Projeto L.A

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS

PROJETO DE INTERVENÇÃO: UMA NOVA ÓTICA PARA O ENSINO DO


PRESENTE DO INDICATIVO

Fernanda da Rocha Carmo


Iago Lucas Almeida de Araújo
Isabelle Pires da Silva

Docente responsável:
Prof.ª Dr.ª Ilza do Socorro Galvão Cutrim

São Luís
2024
SUMÁRIO
1. TEMA
2. INTRODUÇÃO
3. JUSTIFICATIVA
4. OBJETIVOS
4.1 Geral
4.2 Específicos
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
6. METODOLOGIA
6.1. Procedimentos metodológicos

REFERÊNCIAS
1. TEMA
Uma nova ótica para o ensino do presente do indicativo

2. INTRODUÇÃO

As línguas não são estáveis o tempo todo, pois estão sempre se refazendo e com isso
surgindo novas maneiras de estabelecerem-se, no momento da comunicação, por meio da
variação linguística que se faz parte em todos os níveis, favorecendo assim, uma
diversificação da fala. Conforme retrata Bagno (1999), toda língua viva é uma língua que se
faz e se refaz, em constante transformação. Levando esse pensamento em conta , no âmbito
escolar brasileiro, ao se trabalhar o ensino da língua, é adotado o modelo tradicional voltado
para a norma prescritiva, ou seja, pautado na utilização de regras gramaticais e excluindo o
que se constitui a língua e suas variedades, como também o saber que o educando possui
sobre a língua na qual ele faz uso.

Logo, mostra-se a relevância do papel da conscientização de sua utilização no âmbito


escolar, pois possibilita aos aprendizes uma reflexão crítica sobre sua utilização no momento
de comunicação. Dessa maneira, este projeto de intervenção visa trabalhar o presente do
indicativo na perspectiva dos três eixos linguísticos para o ensino de gramática proposto por
Silva Rodrigues Vieira (2018).

3. JUSTIFICATIVA
Sabe-se que o ensino de Português nas escolas tanto da rede privada, quanto da rede
pública foca nas regras gramaticais, até porque é uma das exigências na competência 1 na
redação do ENEM, que avalia o domínio da norma culta da língua portuguesa. Entretanto, no
cotidiano desses estudantes, não é o português na norma padrão que eles falam ou escutam
nas suas interações diárias.
Por isso, a relevância deste projeto está em provocar uma reflexão nesses alunos
acerca dos usos reais do presente do indicativo de acordo com a norma padrão bem como com
a variedade linguística da comunidade onde será realizado o projeto. Claro que não será
abominado o uso das regras gramaticais, mas é entender como a dinâmica da língua nos
falantes dela é uma realidade diferente da que a norma exige.

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4. OBJETIVOS
4.1. Objetivo geral
● Compreender os usos do presente do indicativo do português brasileiro a partir
da perspectiva da variação linguística.

4.2. Objetivos específicos


● Aplicar o conhecimento em frases e contextos cotidianos;
● Investigar as diferentes variantes no sistema pronominal e na flexão de verbos
do presente do indicativo;
● Entender como diferentes variantes linguísticas são associadas a significados
sociais específicos;
● Ser capaz de refletir sobre o preconceito linguístico.

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A ideia central do projeto é ensinar o presente do indicativo do português brasileiro
para estudantes do 6º ano do ensino fundamental a partir de uma abordagem da variação
linguística a fim de proporcionar não apenas o domínio da língua padrão, mas, sobretudo,
praticar a reflexão linguística através da investigação de fatos linguísticos reais, envolvendo a
comunidade de fala a qual o aluno pertence.
O Ministério da Educação (MEC) possui uma proposta de ensino da língua portuguesa
descrita onde é evidente a importância da investigação linguística:

“[...] refletir sobre os fenômenos de linguagem, particularmente os que


tocam a questão de variação linguística, combatendo a estigmatização,
discriminação e preconceitos relativos ao uso da língua. (Brasil, 1998,
p. 59)”

O que se observa, entretanto, na maioria das escolas do país é uma tentativa


antipedagógica de enfiar nomenclaturas e regras gramaticais fora de qualquer contexto na
cabeça dos alunos e aplicar exercícios de análise morfossintática sem sequer um mínimo de

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reflexão. É a prática pela prática. A norma como padrão homogêneo e artificial. No livro
“Preconceito Linguístico”, o autor Marcos Bagno afirma:

“A grande tarefa da educação linguística contemporânea é permitir,


incentivar e desenvolver o letramento dos alunos, isto é, a plena
inserção desses sujeitos na cultura letrada em que eles vivem. Esse é
um dever da escola e um direito de todo cidadão, de toda cidadã.
(Bagno, 1999, p. 101)”

Para conciliar o ensino de gramática com a prática do letramento, o presente projeto
será baseado no texto de Silva Rodrigues Vieira: Gramática, Variação e Ensino: Diagnose e
Propostas Pedagógicas (2018).

6. METODOLOGIA
O projeto será executado em quatro aulas, cada uma com duração de cinquenta
minutos, sendo duas aulas consecutivas em um único dia.

6.1 Procedimentos Metodológicos:

Dia 1

Para introduzir o tema da aula de uma forma a acionar os conhecimentos linguísticos


já adquiridos pelos alunos, projetaremos a letra da música Inútil (1985), de Ultraje a Rigor, e
usaremos um dispositivo de som para reproduzi-la. Eis a letra da música:

A gente não sabemos


Escolher presidente
A gente não sabemos
Tomar conta da gente
A gente não sabemos
Nem escovar os dente
Tem gringo pensando
Que nóis é indigente

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Refrão
'Inúteu'
A gente somos 'inúteu'
'Inúteu'
A gente somos 'inúteu'
'Inúteu'
A gente somos 'inúteu'
'Inúteu'
A gente somos 'inúteu'

A gente faz carro


E não sabe guiar
A gente faz trilho
E não tem trem pra botar
A gente faz filho
E não consegue criar
A gente pede grana
E não consegue pagar
A gente faz música
E não consegue gravar

(refrão)

A gente escreve livro


E não consegue publicar
A gente escreve peça
E não consegue encenar
A gente joga bola
E não consegue ganhar

(refrão)

Em seguida, perguntaremos às crianças a percepção linguística delas com as formas “a


gente não sabemos”, “a gente somos” e “nóis é” retirados da letra acima. Propomos as
seguintes perguntas:

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Que tipo de pessoa fala assim? Vocês consideram que é uma pessoa mais ou menos
inteligente? É alguém da classe mais alta ou mais baixa? Alguém mais novo ou mais velho?
Alguém mais ou menos formal? Alguém mais amigável ou mais sério? Por que o compositor
da música optou por escrever dessa forma? O que vocês acham da forma “a gente sabe”? E
da forma “nós sabemos”?

O objetivo no primeiro momento é refletir sobre as percepções de cada aluno e


justificá-las objetivamente de modo a combater a ideia da homogeneidade linguística no
Brasil e a estigmatização do uso não padrão.
O professor deve relativizar o conceito de “certo” apresentando a noção de Norma
Padrão da língua em coexistência com inúmeras variedades, sem deixar de ressaltar a
importância da aquisição daquela para o exercício pleno da cidadania.
Após a discussão, é necessário ativar o conhecimento epilinguístico dos alunos através
de um exercício de produção. O professor distribuirá a letra da música com todos os “a gente”
e “nóis” removidos bem como suas respectivas flexões verbais e os alunos completarão os
espaços em branco usando os pronomes “tu” ou “você” e suas formas verbais como bem
entenderem.
Dado algum tempo para os alunos executarem a atividade, o professor deve fazê-los
refletir sobre suas escolhas, ouvir suas justificativas e atribuir percepção linguística sobre as
formas adotadas. Trazer à tona a discussão sobre a desinência “s” de segunda pessoa do
singular caso não tenha sido apontada por ninguém.
Vieira (2018) aponta que a sistematização de um saber linguístico naturalmente
acontece na etapa da atividade metalinguística onde o indivíduo se torna consciente do uso de
uma determinada forma. Para tal, montaremos uma tabela contendo todos os pronomes
pessoais do português brasileiro e pediremos que os alunos a completem com a forma
apropriada do verbo “ser”.

Modelo de tabela a ser projetado:


(as formas verbais devem conter animação para aparecer)

Eu sou

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Tu é/és

Você é

Ele/ela é

A gente é/somos/somo

Nós/Nóis é/somos/somo

Vós sois

Vocês são

Eles/elas são

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Após completar a tabela com os alunos, o professor apresentará a tabela com a
conjugação de acordo com a norma padrão e enfatizará a sua importância mais uma vez.
O professor, em seguida, refletirá sobre o tempo presente o qual o verbo fora
conjugado e fará o mesmo processo da tabela com verbos de primeira, segunda e terceira
conjugação.
Chegando ao final da aula, o professor passará um dever de casa baseado numa
pesquisa sociolinguística de terceira onda. Os alunos terão a missão de entrevistar seus
responsáveis e coletar percepções linguísticas das formas “a gente é” e “a gente somos” de
acordo com a tabela a seguir: questionário empregado em Mendes (2016)

O professor entregará uma folha com duas tabelas como essa para coleta dos dados
com as duas variáveis e os alunos terão que entregá-la preenchida na próxima aula.

Dia 2

O professor promoverá uma discussão acerca dos resultados obtidos no dever de casa
dos alunos. O que se espera é que a forma “a gente somos” tenha sido percebida como nada
escolarizada, nada formal, nada inteligente e ser de classe mais baixa. Cabe, então, ao
professor fazer com que os alunos reflitam sobre a estigmatização que algumas formas
sofrem, mesmo que sejam mudanças naturais e inerentes à língua.
Deve-se obter considerações de todas as percepções sugeridas no dever proposto. O
professor, nessa hora, deve fazer questionamentos para que a turma participe e expresse
possíveis justificativas.

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Em seguida, discussões sobre os usos de “tu” e “você” junto com “vós” e “vocês” e
suas respectivas flexões verbais devem ser objetos de reflexão e o mesmo questionário de
percepção linguística pode ser aplicado para gerar mais debates.
O professor terá o papel de combater o preconceito linguístico ao mesmo tempo que
enfatiza a importância de se dominar a norma padrão.
Para consolidar o conteúdo, enfim, propomos uma atividade com exercícios de
conjugação de preenchimento de lacunas de verbos no presente do indicativo dentro de um
contexto. De preferência um texto curto (um trecho de um conto, por exemplo) contendo
vários verbos que serão retirados para realização da atividade em sala de aula.

REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. São Paulo: Editora Loyola, 1999.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro
e quarto ciclo do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC, 1998.
ULTRAJE A RIGOR. Inútil. São Paulo: Warner Music Brasil. 1985. Youtube (2min41s).
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=9aHoWTs6xE0 > . Acesso em: 17 jun.
2024.
VIEIRA, Silvia Rodrigues. Gramática Variação e Ensino: Diagnose e propostas
pedagógicas. In: Três eixos para o ensino de gramática. São Paulo: Blucher, 2018.

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