Proposta de Dicionário Infantil Bilingue Libras/portugues
Proposta de Dicionário Infantil Bilingue Libras/portugues
Proposta de Dicionário Infantil Bilingue Libras/portugues
João Pessoa
2016
SEVERINA BATISTA DE FARIAS KLIMSA
João Pessoa
2016
SEVERINA BATISTA DE FARIAS KLIMSA
Banca examinadora
João Pessoa
2016
Para meus pais, Antônio Farias e Lúcia
Muito obrigada!
Para Vanda Pinheiro, você sabe que
A querida Roberta Soares, por se dispor tão gentilmente a posar para as fotos e fazer
os vídeos para a tese.
A Jimmy Leão, por ter feito, tão cuidadosa e pacientemente, a editoração gráfica da
proposta do dicionário.
A Rafael Emil, pelo carinho com que aceitou fazer a edição dos vídeos.
A Ronny, pelo apoio na leitura dos textos da tese quando eu não mais conseguia ler.
A Tânia Nery, minha eterna professora, um exemplo de mulher a quem quero seguir
sempre.
A minha amiga Norma Maciel, por seu carinho, amizade e incentivo que sempre foram
e serão muito importantes para mim.
Aos meus queridos amigos Ewerton Ávila, Kátia França, Viviane Lins e Chirlene
Cunha, pelas idas e vindas de Recife a João Pessoas, pelas palavras de incentivo nas
horas de desânimo, por tantas informações da área de linguística e, especialmente,
pelas risadas em todos os momentos durante os quatro anos do doutorado.
A Ronil do Proling, por sua gentileza e presteza nos momentos em que precisei de
informações, documentos e outros.
Dictionaries are important works for the lexicon registry of different languages, whether
oral or visual, and the school context. The Brazilian Sign Language (Libras) has a long
tradition in the production of dictionaries. The aim of our thesis is to propose a model
of bilingual children's dictionary Libras / Portuguese for the deaf children in early
literacy process of the first year of elementary school 1. For the development of this
proposal, we follow the guidelines established by the National Textbook Program (
PNLD) for dictionaries type 1. Initially, to understand the lexical choices adopted by the
authors, conducted a survey in dictionaries: My First Dictionary Caldas Aulete with the
class of Cocoricó, My First Dictionary Saraiva the Portuguese Language and Blucher
Illustrated children's Illustrated, projects approved and appropriate to the school
context by its program. Our corpus consists of 500 entries belonging to the infant
universe, selected from Deit-Libras: Encyclopedic Dictionary Illustrated Trilingual the
Brazilian Sign Language (2001) and the three volumes of the Illustrated Book of
Brazilian Sign Language: unmasking communication (2009). The research is inserted
in the lexicography of the fields according to the study Biderman (1998), Carvalho
(2001), Barros (2004), and Libras with Felipe works (1989), Quadros and Karnopp
(2004) and Ferreira- Brito (2010). The results demonstrate that the creation of this type
of work in Libras is possible, because it will contribute to the educational development
of deaf children and as a teaching resource to support the teachers working in the
classroom.
Les dictionnaires sont des travaux importants pour le registre de lexique de différentes
langues, qu'elles soient orales ou visuelles, et le contexte scolaire. Le Brésilien Sign
Language (Libras) a une longue tradition dans la production de dictionnaires. Le but
de notre thèse est de proposer un modèle de Libras dictionnaire des enfants bilingues
/ portugais pour les enfants sourds dans le processus d'alphabétisation précoce de la
première année de l'école élémentaire 1. Pour l'élaboration de cette proposition, nous
suivons les lignes directrices établies par le Programme Textbook national (PNLD)
pour les dictionnaires de type 1. dans un premier temps, de comprendre les choix
lexicaux adoptées par les auteurs, a mené une enquête dans les dictionnaires: Mon
premier dictionnaire Caldas Aulete avec la classe de Cocorico, My First Dictionnaire
Saraiva la langue portugaise et Illustrated Blucher Illustrated enfants, des projets
approuvés et adaptés au contexte scolaire par son programme. Notre corpus
comprend 500 entrées appartenant à l'univers du nourrisson, choisi parmi Deit-Libras:
Dictionnaire encyclopédique illustré trilingues le Brésilien Sign Language (2001) et les
trois volumes du Livre Illustré de Brazilian Sign Language: communication
démasquage (2009). La recherche est inséré dans la lexicographie des champs selon
l'étude Biderman (1998), Carvalho (2001), Barros (2004), et livres avec Felipe œuvres
(1989), Quadros et Karnopp (2004) et Ferreira- Brito (2010). Les résultats démontrent
que la création de ce type de travail en livres est possible, car il contribuera au
développement de l'éducation des enfants sourds et comme une ressource
pédagogique pour soutenir les enseignants qui travaillent dans la salle de classe.
Figura 32 - Capa dos três volumes do livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais:
desvendando a comunicação
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 29
CAPÍTULO 1 - PERSPECTIVAS TEÓRICAS...................................................... 34
1.1 SOBRE DICIONÁRIOS....................................................................... 34
1.1.1 Algumas considerações iniciais........................................................... 35
1.1.2 Tipos de dicionários existentes............................................................ 38
1.1.3 A seleção de informações sobre a língua para o dicionário................ 40
1.1.4 A organização das informações nos dicionários.................................. 42
1.1.5 Palavras ou sinais que não se encontram nos dicionários.................. 45
1.1.6 Palavras ou sinais que constam num dicionário.................................. 46
1.2 LEXICOGRAFIA E DICIONÁRIOS BILINGUES................................. 47
1.2.1 Os dicionários bilíngues....................................................................... 49
1.2.2 Classificação dos dicionários bilíngues............................................... 50
1.2.3 Estrutura do dicionário bilíngue........................................................... 51
1.3 O PNLD E OS DICIONÁRIOS INFANTIS........................................... 53
1.4 OS DICIONÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS...................................... 58
1.4.1 Percurso histórico................................................................................ 59
1.4.2 Tipos de dicionários em Línguas de Sinais: função e destinatários... 88
1.4.3 Formas de representação: dicionários impressos e digitais................ 91
1.4.4 Formas de compilação lexicográfica: principais desafios para a 95
ordenação dos sinais...........................................................................
1.5 ASPECTOS LEXICAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 97
(LIBRAS).............................................................................................
1.5.1 O léxico da Libras................................................................................ 98
1.5.2 O sinal como aspecto lexical............................................................... 103
1.5.3 A ampliação lexical nos processos de formação de sinais da Libras.. 109
1.5.4 A ampliação lexical por empréstimos................................................. 117
CAPÍTULO 2 - PERCURSO METODOLÓGICO.................................................. 120
2.1 O corpus.............................................................................................. 120
2.2 Caracterização e análise dos dicionários............................................ 122
2.3 Seleção dos sinais............................................................................... 130
2.4 Seleção dos campos temáticos........................................................... 133
2.5 Critérios para construção do DIBLIP................................................... 134
CAPÍTULO 3 - PROPOSTA DO DICIONÁRIO INFANTIL BILINGUE 137
LIBRAS/PORTUGUES (DIBLIP)........................................................................
3.1 Versão impressa.................................................................................. 137
3.1.1 Textos externos................................................................................... 137
3.1.1.1 Capa.................................................................................................... 137
3.1.1.2 Folha de Rosto..................................................................................... 139
3.1.1.3 Sumário................................................................................................ 139
3.1.1.4 Apresentação ao aluno........................................................................ 140
3.1.1.5 Guia do educador................................................................................ 140
3.1.1.6 Como usar este dicionário................................................................... 140
3.1.1.7 Apêndice dos campos temáticos......................................................... 142
3.1.1.8 Índice remissivo................................................................................... 142
3.1.2 Aportes estruturais............................................................................... 142
3.1.2.1 Ordem alfabética.................................................................................. 143
3.1.2.2 Forma das entradas lexicais................................................................ 145
3.1.2.3 Fontes.................................................................................................. 147
3.1.2.4 Divisão Silábica.................................................................................... 148
3.1.2.5 Definições dos verbetes....................................................................... 149
3.1.2.6 Exemplos............................................................................................. 166
3.1.2.7 Imagens............................................................................................... 170
3.1.2.8 Campos temáticos............................................................................... 172
3.2 Versão DVD......................................................................................... 173
3.2.1 Tela de Abertura................................................................................ 173
3.2.2 Tela com a lista dos verbetes............................................................. 174
3.2.3 Tela de tradução do sinal e do conceito do verbete............................ 175
3.2.4 Tela de tradução das frases............................................................... 176
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 178
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 181
APÊNDICE........................................................................................................... 186
ANEXOS............................................................................................................... 201
29
INTRODUÇÃO
M. Alvar Esquerra
No Brasil, o ano de 2000 representou um marco, pois foi nessa ocasião que o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação e Cultura
(MEC) passou a incluir dicionários em sua avaliação. Essa inclusão provocou muitas
mudanças, entre elas, a proliferação desse tipo de obra, mudanças no potencial de
informações que os dicionários comportam, além de passarem a ser distribuídos aos
30
Elaborar um dicionário em línguas de sinais não é uma tarefa fácil e tem sido
um desafio histórico desde as primeiras formas de representação dessa língua. Isso
é observado quando os aprendizes tentam de forma autônoma executar algum sinal
e não conseguem pela dinâmica e dimensionalidade visual da língua. Sendo assim,
de acordo com Sofiato e Reyle (2014), sem a presença de um mediador, a leitura da
imagem e a produção dos sinais podem ficar muitas vezes comprometidas.
Optamos por um respaldo teórico integrado que desse conta do objeto que nos
propomos: O dicionário infantil bilíngue Libras/Português. Ancoramos nosso estudo
32
Além disso, defendemos com nosso trabalho o ensino da língua portuguesa como
segunda língua (L2), para que se aprofunde o conhecimento de ambas as línguas e
mundos. Por esse motivo, não poderíamos deixar de incluir a palavra bilíngue na
nomenclatura da proposta. “Bilíngue” aqui significa uma metodologia de ensino e não
apenas uma tradução de uma língua fonte para uma língua alvo.
34
1Palavra de origem grega “Lexicon” que significa Léxico. De acordo com CARVALHO (2001, p. 19)
no sentido lato, é sinônimo de vocabulário.
36
Nos estudos de Biderman (1998b, p.131 apud Silva, 2013, p.106) a autora
mostra que os dicionários podem ser monolíngues, analógicos ou ideológicos,
temáticos ou especializados, etimológicos, históricos e terminológicos, estes últimos
em diferentes áreas do conhecimento, como a astronomia, biologia, comunicações,
direito, ecologia, eletricidade, física, geologia e geomorfologia, informática, medicina,
metalurgia, psicologia, química, etc.
isso, podemos esclarecer que as funções desse tipo de obra são muitas vezes
motivadas por práticas sociais, a exemplo de grafia das palavras, informações sobre
gramática, divisão silábica, pronúncia, significado, sentido, formação de frases,
sinônimos entre outras.
A autora pondera que tais traços dizem respeito a uma obra pura. E que a
heterogeneidade se apresenta na confecção de novos repertórios, sendo comum a
mistura de gêneros.
O tipo de definição para cada dicionário dependerá dos usuários aos quais se
propõe atender. Todavia, é preciso considerar os princípios mínimos apresentados
(BARROS, 2004, p. 166). Os mais recorrentes são os repertórios semasiológicos e
onomasiológicos. (GAVA, 2012, p. 111)
Nos trabalhos de Farias (2009a, p.4) “os dicionários semasiológicos têm como
principal característica apresentar paráfrases definidoras, enquanto os dicionários
onomasiológicos caracterizam-se pelo estabelecimento de relações conceituais entre
as palavras, a exemplo do thesaurus, dos dicionários de sinônimo-antônimos, dos
dicionários pela imagem, ou mesmo dos dicionários bilíngues”.
Por outro lado, quando uma palavra/sinal tem vários significados, por vezes é
difícil determinar que acepções de uma palavra/sinal devem ter uma entrada própria
e que acepções devem estar sobre a mesma entrada. Por exemplo, a palavra “manga”
pode significar, entre outras, uma fruta, uma parte de um vestuário ou um xingamento.
Mas, se as razões anteriores, por si só, justificam que por vezes não
encontramos uma palavra, existe uma razão mais poderosa que todas para que tal
aconteça e que se prende com a natureza do léxico e do saber lexical dos falantes,
ou seja, os usos da língua na sociedade.
46
Portanto, em razão da grande importância das escolhas lexicais que são feitas
na elaboração de um dicionário, partiremos agora para compressão de como são
selecionadas as palavras e sinais que devem conter um dicionário de línguas.
Citado por Silva (2013, p. 109 apud Welker, 2005), “a literatura relativa à
lexicografia bilíngue, embora menos volumosa do que aquela sobre dicionários
monolíngues é bastante vasta”. Porém, a autor aponta que o trabalho de Carvalho
48
O dicionário é uma obra complexa, com identidade própria, que encerra uma
multidimensionalidade de aspectos. No entanto, o dicionário não é isento de
49
Sendo assim, o uso do dicionário bilíngue, como material didático, deverá ser
o mais completo possível, pois uma definição basicamente sintética não auxiliará o
aluno, além de tornar o papel deste dicionário como coadjuvante do ensino.
Carvalho (2001, p.47 apud Silva 2013, p. 110) argumenta que existem alguns
critérios que combinados entre si influenciam a classificação dos dicionários bilíngues
e que os mesmos não atuam sozinhos. São eles: dimensão - dicionário de bolso,
médio, grande; número de línguas - monolíngues, bilíngues, multilíngues; grau de
especialização - geral vs. especializado; direção - a língua do usuário como língua-
fonte ou língua-alvo; abrangência - unidirecional ou bidirecional; função - situações
em que o usuário utiliza o dicionário.
mais rigorosa, uma vez que a dimensão do dicionário leva o lexicógrafo a delimitar o
número de informações sobre o lema. (SILVA, 2013, p. 111)
No ano de 2005, o programa foi mais uma vez reformulado, mas agora no
sentido de distribuir os dicionários para que fossem utilizados de fato em sala de aula.
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Com direito à palavra:
dicionários em sala de aula / [elaboração Egon Rangel]. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Básica, 2012.
3Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Com direito à palavra: dicionários em
sala de aula / [elaboração Egon Rangel]. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2012.
56
com que o aprendiz se aproprie tanto da Libras quanto da língua portuguesa, por ser
uma obra bilíngue adequada as necessidades da criança surda.
Ao alcançar esses objetivos, o aluno terá muitos benefícios que lhe servirão por
muitos anos, já que sua relação com o léxico não se limita aos anos em sala de aula;
antes, se estende por todos os ambientes que passar e por todo o seu período de
vida.
58
O objetivo desta seção é fazer uma retrospectiva histórica das primeiras formas
de registros da língua de sinais, inicialmente em forma de estampas, perpassando
pelos manuais e, posteriormente, pelos dicionários em formato impresso ou digital
como vemos na atualidade.
6
Quirologia ou a imagem natural da mão.
7
O amigo do homem surdo e mudo.
8
Elementos da fala: um trabalho de pesquisa sobre a produção natural das letras: com um apêndice sobre as
pessoas suras e mudas.
61
10 Dicionário de surdos-mudos
63
11 Teoria dos gestos ou introdução ao estudo das línguas, onde o sentido das palavras em vez de ser
definido, é posto em ação.
12 Dicionário de língua de sinais francesa: mimografia
64
sourds muets a la portée de tout le monde avec une iconographie des signes”20. Em
sua obra, ele representa os gestos por meio de desenhos com o apoio de setas para
compreensão do movimento. Sofiato (2011, p. 21).
Na época, por ser surdo e educado em língua de sinais, era natural que
Pélissier tivesse interesse em produzir trabalhos na área, ainda mais devido a sua
aptidão para o desenho e por ser o único, de acordo com Sofiato (2011), a representar
o pensamento surdo, devido a sua condição. Seu trabalho foi fundamental para a
educação dos surdos franceses da época.
20 Educação primária dos surdos, o silêncio ao alcance de todos: uma iconografia dos sinais.
21 Poesias de um surdo-mudo.
68
De acordo com Sofiato & Reily (2005 apud Sofiato, 2011, p. 25), a inspiração
para o trabalho de Flausino foram as estampas de Pélissier, entendidas por ele como
uma forma dos “falantes” conversarem com os surdos. Segundo a autora, Flausino
era um desenhista bastante hábil conseguindo desenvolver o projeto depois que
aprendeu a técnica da litogravura. A autora ainda enfatiza que
O manual de Flausino contém 20 estampas e para cada uma delas existe uma
lista com explicações de como o sinal é feito.
70
Fonte: Gama, Flausino José da. Iconographia dos signaes dos surdos-mudos. Rio de Janeiro: INES,
2011 (série histórica do Instituto Nacional de Educação de Surdos)
Fonte: Gama, Flausino José da. Iconographia dos signaes dos surdos-mudos. Rio de Janeiro: INES,
2011 (série histórica do Instituto Nacional de Educação de Surdos)
Todas as imagens utilizadas foram feitas pelo próprio Oates. As fotos são em
preto e branco e em alguns casos foi utilizada mais de uma imagem para compor o
sinal. A compreensão do movimento é feita por meio de setas. Ao lado de cada sinal
há um verbete com sua descrição. No final do livro há um índice com numeração e
nome dos temas de cada capítulo e, também, uma lista com todas as palavras
utilizadas no manual em ordem alfabética. Na imagem abaixo, no sinal PECAR, foi
utilizada uma seta para indicar a noção do movimento (figura xx). Os números entre
parênteses indicam o número do sinal, numerados no início do livro, de 1 até 1.258.
Doze anos após a publicação do manual de Oates (1969), ainda no século XX,
surgiu um novo manual de Libras no Brasil, intitulado “Comunicação Total”. A obra
fora produzida por missionários americanos que vieram trabalhar com surdos no país.
De autoria de Everett Peterson e sua esposa Iva Jean Peterson (1981), contribuiu
para ampliação e estudos lexicográficos da língua de sinais brasileira que era
chamada, na época, de mímica.
quando seu léxico foi expandido em 84 sinais, do total de 490 sinais que o compunha
na primeira edição, passa para 574 na segunda edição.
Esse livro foi escrito visando a integração do surdo na sociedade, visto que
sua comunicação é diferente, era necessário investir nessa área. Por conta
dessa necessidade, o Dr. John Peterson passou a trabalhar nessa área de
literatura para surdos. Este título do primeiro livro se deu por conta da filosofia
da comunicação total que estava se expandindo naquela mesma época,
1981. (RODRIGUES, 2009, p. 14).
A obra foi feita de forma artesanal e simples, pois não havia nenhuma editora
a frente do trabalho. As cópias eram fotocopiadas e encadernadas com espiral. Sua
distribuição para os surdos era gratuita; parte do auxílio financeiro era vindo de
instituições americanas, visando oferecer ao surdo a possibilidade de conhecer
“mimica”, sobretudo para aqueles surdos que nunca haviam tido a oportunidade de
frequentar uma escola ou comunidade surda.
75
Na parte interna do manual, sua organização era feita por três colunas. A
primeira com desenho que ilustra o significado do sinal, conforme exemplo acima, a
imagem de dois pássaros, com a indicação por meio de seta para o significado da
palavra vivo, visto que a outra ave se encontra morta. Na coluna do meio aparece uma
ilustração com o sinal em Libras para viver com setas indicativas do movimento das
mãos (para cima e para baixo). Segundo seu autor, as ilustrações auxiliam a
compreensão dos surdos, especialmente os que não tinham acesso à leitura e escrita
na época. (TEMOTEO, 2012, p. 42)
Fonte: Manual de sinais bíblicos: O clamor do silêncio, JMN, 1991, p.128. (TEMOTEO, 2012, p. 51)
77
Os sinais são apresentados numa caixa e sua representação é feita por uma
ilustração (desenho) do sinal. Abaixo da caixa, encontra-se o verbete em português
com uma explicação detalhada sobre o modo como deve ser feito sinal, como no
exemplo acima, a palavra MANÁ, cujo significado é “o alimento que desceu no céu”.
Fonte: Linguagem dos Sinais. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992
22 Encontramos na página posterior a folha de rosto da obra, a seguinte indicação: “os desejos dos
editores é que este compêndio ajude os deficientes auditivos a aprender a louvar o nosso Gradioso
Criador Jeová por meio da linguagem dos sinais”. Por não haver prefácio e nem introdução formal,
apenas uma mensagem com indicações de passagens da bíblia, não encontramos em nenhuma parte
da obra que esta, seja um manual, livro ou dicionário. De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa, a palavra compêndio significa: é o nome que se dá a uma súmula dos conhecimentos
relativos a uma dada área do saber, em forma de livro. Devido a essa definição, optamos por nomear
a obra em pauta de Livro.
78
Fonte: (Linguagem dos Sinais. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992, p. 34)
As ilustrações foram criadas de forma estilizada num mesmo padrão para que
ficasse mais compreensível a posição e orientação das mãos na demonstração dos
sinais. Da mesma forma, as imagens dos personagens trazem formas simples, opção
feita por seus autores para não haver incompreensão do sinal, devido o seu
detalhamento. O objetivo, segundo Capovilla, Raphael & Macedo (1998, p. 47) “é de
eliminar aspectos irrelevantes no sinal e adentar aspectos mais finos naqueles sinais
em que o movimento é relativamente discreto”.
segundo seus autores, “foi fruto de cinco anos de pesquisas intensas no Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo”. (CAPOVILLA & RAPHAEL, 2001, p. 50).
O dicionário é composto por 4.327 sinais que estão divididos em dois volumes
(volume I de A a L e volume II de M a Z). Contempla três línguas: o português e o
inglês (organizados de forma escrita em ordem alfabética); e a Libras escrita de
maneira visual (SignWritting), por isso é considerado trilíngue.
As imagens são todas ilustrações dos sinais, mostrando apenas as partes mais
relevantes dos sinais no personagem, como as mãos, expressões faciais ou o ponto
de articulação onde o sinal é realizado. As setas de cor diferente da imagem fazem a
marcação dos movimentos da língua. Algumas frases também são utilizadas para
contextualizar o sinal.
Figura 32 – Capa dos três volumes do livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais:
desvendando a comunicação.
Fonte: Honora M., Frizanco M. L.E. e Saruta F.B.S., Ciranda Cultural. 2009
Fonte:
(Honora
M., Frizanco
M. L.E. e
Saruta
F.B.S.,
2009, p.
107)
A pesquisa que realizamos para escrever esta seção foi de extrema relevância
de modo que nos fez refletir sobre as características que elegemos como necessárias
para a elaboração de nossa proposta de doutoramento, o Dicionário Infantil Bilíngue
Libras/Português. Dentre elas, estão as imagens que, a nosso ver, precisam ser reais,
visto que, a criança surda vivencia, grande parte de sua experiência de mundo através
da visão, e as ilustrações em forma de desenhos não retratam de forma real o que é
perceptível pelos olhos da criança surda. Outro ponto importante é a referência das
imagens com os sinais serem feitas por crianças, devido a identificação da criança
surda com outra criança sinalizando. Como podemos observar, o conteúdo mais difícil
de retratar numa obra em Libras são os movimentos dos sinais, por esse motivo,
presumimos ser pertinente que o dicionário tenha uma versão em formato digital com
a tradução dos sinais executados por crianças e frases que contextualizem as
diversas situações do cotidiano nas quais os sinais sejam utilizados pelos adultos
surdos. Portanto, é a partir deste contexto que justificamos o teor didático pedagógico
de nossa proposta, de modo que seja utilizado como material de apoio no trabalho de
professores em atividades de alfabetização para crianças surdas.
88
A representação figurativa dos sinais requer bastante espaço no papel. Isso faz
com que a maioria dos dicionários seja monolíngue, pois é muito difícil adicionar, em
termos de extensão, todas as informações dos sinais. Mesmo em dicionários, sempre
há certa limitação na quantidade de sinais que compõem o dicionário.
A tradução do sinal, em certo ponto, pode ser realizada por meio de glosa.
Porém o significado das frases fica mais claro a partir de frases em contexto que
também indicam as restrições de uso. A definição propriamente dita ou a informação
complementar ao sentido do sinal podem, por vezes, ser dispensáveis. As frases em
línguas de sinais, preferencialmente, são utilizadas de fontes naturais, de modo a
garantir sua confiabilidade.
A natureza holística dos sinais não permite uma ordenação e uma pesquisa tão
lineares quanto o alfabeto das línguas orais. No entanto é possível ordenar os sinais
de acordo com os valores dos parâmetros mínimos: configurações das mãos;
movimentos das mãos (em si próprias ou no espaço); orientação das mãos;
localização (no corpo e no espaço) e componentes não-manuais (expressões faciais,
padrão de boca e movimentos corporais).
Basílio (2009, p. 9), citado por Castro Júnior (2014, p. 50) destaca como uma
importante função do léxico ser uma espécie de “banco de dados previamente
classificados, um depósito de elementos de designação, que fornece unidades
básicas para a construção dos enunciados”. O léxico categoriza as coisas sobre as
quais queremos comunicar, fornecendo unidades de designação, as palavras, que
utilizamos na construção de enunciados.
23 Sobre as propriedades das línguas de sinais, temos: (a) Flexibilidade e versatilidade – Toda língua
apresenta várias possibilidades de uso em diversos contextos e com diferentes funções; o mesmo
acontece com a língua de Sinais. Podemos utilizá-la para pensar, declamar poesias, fazer perguntas,
informar, persuadir, dar ordens etc.; (b) Arbitrariedade - A palavra (signo linguístico) é arbitrária por ser
uma convenção reconhecida pelos falantes de uma língua. As línguas de sinais apresentam palavras
em que não há relação direta entre a forma e o significado, como nos exemplos: CONHECER; AMIGO;
TRABALHO.; (c) Descontinuidade - Diferenças mínimas entre as palavras e os seus significados são
descontinuados por meio da distribuição que apresentam nos diferentes níveis linguísticos. Na língua
de sinais verificamos o caráter descontínuo da diferença formal entre a forma e o significado. Há vários
exemplos que ilustram isso, por exemplo, o sinal de MORENO e de SURDO são realizados na mesma
locação, com a mesma configuração de mão, mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo
assim nunca são confundidos ao serem produzidos em um enunciado. Tais sinais apresentam uma
distribuição semântica que não permite a confusão entre os significados apresentados dentro de um
determinado contexto. Como exemplo temos: TRABALHO; VIDEO-CASSETE; TV; MORENO-SURDO.;
(d) Criatividade/produtividade – Pode-se dizer o que quiser e de muitas formas uma determinada
informação seguindo um conjunto finito de regras. A partir desse conjunto, se pode produzir uma
sentença infinita nas línguas humanas. As línguas de sinais são produtivas assim como quaisquer
outras línguas. Como exemplo: EU GOSTAR MAMAE PORQUE ELA BOA, CARINHOSA.; (e) Dupla
100
Para as autoras, esses estudos podem ser aplicados, também na Libras e, afirmam
que o léxico das línguas sinalizadas, de acordo com os estudos de Brentari e Padden
(2001), pode ser composto por: léxico nativo e léxico não-nativo. Uma maneira visual
de compreender esse processo, de acordo com os autores aqui citados, pode ser
percebida no gráfico abaixo.
Soletração
Manual Núcleo Léxico nativo
(alfabeto) (classificadores)
Léxico não-nativo
articulação - As línguas humanas apresentam duas articulações: a primeira é das unidades menores
sem significado e a segunda, das unidades que combinadas formam unidades com significado.; (f)
Padrão - As línguas têm um conjunto de regras compartilhadas por um grupo de pessoas. As línguas
de sinais são altamente restringidas por regras. (g) Dependência estrutural - Há uma relação estrutural
entre os elementos da língua, ou seja, eles não podem ser combinados de forma aleatória. Também é
observada uma dependência estrutural entre os termos produzidos nas línguas de sinais. ANA
RABALHAR+asp; *TRABALHAR+asp ANA; SINAL BRASIL; *BRASIL SINAL. Fonte: Texto extraído na
integra do texto-base da disciplina de Libras II do curso de Letras/Libras da UFSC, de autoria de
(QUADROS, R. PIZZIO, A. REZENDE, P. Língua Brasileira de Sinais II. Florianópolis, UFSC. 2009)
101
BRINCAR AJUDAR
portuguesa. Para Quadros e Karnopp (2004, p. 88), a soletração manual não é uma
representação direta do português, é uma representação manual da ortografia do
português envolvendo uma sequência de configuração de mão que tem
correspondência com a sequência de letras escritas do português.
Entretanto, isso não significa que esta língua seja despretensiosa. Além do que,
potencialmente, ela tem todos os mecanismos para criar ou gerar sinais para qualquer
conceito que vier a ser utilizado pela comunidade.
Nas línguas de sinais, o termo “sinal” é utilizado para designar o mesmo que
palavra (estrutura mínima de significação) ou item lexical, como é nomeado nas
línguas oral-auditivas. A diferença está na sua modalidade de articulação, que é
visual-espacial. Portanto, o sinal é um signo linguístico, composto por duas grandezas:
o significante e o significado, aos moldes da concepção linguística de Suassure (1995)
ou por expressão e conteúdo, se adotarmos a terminologia de Hjelmslev (2006). De
qualquer maneira, entendemos essas duas grandezas como termos indissociáveis de
uma mesma função, denominada semiótica (HJELMSLEV, 2006, p. 53)
Como unidade lexical, o sinal faz parte do léxico da Libras e é composto a partir
de parâmetros que juntos formam as unidades básicas da língua. São formados pela
combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um
determinado lugar, que pode ser uma parte do corpo (testa, tórax, rosto etc.) ou um
espaço em frente ao corpo (espaço neutro).
São cinco os parâmetros da Libras: (1) Configuração de Mãos (CM), (2) Ponto
de Articulação (PA) ou Locação (L), (3) Movimento (M), (4) Orientação da Mão (OM)
e (5) Expressões não-manuais (ENM).
(1) Configuração das Mãos (CM) - São diferentes formas que as mãos assumem na
produção dos sinais, podendo ser a datilologia (alfabeto manual/digital). Estas formas
podem ser feitas pela mão direita para os destros, esquerda para os canhotos ou por
ambas. Os sinais para FALAR, PRETO e TELEFONE possuem configurações de
mãos diferentes.
104
(2) Ponto de Articulação (PA) ou Locação (L): É o local onde incide a mão, seja
direita ou esquerda configurada. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 57), o PA ou
espaço de enunciação é uma área que contém todos os pontos dentro do raio de
alcance das mãos em que os sinais são articulados. A mão pode ou não tocar alguma
parte do corpo ou estar em um espaço que vai do meio do corpo até à cabeça (espaço
neutro) e horizontal (à frente do emissor).
cabeça
tronco
mão
braço
espaço
Fonte: QUADROS e KARNOPP (2004, p.57. Baseado nos estudos de Battison, 1978, p. 49)
106
AJUDAR BRINCAR
ESQUECER ALEMANHA
(3) Movimento (M) - Alguns sinais podem ter ou não movimento. Mas para que haja
movimento é necessário se ter objeto e espaço. Nas línguas de sinais, o objeto é
representado pelas mãos do enunciador, e o espaço é a área em torno do corpo do
enunciador (FERREIRA-BRITO e LANGEVIN, 1995).
TRABALHAR MAÇÃ
Figura 46 - Sinais: Ajoelhar e De pé
AJOELHAR DE PÉ
(4) Orientação da mão (OM) - É a direção que a palma da mão aponta para a
produção do sinal (Quadros e Karnopp, 2004). Podem ser para cima, para baixo, para
o corpo, para frente, para a direita ou para a esquerda. Alguns sinais podem ter uma
direção e a inversão desta pode significar ideia de oposição, contrário ou concordância
número-pessoal. Os sinais QUERER, QUERER-NÃO e AVISAR mostram a ideia de
oposição.
108
QUERER QUERER-NÃO
AVISAR
(5) Expressão não manuais (ENM) - As ENM como movimento da face, dos olhos,
da cabeça ou do tronco exercem os papéis de marcações de construções sintáticas e
diferenciação de itens lexicais. Quando as expressões não-manuais têm função
sintática marcam sentenças interrogativas (sim/Não), interrogativas QU-, orações
relativas, topicalizações, concordância e foco. Duas expressões não-manuais podem
ocorrer ao mesmo tempo, como é o caso de marcações de interrogação e negação
(QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 60).
109
FEIO TRISTE
disponíveis no léxico, ou seja, quando os sujeitos não utilizam esse material da língua,
a comunicação entre eles seria intricada pela limitada capacidade de armazenar na
memória um número sempre crescente de palavras (ou sinais) e pela necessidade de
explicar o significado dos novos itens cada vez que os empregassem (BASÍLIO, 2004).
casa - s (plural)
constru- ção (nome)
possível- im (negação)
morfema lexical morfema gramatical
Fonte:
NÃO-QUERER (Morfema
gramatical; negação incorporada
da negativa por afastamento da
mão)
(Ferreira-Brito, 2010)
A modificação por adição à raiz (1) acontece pela adição de afixos, como a
incorporação da negação que é um processo de modificação por adição à raiz porque,
como sufixo, incorpora em alguns verbos: a raiz, que possui um determinado
movimento em um primeiro momento, finaliza-se com um movimento contrário, que
caracteriza a negação incorporada; como nos verbos: SABER / SABER-NÃO;
ACEITAR / ACEITAR-NÃO; como infixo, incorpora simultaneamente à raiz através do
movimento ou expressão corporal: TER / TER-NÃO; PODER / PODER-NÃO.
(FELIPE, 2006, p. 202-203)
No processo de modificação interna da raiz (2), uma raiz pode ser modificada
por três tipos de acréscimo: a) o da flexão para pessoa do discurso que, através da
direcionalidade, marca as pessoas do discurso, fazendo com que a raiz se inverta ou
até adquira uma forma em arco; b) o acréscimo do aspecto verbal que, através de
mudanças na frequência do movimento da raiz marcam os aspectos durativo,
contínuo, etc (FINAU, 2004); c) o acréscimo de um marcador de concordância de
gênero que, através de configurações de mãos (classificadores), especifica a coisa:
objeto plano vertical/horizontal, redondo, etc (FELIPE, 2002); d) a incorporação do
numeral que, representando os numerais de um até quatro, através de configurações
de mão, acrescenta à raiz um quantificador. (FELIPE, 2006, p. 203-204)
estabelecendo contextos discursivos uma vez que essas se estruturam a partir das
convenções da língua. (p. 206)
Felipe (2006) traz o seguinte exemplo para mostra o processo mimético, “em
um contexto determinado, havia um homem em pé com um jornal embaixo do braço
direito e com um saco de pipoca na mão esquerda, basta utilizar os sinais HOMEM
JORNAL PIPOCA e representar a situação, ficando a frase: HOMEM JORNAL coisa –
Felipe (2006) também argumenta “que esses processos também não podem
ser confundidos com o sistema de classificadores da LIBRAS, já que se trata de um
processo mimético e não um acréscimo de morfema obrigatório à raiz”. (p. 207)
Tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais encontramos palavras
compostas, isso significa que a Libras possui mecanismos que se assemelham aos
do português para sua expansão lexical. A existência de sinais compostos em Libras
faz com que ela mantenha seu status linguístico.
Borba (1991), citado por Facundo (2012, p. 4) “a derivação é o meio mais frutífero de
formação de palavras. Há, normalmente, a adição de sufixos à raiz ou radical. Os
sufixos podem ser caracterizados pela significação externa, contudo possui valor
conceitual, que se manifesta no processo de derivação”.
palavra, mas não a adaptam. Borba (2003), exemplifica com a palavra pizza, de
origem italiana, amplamente utilizada na língua portuguesa sem alteração na forma.
2.1 O corpus
A escolha dessas obras se deu por dois motivos: (1) porque o Deit-Libras foi
distribuído pelo MEC em 2006 para as escolas públicas com alunos surdos
matriculados de primeira a quarta série, conforme comentamos no item 1.3 de nosso
trabalho (O PNLD e os dicionários infantis); e, por consideramos que os três volumes
do livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais, possui uma quantidade significativa
de sinais em Libras pertencentes ao universo da criança. (2) por não haver, no Brasil,
nenhum dicionário de Libras que seja destinado a crianças surdas, achamos
121
infantis da língua portuguesa, bem como a seleção dos sinais nos dicionários de Libras.
Com base nessa análise, buscamos subsídios lexicográficos para a construção de nossa
proposta do DIBLIP.
Além disso, o autor informa sobre os verbetes. Segundo ele, os verbetes têm
definições oracionais, ou seja, representam o modo como oralmente explicamos as
coisas às crianças” (IDEM). Porém, não é informado aos leitores como se deu a
seleção e origem dos verbetes. Várias outras informações são apresentadas nesse
texto: os 22 painéis que abrem as palavras com desenhos compondo um cenário, as
ilustrações que são formadas por 461 fotos e 470 desenhos que auxiliam na
compreensão das palavras, os 28 quadros temáticos que são ilustrados do livro e que
agrupam famílias de palavras. A obra tem 785 verbetes e ainda 188 palavras
ilustradas.
a dia. Outro aspecto que se faz relevante é a afinidade entre o verbete e a imagem.
Tomemos por exemplo a palavra APANHAR (Figura 52) com a imagem de um
cachorro aparentemente correndo num gramado com uma bola vermelha na boca. Ao
olhar para a imagem, a criança surda poderá relacioná-la a cachorro e não a palavra
apanhar, se ela não conhece o significado desta palavra. Assim, a relação só
acontecerá quando a palavra for contextualizada com exemplos em Libras. As
ilustrações não são separadas por nenhum recurso o que, em nossa opinião, não se
aproveita bem o espaço gráfico.
Figura 53 - Capa da obra Meu Primeiro Dicionário Caldas Aulete com a turma do
Cocoricó
Além disso, o dicionário traz o texto “Meu primeiro dicionário Caldas Aulete”.
Nele, o autor vai explicando para a criança sobre a ordem alfabética e lhe dando as
pistas necessárias para o leitor compreender como as palavras estão organizadas
alfabeticamente. Em seguida, há outro texto “O som das letras”, nele o autor explica
detalhadamente que nem todas as letras têm o mesmo som.
24A mancha gráfica é o espaço delimitado de impressão dentro de uma página, onde cai tinta sobre o
papel; fora destes limites, nada pode ser impresso e nenhum elemento pode ultrapassar. Nos casos
em que a mancha ultrapassa as bordas do papel, diz-se que a impressão é
sangrada. Fonte:<http://dicionarioparaconcursos.blogspot.com.br/2013/12/mancha-
grafica.html?m=1>. Acessado em: 23/07/16
128
Obras lexicográficas
Sinais Deit-Libras Livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais
Vol. 1 Vol. 2 Vol. 3
Abacaxi x
Caranguejo x
Luz x
LETRA A - Abacaxi, Abelha, Abraça, Abril, Acender, Achar, Acordar, Açúcar, Adulto,
Aeroporto, Agora, Agenda, Agosto, Água, Álbum, Alegre, Algodão, Alimento, Almoço,
Alto, Aluno, Amanhã, Amarelo, Ambulância, Amigo, Amor, Andar, Anel, Aniversário,
Ano, Antes, Apagar, Apartamento, Apito, Aprender, Aqui, Areia, Arrumar, Árvore,
Atleta, Atrasado, Aula, Ave, Avião, Avisar, Avó, Azul.
LETRA B - Bagunça, Baixo, Bala, Balança, Balão, Balde, Baleia, Bambolê, Banana,
Banco, Bandeira, Banheiro, Barato, Barco, Barraca, Barulho, Batata Frita, Basquete,
Batata, Bebê, Bermuda, Bicho de Pelúcia, Biscoito, Bode, Boi, Bola, Bola de Gude,
Bolo, Bolsa, Bom, Boné, Boneca, Bonito, Borboleta, Borracha, Branca de Neve,
Branco, Brigadeiro, Brigar, Brincadeira de Roda, Brincar, Buraco.
LETRA C - Cabelo, Cachorro, Café, Cair, Caju, Calça, Calmo, Calor, Cama,
Caminhão, Camisa, Campo, Canoa, Cansado, Cantar, Caracol, Caranguejo, Carne,
Caro, Carro, Casa, Casaco, Castelo, Castigo, Cavalo, Cebola, Cedo, Cego, Cenoura,
Certo, Céu, Chá, Chamar, Chapéu, Chapeuzinho vermelho, Chave, Cheirar,
Chocolate, Chover, Chuva, Cidade, Cima, Cinderela, Cinema, Cinto, Cinza, Circo,
Cobra, Coelho, Colégio, Colher, Comer, Computador, Conhecer, Consertar,
Conversar, Corpo, Coruja, Criança.
LETRA F - Fábrica, Fácil, Falar, Faltar, Família, Fantasma, Farol, Fazenda, Feijão,
Feio, Feliz, Feminino, Feriado, Férias, Ferro, Ferver, Festa, Fevereiro, Filha, Filme,
Fim, Fio, Flauta, Flor, Fogão, Fogo, Folha, Fome, Fora, Formiga, Forte, Foto, Fraco,
Frente, Frio, Fruta, Fugir, Futebol, Futuro.
LETRA G - Galinha, Ganhar, Garrafa, Gastar, Gato, Geladeira, Gêmeo, Girafa, Gol,
Gordo, Gostar, Grama, Grande, Gravar, Gritar, Guarda-chuva, Guardar.
LETRA I - Idade, Igual, Ilha, Imaginar, Importante, Índio, Interessante, Inverno, Irmã.
LETRA J - Jacaré, Jangada, Janeiro, Jantar, Jornal, Jovem, Julho, Junho, Juntar.
LETRA L - Lago, Lâmpada, Lanche, Lanterna, Lápis, Laranja, Leão, Leite, Lençol,
Ler, Limão, Limpo, Lindo, Livro, Lixo, Lua, Luz.
LETRA M - Maçã, Macaco, Macarrão, Macio, Madeira, Madrinha, Mãe, Maio, Mamão,
Manga, Manhã, Máquina, Mar, Marrom, Medo, Meia, Melancia, Melhor, Menina,
Mentira, Mês, Mesa, Metrô, Milho, Mochila, Morango, Morar, Mosca, Mulher, Mundo.
LETRA N - Nadar, Nascer, Navio, Noite, Nome, Novo, Nove, Noventa, Novembro, Nu,
Nuvem.
LETRA O - Obedecer, Óculos, Olhar, Ônibus, Ontem, Outono, Outubro, Ouvir, Ovo,
Onze.
LETRA P - Pá, Padrinho, Pagar, Pai, Palhaço, Pão, Papagaio, Papel, Pássaro, Pato,
Patinho Feio, Pedra, Peixe, Pente, Pequeno, Perder, Pesado, Perto, Pescar, Pinguim,
Pintar, Pipoca, Planta, Pobre, Polícia, Ponte, Porco, Porta, Praça, Praia, Prato,
Precisar, Preguiça, Primavera, Professor, Pular, Puxar.
LETRA R - Rádio, Rainha, Rápido, Rapunzel, Rasgar, Rato, Rede, Régua, Rei,
Relâmpago, Relógio, Remédio, Repetir, Resfriado, Revista, Rico, Rio, Rir, Robô,
Roupa, Rua, Ruim.
LETRA V - Vaca, Vapor, Vassoura, Vela, Velho, Vencer, Vender, Vento, Ver, Verdade,
Vermelho, Viagem, Vida, Vidro, Vinte, Visitar, Vizinho, Vôlei, Voltar.
Organizamos os campos temáticos num quadro para facilitar a seleção dos sinais.
O quadro 06 abaixo mostra o exemplo de nossa organização.
134
De acordo com Biderman (1998, p. 130), nenhum dicionário por mais volumoso
que seja, dará conta integral do léxico de uma língua em função da diferença entre
léxico e dicionário. Por estarmos tratando de um dicionário de Libras, nem todas as
unidades léxicas da língua foram listadas pois, por ser uma língua em constante
expansão lexical, muitos verbetes relacionados ao mundo da criança não foram
encontrados nos dicionários analisados. E não foi nossa intenção em momento algum
desse trabalho, criar sinais específicos para suprir a ausência de alguns sinais. Nosso
objetivo foi selecionar dentre as obras escolhidas para a coleta de dados do trabalho,
os verbetes para a proposta do DIBLIP, por serem dicionários oficiais no Brasil e
reconhecidos pela comunidade surda brasileira.
135
(2) o modelo de educação bilíngue que respeita as diferenças linguísticas das crianças
surdas, tendo a Libras como L1 e o português como L2 na modalidade escrita.
(7) a percepção pela criança, por meio das imagens e dos verbetes que os sinais e
palavras já fazem parte de seu universo usual. Obviamente, novos sinais e palavras
136
(8) a possibilidade de tradução do conceito dos verbetes e das frases que são
contextualizadas a partir das imagens. Esta opção promoverá uma maior
compreensão por parte da criança surda do sinal, do conceito e dos exemplos das
frases. No vídeo ela perceberá como o verbete é sinalização por meio dos parâmetros
(configuração de mãos, orientação, ponto de articulação, movimento e expressão
facial), o conceito através da explicação do tradutor (ator ou intérprete) e a
contextualização imagem/exemplo.
(A) Em formato impresso: nesta versão, o DIBLIP terá formatação A4, para uma
melhor disposição das imagens por página, respeitando questões de visibilidade dos
verbetes (sinais) em Libras e das ilustrações que auxiliarão na explicação dos sentidos
dos verbetes.
3.1.1.1 Capa
Após a capa, vem a folha de rosto com o nome da autora e da obra. A mesma
imagem da capa é utilizada na folha de rosto, porém em tamanho menor.
3.1.1.3 Sumário
O dicionário tem as
letras do alfabeto
manual em LIBRAS
Formas imprensa e cursiva de como
para você aprender.
você pode escrever as letras do
alfabeto.
No
dicionário,
cada letra
tem uma
cor, para
As imagens
ajudar você
mostram
a encontrar
situações
as palavras
reais,
e sinais.
parecidas
com o que
você vê e
vive no dia a
dia.
As setas
indicam A mão apontando
movimento indica uma frase.
O dicionário
As imagens grandes e tem 500
bonitas ajudam você a verbetes em
entender o significado Libras e
dos sinais. português e
500
imagens.
142
Após o texto como usar este dicionário, a obra lista os campos que são
apresentados ao leitor, seguidos do número da página em que se encontram. São
eles: ambiente, alimentos, animais, brinquedos e brincadeiras, casa, cidade, escola,
esportes, família, saúde, meios de transporte, meios de comunicação.
Por optarmos pela elaboração de um dicionário bilíngue, que trata de uma língua
de modalidade visual/gestual (Libras) e outra oral/ auditiva (Português), a ordem
alfabética escolhida é a da língua portuguesa. Tal escolha justifica-se como sendo a
melhor escolha de organização do dicionário e, porque o sistema de escrita da língua
de sinais (signwritting) ainda não é oficializado no país. Poucas são as escolas no
Brasil que adotam tal sistema para alfabetização de crianças surdas. Compreendemos
também que nosso público alvo, crianças surdas, ainda não adquiriram de forma
natural a Libras como L1 e estão em processo de aprendizado da língua portuguesa
como L2 na proposta educacional bilíngue. Sendo assim não seria interessante utilizar
também a organização por configuração de mãos no momento, ainda mais sendo
nossa proposta um material de apoio ao processo de alfabetização inicial da criança
surda em Libras e língua portuguesa.
Na versão DVD, o menu de abertura para seleção dos verbetes também será por
ordem alfabética, utilizando as letras do alfabeto manual em Libras, visto que, na
versão impressa a criança aprenderá o alfabeto da Libras.
144
criança surda conhece no seu dia a dia. O conceito do verbete faz uma relação da
abelha com a produção do mel; isso foi pensado porque na escola, ou na
comercialização do mel, sempre se faz a relação abelha/mel, portanto esse
conhecimento faz parte do cotidiano da criança. Tanto o conceito como a frase estão
traduzidas para Libras no DVD. A tradução do conceito do verbete abelha em Libras,
segundo sistema de transcrição para a Libras de acordo com os estudos de Felipe
(2001), fica da seguinte forma:
da criança do que bolas de outros esportes como tênis, basquete, handball etc. O sinal
de bola em Libras é sinalizado por um classificador, um tipo de morfema lexical (sobre
o tema trataremos mais adiante). O classificador para o sinal de bola com a
configuração de mão 47 (Felipe, 2005) é do tipo classificador especificador, sua
função é descrever visualmente a forma, o tamanho, a textura, o paladar, o cheiro, os
sentimentos, o olhar, os sons do material, do corpo das pessoas e dos animais.
(Pizzio, at al, 2010).
A tradução do conceito “falar com alguém sobre alguma coisa”, seria “FALAR
PESSOA COISA VÁRI@S”, mesmo existindo um sinal para o pronome indefinido
alguém, a imagem mental que a pessoa surda faz é a de que, quem conversa são
pessoas, justificando sua escolha lexical, por isso a substituição de ALGUÉM por
PESSOA. Já o termo ALGUMA COISA pode ser traduzido por COISA VÁRI@S ou
mesmo COISA QUALQUER.
3.1.2.3 Fontes
Cada letra do alfabeto, na barra superior, terá a cor branca por contrastar
melhor com a cor do fundo. Na lateral das páginas há uma barra com letras de A-Z na
cor cinza para diferenciar da letra referente aos verbetes. A cor da barra lateral tem
tonalidade mais clara do que a barra superior maior para destacar a letra do alfabeto.
148
Utilizamos a fonte Myriad nos verbetes (14 pontos) e nas definições (12 pontos,
Segoe nos exemplos (12 pontos) e Little Day no alfabeto (45 pontos).
O sinal para IGUAL em Libras tem sinais e conceitos diferentes, por isso
optamos por enumerar cada um para mostrar a criança os diferentes contextos de
usos. Em IGUAL¹, a relação de igualdade é feita através do outro (pessoa, objeto,
animal) – “os bebês gêmeos são iguais”, ou seja, idênticos, mesma aparência.
IGUAL², refere-se a comportamento – “pai e filho são iguais”, a imagem mostra o pai
e o filho mostrando que são fortes para esclarecer o contexto do verbete. Em IGUAL³,
“a roupa da boneca é igual a da criança”, sentido de aspecto, ser idêntico.
151
Para a entrada dos verbetes (em português) que são verbos, foi usada a forma
no infinitivo, e optamos por exemplos em que o uso de uma forma verbal flexionada
contribua para que a criança perceba a relação das línguas: Libras – (visual) e
Português – (escrita).
No sistema de transcrição para a Libras (Felipe, 2001), por não haver formas
de flexão verbal na língua, os verbos são sempre transcritos no infinitivo.
Parâmetros da língua
(03) Movimento
A tradução dessa frase, “CARRO PAI MEU FUSCA VERMELHO”, pode ser
feita também com a omissão do sinal carro, pois pela imagem do referente, fusca é
um carro, “FUSCA PAI MEU VERMELHO”. O conceito em Libras fica, CARRO USA
PESSOAS LEVAR – a palavra carro é usada em substituição a veículo que não tem
um sinal especifico em Libras.
157
Muitos sinais não possuem movimento, como o exemplo UNHA. Alguns sinais
utilizam apontação para indicar o referente como as partes do corpo. Olho, boca, nariz,
queixo não possuem um sinal especifico em Libras, então usa-se o apontar para o
referente e assim forma-se um sinal por esse meio.
referindo a CORTAR, em Libras existem vários sinais que são usados para o ato de
cortar, por exemplo: cortar cabelo, cortar com a tesoura, cortar com a faca, cortar a
perna após um tombo. Num dicionário do tipo da nossa proposta, cada sinal desse
precisa de uma entrada numerada para mostrar os diferentes contextos de uso.
(1) Composição
(2) Derivação
(3) Iconicidade
Assim como as línguas orais, as de sinais também ampliam seu léxico a partir
dos empréstimos linguísticos de outras Línguas. Mesmo com modalidade diferente, a
Libras forma sinais através do empréstimo linguístico do português. Sol é um exemplo,
pois é formado pela CM em S e L, letra inicial e final da palavra sol do português. Esse
fato é comum, pois duas línguas são utilizadas simultaneamente na escola e em
diferentes setores da sociedade.
162
No exemplo citado, a soletração da palavra sol não é possível, por isso nossa
opção foi repeti-la entre parênteses para que a criança compreenda que a palavra não
pode ser grafada separadamente.
No exemplo VACA, temos um recurso que marca o gênero. Neste caso o leite
faz a referência pela produção do alimento pelo animal. Quando num diálogo entre
interlocutores a marcação de gênero pode acontecer utilizando-se o sinal de homem
ou mulher para indicar feminino ou masculino, por exemplo: “”eu tenho dois
cachorros”, no português o artigo “o” faz a marcação do gênero. Em Libras se o
interlocutor não está vendo o referente é necessário a inclusão do sinal “homem” para
que se saiba que os cachorros são machos. Já quando o interlocutor está visualizando
ou conhece o referente, essa estratégia é desnecessária.
(6) Classificador
(7) Adjetivos
Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na Libras e sempre
estão na forma neutra, não havendo, portanto, nem marca para gênero (masculino e
feminino), em para número (singular e plural). Muitos adjetivos, por serem descritivos
e classificadores, apresentam iconicamente uma qualidade do objeto, desenhando-a
no ar ou mostrando-a a partir do objeto ou do corpo do emissor. (FELIPE, 2001).
3.1.2.6 Exemplos
EU PROFESSOR@
NOME QUAL?
NOME?
168
EU OUVIR NÃO
PRECISAR / PRECISAR-NÃO.
3) Com um aceno da cabeça que pode ser feito simultaneamente com a ação que
está sendo negada ou juntamente com os processos acima. Por exemplo, PODER /
PODER-NÃO; EU VIAJAR PODER(neg)
Nos três exemplos acima, as frases são afirmativas e fazem a relação com o
objeto por meio da imagem. A frase realizada em Libras apresentará por meio do vídeo
170
todos o contexto frasal cabível, bem como sua estrutura e parâmetros do sinal, o que
não é possível captar quando é transcrita.
3.1.2.7 Imagens
25 Fonte: www.dreamstime.com
171
Nossa proposta foi pensada para ter incluso um DVD com a tradução do
verbete, do conceito do verbete e dos exemplos das frases. Como estamos tratando
de uma língua visual, é importante que a criança também tenha acesso ao formato
visual da proposta, pois facilitará sua compreensão e aprendizado.
O DVD será feito para ser utilizado no computador ou aparelho de DVD caseiro
e constará de: tela de abertura, tela com a lista de verbetes, tela de tradução com o
sinal e conceito do verbete e tela com a tradução das frases.
Ao escolher uma letra, automaticamente será acionada outra tela com uma lista
de verbetes correspondentes a letra selecionada.
Ao clicar na letra desejada, a criança será direcionada para outra tela com a
lista de verbetes escritos em português (Figura 84) e com um quadro no canto superior
direito com o sinal da letra selecionada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como afirma Krieger (1993, p. 10), o dicionário é “um texto que fala da cultura,
revelando um universo semântico-cultural através das unidades lexicais que o
compõem”. Concordamos com o autor e vamos mais além, o dicionário é registro e
informação de uma língua.
Podemos dizer que esse foi o ponto de partida para a elaboração de nossa
proposta, o público. Desde a primeira vez que começamos a estudar Libras e dos
longos anos em sala de aula com alunos surdos, o desejo de elaborar material didático
para ser utilizado na educação surdos sempre esteve presente em nós.
dicionários”. Desse modo, podemos afirmar que um bom dicionário deve atender às
especificidades dos seus usuários considerando também suas particularidades.
Crianças surdas, elas são nosso público. Pensar numa proposta de dicionário
que desse conta de toda particularidade inerente a essa criança foi nosso grande
desafio. E mesmo já convivendo com pessoas surdas há quase duas décadas, a
nossa experiência de não ser surda nos revela a incompletude de nosso saber. Isso
nos fez refletir sobre que tipo de obra melhor se adequaria ao perfil de nosso público
e o quanto necessitamos de coparceiros: os surdos!
Não podemos esquecer de forma alguma que, para elaboração de uma obra
desse tipo, a questão visual é, sem dúvida, importantíssima! Estamos tratando de uma
língua visual-gestual e as escolhas lexicais devem estar adequadas e essa
necessidade. A pessoa surda recebe toda forma de conhecimento através de sua
experiência visual, bem como seu aprendizado deve servir da língua que facilita e
constrói seu conhecimento de mundo: a Libras.
180
E foi refletindo sobre isso que não poderíamos propor algo em formato apenas
impresso. A Libras tem toda uma especificidade no seu processo de sinalização, em
especial as configurações de mãos e os movimentos. É possível sua formatação em
papel, mas não é adequado ao nosso público alvo. Mesmo utilizando setas indicativas
de movimentos e tentando fotografar ou desenhar o sinal, sempre fica algo que não
se consegue visualizar. Dessa forma, a melhor opção foi a tradução do dicionário em
Libras, em formato de DVD para a criança poder compreender a sinalização através
do vídeo. E foi isso que fizemos e acreditamos que acertamos em nossa escolha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASILIO, M. Teoria Lexical. 2.ed. São Paulo: Editora Ática, 1989. Coleção Princípios.
BRENTARI, D., & PADDEN, C. (2001). Native and foreign vocabulary in American
Sign Language: a lexicon with multiple origins. In D. Brentari (Ed.), Foreign
vocabulary in sign languages. Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.
Meu primeiro dicionário Saraiva da língua portuguesa ilustrado. 1.ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.
Meu primeiro dicionário: Caldas Aulete: com a Turma do Cocoricó. – São Paulo:
Globo, Rio de Janeiro: Lexikon Editora Digital, 2009.
_________, SHIMIEDT, M. L.P. Idéias para ensinar português para alunos surdos.
Brasília: MEC, SEESP, 2006.
APÊNDICE
Obras lexicográficas
Livro ilustrado de Língua Brasileira de
Sinais DEIT/Libras Sinais
Vol. 1 Vol. 2 Vol. 3
Abacaxi x
Abelha X
Abraçar X
Abraço X
Abril X
Acender X
Achar x
Acordar X
Açúcar X
Adulto X
Aeroporto X
Agora x
Agenda X
Agosto X
Água X
Álbum X
Alegre X
Algodão X
Alimento X
Almoço X
Alto X
Amanhã X
Amarelo X
Ambulância X
Amigo X
Amor x
Andar X
Anel X
Aniversário X
Ano X
Antes X
Apagar X
187
Apartamento X
Apito X
Aprender X
Aqui X
Areia X
Arrumar X
Árvore X
Atleta X
Atrasado x
Aula X
Ave x
Avião X
Avisar X
Avó X
Azul X
Bagunça X
Baixo X
Bala X
Balança X
Baleia X
Bambolê X
Banana X
Banco X
Bandeira X
Banheiro x
Barato X
Barco X
Barraca X
Barulho X
Batata Frita X
Batata X
Basquete X
Bebê X
Bermuda X
Bicho de pelúcia X
Bicicleta X
Biscoito X
Bode X
Boi X
188
Bola X
Bola de gude X
Bolsa X
Bom X
Bom dia X
Boa tarde X
Boa noite X
Boné X
Boneca X
Bonito x
Borboleta x
Borracha X
Branca de neve X
Branco X
Brigadeiro X
Brincadeira de roda X
Brincar X
Buraco X
Cabelo x
Cachorro X
Café X
Cadeira X
Cair X
Caju X
Calça x
Calmo X
Calor X
Cama X
Caminhão X
Camisa X
Campo X
Canoa X
Cansado X
Cantar X
Caracol X
Carangueijo X
Carne X
Caro X X
Carro X X
189
Casa X X
Casaco X X
Castelo X X
Castigo X x
Cavalo X
Cebola X
Cedo X
Cego x
Cenoura X
Certo X
Céu X
Chá X
Chamar X
Chapéu X
Chapeuzinho X
vermelho
Chave X
Cheirar x
Chocolate
Chover X
Chuva X
Cidade X
Cima X
Cinderela X
Cinema X
Cinto X
Cinza X
Circo X
Cobra X
Coelho X x
Colégio X
Colher x
Comer X
Computador X
Conhecer X
Consertar X
Conversar x
Corpo X
Coruja X
190
Criança X
Cuidar X
Dançar X
Dar X
Demorar X
Dentro X
Depois X
Desculpa X
Devagar X
Dezembro X
Dia X
Diálogo X
Diferente X
Difícil X
Dinheiro X
Dividir X
Doce X
Doente X
Dois X
Dor X
Dormir X
Duro X
Duzentos X
Educação X
Educar X
Elefante x
Embaixo X
Emprestar X
Embora X
Encontrar X
Endereço x
Energia X
Enganar X
Ensinar X
Entender X
Entrar X
Entregar X
Errado X
Enxugar X
191
Errar X
Escada X
Escova X
Escrever X
Escola X
Escuro X
Escutar X
Esperar X
Esquecer x
Estragar
Estrela X
Estudar X
Exemplo X
Exercício X
Explicar X
Fábrica X
Fácil X
Falar X
Faltar X
Família X
Fantasma X
Farmácia X
Farol X
Fazenda X
Feijão X
Feio X
Feliz X
Feminino X
Feriado X
Férias x
Ferro X
Ferver X
Festa X
Fevereiro X
Filha X
Filme X
Fim X
Fio X
Flauta X
192
Flor X
Fogão X
Fogo X
Folha X
Fome X
Fora X
Formiga X
Forte X
Foto X
Fraco X
Frente X
Frio X
Fruta X
Fugir X
Futebol X
Futuro X
Galinha X
Ganhar X
Garrafa X
Gastar X
Gato X
Geladeira X
Gêmeo X
Girafa X
Gol X
Gordo X
Gostar X
Grama X
Gravar X
Gritar X
Guarda-chuva X
Guardar X
Helicóptero X
Hoje X
Homem X
Hora X
Hospital X
Humano X
Idade X
193
Igual X
Ilha X
Imaginar X
Importante X
Índio X
Informar X
Interessante X
Inverno X
Imã X
Ir X
Jacaré X
Jangada X
Janeiro X
Jantar X
Jornal X
Jovem X
Julho X
Junho X
Juntar X
Lago X
Lâmpada X
Lanche X
Lanterna X
Lápis X
Laranja X X
Lavar X X
Leão X X
Leite X X
Lençol X X
Ler X X
Limão X X
Limpo X X
Lindo X X
Livro x X
Lixo X
Lua X X
Luz X X
Maçã X X
Macaco X X
194
Macarrão X X
Macio X X
Madeira X X
Madrinha X X
Mãe X X
Maio x X
Mamão X
Manga x
Manhã
Máquina X
Mar X
Marrom X
Medo X
Meia X
Melancia X
Melhor X
Menina X
Mentira x X
Mês X
Mesa x
Metrô x
Milho X
Mochila X
Morango X
Morar X
Mosca X
Mulher X
Mundo X X
Nadar X X
Nascer X X
Navio X X
Noite X X
Nome x X
Novo X
Nove X
Noventa X
Novembro X
Nu X
Nuvem X
195
Obedecer X
Óculos X
Olhar X
Ônibus X
Ontem X
Outono X
Outubro X
Ouvir X
Ovo X
Onze X
Pá X
Padrinho X
Pagar X
Pai X
Pais X
Palhaço X
Pão X
Papagaio X
Papel X
Passar X
Pássaro X
Pato X
Patinho feio X
Pedra X
Peixe X
Pegar X
Pente X
Pequeno X
Perder X
Pesado X
Perto X
Pescar X
Pinguim X
Pintar X
Pipoca x
Planta X
Pobre X
Poder X
Policia X
196
Ponte X
Porco X
Porta X
Praça X
Praia X
Prato X
Precisar X
Preguiça X
Primavera x
Professor X
Pular X
Puxar X
Quadro X
Quarta-feira X X
Quarto X x
Quebrar X
Queijo X
Quente X
Quinta-feira X
Quatorze X
Quinze X
Querer X
Rádio X
Rainha X
Rápido X
Rapunzel X
Rasgar X
Rato X
Rede X
Régua X
Rei X
Relâmpago X
Relógio X
Remédio X
Repetir X
Resfriado X
Responder X
Revista X
Rico X X
197
Rir X X
Robô X X
Roupa X X
Rua X X
Ruim X X
Sábado X X
Sabonete X X
Saber X X
Saci X X
Sacola X X
Sair X X
Sanduiche X X
Sapato X
Saudade X
Saúde X
Secar X
Segredo X
Segunda-feira X
Seis X
Semana X
Separar X
Sereia X
Sessenta X
Sete X
Setembro X
Setenta X
Sexta-feira X
Sinal X
Sol X
Sono X
Sorvete X
Sorrir X
Sozinho X
Subir X
Suco X
Sujo X
Suor X
Supermercado X X
Surdo X X
198
Susto X X
Talvez X X
Tamanduá X X
Tamanho X X
Tangerina X X
Tartaruga X X
Tatu X X
Teatro X X
Telefone X X
Televisão X X
Temperatura X X
Tempo X X
Tênis X X
Ter X X
Terça-feira X X
Terra X
Tesoura X
Tia X
Toalha X
Tomate X
Torneira X
Trabalho X
Tranquilo X
Travesseiro X
Trem X
Trinta X
Triste X
Três X
Tubarão X
Tucano X
Turma X X
Último X X
Um X X
Unha X X
Usar X X
Uva X X
Vaca X X
Vapor X X
Vassoura X X
199
Vela X X
Velho X X
Vencer X X
Vender X X
Vento X X
Ver X X
Verdade X X
Vermelho X X
Viagem X X
Vida X X
Vidro X X
Vinte X X
xVisitar X
Vizinho X
Vxôlei X
Voltar X
Xadrez X
Xampu X
Xícara X
Xixi X
Zebra X
Zero X
Zíper X
Zoológico X
200
ANEXO
MODELO DO DIBLIP
202
203
204
205
206
207
208
209
210
211
212
213
214
215
216
217
218
219
220
221
222
223
224
225
226
227
228
2. um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será
representado pelas palavras correspondentes separadas por hífen. Exemplos:
CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO "não querer", MEIO-DIA, AINDA-NÃO, etc;
3. um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por
duas ou mais palavras, mas com a idéia de uma única coisa, serão separados pelo
símbolo ^ . Exemplos: CAVALO^LISTRA “zebra”;
5. o sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por empréstimo,
passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com uma
incorporação de movimento próprio desta língua, está sendo representado pela
datilologia do sinal em itálico. Exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”, N-U-NC-
A, etc;
acrescentando alguma idéia, que pode ser em relação ao: a) tipo de frase ou advérbio
de modo: interrogativa ou... i ... negativa ou ... neg ... etc
10. Às vezes há uma marca de plural pela repetição do sinal. Esta marca será
representada por uma cruz no lado direto acima do sinal que está sendo repetido:
Exemplo: GAROTA +
11. quando um sinal, que geralmente é feito somente com uma das mãos, ou dois
sinais estão sendo feitos pelas duas mãos simultaneamente, serão representados um
abaixo do outro com indicação das mãos: direita (md) e esquerda (me).