acreditado
nela. Eles não podem acreditar porque o Espírito de Deus
não regenerou seus corações. Eles podem ser capazes de
explicar acuradamente o evangelho e as verdades da Bíblia
e ainda rejeitá-las como mitos e estórias criadas para
explicar eventos não entendidos antes da nossa era
científica. E apenas pelo poder e iluminação do Espírito
Santo é que uma pessoa pode entender as profundas
verdades do Evangelho.
VII. A Incapacidade do Homem de Se Arrepender e
Acreditar
Terceiro, nós somos totalmente incapazes de até mesmo
procurar a Deus. Como Paulo diz, “Não há quem busque a
Deus”. De fato, o homem odeia a Deus e o que Ele
representa. O homem odeia o bem e não se importa. É
necessário um miraculoso trabalho de Deus para uma
pessoa chegar à fé salvadora. Como Jesus disse, “Ninguém
pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer...”
(João 6:44). Um pouco depois, Jesus repetiu o mesmo
pensamento dizendo “ninguém poderá vir a mim, se, pelo
Pai, não lhe for concedido” (João 6:65). Isso quer dizer que
ninguém pode escolher seguir Jesus. Todas as pessoas
estão atadas ao pecado. A vontade é livre para escolher o
que acha melhor, mas o que ela naturalmente pensa como
melhor é não buscar ou escolher Deus. O homem natural
não quer se submeter e servir a Deus. Ele rejeita a
soberania de Deus em sua vida. Ele pensa que a felicidade
da satisfação na vida não é encontrada na justiça de Deus.
Apesar da vontade do homem ser livre para escolher
“Provai e vede que o SENHOR é bom” (Salmos 34:8), ele
“odeia” o gosto do “pão vivo que desceu do céu” (João
6:51). A vontade do homem natural está atada pelas
correntes do pecado, o que afeta seu entendimento e visão.
Por que o homem natural não poder ir a Deus? Como
Jeremias disse, “Enganoso é o coração, mais do que todas
as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o
conhecerá?” (Jeremias 17:9). Só aqueles que primeiramente
têm a obra do Espírito de Deus em seu coração são capazes
de ir para Jesus. Assim que Paulo falou a um grupo de
mulheres que se juntaram em Filipos, próximo a um rio,
Lídia veio a crer. Nos é dito que “O Senhor lhe abriu o
coração para atender às coisas que Paulo dizia” (Atos
16:14, grifamos). Ela não abriu o seu coração. Deus é que o
abriu. Jeremias, que era bom amigo do africano Ebede-
Meleque, o qual havia lhe salvado das profundezas
pantanosas de uma cisterna com uma corda (Jeremias 38:7-
13), usou o homem negro para ilustrar uma verdade
espiritual: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o
leopardo, as suas manchas? Então, não poderíeis fazer o
bem, estando acostumados a fazer o mal.” (Jeremias
13:23). A questão retórica colocada por Jeremias confirma o
fato de que é impossível para qualquer um mudar de uma
vida de pecado para fazer o bem, quanto mais alcançando
justiça perante Deus. O grande pregador inglês do século
dezenove Charles Spurgeon descreve isso da seguinte
forma: …Você não poderia tornar um homem negro em
branco, apesar de você poder tornar um homem branco em
negro. Você pode fazer o que quiser por meio de corrupção,
mas você não pode fazer nada através de correção. Você
pode se fazer sujo pelo pecado, mas você não pode se fazer
limpo espiritualmente por si mesmo, faça o que fizer. Existe
uma facilidade em ir para baixo; você pode pular para
dentro de um precipício bastante rápido, mas quem poderia
ficar ao fundo de um alto despenhadeiro e saltar para o
topo de um só pulo? O homem pode descer contra sua
vontade, mas ele não pode subir mesmo com sua vontade.
Você pode fazer o mal muito facilmente, você pode fazê-lo
com as duas mãos, gananciosamente e faze-lo de novo e de
novo e não se cansar dele; mas retornar ao caminho
correto, isso é difícil.4 O que pode o homem fazer para
mudar a sua natureza e se fazer um novo homem? Nada!
Ouvir sermões, ir à igreja, dar dinheiro aos pobres e ajudar
uma viúva a consertar o seu teto vazando, não vão mudar o
coração de um pecador. Todos os meios aparentes de que
alguém possa se utilizar serão inúteis. É somente a obra do
Espírito de Deus que pode mudar um coração frio de pedra
em um coração de carne que responde ao chamado de
Deus. O homem continuamente pensa que ele deve fazer
algo para contribuir para sua salvação. Mesmo aqueles que
reconhecem que a salvação é pela graça de Deus, ainda
pensam que são eles quem escolhem Deus e são eles que
contribuem com a fé para acreditar. A questão que
enfrentamos com relação ao ponto da depravação total ou
extrema, é expressa por Edwin Palmer da seguinte forma: É
Deus sozinho o autor da salvação ou também a fé? Deus
contribui com o sacrifício substituinte de Cristo e o homem
contribui com a sua fé? Ou a fé é também um dom de Deus
(Efésios 2:8)? A salvação depende parte de Deus (a entrega
de Cristo na cruz) ou totalmente de Deus (a entrega de
Cristo na cruz para morrer por nós além de nos dar a nossa
fé)? O homem mantém um pouquinho da glória para si
mesmo – a capacidade de acreditar? Ou toda a glória vai
para Deus? O ensinamento da depravação total é que Deus
leva toda a glória e o homem nenhuma.
VIII. Aplicação
O que nós aprendemos pelo ensinamento de nossa
depravação total é uma explicação para todos os problemas
que encontramos em nosso mundo de ódio, guerra,
pobreza, ganância, drogas, promiscuidade sexual, rebelião
e anarquia. Mesmo se todo o mundo se convertesse, não
seriam resolvidos todos os nossos problemas, uma vez que
os cristãos ainda são pecadores. Mas nós vemos que o
Evangelho nos leva a resolver os problemas no mundo até
que Jesus venha, quando todas as coisas serão renovadas.
Em segundo lugar, nós aprendemos que estamos em uma
condição terrível em nossa própria depravação. Isso nos dá
uma noção da urgência de buscar a Deus. Nós percebemos
que não há esperança longe da graça sobrenatural e
imerecida de Deus. Isso deveria nos levar a apelar a Deus
por misericórdia. Nós deveríamos chamar a Jesus para nos
salvar de nossa condição miserável. Em terceiro lugar,
sabemos agora que se nós buscamos a ajuda e a
misericórdia de Deus é somente porque Deus
primeiramente começou a obra de seu Espírito em nossos
corações para chamar por Ele. “Porque Deus é quem efetua
em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade (Filipenses 2:13). Em quarto, o entendimento da
total depravação do homem tem um impacto em várias
decisões feitas em casa, na escola, na política pública e no
governo. Nosso entendimento da natureza pecaminosa
básica da humanidade afeta como devemos educar nossas
crianças. Isto afeta diretrizes com respeito ao crime e à
punição. A depravação da humanidade influenciou
fortemente os autores da Constituição dos Estados Unidos a
desenvolver um sistema de controle e avaliação nos três
ramos do governo (executivo, legislativo e judiciário),
sabendo que existe uma contínua tendência do homem em
buscar subjugar outros, se permitido. Mas no coração dessa
doutrina está a necessidade de nós entendermos que
estamos totalmente falidos perante Deus. Se mantivermos
a idéia de que temos alguma capacidade espiritual, ainda
que pequena, não vamos nos preocupar nunca com a nossa
condição espiritual. Geralmente nós pensamos que temos
uma longa vida para viver e que ainda há tempo para
acreditar em Cristo mais tarde. Mas ao conhecermos nossa
real condição de estarmos mortos no pecado, estaremos
em desespero e procurando por Cristo. Nós vamos sentir
uma urgência em nos arrependermos e acreditarmos Nele.
Pois nós não temos mérito em nós mesmos para oferecer a
Deus e recebermos a salvação. A salvação vem de Deus
somente, através de Cristo somente, pela graça somente,
através da fé somente que nos é dada como um dom de
Deus, para a glória de Deus somente. Aleluia! Amém.
Ação de Graças:
“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais
do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu
poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em
Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre.
Amém!” (Efésios 3:20, 21). Monergismo.com – “Ao Senhor
pertence a salvação” (Jonas 2:9)

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