Proposta de Dicionário Infantil Bilingue Libras/portugues

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA – UFPB

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA – PROLING

SEVERINA BATISTA DE FARIAS KLIMSA

PROPOSTA DE DICIONARIO INFANTIL BILINGUE LIBRAS/PORTUGUES

João Pessoa

2016
SEVERINA BATISTA DE FARIAS KLIMSA

PROPOSTA DE DICIONARIO INFANTIL BILINGUE LIBRAS/PORTUGUES

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Linguística (PROLING), da Universidade Federal
da Paraíba, como requisito à obtenção do título de
Doutor em Linguística, sob orientação da Profa. Dra.
Evangelina Maria Brito Faria.

João Pessoa

2016
SEVERINA BATISTA DE FARIAS KLIMSA

PROPOSTA DE DICIONARIO INFANTIL BILINGUE LIBRAS/PORTUGUES

Banca examinadora

Aprovada em: 23/08/2016

João Pessoa

2016
Para meus pais, Antônio Farias e Lúcia

Farias, por terem me oportunizado, desde

minha infância, todas as condições para a


conclusão de meus estudos.
Para Bernardo Klimsa, o grande amor da

minha vida, por todo companheirismo, apoio e


cumplicidade em cada momento nos últimos 10
anos.
Este trabalho é dedicado a princesa Fiorella,

representando toda Comunidade Surda Brasileira.


Sem vocês esse sonho não teria sido realizado.

Muito obrigada!
Para Vanda Pinheiro, você sabe que

nunca vou desistir, minha eterna amiga!


AGRADECIMENTOS

A Deus, autor da minha vida, por permitir realizar esse sonho.

A professora Evangelina Farias, pela compreensão, paciência e orientação em todas


as etapas de minha caminhada para a conclusão da tese.

A professora Marianne Cavalcante, por suas sugestões valiosas na banca de


qualificação.

A professora Wanilda Cavalcanti, por sua contribuição na banca de qualificação, e


especialmente por carinho e ensinamentos que levarei para o resto de minha vida.

A todos os professores do Departamento de Psicologia e Orientação Educacional


(DPOE) da UFPE, pelo apoio e compreensão quando do meu afastamento do trabalho
para conclusão de meus estudos.

Ao professor Antônio Cardoso, pelo incentivo e torcida na conclusão dessa etapa de


minha vida.

Ao professor Francisco Lima, pelas conversas esclarecedoras quando mil dúvidas


surgiam em minha cabeça.

A querida Roberta Soares, por se dispor tão gentilmente a posar para as fotos e fazer
os vídeos para a tese.

A Roberta Alencar, por ter sido minha modelo de mão.

A Jimmy Leão, por ter feito, tão cuidadosa e pacientemente, a editoração gráfica da
proposta do dicionário.

A Rafael Emil, pelo carinho com que aceitou fazer a edição dos vídeos.

A Ronny, pelo apoio na leitura dos textos da tese quando eu não mais conseguia ler.
A Tânia Nery, minha eterna professora, um exemplo de mulher a quem quero seguir
sempre.

A minha amiga Norma Maciel, por seu carinho, amizade e incentivo que sempre foram
e serão muito importantes para mim.

Aos meus queridos amigos Ewerton Ávila, Kátia França, Viviane Lins e Chirlene
Cunha, pelas idas e vindas de Recife a João Pessoas, pelas palavras de incentivo nas
horas de desânimo, por tantas informações da área de linguística e, especialmente,
pelas risadas em todos os momentos durante os quatro anos do doutorado.

Aos professores do Doutorado da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, pelos


ensinamentos e exemplos de simplicidade.

A Ronil do Proling, por sua gentileza e presteza nos momentos em que precisei de
informações, documentos e outros.

Aos professores surdos da UFPE, pela torcida.

A Jurandir Dias, por ter me apresentado os trabalhos lexicográficos de Biderman.

A todos meus ex-alunos da UFPE e UFRPE, pelos ensinamentos e incentivos.

A comunidade Surda Pernambucana, que sempre me acolheu em sua cultura e


língua.

Enfim, a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a conclusão


desse sonho e em todas as etapas de minha vida.
RESUMO

Os dicionários são obras importantes para o registro do léxico de diferentes línguas,


sejam estas orais ou visuais, e para o contexto escolar. A Língua Brasileira de Sinais
(Libras) tem uma tradição antiga na produção de dicionários. O objetivo de nossa tese
é propor um modelo de dicionário infantil bilíngue Libras/Português destinado a
crianças surdas em processo de alfabetização inicial do primeiro ano do ensino
fundamental. Para a elaboração dessa proposta, seguimos as orientações
estabelecidas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para os dicionários
do Tipo 1, que corresponde ao 1º ano do ensino fundamental. Inicialmente, para
compreendermos as escolhas lexicais adotadas pelos autores, realizamos uma
pesquisa nos dicionários: Meu Primeiro Dicionário Caldas Aulete com a turma do
Cocoricó, Meu Primeiro Dicionário Saraiva da Língua Portuguesa Ilustrado e Blucher
infantil ilustrado, obras aprovadas e adequadas ao contexto escolar pelo respectivo
programa. Nosso corpus é composto por 500 verbetes pertencentes ao universo
infantil, selecionados do Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado trilíngue da
Língua de Sinais Brasileira (2001) e dos três volumes do livro Ilustrado de Língua
Brasileira de Sinais: desvendando a comunicação (2009). A pesquisa se insere na
área de estudos da lexicografia de acordo com os estudos de Biderman (1998),
Carvalho (2001), Barros (2004), e da Libras com os trabalhos de Felipe (1989),
Quadros e Karnopp (2004) e Ferreira-Brito (2010). Os resultados demonstram que é
possível a criação desse tipo de obra em Libras, pois contribuirá para o
desenvolvimento educacional das crianças surdas e, como recurso didático, apoiará
o trabalho de professores em sala de aula.

Palavras-chave: Lexicografia, Libras, Dicionário Bilíngue.


ABSTRACT

Dictionaries are important works for the lexicon registry of different languages, whether
oral or visual, and the school context. The Brazilian Sign Language (Libras) has a long
tradition in the production of dictionaries. The aim of our thesis is to propose a model
of bilingual children's dictionary Libras / Portuguese for the deaf children in early
literacy process of the first year of elementary school 1. For the development of this
proposal, we follow the guidelines established by the National Textbook Program (
PNLD) for dictionaries type 1. Initially, to understand the lexical choices adopted by the
authors, conducted a survey in dictionaries: My First Dictionary Caldas Aulete with the
class of Cocoricó, My First Dictionary Saraiva the Portuguese Language and Blucher
Illustrated children's Illustrated, projects approved and appropriate to the school
context by its program. Our corpus consists of 500 entries belonging to the infant
universe, selected from Deit-Libras: Encyclopedic Dictionary Illustrated Trilingual the
Brazilian Sign Language (2001) and the three volumes of the Illustrated Book of
Brazilian Sign Language: unmasking communication (2009). The research is inserted
in the lexicography of the fields according to the study Biderman (1998), Carvalho
(2001), Barros (2004), and Libras with Felipe works (1989), Quadros and Karnopp
(2004) and Ferreira- Brito (2010). The results demonstrate that the creation of this type
of work in Libras is possible, because it will contribute to the educational development
of deaf children and as a teaching resource to support the teachers working in the
classroom.

Keywords: lexicography, Libras, Dictionary Bilingual.


RÉSUMÉ

Les dictionnaires sont des travaux importants pour le registre de lexique de différentes
langues, qu'elles soient orales ou visuelles, et le contexte scolaire. Le Brésilien Sign
Language (Libras) a une longue tradition dans la production de dictionnaires. Le but
de notre thèse est de proposer un modèle de Libras dictionnaire des enfants bilingues
/ portugais pour les enfants sourds dans le processus d'alphabétisation précoce de la
première année de l'école élémentaire 1. Pour l'élaboration de cette proposition, nous
suivons les lignes directrices établies par le Programme Textbook national (PNLD)
pour les dictionnaires de type 1. dans un premier temps, de comprendre les choix
lexicaux adoptées par les auteurs, a mené une enquête dans les dictionnaires: Mon
premier dictionnaire Caldas Aulete avec la classe de Cocorico, My First Dictionnaire
Saraiva la langue portugaise et Illustrated Blucher Illustrated enfants, des projets
approuvés et adaptés au contexte scolaire par son programme. Notre corpus
comprend 500 entrées appartenant à l'univers du nourrisson, choisi parmi Deit-Libras:
Dictionnaire encyclopédique illustré trilingues le Brésilien Sign Language (2001) et les
trois volumes du Livre Illustré de Brazilian Sign Language: communication
démasquage (2009). La recherche est inséré dans la lexicographie des champs selon
l'étude Biderman (1998), Carvalho (2001), Barros (2004), et livres avec Felipe œuvres
(1989), Quadros et Karnopp (2004) et Ferreira- Brito (2010). Les résultats démontrent
que la création de ce type de travail en livres est possible, car il contribuera au
développement de l'éducation des enfants sourds et comme une ressource
pédagogique pour soutenir les enseignants qui travaillent dans la salle de classe.

Mots-clés: lexicographie, livres, Dictionnaire bilingue.


LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Imagem de Bonet e seu alfabeto manual

Figura 02 - Imagem de Bulwer e de seu alfabeto manual

Figura 03 - Imagem de Holder e da capa do livro Elements of Speech: na essay of


inquiry into the natural production os letters: with na apêndix concenrning persons deaf
& dumb

Figura 04 - Imagem com estampas de mãos de Austin

Figura 05 - Capa do Dictionnaire des sourds-muets

Figura 06 - Imagem de Sicard e da capa do livro: Théorie des signes ou introduction à


l’étude des langues, oú le sens des mots au lieu d’éfini, est mis em action

Figura 07 - Imagem de Bébien e da capa do livro: Langue de signes française:


Mimographie

Figura 08 - Capa do livro: De l’éducation des sourdes-muets de naissance

Figura 09 - Imagem das estampas do livro Versinnlichte Denk und sprachlehre

Figura 10 - Capa do Dictionnaire usuel de Mimique et de dactylologie

Figura 11 - Capa do livro Iconographie des signes

Figura 12 - Estampa com sinais de Pélissier

Figura 13 - Capa: Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos

Figura 14 - Estampa com sinais de verbos de Flausino da Gama

Figura 15 - Capa do livro Linguagem das Mãos

Figura 16 - Sinal 226: PECAR


Figura 17 - Capa do manual Comunicação Total e exemplos das descrições dos sinais

Figura 18 - Capa do manual Comunicando com as mãos

Figura 19 - Sinal 428: Viver

Figura 20 - Capa do Manual de sinais bíblicos: o clamor do silêncio

Figura 21 - Sinal de Maná

Figura 22 - Capa do livro: Linguagem de Sinais

Figura 23 - Sinal de Convidar

Figura 24 - Capa do Manual Ilustrado de Sinais e Sistema de Comunicação em Rede


para Surdos

Figura 25 - Sinal de Vinho

Figura 26 - Capa do Dicionário Enciclopédico Ilustrado trilíngue da Língua de Sinais


Brasileira

Figura 27 - Sinal de Fraco

Figura 28 - Capa do Manual Libras: a imagem do pensamento

Figura 29 – Sinal de Evitar

Figura 30 - Capa do Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue de Língua


de Sinais Brasileira

Figura 31 - Sinal de Água

Figura 32 - Capa dos três volumes do livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais:
desvendando a comunicação

Figura 33 - Sinal de Claro

Figura 34 - Capa do dicionário ilustrado de Libras


Figura 35 - Sinal de Começar

Figura 36 - Capa do Dicionário e exemplo de verbetes do The Gallaudet Children´s


Dictionary

Figura 37 - Capa do Dicionário e exemplos de verbetes do The Gallaudet Dictionary


of American Sign Language

Figura 38 - Dicionário da Língua Brasileira de Sinais online

Figura 39 - Sinais: Esquecer, Brincar e Ajudar

Figura 40 - Sinais: Falar, Preto e Telefone

Figura 41 - Quadro de configurações das mãos

Figura 42 - Espaço de sinalização

Figura 43 - Sinais: Ajudar e Brincar

Figura 44 - Sinais: Esquecer e Alemanha

Figura 45 - Sinais: Trabalhar e Maçã

Figura 46 - Sinais: Ajoelhar e De pé

Figura 47 - Sinais: Querer e Querer-não

Figura 48 - Sinal: Avisar

Figura 49 - Sinais: Feio e Triste

Figura 50 - Exemplos de Telefonar/Telefone – Sentar/Cadeira

Figura 51 - Capa da obra “Meu Primeiro Dicionário Saraiva da Língua Portuguesa


Ilustrado”

Figura 52 - Página do verbete do dicionário Saraiva infantil


Figura 53 - Capa da obra Meu Primeiro Dicionário Caldas Aulete com a turma do
Cocoricó

Figura 54 - Imagem do verbete do dicionário Caldas Aulete

Figura 55 - Capa do dicionário Blucher Infantil Ilustrado – Dicionário Visual da Língua


Portuguesa

Figura 56 - Página do verbete do dicionário Blucher Infantil Ilustrado

Figura 57 - Modelo da capa do DIBLIP

Figura 58 - Modelo da folha de rosto do DIBLIP

Figura 59 - Exemplo do verbete Abelha

Figura 60 - Exemplo do verbete Bola

Figura 61 - Exemplo do verbete Conversar

Figura 62 - Exemplo da letra do alfabeto manual em Libras e das quatro formas de


grafar no alfabeto em língua em portuguesa

Figura 63 - Exemplo do verbete Formiga com separação silábica

Figura 64 - Exemplos do verbete Igual

Figura 65 - Exemplo do verbete Ganhar

Figura 66 - Exemplo do verbete Irmão

Figura 67 - Sinal para o comparativo de igualdade

Figura 68 - Exemplo do verbete Azul

Figura 69 - Exemplo do verbete Cachorro

Figura 70 - Modelo do verbete Carro


Figura 71 - Exemplo do verbete Unha

Figura 72 - Exemplo do verbete Avisar

Figura 73 - Exemplo do verbete Sono

Figura 74 - Exemplo do verbete Tesoura

Figura 75 - Exemplo do verbete Zebra

Figura 76 - Exemplo do verbete Avisar

Figura 77 - Exemplo do verbete Árvore

Figura 78 - Exemplo do verbete Sol

Figura 79 - Exemplo do verbete Vaca

Figura 80 - Exemplo do Verbete Pintar

Figura 81 - Exemplo do verbete Feliz

Figura 82 - Exemplo do verbete Bebê, Família e Gostar

Figura 83 – Exemplo da imagem dos verbetes Remédio, Quebrar e Olhar

Figura 84 – Exemplo do campo temático Animal

Figura 85 – Tela de abertura do DVD

Figura 86 – Tela com lista de verbetes

Figura 87 – Tela de tradução do sinal e do conceito do verbete

Figura 88 – Tela de tradução das frases

Figura 88 – Exemplo da imagem dos verbetes Remédio, Quebrar e Olhar

Figura 89 – Exemplo do campo temático Animal


Figura 90 – Tela de abertura do DVD

Figura 91 – Tela com lista de verbetes

Figura 92 – Tela de tradução do sinal e do conceito do verbete

Figura 93 – Tela de tradução das frases


LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Classificação dos dicionários segundo PNLD


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Esquema do Léxico


LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Exemplo de morfemas do português

Quadro 02 - Exemplo de morfemas da Libras

Quadro 03 - Exemplo de os morfemas Querer e Querer-Não

Quadro 04 - Modelo da ficha catalográfica dos sinais

Quadro 05 - Sinais selecionados de acordo com o campo temático


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Copavi Cooperativa Padre Vicente de Paulo Penido Burnier

DIBLIP Dicionário Infantil Bilíngue Libras/Português

FAE Fundação de Assistência ao Estudante

Feneis Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

INES Instituto Nacional de Educação de Surdos

INL Instituto Nacional do Livro Didático

JMN Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira

Lance Laboratório de Neuropsicolinguística Cognitiva Experimental

MEC Ministério da Educação e Cultura

PNLD Programa Nacional do Livro Didático

USP Universidade de São Paulo


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 29
CAPÍTULO 1 - PERSPECTIVAS TEÓRICAS...................................................... 34
1.1 SOBRE DICIONÁRIOS....................................................................... 34
1.1.1 Algumas considerações iniciais........................................................... 35
1.1.2 Tipos de dicionários existentes............................................................ 38
1.1.3 A seleção de informações sobre a língua para o dicionário................ 40
1.1.4 A organização das informações nos dicionários.................................. 42
1.1.5 Palavras ou sinais que não se encontram nos dicionários.................. 45
1.1.6 Palavras ou sinais que constam num dicionário.................................. 46
1.2 LEXICOGRAFIA E DICIONÁRIOS BILINGUES................................. 47
1.2.1 Os dicionários bilíngues....................................................................... 49
1.2.2 Classificação dos dicionários bilíngues............................................... 50
1.2.3 Estrutura do dicionário bilíngue........................................................... 51
1.3 O PNLD E OS DICIONÁRIOS INFANTIS........................................... 53
1.4 OS DICIONÁRIOS EM LÍNGUA DE SINAIS...................................... 58
1.4.1 Percurso histórico................................................................................ 59
1.4.2 Tipos de dicionários em Línguas de Sinais: função e destinatários... 88
1.4.3 Formas de representação: dicionários impressos e digitais................ 91
1.4.4 Formas de compilação lexicográfica: principais desafios para a 95
ordenação dos sinais...........................................................................
1.5 ASPECTOS LEXICAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS 97
(LIBRAS).............................................................................................
1.5.1 O léxico da Libras................................................................................ 98
1.5.2 O sinal como aspecto lexical............................................................... 103
1.5.3 A ampliação lexical nos processos de formação de sinais da Libras.. 109
1.5.4 A ampliação lexical por empréstimos................................................. 117
CAPÍTULO 2 - PERCURSO METODOLÓGICO.................................................. 120
2.1 O corpus.............................................................................................. 120
2.2 Caracterização e análise dos dicionários............................................ 122
2.3 Seleção dos sinais............................................................................... 130
2.4 Seleção dos campos temáticos........................................................... 133
2.5 Critérios para construção do DIBLIP................................................... 134
CAPÍTULO 3 - PROPOSTA DO DICIONÁRIO INFANTIL BILINGUE 137
LIBRAS/PORTUGUES (DIBLIP)........................................................................
3.1 Versão impressa.................................................................................. 137
3.1.1 Textos externos................................................................................... 137
3.1.1.1 Capa.................................................................................................... 137
3.1.1.2 Folha de Rosto..................................................................................... 139
3.1.1.3 Sumário................................................................................................ 139
3.1.1.4 Apresentação ao aluno........................................................................ 140
3.1.1.5 Guia do educador................................................................................ 140
3.1.1.6 Como usar este dicionário................................................................... 140
3.1.1.7 Apêndice dos campos temáticos......................................................... 142
3.1.1.8 Índice remissivo................................................................................... 142
3.1.2 Aportes estruturais............................................................................... 142
3.1.2.1 Ordem alfabética.................................................................................. 143
3.1.2.2 Forma das entradas lexicais................................................................ 145
3.1.2.3 Fontes.................................................................................................. 147
3.1.2.4 Divisão Silábica.................................................................................... 148
3.1.2.5 Definições dos verbetes....................................................................... 149
3.1.2.6 Exemplos............................................................................................. 166
3.1.2.7 Imagens............................................................................................... 170
3.1.2.8 Campos temáticos............................................................................... 172
3.2 Versão DVD......................................................................................... 173
3.2.1 Tela de Abertura................................................................................ 173
3.2.2 Tela com a lista dos verbetes............................................................. 174
3.2.3 Tela de tradução do sinal e do conceito do verbete............................ 175
3.2.4 Tela de tradução das frases............................................................... 176
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 178
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 181
APÊNDICE........................................................................................................... 186
ANEXOS............................................................................................................... 201
29

INTRODUÇÃO

“Os dicionários são criadores, tanto de ilusões quanto de


desilusões, transformando-se, de alguma maneira, em
objetos míticos: aquilo que está neles está bem dito, o
que não está, não! ”

M. Alvar Esquerra

Consultar dicionários é uma prática bastante comum, especialmente quando se


trata de algum assunto específico que se queira saber e/ou conhecer. As pessoas
usam os dicionários de diferentes tipos para fins diversos, desde saber o significado
de uma palavra desconhecida até conhecer um novo verbete numa língua diferente.
Segundo Sofiato e Reyle (2014), os dicionários de línguas, têm se constituído na
cultura ocidental, de acordo com Bagno (2011, p. 119), como “um dos principais
instrumentos de descrição, prescrição, codificação e legitimação do modelo idealizado
de uma língua correta”.

As línguas de sinais, como as línguas orais em diferentes países sempre


demandaram registros ao longo da história, quer para o ensino, quer para difusão do
léxico da língua entre surdos e ouvintes interessados. No Brasil, tal fato ocorreu com
a Língua Brasileira de Sinais – Libras, principalmente após a homologação da Lei nº
10.436 em 2002, que a reconhece como língua oficial da comunidade surda brasileira.
Desde então, a publicação de dicionários nesta língua tem sido promovida no país e
o sentido atribuído por Bagno (2011) pode ser observado também nos dicionários de
línguas de sinais, apesar das peculiaridades estruturais que apresentam.

No Brasil, o ano de 2000 representou um marco, pois foi nessa ocasião que o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação e Cultura
(MEC) passou a incluir dicionários em sua avaliação. Essa inclusão provocou muitas
mudanças, entre elas, a proliferação desse tipo de obra, mudanças no potencial de
informações que os dicionários comportam, além de passarem a ser distribuídos aos
30

alunos do ensino Fundamental juntamente com os livros didáticos analisados pelo


programa.

Essas obras foram, dessa forma, caracterizadas pelo Programa Nacional do


Livro Didático do Ministério da Educação e Cultura PNLD/MEC em 2006, passaram
pelo crivo de especialistas, foram analisadas sobre diversos critérios e consideradas
aprovadas, portanto, adequadas ao público-alvo a que se destinam.

Os estudos lexicográficos das línguas de sinais, se comparado ao das línguas


orais, especialmente pelo reconhecimento de seus status linguístico são bem
recentes. O primeiro dicionário de Libras que surgiu no Brasil foi a Iconographia dos
signaes dos surdos-mudos, de autoria de Flausino da Gama, em 1875. A partir do
século XX, raros são os registros existentes. No século XXI, com a democratização
das tecnologias digitais, vários dicionários começaram a surgir de forma impressa e
também, online.

Elaborar um dicionário em línguas de sinais não é uma tarefa fácil e tem sido
um desafio histórico desde as primeiras formas de representação dessa língua. Isso
é observado quando os aprendizes tentam de forma autônoma executar algum sinal
e não conseguem pela dinâmica e dimensionalidade visual da língua. Sendo assim,
de acordo com Sofiato e Reyle (2014), sem a presença de um mediador, a leitura da
imagem e a produção dos sinais podem ficar muitas vezes comprometidas.

A partir da utilização em sala de aula do Dicionário Enciclopédico Ilustrado


trilíngue de Língua Brasileira de Sinais – Libras, Capovilla (2001) quando atuávamos
como docente no Ensino Fundamental dos anos iniciais com estudantes surdos no
período de 1997 até 2004, na educação superior privada entre 2006 e 2012 e,
atualmente ministrando a disciplina de Libras na Universidade Federal de
Pernambuco – UFPE, com os estudos de Biderman (1998), Carvalho (2001), Quadros
e Karnopp (2004) no doutorado em linguística surgiu nosso interesse em pesquisar
sobre dicionários, especialmente os direcionados ao público infantil, por se tratar de
uma área pouco investigada. A constatação de que no Brasil não há obras
lexicográficas destinadas a crianças surdas em processo de alfabetização suscitou a
escolha do tema, o que nos fez direcionar nosso olhar para alguns questionamentos
condutores desse estudo.
31

Assim, o problema de nossa pesquisa pode ser explicitado nas seguintes


questões: (1) por que não são elaboradas obras lexicográficas, tendo a Libras como
primeira língua (L1) e a língua portuguesa como segunda língua (L2) como material
de apoio didático adequado ao processo de alfabetização de crianças surdas no
Ensino Fundamental dos anos iniciais? Que tipo de obra lexicográfica seria a mais
interessante para dá suporte ao trabalho de alfabetização inicial realizado pelos
professores para crianças surdas no primeiro ano do ensino Fundamental? Com base
nesses questionamentos, consideramos que os estudos da lexicografia nas línguas
de sinais, bem como da Libras ainda são recentes e necessitam de pesquisas que
enfoquem diferentes áreas do conhecimento, especificamente aquelas direcionadas
ao público infantil e que sejam adequadas as demandas iniciais do processo de
alfabetização. Um dicionário infantil bilíngue Libras/Português, obra com
características destinadas ao aprendiz surdo brasileiro, que tem a Libras como L1 e o
português como L2, é um material de apoio didático que sendo utilizado em sala de
aula pelo aluno, com suporte do professor, pode promover um maior contato da
criança com as línguas (Libras e Português) e facilitar a realização de atividades que
estejam relacionadas aos processos iniciais de alfabetização, ou seja, a criança surda
poderá consultar verbetes no dicionário para conhecer o significados dos sinais e
palavras, tirar dúvidas sobre a produção espacial do sinal ou grafia da palavra, na
escola ou em sua casa.

Objetivamos, neste trabalho, propor a elaboração de um dicionário infantil


bilíngue Libras/Português (DIBLIP) destinado a crianças surdas em processo de
alfabetização inicial do primeiro ano do Ensino Fundamental, por acreditarmos que
essa obra atua como um suporte essencial para o desenvolvimento da competência
lexical de seus consulentes, o que contribui para uma sociedade letrada e uma
comunidade linguística que se revela eficiente usuária da língua. Para isso, seguimos
as orientações do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) para os dicionários do Tipo
1, e selecionamos 500 verbetes (quantitativo mínimo exigido pelo PNLD para os
dicionários do tipo 1) que privilegiam o universo infantil de dicionários oficiais de
Libras.

Optamos por um respaldo teórico integrado que desse conta do objeto que nos
propomos: O dicionário infantil bilíngue Libras/Português. Ancoramos nosso estudo
32

nos pressupostos teóricos da Lexicografia e Lexicografia Bilíngue, com base nas


concepções de Biderman (1998), Carvalho (2001), Barros (2004), e nos estudos
linguísticos da Língua Brasileira de Sinais de Felipe (1989), Quadros e Karnoop
(2004), Ferreira-Brito (1995).

Estruturamos o trabalho em três capítulos: No capítulo 1 – Perspectivas


Teóricas, nosso objetivo é apresentar uma discussão acerca dos dicionários, da
lexicografia e dicionários bilíngue, do PNLD e os dicionários infantis, uma retrospectiva
histórica dos primeiros dicionários de línguas de sinais existentes e, finalizando o
capítulo, apresentamos uma breve revisão sobre os aspectos lexicais da língua
brasileira de sinais. No capítulo 2 – Percurso Metodológico, traçamos em detalhes
toda a Proposta de Dicionário Infantil Bilíngue Libras/Português. No capítulo 3 –
Modelo do Dicionário, apresentamos o modelo do dicionário.

Acreditamos que esse estudo possa contribuir para o processo de alfabetização


de crianças surdas no atual modelo de educação bilíngue, que possa servir de apoio
ao trabalho desenvolvido pelo professor em sala de aula e impulsione novas
pesquisas para elaboração de dicionários de Libras, sejam estes: monolíngues,
bilíngues, trilíngues ou temáticos, pois o mais importante é que isso se reverta em
benefícios para a sociedade, especialmente a comunidade surda e para quem desejar
ensinar e aprender a língua.

Assim, concebemos a Educação Bilíngue conforme os princípios apresentados


por Skliar (1997), Lacerda e Lodi (2009), “este tipo de educação visa oferecer ao
alunado surdo as condições necessárias de aprendizagem, por meio da língua de
sinais – língua esta que deve ser oferecida desde a mais tenra idade por meio do
contato com interlocutores surdos usuários de Libras” e, como material de apoio
didático, nossa proposta de dicionário irá oferecer a criança surda acesso ao
conhecimento e autonomia na hora de estudar.

O DIBLIP contempla o direito linguístico da pessoa surda e possibilita o acesso


ao conhecimento, à cultura e às relações sociais através de sua língua de domínio,
respeitando ainda suas condições diferenciadas de aprendizado, ou seja,
metodológicas, e os aspectos culturais e sociais inerentes à surdez.
33

Além disso, defendemos com nosso trabalho o ensino da língua portuguesa como
segunda língua (L2), para que se aprofunde o conhecimento de ambas as línguas e
mundos. Por esse motivo, não poderíamos deixar de incluir a palavra bilíngue na
nomenclatura da proposta. “Bilíngue” aqui significa uma metodologia de ensino e não
apenas uma tradução de uma língua fonte para uma língua alvo.
34

CAPÍTULO 1 – PERSPECTIVAS TEÓRICAS

1.1 SOBRE DICIONÁRIOS

Os dicionários de tipos e formatos variados sempre estiveram presentes em


nossas vidas, especialmente no ambiente escolar. São nosso objeto de recorrência
quando temos dúvidas sobre o significado, sinônimo ou a grafia de determinada
palavra desconhecida. Funcionam como uma obra que, também, auxilia à tarefa de
leitura. “É um gênero textual que requer muito mais do que decodificação: requer
aprendizado, experiência, intimidade e destreza”. (CARVALHO 2011, p. 142).

Segundo Tarp, 2008

qualquer tipo de dicionário constitui uma ferramenta de uso que, como


outro artefato de mesma natureza, deve ser concebido e elaborado
para satisfazer certo tipo de necessidade humana (TARP, 2008, p. 47).

Estas obras são importantes, pois, além de proporcionar aquisição lexical


quando se busca o significado de um verbete, guardam as memórias escritas ou
sinalizadas das línguas, estejam estas em extinção, ou mesmo constituem um meio
privilegiado para disseminar uma língua, normatizar ou padronizar, fixando-a, com
intuitos sociais, culturais e políticos.

Neste capítulo, objetivamos refletir sobre os dicionários, ponto central em nosso


trabalho. Para isso, abordaremos sucintas considerações históricas sobre as
primeiras formas de registrar palavras no mundo. Os diferentes tipos de dicionários
existentes, as formas de organização estrutural, e a seleção das informações para
constituição de sua base de dados, que não são um produto exclusivo das línguas
orais, mas possíveis de existir nas línguas sinalizadas.
35

1.1.1 Algumas considerações iniciais

O surgimento das primeiras formas de registros, na realidade, listas de


palavras, de que se tem conhecimento ocorreu entre 2200 e 2600 a.C. Embora não
se possa classificar como dicionários, nos moldes atuais, sua origem, acredita-se ser
da Mesopotâmia, mas alguns também foram encontrados nas escavações de Ebla,
atual Síria e traduziam palavras sumérias em Eblaita. Nessa época eram feitos em
tábuas com escritas cuneiformes e continham um repertório de nomes, profissões,
divindades e alguns objetos que eram usuais.

No século I, os gregos criaram os lexicons1 para catalogar palavras gregas.


Tanto gregos quanto romanos utilizavam repertórios para esclarecimentos de dúvidas,
termos e conceitos, porém os lexicons não eram organizados em ordem alfabética e
limitavam-se às definições de termos linguísticos e literários. Só no final da Idade
Média é que surgiram dicionários e glossários organizados alfabeticamente, devido à
ascensão dos vernáculos e o investimento no latim como língua de cultura. (NUNES,
2006, p. 46)

A partir do século XI, um conjunto de dicionários medievais do latim circulavam


pelos centros escolarizados da Europa. Eram organizados em ordem alfabética e
direcionados a mestres e estudiosos. (NUNES, 2006, p. 47).

No século XV, com o advento da imprensa, os dicionários foram


excessivamente difundidos e prezados em todo o mundo. No Brasil, os primeiros
dicionários, literalmente nacionais, são bilíngues, português-Tupi e foram elaborados
pelos jesuítas entre os séculos XVI e XVII.

O tipo de dicionário que é mais utilizado atualmente vem do renascimento e


sua finalidade era a de traduzir as línguas clássicas para as línguas modernas. Mas,
o que realmente é um dicionário?

1Palavra de origem grega “Lexicon” que significa Léxico. De acordo com CARVALHO (2001, p. 19)
no sentido lato, é sinônimo de vocabulário.
36

Os dicionários de línguas são uma compilação de palavras ou sinais gerais ou


especializados (termos), geralmente organizados em ordem alfabética e escritos em
negrito. Cada palavra, sinal ou termo – ou seja, cada entrada – normalmente vem
acompanhada de categoria gramatical, definição, termos relacionados e exemplos de
uso cotidiano.

Os dicionários de forma geral reúnem dados sobre a classe gramatical das


palavras, a regência e a divisão silábica, trazem orientações sobre a pronúncia, os
sinônimos, os antônimos e os termos derivados ou relacionados. É possível encontrar
as formas feminina, plural, aumentativa e superlativa indicado com abreviações
previamente explicadas nas páginas iniciais. Nos dicionários, também constam
explicações sobre formas das conjugações verbais, prefixos, sufixos, regras de
acentuação gráfica, formas de tratamento, símbolos matemáticos e até tabelas de
numerais. Alguns deles oferecem como conteúdo extra um resumo gramatical que
permite tirar dúvidas sobre o emprego da crase e também do hífen.

Biderman (1998a), assim define o dicionário:

Um dicionário é constituído de entradas lexicais, ou lemas que ora se


reportam a um termo da língua, ora a um referente do universo
extralinguístico. A lista total desses lemas constitui a nomenclatura do
dicionário, a sua macroestrutura. Quanto ao verbete, essa microestrutura tem
como eixos básicos a definição da palavra em epígrafe e a ilustração
contextual desse mesmo vocábulo, que através de abonações por contextos
realizados na língua escrita ou oral, quer através de exemplos. Quanto à
ilustração contextual (e/ou abonação), ela é essencial para explicitar
claramente o significado e/ou uso registrado da definição. Claro está que os
significados e usos referidos são aqueles já registrados e documentados em
contextos realizados e não valores semânticos possíveis, eventualmente
atribuíveis aos lexemas da língua. O verbete deve ser completado com
informações sobre os registros sociolinguísticos do uso da palavra e
remissões a outras unidades do léxico associadas a este por meio de redes
semântico-lexicais. (BIDERMAN 1998a, p.18).

Biderman (1998b, p.131) aponta que “Os dicionários constituem uma


organização sistemática do léxico, uma espécie de tentativa de descrição do léxico de
uma língua”. De acordo com a autora, os dicionários podem ser classificados com
base na sua destinação e o público alvo.
37

Segundo Silva (2003), a organização de um dicionário pode ser de caráter


formal (dicionário alfabético) ou semântico (dicionário conceitual). Ele é um objeto
cultural com uma finalidade didática e apresenta o léxico de uma, duas ou mais
línguas. Contém vários tipos de informações culturais sobre as palavras e tem um
campo semântico muito vasto.

O dicionário é sempre organizado em torno de uma macroestrutura e de uma


microestrutura.

Segundo Haensch (1982, p. 452), o elemento mais importante da


macroestrutura de um dicionário é a ordenação dos materiais lexicais em conjunto,
podendo ser por ordem alfabética, por ordem alfabética inversa, por famílias de
palavras ou segundo um sistema conceitual.

De acordo com Santiago (2012), a macroestrutura de um dicionário é


organizada em três partes principais: (1) as páginas iniciais da obra, (2) o corpo do
dicionário e (3) as páginas finais do dicionário. As páginas iniciais, frequentemente
incluem apresentação, prólogo, introdução, instruções de uso do dicionário, listas e
abreviaturas. O corpo do dicionário é constituído pela nomenclatura em si, isto é, o
dicionário propriamente dito.

Dentro macroestrutura estão as microestruturas, ou seja, os verbetes. Nas


páginas finais da obra, estão os anexos, informações enciclopédicas, tabelas,
bibliografia entre outros. Porém a organização dos elementos pode variar, sendo o
autor o responsável pelos critérios de seleção das informações que serão importantes
para os consulentes. (SANTIAGO, 2012)

A microestrutura é composta por uma série de informações ordenadas dentro


de cada verbete, constando dados dispostos de forma horizontal.

Sobre o verbete, importa frisar que ele é a menor unidade autônoma do


dicionário, sendo formado pelo lema, que é a palavra-entrada, e por informações
acerca dela. Desse modo, o verbete pode ser caracterizado como o conjunto das
acepções e outras informações relacionadas à entrada do dicionário.
38

Um verbete pode ser classificado como monossêmico ao contemplar apenas


uma acepção, ou polissêmico, quando contempla duas ou mais. Acepção é definida
como cada um dos sentidos da palavra-entrada, aceito e reconhecido pelo uso, que
no dicionário aparece verbalizado por uma definição lexicográfica. (SANTIAGO, 2012)

Segundo Santiago (2012) os estudos de Pontes (2009) mostram que o verbete


do dicionário escolar é constituído por palavra-entrada, categoria gramatical e
definição. Porém outros elementos como informações etimológicas, marcas
lexicográficas, informações fônicas, exemplos e abonações de uso, fraseologias,
subentradas, sinônimos e remissivas também podem aparecer dependendo do tipo
de dicionário, da feição da microestrutura e para quem a obra seja destinada.

Krieger (2003, p. 71), afirma que “o dicionário é um lugar privilegiado de lições


sobre a língua”.

Concluímos, baseados nas discussões feitas até o momento que o dicionário é


um repertório lexicográfico que armazena as informações sobre o funcionamento da
língua. Esse repertório descreve as coisas do mundo com base nos atributos da
cultura da sociedade e em respeito aos diretos humanos dos cidadãos.

A partir do próximo item, traremos sobre os tipos de dicionários existentes, a


seleção das informações sobre a língua que comporá a obra, a forma como as
informações são organizadas e quais palavras e sinais que constam no dicionário.

1.1.2 Tipos de dicionários existentes

Os dicionários distinguem-se de acordo com suas finalidades e podem


apresentar-se como: monolíngues, bilíngues, plurilíngues entre outros. Os
monolíngues apresentam apenas uma língua; os bilíngues, duas línguas, uma de
entrada, sendo a definição e o equivalente fornecidos em outra língua; já os
plurilíngues, a informação é dada numa língua e os equivalentes fornecidos em outras
línguas-alvo.
39

De forma geral, os dicionários apresentam informações linguísticas sobre as


unidades lexicais das línguas, apresentando em suas nomenclaturas vocabulários
fundamentais (palavras ou sinais de usos frequentes) das línguas.

Nos estudos de Biderman (1998b, p.131 apud Silva, 2013, p.106) a autora
mostra que os dicionários podem ser monolíngues, analógicos ou ideológicos,
temáticos ou especializados, etimológicos, históricos e terminológicos, estes últimos
em diferentes áreas do conhecimento, como a astronomia, biologia, comunicações,
direito, ecologia, eletricidade, física, geologia e geomorfologia, informática, medicina,
metalurgia, psicologia, química, etc.

Segundo Biderman (1998b, p.132) apenas o dicionário geral da língua pode


aproximar-se do ideal de descrever o léxico de uma língua. Mesmo assim, tendo em
vista a constante renovação lexical, a descrição do léxico de uma língua é, segundo a
autora, intangível, pois, “a rigor, nenhum dicionário por mais volumoso que seja, dará
conta integral de uma língua de uma civilização” (IDEM, p. 132).

Os dicionários servem ainda a determinadas funções, mas geralmente é visto


como um instrumento de consulta, que apresenta os significados das palavras
definidas pelo saber de um especialista e com a legitimidade de autores reconhecidos
que abonam as definições. Ele se mostra como uma obra de referência, à disposição
dos leitores nos momentos de dúvidas e desejos de saber.

Os dicionários podem apresentar-se de forma impressa, uma forma mais


tradicional, ou digital, fazendo uso das tecnologias existentes. Nesta última categoria,
existem dois tipos de produtos: (1) Dicionários digitais usados por máquinas que
servem de base a sistemas de processamento da linguagem humana. São escritos
em linguagem artificial para serem decodificado pelo computador e são usados
diariamente em dispositivos de buscas, verificadores de textos, traduções automáticas
etc. (2) Dicionários digitais para uso por humanos.

Os dicionários digitais possuem as mesmas informações daqueles impressos,


dependendo da norma lexicográfica utilizada. Sua principal vantagem é a rapidez no
acesso às informações e no cruzamento da informação dentro do dicionário,
facilitando o uso por parte de seu usuário final.
40

Os digitais abrigam grande parte dos dicionários em línguas de sinais, visto o


fato dessas línguas se desenvolverem no espaço, tendo movimento, configuração e
localização como parâmetros fonológicos sincrônicos e na forma impressa tais
informações ficam difíceis de compreender.

A concepção deste tipo de dicionário, com suporte digital, possibilita a


visualização em tempo real dos sinais, pois são filmados, organizados e descritos de
forma como a língua de fato acontece.

As possibilidades de elaboração de dicionários são inúmeras, mas não se deve


esquecer prioritariamente o público a que se destina para que possa alcançar seus
objetivos, visto a gama de possibilidades de usos dessas obras. Com isso, veremos
como a seleção das informações sobre a língua é feita para compor o dicionário.

1.1.3 A seleção de informações sobre a língua para o dicionário

Os dicionários contêm informações importantes sobre as unidades lexicais das


línguas, que devem estar de acordo com a proposta do dicionário.

Pontes (2000a, p. 54), acrescenta:

Nos dicionários constam informações de natureza gramatical, semântica e


pragmática relacionadas a cada palavra, como o gênero gramatical, a classe
a que pertence a palavra, a regência, a formação gráfica e fônica, a
etimologia, o significado, o emprego correto, entre outras. (PONTES, 2000a,
p. 54)

Um dicionário é um tipo de gênero textual que contêm informações linguísticas


sobre o significado das palavras. Segundo Marcushi (2008, p. 155) gênero textual é o
“texto materializado em situações comunicativas recorrentes”. Sendo assim, os
consulentes de dicionários recorrem ao seu uso em situações específicas para sanar
suas necessidades de compreensão das palavras de uma língua em especial. Por
41

isso, podemos esclarecer que as funções desse tipo de obra são muitas vezes
motivadas por práticas sociais, a exemplo de grafia das palavras, informações sobre
gramática, divisão silábica, pronúncia, significado, sentido, formação de frases,
sinônimos entre outras.

Concordamos com Vilarinho (2013, apud Vilarinho, 2013, p. 37) quando a


autora explica que o dicionário deve atender às demandas das práticas sociais dos
consulentes, oferecendo os usos do léxico da língua-alvo num contexto sociocultural.
O mesmo acontece quando Rey-Debove (1998, p.118) afirma que “le dictionnaire est
notre mémoire lexicale”2, pois podemos perceber consenso na afirmativa do autor,
ainda mais porque um dicionário apresenta um conjunto de palavras de uma
determinada língua que é usada pela sciedade. Por isso, o lexicógrafo registra os
lexemas que podem ser recuperados da memória lexical da sociedade que emprega
a língua.

Em meio ao quantitativo de informações que o dicionário deve conter, “os


lexicógrafos devem conhecer muito bem a língua materna e ter uma ampla leitura do
seu patrimônio literário e cultural de todas as épocas no caso de idioma de longa
tradição cultural, como é português. Devem conhecer igualmente variantes faladas na
língua” (BIDERMAN, 1984, p. 29). Para a produção de uma obra lexicográfica
representativa, é necessária a inclusão de conhecimentos linguístico e cultural da
sociedade. (VILARINHO, 2013, p. 37)

Uma obra lexicográfica, ou seja, um dicionário também deve apresenta


informações relacionadas à cultura, por isso as palavras selecionadas para compor a
obra servem como exemplo da relação entre dicionário e cultura. As definições
descrevem o modo como a sociedade entende os objetos e seres do mundo em certo
período sincrônico, visto que são utilizadas nas práticas sociais em determinado
espaço de tempo. (VILARINHO, 2013, p. 44). Segundo Lara (1992, p. 20), “o dicionário
representa a memória coletiva da sociedade e é uma de suas mais importantes
instituições simbólicas”.

2 Dicionário é a nossa memória lexical. (Tradução nossa)


42

Percebemos o quanto as informações selecionadas são importantes na


elaboração de um dicionário, pois garantirão sua objetividade e eficácia com relação
à língua. Porém estas informações devem ser organizadas de acordo uma norma
lexicográfica, o que veremos a seguir.

1.1.4 A organização das informações nos dicionários

As informações são organizadas nos dicionários de acordo com uma norma


lexicográfica estabelecida pelo lexicógrafo, o que determina o caráter do próprio
dicionário e a forma como as informações se encontram dentro dele.

Normalmente, as nomenclaturas dos dicionários impressos são organizadas


por ordem alfabética. No caso das línguas de sinais, podem também ser organizados
por configuração de mãos, um dos parâmetros fonológicos desta modalidade.

Encontramos nos dicionários a reunião de dois elementos centrais do repertório


do signo linguístico: o significante (entrada ou verbete) e o significado, que são as
informações contidas no verbete. Suas informações são de natureza linguística e,
encontramos no verbete as acepções da unidade lexical, definida em seus sentidos
denotativos, conotativos, idiomáticos e especializado (CAMPELLO, CALDEIRA, 2008,
p. 23).

Desse modo, Barros (2004, p.134) elenca como traços fundamentais de um


dicionário: os enunciados lexicográficos são dispostos separadamente, no plano
formal e gráfico; trata-se de uma obra de consulta, na qual as informações são
constantes e organizadas em uma dada ordem; possui entrada, obrigatoriamente, de
âmbito linguístico; possui caráter didático; o enunciado lexicográfico transmite
informações sobre o signo-entrada; há um preceito na disposição das entradas, que
formam um conjunto definido de elementos enumerado na macroestrutura; as
mensagens estão organizadas tanto na macro quanto na microestrutura; as entradas
seguem uma ordem formal; verbetes: organizados sistemática ou alfabeticamente,
mas as classificações seguem um índice alfabético.
43

A autora pondera que tais traços dizem respeito a uma obra pura. E que a
heterogeneidade se apresenta na confecção de novos repertórios, sendo comum a
mistura de gêneros.

Um dicionário de língua procura apresentar, de forma exaustiva, todos os


sentidos de uma unidade lexical dentro de um sistema linguístico, já uma obra
terminográfica se atém exclusivamente ao conteúdo específico de um termo em um
dado domínio, considerando elementos objetivos e subjetivos de uma língua de
especialidade.

Alguns fatores devem ser considerados na confecção de uma obra e na


definição de seu domínio: Adequação ao domínio: a unidade terminológica deverá
fazer parte do contexto próprio ao qual o conceito descrito pertence; Estrutura formal
e organização conceitual do enunciado definicional: o papel da definição é
descrever e explicar um termo e é partícipe de uma predicação definicional composta
de um sujeito, representado pela entrada, e de um predicado, representado pela
definição. A primeira palavra da definição é o descritor e pode ser de natureza
metalinguística ou funcionar como elemento de inclusão lógico-semântica (BARROS,
2004, p. 163).

Nos estudos de Gava (2012) “a organização do dicionário é caracterizada pela


metalinguagem e pela organização semântica conceitual dos enunciados definitórios
implicando a homogeneidade da obra”. Para Barros (2004, p. 164) alguns princípios
devem ser considerados como: “não se devem utilizar cópulas do tipo diz-se de,
significa, (tal termo) é, é quando, trata-se de, indica, (essa palavra) quer dizer, esse
termo designa, etc.; a definição não deve conter em seu enunciado o termo definido;
deve ser completa, sem, no entanto, veicular dados supérfluos e inúteis; a definição
deve se adaptar ao público-alvo, ou seja, a metalinguagem empregada deve estar de
acordo com a capacidade de compreensão do leitor (especialistas da área, leigos no
assunto etc.); quando houver possibilidade de se redigir a definição na forma
afirmativa, não utilizar a forma negativa; palavras de sentido vago, ambíguo ou
figurado não devem ser empregadas”. (p. 111)
44

Segundo Barros (2004, p. 159) “a definição é entendida como uma paráfrase


sinonímica que exprime o conceito designado pela unidade lexical ou terminológica
por meio de outras unidades linguísticas”.

A definição terminológica, de acordo com Barros (2004, p. 159) “é um conjunto


de informações dadas sobre a entrada, sem que, no entanto, o conjunto de
informações acerca da entrada seja característica exclusiva da definição
terminológica, sendo comum aos dicionários da língua geral”.

E a relação entre elas é de “significa” e não de “é”, isto é, a unidade léxica no


uso comum da língua refere-se a um universo que não está propriamente relacionado
ao valor da unidade terminológica. Portanto é necessária a adequação aos objetivos,
usuários e funções do dicionário que se elabora. (GAVA, 2012, p.111)

O tipo de definição para cada dicionário dependerá dos usuários aos quais se
propõe atender. Todavia, é preciso considerar os princípios mínimos apresentados
(BARROS, 2004, p. 166). Os mais recorrentes são os repertórios semasiológicos e
onomasiológicos. (GAVA, 2012, p. 111)

Nos trabalhos de Farias (2009a, p.4) “os dicionários semasiológicos têm como
principal característica apresentar paráfrases definidoras, enquanto os dicionários
onomasiológicos caracterizam-se pelo estabelecimento de relações conceituais entre
as palavras, a exemplo do thesaurus, dos dicionários de sinônimo-antônimos, dos
dicionários pela imagem, ou mesmo dos dicionários bilíngues”.

Como percebemos, as normas de entrada lexical escolhidas pelo lexicólogo


são importantes para organização das informações nos dicionários e definem sua
elaboração. Baseado nisto, no próximo item, trataremos das razões pelas quais
algumas palavras ou sinais não se encontram nos dicionários.
45

1.1.5 Palavras ou sinais que não se encontram nos dicionários

Muitas vezes tentamos encontrar uma palavra/sinal no dicionário, mas, quando


não achamos, nos sentimos frustrados ou desconfiamos do produto lexicográfico ou
acreditamos que a palavra não existe. Mas estas atitudes podem ser injustas, pois o
fato de não encontrarmos uma palavra/sinal no dicionário não implica
necessariamente a sua inexistência, mas pode justificar-se por: não estamos
procurando sua forma correta ou no lugar certo. Por isso, para achar uma palavra ou
sinal num dicionário devemos conhecer sua forma ortográfica.

Por definição, o léxico de qualquer língua natural viva é infinito, vive em


expansão permanente. Na hora de determinar uma nomenclatura, é impossível incluir
todas as unidades lexicais, todas as acepções e todos os seus registros de uso.

Por outro lado, quando uma palavra/sinal tem vários significados, por vezes é
difícil determinar que acepções de uma palavra/sinal devem ter uma entrada própria
e que acepções devem estar sobre a mesma entrada. Por exemplo, a palavra “manga”
pode significar, entre outras, uma fruta, uma parte de um vestuário ou um xingamento.

Para encontrarmos uma palavra no dicionário, temos que intuitivamente


lematizá-la. A entrada é apresentada na forma lematizada, ou seja, se é um
substantivo ou adjetivo, no singular e no masculino, se é um verbo, no infinitivo.

Parte do trabalho de definição da norma lexicográfica que o lexicólogo tem


passa por determinar que palavras devam ser incluídas no dicionário e em que
condições deve ser criada uma entrada separada.

Mas, se as razões anteriores, por si só, justificam que por vezes não
encontramos uma palavra, existe uma razão mais poderosa que todas para que tal
aconteça e que se prende com a natureza do léxico e do saber lexical dos falantes,
ou seja, os usos da língua na sociedade.
46

Portanto, em razão da grande importância das escolhas lexicais que são feitas
na elaboração de um dicionário, partiremos agora para compressão de como são
selecionadas as palavras e sinais que devem conter um dicionário de línguas.

1.1.6 Palavras ou sinais que constam num dicionário

A nomenclatura que é definida na norma lexicográfica deve levar em conta o


tipo de dicionário de que se trata, assim como o público-alvo a que se destina. Dessa
forma, poderá se construir uma listra de entradas sólidas.

As entradas são as palavras destacadas no dicionário, organizadas


alfabeticamente (modo de organização mais empregado nos dicionários de língua) e
geralmente escritas em negrito, com um leve recuo e alinhamento à esquerda. Elas
podem vir com divisão silábica ou não, dependendo da obra de referência em questão.
Mas nem sempre a ordem alfabética das entradas foi o critério de organização mais
utilizado. Genouvrier e Peytard (1974) explicam que as entradas podem ser
organizadas pela classificação etimológica, em que existe o agrupamento de todas as
palavras de uma mesma família em torno da palavra primitiva.

Se falarmos de um dicionário de língua, as palavras ou sinais a incluir deverão


ser frequentes e de uso corrente, o que não impede que se englobem unidades
lexicais de caráter mais específico ou caídas em desuso.

No caso dos dicionários terminológicos, as palavras devem constar de termos


do domínio de especialidades em questão, incluindo a variação e a sinonímia dos
mesmos, assim como informação acerca dos termos mais frequentes e dos menos
frequentes.

Face ao exposto, percebemos que a elaboração de um dicionário não é um


trabalho simples. A partir da seção seguinte, nosso objetivo é discutir sobre a
lexicografia e dicionários bilíngues onde trataremos das definições, classificações e
estrutura destas obras.
47

1.2 LEXICOGRAFIA E DICIONÁRIOS BILINGUES

Para Krieger (2003, p. 71 apud Santiago, 2012, p. 01), “a Lexicografia é


definida como sendo a ciência responsável por estudar aspectos relativos ao modo
como se organizam e se elaboram os dicionários. No plano aplicado, a Lexicografia
é, segundo a concepção clássica, a arte e a técnica de elaborar dicionários. O termo
lexicografia pode se referir ainda ao conjunto dos dicionários de um determinado
idioma: a lexicografia portuguesa, a lexicografia inglesa, a lexicografia espanhola, a
lexicografia das línguas de sinais etc”.

Nunes (2006, p. 150) descreve a lexicografia como “um saber linguístico de


natureza prática, tendo em vista a aquisição de um domínio de língua, de um domínio
de escrita e de um domínio de enunciação e de discurso”. Alcançar domínio nesse
campo não é tarefa apenas da lexicografia, mas do dicionário como produto da
mesma, no qual se esmiúçam as normas da palavra - sua grafia, significados,
sinônimos, usos etc.

Assim, a lexicografia desponta como ciência essencial na contribuição do


desenvolvimento da competência lexical. Sobre esta questão Krieger (2006)
esclarece.

Em relação à sua antiguidade, a lexicografia é o domínio de maior tradição


dentre as ciências do léxico. Tal tradição está diretamente relacionada à sua
vertente aplicada, viés que justifica sua clássica concepção de ser arte,
tomada no sentido grego, de técnica de fazer dicionários. Essa prática de
ordenar alfabeticamente o conjunto de itens lexicais de um idioma e de
agregar informações sobre seu conteúdo e uso, compondo obras de
referência linguística, é uma atividade que vem de muitos séculos. Já existia
nas culturas mais antigas do oriente, embora as primeiras obras tivessem
particularidades organizacionais distintas dos dicionários atuais. (KRIEGER,
2006, p.164)

Citado por Silva (2013, p. 109 apud Welker, 2005), “a literatura relativa à
lexicografia bilíngue, embora menos volumosa do que aquela sobre dicionários
monolíngues é bastante vasta”. Porém, a autor aponta que o trabalho de Carvalho
48

(2001) “é o primeiro trabalho brasileiro a oferecer uma visão geral da lexicografia


bilíngue”.

De acordo Carvalho (2001, p. 09 apud Silva, 2013, p. 109) “a lexicografia


bilíngue, mesmo possuindo uma vasta tradição, apresenta vários problemas que
necessitam ser discutidos”. Ou seja, a autora explica que numa obra onde as
informações não são bem selecionadas e nem sistematizadas na organização do que
foi selecionado não cumpre seu principal objetivo que é o de sistematizar o contraste
entre duas línguas.

Carvalho (2001, p. 9) aponta dois princípios básicos que devem ser


considerados para a elaboração de um dicionário bilíngue: “(1) a posição da língua
materna (LM) e as (2) diferentes situações de uso. A língua materna pode ser a língua
fonte (LF) ou a língua alvo (LA), o que, segundo a autora, leva à possibilidade de
termos quatro obras lexicográfica ao invés de duas. A posição da LM está diretamente
ligada ao segundo princípio, uma vez que, em um dicionário com a direção língua
materna – língua estrangeira (LE), a situação de uso será a produção de um texto na
LE ou a versão de um texto para a língua estrangeira. Já na direção língua estrangeira
- língua materna, a situação de uso será a compreensão de um texto na LM ou a
tradução de um texto para a língua materna. Na primeira direção, teremos um
dicionário de versão (ou ativo) e, na segunda, um dicionário de tradução (ou passivo)”
(SILVA, 2013, p. 109).

Segundo Carvalho (2001, p. 50) a estrutura do dicionário monolíngue servirá


de base para o bilíngue de versão, mas a função do bilíngue “não é o de descrever a
semântica do lema, mas sim o de estabelecer relações entre o lema e as
equivalências, e o que vai determinar o número de subdivisões dos bilíngues [...] é a
relação que existe entre o lema e suas equivalências”. De acordo com a autora, as
subdivisões do monolíngue não podem ser adotadas pelos dicionários bilíngues, uma
vez que “a realidade cotidiana do usuário será traduzida em termos estrangeiros,
devendo-se prover equivalências para todos os significados da palavra em questão”
(SILVA, 2013, p. 110).

O dicionário é uma obra complexa, com identidade própria, que encerra uma
multidimensionalidade de aspectos. No entanto, o dicionário não é isento de
49

subjetividades, como se costuma pensar. É importante salientar que visões redutoras


implicam também reduzir a concepção de lexicografia a uma atividade puramente
pragmática, o que está longe de ser verdade. Em suma, uma visão diminuta
descartaria as várias proposições de investigações linguísticas e textuais que
fomentam e justificam os estudos lexicográficos.

Por conseguinte, na seção posterior faremos uma breve explanação sobre os


dicionários bilíngues, a fim de compreendermos seu conceito, classificação e
estrutura.

1.2.1 Os dicionários bilíngues

O dicionário bilíngue é aquele que apresenta a palavra traduzida de uma


determinada língua ou trata da equivalência das unidades léxicas de duas línguas,
não se tratando apenas de uma obra que objetiva definir palavras. Silva (2009),
destaca que a ideia de equivalência é tão fundamental em dicionários bilíngues que a
“presença de duas línguas em um dicionário não o caracteriza como bilíngue se não
apresentar relação de equivalência entre elas”.

Normalmente esta obra é dividida em duas partes: língua estrangeira (LE) -


língua materna (LM); língua materna - língua estrangeira. Algumas palavras
apresentam mais de um significado e quando isso acontece, normalmente olhar-se o
contexto que está em volta da palavra para escolher o significado adequado.

O dicionário bilíngue é uma obra imprescindível para o estudo de uma língua


estrangeira porque oferece a possibilidade de buscar um termo desconhecido a partir
do outro que já se conhece, além de fornecer informações através de sinonímia ou
equivalentes na língua estrangeira que possa substituir a entrada lexical da língua
fonte. É mais útil nos estágios iniciais do estudo de língua estrangeira do que em níveis
mais avançados, uma vez que os estudantes ao avançarem vão conhecendo o
significado das palavras.
50

Segundo Zacarias (1997), os dicionários bilíngues dão maior segurança ao


aluno, principalmente no estágio inicial de aprendizado da língua. As informações
existentes nos dicionários bilíngues satisfazem o aprendiz porque geralmente não são
muito exigentes em sua busca, ou seja, a principal objetividade é procurar a tradução
de uma palavra.

Os estudos relacionados ao uso do dicionário bilíngue em sala de aula têm sido


apontados por vários autores BARROS (2004); BIDERMAN (1998); CARVALHO
(2001); BAGNO (2011); TARD (2008); XATARA, et al (2011), como uma excelente
área de investigação. Apesar do dicionário ser utilizado como material paradidático e
desempenhar um papel importante na aprendizagem de línguas, muitas questões
relacionadas ao seu uso permanecem ainda sem respostas.

Sendo assim, o uso do dicionário bilíngue, como material didático, deverá ser
o mais completo possível, pois uma definição basicamente sintética não auxiliará o
aluno, além de tornar o papel deste dicionário como coadjuvante do ensino.

1.2.2 Classificação dos dicionários bilíngues

Carvalho (2001, p.47 apud Silva 2013, p. 110) argumenta que existem alguns
critérios que combinados entre si influenciam a classificação dos dicionários bilíngues
e que os mesmos não atuam sozinhos. São eles: dimensão - dicionário de bolso,
médio, grande; número de línguas - monolíngues, bilíngues, multilíngues; grau de
especialização - geral vs. especializado; direção - a língua do usuário como língua-
fonte ou língua-alvo; abrangência - unidirecional ou bidirecional; função - situações
em que o usuário utiliza o dicionário.

Para Carvalho (2001, p.48), esses critérios influenciam a macro e


microestrutura do dicionário de forma direta. A dimensão e o grau de especialização
influenciam a seleção dos lexemas que serão lematizados. Num dicionário geral,
aparecem poucos termos técnicos, já num dicionário especializado serão lematizados
apenas lexemas referentes à área em questão; o dicionário de bolso terá uma seleção
51

mais rigorosa, uma vez que a dimensão do dicionário leva o lexicógrafo a delimitar o
número de informações sobre o lema. (SILVA, 2013, p. 111)

1.2.3 Estrutura do dicionário bilíngue

Tudo o que compõe um dicionário bilíngue está subdividido em macro e


microestrutura. A macroestrutura é o lema, um conjunto de informações gerais, ou
seja, fará parte de um aparato de ordenação do texto; a microestrutura é constituída
essencialmente pela parte interna do verbete e, juntas, formam o texto lexicográfico.

De acordo com Carvalho (2001, p. 65 apud Silva 2013, p. 111) “a estrutura


interna do bilíngue é a parte em que são organizadas todas as informações a serem
mencionadas acerca do lema, o qual, por sua vez, funciona como a entrada principal”.
A equivalência é um elemento obrigatório da estrutura interna do dicionário bilíngue,
ainda mais por ser essencial para o usuário que utiliza esse tipo de obra. Ainda de
acordo com a autora, “pode-se dizer que os outros componentes giram em torno da
relação lema-equivalência(s), que constitui a base do bilíngue”(Idem, p.65).

O lema ou palavra-entrada é uma parte importante que caracteriza os


dicionários bilíngues. Carvalho (2001, p. 67) aponta que “a extensão da
macroestrutura irá depender do tipo de dicionário que se esteja elaborando; um
dicionário de bolso, por exemplo, deve tentar cobrir ao máximo a linguagem do
cotidiano”. (SILVA, 2013, p. 111)

Ainda em Silva (2013, p. 111) citando Carvalho (2001, p. 89), “a dicotomia


tradução e versão está diretamente ligada às questões organizacionais dos lemas”. A
quantidade de entradas vai depender do tipo de obra que se deseja publicar, da
mesma forma que é importante a definição de quais critérios serão adotados para o
tratamento polissêmico e homonímico.

Os dicionários, sejam monolíngues, bilíngues, trilíngues, terminológicos entre


outros utilizam na maioria deles o alfabeto da língua para ordenar as entradas. Esse
52

processo de ordenação das entradas seguindo o alfabeto é denominado por Wiegand


(1989, p.380 apud Carvalho, 2001 p. 90) de “método mecânico-exaustivo de
ordenação alfabética”. Assim, o método considera as letras do alfabeto de forma
individual, partindo da primeira letra e considerando as que a seguem. (SILVA, 2013,
p. 112)

Carvalho (2001), ressalta a importância do critério formal para a criação do


dicionário bilíngue. Segundo a autora,

A aplicação deste critério leva-nos a um tratamento predominantemente


polissêmico, o que não vai de encontro à natureza do dicionário bilíngue, por
ser este um dicionário de caráter polissêmico por excelência. O fato de
aparecerem as mais diversas equivalências para um lema em um único
verbete não é nenhuma novidade para o usuário, pois sabemos que as
estruturas lexicais de duas línguas não são isomorfas e que o nível da
linguagem em questão é o do discurso e podemos ter equivalências, cuja
relação semântica com o lema não é tão próxima. (CARVALHO, 2001, p. 95)

Ainda sobre os estudos da autora, no dicionário monolíngue é priorizado o


critério semântico, pois as definições são o reflexo da semântica do lema, já no
dicionário bilíngue se tem o compromisso com o uso das duas línguas. (CARVALHO,
2001, p. 96). O consulente acostuma-se a encontrar palavras de classes gramaticais
diferentes no mesmo verbete.

No próximo item faremos referência ao Programa Nacional do Livro Didático


(PNLD) e os dicionários infantis onde discutiremos sobre os critérios que o programa
elenca para a elaboração de dicionários e quais objetivos levaram o MEC a distribuir
essas obras nas escolas brasileiras.
53

1.3 O PNLD E OS DICIONÁRIOS INFANTIS

O Governo Federal sempre elaborou programas voltados à distribuição de


material didático aos estudantes da rede pública brasileira. Dente eles, destacamos
um dos mais antigo, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Foi em 1929
quando o Instituto Nacional do Livro Didático (INL) tornou-se o órgão responsável por
legislar diretrizes sobre o livro didático nacional que o programa começou a se
fortalecer para alcançar seu principal objetivo, “subsidiar o trabalho pedagógico dos
professores por meio da distribuição de coleções de livros didáticos aos alunos da
educação básica” (BRASIL, 2016).

Em 2000 o PNLD foi ampliado para atender a demanda de estudantes nas


escolas públicas brasileiras. A distribuição de dicionários da língua portuguesa para
uso dos alunos matriculados de primeira a quarta séries do Ensino Fundamental só
começou em 2001, sendo sucessivamente ampliada, para os da quinta e sexta séries
em 2002 e para os da sétima e oitava séries em 2003, fazendo com que os estudantes
tivessem acesso ao dicionário como parte de seu material didático. Em 2004, quase
40 milhões de dicionários de língua portuguesa foram entregues aos estudantes para
uso pessoal.

No ano de 2005, o programa foi mais uma vez reformulado, mas agora no
sentido de distribuir os dicionários para que fossem utilizados de fato em sala de aula.

Em 2006, um dos objetivos mais importantes do PNLD foi equipar as escolas


com um número significativo de dicionários com diferentes tipos e títulos. Desta forma,
os professores dispuseram de mais uma ferramenta pedagógica para o ensino, que
servia tanto para o enriquecimento cultural quanto para um diálogo em sala de aula
entre as diferentes áreas do conhecimento.

Em 2006, as escolas públicas do Ensino Fundamental que trabalhavam com


alunos surdos matriculados de primeira a quarta séries passaram a receber o
Dicionário Enciclopédico Trilíngue-Libras/Português/Inglês de autoria de Capovilla e
Raphael. A obra foi vista como um material didático importante para o trabalho do
professor em sala de aula e para os próprios alunos, muito embora o atendimento a
54

estudantes surdos já acontecesse anteriormente ao recebimento do dicionário. No ano


de 2007 a distribuição foi ampliada e o Dicionário de Libras também foi recebido pelos
alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) através do PNLD recomenda as


seguintes caracterização dos dicionários de acordo com a etapa de ensino e objetivos
traçados.

Tabela 01 – Classificação dos dicionários segundo o PNLD

Tipos de Etapa de ensino Caracterização


dicionários
Dicionários 1º ano do Ensino § Mínimo de 500 e máximo de 1.000 verbetes;
de Tipo 1 Fundamental
§ Proposta lexicográfica adequada às demandas
do processo de alfabetização inicial.
Dicionários 2º ao 5º ano do Ensino § Mínimo de 3.000 e máximo de 15.000 verbetes;
de Tipo 2 Fundamental
§ Proposta lexicográfica adequada a alunos em
fase de consolidação do domínio tanto da escrita
quanto da organização e da linguagem típicas do
gênero dicionário.
Dicionários 6º ao 9º ano do Ensino § Mínimo de 19.000 e máximo de 35.000
de Tipo 3 Fundamental verbetes;

§ Proposta lexicográfica orientada pelas


características de um dicionário padrão de uso
escolar, porém adequada a alunos dos últimos
anos do ensino fundamental.
Dicionário de 1º ao 3º ano do Ensino § Mínimo de 40.000 e máximo de 100.000
Tipo 4 Médio verbetes;

§ Proposta lexicográfica própria de um dicionário


padrão, porém adequada às demandas
escolares do ensino médio, inclusive o
profissionalizante.
55

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Com direito à palavra:
dicionários em sala de aula / [elaboração Egon Rangel]. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Básica, 2012.

No quadro acima, notamos que os dicionários diferem não só pela quantidade


e pelo tipo de palavra que registram, mas pelo tratamento que dão às explicações de
sentidos, à estrutura do verbete e à organização geral do volume. E estas diferenças
de porte e organização justificam-se pelas particularidades dos estudantes.

De acordo com Brasil, (2012)3, os dicionários do TIPO 1 e TIPO 2 devem


atender às demandas do letramento e alfabetização iniciais nos três primeiros anos
do ensino fundamental (ou primeiro ciclo) e à consolidação desse processo nos dois
últimos anos (ou segundo ciclo). Estas obras têm um porte limitado, o que os distancia
bastante da seleção vocabular — representativa de todo o léxico — própria do
dicionário padrão da língua. Neste sentido, os dois primeiros tipos não se constituem,
a rigor, como dicionários; são, antes, repertórios de palavras organizados como tais,
com o objetivo de introduzir (Tipo 1) e familiarizar (Tipo 2) o aluno do primeiro
segmento com este gênero e com o tipo de livro que, em sua versão impressa, o
caracteriza. Limitam as classes de palavras a substantivos, adjetivos e verbos (Tipo
1), raramente ampliando esse repertório (Tipo 2). (BRASIL, 2012, p. 21).

Para elaboração do dicionário infantil bilíngue Libras/Português, tomamos


como referência a proposta do dicionário do Tipo I do PNLD, por acreditamos que este
tipo de dicionário atua como um suporte essencial na contribuição para o
desenvolvimento da competência lexical de seus consulentes, sejam crianças surdas
ou ouvintes. Consideramos satisfatória a adesão desta proposta, pois fomentará uma
sociedade letrada e uma comunidade linguística que se revela eficiente usuária da
língua.

O dicionário que propomos será um importante material didático a ser utilizado


em sala de aula, levando o aprendiz surdo a desenvolver sua competência linguística
e lexical em todos os aspectos. Assim, o ensino do léxico de maneira organizada, fará

3Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Com direito à palavra: dicionários em
sala de aula / [elaboração Egon Rangel]. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2012.
56

com que o aprendiz se aproprie tanto da Libras quanto da língua portuguesa, por ser
uma obra bilíngue adequada as necessidades da criança surda.

Os dicionários do tipo 3 e 4 são destinados a alunos dos anos finais do ensino


fundamental (tipo 3) e do ensino médio (tipo 4). Sua estrutura de verbetes é mais
complexa do que a dos tipos 1 e 2. São mais representativos do léxico da língua
portuguesa e incluem palavras de todos os tipos e classes. Também trazem maior
número de informações linguísticas e detalhamentos nos verbetes registrados. Sua
linguagem é impessoal e, em alguns casos, de característica técnica-científica.

De acordo com BRASIL (2012), é importante analisar essas características


porque:

Considerando-se o nível de ensino a que se destinam, todos esses títulos


demandam a mediação do professor. Para consultá-los, o aluno deverá
vencer a relativa distância que se estabelece entre esse novo patamar
lexicográfico e aquele dos dicionários de Tipo 1 e 2. Além disso, cada um
deles apresenta suas informações de uma forma diferente da dos demais,
tanto no que diz respeito aos itens contemplados, quanto à linguagem
empregada nas definições. (BRASIL, 2012, p. 32)

A função básica do dicionário escolar é a de colaborar significativamente com


os processos de ensino e aprendizado que se desenvolvem, favorecendo, ainda, a
conquista da autonomia do aluno no uso apropriado e bem-sucedido dos dicionários
de referência de sua língua.

É importante lembrar a função do professor como mediador na relação


aluno/dicionário, pois é preciso despertar o interesse do aluno na utilização da
ferramenta lexicográfica, compreendendo que o estudante não é autodidata nessa
função. O professor é um intermediário no sentido de tomar à frente e providenciar
esclarecimentos sobre os objetivos dos dicionários, sua estrutura e organização, o
que inclui definir e dimensionar a macroestrutura e a microestrutura dessas obras para
os alunos.

Diante dos fatos apontados, é importante que professor disponha na sala de


aula de dicionários para apoio didático, pois irá auxiliar os alunos com a exposição de
57

diferentes gêneros textuais próprios do mundo da escrita. A sugestão é que os


dicionários de tipo 1 sejam auxiliares dos alunos ainda em processo de compreensão e
aquisição da leitura e escrita, e os dicionários de tipo 2 para aqueles alunos que já têm
certa autonomia na decodificação da escrita e na leitura. (BRASIL, 2012, p. 32)

O MEC lista as características dessas obras em questão, destacados em BRASIL


(2012, p. 22):

recolhe, em sua nomenclatura, um número limitado de verbetes, incapaz de


refletir a variedade dos tipos de palavras e expressões que o léxico de uma língua
como o português brasileiro abriga;
têm como foco o vocabulário que seus autores consideram básico;
propiciam ao trabalho de sala de aula um primeiro acesso ao universo das
palavras e dos dicionários;
recorrem a ilustrações como estratégia tanto de motivação da leitura
(ilustrações ficcionais) quanto de explicitação de sentidos das palavras (funcionais);
trazem verbetes de estrutura simples, com um pequeno número de acepções
e informações linguístico-gramaticais reduzidas ao indispensável — quase sempre em
linguagem informal e acessível, acompanhada de exemplos de uso.

As características acima, distinguem-se não apenas pelo porte de suas


respectivas nomenclaturas, mas ainda pela forma como se organizam para atingir seu
principal objetivo, de familiarizar o aluno com o gênero e oferecer ao trabalho de sala
de aula subsídios para as primeiras explorações do vocabulário e do léxico. BRASIL
(2012, p. 22)

Esses dicionários servirão como uma apresentação da língua aos alunos no


ambiente escolar. A escolha de uma obra bem elaborada, aproximará o indivíduo e
sua língua e com a apresentação do professor, o aprendiz terá autonomia em seu uso.

Ao alcançar esses objetivos, o aluno terá muitos benefícios que lhe servirão por
muitos anos, já que sua relação com o léxico não se limita aos anos em sala de aula;
antes, se estende por todos os ambientes que passar e por todo o seu período de
vida.
58

Quando o aluno é apresentado a um dicionário que atende às suas


necessidades iniciais de aprendizado da língua passará desde muito cedo a utilizá-lo
de maneira adequada, aprenderá palavras novas, além de alcançar gradativamente
competência lexical.

Finalizando essa etapa de nosso trabalho, trataremos a seguir dos dicionários


de línguas de sinais e traremos uma retrospectiva história das primeiras formas de
representar a língua.

1.4 OS DICIONÁRIOS EM LÍNGUAS DE SINAIS

Encontrar documentos sobre as primeiras tentativas de registro das línguas de


sinais, não é uma tarefa fácil para um pesquisador. Além da necessidade de identificar
as obras e seus respectivos autores, é preciso obter informações suficientes sobre o
contexto histórico em que foram produzidos. Dessa forma, presumir sobre a
veracidade dos fatos.

O objetivo desta seção é fazer uma retrospectiva histórica das primeiras formas
de registros da língua de sinais, inicialmente em forma de estampas, perpassando
pelos manuais e, posteriormente, pelos dicionários em formato impresso ou digital
como vemos na atualidade.

Levando-se em consideração todos esses aspectos foi possível identificar os


diferentes tipos de dicionários em línguas de sinais (infantis ou acadêmicos) e as
formas de representação dos sinais nos dicionários impressos (ilustrações ou
desenhos) e digitais (vídeo ou em avatar – em informática é um cibercorpo totalmente
digital, uma espécie de boneco que pode ser programado). Elucidaremos toda esta
trajetória a partir das temáticas a seguir.
59

1.4.1 Percurso histórico

Nos estudos de Martins et al (2012), os primeiros registros escritos, utilizados


na comunicação com os surdos, datam de 1620. O espanhol Juan Pablo Bonet
(1579/1636) retrata, pela primeira vez, um alfabeto manual em seu livro intitulado
“Reduction de las Letras y Arte para enseñar ablar los mudos”4, uma coleção de quatro
ensaios sobre o ensino de surdos contendo gráficos do alfabeto de sua autoria. Sua
obra foi um trabalho de valor inestimável para a educação de surdos na época e serviu
de base para outros estudos posteriores. Especula-se que o alfabeto criado pelo
espanhol foi baseado no de Frei Melchior de Yebra (1526/1586), também espanhol
que aparece em “Refugium Infirmorum”5, que era um guia para a última confissão
sobre o voto do silêncio.

Figura 01 – Imagem de Bonet e seu alfabeto manual

Fonte: Disponível em: <www.cervantesvirtual.com/obra> Acesso em: 17/07/2016.

4 Redução da Letras e arte para ensinar os mudos a falar.


5 O refúgio dos fracos
60

O inglês John Bulwer (1614/1684) introduz alguns gestos em 1644 no livro


“Chirologia or the Natural Language of Hand”6 e “Philocophus or the deaf and dumb
man’s friend”7. (MARTINS et al, 2012)

Figura 02 – Imagem de Bulwer e de seu alfabeto manual

Fonte: Disponível em <http://www.uncwil.edu/people/rohlerl/rohler/miller.htm>. Acessado em:


17/07/2016

De acordo com Martins et all (2012), William Holder, de origem inglesa


(1615/1697) em seu livro “Elements of Speech: na essay of inquiry into the natural
production os letters: with na apêndix concenrning persons deaf & dumb” 8 em 1669,
também começa estudos com gestos a partir da exploração do espaço.

6
Quirologia ou a imagem natural da mão.
7
O amigo do homem surdo e mudo.
8
Elementos da fala: um trabalho de pesquisa sobre a produção natural das letras: com um apêndice sobre as
pessoas suras e mudas.
61

Figura 03 – Imagem de Holder e da capa do livro Elements of Speech: na essay of


inquiry into the natural production os letters: with na apêndix concenrning persons
deaf & dumb

Fonte: Disponível em <http://blogs.ucl.ac.uk/library-rnid/2013/01/18/william-holder-17th-century-


teacher-of-the-deaf/>. Acessado em: 17/07/2016

Nesse contexto inicial, não podemos esquecer os trabalhos do Abade católico


Charles Michel de L’Epée (1712/1789), no século XVIII. Fundador do Instituto Real
para Surdos Mudos, em 1755 na cidade de Paris, L’Epée interessou-se por ensinar
surdos quando viu duas irmãs surdas carentes que viviam perambulando pelas ruas
de Paris e se comunicavam por gestos (Strobel, 2011). A partir desse fato ocorrido,
começou a ensinar alguns surdos em sua própria casa utilizando uma combinação
entre os sinais usados pelas crianças e a gramática sinalizada do L’Epée e, com isso,
criou os sinais metódicos utilizados na educação para ensinar os surdos a língua
francesa escrita. (MARTINS et al, 2012)

Em 1806, Gilbert Austin (1753/1837) continuou o trabalho de Bulwer no livro


“Chironomia or a treatise on rhetorical delivery”9. Os estudos do inglês constam de
ilustrações, em forma de desenhos, de mãos representando os gestos da época.
(MARTINS et al, 2012)

9 Quironomia ou um tratado sobre o discurso retórico


62

Figura 04 – Imagem com estampas de mãos de Austin

Fonte: Disponível em: <http://100gestos.blogspot.com.br/2011/05/wikipedia-tb-e-cultura.html>.


Acessado em: 17/07/2016

Foi o abade Jean Ferrand (1731/1815) que criou o primeiro dicionário


“Dictionnaire des sourds-muets”10. Esta obra foi a primeira a trazer na sua capa a
indicação de tratar-se de um dicionário. Nas páginas internas da obra, os gestos
descritos e não desenhados. O autor elaborou o dicionário de forma anônima e não
há uma data definida da produção, embora na capa conste o ano de 1897 em
algarismo romano. (MARTINS et al, 2012)

Figura 05 – Capa do Dictionnaire des sourds-muets

Fonte: Disponível em: <http://data.bnf.fr/12526404/jean_ferrand/>. Acessado em: 17/07/2016

10 Dicionário de surdos-mudos
63

No período de 1742/1822, seguindo o mesmo caminho Jean Ferrand, o abade


Roch-Ambroise Sicard, mesmo tendo pouco conhecimento sobre a língua de sinais e,
sendo seus gestos bastantes diferentes dos que seriam na atualidade, publica o livro
“Théorie des signes ou introduction à l’étude des langues, oú le sens des mots au lieu
d’éfini, est mis em action”.11 (MARTINS, et al, 2012)

Figura 06 – Imagem de Sicard e da capa do livro: Théorie des signes ou introduction


à l’étude des langues, oú le sens des mots au lieu d’éfini, est mis em action

Fonte: Disponível em: <https://fr.wikipedia.org/wiki/Roch-Ambroise_Cucurron_Sicard>. Acessado em:


17/07/2016

Em 1825, Roch-Ambroise Bébian (1789/1839) publicou “Langue de signes


française: Mimographie”12, e trouxe de forma pioneira um método de escrita em que
criou símbolos para diferentes formas das mãos. Segundo Sofiato (2011), o trabalho
de Bébian ficou perdido por quase 20 anos. Seu objetivo era a criação de um dicionário
descritivo da língua de sinais, mas foi Remi Valade (apesar de suas ideias oralistas)
quem assumiu o projeto de Bébian. O livro de Valade trazia uma lista de palavras em
francês e ao lado a descrição dos gestos, com desenhos de traços estilizados que
representava os movimentos dos sinais com figuras sobrepostas, porém só eram
utilizadas quando ele convinha ser necessário. (MARTINS et al, 2012)

11 Teoria dos gestos ou introdução ao estudo das línguas, onde o sentido das palavras em vez de ser
definido, é posto em ação.
12 Dicionário de língua de sinais francesa: mimografia
64

Figura 07 – Imagem de Bébien e da capa do livro: Langue de signes française:


Mimographie

Fonte: Disponível em: <https://archive.org/details/BebianBallyMimographieLangageSourdsMuets1826>.


Acessado em: 17/07/2016

Em 1827, Joseph-Marie Degérando (1772/1842) defende a importância da


visualidade da língua de sinais no livro “De l’éducation des sourdes-muets de
naissance”13, no qual descreve cerca de 300 gestos. (MARTINS et al, 2012)

Figura 08 – Capa do livro: De l’éducation des sourdes-muets de naissance

Fonte: Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k83317w.pdf>. Acessado em: 17/07/2016

13 Sobre a educação dos surdos-mudos de nascença.


65

Em seu livro, “Versinnlichte Denk und sprachlehre”14, 1844, o austríaco Franz


Herrmann Czech (1788/1847) incluiu imagens dos objetos como complemento dos
gestos para o ensino aos surdos. (MARTINS et al, 2012)

Figura 09 – Imagem das estampas do livro Versinnlichte Denk und sprachlehre

Fonte: Disponível em:


<http://www.ebay.com/itm/Antique-Print-PORTRAIT-DR-FRANZ-HERMANN-CZECH-1844-
/231670431181>. Acessado em: 17/07/2016

Outros autores também seguiram o mesmo método descritivo de Sicard, como


foi o caso de Louis-Pierre Paulmier (1775/1847) em 1844.

Em 1850 o “Dictionnaire usuel de Mimique et de dactylologie”15, do francês


Alexandre Blanchet, fez a descrição verbal de cerca de 700 gestos. (MARTINS et al,
2012). Esta obra é a segunda indicação de ter em sua capa a palavra dicionário, a
exemplo da obra do abade Jean Ferrand “Dictionnaire des sourds-muets”.

14 Exercícios de visualização mental e oral


15 Dicionário usual de mimica e datilologia
66

Figura 10 – Capa do Dictionnaire usuel de Mimique et de dactylologie

Fonte: Disponível em: <http://www.pmb.steum.com/opac_css/index.php?lvl=notice_display&id=196>.


Acessado em: 17/07/2016

No trajeto histórico das primeiras formas de registro das línguas de sinais,


encontramos; em 1850, o livro “Études sur la lexicologie et la grammaire du langage
naturel des signes”16 de Yves-Léonard-Remi Valdade, que faz a opção por representar
as palavras usadas pelos surdos através de desenhos, mesmo numa abordagem
teórica; em 1851, Jérôme Antoine Jarisch faz a representação dos movimentos por
meio de setas nas ilustrações do livro “Méthode d’instruction des sourds-muets à la
parole, aux mathématiques et à la religion”17; ainda em 1851, Joséphine Brouland
(1851) utiliza um método parecido ao de Jérôme Antoine Jarisch no seu “Tableau
specimen d’um dictionnaire des signes”18; Entre 1800 a 1884, os trabalhos de Bébian
foram seguidos por Joseph Piroux. Era um método para representar a escrita por meio
de símbolos. Seu livro “Méthode de dactylologie, de lecture et d’écriture à usage des
sourds-muets”19 foi publicado em 1856. (MARTINS et al, 2012)

Na França, em 1856, Pierre Pélissier (1814/1863), aluno surdo do Instituto


Nacional de Surdos-Mudos de Paris, publicou o livro “L’Enseignement primaire dês

16 Estudos sobre a lexicologia e gramática da linguagem natural dos gestos


17 Método de instrução dos surdos-mudos à fala, à matemática e à religião
18 Quadro exemplificativo de um dicionário de gestos
19 Método de datilologia, leitura e escrita para a utilização dos surdos-mudos.
67

sourds muets a la portée de tout le monde avec une iconographie des signes”20. Em
sua obra, ele representa os gestos por meio de desenhos com o apoio de setas para
compreensão do movimento. Sofiato (2011, p. 21).

Sobre Pierre Pélissier, Renard e Delaporte (2002, apud Sofiato, 2011),

Pélissier (1814/1863) foi educado em língua de sinais numa instituição em


Toulouse pelo abade Chazottes. Foi professor do colégio Saint-Jacques
durante 20 anos, de 1843 até sua morte em 1863, e também do Instituto de
Surdos-Mudos de Paris. Em 1844, publicou Les poésis d’um sourd-muet21.
Marcado por uma influência romântica, foi admirado por Lamartine, que em
seus versos o qualificou como “poeta silencioso”. Pierre Pélissier é
considerado um dos primeiros ilustradores da França entre os períodos de
1855 a 1865. Contemporâneos de Pélissier, Joséphine Brouland e Louis-
Marie Lambert, também desenvolveram trabalhos relativos à língua de sinais
francesa no período. Brouland e Lambert igualmente trabalharam no Instituto
de Surdos-Mudos de Paris, assim como outros ilustradores que publicaram
descrições de sinais. Os autores citados mencionam que Pélissier, por meio
de sua obra, era o único a representar a categoria pensamento surdo por ser
surdo. (Sofiato, 2011, p. 64 e 65).

Na época, por ser surdo e educado em língua de sinais, era natural que
Pélissier tivesse interesse em produzir trabalhos na área, ainda mais devido a sua
aptidão para o desenho e por ser o único, de acordo com Sofiato (2011), a representar
o pensamento surdo, devido a sua condição. Seu trabalho foi fundamental para a
educação dos surdos franceses da época.

20 Educação primária dos surdos, o silêncio ao alcance de todos: uma iconografia dos sinais.
21 Poesias de um surdo-mudo.
68

Figura 11 – Capa do livro Iconographie des signes

Fonte: Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k131991f>. Acessado em: 17/07/2016

Figura 12 – Estampa com sinais de Pélissier

Fonte: Sofiato (2011)

No Brasil, os primeiros registros lexicográficos da Língua Brasileira de Sinais,


de que se tem conhecimento, datam dos séculos XIX, XX e XXI. As obras produzidas
nestes períodos passaram por diversas nomenclaturas, ou seja, inicialmente foram
denominadas de manuais com estampas de desenhos, apostilas, livros e
dicionários, estes últimos já nos moldes atuais - século XXI.
69

O trabalho de L’Epée influenciou a fundação da primeira escola de surdos no


Brasil, “O Imperial Instituto de Surdos Mudos”, em 1857, no Rio de Janeiro, por
Edouard Huet, um surdo francês, aluno e professor do Instituto de Surdos Mudos de
Paris. A convite do imperador Dom Pedro II fundou a escola, atual Instituto Nacional
de Educação de Surdos – INES (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2005, p.32).

Vinte anos após a fundação do INES, a primeira obra em Libras é produzida


por um aluno surdo do instituto, Flausino José da Costa Gama. Sua Obra, “A
Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos” era na verdade, um manual ilustrado.

De acordo com Sofiato & Reily (2005 apud Sofiato, 2011, p. 25), a inspiração
para o trabalho de Flausino foram as estampas de Pélissier, entendidas por ele como
uma forma dos “falantes” conversarem com os surdos. Segundo a autora, Flausino
era um desenhista bastante hábil conseguindo desenvolver o projeto depois que
aprendeu a técnica da litogravura. A autora ainda enfatiza que

“(...) é importante destacar que a obra de Flausino constitui-se basicamente


de estampas, compostas por imagens referentes aos sinais que foram
escolhidos para compor o léxico e, também pelos verbetes em Língua
Portuguesa correspondentes ao significado desses mesmos sinais”. Sofiato
(2011, p. 81).

O manual de Flausino contém 20 estampas e para cada uma delas existe uma
lista com explicações de como o sinal é feito.
70

Figura 13 – Capa: Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos

Fonte: Gama, Flausino José da. Iconographia dos signaes dos surdos-mudos. Rio de Janeiro: INES,
2011 (série histórica do Instituto Nacional de Educação de Surdos)

Figura 14 – Estampa com sinais de verbos de Flausino da Gama

Fonte: Gama, Flausino José da. Iconographia dos signaes dos surdos-mudos. Rio de Janeiro: INES,
2011 (série histórica do Instituto Nacional de Educação de Surdos)

Conforme Capovilla, Raphael e Macedo (1998), encontramos três outros


manuais na língua brasileira de sinais: Oates (1969), Hoeman, Oates e Hoeman
(1981), Peterson e Ensminger (1987).
71

Segundo Felipe, (2000),

Esses livros foram, durante décadas, o material didático utilizado pelos


instrutores surdos para ensinarem sua língua e, talvez por essas obras
trazerem uma seleção de fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com
explicações, a metodologia que vem sendo utilizada para ensinar esta língua
tem sido somente a apresentação de sinais e tradução dos mesmos.
(FELIPE, 2000, p. 01)

Destas obras, a mais conhecida é o manual, “Linguagem das Mãos” de Padre


Eugênio Oates (1969). Seu trabalho encontra-se dividido em 15 capítulos, incluindo
numerais. Possui 1.258 sinais organizados em categorias gramaticais: (verbos,
substantivos, adjetivos e advérbios, preposições, pronomes e conjunções, cores,
homem e família, alimentos e bebidas, animais, o mundo e a natureza, religião, tempo,
regiões do mundo e alguns países, estados brasileiros, territórios federais e capitais,
vestuários e números cardinais). (TEMOTEO, 2012, p. 34)

Figura 15 – Capa do livro Linguagem das Mãos

Fonte: Linguagem das Mãos, Eugênio Oates. 1969


72

Todas as imagens utilizadas foram feitas pelo próprio Oates. As fotos são em
preto e branco e em alguns casos foi utilizada mais de uma imagem para compor o
sinal. A compreensão do movimento é feita por meio de setas. Ao lado de cada sinal
há um verbete com sua descrição. No final do livro há um índice com numeração e
nome dos temas de cada capítulo e, também, uma lista com todas as palavras
utilizadas no manual em ordem alfabética. Na imagem abaixo, no sinal PECAR, foi
utilizada uma seta para indicar a noção do movimento (figura xx). Os números entre
parênteses indicam o número do sinal, numerados no início do livro, de 1 até 1.258.

Figura 16 – Sinal 226: PECAR

Fonte: (Oates E., 1969, p.189)

O objetivo da obra é descrito no prefácio por Oates (1969, p. 12),

“é, simplesmente, o de ajudar os surdos-mudos brasileiros a terem um melhor


entrosamento na sociedade e que haja um melhoramento contínuo na sua
vida social, educacional, recreativa, econômica e religiosa. É, também, minha
esperança que o livro seja útil a todos aqueles que têm contato com os
surdos”. OATES (1969, p. 12)

As palavras do autor no prefácio do manual já enfatizam uma preocupação com


a inclusão da pessoa surda na sociedade brasileira, um avanço para a época que não
dispunha dos recursos educacionais e tecnológicos atuais.
73

Doze anos após a publicação do manual de Oates (1969), ainda no século XX,
surgiu um novo manual de Libras no Brasil, intitulado “Comunicação Total”. A obra
fora produzida por missionários americanos que vieram trabalhar com surdos no país.
De autoria de Everett Peterson e sua esposa Iva Jean Peterson (1981), contribuiu
para ampliação e estudos lexicográficos da língua de sinais brasileira que era
chamada, na época, de mímica.

No manual de 21 páginas, constava apenas a descrição de como o sinal era


feito sem nenhuma ilustração. Dividido em sete lições, cada uma continha uma lista
enumerada com a descrição do sinal, mas sem nenhum título identificando de que
assunto tratava.

Figura 17 - Capa do manual Comunicação Total e exemplos das descrições dos


sinais

Fonte: (Peterson, 1981)

Conforme Silva, Malta e Silva, (2008b), o casal Peterson criou, inicialmente a


apostila, “Vocabulário de mímica para surdos” que era destinada ao ensino de Libras.
Pouco tempo depois, chegava ao Brasil Judy Ensminger, que desenhava os sinais
para o livro “Aprendendo a Comunicar: um livro par” e, posteriormente, sob a
coordenação de Peterson desenhava os sinais para o manual “Comunicado com as
Mãos”, que só recebe essa nomenclatura a partir da segunda edição, em 1987,
74

quando seu léxico foi expandido em 84 sinais, do total de 490 sinais que o compunha
na primeira edição, passa para 574 na segunda edição.

Figura 18: Capa do manual Comunicando com as mãos

Fonte: Peterson & Ensminger, 1987.

Rodrigues (2009), explica o porquê e o objetivo do manual.

Esse livro foi escrito visando a integração do surdo na sociedade, visto que
sua comunicação é diferente, era necessário investir nessa área. Por conta
dessa necessidade, o Dr. John Peterson passou a trabalhar nessa área de
literatura para surdos. Este título do primeiro livro se deu por conta da filosofia
da comunicação total que estava se expandindo naquela mesma época,
1981. (RODRIGUES, 2009, p. 14).

A obra foi feita de forma artesanal e simples, pois não havia nenhuma editora
a frente do trabalho. As cópias eram fotocopiadas e encadernadas com espiral. Sua
distribuição para os surdos era gratuita; parte do auxílio financeiro era vindo de
instituições americanas, visando oferecer ao surdo a possibilidade de conhecer
“mimica”, sobretudo para aqueles surdos que nunca haviam tido a oportunidade de
frequentar uma escola ou comunidade surda.
75

Figura 19 – Sinal 428: Viver

Fonte: (Peterson & Ensminger, 1987, p.113)

Na parte interna do manual, sua organização era feita por três colunas. A
primeira com desenho que ilustra o significado do sinal, conforme exemplo acima, a
imagem de dois pássaros, com a indicação por meio de seta para o significado da
palavra vivo, visto que a outra ave se encontra morta. Na coluna do meio aparece uma
ilustração com o sinal em Libras para viver com setas indicativas do movimento das
mãos (para cima e para baixo). Segundo seu autor, as ilustrações auxiliam a
compreensão dos surdos, especialmente os que não tinham acesso à leitura e escrita
na época. (TEMOTEO, 2012, p. 42)

Em outubro de 1991, foi lançado o manual de sinais bíblicos, “O Clamor do


Silêncio” pela Junta de Missões nacionais da Convenção Batista Brasileira. As
ilustrações são de Salomão Dutra Lins, surdo e pastor evangélico. Os sinais foram
escolhidos a partir de uma pesquisa sobre seu significado bíblico e seus usos nas
igrejas batistas com a finalidade de apresentar os sinais bíblicos para serem utilizados
no Ministério com surdo das igrejas facilitando a comunicação. (TEMOTEO, 2012, p.
19)
76

Figura 20 – Capa do Manual de sinais bíblicos: o clamor do silêncio

Fonte: Manual de sinais bíblicos: O clamor do silêncio, JMN, 1991

A referida obra é subdividida em cinco partes, permitindo que o leitor localize


os sinais de acordo com os temas que compõem cada uma dessas ações. São
compostos de 272 sinais bíblicos organizados da seguinte forma: (1) livros da Bíblia -
59 sinais; (2) personagens bíblicos - 93 sinais; (3) funções - 15 sinais; (4)lugares - 24
sinais; (5)outros sinais - 81 sinais.

Figura 21 – Sinal de Maná

Fonte: Manual de sinais bíblicos: O clamor do silêncio, JMN, 1991, p.128. (TEMOTEO, 2012, p. 51)
77

Os sinais são apresentados numa caixa e sua representação é feita por uma
ilustração (desenho) do sinal. Abaixo da caixa, encontra-se o verbete em português
com uma explicação detalhada sobre o modo como deve ser feito sinal, como no
exemplo acima, a palavra MANÁ, cujo significado é “o alimento que desceu no céu”.

A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados publicou, em 1992, um


compêndio22 destinado às pessoas surdas. Trata-se do livro “Linguagem de Sinais”,
que posteriormente em 2008 recebeu um novo título: Língua de Sinais.

Figura 22 - Capa do livro: Linguagem de Sinais

Fonte: Linguagem dos Sinais. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992

O livro é organizado em 14 categorias: Alfabetização, verbos, substantivos,


adjetivos, pronomes, assuntos bíblicos, alimentos e bebidas, animais, família, tempo,
estados do Brasil, regiões do mundo, cores, natureza, vestimenta e acessórios,
números (cardinais e ordinais.). No final contém um índice por assunto e alfabético.
(TEMOTEO, 2012, p. 54)

22 Encontramos na página posterior a folha de rosto da obra, a seguinte indicação: “os desejos dos
editores é que este compêndio ajude os deficientes auditivos a aprender a louvar o nosso Gradioso
Criador Jeová por meio da linguagem dos sinais”. Por não haver prefácio e nem introdução formal,
apenas uma mensagem com indicações de passagens da bíblia, não encontramos em nenhuma parte
da obra que esta, seja um manual, livro ou dicionário. De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa, a palavra compêndio significa: é o nome que se dá a uma súmula dos conhecimentos
relativos a uma dada área do saber, em forma de livro. Devido a essa definição, optamos por nomear
a obra em pauta de Livro.
78

Todas as imagens são fotografias reais em preto e branco. Para compreensão


do movimento, utilizam-se setas, como mostra o sinal CONVIDAR no recorte abaixo.

Figura 23 – Sinal de Convidar

Fonte: (Linguagem dos Sinais. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992, p. 34)

A publicação de autoria de Capovilla, Raphaell & Macedo (1998) intitulada


Manual Ilustrado de Sinais e o sistema de comunicação em rede para surdos, foi
idealizada no laboratório de Neuropsicolinguística Cognitiva Experimental (Lance) da
Universidade de São Paulo (USP), para suprir uma lacuna na área de surdez. Seus
organizadores contaram com o apoio de uma equipe de colaboradores principalmente
alunos de mestrado e doutorado do laboratório. (TEMOTEO, 2012, p. 56)

Figura 24 – Capa do Manual Ilustrado de Sinais e Sistema de Comunicação em


Rede para Surdos

Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL e MACEDO, USP. 1998.


79

O manual ilustrado foi organizado em três partes: (1) a primeira, denominada o


lugar dos sistemas de sinais na Educação do surdo; (2) a segunda, trata do sistema
de comunicação em rede para surdos e (3) a terceira, o manual ilustrado de sinais.

Nas considerações iniciais do manual, seus autores esclarecem sobre os


objetivos que os levaram a sua idealização.

Sobre o espírito deste manual: em memória de alguém, a quem ele muito


admirava e que acabara de falecer, Adlai Stevenson escreveu certa vez: “Ela
preferia acender uma vela a amaldiçoar a escuridão. E o seu brilho aquecia
o mundo”. (New York Times, 8 nov., 1962). Ao alcançar este modesto manual,
também nos sentimentos acendendo uma vela pequenina. Nada que se
compare os poderosos holofotes que eu estimado leitor tem guardado no
armário. Fazemos isto como um ato de fé e esperança: de que a luz,
tremeluzente e frágil, desta vela possa ajudar o leitor a encontrar a sua chave
de luz e acioná-la, trazendo, desta forma, maior consciência, comunhão e
liberdade a todos (CAPOVILLA, RAPHAEL e MACEDO, 1998, p. 8).

O manual foi organizado com base na literatura existente em Libras no Brasil e


em Língua de Sinais Americana - ASL nos Estados Unidos da América no século XX.
O objetivo dos autores era elaborar um sistema de comunicação em redes que
codificasse os sinais de Libras para ASL e vice-versa, de modo a permitir a
comunicação entre surdos norte-americanos, canadenses e surdos brasileiros.
(TEMOTEO, 2012, p. 57)

A coletânea dos sinais está organizada contendo 1515 sinais acompanhados


de descrições morfológicas, e arranjados em categorias semântico-gramaticais. A
seleção desse quantitativo de sinais da Língua de Sinais Brasileira (LSB) foi feita com
base na mesma quantidade correspondente na ASL. Para Capovilla, Raphael &
Macedo (1998, p. 12) “a compilação representa a interseção de todos os sinais em
comum encontrados em todos os manuais que a equipe do laboratório da
Universidade de São Paulo (USP) foi capaz de encontrar na bibliografia”.

O manual está organizado nas seguintes categorias gramaticais: pronomes;


pessoas; parentes; profissões; verbos I; verbos II; verbos III; verbos IV; sentimentos;
alfabeto; adjetivos I; adjetivos II; advérbios e conectivos; expressões; cores; numerais;
80

quantidades; datas e tempo; eventos; lugares; transportes; casas e utensílios; objetos


pessoais; vestuário; higiene e saúde; corpo humano; comidas; bebidas; natureza;
laser; religião; animais e obrigações. (TEMOTEO, 2012, p. 58)

De acordo com Temoteo (2012, p. 58) citando Capovilla, Raphael e Macedi


(1998, p. 13) os autores descrevem, “o presente manual contém sinais referentes a
LSB, ou seja, 100 páginas de ilustrações intercaladas com as respectivas 100 páginas
de descrições morfológica dos sinais”.

As ilustrações mostram, por meio de setas e de sequência de estágios, a


disposição espacial e a ordenação temporal dos diversos parâmetros de cada sinal,
como na figura 25.

Figura 25 – Sinal de Vinho

Fonte: (Capovilla, Raphael e Macedo, 1998, p. 256)

As ilustrações foram criadas de forma estilizada num mesmo padrão para que
ficasse mais compreensível a posição e orientação das mãos na demonstração dos
sinais. Da mesma forma, as imagens dos personagens trazem formas simples, opção
feita por seus autores para não haver incompreensão do sinal, devido o seu
detalhamento. O objetivo, segundo Capovilla, Raphael & Macedo (1998, p. 47) “é de
eliminar aspectos irrelevantes no sinal e adentar aspectos mais finos naqueles sinais
em que o movimento é relativamente discreto”.

A partir de 2001, com a publicação do Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico


Ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira, passamos a ter no país, o primeiro
dicionário de Libras de autoria de Fernando Capovilla e Walkíria Raphael. O trabalho,
81

segundo seus autores, “foi fruto de cinco anos de pesquisas intensas no Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo”. (CAPOVILLA & RAPHAEL, 2001, p. 50).

Figura 26 – Capa do Dicionário Enciclopédico Ilustrado trilíngue da Língua de Sinais


Brasileira

Fonte: Capovilla & Raphael, USP. 2001

O dicionário é composto por 4.327 sinais que estão divididos em dois volumes
(volume I de A a L e volume II de M a Z). Contempla três línguas: o português e o
inglês (organizados de forma escrita em ordem alfabética); e a Libras escrita de
maneira visual (SignWritting), por isso é considerado trilíngue.

Para elaboração da obra, os autores contaram com a participação de surdos


colaboradores e de uma equipe de pesquisadores ouvintes. Os surdos pertenciam à
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) e à Cooperativa
Padre Vicente de Paulo Penido Burnier (Copavi). Todos pertenciam a São Paulo, por
isso a maioria dos sinais coletados são variações linguísticas do Estado.

A estrutura do dicionário é composta por três capítulos: introdução, corpo


principal do dicionário; um dicionário inglês-português; índice semântico; conteúdo
semântico; três capítulos sobre tecnologias e surdez e a bibliografia.

Para cada sinal há uma ilustração explicativa, e uma outra explicação


detalhando o sinal em estágios e sua representação escrita em SignWritting. Os
verbetes estão escritos em português e inglês; a classificação gramatical dos verbetes
em português; a definição do significado apresentado pelo sinal e pelos verbetes em
português e em inglês; os exemplos de frases que ilustram o uso linguístico apropriado
82

do sinal; a descrição detalhada e sistemática da forma como o sinal é feito, além da


ilustração do significado do sinal. (TEMOTEO, 2012, p. 62).

Figura 27 – Sinal de Fraco

Fonte: (Capovilla, Raphael, 2001, p. 687)

Em 2008, voltamos ao estilo manual com a publicação Manual de Libras: a


imagem do pensamento, de Catarina Kojima e Sueli Sengala. O formato da publicação
sai em forma de revistas, num total de cinco exemplares. Suas autoras desenvolveram
o material partindo do pressuposto de que, comunicar-se, significa emitir e receber
mensagens por meio de códigos, convencionais ou não.

Figura 28 – Capa do Manual Libras: a imagem do pensamento.

Fonte: Kojima C.K e Segala S.R, Escala. 2008.


83

Esta publicação trata a Libras como língua natural da comunidade surda,


especialmente por possibilitar ao aprendiz acesso aos conceitos e conhecimentos
existentes na sociedade através do ensino da língua. O material traz uma parte
introdutória que abrange os processos linguísticos da Libras com temáticas sobre
parâmetros da língua, legislação, e aspectos específicos da comunidade surda.

Figura 29 – Sinal de Evitar

Fonte: (Kojima C.K e Segala S.R, 2008, p. 68 )

As imagens são todas ilustrações dos sinais, mostrando apenas as partes mais
relevantes dos sinais no personagem, como as mãos, expressões faciais ou o ponto
de articulação onde o sinal é realizado. As setas de cor diferente da imagem fazem a
marcação dos movimentos da língua. Algumas frases também são utilizadas para
contextualizar o sinal.

A 1ª edição do novo Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue de


Língua de Sinais Brasileira, foi lançado em 2009 dando continuidade aos trabalhos
realizados no Lance/USP pela equipe de Capovilla.
84

Figura 30 – Capa do Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue de


Língua de Sinais Brasileira

Fonte: Capovilla, Raphael & Maurício, USP. 2009

Nesta nova edição foi realizada uma pesquisa lexicográfica de sinais de 12


Estados brasileiros, objetivando que a variação linguística e sinais típicos de cada
Estado fossem contemplados. Foram concebidos verbetes que contabilizam 9.828
sinais, organizados em dois volumes: volume I (A a H) e volume II (I a Z).

O novo dicionário desta vez inclui a soletração digital. O número de ilustrações


também foi repensado e, em alguns casos, aparece até cinco ilustrações por verbetes.
A etimologia se subdivide em iconicidade e morfologia. (TEMOTEO, 2012, p. 64).

Figura 31 – Sinal de Água

Fonte: (Capovilla, Raphael & Maurício, 2009, p. 270)


85

Os verbetes, nesta edição, são compostos pela soletração digital; as ilustrações


aparecem de duas maneiras diferentes, enfatizando a forma e o significado do sinal.
Da mesma forma que a edição anterior, a Libras escrita em forma de SignWritting
ainda permanece. Aparecem, ainda, glosas em português/inglês, validação geográfica
dos sinais, classificação gramatical, definição, exemplos de frase que contextualizam
o uso correto do sinal, descrição detalhada da realização do sinal, descrição da
etimologia (morfologia e iconicidade), além de índice semântico, conteúdo semântico
e referências. (TEMOTEO, 2012, p. 66).

Em 2009, temos o lançamento do “Livro Ilustrado de Língua Brasileira de


Sinais: desvendando a comunicação” de Márcia Honora e Mary Frizanco. A obra conta
com três volumes e são denominados pelas autoras como livro.

Figura 32 – Capa dos três volumes do livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais:
desvendando a comunicação.

Fonte: Honora M., Frizanco M. L.E. e Saruta F.B.S., Ciranda Cultural. 2009

Os livros enfocam o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para


pessoas das mais diferentes formações por meio de campos semânticos de forma
visual e elucidativa, tendo como objetivo diminuir a barreira de comunicação entre
ouvintes e surdos. Trazem informações sobre história da educação de surdos,
legislação específica da área e aspectos da gramática da Libras.

As imagens são feitas através de ilustrações em quadros divididos em três


etapas: sinal em libras, ilustração referente ao sinal e descrição em português do sinal.
86

Figura 33 – Sinal de Claro

Fonte:
(Honora
M., Frizanco
M. L.E. e
Saruta
F.B.S.,
2009, p.
107)

O “Dicionário Ilustrado de Libras”, de autoria de Flávia Brandão, foi lançado em


2011 com o objetivo de contribuir para o conhecimento dos significados dos sinais que
compõem a Libras, buscando orientar o leitor com os movimentos que constituem os
sinais da língua.

Figura 34 – Capa do dicionário ilustrado de Libras

Fonte: Brandão F., Global. 2011

O conteúdo do dicionário foi elaborado para promover um aprendizado fácil,


de forma prática e direta. As fotografias são imagens reais de uma pessoa fazendo o
sinal. Além dessa imagem maior, há uma sequência de imagens para compreensão
de como o sinal é feito espacialmente. Como se trata de imagens em preto e branco,
as imagens menores dificultam a visualização do sinal.
87

Figura 35 – Sinal de Começar

Fonte: (Brandão F., 2011, p. 189)

Na obra constam 3.212 sinais, acompanhados do seu significado em português


e da explicação do movimento. A maior parte deles, também, apresenta uma
ilustração que procura demonstrar o significado mais relevante para o verbete
consultado, ao mesmo tempo em que orientam o seu sentido.

A pesquisa que realizamos para escrever esta seção foi de extrema relevância
de modo que nos fez refletir sobre as características que elegemos como necessárias
para a elaboração de nossa proposta de doutoramento, o Dicionário Infantil Bilíngue
Libras/Português. Dentre elas, estão as imagens que, a nosso ver, precisam ser reais,
visto que, a criança surda vivencia, grande parte de sua experiência de mundo através
da visão, e as ilustrações em forma de desenhos não retratam de forma real o que é
perceptível pelos olhos da criança surda. Outro ponto importante é a referência das
imagens com os sinais serem feitas por crianças, devido a identificação da criança
surda com outra criança sinalizando. Como podemos observar, o conteúdo mais difícil
de retratar numa obra em Libras são os movimentos dos sinais, por esse motivo,
presumimos ser pertinente que o dicionário tenha uma versão em formato digital com
a tradução dos sinais executados por crianças e frases que contextualizem as
diversas situações do cotidiano nas quais os sinais sejam utilizados pelos adultos
surdos. Portanto, é a partir deste contexto que justificamos o teor didático pedagógico
de nossa proposta, de modo que seja utilizado como material de apoio no trabalho de
professores em atividades de alfabetização para crianças surdas.
88

Nos itens seguintes, faremos uma reflexão sobre as categorias de dicionários


existem em língua de sinais, seus tipos e objetivos, a quem são destinados e os
desafios para sua elaboração.

1.4.2 Tipos de dicionários em Língua de Sinais: funções e destinatários

Diante das evidências, percebemos que os dicionários de línguas de sinais


foram os primeiros materiais didáticos criados com o objetivo de proporcionar acesso
ao surdo, tanto na comunicação social, quanto ao conhecimento produzido em
diferentes épocas. No início, eram compilações simples de sinais sendo a maioria,
listas de palavras da língua oral com a representação através de desenhos ou
fotografias dos sinais correspondentes.

A maioria dessas obras foram produzidas por pessoas que se interessavam


pela educação dos surdos. A função desses dicionários era oferecer aos professores,
pais, ouvintes e demais interessados, sinais para palavras específicas, de modo que
eles pudessem se comunicar com os surdos através de conceitos do cotidiano.
Geralmente, esse procedimento sugere ao leitor que existe um sinal que corresponde
a uma palavra.

À medida que as línguas de sinais se tornaram mais visíveis na sociedade, o


número de pessoas interessadas no aprendizado vem aumentando. A partir disso,
foram aparecendo vários dicionários criados por especialistas com informações mais
detalhadas, incluindo entradas lexicais.

Na elaboração de um dicionário, é importante se levar em consideração o


público alvo a que se destina e as suas necessidades de consulta lexicográfica. Um
dicionário de língua de sinais pode destinar-se tanto a estudantes da língua de sinais
como L1, L2 ou mesmo como língua estrangeira (LE), como a qualquer pessoa que
almeja aprofundar seu conhecimento ou simplesmente a título de curiosidade sobre o
significado de uma palavra escrita para o sinal.
89

Os estudos de Nascimento (2009) enfatizam a importância de se levar em


consideração a faixa etária dos destinatários. Sobre isso, a autora propõe a seguinte
organização de acordo com o público alvo:

Dicionários Infantis – são representações dos sinais e dos conceitos


correspondentes por meio de ilustrações ou avatares, ordenados por temas e pela
relação semântica e morfológica que estabelecem entre si. O fator educativo fica mais
evidenciado quando se acrescentam atividades lúdicas relacionadas com o sinal, com
o conceito ou com a palavra escrita. Estes dicionários têm-se revelado úteis para pais
e professores que poderão explorar a sua utilização em atividades didáticas com as
crianças. (MARTINS et al., 2012, p. 49).

Figura 36 – Capa do Dicionário e exemplo de verbetes do The Gallaudet Children´s


Dictionary

Fonte: The Gallaudet Children´s Dictionary, 2014

O dicionário “The Gallaudet Children’s Dictionary” é uma obra destinada ao


aprendizado da língua de sinais americana para crianças surdas ou ouvintes. Contém
mil verbetes com sinais específicos do universo infantil e acompanha um DVD com a
tradução dos verbetes e frases do inglês para ASL.
90

Acadêmicos – representação de sinais por desenhos ou fotografias (ou


vídeos), com informações gramaticais em ambas as línguas. Se for dirigido a pessoas
ouvintes, a ordenação normalmente é por ordem alfabética. Se for dirigido a pessoas
surdas, a ordem preferencialmente se assenta nos parâmetros e a informação será
baseada na sua explicação, abrangência lexical e semântica em língua de sinais. Se
destinados a profissionais, surdos ou ouvintes, recomenda-se a organização por
temas e a ordenação alfabética das palavras. (MARTINS et al., 2012 p. 50)

Figura 37 - Capa do Dicionário e exemplos de verbetes do The Gallaudet Dictionary


of American Sign Language

Fonte: The Gallaudet Dictionary of American Sign Language

Estes dicionários, em sua maioria, tendem a ser bilíngues, a exemplo do “The


Gallaudet Dictionary of American Sign Language”, mantendo o formato unilateral,
fazendo corresponder de uma palavra a um sinal e dirigindo-se ainda a pessoas com
pouco ou nenhum conhecimento da língua de sinais.
91

1.4.3 Formas de representação: dicionários impressos e digitais

As línguas orais são basicamente unidimensionais por natureza: os sons da


fala são pronunciados sequencialmente, refletindo-se na ordem linear das letras, ou
sílabas, na escrita. Os dicionários de línguas orais podem conter informações diversas
relativas a cada uma das entradas: categoria gramatical; transcrição fonética;
etimologia; sinônimos; antônimos; relações fonéticas; estrutura lexical (classe
conceptual); área lexical (científica ou outra); registro da língua; frequência de uso;
variação regional; definições; explicações e frases em contexto.

No Brasil, os dicionários impressos de Libras costumam representar os sinais


por diversos meios, como a combinação de desenho e descrição; a utilização da
ordem alfabética da tradução dos sinais para o português; a organização temática de
sinais, ou seja, agrupando grupos de sinais por ideias afins; o uso de fotografia, além
da utilização de exemplos de frases em Libras.

Nas línguas de sinais a representação é bastante difícil porque os sinais são


produzidos num espaço tridimensional, com parâmetros da língua em simultâneo e
sequencialmente no tempo. Desse modo, a sua reprodução estática muitas vezes não
é fiel à realidade. As imagens e fotos são os recursos mais comumente utilizados.
Alguns dicionários utilizam também os sistemas de transcrição, complementando a
imagem do sinal.

Um dos recursos mais modernos que se utiliza para representar os sinais é o


vídeo, pois permite maior exatidão e facilidade a compreensão dos sinais. Estas
formas de representação dos sinais irão necessariamente influenciar a organização
do dicionário.

Os dicionários impressos apoiam-se em desenhos ou fotografias dos sinais.


Embora estas imagens sejam regra geral, de leitura acessível, até para o
desconhecedor da língua, a ação que é realizada no sinal precisa ser deduzida, pois
não é visível na imagem estática.
92

O movimento é normalmente representado por setas adicionais à imagem ou


por uma sequência de imagens. Porém, quando o sinal é mais complexo ou envolve
expressões faciais, dificilmente a simbologia retratará fielmente o sinal.

Quando o dicionário utilizar fotografias, o sinalizante deve usar peças de


vestuários simples, cabelos presos e evitar acessórios visualmente distrativos, tais
como bijuterias, óculos entre outros.

A área da página pode ser reduzida se o dicionário for apenas unidirecional


(palavra-sinal), se o espaço disponível for usado de forma mais eficiente: reduzindo o
tamanho da imagem, mas não muito para não haver falta de percepção do sinal;
eliminando partes em branco; excluindo informações complementares sobre os sinais;
evitando, por exemplo, repetir sinônimos desnecessários.

Quando ocorre a não clareza do sinal, faz-se necessária a inclusão da imagem


das configurações utilizadas. O parâmetro que é mais prejudicado é o da expressão
facial. Se o ilustrador conhece bem a língua de sinais, os desenhos tornam-se
certamente mais fidedignos.

A representação figurativa dos sinais requer bastante espaço no papel. Isso faz
com que a maioria dos dicionários seja monolíngue, pois é muito difícil adicionar, em
termos de extensão, todas as informações dos sinais. Mesmo em dicionários, sempre
há certa limitação na quantidade de sinais que compõem o dicionário.

Como resultado, os dicionários em línguas de sinais contêm menos entradas


do que os de línguas orais. Também por esse motivo, as informações adicionais sobre
os sinais são fornecidas na língua escrita.

Já os dicionários digitais de Libras optam por outra classificação, mais


relacionada com a língua de sinais que se utilizam bastante da Língua Portuguesa
escrita como um recurso para representar os sinais e/ou para defini-los (PIZZIO,
REZENDE e QUADROS, 2009).

Nos dicionários digitais, a representação dos sinais é feita através de vídeo ou


mesmo, em avatar. Com esses recursos, a precisão é bem mais superior do que a
imagem estática.
93

A pesquisa para os sinais é muito maior, podendo ser feita a partir de


determinados parâmetros, sejam eles isolados ou combinados entre si, como:
Configuração manual – a pesquisa pode ser mais ou menos detalhada, já que no
geral, para cada configuração é possível encontrar mais do que uma variante
relacionada, por exemplo, com a posição dos dedos; a localização – pode ser
estendida a zonas específicas do corpo e do espaço; e, eventualmente, o movimento.

Além desses aspectos, podemos também acrescentar informações relativas


aos sinais: sinônimos em língua de sinais; frases com exemplos em língua de sinais
e as respectivas traduções; traduções possíveis na língua escrita; origem; sinais
polissémicos; variações dialéticas e, vocabulários específicos de diferentes áreas.

A tradução do sinal, em certo ponto, pode ser realizada por meio de glosa.
Porém o significado das frases fica mais claro a partir de frases em contexto que
também indicam as restrições de uso. A definição propriamente dita ou a informação
complementar ao sentido do sinal podem, por vezes, ser dispensáveis. As frases em
línguas de sinais, preferencialmente, são utilizadas de fontes naturais, de modo a
garantir sua confiabilidade.

A informação gramatical pode ser bastante detalhada, podendo ser descrita


com minúcia, como: os componentes não-manuais; as localizações possíveis num
mesmo gesto; a extensão da flexão morfológica e as variações das configurações
dependendo da forma do objeto referido.

Os dicionários on-line têm ainda uma possibilidade de armazenamento dos


vídeos quase ilimitada e podem está em constante atualização: na substituição de
sinais em desuso; na introdução de novos sinais e na acessibilidade onde quer que
exista conexão com a internet.
94

Figura 38 – Dicionário da Língua Brasileira de Sinais online

Fonte: Disponível em: <http://www.acessobrasil.org.br/>. Acessado em: 22/07/2016

No meio digital, encontramos um número variado de dicionários que auxiliam


na compreensão dos sinais da Libras. Em 2005, a linguista Tanya Amara Felipe de
Souza e Guilherme de Azambuja Lira lançaram o Dicionário virtual de Língua
Brasileira de Sinais, disponível até o momento no site
http://www.acessobrasil.com.br/. O material contém imagens e vídeos dos verbetes,
numa pequena quantidade de sinais específicos organizado pelas categorias: frutas,
religião, países entre outros. O sistema de busca é feito pela ordem alfabética da
língua portuguesa, por assunto ou configuração de mão da Libras. As palavras são
apresentadas juntamente com o seu significado em português e no formato de vídeo
(sinal – significado) em Libras. Além disso, também se encontra na organização do
dicionário, a classe gramatical, exemplos em língua de sinais e em Língua
Portuguesa, configuração de mão e origem do verbete da Libras.

Os dicionários digitais, pela sua versatilidade, poderiam, idealmente, permitir


ainda o descarregamento de imagens paradas dos vídeos ou de desenhos dos sinais.
Isso seria especialmente útil para quem trabalha com crianças e para quem ensina ou
está a aprender a língua de sinais como língua materna ou mesmo segunda língua.
Neste formato, a representação dos sinais é muito mais clara e bidirecional do que em
qualquer dicionário impresso.
95

1.4.4 Formas de compilação lexicográfica: principais desafios para ordenação


dos sinais

Os lexicógrafos deparam-se com vários desafios quando trabalham com


línguas de sinais, dente elas: (a) as fontes de busca dos sinais são geralmente
escassas, muitas delas não se sabe a origem, o que dificulta o reconhecimento das
características gramaticais e de frequência de utilização dos sinais; (b) não existe uma
ortografia de leitura simples, apesar de ser possível o recurso a alguns sistemas de
transcrição das línguas de sinais como o signwriting, nenhum deles parece
representar os sinais de forma imediata; (c) os sinais têm uma estrutura mais
complexa do que as palavras orais/escritas o que torna difícil se estabelecer a
correspondência entre o sinal e a palavra oral ou escrita e vice-versa.

A natureza holística dos sinais não permite uma ordenação e uma pesquisa tão
lineares quanto o alfabeto das línguas orais. No entanto é possível ordenar os sinais
de acordo com os valores dos parâmetros mínimos: configurações das mãos;
movimentos das mãos (em si próprias ou no espaço); orientação das mãos;
localização (no corpo e no espaço) e componentes não-manuais (expressões faciais,
padrão de boca e movimentos corporais).

Todos esses parâmetros são produzidos em simultâneo, ainda que essa


simultaneidade se estenda sequencialmente no tempo, podendo inclusive ocorrer
alterações dos parâmetros dentro de um mesmo sinal, por exemplo, na localização,
na configuração ou na orientação das mãos.

Por esse motivo, a ordenação dos parâmetros pode assentar-se na sua


relevância semântica (localização, configuração, movimento). Além disso, cada
parâmetro pode ser disposto de diferentes formas, no que diz respeito à sua
percepção visual (Nascimento, 2009), ou seja, configuração (combinada com a
orientação) – da mais simples à mais complexa, da maior à menor, da mais comum à
menos comum, da mais aberta à mais fechada (conforme ordem na aquisição da
língua de sinais) ou da mais fechada à mais aberta; localização – da mais alta à mais
baixa, da mais próxima à mais distante, da mais neutra à mais elaborada Stokoe,
96

(1960), da mais central à mais periférica; movimento – do menor ao maior, do mais


simples ao mais complexo; expressão facial – da mais básica a mais abstrata, da mais
neutra à mais elaborada.

Nas classes gramaticais, poderá debater-se a ordem de entrada entre o nome


(movimento repetido e curto) e o verbo (movimento longo e único), porém Nascimento
(2009), entende o verbo como a forma mais básica.

No aspecto morfossintático, acrescentamos o fato de nem sempre existir a


correspondência entre sinal e a palavra escrita. É também comum não se verificar a
equivalência entre a classe gramatical de ambos. Por fim, nem sempre é possível
reconhecer a classe morfológica de um sinal ou mesmo a sua complexidade interna.

Nas línguas de sinais, os valores dos parâmetros coincidem com morfemas.


Torna-se, assim, um trabalho mais exaustivo distinguir, na formação de sinais, as
combinações produtivas de morfemas e até de sinais compostos que por vezes se
assemelham a sequências de frases. A multiplicação de sinais derivados e compostos
que advêm destas regras deveria ser introduzida na sua totalidade no conjunto lexical
de um dicionário.

Outra hipótese de organização de sinais em dicionários é a proposta por


Nascimento (2009), que reside no agrupamento semântico, com base morfológica
semelhante, ou seja, sinais de mesma família, relacionados por derivação ou
composição.

Na próxima etapa de nosso trabalho, tecemos considerações sobre os


aspectos do léxico da Libras e a ampliação do léxico nos processos formação dos
sinais, seja por meio da modificação da raiz ou por empréstimo linguístico.
97

1.5 ASPECTOS LEXICAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS)

As línguas naturais se decompõem em unidades menores conforme a estrutura


que a constitui. O mesmo ocorre com as línguas de sinais pois, possuem as mesmas
peculiaridades que as demais. A Libras, também se decompõem em unidades
menores, fato que nos possibilita uma análise mais detalhada.

Quadros & Karnopp (2004), conceituam língua natural como

(....) uma realização específica da faculdade de linguagem que se dicotomiza


num sistema abstrato de regras finitas, as quais permitem a produção de um
número ilimitado de frase. Além disso, a utilização efetiva desse sistema, com
fim social, permite a comunicação entre os usuários (KARNOPP &
QUADROS, 2004, p.30).

Nos estudos de Brito (1998) a autora considera as línguas de sinais como


naturais porque:

(...)como as línguas orais sugiram espontaneamente da interação entre


pessoas e porque devido à sua estrutura permitem a expressão de
qualquer conceito - descritivo, emotivo, racional, literal, metafórico, concreto,
abstrato - enfim, permitem a expressão de qualquer significado decorrente da
necessidade comunicativa e expressiva do ser humano (BRITO, 1998, p. 19).

A estrutura da Libras se decompõe tanto em nível textual/frasal como nos


aspectos lexicais, morfológicos, fonológicos, semântico, sintático e pragmático.

Ao citar os trabalhos de Klima e Bellugi (1979), Ferreira-Brito (2010) enfatiza


que “do mesmo modo que as línguas orais, as línguas de sinais exibem a dupla
articulação, isto é, as unidades significativas ou morfemas, constituídas a partir de
unidades arbitrárias e sem significados ou fonemas”. Segundo a autora, a estrutura
fonológica das línguas de sinais se organiza a partir de parâmetros visuais. Para Klima
e Bellugi (1989 apud Ferreira-Brito, 2010, p. 35-36) citado por Santos e Costa (2012,
p. 1899) as principais diferenças entre as línguas de sinais e as línguas orais estão
“em certas características da organização fonológica das duas modalidades: a
98

linearidade, mais explorada nas línguas orais, e a simultaneidade, que é característica


básica das línguas de sinais”.

A estrutura fonológica da Libras constitui-se a partir de parâmetros que se


combinam com base na simultaneidade de acordo com Ferreira-Brito (2010) quando
se refere aos estudos de Klima e Bellugi (1979).

A configuração da(s) mão(s) (CM), o ponto de articulação (PA) e o movimento


(M) são parâmetros primários, e a região de contato, a orientação da(s) mão(s) e a
disposição da(s) mão(s) são parâmetros secundários. No entanto, em seus trabalhos,
Ferreira-Brito (2010) considera o parâmetro orientação das mãos, como primário na
Libras, salientando também a importância da expressão facial e o movimento do
corpo, que são componentes não manuais. (SANTOS & COSTA, 2012, p. 1899)

Para este trabalho, trazemos as investigações clássicas dos estudos


linguísticos da Libras através das pesquisas realizados por Ferreira-Brito (2010),
Felipe (1989) e Quadros e Karnopp (2004) os quais se basearam em estudos de
outras línguas de sinais, para as questões relativas a lexicologia da Libras que
apresentaremos nas seções seguintes.

1.5.1 O léxico da Libras

De forma geral, o léxico pode ser “considerado” como um conjunto de palavras


de uma língua e constitui o universo conceptual dessa língua (Dubois et al., 2006, p.
364). No caso da Libras, as palavras ou item léxicas são os sinais.

De acordo com Biderman (1998, p. 179), qualquer sistema lexical vem da


experiência acumulada de uma determinada sociedade e de seu acervo cultural. Os
membros dessa sociedade são agentes ativos no processo de perpetuação e
reelaboração contínua do léxico de sua língua. Dessa forma, o léxico se expande se
modifica e, às vezes, se contrai. São usuários – os falantes – são aqueles que criam
e escrevem o vocabulário dessa língua.
99

Para Vilarinho (2013, p. 23 e 24), o léxico está submetido às regras da


gramática de uma língua. No entanto, o léxico pode ser considerado autônomo,
porque contém os significados, e, sem o léxico a gramática não teria unidades para
normatizar. O léxico é uma abstração que contém as estruturas que formam as
palavras, porque é o elemento provedor de conceitos e de significados da língua, de
modo que a provisão pode se dar em estruturas regulares ou irregulares. (CASTRO
JÚNIOR, 2014, p. 50).

Basílio (2009, p. 9), citado por Castro Júnior (2014, p. 50) destaca como uma
importante função do léxico ser uma espécie de “banco de dados previamente
classificados, um depósito de elementos de designação, que fornece unidades
básicas para a construção dos enunciados”. O léxico categoriza as coisas sobre as
quais queremos comunicar, fornecendo unidades de designação, as palavras, que
utilizamos na construção de enunciados.

Através de estudos sobre a Língua de Sinais Americana (ASL), Quadros e


Karnopp (2004) percebemos que a estrutura da língua brasileira de sinais é complexa,
pois apresenta algumas propriedades23 que não são encontradas nas línguas orais.

23 Sobre as propriedades das línguas de sinais, temos: (a) Flexibilidade e versatilidade – Toda língua
apresenta várias possibilidades de uso em diversos contextos e com diferentes funções; o mesmo
acontece com a língua de Sinais. Podemos utilizá-la para pensar, declamar poesias, fazer perguntas,
informar, persuadir, dar ordens etc.; (b) Arbitrariedade - A palavra (signo linguístico) é arbitrária por ser
uma convenção reconhecida pelos falantes de uma língua. As línguas de sinais apresentam palavras
em que não há relação direta entre a forma e o significado, como nos exemplos: CONHECER; AMIGO;
TRABALHO.; (c) Descontinuidade - Diferenças mínimas entre as palavras e os seus significados são
descontinuados por meio da distribuição que apresentam nos diferentes níveis linguísticos. Na língua
de sinais verificamos o caráter descontínuo da diferença formal entre a forma e o significado. Há vários
exemplos que ilustram isso, por exemplo, o sinal de MORENO e de SURDO são realizados na mesma
locação, com a mesma configuração de mão, mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo
assim nunca são confundidos ao serem produzidos em um enunciado. Tais sinais apresentam uma
distribuição semântica que não permite a confusão entre os significados apresentados dentro de um
determinado contexto. Como exemplo temos: TRABALHO; VIDEO-CASSETE; TV; MORENO-SURDO.;
(d) Criatividade/produtividade – Pode-se dizer o que quiser e de muitas formas uma determinada
informação seguindo um conjunto finito de regras. A partir desse conjunto, se pode produzir uma
sentença infinita nas línguas humanas. As línguas de sinais são produtivas assim como quaisquer
outras línguas. Como exemplo: EU GOSTAR MAMAE PORQUE ELA BOA, CARINHOSA.; (e) Dupla
100

Para as autoras, esses estudos podem ser aplicados, também na Libras e, afirmam
que o léxico das línguas sinalizadas, de acordo com os estudos de Brentari e Padden
(2001), pode ser composto por: léxico nativo e léxico não-nativo. Uma maneira visual
de compreender esse processo, de acordo com os autores aqui citados, pode ser
percebida no gráfico abaixo.

GRAFICO 01 – Esquema do Léxico

Soletração
Manual Núcleo Léxico nativo
(alfabeto) (classificadores)

Léxico não-nativo

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 88)

O léxico nativo são os sinais criados e já internalizados pelos falantes, ou


sinalizantes, da Libras. Como exemplos de unidades lexicais nativas, temos os
seguintes sinais: ESQUECER; BRINCAR; AJUDAR (sentido de apoiar uma pessoa)

articulação - As línguas humanas apresentam duas articulações: a primeira é das unidades menores
sem significado e a segunda, das unidades que combinadas formam unidades com significado.; (f)
Padrão - As línguas têm um conjunto de regras compartilhadas por um grupo de pessoas. As línguas
de sinais são altamente restringidas por regras. (g) Dependência estrutural - Há uma relação estrutural
entre os elementos da língua, ou seja, eles não podem ser combinados de forma aleatória. Também é
observada uma dependência estrutural entre os termos produzidos nas línguas de sinais. ANA
RABALHAR+asp; *TRABALHAR+asp ANA; SINAL BRASIL; *BRASIL SINAL. Fonte: Texto extraído na
integra do texto-base da disciplina de Libras II do curso de Letras/Libras da UFSC, de autoria de
(QUADROS, R. PIZZIO, A. REZENDE, P. Língua Brasileira de Sinais II. Florianópolis, UFSC. 2009)
101

Figura 39 – Sinais: Esquecer, Brincar e Ajudar

BRINCAR AJUDAR

As autoras enfatizam que o léxico não-nativo contém palavras em português


que podem ser soletradas manualmente e são consideradas empréstimos, sendo
utilizadas com menor frequência no léxico da Libras. Estas formas podem ser
consideradas na periferia do léxico da língua de sinais brasileira.

Seguindo a proposta de Battison (1978), algumas palavras do português podem


ser emprestadas a língua de sinais brasileira via soletração manual como exemplo:
SOL = SL ou MAIO = M-A-I-O OU M-Y-O; e, também nomes próprios (P-A-U-L-A; G-
U-I-A-N-A F-R-A-N-C-E-S-A).

É frequente se pensar que os sinais de uma língua de sinais são constituídos a


partir do alfabeto manual, porém não é o caso, pois a soletração manual das palavras
em português é a mera transposição para o espaço através das mãos dos grafemas
das palavras da língua oral. O alfabeto que é soletrado manualmente é, de acordo
com a proposta de Padden (1998), para a Língua de sinais americana (ASL), um
conjunto de configurações de mãos que representam apenas o alfabeto da língua
102

portuguesa. Para Quadros e Karnopp (2004, p. 88), a soletração manual não é uma
representação direta do português, é uma representação manual da ortografia do
português envolvendo uma sequência de configuração de mão que tem
correspondência com a sequência de letras escritas do português.

Todas as línguas sejam orais ou de sinais incorporam em seu vocabulário


palavras estrangeiras que são consideradas como os empréstimos linguísticos. No
português, várias palavras vêm de outras línguas: shampoo, birô, mouse etc. Pizzio
(2011), em sua pesquisa de doutorado, argumenta que o mesmo acontece nas línguas
de sinais, embora esta sofra um processo de lexicalização moldando-se às regras da
língua de sinais brasileira. Por exemplo, o sinal SOL tem duas configurações de mão;
a inicial é a configuração de mãos que representa também a letra S no alfabeto manual
e a segunda é a configuração que representa a letra L no alfabeto manual da língua
de sinais brasileira. Ao invés da soletração S-O-L, a produção do sinal ocorre em uma
locação diferenciada da produção da soletração e omite a vogal O, passando a ser
produzida as letras S-L. Esse processo fonológico observa a restrição de que um sinal
deve ter no máximo duas configurações de mãos ao ser produzido com uma mão.
PIZZIO (2011, p. 77)

O léxico da Libras, assim como os de qualquer língua oral ou de sinal, é infinito


no sentido de que sempre comporta a geração de novas palavras. No passado, havia
uma ideia de que a Libras era uma língua inferior, desprovida de riqueza gramatical,
pois apresentava um número reduzido de sinais. No entanto, este fato pode acontecer
com qualquer língua que não é usada em todos os setores da sociedade ou que é
usada numa cultura distinta da que conhecemos, podendo não apresentar
vocabulários para determinado campo semântico.

Entretanto, isso não significa que esta língua seja despretensiosa. Além do que,
potencialmente, ela tem todos os mecanismos para criar ou gerar sinais para qualquer
conceito que vier a ser utilizado pela comunidade.

No próximo item, trataremos do processo de formação lexical da Libras a partir


do sinal.
103

1.5.2 O sinal como aspecto lexical

Nas línguas de sinais, o termo “sinal” é utilizado para designar o mesmo que
palavra (estrutura mínima de significação) ou item lexical, como é nomeado nas
línguas oral-auditivas. A diferença está na sua modalidade de articulação, que é
visual-espacial. Portanto, o sinal é um signo linguístico, composto por duas grandezas:
o significante e o significado, aos moldes da concepção linguística de Suassure (1995)
ou por expressão e conteúdo, se adotarmos a terminologia de Hjelmslev (2006). De
qualquer maneira, entendemos essas duas grandezas como termos indissociáveis de
uma mesma função, denominada semiótica (HJELMSLEV, 2006, p. 53)

Como unidade lexical, o sinal faz parte do léxico da Libras e é composto a partir
de parâmetros que juntos formam as unidades básicas da língua. São formados pela
combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um
determinado lugar, que pode ser uma parte do corpo (testa, tórax, rosto etc.) ou um
espaço em frente ao corpo (espaço neutro).

São cinco os parâmetros da Libras: (1) Configuração de Mãos (CM), (2) Ponto
de Articulação (PA) ou Locação (L), (3) Movimento (M), (4) Orientação da Mão (OM)
e (5) Expressões não-manuais (ENM).

(1) Configuração das Mãos (CM) - São diferentes formas que as mãos assumem na
produção dos sinais, podendo ser a datilologia (alfabeto manual/digital). Estas formas
podem ser feitas pela mão direita para os destros, esquerda para os canhotos ou por
ambas. Os sinais para FALAR, PRETO e TELEFONE possuem configurações de
mãos diferentes.
104

Figura 40 – Sinais: Falar, Preto e Telefone

FALAR PRETO TELEFONE

Diversos pesquisadores, como Ferreira-Brito (1995), Felipe (2001), Quadros e


Karnopp (2006) estudaram as configurações de mãos em diferentes línguas de sinais,
tomando-as como base para os estudos com a Libras, porém a mais importante
referência que temos é a de Ferreira-Brito (1995). Para a autora, as CMs da Libras
foram descritas a partir de dados coletados nas principais capitais brasileiras. Foram
agrupadas verticalmente segundo a semelhança entre elas, mas ainda sem uma
identificação enquanto CMs básicas ou CMs variantes (QUADROS e KARNOPP,
2004, p. 53).

Ferreira-Brito (1995) apresenta um quadro de 46 CMs, referentes no nível


fonético, já Pimenta e Quadros (2006) sistematizaram em seus estudos um total de
61 CMs. A partir de cada configuração de mãos, inúmeros sinais são formados.
105

Figura 41 – Quadro de configurações das mãos

Fonte: Pimenta e Quadros (2006)

Fonte: Ferreira-Brito (1995)

(2) Ponto de Articulação (PA) ou Locação (L): É o local onde incide a mão, seja
direita ou esquerda configurada. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 57), o PA ou
espaço de enunciação é uma área que contém todos os pontos dentro do raio de
alcance das mãos em que os sinais são articulados. A mão pode ou não tocar alguma
parte do corpo ou estar em um espaço que vai do meio do corpo até à cabeça (espaço
neutro) e horizontal (à frente do emissor).

Figura 42 – Espaço de sinalização

cabeça

tronco

mão
braço

espaço

Fonte: QUADROS e KARNOPP (2004, p.57. Baseado nos estudos de Battison, 1978, p. 49)
106

Os sinais AJUDAR e BRINCAR são exemplos de sinais que são feitos no


espaço neutro; enquanto ESQUECER e ALEMANHA são realizados na testa do
sinalizante.

Figura 43 – Sinais: Ajudar e Brincar

AJUDAR BRINCAR

Figura 44 - Sinais: Esquecer e Alemanha

ESQUECER ALEMANHA

(3) Movimento (M) - Alguns sinais podem ter ou não movimento. Mas para que haja
movimento é necessário se ter objeto e espaço. Nas línguas de sinais, o objeto é
representado pelas mãos do enunciador, e o espaço é a área em torno do corpo do
enunciador (FERREIRA-BRITO e LANGEVIN, 1995).

Segundo Klima e Bellugi, (1979), o movimento é um parâmetro complexo com


referência ao tipo de realização (se, por exemplo é retilíneo, alternado, cruzado,
circular com abertura ou fechamento de mão); direcionalidade (para cima e para baixo,
para a lateral e para o centro, etc.); à maneira (diz respeito à de formas e direções que
vão desde o movimento interno da mão, do pulso e os direcionais no espaço.
107

Os exemplos abaixo mostram os sinais de TRABALHAR e MAÇÃ que possuem


movimento e AJOELHAR e EM PÉ que são produzidos sem movimento.

Figura 45 - Sinais: Trabalhar e Maçã

TRABALHAR MAÇÃ
Figura 46 - Sinais: Ajoelhar e De pé

AJOELHAR DE PÉ

Os movimentos estudados por Ferreira-Brito (1990), para a Língua Brasileira


de Sinais são semelhantes aos propostos por Friedman (1977), Supalla e Newport
(1978) e Klima e Bellugi (1979). A autora propõe que o movimento pode estar nas
mãos, pulso e antebraço. (QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 55).

(4) Orientação da mão (OM) - É a direção que a palma da mão aponta para a
produção do sinal (Quadros e Karnopp, 2004). Podem ser para cima, para baixo, para
o corpo, para frente, para a direita ou para a esquerda. Alguns sinais podem ter uma
direção e a inversão desta pode significar ideia de oposição, contrário ou concordância
número-pessoal. Os sinais QUERER, QUERER-NÃO e AVISAR mostram a ideia de
oposição.
108

Figura 47 - Sinais: Querer e Querer-não

QUERER QUERER-NÃO

Figura 48 - Sinal: Avisar

AVISAR

(5) Expressão não manuais (ENM) - As ENM como movimento da face, dos olhos,
da cabeça ou do tronco exercem os papéis de marcações de construções sintáticas e
diferenciação de itens lexicais. Quando as expressões não-manuais têm função
sintática marcam sentenças interrogativas (sim/Não), interrogativas QU-, orações
relativas, topicalizações, concordância e foco. Duas expressões não-manuais podem
ocorrer ao mesmo tempo, como é o caso de marcações de interrogação e negação
(QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 60).
109

Figura 49 - Sinais: Feio e Triste

FEIO TRISTE

Percebemos, no item anterior, que os sinais da Libras se estruturam por meio


de suas unidades mínimas distintivas, ou seja, os fonemas. Partiremos agora para
compreender como se formam os sinais a partir de seus morfemas ou unidade
mínimas de significação em seu processo de ampliação lexical.

1.5.3 A ampliação lexical nos processos de formação de sinais da Libras

Segundo Alves (1990), citado por XATARA et al (2011) a necessidade humana


de comunicação impulsiona fortemente o processo de ampliação lexical, que é
constante em qualquer língua. A esse processo chamamos neologia. Essa
necessidade surge, em grande parte, pelo contato entre povos de diferentes culturas,
o que traz resultados linguísticos diferentes. Para cada informação nova, torna-se
imperativo no grupo que recebe a escolha de um nome que dê prosseguimento ao
fluxo comunicativo. Pode se buscar um equivalente na própria língua, criando um item
lexical novo ou entendendo o significado de algum já existente. A adoção de um
vocábulo de outra língua à sua, fazendo as acomodações necessárias ou se
apropriando integralmente; é o fenômeno do empréstimo linguístico, sobre o qual
trataremos mais adiante.

Na elaboração de um produto linguístico, é importante que se leve em


consideração o conjunto de informações, de morfemas, de padrões e regras, já
110

disponíveis no léxico, ou seja, quando os sujeitos não utilizam esse material da língua,
a comunicação entre eles seria intricada pela limitada capacidade de armazenar na
memória um número sempre crescente de palavras (ou sinais) e pela necessidade de
explicar o significado dos novos itens cada vez que os empregassem (BASÍLIO, 2004).

O material utilizado na produção e expansão do léxico não é algo externo ou


que está na natureza, independente do humano. Ao contrário, sua existência é
intrínseca aos usuários da língua. Segundo Basílio (2004), esses materiais (apenas
os já estruturados), estão arquivados em nossa mente e são acionados quando
necessitamos produzir algo novo ou compreender alguma novidade em termos
linguísticos (como ouvir uma palavra pela primeira vez ou ver um sinal desconhecido).
Até os falantes de uma mesma língua com culturas distintas lançam mão de estruturas
lexicais e gramaticais para a produção de palavras, provocando a formação de um
repertório de uso exclusivo de uma região.

A natureza dos processos neológicos varia muito. Alguns se baseiam em


recursos fonológicos, como no caso das onomatopeias, outros, em morfossintáticos.
Este último apoia-se essencialmente na derivação e composição, de interesse da
morfologia. Os morfemas são elementos com significados que constituem as palavras.
As possibilidades de combinação entre eles propiciam a formação de palavras e
promovem a estreita ligação com a sintaxe. (BASÍLIO, 2004)

Como qualquer língua oral, na Libras, também existem regras quanto à


formação de sinais. Quadros e Karnopp (2004) afirmam que pouco se tem estudando
sobre essa temática, porém ressaltam a importância do trabalho de Ferreira-Brito
(1990), que identificou na língua morfemas com funções lexicais e gramaticais.

Como exemplo, a autora mostra que no português as palavras casa, construção


e impossível são constituídas pelos seguintes morfemas:
111

Quadro 01 – Exemplo de morfemas do português

casa - s (plural)
constru- ção (nome)
possível- im (negação)
morfema lexical morfema gramatical

Fonte: (Ferreira-Brito, 2010)

Em Libras, nem sempre os morfemas que formam as palavras são equivalentes


aos do português.

Quadro 02 – Exemplo de morfemas da Libras

SENTAR - movimento repetido (marca de nome)


BONITO - expressão facial ~~ (marca de grau aumentativo)
BONITO - expressão facial Ô (marca de grau diminutivo)
FALAR - 2 mãos e movimentos longos (aspecto continuativo)
PEGAR - Cl:5 Classificador para objetos redondos grandes
PEGAR - Cl:F Classificador para objetos pequenos e pequenos
PODER - movimentos da cabeça (negação): NÃO-PODER
POSSÍVEL - movimento inverso das mãos (negação): IMPOSSÍVEL
SABER - movimento da mão para fora (negação): NÃO-SABER
Morfema lexical Morfema gramatical

Fonte: (Ferreira-Brito, 2010)


112

Quadro 03 – Exemplo de os morfemas Querer e Querer-Não

Fonte:

QUERER (Morfema lexical)

NÃO-QUERER (Morfema
gramatical; negação incorporada
da negativa por afastamento da
mão)

(Ferreira-Brito, 2010)

Portanto, igualmente às línguas orais, o processo de formação do sinal ocorre,


através de (1) modificação por adição à raiz, (2) modificação interna da raiz, (3)
processos miméticos ou icônicos, (4) composição e (5) derivação.

A modificação por adição à raiz (1) acontece pela adição de afixos, como a
incorporação da negação que é um processo de modificação por adição à raiz porque,
como sufixo, incorpora em alguns verbos: a raiz, que possui um determinado
movimento em um primeiro momento, finaliza-se com um movimento contrário, que
caracteriza a negação incorporada; como nos verbos: SABER / SABER-NÃO;
ACEITAR / ACEITAR-NÃO; como infixo, incorpora simultaneamente à raiz através do
movimento ou expressão corporal: TER / TER-NÃO; PODER / PODER-NÃO.
(FELIPE, 2006, p. 202-203)

A negação pode ocorrer por meio destes processos morfológicos, e


sintaticamente porque, através dos advérbios ‘NÃO’ E ‘NADA’, pode-se construir uma
113

frase negativa. Como exemplos temos: EU LIBRAS SABER-NÃO, ENTENDER NADA.


(eu não sei Libras, não entendo nada).

Existe, também, a incorporação do intensificador: “muito” ou advérbios de


modo, que alteram, o movimento da raiz.

No processo de modificação interna da raiz (2), uma raiz pode ser modificada
por três tipos de acréscimo: a) o da flexão para pessoa do discurso que, através da
direcionalidade, marca as pessoas do discurso, fazendo com que a raiz se inverta ou
até adquira uma forma em arco; b) o acréscimo do aspecto verbal que, através de
mudanças na frequência do movimento da raiz marcam os aspectos durativo,
contínuo, etc (FINAU, 2004); c) o acréscimo de um marcador de concordância de
gênero que, através de configurações de mãos (classificadores), especifica a coisa:
objeto plano vertical/horizontal, redondo, etc (FELIPE, 2002); d) a incorporação do
numeral que, representando os numerais de um até quatro, através de configurações
de mão, acrescenta à raiz um quantificador. (FELIPE, 2006, p. 203-204)

Na Libras, esse tipo de modificação interna da raiz é muito produtivo e, segundo


Felipe (1998b), está presente no seu sistema pronominal para representar as pessoas
do discurso (dual, trial, quatrial e plural), como também no seu sistema de
classificadores e em alguns advérbios: ANTEONTEM, UMA-VEZ, DUAS-VEZES,
TRÊS-VEZES, PRIMEIRO-ANDAR, SEGUNDO-ANDAR, DOIS-DIAS, TRÊS-DIAS,
etc; e) a incorporação do intensificador MUITO ou de casos modais que alteram
também a frequência do movimento da raiz, como pôde ser verificado a partir da coleta
de dados com exemplos de verbos da LIBRAS com incorporação do advérbio
“rapidamente” (movimento repetido e acelerado) e do intensificador “muito”
(movimento lento e alongado para a frente do emissor: TRABALHARmuito -
TRABALHARrapidamente; ANDARmuito - ANDARrapidamente. (FELIPE, 2002, p. 204)

De acordo com Felipe (2006) por apresentar características gestual-visual, a


Libras pode introduzir no discurso, a mímica. Sendo assim, um objeto, uma qualidade
de um objeto, um estado, um processo ou uma ação pode mimeticamente (3) ser
representada juntamente com a estrutura da frase. Neste processo de formação de
palavra, as expressões faciais e corporais podem complementar os itens lexicais
114

estabelecendo contextos discursivos uma vez que essas se estruturam a partir das
convenções da língua. (p. 206)

Ainda segundo a autora, o processo mimético transforma a mímica em uma


forma linguística que representa iconicamente o referente a partir dos parâmetros de
configuração do signo e da sintaxe da língua. Neste caso, não é que se faça a mímica,
ela é incorporada pela língua e se estrutura a partir dos parâmetros de cada língua de
sinais, como as onomatopeias nas línguas oral-auditivas. (FELIPE, 2006, p. 206)

Felipe (2006) traz o seguinte exemplo para mostra o processo mimético, “em
um contexto determinado, havia um homem em pé com um jornal embaixo do braço
direito e com um saco de pipoca na mão esquerda, basta utilizar os sinais HOMEM
JORNAL PIPOCA e representar a situação, ficando a frase: HOMEM JORNAL coisa –

arredondada; COLOCAR-EM-BAIXO-DO-BRAÇO-ESQUERDO PIPOCA coisa-arredondada;

SEGURAR-COM-A-MÃO-DIREITA”. (p. 206)

Os estudos de Felipe (2006) mostram que igualmente, muitos verbos podem


derivar de outros, por meio de um processo mimético da ação do mesmo modo que
ela foi realizada, acrescentando, à raiz-movimento, alternância de expressões facial e
corporal. Exemplos desse tipo de derivação podem ser verificados nos verbos:
SALTITAR, DESFILAR, CAMBALEAR, que derivam do verbo ANDAR. Esse verbo
pode também, através da imitação do modo como a ação está sendo de fato realizada,
acrescentar, à sua rede semântica, um caso modal: ANDARligeiramente, ANDARdevagar.
(p. 207)

Felipe (2006) também argumenta “que esses processos também não podem
ser confundidos com o sistema de classificadores da LIBRAS, já que se trata de um
processo mimético e não um acréscimo de morfema obrigatório à raiz”. (p. 207)

A composição (4) é um processo que resulta na junção de dois termos


independentes que originam uma nova palavra. Para Borba (1991, p. 271), “O
sentimento da unidade pode resultar simplesmente do fato de que os componentes
são habitualmente agrupados no uso comum. O vocábulo é composto quando duas
ideias se unem para formar uma terceira que deve ter forma gráfica também fundida”.
115

Facundo (2012, p. 4) ao citar Carone (1986) em seus estudos, traz uma


explicação da referida autora sobre o processo de composição como sendo aquele
“realizado com no mínimo duas palavras compostas de radical, que podem conservar
sua identidade como vocábulos fonológicos (justaposição) ou pode ocorrer a
incorporação de uma palavra em outra, caracterizando o processo de aglutinação”.

Sobre este processo Carone (1986) enfatiza que:

[...] justaposição e aglutinação não são duas formas diferentes de


composição, mas dois estágios de um mesmo processo. Um composto pode
formar-se já aglutinado, como é o caso de vogal átona final suprimida diante
da vogal inicial de outra palavra: plan(o)alto, agu(a)ardente. Nem sempre,
porém. Ainda assim hesita entre as formas hidroelétrico e hidrelétrico, ambas
dicionarizadas. (CARONE, 1986, p.37).

Tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais encontramos palavras
compostas, isso significa que a Libras possui mecanismos que se assemelham aos
do português para sua expansão lexical. A existência de sinais compostos em Libras
faz com que ela mantenha seu status linguístico.

Na Libras, o processo de composição acontece quando se utilizam itens


lexicais que são morfemas livres que se justapõem ou se aglutinam para formarem
um novo item lexical.

Na Libras esses processos podem se realizar através da: Justaposição de


dois itens lexicais, quando dois sinais formam uma terceira forma livre, como no
exemplo: MULHER^BEIJO-NA-MÃO=“mãe”; CASA^CARNE=“Açougue”;
CASA^REMÉDIO=“Farmácia”; Justaposição de um classificador com um item
lexical, nesse processo o classificador não é uma marca de gênero e funciona como
um clítico. Como exemplos temos os sinais: coisa-pequena^PERFURAR “alfinete”;
DORMIR^pessoa+ “alojamento”; Justaposição da datilologia da palavra, em
português, com o sinal que representa a ação realizada pelo substantivo que, na sede
semântica da ação verbal, seria seu caso instrumental. Exemplo: COSTURAR-COM-
AGULHA^ A-G-U-L-H-A “agulha”. (FELIPE, 2006, p. 207)

Quando a derivação (5) ocorre na língua portuguesa, há formação de uma


nova palavra a partir de uma raiz ou de outra palavra já existente na língua. Segundo
116

Borba (1991), citado por Facundo (2012, p. 4) “a derivação é o meio mais frutífero de
formação de palavras. Há, normalmente, a adição de sufixos à raiz ou radical. Os
sufixos podem ser caracterizados pela significação externa, contudo possui valor
conceitual, que se manifesta no processo de derivação”.

Assim, a derivação é um processo responsável pelo enriquecimento da língua,


porque originam famílias de palavras (Borba, 1991; Carone,1986),
consequentemente, ocorre ampliação lexical.

Segundo Facundo (2012, p. 5), Borba (1991, p. 275) classifica os derivados em


português como primários ou secundários, progressivos ou regressivos. Conceitua e
exemplifica: a) primários: raiz + sufixo (jogo/jogador); b) secundários: palavra
derivada+ sufixo (ferrugem/ferruginoso); c) progressivos: quando há adição de sufixos
(cavalo/cavaleiro); d) regressivos: pela supressão de sufixos e que são mais raros
(aço/aceiro).

A derivação não está restrita ao acréscimo de sufixos, visto que existe a


chamada derivação prefixal, em que se acrescentam formas presas que precedem o
lexema. (FACUNDO, 2012)

As pesquisas de Quadros e Karnopp (2004, p.97) mostram processos de


formação de sinais a partir da derivação entre nomes e verbos, como em Telefone
que deriva telefonar e cadeira que deriva sentar.

Figura 50 - Exemplos de Telefone/Telefonar – Cadeira/Sentar

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 97)


117

Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 97), a mudança de classe para


formação de novas palavras/sinais é um processo bastante comum que são
apresentados por Basílio (2004, p. 28) pois se justificam pela dupla função do léxico
de designar entidades fornecendo elementos de base à construção de enunciados: “a
primeira é a necessidade de usar palavras de uma classe em estruturas gramaticais
que exigem palavras de outra; a segunda é a necessidade de aproveitar conceitos
ocorrentes em palavras de uma classe em palavras de outra classe. O primeiro caso
corresponde à motivação gramatical, o segundo à motivação semântica”.

Basílio (2004) ainda chama a atenção para o processo envolvendo “nomes de


agente” correspondente a substantivos que designam um ser de acordo com uma
atividade, a qual o verbo especifica, como em: jogador (devido à atividade de jogar);
varredor (pela atividade de varrer), entre outros. Esta relação é concebida como
motivação semântica pela autora e facilitam a produção de novas palavras, visto que
as propriedades do sufixo formador já estão previamente no léxico. (FACUNDO, 2012,
p. 6)

Pode-se concluir que, independentemente da modalidade de língua, os


processos de formação de palavras existem em qualquer língua e seguem regras bem
definidas. Uma delas é a partir de empréstimos linguísticos que trataremos agora.

1.5.4 A ampliação lexical por empréstimos

A expansão lexical também pode ocorrer por neologismos formados por


empréstimos. Suas procedências são variadas: por interferência tecnológica; pelas
mídias sociais, que são capazes de alcançar longas distâncias; pela literatura e pela
necessidade de conhecimento. São praticamente inevitáveis, principalmente se
houver contatos intensos entre comunidades. A língua que os recebe se comporta de
diferentes maneiras: (a) adaptando ou não à grafia; (b) à vezes permanecendo por um
tempo estável, oscilando entre grafia original e adaptada (transliteração); (c) fazendo
parte em derivados ou compostos (BORBA, 2003).
118

Segundo Carvalho (2002, p. 98), [...] o mundo, as ciências, as técnicas e os


costumes evoluem rapidamente; há urgência de nomear as novidades. Não se podem
aguardar resultados de estudos prolongados e, na maioria das vezes, as normas
apenas consagram nomes já em uso. Além desta primeira classificação, é importante
citar ainda outra classificação dos empréstimos, ainda segundo a autora supracitada;
[...] o termo empréstimo designa uma palavra estrangeira adotada pela língua,
empréstimo externo, mas também pode ser usado para designar um termo de
linguagem especial ou técnica que passou para o uso geral, empréstimo interno.
(CARVALHO, 1983, p. 44).

Para Dubuc (1999, p. 105-151), [...] o empréstimo é um fenômeno através do


qual se transfere uma unidade léxica de um sistema ou de um subsistema linguístico
a outro. Existem dois tipos de empréstimos: o empréstimo externo, extraído de um
sistema linguístico estrangeiro e o empréstimo interno, extraído de subsistemas
diferentes dentro do sistema linguístico em questão.

Todas as afirmações linguísticas acima fazem parte da estrutura construtiva


das línguas orais, mas também são perceptíveis nas línguas espaço-visuais, como é
o caso da Língua Brasileira de Sinais. Portanto, para Carvalho e Marinho (2010), a
criação de novos sinais, em Libras, pode ocorrer de três modos: (i) por meio de
empréstimos da língua portuguesa, (ii) por expansão semântica de um item lexical já
existente na Libras, ou (iii) pela formação de um novo lexema a partir de processos
morfológicos.

Ferreira-Brito (1995) enumerou cinco tipos de diferentes empréstimos na


Libras: lexical, inicialização, sinais de outras línguas de sinais, domínios semânticos e
os de ordem fonética. Os lexicais são os mais comuns, representados através da
soletração manual, acionados sempre que não houver um sinal equivalente. Quadros
e Karnopp (2004, p. 88), confirmam essa observação, mas assumem que “essas
formas podem ser consideradas na periferia do léxico da língua de sinais brasileira. ”

Muitas vezes, o léxico não-nativo traz consigo as substâncias da língua de


saída que não se compatibilizam com as línguas de chegada. Quando no português
o som de um empréstimo não encontra correspondência, os falantes fazem uso da
119

palavra, mas não a adaptam. Borba (2003), exemplifica com a palavra pizza, de
origem italiana, amplamente utilizada na língua portuguesa sem alteração na forma.

As pesquisas sobre a estrutura dos sinais da Libras ainda estão em andamento.


Sabe-se que ela é complexa e que envolve, entre outros aspectos, a simultaneidade
dos parâmetros fonológicos na realização dos sinais. O uso simultâneo desses
parâmetros permite que encontremos no léxico sinais produzidos, por exemplo, com
suas mãos. Entretanto, a produção deve obedecer a pelo menos, duas condições,
simetria e dominância. Na primeira a configuração de mão é igual nas duas mãos, o
ponto de articulação é o mesmo ou simétrico, e o movimento deve ser simultâneo ou
alternado. O segundo caso envolve duas mãos, uma passiva e a outra ativa. A mão
passiva faz uso de um número limitado de configuração de CMs (QUADROS e
KARNOPP, 2004). Tais condições parecem depender da possibilidade de se
coordenarem os movimentos. Esses sistemas que controlam e restringem a produção
(emissão) e a percepção (recepção) interferem também na acomodação desses
empréstimos.

Encerramos aqui nosso referencial teórico que embasaram a elaboração desta


pesquisa. No capítulo seguinte iremos tratar de todo percurso metodológico,
detalhando passa-a-passo a proposta do DIBLIP.
120

CAPÍTULO 2 - PERCURSO METODOLÓGCO

Neste capítulo objetivamos expor a metodologia adotada para a realização de


nosso trabalho com base nas análises realizadas nos dicionários de língua portuguesa
de acordo com os critérios do PNLD e da seleção dos sinais para composição dos
verbetes nos dicionários de Libras disponíveis no Brasil, foi possível chegar a nossa
proposta de dicionário infantil bilíngue Libras-Português.

Os resultados dessas análises e a descrição das partes serão feitas a seguir.

2.1 O corpus

Para a realização deste trabalho, tomamos como ponto de partida 03 (três)


dicionários em Libras: “Deit–Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da
Língua Brasileira de Sinais – Libras”, autoria de Capovilla e Raphael” e os três volumes
do Livro “Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada
pelas pessoas com surdez” de Márcia Honora e Mary Frizanco; e 03 (três) dicionários
da língua portuguesa: “Meu Primeiro Dicionário Caldas Aulete com a turma do
Cocoricó”, “Meu Primeiro Dicionário Saraiva da Língua Portuguesa Ilustrado” e
“Blucher infantil Ilustrado” de Josca Ailine Baroukh, Maria Cristina Carapeto Lavrador
Alves e Dalila Maria Pereira Lemos,

A escolha dessas obras se deu por dois motivos: (1) porque o Deit-Libras foi
distribuído pelo MEC em 2006 para as escolas públicas com alunos surdos
matriculados de primeira a quarta série, conforme comentamos no item 1.3 de nosso
trabalho (O PNLD e os dicionários infantis); e, por consideramos que os três volumes
do livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais, possui uma quantidade significativa
de sinais em Libras pertencentes ao universo da criança. (2) por não haver, no Brasil,
nenhum dicionário de Libras que seja destinado a crianças surdas, achamos
121

necessário fazer uma análise de como os dicionários do Tipo 1, da língua portuguesa,


propostos pelos critérios avaliativos do MEC/PNLD 2012, são elaborados para atender
as necessidades escolares dos estudantes.

Uma questão importante no estabelecimento do corpus do dicionário é a melhor


maneira de apresentar o léxico para o leitor. Neste sentido determinamos como nosso
público crianças surdas, estudantes do primeiro ano do Ensino Fundamental, que
estão em processo de alfabetização inicial inseridas no contexto da educação bilíngue
ou educação inclusiva.

Por considerarmos relevante a proposta do dicionário Libras/Português como


sendo um material didático de apoio à aquisição da Libras como L1 e do português
como L2, também se torna um importante recurso de auxílio ao trabalho educacional.
Sendo assim, pode ser utilizado por professores, crianças ouvintes, familiares e
qualquer pessoa que deseje conhecer mais sobre a Língua Brasileira de Sinais.

Portanto, nosso corpus é constituído por 500 sinais selecionados do Deit-Libras


(Capovilla & Raphael, 2001) e dos três volumes do Livro Ilustrado de Língua Brasileira
de Sinais (Honora e Frizanco, 2009) para composição dos verbetes da proposta. A
escolha desses sinais se deu porque todos fazem parte do universo infantil e por terem
um equivalente em língua portuguesa.

Nesse sentido, nossa proposta de dicionário enquadra-se nas determinações


do PNLD, pois trata-se de um dicionário do Tipo I, características que especificamos
anteriormente no item, 1.3 – O PNLD e os dicionários infantis, de nosso trabalho.

É importante enfatizarmos que para nossa proposta de Dicionário Infantil


Bilíngue Libras/Português, doravante (DIBLIP), a Língua Brasileira de Sinais é
considerada como a primeira língua (L1) da criança surda e a língua portuguesa, a
segunda língua (L2) na modalidade escrita, por acreditarmos que o modelo de
educação bilíngue é o que melhor se enquadra ao desenvolvimento educacional da
criança surda.

O procedimento metodológico adotado na sequência foi a caracterização e análise


dos dicionários de língua portuguesa, Tipo I e a seleção dos sinais para constituição do
corpus de nossa pesquisa. Nosso objetivo foi evidenciar as características dos dicionários
122

infantis da língua portuguesa, bem como a seleção dos sinais nos dicionários de Libras.
Com base nessa análise, buscamos subsídios lexicográficos para a construção de nossa
proposta do DIBLIP.

2.2 Caracterização e análise dos dicionários

Esta etapa teve como principal objetivo analisar aspectos da constituição


estrutural dos dicionários do tipo 1, no que diz respeito à funcionalidade para os seus
usuários. Os aspectos levantados são aqueles que julgamos que podem ser
melhorados nessas obras, como o tamanho da letra utilizada em algumas delas, por
exemplo. Nossa intenção, ao abordarmos esses aspectos, foi levantar algumas
dificuldades que podem ser enfrentadas pelas crianças surdas no momento da
consulta a esses dicionários e, a partir disso, propor uma nova estrutura para o DIBLIP
as especificidades da criança surda, especialmente em se tratando das questões
visuais em ambas as línguas.

A obra “Meu Primeiro Dicionário Saraiva da Língua Portuguesa Ilustrado”


(2015), possui dimensões de 24 x 17 cm, o que a nosso ver é bastante interessante
por se tratar de um dicionário compacto e de fácil manuseio, porém, quando pensamos
em elaborar um dicionário de libras, esse tamanho de obra não se mostra adequado,
pois isso faz com que as imagens (tanto para os sinais de Libras quando para apoio
ao significado dos verbetes) dificulta a visibilidade por parte da criança surda. A
disponibilidade das imagens nas páginas deve ser adequada para que a criança possa
compreender os detalhes na formação do sinal (nas mãos) e expressão facial (rosto).
123

Figura 51 - Capa da obra “Meu Primeiro Dicionário Saraiva da Língua Portuguesa


Ilustrado”

Fonte: (SARAIVA, 2015)

A capa inicial contém apenas o título, algumas ilustrações e o nome da editora.


A folha de rosto é semelhante à capa, com o nome do dicionário e da editora. O
sumário traz no topo “como consultar este dicionário se você é criança - VII”, “como
consultar este dicionário se você não é mais criança – XIII” com numeração romana e
demais páginas, “A...3, B...27, C...49, Z...345”, indicando todas as partes do dicionário.
A página seguinte encontramos “onde encontrar os quadros temáticos”, organizados
da seguinte forma: 9 Alimentos, 80 cores, 203 posições, 310 tamanhos, entre outros.

Em como consultar esse dicionário se você é criança – a obra traz explicação


de como utilizar todas as partes que compõem a obra, bem como mostra com o auxílio
de imagens os quadros temáticos, a faixa lateral e na parte de cima das páginas a
indicação de uma seta pontilhada, (à esquerda, a primeira palavra da página e à direita
a última palavra da página), as listas de palavras, a explicação dos verbetes, a sílaba
mais forte, o jeito certo de falar e os exemplos. Os verbetes têm a mesma cor da letra
de abertura e do destaque na faixa lateral, cada significado tem um número e quando
a palavra tem um contrário (antônimo) aparece um símbolo dom duas setas em
direção oposta (SARAIVA, 2015, p. XII).

Em como consultar esse dicionário se você não é mais criança - o dicionário


informa a proposta lexicográfica ao consulente adulto com o objetivo de auxiliar as
crianças “a tirar o melhor proveito deste dicionário e exercer comportamentos leitores
próprios de quem busca informações, pois ele foi desenvolvido para crianças em fase
124

de alfabetização, silábicas, alfabéticas ou recém-alfabetizadas (primeiro ano do


Ensino Fundamental) ”, (SARAIVA, 2015, p. XIII).

Além disso, o autor informa sobre os verbetes. Segundo ele, os verbetes têm
definições oracionais, ou seja, representam o modo como oralmente explicamos as
coisas às crianças” (IDEM). Porém, não é informado aos leitores como se deu a
seleção e origem dos verbetes. Várias outras informações são apresentadas nesse
texto: os 22 painéis que abrem as palavras com desenhos compondo um cenário, as
ilustrações que são formadas por 461 fotos e 470 desenhos que auxiliam na
compreensão das palavras, os 28 quadros temáticos que são ilustrados do livro e que
agrupam famílias de palavras. A obra tem 785 verbetes e ainda 188 palavras
ilustradas.

Figura 52 - Página do verbete do dicionário Saraiva infantil

Fonte: (SARAIVA, 2015, p. 17)

O dicionário apresenta suas entradas em letra minúscula, porém o autor não


informa o nome da fonte. As cores do verbete variam de acordo com a letra, seguidas
da divisão silábica entre parênteses sempre seguido pela cor de realce em amarelo
na sílaba mais forte, separadas por um traço. Logo abaixo, aparecem as definições
dos verbetes enumerados quando se trata de uma palavra com mais de um significado
com exemplos de frases contextualizando o significado em um tom de cor mais claro,
as vezes um pouco ilegível. Segundo o autor, essa organização é usada para auxiliar
o aluno na compreensão dos verbetes, todos ilustrados. Com relação as ilustrações,
algumas mostram imagens reais e outras em forma de desenhos. Para a elaboração
de uma proposta em Libras, a imagem real retrata o que a criança surda capta no dia
125

a dia. Outro aspecto que se faz relevante é a afinidade entre o verbete e a imagem.
Tomemos por exemplo a palavra APANHAR (Figura 52) com a imagem de um
cachorro aparentemente correndo num gramado com uma bola vermelha na boca. Ao
olhar para a imagem, a criança surda poderá relacioná-la a cachorro e não a palavra
apanhar, se ela não conhece o significado desta palavra. Assim, a relação só
acontecerá quando a palavra for contextualizada com exemplos em Libras. As
ilustrações não são separadas por nenhum recurso o que, em nossa opinião, não se
aproveita bem o espaço gráfico.

O livro “Meu Primeiro Dicionário Caldas Aulete com a turma do Cocoricó”


(2009) traz na capa o nome da obra, os personagens Júlio (garoto), Lilica (a galinha)
e Astolfo (porquinho bebê) da turma do cocoricó, diversas letras do alfabeto, indicação
que está de acordo com a nova ortografia da língua portuguesa e o nome da editora.
É na capa final que a obra, em um texto bastante lúdico, aponta a utilidade do
dicionário: “o dicionário é um livro especial que serve para explicar o que as palavras
querem dizer e como são escritas”. A obra também informa o público-alvo a que se
destina: “foi feito para quem está folheando um dicionário pela primeira vez”. (CALDAS
AULETE, 2009).

Figura 53 - Capa da obra Meu Primeiro Dicionário Caldas Aulete com a turma do
Cocoricó

Fonte: (CALDAS AULETE, 2009)


126

Posteriormente, a capa e a folha de rosto (com o nome da obra, imagem do


porquinho Astolfo, nome da editora). Em seguida, o dicionário traz o texto “A Turma
do Cocoricó”. Nele o autor apresenta e descreve os personagens que moram na
Fazenda Cocoricó.

Depois da apresentação dos personagens, o autor expõe o texto aos pais e


educadores. Este traz informações relativas à extensão da nomenclatura “1.360
verbetes” (CALDAS AULETE, 2009, p. 5). Não há explicitação dos critérios adotados
para a seleção da nomenclatura. A obra cita que: “os verbetes estão redigidos de
modo suficientemente informal, próximo do registro coloquial das crianças – sem tom
professoral, mas igualmente sem prejuízo da correção gramatical” (CALDAS AULETE,
2009, p. 6).

Além disso, o dicionário traz o texto “Meu primeiro dicionário Caldas Aulete”.
Nele, o autor vai explicando para a criança sobre a ordem alfabética e lhe dando as
pistas necessárias para o leitor compreender como as palavras estão organizadas
alfabeticamente. Em seguida, há outro texto “O som das letras”, nele o autor explica
detalhadamente que nem todas as letras têm o mesmo som.

Figura 54 - Imagem do verbete do dicionário Caldas Aulete

Fonte: Fonte: (CALDAS AULETE, 2009, p. 161)

O dicionário possui 1.360 palavras com cerca de 800 ilustrações em forma de


desenhos com a turma do cocoricó aparecendo na maioria delas.
127

Sobre a formatação gráfica, há um ótimo aproveitamento de espaço disponível


e uma interação entre texto e ilustrações, sem prejuízo de legibilidade, além de ser
colorida e visualmente bastante atrativa. Cada verbete é separado por uma linha
pontilhada o que facilita sua sequência na ordem alfabética.

O autor não informa a fonte da letra utilizada. A mancha-gráfica24 é organizada


em colunas e são duas as palavras-guia em cada página, que aparecem lado a lado
no início da primeira coluna. Há o registro das letras k, w, y.

No final da obra estão os campos temáticos: corpo humano, lugares e posições,


esportes, números, meses, dias da semana e horas e contrários. Todos são
apresentados por ilustrações precedidos de seus respectivos nomes com setas
indicativas. Essa forma é bastante interessante para Libras, pois as setas fazem com
que a criança surda relacione o nome pela indicação da seta.

A obra não possui apêndice ou anexo.

O dicionário “Blucher Infantil Ilustrado – Dicionário Visual da Língua


Portuguesa”, (BAROUKH, ALVES e LEMOS, 2011) apresenta uma capa com nome
da obra, nomes dos autores e editora. A imagem central da capa mostra um grupo de
crianças com livros abertos, várias letras do alfabeto e elementos (imagens) que
fazem parte dos verbetes. O autor indica que se trata de um dicionário visual, com
mais de 1000 verbetes e 1000 imagens adequado às regras do acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa.

24A mancha gráfica é o espaço delimitado de impressão dentro de uma página, onde cai tinta sobre o
papel; fora destes limites, nada pode ser impresso e nenhum elemento pode ultrapassar. Nos casos
em que a mancha ultrapassa as bordas do papel, diz-se que a impressão é
sangrada. Fonte:<http://dicionarioparaconcursos.blogspot.com.br/2013/12/mancha-
grafica.html?m=1>. Acessado em: 23/07/16
128

Figura 55 - Capa do dicionário Blucher Infantil Ilustrado – Dicionário Visual da


Língua Portuguesa

Fonte: (BAROUKH, ALVES e LEMOS, 2011)

O sumário vem indicando a proposta lexicográfica da obra, guia de uso, as


letras de A a Z, apêndice, crédito e referências. Nessa parte, logo abaixo, há uma
descrição de quem são as três autoras.

A proposta lexicográfica é direcionada aos educadores e apresenta um texto


explicativo que enfoca a linguagem e representação da criança, a importância da
variação linguística no aprendizado da língua, a constituição dos verbetes, critérios de
seleção vocabular e de campos temáticos, a apresentação gráfica da obra e como
usar este dicionário. Não há uma apresentação voltada para as crianças, o que indica
que o dicionário é um material didático com objetivo de apoiar o trabalho pedagógico
dos educadores em sala de aula.

Em guia de uso, as autoras explicam todas as partes que compõem o dicionário


por meio de imagens e com setas que mostram o que se pode encontrar em cada
parte do dicionário.

O apêndice temático vem numerado ao lado dos quadros, em tamanho


reduzido, igualmente aos que se encontram no final da obra. Em seguida, vem a
apresentação em ordem alfabética os verbetes.
129

Figura 56 - Página do verbete do dicionário Blucher Infantil Ilustrado

Fonte: Fonte: (BAROUKH, ALVES e LEMOS, 2011, p. 79)

A apresentação gráfica dos verbetes vem em letra maiúscula com separação


silábica abaixo da palavra. O significado dos verbetes traz uma linguagem coerente
ao público infantil, seguido de frases contextualizadas de acordo com as imagens. Por
apresentar seis verbetes por página, a ordem dos verbetes é feita na vertical o que,
visualmente, para crianças surdas (ou mesmo ouvintes) em nossa opinião não é muito
agradável, pois a ordem da escrita da língua portuguesa se faz na horizontal. Seria
mais interessante que se colocasse um verbete abaixo do outro, num total de quatro
ou cinco por página para se contemplar melhor as imagens.

A maioria das ilustrações são imagens reais do cotidiano da criança, importante


recurso para compreensão do significado dos verbetes pela criança. Poucas imagens
são em formas de desenhos, apenas quando se referem a personagens do folclore e
imaginário é que são utilizadas

Posterior à sequência dos verbetes na letra Z, estão os campos temáticos:


Brasil, corpo humano, alimentação, esportes, transportes, animais, grandezas e
medidas, opostos e sistema solar. Toda apresentação dessa parte é composta por
imagens seguida das palavras que as nomeiam.
130

Finalizando a obra, encontramos uma lista com um código onde P representa


a página e F a figura seguida do nome do artista que fez as imagens com a fonte, ou
seja, o site de onde foram selecionadas as imagens.

Nossas análises evidenciaram aspectos comuns e alguns diferentes nos três


dicionários do tipo 1. São obras que passaram pelo crivo de especialistas e foram
consideradas adequadas ao aluno das primeiras séries do ensino Fundamental.

Com base nessas análises, apontaremos nas seções seguintes as etapas da


composição de nossa proposta para o DIBLIP: critérios para a construção do
dicionário, aportes da estruturais com a ordem alfabética, a forma das entradas
lexicais, fontes, definições dos verbetes, equivalências, exemplos, ilustrações,
campos temáticos e os verbetes selecionados.

2.3 Seleção dos sinais

Os critérios para seleção dos sinais foi o de pertencerem ao universo infantil,


selecionados do Deit-Libras e dos três volumes do Livro ilustrado de Língua Brasileira
de Sinais: desvendando a comunicação, obras de importante reconhecimento
lexicográfico.

Os sinais foram catalogados em uma ficha para identificar à qual obra


pertenciam. Ao lado dos quatro quadros com o nome das obras, o sinal foi marcado
com um X. Esta escolha foi eleita por sabermos que uma obra lexicográfica não
comporta todo o léxico de uma língua. O quadro 05 abaixa mostra o modelo da ficha.
131

Quadro 04 - Modelo da ficha catalográfica dos sinais

Obras lexicográficas
Sinais Deit-Libras Livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais
Vol. 1 Vol. 2 Vol. 3
Abacaxi x
Caranguejo x
Luz x

Como resultado de nosso levantamento, a proposta apresentada no âmbito


deste trabalho definirá 500 sinais, a saber:

LETRA A - Abacaxi, Abelha, Abraça, Abril, Acender, Achar, Acordar, Açúcar, Adulto,
Aeroporto, Agora, Agenda, Agosto, Água, Álbum, Alegre, Algodão, Alimento, Almoço,
Alto, Aluno, Amanhã, Amarelo, Ambulância, Amigo, Amor, Andar, Anel, Aniversário,
Ano, Antes, Apagar, Apartamento, Apito, Aprender, Aqui, Areia, Arrumar, Árvore,
Atleta, Atrasado, Aula, Ave, Avião, Avisar, Avó, Azul.

LETRA B - Bagunça, Baixo, Bala, Balança, Balão, Balde, Baleia, Bambolê, Banana,
Banco, Bandeira, Banheiro, Barato, Barco, Barraca, Barulho, Batata Frita, Basquete,
Batata, Bebê, Bermuda, Bicho de Pelúcia, Biscoito, Bode, Boi, Bola, Bola de Gude,
Bolo, Bolsa, Bom, Boné, Boneca, Bonito, Borboleta, Borracha, Branca de Neve,
Branco, Brigadeiro, Brigar, Brincadeira de Roda, Brincar, Buraco.

LETRA C - Cabelo, Cachorro, Café, Cair, Caju, Calça, Calmo, Calor, Cama,
Caminhão, Camisa, Campo, Canoa, Cansado, Cantar, Caracol, Caranguejo, Carne,
Caro, Carro, Casa, Casaco, Castelo, Castigo, Cavalo, Cebola, Cedo, Cego, Cenoura,
Certo, Céu, Chá, Chamar, Chapéu, Chapeuzinho vermelho, Chave, Cheirar,
Chocolate, Chover, Chuva, Cidade, Cima, Cinderela, Cinema, Cinto, Cinza, Circo,
Cobra, Coelho, Colégio, Colher, Comer, Computador, Conhecer, Consertar,
Conversar, Corpo, Coruja, Criança.

LETRA D - Dançar, Dar, Demorar, Dentro, Depois, Desculpa, Devagar, Dezembro,


Dia, Diálogo, Diferente, Difícil, Dinheiro, Dividir, Doce, Doente, Dois, Dor, Dormir,
Duro, Duzentos.

LETRA E - Educação, Educar, Elefante, Embaixo, Emprestar, Embora, Encontrar,


Endereço, Energia, Enganar, Ensinar, Entender, Entrar, Entregar, Errado, Enxugar,
Errar, Escada, Escova, Escrever, Escuro, Escutar, Esperar, Esquecer, Estragar,
Estrela, Estudar, Exemplo, Exercício, Explicar.
132

LETRA F - Fábrica, Fácil, Falar, Faltar, Família, Fantasma, Farol, Fazenda, Feijão,
Feio, Feliz, Feminino, Feriado, Férias, Ferro, Ferver, Festa, Fevereiro, Filha, Filme,
Fim, Fio, Flauta, Flor, Fogão, Fogo, Folha, Fome, Fora, Formiga, Forte, Foto, Fraco,
Frente, Frio, Fruta, Fugir, Futebol, Futuro.

LETRA G - Galinha, Ganhar, Garrafa, Gastar, Gato, Geladeira, Gêmeo, Girafa, Gol,
Gordo, Gostar, Grama, Grande, Gravar, Gritar, Guarda-chuva, Guardar.

LETRA H - Helicóptero, Hoje, Homem, Hora, Hospital, Humano.

LETRA I - Idade, Igual, Ilha, Imaginar, Importante, Índio, Interessante, Inverno, Irmã.

LETRA J - Jacaré, Jangada, Janeiro, Jantar, Jornal, Jovem, Julho, Junho, Juntar.

LETRA L - Lago, Lâmpada, Lanche, Lanterna, Lápis, Laranja, Leão, Leite, Lençol,
Ler, Limão, Limpo, Lindo, Livro, Lixo, Lua, Luz.

LETRA M - Maçã, Macaco, Macarrão, Macio, Madeira, Madrinha, Mãe, Maio, Mamão,
Manga, Manhã, Máquina, Mar, Marrom, Medo, Meia, Melancia, Melhor, Menina,
Mentira, Mês, Mesa, Metrô, Milho, Mochila, Morango, Morar, Mosca, Mulher, Mundo.

LETRA N - Nadar, Nascer, Navio, Noite, Nome, Novo, Nove, Noventa, Novembro, Nu,
Nuvem.

LETRA O - Obedecer, Óculos, Olhar, Ônibus, Ontem, Outono, Outubro, Ouvir, Ovo,
Onze.

LETRA P - Pá, Padrinho, Pagar, Pai, Palhaço, Pão, Papagaio, Papel, Pássaro, Pato,
Patinho Feio, Pedra, Peixe, Pente, Pequeno, Perder, Pesado, Perto, Pescar, Pinguim,
Pintar, Pipoca, Planta, Pobre, Polícia, Ponte, Porco, Porta, Praça, Praia, Prato,
Precisar, Preguiça, Primavera, Professor, Pular, Puxar.

LETRA Q - Quadro, Quarta-feira, Quarto, Quebrar, Queijo, Quente, Quinta-feira,


Quatorze, Quinze, Querer.

LETRA R - Rádio, Rainha, Rápido, Rapunzel, Rasgar, Rato, Rede, Régua, Rei,
Relâmpago, Relógio, Remédio, Repetir, Resfriado, Revista, Rico, Rio, Rir, Robô,
Roupa, Rua, Ruim.

LETRA S - Sábado, Sabonete, Saber, Saci, Sacola, Sair, Sanduíche, Sapato,


Saudade, Saúde, Secar, Segredo, Segunda-feira, Seis, Semana, Separar, Sereia,
Sessenta, Sete, Setembro, Setenta, Sexta-feira, Sinal, Sol, Sono, Sorvete, Sorrir,
Sozinho, Subir, Suco, Sujo, Suor, Supermercado, Surdo, Susto.

LETRA T - Talvez, Tamanduá, Tamanho, Tangerina, Tartaruga, Tatu, Teatro,


Telefone, Televisão, Temperatura, Tempo, Tênis, Terça-feira, Terra, Tesoura, Tia,
Toalha, Tomate, Torneira, Trabalho, Tranquilo, Travesseiro, Trem, Trinta, Triste, Três,
Tubarão, Tucano, Turma.
133

LETRA U - Último, Um, Unha, Usar, Uva.

LETRA V - Vaca, Vapor, Vassoura, Vela, Velho, Vencer, Vender, Vento, Ver, Verdade,
Vermelho, Viagem, Vida, Vidro, Vinte, Visitar, Vizinho, Vôlei, Voltar.

LETRA X - Xadrez, Xampu, Xícara, Xixi.

LETRA Z - Zebra, Zero, Zíper, Zoológico.

É importante salientar que, em algumas letras, a quantidade de sinais/palavra


é maior, fato este que é justificado por existiem mais sinais do universo infantil em
determinadas letras, exemplo A, B, C do que em outras como U, X, Z.

Após todo este processo, determinamos alguns critérios para a construção de


nossa proposta que elegemos como prioritários e que serão esclarecidos no item
seguinte.

2.4 Seleção dos campos temáticos

Selecionamos sete campos temáticos para a proposta do DIBLIP a partir das


análises feitas nos dicionários infantis do Tipo 1. Em seguida, partimos para a seleção
dos sinais nos dicionários de Libras que escolhemos para compor o corpus desse
trabalho.

A escola dos campos temáticos: Alimentos, Animais, Brinquedos e Brincadeiras,


Esportes, Esportes, Família e Transportes foi porque encontramos mais sinais do
universo infantil neles. Como enfatizamos anteriormente, não objetivamos neste
trabalho a criação de sinais, especialmente porque o DIBLIP objetiva apresentar o
léxico já constituído ao pequeno leitor surdo.

Organizamos os campos temáticos num quadro para facilitar a seleção dos sinais.
O quadro 06 abaixo mostra o exemplo de nossa organização.
134

Quadro 05 - Sinais selecionados de acordo com o campo temático

Alimentos Animais Brinquedos e Esportes Escola Família Transportes


brincadeiras

Abacaxi Abelha Bola Basquete Aluno Irmão Avião

Açúcar Baleia Bambolê Futebol Lápis Mãe Ônibus

Banana Cachorro Boneca Natação Professor Pai Trem

Finalizando esta etapa, definimos os critérios que elegemos importantes para


a construção da proposta do DIBLIP o que será detalhado a seguir.

2.5 Critérios para construção do DIBLIP

O dicionário que propomos tem uma finalidade descritiva por apresentar a


Libras para o leitor através do seu Léxico. Dessa forma, entendemos que o léxico de
uma língua viva não é um inventário fechado. Como observou Zgusta (1971, somente
as línguas mortas podem ser descritas exaustivamente em um dicionário, pois
nenhuma sentença nova é produzida nessas línguas. Sendo assim, o DIBLIP não será
uma obra exaustiva e apresentará uma parte do léxico da Língua Brasileira de Sinais.

De acordo com Biderman (1998, p. 130), nenhum dicionário por mais volumoso
que seja, dará conta integral do léxico de uma língua em função da diferença entre
léxico e dicionário. Por estarmos tratando de um dicionário de Libras, nem todas as
unidades léxicas da língua foram listadas pois, por ser uma língua em constante
expansão lexical, muitos verbetes relacionados ao mundo da criança não foram
encontrados nos dicionários analisados. E não foi nossa intenção em momento algum
desse trabalho, criar sinais específicos para suprir a ausência de alguns sinais. Nosso
objetivo foi selecionar dentre as obras escolhidas para a coleta de dados do trabalho,
os verbetes para a proposta do DIBLIP, por serem dicionários oficiais no Brasil e
reconhecidos pela comunidade surda brasileira.
135

Para a proposta do dicionário, elegemos alguns critérios para a construção do


DIBLIP, de acordo com os princípios e critérios norteadores do PNLD, por sua
legitimidade e por não haver, até o momento, nenhum dicionário em Libras que se
caracterize desta forma. Dentre os critérios, enumeramos os seguintes:

(1) a passagem da criança do âmbito privado, familiar (doméstico), ao público,


considerando a grande diversidade humana.

(2) o modelo de educação bilíngue que respeita as diferenças linguísticas das crianças
surdas, tendo a Libras como L1 e o português como L2 na modalidade escrita.

(3) a necessidade de elaboração de material didático em Libras que possa auxiliar o


desenvolvimento educacional da criança surda. A maioria desse público chega à
escola sem aquisição da Libras como L1 e nem compreende a língua portuguesa por
causa do impedimento auditivo advindo da surdez. Esse fato acontece porque no
Brasil muitas crianças surdas são filhas de pais ouvintes e é na escola que a maioria
dessas crianças entra em contato pela primeira vez com a Libras.

(4) a adequação às regras do PNLD para dicionários do Tipo I a um dicionário bilíngue


Libras/Português, com seleção lexical e explicação dos sentidos adequadas às
demandas do processo de alfabetização inicial. A quantidade de verbetes entre 500 e
1000 sinais, para estudantes do 1º ano do Ensino Fundamental é, em nossa opinião,
mais do que suficiente para a criança surda nessa etapa de escolarização, por ser
mais fácil de manusear e consultar.

(5) a organização da proposta em campos temáticos ilustrados, sequência dos


verbetes em ordem alfabética com ilustrações contextualizando os sentidos do
sinal/palavra e exemplos.

(6) a possibilidade de um novo modo de aquisição do conhecimento e de


estabelecimento de vínculos entre a Libras (L1) e a escrita do português como (L2),
inserindo a criança na experiência de descoberta de uma língua visual e outra oral, na
modalidade escrita, que possuem estrutura gramatical diferentes.

(7) a percepção pela criança, por meio das imagens e dos verbetes que os sinais e
palavras já fazem parte de seu universo usual. Obviamente, novos sinais e palavras
136

serão aprendidos, assim como novos significados e informações suplementares que


enriquecerá o processo de alfabetização inicial.

(8) a possibilidade de tradução do conceito dos verbetes e das frases que são
contextualizadas a partir das imagens. Esta opção promoverá uma maior
compreensão por parte da criança surda do sinal, do conceito e dos exemplos das
frases. No vídeo ela perceberá como o verbete é sinalização por meio dos parâmetros
(configuração de mãos, orientação, ponto de articulação, movimento e expressão
facial), o conceito através da explicação do tradutor (ator ou intérprete) e a
contextualização imagem/exemplo.

Assim, nossa proposta do DIBLIP consta de duas versões:

(A) Em formato impresso: nesta versão, o DIBLIP terá formatação A4, para uma
melhor disposição das imagens por página, respeitando questões de visibilidade dos
verbetes (sinais) em Libras e das ilustrações que auxiliarão na explicação dos sentidos
dos verbetes.

(B) Em formato em DVD: composto de vídeos com a tradução do sinal, do significado


(conceito) do verbete e exemplos das frases em Libras.

As análises dos dicionários do tipo 1 (obras que foram indicadas e aprovadas


pelo Programa Nacional do Livro Didático), bem como a seleção dos sinais de Libras
no Deit-Libras e nos Livros ilustrados de Língua Brasileira dde Sinais, ofereceram-nos
subsídios linguísticos e deram-nos elementos para a construção de nossa proposta
de dicionário infantil que, como afirmamos, terá como público-alvo crianças surdas em
processo de alfabetização inicial. Tais procedimentos serão detalhados no capítulo 3:
proposta de dicionário infantil bilíngue Libras/Português.
137

CAPÍTULO 3 - PROPOSTA DO DICIONÁRIO INFANTIL BILINGUE


LIBRAS/PORTUGUES (DIBLIP)

Este capítulo apresenta a proposta do Dicionário Infantil Bilíngue –


Libras/Português, procedido de algumas explicações concernentes à sua
organização.

3.1 Versão impressa

3.1.1 Textos externos

Nossa proposta de DIBLIP contém os seguintes textos externos: capa, folha de


rosto, sumário, apresentação do aluno, guia do professor, como usar este dicionário,
apresentação dos campos temáticos, índice remissivo e referências.

Nos próximos itens, apresentamos as principais características de nossa


proposta de dicionário.

3.1.1.1 Capa

Na capa do DIBLIP, consta o nome da autora na parte superior, nome do


dicionário, no lado superior direito um balão indicando que inclui DVD. Logo abaixo do
nome, vem outro texto com a seguinte frase “500 verbetes ilustrados. Adequado as
regas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, essa frase fica em cima de um
quadro com a letra L em Libras como se estivesse apontando para o texto. No centro
da capa, há um quadriculado de imagens com todos os elementos que compõem o
DIBLIP, ou seja, ilustrações, alfabeto em Libras, letras da língua portuguesa e
imagens dos sinais em Libras.
138

A capa tem duas tonalidades da cor em azul. As fontes são as mesmas


utilizadas na escrita dos verbetes e frases, Myriad, Segoe e Little Day em tons de
branco e preto.

Figura 57 – Modelo da capa do DIBLIP


139

3.1.1.2 Folha de Rosto

Após a capa, vem a folha de rosto com o nome da autora e da obra. A mesma
imagem da capa é utilizada na folha de rosto, porém em tamanho menor.

Figura 58 – Modelo da folha de rosto do DIBLIP

3.1.1.3 Sumário

No sumário, encontramos a descrição de todas as partes que compõem o


dicionário: apresentação ao aluno, guia do professor, como usar este dicionário,
apresentação dos campos temáticos, índice remissivo e referências.
140

3.1.1.4 Apresentação ao aluno

Este texto é destinado à criança. Nele, apresentamos nossa proposta de


dicionário com linguagem simples, condizente com o leitor da obra, explicando o que
é um dicionário e convidando o leitor da obra a manuseá-lo e a descobrir novas
palavras.

3.1.1.5 Guia do educador

O guia do educador é um texto destinado aos professores e pais. Nessa parte,


apresentamos nossa proposta, explicando a quantidade de verbetes, a origem e quais
foram os critérios utilizados na seleção da nomenclatura. Além disso, o texto elucida
sobre a linguagem utilizada, as características das definições, explica sobre os
exemplos. O texto também explana sobre as ilustrações, formatação gráfica e o
público a que a obra se destina.

3.1.1.6 Como usar este dicionário

Em seguida ao guia do educador, nossa proposta de dicionário apresenta um


texto intitulado como usar este dicionário. Seu objetivo é esclarecer sobre a
organização da obra: letras do alfabeto em Libras e formas de grafar as letras do
português, as ilustrações, a indicação de uma mão apontando para a frase, a
quantidade dos verbetes nas suas línguas, as cores das letras e barra lateral, as setas
com indicação de movimento. Para essa explicação, a página do verbete é reduzida.
141

Figura 59 – Modelo como usar esse dicionário

O dicionário tem as
letras do alfabeto
manual em LIBRAS
Formas imprensa e cursiva de como
para você aprender.
você pode escrever as letras do
alfabeto.

No
dicionário,
cada letra
tem uma
cor, para
As imagens
ajudar você
mostram
a encontrar
situações
as palavras
reais,
e sinais.
parecidas
com o que
você vê e
vive no dia a
dia.

As setas
indicam A mão apontando
movimento indica uma frase.

O dicionário
As imagens grandes e tem 500
bonitas ajudam você a verbetes em
entender o significado Libras e
dos sinais. português e
500
imagens.
142

3.1.1.7 Apêndice dos campos temáticos

Após o texto como usar este dicionário, a obra lista os campos que são
apresentados ao leitor, seguidos do número da página em que se encontram. São
eles: ambiente, alimentos, animais, brinquedos e brincadeiras, casa, cidade, escola,
esportes, família, saúde, meios de transporte, meios de comunicação.

Cada campo temático é organizado em quadros com ilustrações do nome de


cada elemento da categoria em português e ao lado consta imagem do sinal em
Libras. Abaixo dos quadros vem a numeração das páginas.

3.1.1.8 Índice remissivo

O índice remissivo do dicionário lista todas as palavras em ordem alfabética,


seguida do número da página em que pode ser encontrada no final da obra.

3.1.2 Aportes estruturais

Nesta seção serão apresentados os aspectos da microestrutura que farão parte


da proposta do dicionário.
143

3.1.2.1 Ordem alfabética

Por optarmos pela elaboração de um dicionário bilíngue, que trata de uma língua
de modalidade visual/gestual (Libras) e outra oral/ auditiva (Português), a ordem
alfabética escolhida é a da língua portuguesa. Tal escolha justifica-se como sendo a
melhor escolha de organização do dicionário e, porque o sistema de escrita da língua
de sinais (signwritting) ainda não é oficializado no país. Poucas são as escolas no
Brasil que adotam tal sistema para alfabetização de crianças surdas. Compreendemos
também que nosso público alvo, crianças surdas, ainda não adquiriram de forma
natural a Libras como L1 e estão em processo de aprendizado da língua portuguesa
como L2 na proposta educacional bilíngue. Sendo assim não seria interessante utilizar
também a organização por configuração de mãos no momento, ainda mais sendo
nossa proposta um material de apoio ao processo de alfabetização inicial da criança
surda em Libras e língua portuguesa.

Desta forma, a ordem alfabética de nossa proposta segue a da ortografia da língua


portuguesa, a saber: A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, L, M, N, O, P, R, S, T, U, V, X, Z, uma
vez que atende ao critério do fácil manuseio por parte dos usuários, bem como
professores, familiares e pesquisadores da área do léxico. Não incluímos as letras K,
W e Y, por não encontramos nos dicionários de Libras sinais pertencentes ao universo
infantil com essas letras. A forma adotada para composição dos verbetes consta de
palavras(sinais) simples (concretas e abstratas), derivadas e compostas, nomes
(substantivos e adjetivos) e verbos.

Na versão DVD, o menu de abertura para seleção dos verbetes também será por
ordem alfabética, utilizando as letras do alfabeto manual em Libras, visto que, na
versão impressa a criança aprenderá o alfabeto da Libras.
144

3.1.2.2 Forma das entradas lexicais

A entrada na língua portuguesa está em ordem alfabética, com letra maiúscula


e negrito e separação silábica ao lado. Todos os verbetes selecionados contemplam
nomes (no masculino singular) e verbos (no infinitivo). Importante salientar que, por
vezes, aparecem alguns adjetivos por fazerem parte da categoria nome.

Em Libras, a entrada se organiza por meio de imagem (fotografia dos sinais),


indicando o movimento do sinal através de setas. A seguir um exemplo retirado do
modelo do DIPLIB.

A organização do verbete segue a sequência imagem do objeto, sinal em Libras


e texto do português. Esta opção justifica-se porque a criança surda direciona
inicialmente seu olhar para a imagem do referente, depois para o sinal em Libras e,
por último, ao texto. Importante salientar, também, que a criança surda da qual
direcionamos a proposta do dicionário é filha de pais ouvintes e ao chegar a escola,
ainda não conhece a Libras e o português, por não ter sido contemplada com um
ambiente linguístico favorável ao processo de aquisição de ambas as línguas.

Figura 60 - Exemplo do verbete Abelha

No exemplo do verbete abelha, optamos por utilizar duas imagens do sinal em


Libras para que a criança possa ter uma melhor compreensão de onde começa e
termina o sinal. A imagem do animal do lado superior representa a abelha real que a
145

criança surda conhece no seu dia a dia. O conceito do verbete faz uma relação da
abelha com a produção do mel; isso foi pensado porque na escola, ou na
comercialização do mel, sempre se faz a relação abelha/mel, portanto esse
conhecimento faz parte do cotidiano da criança. Tanto o conceito como a frase estão
traduzidas para Libras no DVD. A tradução do conceito do verbete abelha em Libras,
segundo sistema de transcrição para a Libras de acordo com os estudos de Felipe
(2001), fica da seguinte forma:

a) Conceito: Inseto que fabrica o mel – “ABELH@ MEL FAZER”.


b) Frase: “ABELH@ ANIMAL PEQUEN@”. Na tradução a palavra inseto é
substituído pelo sinal ANIMAL, pois não existe um sinal equivalente para na
Libras. A frase também poderia ser traduzida assim: “ABELH@
PEQUEN@”, isso porque o sinalizante já tem uma imagem mental, de sua
experiência de vida, de ser a abelha um inseto pequeno.

No sistema de transcrição para a Libras utiliza-se o símbolo (@) porque não


há, na língua, desinências para gênero (masculino e feminino). Quando temos uma
palavra na língua portuguesa que possui marca de gênero, o símbolo (@) reforça a
ideia de ausência evitando confusão. (Felipe, 2001)

Figura 61 - Exemplo do verbete Bola

No exemplo do verbete bola, temos a mesma formatação de abelha. A escolha


da imagem da bola remete ao futebol, esporte bastante popular no Brasil e propagado
diariamente pelos veículos de comunicação, ou seja, faz parte muita mais do cotidiano
146

da criança do que bolas de outros esportes como tênis, basquete, handball etc. O sinal
de bola em Libras é sinalizado por um classificador, um tipo de morfema lexical (sobre
o tema trataremos mais adiante). O classificador para o sinal de bola com a
configuração de mão 47 (Felipe, 2005) é do tipo classificador especificador, sua
função é descrever visualmente a forma, o tamanho, a textura, o paladar, o cheiro, os
sentimentos, o olhar, os sons do material, do corpo das pessoas e dos animais.
(Pizzio, at al, 2010).

A tradução do conceito do verbete bola seria: COISA REDOND@ PODER


BRINCAR FUTEBOL. O interessante dessa frase em Libras são as escolhas lexicais
utilizadas pela ausência de um determinado sinal na língua. No caso OBJETO é
trocado por COISA; REDONDO tem um sinal, mas não se encaixa nesse contexto,
então pode ser substituído por um classificador para coisa redonda ou mesmo pelo
próprio sinal de BOLA. O sinal JOGAR em Libras existe em vários contextos, como
JOGAR bola, futebol, videogame, basquete, baralho, xadrez entre outros e para cada
um tipo desse há um sinal especifico. Na frase, o JOGAR faria a relação com futebol
por causa da imagem que visualmente é apresentada.

Na frase “Eu ganhei uma bola de futebol” a tradução envolve todos os


elementos lexicais. “EU GANHAR BOLA FUTEBOL”.

Figura 62 – Exemplo do verbete Conversar

Interessante enfatizar que no verbete CONVERSAR, a imagem mostra duas


pessoas conversando e o sinal utilizado é o de conversar oralmente. Porém em Libras
o verbo conversar, no sentido de falar, assume diferentes contextos, por exemplo:
conversar em Libras (CM 28, movimento para frente e para trás, locação na frente do
147

tórax do sinalizante, com expressão facial), é diferente de duas pessoas conversando


oralmente ou batendo papo. Como veremos mais adiante, nossa opção de entrada
lexical diante desse fato foi o de enumerar cada entrada da seguinte forma
CONVERSAR¹, CONVERSAR² com conceitos distintos para uma melhor
compreensão da diferença pela criança.

A tradução do conceito “falar com alguém sobre alguma coisa”, seria “FALAR
PESSOA COISA VÁRI@S”, mesmo existindo um sinal para o pronome indefinido
alguém, a imagem mental que a pessoa surda faz é a de que, quem conversa são
pessoas, justificando sua escolha lexical, por isso a substituição de ALGUÉM por
PESSOA. Já o termo ALGUMA COISA pode ser traduzido por COISA VÁRI@S ou
mesmo COISA QUALQUER.

A frase, “Os rapazes conversam sobre trabalho” – “HOMEM+ CONVERSAR


TRABALHO” ou “JOVEM+ CONVERSAR TRABALHO”. HOMEM+ e JOVEM+
substitui a palavra rapazes pela ausência da mesma em Libras. A inclusão do numeral
dois, indica o plural.

No sistema de transcrição para a Libras, quando há uma marca de plural pela


repetição do sinal, acrescenta-se uma cruz(+) no lado direto acima do sinal que está
sendo repetido como mostramos no exemplo acima.

3.1.2.3 Fontes

Cada letra do alfabeto, na barra superior, terá a cor branca por contrastar
melhor com a cor do fundo. Na lateral das páginas há uma barra com letras de A-Z na
cor cinza para diferenciar da letra referente aos verbetes. A cor da barra lateral tem
tonalidade mais clara do que a barra superior maior para destacar a letra do alfabeto.
148

Figura 63 - Exemplo da letra do alfabeto manual em Libras e das quatro formas de


grafar no alfabeto em língua em portuguesa

Quanto à apresentação das Letras iniciais de cada série de verbetes, optamos


por colocar à disposição do leitor, nas aberturas, as letras no alfabeto manual de
Libras em imagem (fotografia) e as quatro formas possíveis de grafa-las em português,
ou seja, maiúsculas e minúsculas cursivas e de imprensa, para que a criança comece
a associar sua escrita com as disponibilidades que a língua portuguesa oferece para
a escrita, como mostra a (Figura 63).

Utilizamos a fonte Myriad nos verbetes (14 pontos) e nas definições (12 pontos,
Segoe nos exemplos (12 pontos) e Little Day no alfabeto (45 pontos).

3.1.2.4 Divisão Silábica

Depois da entrada, entre parênteses, aparece a divisão silábica, separada por


um traço. No caso dos monossílabos, a entrada é repetida, para mostrar que não se
é possível dividi-la. Segue o exemplo:
149

Figura 64- Exemplo do verbete Formiga com separação silábica

A divisão ortográfica do verbete mostra à criança que as palavras da língua


portuguesa são estruturadas de forma diferente, ou seja, através do som, o que a faz
começar a perceber a diferença das duas línguas.

3.1.2.5 Definições dos verbetes

Para melhor esclarecermos sobre nossa proposta, tomamos Biderman (1993)


no tocante à definição. Segundo a autora, não devemos empregar o mesmo tipo de
definição em todas as categorias gramaticais, devido às peculiaridades e
características inerentes de cada uma delas.

As definições nos verbetes de nossa proposta estão em português e são


traduzidas em Libras. Foram elaboradas cuidadosamente e exemplificadas, com
frases diretas e claras, respeitando o nível de aprendizado do leitor.

No caso de haver mais de um significado para os verbetes, foi acrescentada


numeração correspondente a cada um e frases de exemplos correspondentes.
150

Figura 65 – Exemplos do verbete Igual

O sinal para IGUAL em Libras tem sinais e conceitos diferentes, por isso
optamos por enumerar cada um para mostrar a criança os diferentes contextos de
usos. Em IGUAL¹, a relação de igualdade é feita através do outro (pessoa, objeto,
animal) – “os bebês gêmeos são iguais”, ou seja, idênticos, mesma aparência.
IGUAL², refere-se a comportamento – “pai e filho são iguais”, a imagem mostra o pai
e o filho mostrando que são fortes para esclarecer o contexto do verbete. Em IGUAL³,
“a roupa da boneca é igual a da criança”, sentido de aspecto, ser idêntico.
151

Já as traduções das frases ficam bem semelhantes, mas o sinal de IGUAL é


que fará a diferença para compreender o contexto de uso. “GEME@S IGUAL”; “PAI
FILH@ IGUAL”; CRIANÇA BONEC@ ROUPA IGUAL.

Para a entrada dos verbetes (em português) que são verbos, foi usada a forma
no infinitivo, e optamos por exemplos em que o uso de uma forma verbal flexionada
contribua para que a criança perceba a relação das línguas: Libras – (visual) e
Português – (escrita).

Figura 66 – Exemplo do verbete Ganhar

A entrada para o verbete GANHAR traz a imagem de um homem que acaba de


ganhar uma corrida, indicado pela faixa vermelha e pela expressão facial e corporal
do homem (braços elevados com expressão de conquista e rosto feliz), que
contextualiza o sinal. O conceito é traduzido como: “RECEBER OU CONSEGUIR
COISA TER ESFORÇO OU TER-NÃO”, e a frase, “HOMEM CORRIDA GANHAR”.

No sistema de transcrição para a Libras (Felipe, 2001), por não haver formas
de flexão verbal na língua, os verbos são sempre transcritos no infinitivo.

De acordo com os estudos de Quadros (2004, p. 201), em Libras, há três tipos


de verbos: (1) os que não possuem marca de concordância, aqueles que não se
flexionam em pessoa e número e não formam afixos locativos. (APRENDER, SABER,
AMAR, CONHECER); (2) os que possuem marca de concordância: são aqueles que
se flexionam em pessoa, número e aspecto (RESPONDER, DAR, ENVIAR) e os
espaciais - aqueles que possuem afixos locativos, como VIAJAR, IR, CHEGAR.
152

Os verbos que possuem marca de concordância podem ser subdivididos em:


verbos que possuem concordância número-pessoal - a orientação marca as pessoas
do discurso. O ponto inicial concorda com o sujeito e o final com o objeto; verbos que
possuem concordância de gênero - são verbos classificadores porque a eles estão
incorporados, através da configuração de mão, uma concordância de gênero:
PESSOA, ANIMAL ou COISA; verbos que possuem concordância com a localização
- começam ou terminam em um determinado lugar que se refere ao lugar de uma
pessoa, coisa, animal ou veículo, que está sendo colocado, carregado, etc. Portanto
o ponto de articulação marca a localização. COPO MESAk, coisa arredondadaCOLOCARk.
(FELIPE, 2001).

Estes tipos de concordância podem coexistir em um mesmo verbo. Assim, há


verbos que possuem concordância de gênero e localização, como o verbo COLOCAR;
e concordância número-pessoal e de gênero, como o verbo DAR. Concluindo, pode-
se esquematizar o sistema de concordância verbal, na LIBRAS, da seguinte maneira:
1. Concordância número-pessoal => parâmetro orientação; 2. Concordância de
gênero e número => parâmetro configuração de mão; 3. Concordância de lugar =>
parâmetro ponto de articulação (FELIPE, 2001).

O mesmo critério foi utilizado para nomes. O verbete aparece no masculino


singular – considerando como termo não marcado, neutro, para fins de entrada no
dicionário – e foi utilizado em outras formas (flexão de gênero, número ou grau) nos
exemplos.
153

Figura 67 – Exemplo do verbete Irmão

O verbete IRMÃO aparece no masculino, mas a questão de gênero em Libras


tem algumas particularidades. Em uma obra lexicográfica, o interessante é que se
repita, em outra entrada lexical, o verbete no feminino (IRMÃ), para que o pequeno
leitor surdo faça a relação de gênero e compreenda que o sinal usado tanto para o
feminino quanto masculino é o mesmo. Ao utilizarmos a imagem de duas crianças, o
recurso que elegemos para identificar o irmão foi uma seta vermelha.

Na tradução por mostrar a imagem no vídeo, o conceito seria: “PESSOA TER


PAI MAE MESMO OU PAI-1, OU MAE-1”. A frase mesmo na afirmativa, utiliza um
termo de comparativo. Na tradução temos: “IRMÃO MAIOR DO-QUE EU” ou “IRMÃO-
PRIMEIRO, EU-SEGUNDO”, a utilização do numeral 1 e 2 vai indicar que o irmão é
maior e o outro menor.

A Língua Brasileira de Sinais, também, possui comparativos utilizados a partir


de três situações: superioridade, inferioridade e igualdade. São usados os sinais MAIS
ou MENOS antes do adjetivo comparado, seguido da conjunção comparativa DO-
QUE, ou seja: comparativo de superioridade: (X) MAIS - DO-QUE (Y); comparativo de
inferioridade: (X) MENOS - DO-QUE (Y). O comparativo de igualdade pode ser usado
com dois sinais: IGUAL (dedos indicadores e médios das duas mãos roçando um no
outro), geralmente no final da frase. Na figura (66) abaixo temos o exemplo do sinal.
154

Figura 68 – Sinal para o comparativo de igualdade

Elegemos alguns verbetes que possuem especificidades diferenciadas com


relação à estrutura gramatical da Libras que merecem destaque, pois o professor irá
utilizar o DIBLIP em atividades didáticas em sala de aula com os alunos surdos e
essas questões merecem ser compreendidas pelo educador.

Pontuamos, nos exemplos abaixo, as seguintes características da estrutura


gramatical da Libras:

Parâmetros da língua

(01) Configuração de mãos

Figura 69 – Exemplo do verbete Azul


155

Os sinais da Libras são formados a partir dos parâmetros como já explanamos


no item 1.5 – Aspectos lexicais da Língua Brasileira de Sinais. No exemplo do verbete
Azul, temos um sinal que é um adjetivo. O sinal é formado por duas configurações de
mãos, CM1 em A e CM26 em L para se compor o sinal AZUL.

(02) Ponto de articulação

Figura 70 – Exemplo do verbete Cachorro

Os sinais configurados pelas mãos estão sempre dentro de um ponto


determinado, que pode ser de alguma parte do corpo onde o sinal toca ou no espaço
neutro a frente do sinalizante. O sinal para CACHORRO está relacionado à focinheira
que muitos usam, por isso o PA é a boca. Os sinais seguem regras de formação por
isso é importante salientar que o sinal do exemplo não poderá ser feito em outro local
a não ser a boca.
156

(03) Movimento

Figura 71 – Modelo do verbete Carro

O movimento do sinal é um parâmetro importante, pois imita o movimento do


referente. No sentido de mover, os movimentos dos sinais que incorporam os
classificadores ajudam uma melhor compreensão do sinal. Um carro tem movimento
diferente de um avião, uma bicicleta ou um trem e uma pessoa não andam do mesmo
jeito que os animais. No exemplo acima o carro está relacionado ao ato de dirigir que
imita o movimento circular do volante.

A tradução dessa frase, “CARRO PAI MEU FUSCA VERMELHO”, pode ser
feita também com a omissão do sinal carro, pois pela imagem do referente, fusca é
um carro, “FUSCA PAI MEU VERMELHO”. O conceito em Libras fica, CARRO USA
PESSOAS LEVAR – a palavra carro é usada em substituição a veículo que não tem
um sinal especifico em Libras.
157

(03a) Sinal sem movimento

Figura 72 – Exemplo do verbete Unha

Muitos sinais não possuem movimento, como o exemplo UNHA. Alguns sinais
utilizam apontação para indicar o referente como as partes do corpo. Olho, boca, nariz,
queixo não possuem um sinal especifico em Libras, então usa-se o apontar para o
referente e assim forma-se um sinal por esse meio.

(04) Orientação da mão

Figura 73 – Exemplo do verbete Avisar

A orientação da mão é outro parâmetro que merece uma atenção diferenciada.


Numa conversa, o sinalizante precisa sempre direcionar o olhar e a mão configurada
para o(s) interlocutor(es) que estão participando, também, da conversa, ou seja, o
158

sujeito¹ avisa ao sujeito² , exemplo do sinal na imagem, tanto podendo acontecer da


1ª, 2ª, 3ª pessoas do discurso (singular / plural) ou vice-versa.

(05) Expressão não manual

(05a) com expressão facial

Figura 74 – Exemplo do verbete Sono

05b) sem expressão facial

Figura 75 – Exemplo do verbete Tesoura

Os sinais podem ter ou não expressão facial. No exemplo do verbete SONO, a


expressão facial acompanha o ato de sentir sono, já TESOURA, temos um sinal sem
expressão facial por se referir a um objeto inanimado. A modalidade visual da Libras
faz com que ela seja sinalizada através de um referente, se estivéssemos nos
159

referindo a CORTAR, em Libras existem vários sinais que são usados para o ato de
cortar, por exemplo: cortar cabelo, cortar com a tesoura, cortar com a faca, cortar a
perna após um tombo. Num dicionário do tipo da nossa proposta, cada sinal desse
precisa de uma entrada numerada para mostrar os diferentes contextos de uso.

Processo de formação dos sinais

(1) Composição

Figura 76 – Exemplo do verbete Zebra

Um sinal que seja composto, a exemplo do verbete ZEBRA obrigatoriamente


virá acompanhado de duas ou mais imagens em Libras na entrada do dicionário.
Zebra é composto pelo sinal CAVALO mais LISTRA = “CAVALO^LISTRA”. Como
outros exemplos temos: CASA^ESTUDAR = escola, CASA^CARNE = açougue. Um
sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por duas ou
mais palavras, mas com a ideia de uma única coisa, serão separados pelo símbolo
(^). (FELIPE, 2001).
160

(2) Derivação

Figura 77 – Exemplo do verbete Avisar

Em Libras, o processo de formação de sinais por derivação pode acontecer


entre nomes e verbos. Assim, AVISO e AVISAR possuem a mesma composição e na
entrada do dicionário devem igualmente vir acompanhado de numeração para
diferenciar o conceito. Outros exemplos, a saber: CADEIRA-SENTAR; TELEFONE-
TELEFONAR diferenciam-se pelo movimento e direcionalidade. (FELIPE, 2001).

(3) Iconicidade

Figura 78 – Exemplo do verbete Árvore


161

A iconicidade é um aspecto bastante presenta na Libras. Muitos sinais se


assemelham ao objeto. O sinal de árvore é icônico, o braço lembra o tronco e a mão
configurada a copa de uma árvore. No verbete árvore temos a imagem de uma árvore
grade, o sinal em libras, conceito e frase. Ao traduzir o conceito, a palavra caule será
feita através da soletração manual, trata-se uma palavra que não tem sinal em Libras,
“ÁRVORE MADEIRA, TER C-A-U-L-E, FOLHAS+ FLOR+ FRUTA+ TER”, “ÁRVORE
TER FOLHA+ VARI@S”.

Muitos sinais icônicos na proposta do dicionário serão logo percebidos pelo


leitor, mesmo que ele não tenha conhecimento da Libras, pois utilizamos gestos na
comunicação e alguns deles são sinais em Libras, como é o caso de telefone, avião
entre outros.

(4) Empréstimos linguísticos

Figura 79 – Exemplo do verbete Sol

Assim como as línguas orais, as de sinais também ampliam seu léxico a partir
dos empréstimos linguísticos de outras Línguas. Mesmo com modalidade diferente, a
Libras forma sinais através do empréstimo linguístico do português. Sol é um exemplo,
pois é formado pela CM em S e L, letra inicial e final da palavra sol do português. Esse
fato é comum, pois duas línguas são utilizadas simultaneamente na escola e em
diferentes setores da sociedade.
162

No exemplo citado, a soletração da palavra sol não é possível, por isso nossa
opção foi repeti-la entre parênteses para que a criança compreenda que a palavra não
pode ser grafada separadamente.

(5) Marcação de gênero

Figura 80 – Exemplo do verbete Vaca

No exemplo VACA, temos um recurso que marca o gênero. Neste caso o leite
faz a referência pela produção do alimento pelo animal. Quando num diálogo entre
interlocutores a marcação de gênero pode acontecer utilizando-se o sinal de homem
ou mulher para indicar feminino ou masculino, por exemplo: “”eu tenho dois
cachorros”, no português o artigo “o” faz a marcação do gênero. Em Libras se o
interlocutor não está vendo o referente é necessário a inclusão do sinal “homem” para
que se saiba que os cachorros são machos. Já quando o interlocutor está visualizando
ou conhece o referente, essa estratégia é desnecessária.

Na proposta do DIBLIP, nossa opção é utilizar todas palavras com gêneros,


como Irmão, Irmã, avô, avó em várias entradas, numeradas e com a imagem
correspondente.
163

(6) Classificador

Figura 81 – Exemplo do Verbete Pintar

Alguns sinais, como o exemplo PINTAR são incorporados na nossa proposta


por meio de um classificador. Para o verbete pintar, temos várias entradas: pintar
parede, pintar unha, pintar o cabelo, pintar o rosto, pintar o quadro etc, todos com
entradas diferentes, pois utilizam classificadores, também diferentes.

Em Libras, o classificador é um tipo de morfema, utilizado através das


configurações de mãos que podem ser afixados a um morfema lexical (sinal) para
mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal para descrevê-lo quanto à
forma e tamanho ou para descrever a maneira como esse referente se comporta na
ação verbal (semântico).

Nas línguas de sinais, os classificadores são representados por configurações


de mãos usadas para expressar formas de objetos, pessoas e animais, bem como os
movimentos e trajetórias percorridas por eles (DIAS e SOUSA, 2011). De acordo com
os estudos de Supalla (1982), existem classificadores de tamanho e forma (espessura
– fino, médio e grosso); de entidades (pessoas passando, caminhando, carros ou
motos se locomovendo); que utilizam as mãos (incluindo verbos manuais e verbos
classificadores) como: pincelar, pegar folha ou livro, passar roupa. (SANDLER e
LILLO-MARTIM, 2006; FERREIRA-BRITO,1995)
164

Pizzio, et al. (2010) apresentam cinco tipos de classificadores encontrados na


Libras, os quais podem envolver apenas uma mão ou ambas. São eles:
Classificadores descritivos: as descrições visuais podem ser captadas de acordo
com as imagens dos objetos animados ou inanimados. Observam-se aspectos tais
como: som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, olhar, sentimentos ou formais
visuais, bem como localização e a ação incorporada ao classificador. Essa
classificação pode ter até três dimensões: dimensional, bidimensional e
tridimensional.

Na descrição visual para referir a forma, tamanho, textura, paladar, cheiro,


sentimentos, olhar ou desenhos de forma assimétrica ou simétrica é utilizada,
dependendo a situação, uma ou duas mãos. O classificador descritivo locativo envolve
uma ação de um a outro objeto, seja animado ou inanimado. São usados com uma ou
duas configurações de mãos seja uma ação ou posição de várias partes do corpo
humano, objetos animados ou inanimados.

Classificadores especificadores: a sua função é descrever visualmente a forma, o


tamanho, a textura, o paladar, o cheiro, os sentimentos, o “olhar”, os “sons” do
material, do corpo da pessoa e dos animais.

Há também os classificadores que especificam elementos gasosos, a descrição


de símbolos e nomes (logomarcas), números relacionados ao objeto animado e
inanimado.

Quando os classificadores indicam plural, a configuração de mão substitui o


objeto, mas acontece num processo de repetição. Ao classificar instrumentais - a
incorporação do objeto (instrumento) descrevendo a ação gerada por ele. O
classificador para corpo descreve como uma ação acontece na realidade por meio da
expressão corporal de seres animados.

Quanto ao papel dos classificadores, temos aqueles relacionados à semântica,


quando há descolamento de um para outro lugar, ou quando se associa com
diferentes formas de olhar. Nesse caso apresenta diferentes significados, como em
carro passando.
165

Para o caso de homonímia, um classificador pode apresentar diferentes


significados, embora tenha a mesma forma (pessoa deitada, que caiu, dormindo ou
trocando de lugar na cama). Se o classificador está associado à sintaxe, a Libras
apresenta vários casos de incorporação de argumento ou complemento. Esse
processo é muito frequente e visível a devido às características espaciais e icônicas
dos sinais. O tipo de classificador de incorporação, o referente (prato, rosto por
exemplo) será incorporado pelo verbo e teremos formas verbais diferentes; é o tipo
de classificador de incorporação (lavar prato, rosto, cabelo, carro, roupa). Para a
incorporação do modo e aspecto, temos andar (devagar, depressa, distraída, com
atenção, subindo, descendo). A incorporação de locativo, a saber: colocar copo na
mesa ou colocar o copo no armário. (FELIPE, 2001).

Quando às questões relacionadas à morfologia, os classificadores podem


indicar moedas com diferentes formas e tamanho, direção para frente com diferentes
movimentos (ondulado, plano, ziguezague, esburacada entre outros). (FELIPE, 2001).

(7) Adjetivos

Figura 82 – Exemplo do verbete Feliz

Algumas entradas de nome no dicionário são adjetivos como no exemplo


FELIZ. Em nossa proposta não optamos pela classe gramatical, pois, para os
dicionários do Tipo 1 de acordo com o PNLD, esse tipo de entrada não é necessário,
especialmente porque o objetivo desse tipo de obra é a alfabetização inicial.
166

Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na Libras e sempre
estão na forma neutra, não havendo, portanto, nem marca para gênero (masculino e
feminino), em para número (singular e plural). Muitos adjetivos, por serem descritivos
e classificadores, apresentam iconicamente uma qualidade do objeto, desenhando-a
no ar ou mostrando-a a partir do objeto ou do corpo do emissor. (FELIPE, 2001).

Em português, quando uma pessoa se refere a um objeto como sendo


arredondado, quadrado, listrado, etc., está, também, descrevendo e classificando,
mas na Libras esse processo é mais “transparente” porque o formato ou textura são
traçados no espaço ou no corpo do emissor, em uma tridimensionalidade permitida
pela modalidade da língua. (FELIPE, 2001)

Em relação à colocação dos adjetivos na frase, eles geralmente vêm após o


substantivo que qualifica. Como exemplo temos as frases: CASA COR AZUL BONIT@
- a casa azul é bonita / CACHORR@ PEQUEN@ ESPERT@ - o cachorro pequeno é
esperto.

3.1.2.6 Exemplos

Para os exemplos, nosso objetivo é apresentar o verbete no contexto de uso


em Libras (vídeo) e na escrita para o português. Tais exemplos foram criados de
situações do cotidiano das crianças.

O texto é apresentado numa fonte distinta do verbete e da definição para


diferenciá-los. Ao lado da frase aparece a imagem de uma mãozinha indicando o
exemplo.

Os exemplos estão em português na versão impressa e traduzidos em Libras


no DVD.

Em nossa proposta optamos por exemplos de frases na afirmativa, pois


optarmos pela elaboração de um dicionário do Tipo 1, a questão mais relevante é a
alfabetização tanto em Libras por meio da aquisição da Libras e do aprendizado da
167

escrita da língua portuguesa. A proposta do dicionário não é enfocar a classe


gramatical como já comentamos anteriormente, mas fazer, também que a criança
adquira a Libras. Nesse caso, ao usarmos diferentes tipos de frases em português, na
Libras elas se estruturariam de forma diferente. Na fase em que a criança se encontra
no processo de escolarização não enfatiza, ainda, as questões gramaticas, mas o
aprendizado da escrita do português através do som da palavra. Da mesma forma,
em Libras, a criança está passando por estágios para aquisição da língua e, em nossa
opinião, as frases diretas na afirmativa facilitam esse processo. Diferentes tipos de
frases caberiam aos dicionários do Tipo 2, onde a criança já consegue ler e
compreender o sentido do verbete.

A Libras possui um sistema de estruturação frasal, semelhante à língua


portuguesa, mas que utiliza a expressão facial para marcação do tipo. Os exemplos
abaixo nas imagens esclarecem melhor a compreensão de como acontecem.

Quando a frase é afirmativa, a expressão facial neutra.

Figura 83 - Ex.: MEU NOME S-Y-L-V-I-A

EU PROFESSOR@

Na interrogativa, as sobrancelhas são franzidas e há um ligeiro movimento da


cabeça inclinando-se para cima.

Figura 84 - Ex.: VOCÊ CASAD@?

NOME QUAL?

NOME?
168

A exclamativa, as sobrancelhas são levantadas e um ligeiro movimento da


cabeça acontece inclinando-se para cima e para baixo.

Figura 85 - Ex.: CARRO BONIT@!

EU VIAJAR RECIFE, BOM!

A frase negativa pode ser feita de 3 formas:

1) Com o acréscimo do sinal NÃO à frase afirmativa.

Figura 86 - Ex.: BLUSA FEI@ COMPRAR NÃO.

EU OUVIR NÃO

PRECISAR / PRECISAR-NÃO.

2) Com a incorporação de um movimento contrário ao sinal negado. Como exemplo,


GOSTAR / GOSTAR-NÃO - GOSTAR-NÃO CARNE, PREFERIR FRANGO, PEIXE.

3) Com um aceno da cabeça que pode ser feito simultaneamente com a ação que
está sendo negada ou juntamente com os processos acima. Por exemplo, PODER /
PODER-NÃO; EU VIAJAR PODER(neg)

Na Libras ainda existe a frase Negativa/Interrogativa, onde as sobrancelhas


franzidas e com aceno da cabeça negando (CASAD@ EU NÃO?); e
Exclamativa/Interrogativa (VOCÊ CASAR?!)

Elencamos abaixo, alguns exemplos de frases que escolhemos para os


verbetes com transcrição para a Libras.
169

Figura 87 – Exemplo do verbete Bebê, Família e Gostar

“BEBÊ QUERER ANDAR LOGO”

FAMÍLIA MEU GRANDE, TER CACHORRO FOFO

MENIN@ GOSTAR CACHORRO DEL@

Nos três exemplos acima, as frases são afirmativas e fazem a relação com o
objeto por meio da imagem. A frase realizada em Libras apresentará por meio do vídeo
170

todos o contexto frasal cabível, bem como sua estrutura e parâmetros do sinal, o que
não é possível captar quando é transcrita.

3.1.2.7 Imagens

As imagens de cada verbete estão adequadas a cada significação e é um


diferencial na nossa proposta. Os leitores poderão tanto descobrir o significado por
meio de definições, quanto descobrir os verbetes por meio das ilustrações.

As imagens reais e em tamanho maior colaboram para um melhor


entendimento do significado dos sinais e palavras, pois mostram situações reais
parecidas com as que a criança vive na sociedade.

Todas as imagens fazem parte do mundo da criança especialmente àquelas


que têm mais significação para elas. Todos os verbetes selecionados possuem
ilustrações.

Utilizamos para compor os verbetes de nossa proposta pessoas reais (adultos),


mas nossa sugestão é que as imagens dos sinais sejam feitas por crianças e as
explicações das frases por adultos. Esta opção, em nossa opinião, é mais significativa
devido à identificação da criança (leitor) com a criança (sinalizante) fazendo os sinais
e com os adultos, sinalizando para explicar as situações do cotidiano, pois na escola
a identificação acontece com os professores e em casa com os pais, ambos adultos.

As imagens utilizadas para contextualizar o sinal e palavra nessa proposta


foram retiradas de banco de dados, o dreamstime25 e todas são gratuitas.

25 Fonte: www.dreamstime.com
171

Figura 88 - Exemplo da imagem dos verbetes Remédio, Quebrar e Olhar


172

3.1.2.8 Campos temáticos

Foram selecionados sinais e palavras de domínio público, abordando um léxico


mais geral. Os sinais e palavras escolhidas independem de sua complexidade na
constituição do sinal ou na escrita, pois foram privilegiados usos e significados mais
correntes nas línguas.

Para nossa proposta, selecionamos os verbetes de acordo com os seguintes


campos temáticos: alimentação, animais, brinquedos e brincadeiras, escola, esportes,
família e transportes.

Optamos por incluir 3 exemplos de imagem por campo temático do dicionário


para uma melhor visualização do sinal em Libras.

Figura 89 – Exemplo do campo temático Animal


173

3.2 – Versão DVD

Nossa proposta foi pensada para ter incluso um DVD com a tradução do
verbete, do conceito do verbete e dos exemplos das frases. Como estamos tratando
de uma língua visual, é importante que a criança também tenha acesso ao formato
visual da proposta, pois facilitará sua compreensão e aprendizado.

O DVD será feito para ser utilizado no computador ou aparelho de DVD caseiro
e constará de: tela de abertura, tela com a lista de verbetes, tela de tradução com o
sinal e conceito do verbete e tela com a tradução das frases.

A seguir faremos uma explanação mais detalhada dessas partes.

3.2.1 Tela de Abertura

A tela de abertura é composta por um menu contendo as letras do alfabeto de


Libras, pois, no material impresso, a criança já terá aprendido as letras.

Ao escolher uma letra, automaticamente será acionada outra tela com uma lista
de verbetes correspondentes a letra selecionada.

Na barra de ferramentas abaixo vem o nome do dicionário (figura 83).


174

Figura 90 – Tela de abertura do DVD

3.2.2 – Tela com a lista dos verbetes

Ao clicar na letra desejada, a criança será direcionada para outra tela com a
lista de verbetes escritos em português (Figura 84) e com um quadro no canto superior
direito com o sinal da letra selecionada.

Na barra de ferramentas, parte inferior da tela, a criança encontra um ícone


com a imagem de casa, a palavra menu e a numeração de quantas páginas tiverem
os verbetes. Optamos por colocar 12 (doze) palavras por página, divido em dois
grupos de 6 (seis). No caso de verbetes não terem muitos sinais essa organização
diminui.
175

Figura 91 – Tela com lista de verbetes

Ao clicar em menu, a criança retorna a página inicial com as letras do alfabeto


em Libras. Clicando na numeração, ela encontrará mais listas de verbetes.

3.2.3 Tela de tradução do sinal e do conceito do verbete.

Ao escolher um verbete, a criança é direcionada para outra tela onde poderá


ver o sinal do verbete e a tradução de seu conceito. (Figura 91)
176

Figura 92 – Tela de tradução do sinal e do conceito do verbete

Na barra de ferramenta, a criança poderá optar por voltar à página anterior e


escolher outra palavra ou simplesmente desligar o programa e ainda seguir para a
próxima página clicando em frase. Do lado direito da tela aparece as quatro formas
de grafar a letra correspondente e no alfabeto de Libras igual ao material impresso,
incluindo na mesma cor.

3.2.4 Tela de tradução das frases

Nessa tela, aparecerá a tradução da frase em Libras. Do lado do sinalizador,


vem a imagem do verbete e a frase em português.
177

Figura 93 – Tela de tradução das frases

A opção agora é retornar ao menu principal, buscar outra palavra ou fechar o


programa.

Todas essas etapas foram pensadas cuidadosamente visando elaborar um


material que cumpra os objetivos traçados em nossa proposta. Na etapa seguinte,
finalizaremos nosso trabalho apresentando nossas conclusões.
178

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Barbosa (1980, p. 264), a elaboração de um dicionário não é um


trabalho fácil, pois organizar o léxico de forma que o mesmo possa servir a diferentes
finalidades cabe à Lexicografia, mas, é o ator principal, o Lexicógrafo, o maior
responsável pela obra, cujo fim é o de recolher “o tesouro lexical da língua num dado
momento da história de um grupo social” (BIDERMAN, 2001, p. 132).

Como afirma Krieger (1993, p. 10), o dicionário é “um texto que fala da cultura,
revelando um universo semântico-cultural através das unidades lexicais que o
compõem”. Concordamos com o autor e vamos mais além, o dicionário é registro e
informação de uma língua.

A iniciativa do PNLD/MEC fez surgir um novo cenário no contexto escolar e


nele um novo “modelo de dicionário”. Uma obra didática que pode auxiliar professores
e alunos nas suas atividades de ensino e aprendizagem do léxico. Esses dicionários
foram elaborados considerando-se um público específico e buscavam suprir suas
necessidade e especificidades próprias.

Podemos dizer que esse foi o ponto de partida para a elaboração de nossa
proposta, o público. Desde a primeira vez que começamos a estudar Libras e dos
longos anos em sala de aula com alunos surdos, o desejo de elaborar material didático
para ser utilizado na educação surdos sempre esteve presente em nós.

O desejo foi se consolidando com os estudos advindos do doutorado. Os


conhecimentos adquiridos com a área da lexicografia e da Língua Brasileira de Sinais
através do trabalho de vários autores como citamos ao longo dos capítulos da tese,
nos fez chegar a proposta de Dicionário Infantil Bilíngue Libras/Português – o DIBLIP.

Hoje sabemos da importância dos dicionários e compreendemos que eles não


têm relação com o seu tamanho e quantidade de palavras ou sinais, mas sim, como
afirma Pontes (2009, p.230), essas obras são “destinadas a um público específico,
com necessidades diferentes em relação àquele que consulta os outros tipos de
179

dicionários”. Desse modo, podemos afirmar que um bom dicionário deve atender às
especificidades dos seus usuários considerando também suas particularidades.

Crianças surdas, elas são nosso público. Pensar numa proposta de dicionário
que desse conta de toda particularidade inerente a essa criança foi nosso grande
desafio. E mesmo já convivendo com pessoas surdas há quase duas décadas, a
nossa experiência de não ser surda nos revela a incompletude de nosso saber. Isso
nos fez refletir sobre que tipo de obra melhor se adequaria ao perfil de nosso público
e o quanto necessitamos de coparceiros: os surdos!

Vivemos atualmente um momento ímpar na educação de pessoas surdas,


especialmente com a abertura que o reconhecimento da Libras traz para a área
educacional e linguística. O modelo bilíngue de educação vem possibilitando novos
olhares para o desenvolvimento educacional da criança surda, mas a área ainda é
carente em termos de produção de material didático adequado as especificidades
linguísticas da pessoa surda e que seja, também, acessível em Libras.

O DIBLIP é uma proposta que reconhece a diferença linguística da pessoa


surda, sua cultura e identidade quando traz a Libras como sua primeira língua, e a
língua portuguesa como L2 na modalidade escrita. Para chegarmos a ela, um longo
caminho foi percorrido, um debruçar de horas em estudos teóricos e na análise de
diferentes tipos de dicionários de línguas para crianças; monolíngues, bilíngues,
trilíngues, orais, visuais, impressos, digitais, online, ilustrados e semi-ilustrados. Mas
a base de tudo foram os critérios do PNLD para elaboração dos dicionários do Tipo 1,
ou seja, aqueles voltados a alunos do 1º ano do Ensino Fundamental 1 em processo
de alfabetização inicial. Foi quando pensamos em propor a elaboração de uma obra
desse tipo em Libras.

Não podemos esquecer de forma alguma que, para elaboração de uma obra
desse tipo, a questão visual é, sem dúvida, importantíssima! Estamos tratando de uma
língua visual-gestual e as escolhas lexicais devem estar adequadas e essa
necessidade. A pessoa surda recebe toda forma de conhecimento através de sua
experiência visual, bem como seu aprendizado deve servir da língua que facilita e
constrói seu conhecimento de mundo: a Libras.
180

Nossa proposta teve, ao longo de sua execução, diversas preocupações:


evidenciar no dicionário, por meio da organização dos verbetes, os conceitos dos
sinais e das palavras, apresentar definições em uma linguagem acessível,
possibilitando ao consulente apreender o significado daquilo que procura, sem ter que
buscar consultas complementares ou sucessivas; apresentar exemplos úteis
contextualizados com o cotidiano da criança. E, principalmente por propormos uma
obra em duas modalidades distintas de línguas, como poderíamos formatá-lo para
atender a necessidade do pequeno aprendiz surdo.

E foi refletindo sobre isso que não poderíamos propor algo em formato apenas
impresso. A Libras tem toda uma especificidade no seu processo de sinalização, em
especial as configurações de mãos e os movimentos. É possível sua formatação em
papel, mas não é adequado ao nosso público alvo. Mesmo utilizando setas indicativas
de movimentos e tentando fotografar ou desenhar o sinal, sempre fica algo que não
se consegue visualizar. Dessa forma, a melhor opção foi a tradução do dicionário em
Libras, em formato de DVD para a criança poder compreender a sinalização através
do vídeo. E foi isso que fizemos e acreditamos que acertamos em nossa escolha.

A lexicografia bilíngue é uma ciência recente e as metodologias propostas


ainda não dão conta das particularidades das línguas. A área pode ser pensada para
as línguas visuais e inúmeras são as possibilidades de criação de dicionários bilíngues
em Libras, ainda mais com os recursos tecnológicos dos quais dispomos atualmente,
os dicionários de infantis em Libras podem encontrar apoio para que sua estrutura
possa suprir as necessidades do aluno surdo.

Acreditamos que nossos objetivos foram atingidos e que nossa proposta


poderá ser uma iniciativa aos olhos daqueles interessados em novas conquistas no
fascinante mundo da lexicografia. Que nossa proposta seja a primeira de muitas
outras de diferentes tipos e que contribua de fato para o aprendizado da criança surda
e trabalho do professor em sala de aula.
181

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186

APÊNDICE

Obras lexicográficas
Livro ilustrado de Língua Brasileira de
Sinais DEIT/Libras Sinais
Vol. 1 Vol. 2 Vol. 3
Abacaxi x
Abelha X
Abraçar X
Abraço X
Abril X
Acender X
Achar x
Acordar X
Açúcar X
Adulto X
Aeroporto X
Agora x
Agenda X
Agosto X
Água X
Álbum X
Alegre X
Algodão X
Alimento X
Almoço X
Alto X
Amanhã X
Amarelo X
Ambulância X
Amigo X
Amor x
Andar X
Anel X
Aniversário X
Ano X
Antes X
Apagar X
187

Apartamento X
Apito X
Aprender X
Aqui X
Areia X
Arrumar X
Árvore X
Atleta X
Atrasado x
Aula X
Ave x
Avião X
Avisar X
Avó X
Azul X
Bagunça X
Baixo X
Bala X
Balança X
Baleia X
Bambolê X
Banana X
Banco X
Bandeira X
Banheiro x
Barato X
Barco X
Barraca X
Barulho X
Batata Frita X
Batata X
Basquete X
Bebê X
Bermuda X
Bicho de pelúcia X
Bicicleta X
Biscoito X
Bode X
Boi X
188

Bola X
Bola de gude X
Bolsa X
Bom X
Bom dia X
Boa tarde X
Boa noite X
Boné X
Boneca X
Bonito x
Borboleta x
Borracha X
Branca de neve X
Branco X
Brigadeiro X
Brincadeira de roda X
Brincar X
Buraco X
Cabelo x
Cachorro X
Café X
Cadeira X
Cair X
Caju X
Calça x
Calmo X
Calor X
Cama X
Caminhão X
Camisa X
Campo X
Canoa X
Cansado X
Cantar X
Caracol X
Carangueijo X
Carne X
Caro X X
Carro X X
189

Casa X X
Casaco X X
Castelo X X
Castigo X x
Cavalo X
Cebola X
Cedo X
Cego x
Cenoura X
Certo X
Céu X
Chá X
Chamar X
Chapéu X
Chapeuzinho X
vermelho
Chave X
Cheirar x
Chocolate
Chover X
Chuva X
Cidade X
Cima X
Cinderela X
Cinema X
Cinto X
Cinza X
Circo X
Cobra X
Coelho X x
Colégio X
Colher x
Comer X
Computador X
Conhecer X
Consertar X
Conversar x
Corpo X
Coruja X
190

Criança X
Cuidar X
Dançar X
Dar X
Demorar X
Dentro X
Depois X
Desculpa X
Devagar X
Dezembro X
Dia X
Diálogo X
Diferente X
Difícil X
Dinheiro X
Dividir X
Doce X
Doente X
Dois X
Dor X
Dormir X
Duro X
Duzentos X
Educação X
Educar X
Elefante x
Embaixo X
Emprestar X
Embora X
Encontrar X
Endereço x
Energia X
Enganar X
Ensinar X
Entender X
Entrar X
Entregar X
Errado X
Enxugar X
191

Errar X
Escada X
Escova X
Escrever X
Escola X
Escuro X
Escutar X
Esperar X
Esquecer x
Estragar
Estrela X
Estudar X
Exemplo X
Exercício X
Explicar X
Fábrica X
Fácil X
Falar X
Faltar X
Família X
Fantasma X
Farmácia X
Farol X
Fazenda X
Feijão X
Feio X
Feliz X
Feminino X
Feriado X
Férias x
Ferro X
Ferver X
Festa X
Fevereiro X
Filha X
Filme X
Fim X
Fio X
Flauta X
192

Flor X
Fogão X
Fogo X
Folha X
Fome X
Fora X
Formiga X
Forte X
Foto X
Fraco X
Frente X
Frio X
Fruta X
Fugir X
Futebol X
Futuro X
Galinha X
Ganhar X
Garrafa X
Gastar X
Gato X
Geladeira X
Gêmeo X
Girafa X
Gol X
Gordo X
Gostar X
Grama X
Gravar X
Gritar X
Guarda-chuva X
Guardar X
Helicóptero X
Hoje X
Homem X
Hora X
Hospital X
Humano X
Idade X
193

Igual X
Ilha X
Imaginar X
Importante X
Índio X
Informar X
Interessante X
Inverno X
Imã X
Ir X
Jacaré X
Jangada X
Janeiro X
Jantar X
Jornal X
Jovem X
Julho X
Junho X
Juntar X
Lago X
Lâmpada X
Lanche X
Lanterna X
Lápis X
Laranja X X
Lavar X X
Leão X X
Leite X X
Lençol X X
Ler X X
Limão X X
Limpo X X
Lindo X X
Livro x X
Lixo X
Lua X X
Luz X X
Maçã X X
Macaco X X
194

Macarrão X X
Macio X X
Madeira X X
Madrinha X X
Mãe X X
Maio x X
Mamão X
Manga x
Manhã
Máquina X
Mar X
Marrom X
Medo X
Meia X
Melancia X
Melhor X
Menina X
Mentira x X
Mês X
Mesa x
Metrô x
Milho X
Mochila X
Morango X
Morar X
Mosca X
Mulher X
Mundo X X
Nadar X X
Nascer X X
Navio X X
Noite X X
Nome x X
Novo X
Nove X
Noventa X
Novembro X
Nu X
Nuvem X
195

Obedecer X
Óculos X
Olhar X
Ônibus X
Ontem X
Outono X
Outubro X
Ouvir X
Ovo X
Onze X
Pá X
Padrinho X
Pagar X
Pai X
Pais X
Palhaço X
Pão X
Papagaio X
Papel X
Passar X
Pássaro X
Pato X
Patinho feio X
Pedra X
Peixe X
Pegar X
Pente X
Pequeno X
Perder X
Pesado X
Perto X
Pescar X
Pinguim X
Pintar X
Pipoca x
Planta X
Pobre X
Poder X
Policia X
196

Ponte X
Porco X
Porta X
Praça X
Praia X
Prato X
Precisar X
Preguiça X
Primavera x
Professor X
Pular X
Puxar X
Quadro X
Quarta-feira X X
Quarto X x
Quebrar X
Queijo X
Quente X
Quinta-feira X
Quatorze X
Quinze X
Querer X
Rádio X
Rainha X
Rápido X
Rapunzel X
Rasgar X
Rato X
Rede X
Régua X
Rei X
Relâmpago X
Relógio X
Remédio X
Repetir X
Resfriado X
Responder X
Revista X
Rico X X
197

Rir X X
Robô X X
Roupa X X
Rua X X
Ruim X X
Sábado X X
Sabonete X X
Saber X X
Saci X X
Sacola X X
Sair X X
Sanduiche X X
Sapato X
Saudade X
Saúde X
Secar X
Segredo X
Segunda-feira X
Seis X
Semana X
Separar X
Sereia X
Sessenta X
Sete X
Setembro X
Setenta X
Sexta-feira X
Sinal X
Sol X
Sono X
Sorvete X
Sorrir X
Sozinho X
Subir X
Suco X
Sujo X
Suor X
Supermercado X X
Surdo X X
198

Susto X X
Talvez X X
Tamanduá X X
Tamanho X X
Tangerina X X
Tartaruga X X
Tatu X X
Teatro X X
Telefone X X
Televisão X X
Temperatura X X
Tempo X X
Tênis X X
Ter X X
Terça-feira X X
Terra X
Tesoura X
Tia X
Toalha X
Tomate X
Torneira X
Trabalho X
Tranquilo X
Travesseiro X
Trem X
Trinta X
Triste X
Três X
Tubarão X
Tucano X
Turma X X
Último X X
Um X X
Unha X X
Usar X X
Uva X X
Vaca X X
Vapor X X
Vassoura X X
199

Vela X X
Velho X X
Vencer X X
Vender X X
Vento X X
Ver X X
Verdade X X
Vermelho X X
Viagem X X
Vida X X
Vidro X X
Vinte X X
xVisitar X
Vizinho X
Vxôlei X
Voltar X
Xadrez X
Xampu X
Xícara X
Xixi X
Zebra X
Zero X
Zíper X
Zoológico X
200

Quadro com os sinais de Libras selecionados de acordo com o campo temático

Alimentos Animais Brinquedos e Esportes Escola Família Transportes


brincadeiras
Abacaxi Abelha Bola Basquete Aluno Irmão Avião
Açúcar Baleia Bola de Gude Futebol Bolsa Filha Barco
Ave Bode Bambolê Natação Borracha Mãe Bicicleta
Banana Boi Boneca Tênis Colégio Madrinha Caminhão
Café Cachorro Brincadeira de Vôlei Computador Padrinho Canoa
Caju Cavalo roda Xadrez Lápis Pai Carro
Carne Cobra Balão Lanterna Tia Helicóptero
Cebola Coelho Circo Livro Jangada
Cenoura Coruja Escada Mesa Metrô
Chá Elefante Flauta Mochila Navio
Chocolate Galinha Palhaço Papel Ônibus
Feijão Gato Robô Professor Trem
Laranja Girafa Quadro
Leite Jacaré Régua
Limão Leão Revista
Maçã Macaco Turma
Mamão Papagaio
Manga Pássaro
Melancia Pato
Milho Peixe
Morango Porco
Pão Rato
Peixe Tamanduá
Pipoca Tatu
Queijo Tubarão
Sorvete Tucano
Suco Vaca
Tangerina Zebra
Tomate
Uva
201

ANEXO

MODELO DO DIBLIP
202
203
204
205
206
207
208
209
210
211
212
213
214
215
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227
228

Sistema de Transcrição para a LIBRAS

A LIBRAS será representada a partir das seguintes convenções:

1. Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação, serão representados por itens


lexicais da Língua Portuguesa (LP) em letras maiúsculas. Exemplos: CASA,
ESTUDAR, CRIANÇA, etc;

2. um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será
representado pelas palavras correspondentes separadas por hífen. Exemplos:
CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO "não querer", MEIO-DIA, AINDA-NÃO, etc;

3. um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por
duas ou mais palavras, mas com a idéia de uma única coisa, serão separados pelo
símbolo ^ . Exemplos: CAVALO^LISTRA “zebra”;

4. a datilologia ( alfabeto manual), que é usada para expressar nome de pessoas, de


localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela
palavra separada, letra por letra por hífen. Exemplos: J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A;

5. o sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por empréstimo,
passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com uma
incorporação de movimento próprio desta língua, está sendo representado pela
datilologia do sinal em itálico. Exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”, N-U-NC-
A, etc;

6. na LIBRAS não há desinências para gêneros (masculino e feminino) e número


(plural), o sinal, representado por palavra da língua portuguesa que possui estas
marcas, está terminado com o símbolo @ para reforçar a idéia de ausência e não
haver confusão. Exemplos: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” , FRI@ “fria(s) e frio(s)”,
MUIT@ “muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”, ME@
“minha(s) e meu(s)” etc;

7. Os traços não-manuais: expressões facial e corporal, que são feitos


simultaneamente com um sinal, estão representados acima do sinal ao qual está
229

acrescentando alguma idéia, que pode ser em relação ao: a) tipo de frase ou advérbio
de modo: interrogativa ou... i ... negativa ou ... neg ... etc

Para simplificação, serão utilizados, para a representação de frases nas formas


exclamativas e interrogativas, os sinais de pontuação utilizados na escrita das línguas
orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?! b) advérbio de modo ou um intensificador: muito
rapidamente exp.f "espantado" etc;

9. os verbos que possuem concordância de lugar ou número-pessoal, através do


movimento direcionado, estão representados pela palavra correspondente com uma
letra em subscrito que indicará:

a) a variável para o lugar: i = ponto próximo à 1a pessoa, j


= ponto próximo à 2a pessoa, e k´ = pontos próximos à 3ª
pessoas, e = esquerda, d=
direita;

10. Às vezes há uma marca de plural pela repetição do sinal. Esta marca será
representada por uma cruz no lado direto acima do sinal que está sendo repetido:
Exemplo: GAROTA +

11. quando um sinal, que geralmente é feito somente com uma das mãos, ou dois
sinais estão sendo feitos pelas duas mãos simultaneamente, serão representados um
abaixo do outro com indicação das mãos: direita (md) e esquerda (me).

FONTE: Felipe (2011)

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