UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE COMUNICAO E EXPRESSO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ESTUDOS DA
TRADUO

FERNANDA DE ARAJO MACHADO

SIMETRIA NA POTICA VISUAL NA LNGUA DE

SINAIS BRASILEIRA

FLORIANPOLIS
2013
 FERNANDA DE ARAJO MACHADO

SIMETRIA NA POTICA VISUAL NA LNGUA DE

SINAIS BRASILEIRA

Dissertao submetida ao programa

de Ps-Graduao em Estudos da
Traduo da Universidade Federal
De Santa Catarina, como requisito
final para obteno do grau do
mestre em traduo.

Orientadora: Prof Dr Ronice Muller

de Quadros

FLORIANPOLIS
2013
 Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor,
atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria da UFSC.

Araujo, Fernanda Machado de

Simetria na Potica Visual na Lngua de Sinais Brasileira / Fernanda de
Arajo Machado ;orientador, Ronice Muller de Quadros
- Florianpolis, SC, 2013.
149 p.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro
de Comunicao e Expresso. Programa de Ps-Graduao em Estudos da
Traduo.
Inclui referncias
1. Estudos da Traduo. 2. Libras. 3. Poesia. 4.Simetria, 5. Traduo. I. de
Quadros, Ronice Muller de. II. Universidade Federal de Santa Catarina.
Programa de Ps-Graduao em Estudos da Traduo. III. Ttulo.
 FERNANDA DE ARAJO MACHADO

Simetria na Potica Visual na Lngua de Sinais Brasileira

Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do Ttulo

de mestre, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-
Graduao em Estudos da Traduo, da Universidade Federal de
Santa Catarina.

Florianpolis, 1 de Abril de 2013

Banca Examinadora

________________________________________
Prof. Dra. Ronice Muller do Quadros (Orientadora)
Universidade Federal de Santa Catarina UFSC

_________________________________________
Prof. Dra. Rachel Sutton-Spence (Membro externo)
Bristol University

_______________________________________
Prof. Dr. Markus Weininger (Membro interno)
Universidade Federal da Santa Catarina UFSC
Programa de Ps-graduao em Estudos da Traduo

_______________________________________
Prof. Dr. Alckmar Luiz dos Santos (Membro interno)
Universidade Federal da Santa Catarina UFSC
Programa de Ps-Graduao em Literatura
DEDICATRIA

Aos meus pais, pelo amor, orgulho

e pelos conselhos dados ao longo
da vida, para que eu conseguisse
atingir meus objetivos, isso foi
essencial. A mestra Rosangela
Ramos pelo incentivo aos estudos.
 AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeo a Deus por ter me dado fora e

coragem para seguir at o fim dessa jornada.
Aos meus pais, Paulo e Leila, que sempre incentivaram meu
desenvolvimento acadmico e me fizeram sentir prazer em estudar.
Tenho muito orgulho de ser sua filha.
Aos meus irmos, Viviane, Rodrigo e Daniel, por todo o amor,
carinho e ateno a mim dispensados, por nossa unio e trocas nesse
perodo.
Aos meus avs paternos e maternos que, durante toda vida,
ensinaram-me a guardar os valores. Vocs estaro para sempre no meu
corao.
Aos meus professores Luciane Rangel, por ter me levado para o
Centro Educacional Pilar Velazquez, local fundamental para o meu
crescimento profissional; ao Mestre Nelson Pimenta, meu primeiro
professor de teatro, que ajudou a me construir enquanto atriz, poetiza e
contadora de histrias; Doutora Ana Regina e Souza Campello, que
me ensinou os melhores caminhos na pesquisa.
universidade Federal de Santa Catarina UFSC, e ao
Programa de Ps- Graduao em Estudos da Traduo PGET, pelo
perodo de estudo e oportunidades de crescimento acadmico.
Rosangela Ramos (In memoriam), por ter aceitado fazer a
traduo do artigo sobre Folclore Surdo da obra Estudos Surdos e pelo
tempo que trabalhamos juntas.
Aos americanos, Ella Lentz, Ben Bahan, Marlon Kuntze e
Clayton Valli(In memoriam), que ensinaram a me constituir enquanto
poetiza.
s amigas Debora Campos Wanderley e Priscila Xavier, pelos
nossos perodos de estudo e trocas que ajudaram a construir nossas
pesquisas.
minha Orientadora, Doutora Ronice de Quadros, por ter me
aceitado como orientanda e por todas as contribuies feitas a este
trabalho, alm dos conselhos que me fizeram abrir os olhos para o
mundo da poesia.
Ao professor Markus Weininger, pela dinmica de suas aulas e
por optar que a disciplina fosse realizada em Lngua Brasileira de Sinais,
o que contribui para meu trabalho.
famlia Gregory, que, mesmo distncia, sempre esteve
comigo, dando-me amor e carinho.
 A toda comunidade carioca, pelas experincias que vivi, em
especial ao Centro Educacional Pilar Velazquez, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, ao TBS, ao CIACS e ao meu polo da Licenciatura
Letras/Libras distncia, oferecido pela Universidade Federal de Santa
Catarina.
Aos amigos Renata Rezende, Jeanie Liza,Flavia Luiza, Jamile
Lago, Vanessa Pinheiro, Cintia Ingrid, Bruno Ramos, Jean Michael,
Rodrigo Ferreira, Rosana Grasse, Silas Queiroz, Janine Oliveira, Aline
Souza, Gladis Perlin e Karin Strobel entre outros, que sempre estiveram
comigo durante minha caminhada.
equipe de Tradutores e Intrpretes da Universidade Federal
de Santa Catarina, em especial Janine Oliveira, Daniela Bieleski, Edgar
Correa Veras, Letcia Regiane da Silva Tobal, Natalia S. Rigo, Ringo
Bez de Jesus, Tiago Coimbra Nogueira.
 RESUMO

As inovaes tecnolgicas, notadamente a possibilidade de

registro e compartilhamento de vdeos tem favorecido a pesquisa de
produes literrias em lngua de sinais. A Literatura Surda tem origem
nas manifestaes folclricas da comunidade surda, por meio de
contao de histrias e piadas. A partir do registro dessas produes em
vdeo, tornou-se possvel realizar anlises que identificaram padres de
regularidade e criatividade no uso da lngua entre outras caractersticas.
O objeto de anlise apresentado nesse trabalho so poemas de Nelson
Pimenta (2011/1999) e Alan Henry(2011). A anlise dessa produo
tem como objetivos buscar o reconhecimento e valorizao da produo
do poeta surdo, assim como identificar exemplos de uso criativo da
lngua. A metodologia consistiu numa anlise detalhada dos poemas em
vdeo, buscando caractersticas encontradas anteriormente em outras
produes literrias, principalmente nos estudos de Sutton-Spence
(2007), da literatura em BSL (Lngua de Sinais Britnica) e Valli
(1993), da literatura em ASL (Lngua de Sinais Americana).

Palavras-chaves: Libras, Poesia, Simetria, Traduo.

 ABSTRACT

New technologies, especially the possibility to record and share

videos have widely benefited research on sign language literary
production. Deaf Literature has its origins in the Deaf communities'
DeafLore, storytelling and jokes. Video recordings allowed systematic
research and analysis that identified recurring and creative patterns in
sign language use, among other features. The present study analyses
poems by Nelson Pimenta (2011/1999) and Alan Henry (2011) with the
aim of gaining recognition and validation of Deaf poets' works as well
as identifying examples of creative language use. Methodology included
detailed analysis of videos of the poems, identifying features previously
found in other literary works, mainly in the studies of BSL (British Sign
Language) literature by Sutton-Spence (2007) and (ASL (American
Sign Language) literature by Valli (1993).

Keywords: Libras. Poetry.Symmetry.Translation.

 NOTA

A traduo da dissertao de mestrado de Fernanda Arajo

Machado foi realizada pela equipe de tradutores e intrpretes da
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, do Centro de
Comunicao e Expresso-CCE. Essa equipe conta atualmente com oito
servidores tcnicos administrativos que atendem a universidade em
diversas atividades.
O par lingustico envolvido nesse trabalho foi a Lngua
brasileira de Sinais e a Lngua Portuguesa. Devido grande demanda de
trabalho, foi preciso dividir a traduo entre os membros da equipe, que
trabalharam sempre em duplas. Para a realizao desta traduo, foram
utilizados, aproximadamente, sessenta dias, divididos em duas etapas: a
primeira antes da qualificao e a segunda a ps, preparando-a para sua
defesa. A primeira parte foi realizada pelas tradutoras Leticia Regiane
da Silva Tobal e Natlia S. Rigo. J a segunda, por Daniela Bieleski,
Edgar Veras, Ringo Bez de Jesus e Tiago Coimbra Nogueira.
O material entregue equipe para a realizao da traduo
foram vdeos, contendo o texto da autora em Lngua Brasileira de
Sinais; inicialmente s os vdeos, mas as primeiras tradutoras sentiram a
necessidade de ter algo escrito para auxiliar no processo de traduo.
Desse modo, a pesquisadora enviou algumas citaes que ela usava e as
glosas de alguns vdeos e assim deu-se encaminhamento ao trabalho. Foi
preciso tambm algumas vezes tirar algumas dvidas com a autora
pessoalmente, para evitar uma compreenso errnea sobre o que estava
sendo sinalizado.
No segundo momento da traduo, o texto da qualificao j era
mais um material de estudo para os tradutores, pois j continha muitos
conceitos e termos traduzidos, o que auxiliou na sequncia do trabalho.
Tambm nesse segundo momento, a autora entregou os vdeos de forma
gradativa, conforme conclua suas filmagens, com as respectivas glosas
que continham, principalmente, os nomes de lugares, pessoas e outras
informaes necessrias, alm de sinais desconhecidos pelos tradutores.
Assim como no primeiro momento, tambm foi necessrio reunir-se
com a autora a fim de esclarecer alguns pontos.
Como estratgia para essa traduo optou-se, primeiramente,
em dividir o trabalho entre as duplas, que, frequentemente, se reuniam a
fim de tirar dvidas e verificar o andamento do trabalho. Alm disso, em
alguns momentos, foi necessrio recorrer ao referencial terico utilizado
pela autora, bem como pesquisas virtuais para esclarecer alguns tpicos
apresentados.
 Algumas dificuldades encontradas pela equipe de traduo
foram o curto espao de tempo, o envio fragmentado dos vdeos, bem
como a falta da dissertao completa para o incio do trabalho e a pouca
experincia da equipe.
Foi com esprito de responsabilidade que esta equipe de
tradutores dedicou-se a produzir a traduo dessa dissertao,
preocupando-se com os leitores.
Para mais informaes sobre este trabalho de traduo, entrar
em contato com a coordenadoria de intrpretes da Universidade Federal
de Santa Catarina.

Coordenadoria de intrpretes
CCE-UFSC
 19

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. - Aspecto visual do software ELAN.......................................40

Figura 2 Apresentao de palco com pblico......................................44
Figura 3 Registro em vdeo.................................................................48
Figura 4 Plano de fundo neutro ..........................................................48
Figura 5 Plano de fundo colorido........................................................48
Figura 6 Homenagens..........................................................................52
Figura 7 Faixa a frase..........................................................................52
Figura 8 3 em 1 ( lxicas, smbolo, neologismo)................................53
Figura 9 Bandeira Brasil .....................................................................54
Figura 10 Traduzindo por Saulo Xavier..............................................55
Figura 11 Configurao de mo .........................................................62
Figura 12 comparao de sinal regular e irregular..............................63
Figura 13 Mudana de configurao de mo......................................64
Figura 14 Rima....................................................................................65
Figura 15 Emprstimo do ASL............................................................66
Figura 16 3D........................................................................................70
Figura 17 4D .......................................................................................71
Figura 18 4D .......................................................................................71
Figura 19 Sinais que se opem quanto no movimento........................73
Figura 20 Simetria ..............................................................................73
Figura 21 Oposio..............................................................................74
Figura 22 Exemplo de reflexo .........................................................75
Figura 23 Exemplo de rotao ............................................................76
Figura 24 Exemplo de traduo ..........................................................76
Figura 25 Exemplo de planar .............................................................77
Figura 26 Exemplo de planar .............................................................77
Figura 27 Exemplo de dilatao..........................................................78
Figura 28 Trio .....................................................................................79
Figura 29 Flash ...80
Figura 30 Cow and Rooster.................................................................80
Figura 31 Simetria-Significado...........................................................81
Figura 32 Ambiguidade.......................................................................82
Figura 33 Aspectos positivos e negativos...........................................83
Figura 34 Espelhados juntos horizontais.............................................85
Figura 35 Espelhados juntos verticais.................................................86
Figura 36 Espelhados separados horizontais.......................................86
Figura 37 Espelhado separados verticais.............................................87
Figura 38 Alternncia da mo dominante...........................................87
Figura 39 Movimentos alternados horizontais....................................88
20

Figura 40 Movimentos alternados verticais........................................88

Figura 41 Simetria cruzada..................................................................89
Figura 42 Dedos cruzados...................................................................89
Figura 43 Mos cruzados.....................................................................90
Figura 44 Punhos cruzados .................................................................90
Figura 45 Cotovelos cruzados.............................................................91
Figura 46 Tipos de Simetria Singular..................................................91
Figura 47 Positivo ...............................................................................92
Figura 48 Negativo..............................................................................93
Figura 49 Neutro .................................................................................93
Figura 50 Ambiguidade ......................................................................94
Figura 51 Regularidade .......................................................................95
Figura 52 Irregularidade .....................................................................95
Figura 53 Sinais simtrico...................................................................96
Figura 54 Sinais assimtricos .............................................................97
Figura 55 Classificadores simtricos ..................................................97
Figura 56 Classificadores assimtricos ..............................................98
Figura 57 Planilha 6A Dados consolidados, Totais .........................99
Figura 58 Planilha 5A Dados consolidados, Simetria ...................100
Figura 59 Planilha 5B Dados consolidados, Simetria-Significado.100
Figura 60 Planilha 5C Dados consolidados, Rima-Repetio........101
Figura 61 Planilha 5D Dados consolidados, Categoria..................102
Figura 62 Comparao simetria-significado entre Nelson e Alan.....103
Figura 63 Comparao rima-repetio entre Nelson e Alan.............104
Figura 64 Comparao categoria entre Nelson e Alan......................105
 21

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DSP Dawn Sign Press

NTD National Theatre of the Deaf
TBS Teatro Brasileiro Surdo
INES Instituto Nacional De Educao De Surdos
Libras Lngua de Sinais Brasileira
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
ID Identificador De Sinais
CIACS Centro e Integrao e Arte E Cultura Dos Surdos
ASL Lngua De Sinais Americana
UFRJ Universidade Federal do Rio De Janeiro
PGET Ps-Graduao em Estudos da Traduo
LAPEEL Laboratrio de Pesquisa, Ensino e Extenso em Libras
BSL Lngua de Sinais Britnica
22
 23

SUMRIO

1. INTRODUO.......................................................................25

2. METODOLOGIA DA PESQUISA - A CRIATIVIDADE

POETICA EM LNGUA DE SINAIS ..................................37

3. TRADUO ...........................................................................43
3.1. Traduo intersemitica....................................................44
3.2. Traduo intermodalidade ...............................................51
3.3. Traduo interlinguistica..................................................53

4. FILOSOFIA DA ARTE E ESTTICA.................................59

4.1. Esttica...............................................................................59
4.2. Esttica na lngua de sinais ...............................................59

5. LNGUA DE SINAIS E TRADUO..................................61

6. SIMETRIA NA POESIA EM LNGUA DE SINAIS..........69

6.1. Simetria e Assimetria.........................................................72
6.2. Simetria-Significado..........................................................81

7. ANLISE DA SIMETRIA NA POTICA VISUAL NA

LNGUA DE SINAIS BRASILEIRA....................................85
7.1. Anlise de produo poetas brasileiras .............................85
7.1.1. Simetria ..........................................................................85
7.1.2. Simetria-Significado ......................................................92
7.1.3. Rima-Repetio ..............................................................94
7.1.4. Categorias de simetria.....................................................96
7.1.5. Coluna de totais ..............................................................98
7.2. Comparao entre poesias de cada autor: Nelson Pimenta e
Alan Henry .............................................................................102

8. DISCUSSO SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS......107

9. CONCLUSO.......................................................................109

REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS.......................................113

APENDICE A .............................................................................117

ANEXO A.....................................................................................149
24
 25

INTRODUO

Meu primeiro contato com a produo em Lngua de Sinais

Brasileira foi com o professor de teatro, Nelson Pimenta. Foi ele quem
me ensinou elementos bsicos da lngua de sinais como as regras para
seu uso, configuraes de mo, ritmo, bem como os gneros textuais,
tais como, contos, histrias e fbulas, presentes em um DVD sobre
poesia da DSP1 (Dawn Sign Press).Esse DVD continha poemas e contos
de surdos reconhecidos. Ella Lentz2 apresenta a poesia de forma
bastante suave, mas intensa, chamando ateno para a visualidade da
lngua de sinais.
Outra produo observada no DVD um conto de Ben Bahan3
sobre um O Passarinho Diferente. Ele utiliza uma metfora para
abordar assuntos relacionados viso que a sociedade tem sobre a
surdez, influenciada pela rea clnica, a qual a considera uma patologia
que pode ser curada por meio da terapia da fala; a partir disso, Bahan
fala que possvel a abertura de um novo espao com a presena da
lngua de sinais.
Quando assisti esse conto pela primeira vez, eu no conhecia a
Lngua de Sinais Americana ASL, porm o uso dos elementos visuais
como a expresso facial, espao e movimento dos ombros favoreceu
minha compreenso, ou seja, a estrutura utilizada, o modo como a
histria foi contada fez com que eu internalizasse as nuances da histria.
Os poetas Clayton Valli4 e Marlon Kuntze explicam de forma
detalhada e atrativa como ensinar a esttica para crianas, jovens,
adultos e idosos, demostrando os passos e regras relacionados ao
processo de ensino e aprendizagem, por meio de sequncias, retomadas
e repeties. Vali e Kuntze so surdos americanos, formados pela
Gallaudet University, que referncia em estudos surdos, onde surdos e

1
DSP DAWN SIGN PRESS cria, desenvolve e publica DVDs e livro sem
American SignLanguage (ASL) relacionados Surdos e Cultura. Dedicada ao
principio de que as pessoas surdas so os especialistas naturais em sua lngua e
cultura, DAWNSIGNPRESSA apoia incondicionalmente os esforos de pessoas
surdas em documentar a cultura, a ASL, a histria, o patrimnio e a literatura.
2
Ella Lentz-Ella Mae Lentz uma autora Americana e poetiza, professora e
defensora da comunidade Surda.
3
Ben Bahan - Benjamin James Bahan surdo professor de estudos de ASL na
Universidade Gallaudete membro da comunidade Surda. Ele uma figura
influente na literatura em Lngua Americana de Sinais como um contador de
histria e autor de publicaes sobre Cultura dos Surdos.
26

ouvintes de diferentes nacionalidades se encontram para estudar. A

Gallaudet5 reconhecida por suas pesquisas e estudos tericos no
campo dos Estudos Surdos e da Lngua Americana de Sinais.
Iniciei minha trajetria com contos e poesias com o romance
Romeu e Julieta surdos, fazendo adaptao, considerando os
personagens principais surdos. Essa narrativa foi apresentada no Centro
Educacional Pilar Velsquez, escola bilngue, que tem em sua
metodologia a presena de professores ouvintes e surdos proficientes na
lngua de sinais. Estudei nessa escola onde tive aulas de teatro com o
Professor Nelson Pimenta e posso dizer que foi onde tudo comeou. O
conhecimento que ele repassava em suas aulas era em decorrncia das
suas viagens para os EUA, na Universidade Gallaudet, Washington
D.C, National Theatreof The Deaf NTD, de Nova York , onde teve
contato com diversas pessoas da rea, como Lentz, Bahan e Kuntze, ou
seja, tudo aquilo que lhe era ensinado nessas viagens, ele, ao retornar,
compartilhava com seus alunos. Desta forma, eu fui me constituindo
enquanto poetiza.
Cursei o ensino mdio em uma sala de surdos onde os
professores eram ouvintes e por esse motivo havia a presena de
intrpretes. Na aula de literatura, por exemplo, eu acompanhava a
interpretao, mas no conseguia compreender, por mais que eu me
esforasse procurando exemplos, ilustraes e metforas, tudo era em
vo. Aps algum tempo, a professora surda, Ana Regina Campello
ingressou na escola como docente, e retomou alguns contedos de
literatura. A partir dessas explicaes, relembrei de Ben Bahan e sua
metfora O Passarinho Diferente e, ento, consegui estabelecer uma
relao entre os conhecimentos tericos, anteriormente, passados pelo
professor ouvinte e as explicaes da professora surda. Um dos
exemplos usados para a explicao foi a histria da mulher que subiu no
farol para observar o mar e quando adormeceu, caiu, tornando-se uma
alma; a metfora remete morte, ou seja, no houve o emprego da
palavra, mas sim de uma expresso que remete ao mesmo sentido, no
entanto de um modo mais delicado, condizente com o estilo literrio.
Com esses conceitos e adaptaes para a realidade surda, pude, enfim,
compreender a relao entre os elementos literrios poticos e
metafricos.

5
Gallaudet A Universidade Gallaudet a nica universidade do mundo cujos
programas so desenvolvidos para pessoas surdas. Est localizada em
Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos.
 27

Tendo como base esses conhecimentos, comecei a criar novas

poesias. Em 1999, apresentei, pela primeira vez, a poesia Vo sobre o
Rio, no primeiro encontro de intrpretes do INES Instituto Nacional
de Educao de Surdos. O pblico do evento era formado por surdos e
ouvintes, professores, alunos, profissionais do instituto, intrpretes,
entre outros. Aps a apresentao, muitas pessoas vieram me
parabenizar, dentre elas, uma surda-cega, que, por meio da sua guia-
intrprete, teve acesso poesia; tambm o pai de uma criana surda, que
mesmo no dominando a lngua de sinais, disse ter compreendido e se
emocionado, pois todos os elementos visuais associados, presentes na
sinalizao, corroboraram para o entendimento. Esses elogios me
estimularam a continuar minha produo potica e buscar novas
inspiraes,
Assim, em 2005 surgiu um novo trabalho, o DVD rvore de
Natal publicado pela LSBVIDEO6, distribudo em todo o Brasil e no
exterior. Esse DVD contou com a participao especial da atriz Debby
Larganha, que fez uma entrevista comigo, em lngua de sinais, sobre o
processo de criao dessa nova poesia, desde a escolha do tema at as
pesquisas referentes histria do nascimento de Jesus, surgimento da
celebrao do natal, alm de toda a estruturao para a produo final, o
que levou, aproximadamente, um ano. Alm da entrevista, o DVD
continha uma explicao dos classificadores descritivos7 utilizados
principalmente na sinalizao das cores.
Desde ento trabalhei como professora de teatro e com contao
de histrias para crianas, jovens e adultos em vrias escolas. Um dia,
durante uma aula, distribu livros de poesia infantis para as crianas, no
entanto, elas no se sentiram confortveis com a leitura. Ao perceber
isso, optei por mostrar um DVD de poesia em Lngua de Sinais
Americana, o que gerou surpresa s crianas, pois descobriram a
possibilidade da poesia em lngua de sinais. Aps isso, propus uma
atividade com Configuraes de Mos, alm de jogos utilizando
alfabeto, nmeros e nomes em sinais, que abriu inmeras possibilidades
de expressividade e interao entre as crianas. Observando esse
cenrio, conclui que existe a necessidade de proporcionar momentos
como esse, nos quais poesias e histrias so produzidas e desenvolvidas
com crianas surdas. Um trabalho nesse sentido deve ser realizado, de
forma contnua, nas escolas, com crianas, jovens e adultos, como

6
LSBVIDEO www.LSBvideo.com.br
7
Classificador descritivo utilizado para descrever o tamanho e forma de um
objeto ou corpo de pessoa ou animal.
28

estratgia para o ensino das estruturas da poesia em lngua de sinais.

Portanto, vejo que o sistema educacional deve proporcionar maior
autonomia aos alunos, estimulando sua criatividade, usando
metodologias adequadas para que no se tornem meros repetidores e
possam constituir a Identidade Surda8.
Nesses 10 anos de trabalho, tive oportunidade de participar de
palestras e workshops e apresentar minha arte para pblicos
diversificados. Minha primeira viagem internacional foi para Alemanha,
onde apresentei o tema Poesia na Lngua de Sinais Brasileira, Arte e
Cultura Surda, compartilhando a cultura dos Surdos brasileiros e
fortalecendo os laos entre essas culturas.
Enquanto pesquisadora no LAPEEL Laboratrio de Pesquisa,
Ensino e Extenso em Libras na UFRJ e aluna do Letras/Libras, recebi
o livro Estudos Surdos I, organizado pela Prof. Dr. Ronice Muller de
Quadros. Nesse livro encontrei um texto de Quadros e Sutton-Spence
(2006), cujo ttulo era Poesia em Lngua de Sinais: Traos da
Identidade Surda, que contou com uma traduo inicial de uma colega
pesquisadora da UFRJ, Rosngela Ramos. Essa colega no concluiu a
traduo, porque faleceu de forma inesperada. Todavia, no perodo em
que acontecia essa traduo, interessei-me pelo tema Folclore Surdo,
que tambm abordado nesta pesquisa.
Assim, a inspirao para esse trabalho vem da experincia de
vida que tenho como usuria da lngua de sinais dentro da comunidade
surda, com contao de histria e piadas. Pertencer a esses espaos me
fez pensar e repensar em vrias possibilidades de conhecer e registrar
esses aspectos de narrativas literrias. Esse reconhecimento comea com
a subjetividade, passa lngua, em particular. lngua de sinais. Alm
da subjetividade, destacam-se tambm aspectos culturais e indenitrios
que constituem o discurso nas narrativas de surdo para surdo. Pesquisas
nessa rea estimulam os surdos a participarem e se apropriarem do
cotidiano e do espao acadmico para desenvolver novas pesquisas, pois
estas, quando realizadas por sujeitos surdos, sua contribuio se torna
mais profunda por serem os surdos sujeitos de uma comunidade que usa
a lngua de sinais, com identidade e cultura prprias.
Assim, considera-se que as pesquisas acadmicas realizadas
pelos surdos trazem legitimidade s investigaes, pois estes sujeitos
esto imersos nessa cultura e mantm contato direto com a comunidade

8
Identidade Surda O encontro surdo-surdo essencial para a construo da
identidade surda, como um abrir do ba que guarda os adornos que faltam ao
personagem. (Gladis Perln, 2005, p.54)
 29

surda..Por outro lado, podem compartilhar suas experincias com uma

sensibilidade maior em apresentar para os seus pares detalhes da
comunidade surda, contribuindo, assim, para o aumento de novas
pesquisas.
Partindo dessa reflexo o tema escolhido para a presente
pesquisa de mestrado se situa, de certa forma, como algo que faz parte
do Folclore Surdo, pois analisa aspectos da poesia em lngua de sinais.
Mais especificamente, o tema Simetria na potica Visual em Interface
com a Lngua Brasileira de Sinais, inserida no contexto do Programa
de Ps-Graduao em Estudos da Traduo PGET, da Universidade
Federal de Santa Catarina. Nesta pesquisa foram observados diferentes
tipos de poesias, onde foi possvel analisar a marcao rtmica atravs da
simetria e da assimetria marcadas pelos poetas. Tais aspectos colaboram
com a produo potica e a traduo, que serve, tambm, como
possibilidade para a criao e registro de novos termos lingusticos que
podem ser incorporados pela comunidade de fala, bem como para o
desenvolvimento de outras pesquisas na mesma linha.

Em relao ao folclore surdo, Carmel

(1996) inventou o termo Deaflore
folclore surdo para referir-se ao
conhecimento coletivo da comunidade
surda. No nvel da linguagem, o folclore
surdo inclui piadas surdas, histrias,
narrativas pessoais e poesia na lngua de
sinais. Signlore(tambm um termo de
Carmel) folclore em sinais ocorre
quando os sinalizantes so especialmente
criativos com sua lngua de sinais, de
modo que a contribuio espacial e visual
tridimensional da lngua contribua para o
folclore surdo da comunidade
surda.(QUADRO, SUTTON-SPENCE,
2006, p. 114).

O conceito de Folclore Surdo proposto por Carmel (1996) e

est ligado ao conceito geral de folclore, definido pela autora como
um movimento de contao de histria, passada de gerao para
gerao. No caso de folclore surdo, o movimento o mesmo, porm
as histrias so produzidas por sujeitos surdos e passada de gerao para
gerao, atravs das lnguas de sinais. Carmel apresenta ainda uma
30

terceira possibilidade que se refere ao uso do folclore surdo por vrias

pessoas, que se integram comunidade surda atravs de sinais.
No entanto, quando se trata do Folclore Surdo, existem
caractersticas semelhantes entre as produes culturais, sedo a mais
importante delas a presena dos elementos visuais nessas produes,
perpassando pela histria de cada pas. No Brasil, um exemplo de
Folclore Surdo a poesia de Nelson Pimenta, Bandeira Brasileira,
composta e interpretada para a Lngua Brasileira de Sinais (Libras), obra
que comparada com o poema Three Queens/Trs Rainhas, de Paul
Scott, na Lngua de Sinais Britnica (BSL- British Sign Language) por
Sutton-Spence e Quadros. Ambas as poesias retratam a histria do seu
pas, com elementos culturais pertencentes a eles.
Conforme Sutton-Spence(2006), o Folclore Surdo pode ter
relao com o Orgulho Surdo. E em sua teoria, a autora fala da
importncia das novas tecnologias para registro das produes por meio
de vdeos, sendo que os mesmos serviram como base de dados para
pesquisas futuras nas reas de Traduo, Literatura e Lingustica.
A potica das lnguas de sinais sempre existiu, mesmo antes das
tecnologias se desenvolverem. No entanto, no podiam ser registradas,
porque as lnguas de sinais so de modalidade gestual visual e seu signo
lingustico composto de elementos que se organizam simultaneamente.
Sua principal caracterstica o movimento, diferentemente dos registros
da poesia das lnguas orais que, preponderantemente, so expressas de
maneira visual, porm de forma esttica, que caracteriza a linguagem.
No entanto, com os avanos tecnolgicos esse quadro vem
mudando, com o registro e publicao de produes em vdeo possvel
expandir fronteiras e compartilhar conhecimentos sobre e potica em
lngua de sinais. Nessa linha, pode-se considerar o sculo XXI como
um marco nas pesquisas em lngua de sinais. Em 2006, por exemplo,
aconteceu, em Florianpolis SC, o 9 Congresso Internacional de
Aspectos Tericos das Pesquisas nas Lnguas de Sinais. Nesse evento,
Rachel Sutton-Spence apresentou o tema Imagem da Identidade e
Cultura Surda na Poesia em lngua de Sinais, o qual contribui para esta
minha pesquisa de mestrado.
Somente aps o surgimento de tecnologias de vdeo e filmagem
e sua popularizao, foi possvel registrar produes, inclusive artsticas,
de pessoas surdas. Somente em 1987, foi registrado, pela primeira vez,
na Inglaterra, a declamao do poema Escadaria de Dot Miles.
(Sutton-Spense, 2006).
Tambm as artes visuais, atravs da histria da humanidade,
representavam somente a viso dos ouvintes. No havia uma arte que
 31

representasse os artefatos da cultura surda, ou que fizesse aluso s

especificidades vivenciadas por Surdos. At mesmo os artistas Surdos
no apresentavam produes em artes plsticas com marcas surdas que
se diferenciassem das produes de ouvintes.
A concepo da presente pesquisa surgiu da observao da
estreita relao existente entre a esttica das poesias visuais e poesias
artsticas. As poticas visuais esto intrinsecamente ligadas a
movimentos, que parte constitutiva das lnguas de sinais. A arte visual
uma forma de representao imagtica, sendo esta um elemento
presente em materiais, tais como filmes. A partir do momento que este
elemento percebido, o mesmo pode ser sistematizado de modo a
auxiliar no processo de produo potica.
Assim, o objetivo desta pesquisa verificar os aspectos
simtricos e assimtricos presentes em produes literrias de forma a
identificar seus usos e modos de construo no texto sinalizado.
A partir desse objetivo geral, tambm temos desdobramentos
que pretendem averiguar o emprego desses aspectos na sinalizao,
compreendendo seu emprego em tradues para lngua de sinais, haja
vista a maioria das tradues e sinalizaes de profissionais (intrpretes,
professores, etc.) so focados somente na estrutura lexical do texto.
Buscar estratgias para enriquecer as produes literrias permitindo
uma criao criativa que contribua para uma sinalizao mais adequada
e possibilite, por consequncia, sua visibilidade e valorizao, que , de
certa forma, um desdobramento do trabalho realizado por meio desta
dissertao.
Alm disso, a pesquisa objetiva contribuir com o campo dos
estudos da traduo em interface com a literatura e a lingustica,
atentando para as contribuies que os estudos sobre aspectos
especficos intrnsecos lngua possam trazer para essas disciplinas. As
pesquisas em traduo literria e a rica criatividade lingustica
encontrada na literatura fornecem subsdios para a produo em sinais e
possibilitam o dilogo entre esses diferentes campos.
A pesquisa busca tambm estimular a qualidade e a criatividade
das produes literrias, subsidiando os estudos lingusticos da lngua de
sinais e fortalecendo o reconhecimento e a valorizao do seu status
lingustico. Alm disso, ns, poetas, aproveitamos a possibilidade de
contar com neologismos presentes na produo literria. Os
neologismos so elementos que compem as justificativas de
reconhecimento da lngua de sinais nos estudos lingusticos. Alm disso,
as pesquisas buscam ainda analisar como os diversos recursos visuais
(cenrio, filmagem etc.) constituem a poesia visual nos filmes
32

analisados e contribuem para o entendimento e crescimento da rea da

traduo literria em sinais.
A pesquisa proposta aqui faz um levantamento histrico dos
primeiros registros poticos da lngua de sinais e a partir da reviso
desta literatura especfica, estabelece interfaces da poesia em lngua de
sinais com as poticas visuais, por meio da simetria e assimetria,
marcadas nas produes poticas analisadas.
Estrategicamente, a proposta ser desenvolvida atravs de
ferramentas da tecnologia, que serviro de instrumento de anlise, de
conhecimento e de experimentao, pois possibilitaro um possvel
transbordamento de sentidos estticos. Enquanto pesquisadora surda, a
presente proposta ser desenvolvida com o olhar identificado com a
comunidade surda, sua cultura e sua lngua a Libras.
Essa diferena de status entre as lnguas pode ser percebida em
uma situao de processo seletivo para ps-graduao em que so
aplicadas provas no programa de lingustica em lngua de sinais e
portugus e provas em lngua de sinais no programa de traduo.
Percebemos que os candidatos ouvintes ou surdos no programa de
lingustica foram aprovados e reconhecidos com base na sua
proficincia e desempenho no portugus escrito enquanto os candidatos
que realizavam sua prova em libras no tinham o mesmo
reconhecimento. Sabemos que assim como a lngua portuguesa, a lngua
de sinais tem sua gramtica, estrutura, sintaxe, que apresenta diferentes
gneros textuais, entre eles, o gnero acadmico, que formal e que
conta com produes em artigos cientficos, dissertaes, palestras e as
mais diversas possibilidades de uso. Todas essas formas possveis
exigem um uso consciente e responsvel, sendo ainda uma lngua
reconhecida na legislao brasileira. Mesmo assim, o status da lngua de
sinais ainda minoria em alguns contextos, em relao ao portugus.
A legalizao da lngua brasileira de sinais d-se por meio da
Lei 10.436. Essa lei reconhece o uso da Libras, em territrio nacional,
nos mais diversos mbitos da sociedade. A Libras uma lngua de
modalidade visual-espacial, com estrutura gramatical prpria. A
interao entre os seus falantes, possibilita a criao de neologismos
tanto nos espaos polticos quanto educacionais, sendo em contextos
formais ou informais do discurso. A Libras est presente em diferentes
ambientes, desde a escola, com a interao entre professores e alunos,
at o ambiente de trabalho, com seus diferentes profissionais em
exerccio.
O uso da Libras de forma potica mostra o outro lado das
lnguas que contam com modalidade diferenciada, apresentando novas
 33

formas de manifestar o uso criativo da linguagem, por meio de

neologismos e outras formas de linguagem.
Assim sendo, outro objetivo que se desdobra na presente
pesquisa mostrar que possvel perceber a arte que emana das
imagens e recursos visuais nas produes poticas em lngua de sinais.
Aspectos da traduo interlingustica e intersemitica, relacionadas com
as produes poticas visuais estaro permeando o estudo apresentado
aqui (Plaza, 1996; Souza, 2009, 2010).
Por ser a lngua de sinais de modalidade gestual-visual, sero
analisadas poesias produzidas e gravadas em vdeo, observando os
aspectos que compreendem a produo potica em si, bem como
aspectos visuais concorrentes como, por exemplo, as cores presentes (no
fundo e em todo o DVD) que no podem interferir na comunicao.
Outro objetivo que se desdobra a avaliao da esttica visual da
performance, considerando a poesia em sinais e o contexto visual no
qual est sendo produzida(Plaza, 1996; Souza, 2009, 2010; Segala,
2010). Imagens trazem consigo significados, representando o mundo, a
sociedade e a subjetividade humana. Por outro lado, interessante
tambm observar que efeito essas imagens causam no observador, em se
tratando de imagens que retratam o universo Surdo.
A relevncia desta proposta de pesquisa revela-se na
oportunidade do desvelamento para sociedade ouvinte, em geral, dos
anseios, desafios, sofrimentos, tristezas e, por que no dizer, alegrias
vivenciadas pelos surdos, atravs da criao artstica, na concepo da
potica visual com seus entrecruzamentos com as novas ferramentas
tecnolgicas para traduzir inovaes estticas, tanto para a poesia quanto
para as artes visuais.
Atualmente, diversas produes surdas esto disponveis na
internet, o que era impensvel h algumas dcadas. Essas produes
constituem um acervo riqussimo que est disponvel em funo dos
avanos tecnolgicos e, portanto, merecem ateno.
Nesta pesquisa ser apresentada inicialmente uma reviso dos
estudos sobre as tradues interlingustica e intersemitica. A partir
dessa base, sero abordados aspectos da arte. Obras de arte como as de
Claude Monet (1840-1926) apresentam elementos que so observados
nas poesias em lngua de sinais, por exemplo, a simetria, a progresso
temporal, a transio. Assim, lngua e a arte se unem para produzir
poesia visualmente na lngua de sinais.
Foram encontrados elementos simtricos, assimtricos e as
rimas nos vdeos produzidos em Lngua Brasileira de Sinais, que foram
registrados para anlise. As poesias pesquisadas foram duas, sendo uma
34

clssica e outra contempornea, a fim de fazer uma interface com o tema

desta pesquisa. A presente pesquisa indita no Brasil, j que, no
existem trabalhos relacionados simetria e assimetria potica na lngua
brasileira de sinais.
A proposta traz dois poetas brasileiros que utilizam as regras, a
mtrica e os vrios sinais, reconfigurando a gramtica e criando novos
termos. Diante disso, essas produes foram analisadas e serviram de
base para esta pesquisa, auxiliando usurios da lngua de sinais e
profissionais envolvidos.
Os sinais so constitudos na ao da criatividade na produo
potica. Esses elementos se estabelecem no momento das produes
literrias, proporcionando insumo que enriquece a compreenso e o
entendimento das produes em lngua de sinais.
Os recursos poticos da lngua de sinais so relevantes para
produo de materiais que podero ser usados como recursos didticos
sem dinmicas, oficinas, contao de histria, literatura, peas teatrais e
as mais diversas possibilidades de produo literria.
necessrio valorizar as singularidades das produes de
surdos, que, por sua vez necessitam expressar em sua lngua natural as
diferentes formas de criatividade, j que durante muitos anos
participaram de um modelo educacional onde a sua expressividade,
criatividade, opinio e subjetividade foram renegadas.
Assim, a dissertao est organizada em 9 captulos. O primeiro
refere-se presente introduo que mostra o rizoma que constitui esta
pesquisa. A seguir, no segundo captulo, ser apresentada a
metodologia, que nortear a presente pesquisa. Atravs da tecnologia, a
imagem (desenho, tirinha cmica, etc.) ganha movimento e possvel
tambm inserir a lngua de sinais, discernindo as partes do corpo
(articulaes, olhos, boca, etc.) Na lngua de sinais, os movimentos se
fundem, formando poesia. As ferramentas tecnolgicas contribuem para
a produo de potica visual quando imagens originalmente estticas
passam a ganhar movimentos com o tratamento digital. Sero descritos
os critrios de seleo das poesias publicadas em DVD ou em outra
forma de vdeo.
O captulo trs tem como foco principal a traduo intersemitica
e a traduo interlingustica. Explicita a efetiva relao entre esses dois
tipos de traduo e a ligao que ambos possuem com a visualidade da
poesia em lngua de sinais nos estudos lingusticos. Diante disso,
apresentam-se como elementos relevantes as adequaes que envolvem
a visualidade da poesia em lngua de sinais no campo dos estudos da
traduo.
 35

O captulo quatro versar sobre a filosofia da arte, a esttica e

suas relaes. O conceito de esttica desenvolve-se historicamente na
Grcia e define-se enquanto estado de perfeio, como o que sensvel.
A esttica est ligada s produes poticas criadas por pessoas que as
constroem a partir do que captado e apreendido diante dos
acontecimentos do mundo. A arte a captao do que concreto, suscita
reflexes. a apreenso internalizada e, relacionada subjetivamente,
podendo-se manifestar atravs de poesias em lngua de sinais, que so
constitudas, por sua vez, atravs de articulaes e correlaes daquilo
que percebido. A filosofia da arte dialogar nesse captulo com as
poesias sinalizadas.
No captulo cinco, intitulado lngua de sinais e traduo, ser
abordada, alm da Lngua de Sinais Brasileira enquanto lngua natural e
objeto de estudo pesquisado na rea da lingustica, que j foi teorizado
por diversos autores, que comprovaram sua funcionalidade, bem como
seu reconhecimento e de diversas outras lnguas de sinais existentes e
emergentes no mundo, como tambm a efetiva presena da lngua nas
produes poticas e sua importante contribuio para o
desenvolvimento e construo criativa das poesias sinalizadas. O
resultado dessas construes serve como meio comunicativo de
interao entre pessoas, sobretudo entre as que possuem relao e
contato com as comunidades surdas. Essas questes estaro intimamente
ligadas s teorias dos estudos da traduo que serviro como
embasamento das reflexes nesse captulo.
No captulo seis ser selecionado como foco de anlise o
aspecto de simetria presente nas poesias sinalizadas, especificamente, os
sinais simtricos referidos e teorizados por Rachel Sutton-Spence (2007)
- autora que descreve tal particularidade e pesquisa sobre a
correspondncia simtrica dos sinais e seus desdobramentos. A autora
apresenta em seus estudos a assimetria como qualidade que se contrape
simetria e considera esses dois aspectos como modelos efetivamente
presentes nas lnguas de sinais. Apresenta tambm especificidades
relativas correspondncia, bilateralidade, regularidade e irregularidade.
Trata de especificidades estudadas pela autora que se constituem de
acordo com a forma e posio dos sinais no espao e tendo sido
identificadas atravs de pesquisas desenvolvidas em British Sign
Language (BSL). Nos Estados Unidos, pesquisas desenvolvidas por
Clayton Valli tambm demonstraram a presena da simetria em poesias
feitas em American Sign Language (ASL).Diante desses dois estudos,
trazidos nesse captulo resumidamente, ser possvel analisaras poesias
produzidas no Brasil que, assim como nas produes estrangeiras,
36

possuem propriedades simtricas, embora se diferenciem em criaes de

autores de estilo clssico e de autores de estilo popular. As anlises
desenvolvidas sero sintetizadas neste estudo e traro a questo da
simetria como importante foco desta a pesquisa.
No stimo captulo ser apresentada a anlise das poesias
selecionadas conforme os elementos de anlise propostos.
Finalizamos esta dissertao com algumas consideraes finais,
no captulo nono e apresentamos as referncias usadas nesta dissertao
no captulo dcimo.
 37

2. METODOLOGIA DA PESQUISA A CRIATIVIDADE DO

POETA EM LNGUA DE SINAIS

Esta pesquisa tem como tema a Simetria na Potica Visual na

Lngua de Sinais Brasileira, orientada pela professora Dr Ronice
Muller de Quadros, na linha de pesquisa em traduo, e tem como
metodologia as bases tericas desenvolvidas pela referida professora.
Nos vdeos analisados, os poetas apresentam diferentes estilos de
produes sinalizadas. Nesta pesquisa analiso profunda e
detalhadamente os modos de sinalizao, incluindo os neologismos,
regularidade, irregularidade e tambm usos criativos e originais que
surgem, a partir de fatos cotidianos, histrias de vida, acontecimentos, a
partir dos diversos vdeos de poetas surdos postados em sites de
compartilhamento de vdeos como o youtube.

"devemos entender em essncia o que

palavra literrio representa. Ao refletir
sobre o assunto, a autora atribu-lo a forma
verbal latina fingure. Dentre as vrias
acepes propostas por flix gaffiot, em
que seleciona o significado "gerar e
fabricar" como forma de ilustra o "literrio
como um movimento de dentro para fora,
estruturando uma imagem, um
delineamento que possibilitar a realizao
fsica do imaginrio." (hill, 1989, p.21-23).

Para a pesquisa realizei a leitura dos referenciais bibliogrficos,

materiais disponveis na internet e vdeos em lngua de sinais. os
referenciais bibliogrficos contriburam bastante com o conceito de
poesia visual, sendo que esses materiais, em sua maioria, esto
disponveis em ingls e lngua americana de sinais.
Alguns dos livros possuem toda a traduo em lngua de sinais
feita por atores e poetas surdos, que permite a explicao e anlise
dessas poesias. Esses materiais esto em lngua americana de sinais e
ingls.
No Brasil esse tipo de produo bem recente e inclui um
cnone de poucos poetas surdos, que tem produzido um significativo
material e que colaboram com a valorizao e o reconhecimento da
produo literria e do folclore de surdos em nosso pas.
Nesta pesquisa foram utilizadas algumas produes brasileiras
em lngua de sinais, com objetivo de analisar a categoria estilstica e os
38

nveis simtricos e assimtricos nas produes de poetas surdos. No

Brasil so poucas as poesias produzidas visualmente em libras.
Geralmente, so publicadas em dvds ou postadas em stios eletrnicos
(youtube), que, amplamente difundidas, alcanam nmero significativo
de espectadores. Embora sejam poucos os poetas sinalizantes, a
quantidade de suas produes so expressivas e dinamicamente
emergentes. Dentre os poetas existentes no sendo possvel selecionar
todos foram escolhidos para anlise nesse estudo apenas dois.
Um deles o poeta brasileiro Nelson Pimenta, j bastante
conhecido entre os surdos. Ele possui um rico repertrio de poesias de
sua autoria que foi produzido ao longo de sua carreira. Alm dele, foi
escolhido tambm o poeta Alan Henry, um autor novato, que representa
a nova gerao de poetas brasileiros. Alan Henry compe visualmente
suas poesias em libras e justamente a partir delas que se apropria de
novos estilos poticos, inspirando-se em outros poetas (mais
experientes) e aprendendo com eles diferentes formas de compor. Este
autor apresenta produes poticas inspiradas a partir de seu olhar sobre
os acontecimentos da atualidade. Ele observa todos os aspectos e elege
alguns pontos para suas criaes, que so disponibilizadas no youtube
onde h vrias produes bem como as apresentadas em festivais
culturais.
Os dois poetas mencionados e suas respectivas produes
poticas foram escolhidos para serem estudados nessa pesquisa.
Contudo, como se trata de uma pesquisa ampla, para fins desse trabalho,
foram selecionadas apenas quatro poesias, duas de autoria de Nelson
Pimenta e duas de Alan Henry. So elas: encontro do amor e lngua
sinalizada e lngua falada, de Pimenta e movimento dos surdos
brasileiros e mos do mar, de Alan Henry. J os vdeos de Alan esto
disponveis em www.youtube.com e sendo postados pelo prprio autor,
com os ttulos de Lutas Surdas... e Mos do Mar (Libras).
o vis da lingustica de corpus pela busca
de padres pode ser atribudo viso
popular de que a singularidade "no pode
ser observada com segurana em um
corpus pelo fato de a singularidade de um
corpus no implicar uma singularidade em
uma lngua" (Sinclair, 2004). Uma vez que
a criatividade essencialmente
caracterizada por uma "novidade" ou algo
"inesperado", ou, em outras palavras, algo
"singular", pode parecer a primeira vista
que corpora e criatividade esto em
 39

oposio um ao outro e que no possam

funcionar conjuntamente. . (Anh Vo, T;
Carter, r. 2010, p. 304).
Das quatro poesias pesquisadas foram selecionadas algumas
especificidades para investigao. Utilizou-se o Elan que um software
desenvolvido por Anh Vo e Carter (2010) que tem como objetivo
analise de registro mais detalhado em trilhas de vdeo. Tal ferramenta
foi utilizada para verificao de sinais dentro das poesias em lngua de
sinais. Tem como objetivo verificar se a repetio de sinais na produo
do discurso. Nos vdeos de Nelson Pimenta e Alan Henry podemos
notar essa variao. Comparando os dois vdeos de cada autor,
observou-se que quase no h repetio de sinais. Isso ocorre no
somente entre os autores, mas tambm entre os poemas de cada autor,
pois no vemos semelhanas nos dois poemas dos autores. Com exceo
da configurao de mo de Nelson e na configurao de mo
de Alan. Por isso o Elan importante para fazermos o calculo
estatsticos da frequncia da repetio de determinados sinais que
marcam a simetria em na potica na lngua de sinais.
A verso utilizada para essa transcrio foi Elan - 4.1.29 e,
depois do corpus registrado, ser feita uma anlise detalhada focando os
aspectos simtricos presentes nas poesias, bem como a estrutura de cada
uma e seus mtodos de composio (figura 1). Alm de serem elencados
os elementos de construo esttica, a bagagem de experincia de cada
poeta e suas influncias no estilo de produo, tambm sero
consideradas. Nelson pimenta, por exemplo, possui ampla experincia
enquanto poeta e j esteve nos estados unidos estudando no NTD (teatro
nacional dos surdos) com Ella Lentz, Clayton Valli e outros renomados
poetas. Estudou os princpios da poesia, aprendeu como compor
poeticamente e, em seguida, produziu intensamente vindo a publicar
suas poesias em dvds no brasil. J Alan Henry faz parte de uma nova
gerao de poetas que, por sua vez, possui novas estratgias de
composio potica. Suas poesias visuais publicadas no Brasil so
inspiradas em poetas como Nelson Pimenta, Fernanda Machado, Rimar
Segala entre outros autores que possuem suas particularidades e estilos
pessoais de composio. Alan Henry compe suas poesias a partir do
que apreende do mundo. Publica, ele mesmo, suas produes nos stios
eletrnicos (youtube) e em outros espaos virtuais tecnolgicos.

9
Disponvel em http://gnu.org
40

Figura 1- Aspecto visual do software ELAN

Ambos os autores escolhidos possuem, em suas construes

poticas, estruturas de composio peculiares que sero elencadas nesta
pesquisa e ordenadas entre si. Essas estruturas sero registradas por
meio do Elan onde ser possvel observar detalhadamente os efeitos
estticos de cada uma, bem como as caractersticas pessoais de cada
autor, tanto na construo potica natural do estilo popular brasileiro de
Alan Henry quanto na composio clssica do estilo de Nelson Pimenta.
Todos esses aspectos e seus desdobramentos sero descritos nessa
pesquisa, focando a anlise dos elementos simtricos presentes nas
poesias. Esses registros sero apresentados mais adiante nesse estudo.
As narrativas das quatro poesias analisadas em algumas de suas
caractersticas, de acordo com a forma e o contedo, foram encontradas
cinco caractersticas. Portanto, nesta dissertao, apenas quatro foram
analisadas. As caractersticas encontradas nas narrativas foram:
1 simetria
1.1 espelhados juntos horizontais
1.2 espelhados juntos verticais
1.3 espelhados separados horizontais
1.4 espelhados separados horizontais
1.5 alternncia mo dominante para dar equilibro
1.6 movimentos alternados horizontais
1.7 movimentos alternados verticais
1.8 dedos cruzados
1.9 mos cruzados
1.10 punhos cruzados
 41

1.11 cotovelos cruzados

1.12 simetria singular

2 simetria-significado
2.1 positivo
2.2 negativo
2.3 neutro
2.4 ambiguidade

3 simetria dobras juntas

3.1 dedos
3.2 punhos
3.3 cotovelos
3.4 ombros

4 rima-repetio
4.1 regularidade
4.2 irregularidade

5 categoria
5.1 sinais simtricos
5.2 sinais assimtricos
5.3 classificadores simtricos
5.4 classificadores assimtricos

A partir das anotaes, foram analisados os nmeros de

ocorrncias dos padres simtricos e assimtricos, bem como a
ocorrncia de repeties. Tambm foram analisados os padres de
simetria encontrados. Com isso, apresentou-se os resultados da pesquisa,
verificando-se o uso criativo de sinais e do corpo para produzir poesia
na Libras.
42
 43

3.TRADUO

A poesia visual est fortemente associada ao campo dos estudos

da traduo. Na traduo de poemas, possvel perceber a visualidade
sempre presente e que evidenciada atravs do movimento do tronco, e
direcionamento do olhar. Nas interaes estabelecidas atravs da lngua
de sinais, todo o corpo est relacionado bem como na linguagem visual.
A lngua de sinais e o campo dos estudos da traduo esto interligados.
Essa correlao da poesia em lngua de sinais e sua visualidade
representada pelo movimento corporal e direo do olhar apresentada
nos estudos desenvolvidos pelo terico Ben Bahan:

Histria tambm ensinar as pessoas surdas,

dando-lhes um sentido de identidade e um
sentimento de pertena, bem como
fornecer, formas de interpretar e
compreender o mundo coletivamente,
perpetuando a sobrevivncia de sua cultura
(Bahan, 2006, p.26)10.

Um poeta surdo sabe diferenciar que elementos so requeridos

para uma performance em diferentes espaos, como por exemplo a
diferenciao de uma apresentao em pblico, onde h uma ligao
maior e direta com a plateia e de uma apresentao em vdeo.
Percebe-se, portanto, que h uma conscincia do ator surdo
quanto s tcnicas e adaptaes necessrias para os espaos especficos
de atuao (figura 2 e 3).

10
TRADUO "Storytelles also teach deaf people by giving them a sense of
identity and a sense of belonging, as well as providing, ways of interpreting and
comprehending the world collectively, thereby perpetuating the survival of their
culture
44

Figura 2 apresentao de palco com pblico

Fonte:http://www.hotfrog.com.br/empresas/lsb-v-deo/show-nelson-6-ao-vivo-
9393

3.1. TRADUO INTERSEMITICA

O tipo de traduo que se refere nesta interligao a traduo

intersemitica do autor Roman Jackobson:

A traduo intersemitica ou
transmutao foi por ele definida como
sendo aquele tipo de traduo que
consiste na interpretao dos signos
verbais por meio de sistemas de signos no
verbais, ou, de um sistema de signos para
outro, por exemplo, da arte verbal para a
msica, a dana, o cinema ou a pintura,
ou vice-versa, poderamos acrescentar.
(PLAZA, 1987)

Observa-se que nas poesias visuais em lngua de sinais,

especificamente no caso da Libras, naturalmente existem os signos
verbais adaptados linguagem potica sinalizada. H aspectos verbais e
no verbais presentes e, no caso de uma sinalizao potica, os
elementos no verbais so aqueles por trs do texto, ou seja,
paralingusticos. Conforme o plano de fundo do sinalizante, a
composio das cores, o uso de imagens ilustrativas, os
enquadramentos, todos os aspectos visuais fazem parte dos elementos
 45

no verbais. Esses aspectos, portanto, dialogam com a lngua sinalizada

no poema, porm a existncia ou no de imagens varia de acordo com o
contexto da traduo.
Na produo sinalizada encontramos tanto poemas quanto
poesia. Os poemas se caracterizam pela possibilidade de insero de
mudanas sutis nas configuraes de mo (muitas vezes imperceptveis)
e com isso permitirem a criao de novos vocbulos a partir delas, sem
uma preocupao com o contedo em si, mas sim com a forma. Novas
pesquisas cada vez mais tm apontado e descoberto elementos
intrnsecos ocultos que caracterizam esse gnero. Tais descobertas
possibilitam a percepo e diferenciao do poema em relao poesia
em lngua de sinais, sendo esta ltima muito mais comprometida com a
insero de elementos nas narrativas. Logo, possvel identificar o
gnero poema e poesia em lngua de sinais, e os construtos tericos que
subsidiam a existncia desses elementos que podem ser vistos a seguir.
Os estudos da traduo na rea que trabalha especificamente com a
traduo de poemas e poesias evidenciam caractersticas inerentes a
cada uma delas. H diversos vdeos produzidos no Brasil, que permitem
formar uma coletnea de poemas e poesias, fornecendo material para
identificar essas caractersticas. Os vdeos seguintes apresentam alguns
exemplos de elementos presentes nas poesias e poemas em lngua de
sinais que nos permitem caracteriz-los:
Com isso, chega-se ao momento crucial da
presente reflexo: definir o que poesia.
Shelley(1840) afirma: A poesia, num
sentido geral, pode ser definida como a
expresso da imaginao. A traduo de
um poema da rima pode ser mais
demorada e trabalhosa, mas seguindo esses
elementos construtivos fcil alcanar o
efeito esttico almejado pelo amor do texto
original tambm na traduo. (apud
WEININGER, 2012, p.205-207).

Em lngua de sinais tambm tem-se poesia e poema. Na

poesia h rima, simetria, contato e qualidade. Pode-se notar que uma
poesia em lngua de sinais pela formao imagtica da ideia, que traz
leveza e espontaneidade na apresentao de situaes. Na poesia de
Alan Henry pode-se notar isso de forma clara.
J nos poemas h um esforo maior na compreenso da
mensagem, havendo uma omisso de sinais. As configuraes de mo,
movimento e direo do sinal podem sumir e ainda trazer a ideia de algo
46

implcito no discurso. Pode-se notar assim no poema estratgias de

composio diferentes daquelas encontradas na poesia, que mais
espontnea e direta.
Os poetas tendem a optar por formas de produes mais
adequadas ao seu perfil profissional. As categorias podem sofrer
variaes de acordo com os arranjos do cenrio. As produes que
contam com imagens ou planos de fundo so chamadas de categorias
semiticas, em que o poeta produz em lngua de sinais, levando em
considerao a sintonia com o cenrio. Contudo, uma forma no
semitica pode surgir, sendo que o poeta no necessita de arranjos em
cena, sua produo feita sem plano de fundo ou imagens.
A emotividade no poema em lngua de sinais construda
atravs dos signos verbais representados nos sinais juntamente com os
signos no verbais, representados pelas imagens no plano de fundo. As
imagens no precisam ter seu teor sinalizado, j que expressam em si a
mesma a mensagem pretendida. Elas do ao poema um significado e so
coerentes com aquilo que est sendo produzido em sinais.
J a relao estabelecida pelos elementos no verbais
apresentados provocam algum tipo de emoo peculiar ao sujeito surdo,
que um sujeito ligado visualidade. H poemas em que as imagens
no aparecem explicitamente no cenrio. A emotividade produzida pelas
imagens est presente na visualizao mental do autor e transmitida
atravs dos elementos verbais da lngua de sinais. Independentemente da
utilizao de imagens, a emotividade est sempre presente na produo
em lngua de sinais, quer seja de poesias ou poema:
"Voz" do poeta interior emerge, no so
palavras no papel, mas em sinais atravs
de meu corpo, o corpo se torna o texto.
Surdos possuir uma relao
intrinsecamente fsica com o texto, porque
a lngua de sinais vive, e expressa por
meio, o tronco do rosto, cabea, mos.
(ROSE, 2006, p. 130)11

A poesia produzida oralmente pode ser representada na escrita

grfica pelos falantes/ouvintes, enquanto os surdos podem represent-la
nos sinais produzidos em seu corpo a "escrita" dessa mesma poesia.

11
TRADUO The poets inner voice emerges, not is words on paper, but in
signs through my body; the body becomes the text. Deaf people posses an
inherently physical relationship with text because sign language lives in, and is
expressed through, the face, head, hands, torso.
 47

Essa produo extremamente valorosa e fornece excelente

material para pesquisa. O objeto de estudo deste trabalho consiste em
investigar a poesia em lngua de sinais em toda a sua extenso lexical,
representaes corpreas, faciais, movimentos e como eles emergem na
produo, subsidiados pela teoria de Heidi M. Rose (2006)e tambm
abrangendo diversos outros olhares possveis sobre a poesia em lngua
de sinais. Tanto o texto potico escrito quanto o texto em lngua de
sinais podem, em toda sua estrutura, serem considerados registros.
A referida pesquisa compara ainda a percepo atravs da
leitura da traduo de um poema, a partir de representaes em imagens
da sinalizao do poema em lngua de sinais "Bandeira Brasileira". Na
pesquisa de Souza (2009), o autor solicita que participantes da pesquisa
descrevam sua percepo da verso escrita do poema realizado em
Lngua de Sinais. Atravs dos depoimentos, foi possvel verificar que
existe a possibilidade da compreenso das tradues independentemente
da sua modalidade e da linguagem expressa no texto. O texto traduzido
por Souza (2009), em forma de poesia visual, ao utilizar-se da
linguagem instituda pela conveno social permite a compreenso pelos
falantes da lngua em questo. Na produo da verso em lngua de
sinais realizada pelo poeta Nelson Pimenta em 1999, o poeta realizou
uma adaptao da imagem da Bandeira do Brasil representada pelos
recursos da lngua de sinais. Nesta pesquisa, portanto, busco analisar
como ocorre a percepo visual em ambas as modalidades, ou seja, tanto
na visualidade da poesia escrita, quanto na visualidade da poesia oral em
lngua de sinais.
A cor de fundo ou fundo neutro deve estar em consonncia com
o contexto do poema. O poema, em sua essncia, formado por
elementos verbais, ou seja, produes de sinais no espao de sinalizao
variam de acordo com a subjetividade evidenciada no poema em
composio com os demais elementos paralingusticos.
O trecho a seguir apresenta um excerto de poesia em que o
poeta, Nelson Pimenta apresenta uma poesia sem a utilizao de cenrio
ou elementos ao fundo. Observem na figura:
48

Figura 4 Plano de fundo neutro

Fonte: http://www.lsbvideo.com.br

No trecho a seguir o poeta Alan Henry, apresenta uma poesia,

com a utilizao de cenrio ou elementos ao plano de fundo. Observem
na figura 5:

Figura 5 Plano de fundo colorido

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=K399DQf9XRI

Os vdeos apresentados foram escolhidos porque apresentam as

seguintes caractersticas: o 1 vdeo, poesia de Nelson Pimenta,
apresenta uma poesia sem a necessidade de recursos visuais no fundo do
cenrio. O poeta extremamente experiente e domina todas as
habilidades que lhe permitem transmitir toda a visualidade da poesia na
prpria lngua de sinais, resultado de suas pesquisas e estudos para sua
produo. O outro poeta, por sua vez, utilizou os recursos de imagens no
plano de fundo que auxiliam na compreenso do pblico alvo,
produzindo efeitos de emotividade que aumentam o grau de interesse do
pblico. Ambos os trabalhos podem ser classificados como poesias,
mas, como foi dito anteriormente, o primeiro sem utilizar elementos de
fundo e o outro utilizando elementos que permitem a interao entre
imagem e produo sinalizada. As imagens, representadas no clipe ao
 49

fundo permitem a expresso da emotividade potica ao longo da

produo.
Pesquisas apontam que h diferenas entre a poesia realizada
em lngua de sinais ao vivo, onde h uma forte conexo com o pblico e
quela produzida em estdio onde h tambm uma ligao com o
pblico, mediada aqui pelas tecnologias (cenrio, plano de fundo,
arranjos, efeitos de vdeo) que, por sua vez, orientam a postura e a
direo do olhar do sinalizante no vdeo. As produes em palco tendem
a apresentar uma conexo intensa com o pblico expressa pelo contato
visual e interao constante que despertam a sua emotividade.
possvel perceber a conscincia do poeta na construo e
adequao desses textos ao contexto de produo e ainda que ambos os
textos constituem a poesia em lngua de sinais, que pode ser subdividida
e permitem uma anlise profunda em cada uma das instncias. A anlise
aprofundada no contexto de palco feita da poesia de Nelson Pimenta,
enquanto a anlise em contexto de vdeo tem por objeto o trabalho do
Poeta Alan Henry. Ben Bahan (2010) destaca que, nas produes em
vdeo, o uso das tecnologias determina o modo de construes poticas.
Spence(2008), no entanto, afirma que a performance do poeta no est
submetida ao cenrio (produes em vdeo ou no palco) em que ele se
apresenta. A presente pesquisa busca, portanto, verificar como estas
teorias se relacionam com a produo potica brasileira, em aspectos
como controle visual e pensamento, presentes nos trabalhos de Nelson
Pimenta e Alan Henry, considerando que o poeta/ator tenha vrias
tcnicas para desenvolver seu trabalho, seja no palco, com plateia, em
vdeo ou em vdeo com efeitos especiais/clipe. Nesta pesquisa no se
aborda as trs esferas, mas futuramente pode-se desmembrar essas trs
reas e produzir pesquisas mais aprofundadas para analisar a presena
de simetria em cada um desses espaos.
No primeiro grupo (quando ainda no se concebe a ideia
concreta de interao e a explorao se d, sobretudo atravs do cintico
e grfico), um trabalho pioneiro no Brasil, na perspectiva da traduo
intersemitica, Vdeo. A poesia visual12 objeto de pesquisa de uma
das subreas do campo dos estudos da traduo. No Brasil, de forma
pioneira, os estudos focaram suas anlises em poesias denominadas

Trata-se de um experimento composto por trabalhos produzidos no

Laboratrio de Sistemas Integrveis (LSI) do Departamento de Engenharia
Eletrnica da Escola Politcnica da USP e objeto de tese de doutorado de
Ricardo Arajo na Faculdade de Letras da USP (1996).
50

"concretas", onde a representao visual demonstrada nos prprios

grafemas e formas do texto. Esses estudos foram desenvolvidos dentro
do mbito da pesquisa em traduo intersemitica, abrangendo as
produes em vdeo.
Os reconhecidos poetas brasileiros Dcio Pignatari e Haroldo de
Campos possuem diversas produes poticas que representam bem a
esttica da poesia visual, a partir de sua criatividade e com a utilizao
de softwares que possibilitam a juno de filmes, alteraes na forma,
profundidade, dimenso, tamanhos, uso de trs dimenses, tudo isso
com o uso concomitante da palavra escrita. Esses recursos podem ser
adaptados para a potica visual da lngua de sinais que se diferencia da
primeira por tomar como base o uso do espao de produo no corpo.
A possibilidade de as cores utilizadas no plano de fundo causar
algum efeito esttico de emoo ou provocar algum sentimento para
quem assiste, depende do contexto do poema. A lngua de sinais tem
significado verbal em cada sinal, na sinalizao em si. O despertar de
sentimentos como a alegria podem estar aliados imagem apresentada,
imagem ilustrativa ou mesmo com a cor escolhida para o fundo. A
relao estabelecida pelos elementos no verbais apresentados
provocam algum tipo de emoo peculiar ao sujeito surdo, que um
sujeito ligado visualidade. A subjetividade inserida no contexto aflora
emoes particulares provocadas por uma sinalizao clara e todas estas
questes esto vinculadas aos estudos como intersemitica, pois
representa uma adaptao do poema em lngua de sinais. Sem uma cor
de fundo pensada para o poema, possvel que o mesmo seja
apresentado somente com os elementos verbais, que fazem parte dos
estudos lingusticos onde o poema em lngua de sinais pode ser tambm
analisado.
Diniz( 1998)apud Segala (2010)aborda o processo :
A traduo intersemitica, definida como traduo
de um determinado sistema de signos para outro
sistema semitico, tem sua expresso entre sistemas
os mais variados. Entre as tradues desse tipo,
encontra-se a das artes plsticas e visuais para a
linguagem verbal e vice-versa, assunto que tem sido
estudado por muitos autores contemporneos como
Nelson Goodman, Michael Benton, Nario Praz,
Jlio Plaza, Solange Oliveira e outros (DINIZ,
1998)(apud SEGALA, 2010, p.29).

Destaca-se que a percepo visual semitica da lngua de

sinais est diretamente ligada poesia. Esta possvel de ser adaptada e
 51

inserida dentro de uma arte visual ligada ao poema em lngua de sinais.

A linguagem artstica possui elementos visuais estticos e artsticos,
como se pode verificar em um dos exemplos na imagem ao fundo que se
destaca como elemento da composio do plano de fundo, com a
sinalizao. Pode ser considerada como relao interligada e provoca
efeitos estticos de percepo como lugar de inferncias nas sinalizaes
e possvel de ser vinculada visualidade dentro dos aspectos
diferentes no contexto visual.

3.2 . TRADUO INTERMODALIDADE

Destaco a relevncia de explicitar certas diferenas semnticas

que atribuem determinado valor poesia visual. Os sentimentos, os
significados, as percepes e interpretaes esto relacionados
modalidade da lngua utilizada. Neste paralelo temos as lnguas orais e
as lnguas de sinais. As lnguas orais esto ligadas fala e audio. As
produes poticas de pessoas ouvintes se do atravs das lnguas orais.
Por outro lado, as produes de pessoas surdas tm como objetivo o uso
da sinalizao e todos os aspectos que envolvem esta modalidade de
lngua. Outros aspectos que evidenciam a diferena entre as duas
modalidades so a essncia na visualidade, o contato visual e a forma de
apropriao de tais elementos visuais. Portanto, a modalidade oral est
relacionada com o sistema auditivo, com a audio e a modalidade
sinalizada relaciona-se com o sistema de percepo visual. Ambas
conservam suas especificidades. A modalidade oral destina-se ao
pblico que ouve, isto , um pblico ouvinte o qual se v tocado e
emociona-se com a cadeia de sons e a composio sonora das palavras.
As palavras podem despertar diferentes tipos de sensaes de acordo
com o tom da voz, composio de fonemas, e a sequncia utilizada, que
pode ser rimada ou no. Na lngua de sinais, a forma como a sinalizao
apresentada tambm pode ter variao que provoca sentimentos no
receptor. Uma sinalizao mais intensa ou mais suave une aspectos
prosdicos com os visuais que so internalizados e causam diferentes
emoes ao receptor da mensagem.
A Professora britnica Rachel Sutton-Spence esteve no Brasil
durante uma semana ministrando o curso sobre Literatura e Folclore.
Neste curso, esteve presente Nelson Pimenta, que fez uma homenagem
professora e seu esposo com uma poesia onde a configurao de mo
que constitui o sinal de ambos era o elemento principal da histria. Veja
as imagens a seguir:
52

Figura 6 Homenagens

Fonte: http//www.lsbvideo.com.br

Os presentes sorriam e se emocionavam com a apresentao,

que ao utilizar uma mesma configurao de mo, a histria fazia sentido
e seus elementos estavam todos relacionados.
Na imagem abaixo temos o recorte do vdeo Movimento dos
Surdos Brasileiros, que mostra uma adaptao da bandeira do Brasil,
na qual foi retirada da faixa a frase Ordem e Progresso e substituda
por Lngua Brasileira de Sinais. As pessoas que viram essa adaptao
ficaram impressionadas com esse ajuste cultura (figura 7).

Figura 7 Faixa a frase

Fonte: Alan Henry, 2011

As lnguas orais podem ser compreendidas pelo valor sonoro

que carregam, enquanto as lnguas de sinais possuem valor visual
expressos pelo corpo. Ambas, em suas particularidades, podem estar
combinadas em uma traduo, porm diferem-se enquanto lnguas de
modalidades diferentes. Sendo assim, o tipo de recepo e percepo
diferente assim como os componentes gramaticais que as constituem.
Estas diferenas reafirmam que cada modalidade conserva um estilo
prprio.
 53

3.3. TRADUO INTERLINGUISTICA

A traduo interlinguistica em portugus envolve a escrita, a

fala, as palavras e estudada com base em um registro da voz, listando
as palavras registradas, passando-as para um registro escrito da lngua
portuguesa e sua estrutura enquanto componentes lingusticos. Aps o
registro feita uma reestruturao para que possa apresentar-se como no
exemplo de prosa de forma interessante, comovente, envolvente,
harmoniosa ao leitor/ receptor. Por outro lado, ocorre na poesia em
lngua de sinais uma organizao e observao de componentes
prosdicos da lngua que incluem o uso do espao, a proximidade, o
distanciamento, as expresses faciais e rimas, objetivando tambm
envolver o receptor/expectador. O registro nas lnguas de sinais feito
atravs da gravao de vdeos, podendo ser publicados em DVD ou
disponibilizados em stios eletrnicos especficos para postagem de
vdeos, como o youtube. Nos dois casos explicitados, so lnguas que
esto envolvidas. Em relao fala e o registro feito de forma escrita.
Na sinalizao, o registro feito pela prpria sinalizao em vdeo.
Tanto no registro em vdeo, no caso da lngua de sinais, quanto no
registro de gravao de voz, para as lnguas orais, possibilitam uma
anlise lingustica. A composio esttica em Libras apresenta itens
lexicais, smbolos, neologismo e conceitos que so registrados em vdeo
e que, em sua essncia, promovem um efeito esttico (figura 8).
Assim sendo, esta composio esttica contm, tambm,
configurao de mo, movimento e locao, que podem sofrer
alteraes a fim de promover o efeito esttico, como se verifica na
imagem seguinte:

Figura 8 - 3 em 1 (lxicas, smbolos, neologismo.)

Fonte:http//www.lsbvideo.com.br
54

O expectador internaliza tais efeitos e cria uma representao a

partir do que nele despertado, com base na percepo visual e na
interpretao que faz da representao artstica sinalizada. A poesia em
lngua de sinais apresenta, em sua composio, ritmo, velocidade e
modo de produo todos concebidos esteticamente numa subjetividade
possvel de ser captada e registrada em vdeo. Ambos os tipos de
registros podem ser utilizados em pesquisas na rea da lingustica como
recurso para a anlise de dados nas lnguas envolvidas, mesmo sendo
recursos diferentes. Nesses registros identifica-se claramente a questo
cultural que, naturalmente, permeia a lngua utilizada. O registro
representa o enraizar de uma cultura, permitindo que alm de preservar a
cultura, ela possa ser difundida, conhecida e desenvolvida. A lngua de
sinais desenvolve-se e revela particularidades que fazem parte da
cultura.
No campo dos estudos da traduo, h duas poesias em lngua
de sinais que foram analisadas por duas renomadas autoras. Quadros e
Sutton Spence (2008) analisam as poesias em lngua de sinais,
abordando a composio dos sinais/ sinalizao, o uso da forma esttica
e o uso de sinais em concordando, possvel o registro dos efeitos
estticos presentes nas poesias. O trabalho foi realizado partindo da
transcrio dos sinais em forma de glosas. Uma das poesias analisadas
de autoria de Nelson Pimenta, publicada em 1999, intitulada Hino da
Bandeira. A poesia foi transcrita pelas autoras supracitadas. Outro
autor que aborda a referida poesia Souza (2009), que transcreve e
traduz em imagens a poesia sinalizada, explicitando o modelo esttico e
a forma artstica em imagem. Aborda, tambm a traduzibilidade, que
no envolve apenas o saber traduzir. Na imagem a seguir observa-se um
recorte da poesia de Pimenta e sua descrio (figura 9).

Figura 9 Bandeira Brasil

Fonte: http//www.lsbvideo.com.br
 55

J no trabalho de Souza pode se observar uma soluo

tradutria, que distribuiu letras de tal modo que correspondam com os
movimentos encenados por Pimenta, como mostra a imagem abaixo
(figura 10):

Figura 10 Traduzindo por Saulo Xavier

Fonte: SOUZA, 2009

Baseando-se no trabalho do poeta e tambm tradutor, vrios

autores e dentro de diferentes produes sabem o que, como e
onde podem traduzir de acordo com a experincia de interiorizao no
ato da traduzibilidade. Traduzir a poesia sinalizada para a lngua escrita,
que baseada na visualidade, reconhecer os sistemas lingusticos
distintos sem que se percam as especificidades da sinalizao no registro
escrito em outro sistema. No se trata de, simplesmente, traduzir de
modo literal, j que se pode transformar a poesia em retextualidade e
acaba-se criando nova palavra para complementar a traduo
intencionalmente, a partir da traduo original da lngua de sinais, j que
o portugus a primeira lngua do tradutor quando descreve a traduo.
Em algumas adaptaes possvel perceber que as tradues
no equivalem, exatamente ao que o poeta quer dizer, no exprimindo o
que est nas entrelinhas, aquilo que fica implcito na essncia da poesia.
O uso da tecnologia para fins de registro possibilita que a poesia seja
compreendida, fazendo-se entender atravs da poesia e da imagem que a
torna clara e contextualiza o receptor. As imagens aliadas poesia em
lngua de sinais podem traduzir o que est em outro plano, por ser um
sistema tridimensional (3D). A produo dos sinais ocorre atravs do
uso dos sinais explorando-se todas as dimenses do espao de
sinalizao. Por outro lado, o que no exposto na sinalizao, pode ser
feito usando-se a tecnologia e recursos de composio de imagens e de
materiais visuais. Todas estas questes so objeto de pesquisa no campo
56

dos estudos da traduo, especificamente relacionando a

traduo/transmutao de imagens.
Patrick Gray Bill (Hawk, 2007) destaca o conhecimento de
traduo/interpretao nos estudos de poema e poesia visual de lngua
de sinais.
Um dos participantes da oficina,Patrick
Graybill, um poeta dedicadoaos surdos na
traduo de obrasde lngua inglesa para
lngua de sinais ingls, e de modo
espontneo se ofereceu para interpretarum
dos poemas de Ginsberg entitulada
de"howl". Este ato ousado surgiu a nova
definio do movimento da poesia
modernista de lngua de sinais americana
em asceno.Aproximando a literatura
com o movimento, a literatura se alterou
pelas idias de Ginsberg,Graybill parou
detraduziras poesias de lngua inglesae
comeou a comporas obras depoesiaem
lngua de sinais americana. Graybill, por
sua vez, incentivou uma nova gerao
depoetasemergentesem lngua de sinais
americana.(HAWK, 2007)13

O autor explica que a escrita e o registro de poesia se perde com

o tempo, mas a sinalizao em American Sign Language cresce ou
perdura no tempo. A produo escrita atravs de traduo e
interpretao para a segunda lngua se perde e a lngua de sinais se
desenvolve melhor. Essa experincia est relacionada com o estudo do
sculo XXI. A linguagem visual construda por Valli (1995) se define
como um pensamento subjetivo, cuja imagem que captada atravs dos
olhos e passa pelo crebro e os contedos das imagens passam a
codificar uma linguagem visual atravs das produes em lngua de
sinais . Cada parte da imagem ligada s especificidades visuais nas
produes poticas apreendida mentalmente. Revelam, lembranas de

13
Traduo: One for the workshop attendees, Patrick Graybill, a deaf poet
dedicated translating English works into sign language, volunteered to
spontaneously interpret a few line from Ginsbergs poem, howl. This daring
act set the modernist ASL poetry movement on fire. With his approach toward
literature newly altered by Ginsbergs ideas, Graybill stopped translating
English poetry and bengan composing works of his own in ASL. Graybills
poetry, in turn, encouraged a generation of emerging ASL poets.
 57

histrias de vida arquivadas em vrios aspectos, como sentimento, e se

relacionam lngua de sinais e ao que visual. A exposio em lngua
de sinais acontece de acordo com os arquivos visuais interiorizados de
modo subjetivo. A linguagem gera uma imagem mental que tem relao
ao que j foi visto anteriormente.
58
 59

4. FILOSOFIA DA ARTE E ESTTICA

4.1. ESTTICA

Do termo grego aisthesis derivou-se a palavra esttica cujo

significado est ligado sensibilidade, ao deleite ou percepo
sensvel. Sobre esttica e poesia em lngua de sinais pode-se dizer que a
esttica se faz presente nas produes poticas sinalizadas e ambas,
intimamente interligadas, produzem efeitos de envolvimento que,
frequentemente, implicam em temas relacionados cultura, identidade
e subjetividade surda, bem como essncia do sujeito surdo, seus
sentimentos e a emoes. Dependendo do estilo esttico adotado pelo
poeta, as poesias podem enfocar uma produo mais sutil, mais sensvel
a partir de sinais mais envolventes e perfeitamente combinados, ou uma
produo esteticamente construda com determinados movimentos que
provoquem sentimentos correspondentes, ou seja, movimentos bruscos
que geram sensaes de fora, de energia ou antecedem sensaes de
alvio, por exemplo.
A esttica est relacionada ao subjetivo, ao interior do poeta que
reflete e que representa imagens mentalmente, internalizando-as e, em
seguida, expressando-as de forma potica. A esttica favorece a
subjetividade criativa, a inspirao e a imaginao e, empregada nas
poesias sinalizadas, geralmente est associada aos aspectos culturais e
lingusticos relativos aos Surdos. Est, portanto, como j mencionado
anteriormente, presente e intimamente ligada s poesias em lngua de
sinais.

4.2. ESTTICA NA LNGUA DE SINAIS

Aqueles com estetalento especialsofrequentemente

chamados de "signatrios suaves." um assinanteliso
algum quecomo um artista delinguagempode
teceruma histriato bem queat
mesmopronunciamentoscomplexos parecem
simples,mas bonita." ( BAHAN, 2006, p 24)14.

A lngua de sinais carregada de elementos pertinentes somente

a ela, tem esttica e estilo prprios e cada usurio apropria-se da lngua

14
TRADUO: Those with this special talent are often called "smooth
signers." A smooth signer is someone who as a language artist can weave a
story so smoothly that even complex utterances appear simples, yet beautiful."
60

de maneira diferente. Nesse sentido, a lngua de sinais no somente

uma vocao, mas sim uma construo que acontece por meio das
experincias, por isso existem pessoas que sinalizam de modo mais
brando e suave, enquanto outras, de modo mais firme e vibrante. Mesmo
sendo toda a sinalizao uma forma de inspirao, nunca ser
reproduzida no mesmo estilo, pois a lngua dinmica. Conforme
Bahan (2006),os poetas so como Smooth Signers, com leveza, seus
sinais so agradveis, suaves e brilhantes, embora sejam simples, so
bonitos.
 61

5.LNGUA DE SINAIS E TRADUO

H estudos no campo da lingustica que desenvolvem pesquisas

relacionadas s lnguas de sinais, que possuem especificidades, que lhe
so naturais. A lngua de sinais desenvolvida atravs do contato entre
os usurios da lngua. Ressalta-se aqui o papel primordial dos surdos
neste processo. Este se d na interao entre os pares, a partir das
subjetividades, conhecimento da visualidade, experincias, articulaes,
combinaes e convenes internas naturais a esse grupo. Quadros e
Karnopp (2004) explicam que as produes em Libras/LSB ocorrem a
partir dos contatos e afinidades combinadas perfeitamente s
configuraes de mo, desenvolvendo as histrias dessa comunidade. A
fonologia se encarrega dos estudos voltados configurao de mo, no
que tange s nuance apresentadas. Stoke (1960-1965) identificou, neste
perodo, as configuraes de mo, atestando a lngua de sinais enquanto
lngua de fato (apud). Quadros e Karnopp (2004).
Por outro lado, a lngua de sinais possui aspectos gramaticais
reconhecidos que se combinam entre si. Apontam-se cinco parmetros
que esto inseridos na lngua de sinais e que se apresenta nas produes
sinalizadas, que so: configurao de mo, movimento, ponto de
articulao, expresso facial e direcionamento da mo. Com base nesses
parmetros, reconhecidos linguisticamente, que a lngua se constitui e
reconhecida enquanto lngua. A expresso facial e orientao de mo
na lngua de sinais so elencadas na estrutura de aspectos fonolgicos.
No Brasil, Britto (1995) identificou 46 tipos diferentes de configuraes
de mo referentes lngua brasileira de sinais. Segundo a autora, a
comunicao pode ser desenvolvida e aprimorada dentro das poesias.
Nas poesias em lngua de sinais, as configuraes de mo tm
importncia central nas combinaes de rimas. As pesquisas em
fonologia apontam aspectos e parmetros estticos que possibilitam
combinaes e criatividade. A lngua de sinais, por ser uma lngua
natural, atravs do uso e interao da mesma, possibilita o surgimento
de neologismos e diversas combinaes entre eles, assim como o
desenvolvimento do lxico. Assim, nas poesias pode ocorrer um
rompimento, uma quebra com a lngua de sinais usual, para um uso
potico.
Libras a denominao da lngua brasileira de sinais,
oficialmente reconhecida pela lei 10.436. Outra denominao utilizada
LSB, sendo que a sigla LS uma conveno internacional para todas as
lnguas de sinais e B a abreviao de Brasileira, assim como acontece
62

com outras lnguas de sinais como ASL (sigla para American Sign
Language), LSF (Lngua de Sinais Francesa), entre outras.
As Configuraes de mo tratam de formas de mo possveis e
utilizadas na lngua brasileira de sinais, segundo Pimenta e Quadros
(2007), sendo catalogadas em 61 formas possveis, conforme pode ser
visto na imagem abaixo:
Figura 11: Configurao de mo

Fonte: http//www.lsbvideo.com.br

H uma relao natural entre produo e poesia em lngua de

sinais, mas a sinalizao se difere. Estes dois tipos de produo so
compreendidos, processados e dialogam entre si. Lech (1969) (apud
Sutton Spence) dispe acerca dos conceitos de regular e irregular (figura
11). O que se compreende enquanto regular o que utilizado na lngua
de sinais nas interaes, com combinaes de ritmo e rima, que so
interligados esteticamente. O lxico, a gramtica e tudo o que no
representa uma uniformidade enquadra-se no conceito de irregular.
Como exemplo de quebras, de irregularidades presentes nas poesias,
destacam-se as metforas simblicas (presentes nas produes
sinalizadas. Na sinalizao surgem neologismos (novos sinais) que
representam esteticamente um determinado conceito. Os sinais
mencionados no so convencionados, so desconhecidos no uso
cotidiano da lngua, ou seja, so geralmente desconhecidos pelos surdos,
usurios da lngua. Os usurios da lngua de sinais vem lngua em
primeiro plano. O uso dos novos termos, cunhados de forma esttica e
 63

potica, so percebidos na construo sinalizada. J os neologismos

poticos, usados de forma esttica, possibilitam que os usurios se
apropriem deles e os utilizem, enriquecendo seu vocabulrio. A poesia,
portanto, auxilia no enriquecimento do vocabulrio atravs das
interaes entre os surdos( figura 12).

Figura: 12 Comparao de sinal regular e irregular

Figura 12 sinal verbo voar

Fonte: Desenvolvida pela autora

Quanto questo do regular e irregular, pode-se ver a diferena

na configurao de mo. Quando se fala de sinais regulares, como por
exemplo, um sinal que use a configurao de mo . Pode-se dizer:
papagaio. Mas essa mesma configurao de mo pode ser irregular,
como no exemplo na figura 12 PSSARO. Neste caso, tem-se um
sinal irregular, pois mudou-se a configurao de mo, mas ainda assim
possvel entender. So sinais que mudam apenas a configurao de mo
e mantm os outros parmetros e o seu valor semntico. Porm, se h
uma mudana na configurao de mo, que apresenta uma forma
inexistente nos sinais regulares, ou nas configuraes de mo usuais,
pode-se considerar que so sinais irregulares que podem ser usados no
campo da literatura, com mudanas lexicais que no podem ser
realizados no campo dos sinais regulares.
Para que pudesse verificar a mudana na configurao de mo,
realizei um estudo experimental, analisando a produo espontnea de
uma criana. Primeiramente, apresentei o vdeo de Nelson Pimenta,
contando uma histria e usando apenas uma configurao de mo; em
seguida, a criana deveria produzir sua prpria histria, utilizando
somente a configurao de mo do seu sinal.13).
64

Figura 13 Mudana de configurao de mo

Fonte: Desenvolvida pela autora

Assim, pode-se observar diversos aspectos interessantes na

anlise comparativa das produes dos poetas. Para esse trabalho
elegeu-se como resultado relevante a rea de simetria e observou-se, na
anlise das poesias de Nelson Pimenta, aspectos de simetria e ritmo no
sistema 3 + 1, Sutton-Spence(2007), evidenciando seu conhecimento
acerca das regras de formao esttica de poesia em lngua de sinais. J
o poeta Alan Henry (figura 14) apresenta uma quebra dessa formulao
observada em Libras e em outras lnguas de sinais, revelando uma
 65

produo diferente da esperada, manifestando e despertando emoes de

forma to intensa que parece no ter limite para regras mtricas.

Figura 14 Rima

Fonte: Desenvolvida pela autora

Outro exemplo de rima d-se na simetria equilibrada, em

Encontro de Amor, com a configurao de mo no inicio, com
apenas uma mo. Depois troca-se de mo, havendo assim uma repetio
desse movimento com alternncia de mos em tempo repetitivo,
tornando assim a rima, produzida no mesmo espao e mesmo
movimento, com repetio de tempo uniforme. Podemos considerar essa
simetria como fraca ou equilibrada (Sutton-Spence e Kaneko 2007),
de acordo com anlises realizadas em pesquisas anteriores.
A simetria relacionada rima dever ser inverstigada mais a
fundo em futuras pesquisas, de forma a ampliar esse conhecimento de
interdependncia entre tempo de rima, na simetria, em lnguas de sinais.
Em Libras, o uso de elementos estticos, presentes nos poemas
em lngua de sinais, apresenta, em alguns casos, influncia da lngua de
sinais americana ASL. Porque so utilizados os emprstimos? Porque
so sinais bonitos, artsticos? Esta influncia cria um novo contexto de
sinalizao, unindo a ASL a Libras, utilizando movimento, expresso,
configurao de mo, combinados ao direcionamento da mo e ao uso
do corpo, surgindo o neologismo. O uso de sinais da ASL em Libras e
da Libras nas produes em ASL(figura 15), objetiva uma nova
66

visualidade combinando sinais regulares com irregulares como

possveis estratgias estticas.

Figura15 Emprstimo do ASL

Fonte: http/www.lsbvideo.com.br

No Brasil, as produes poticas carregam o estilo, as

particularidades daqueles que as produzem. Os poetas produzem, com
base em suas regies, especificidades e caractersticas da cultura de cada
estado. As poesias retratam as caractersticas, o jeito e o reconhecimento
das particularidades e especificidades presentes em cada cultura, com
composies e combinaes inerentes a esta (a cultura). Este processo
faz um movimento de trocas e interaes, trazendo um aspecto meldico
poesia.
Os poetas brasileiros, que fazem suas poesias em Libras,
conservam um estilo muito particular e que difere conforme a regio.
Cada estado brasileiro tem uma cultura prpria e, sendo assim, os poetas
retratam essas realidades. As poesias so desenvolvidas com base no
que de conhecimento dos poetas. O poeta algum que conta no s
com sua experincia, mas lhe exigido um estudo e um aprimoramento
voltados para o desenvolvimento dos poemas. Para unir estilo e aspecto
gramatical em uma poesia, necessrio um estudo e concordncia com
as regras. As poesias so repassadas para a nova gerao, que se
apropria e segue o movimento de repassar os conhecimentos culturais
para os demais participantes desta cultura. Os poetas populares tambm
adquiriram reconhecimento e valorizao atribudos queles conhecidos
como clssicos, ainda que no tivessem acesso ao conhecimento formal
para sua constituio como poetas. De forma subjetiva, os poetas
 67

populares sofreram influncias clssicas, desenvolvendo naturalmente

um novo estilo artstico.
Segundo Sutton-Spence, (2005), Valli (1993) e Leech (1969),
A poesia em lngua de sinais, assim como a poesia em qualquer lngua,
usa uma forma intensificada de linguagem (sinal arte) para efeito.
Os sinais, sejam eles classificados como clssicos ou populares,
so arte. Os sinais artsticos so esteticamente propensos a combinaes
em sua essncia. Sutton Spence (2005); Valli (1995)e Leech
(1969),identificaram a emergente criao de sinais artsticos nas lnguas
de sinais. Estes foram to amplamente difundidos, que passaram a ser
recorrentes nas produes em sinais. Este tipo de sinalizao difere da
sinalizao popular, do cotidiano dos usurios. Trata-se de uma
produo que tem crescido rapidamente, adquirindo um nvel superior,
com novos sinais, tambm nuances e elementos estticos reconhecidos e
valorizados. A poesia possibilitou o avano da lngua de sinais e o
enriquecimento do vocabulrio, atravs do uso de termos poticos. Os
sinais clssicos foram disseminados e chegaram a espaos e a pblicos,
que no detinham tal conhecimento. As novas geraes se apropriam de
tais conhecimentos e tambm dos significados, passando a utiliz-los. A
lngua de sinais reconhecida em primeiro plano, tendo papel principal
na compreenso por parte dos receptores, porm une aspectos regulares
e irregulares em uma interao de forma subjetiva nos poemas, criando
assim uma nova percepo esttica.
Conforme Quadros e Sutton-Spence (2006, p. 118-119), na
poesia importante destacar trs pontos, que so: o primeiro a direo
do olhar, que estabelece a referncia, a posio, parte da comunicao
no espao de sinalizao. O olhar sempre essencial na comunicao
em lngua de sinais. As interaes e a prpria comunicao entre os
surdos partem do olhar. O contato visual precede o movimento das
mos. Estabelecido o contato visual, o segundo ponto a incorporao.
Esta consiste na transformao do poeta em personagem, a mudana de
personagens no corpo do poeta, ou seja, a personificao quando o
poeta apropria-se e incorpora os personagens. Estes podem ser animais,
pessoas ou objetos e o poeta personifica e incorpora tais personagens. O
terceiro elemento est relacionado poesia, incorporao de sujeitos,
personificao. A posio est ligada forma de sinalizar, o olhar
daquele que sinaliza. Isto pode ser feito pessoalmente, presencialmente
ou atravs de gravao em vdeo. O foco, neste caso, est no jeito de
sentir a poesia em lngua de sinais, o impacto, a percepo que
certamente est ligada sensibilidade e a quem se direciona a
sinalizao. Estes trs elementos interligados poesia visual fazem parte
68

de tudo o que est intrnseco produo potica. O direcionamento do

olhar, a personificao e a ligao so utilizadas na poesia para provocar
uma sensibilidade visual esttica dentro da poesia. O poeta desenvolve
tais aspectos atravs de seu conhecimento e experincia, e os utiliza
valorizando a lngua de sinais.
 69

6. SIMETRIA NA POESIA EM LNGUA DE SINAIS

Sobre a simetria em lngua de sinais possvel aprofundar as

discusses trazendo o conceito de re-flexo (Weyl, 1952) que est
associado forma espelhada, que as mos podem ser empregadas na
sinalizao. Entende-se esse espelhamento como uma criao de
simetria bilateral onde os sinais e seus movimentos so construdos de
forma proporcional, tanto verticalmente quanto horizontalmente. Essas
construes de proporo entre os sinais sero possveis de serem
analisadas nesse estudo a partir das poesias de Nelson Pimenta e Alan
Henry poeta que estuda a composio de suas poesias, partindo de
uma base visual, inspirando-se no que apreende do mundo.
Questiona-se a possibilidade de encontrar esses elementos
simtricos nas poesias de Alan Henry. Partindo do registro dos dados, os
mesmos sero elencados. Isso tambm ser verificado nas poesias de
Pimenta, caso contenham elementos simtricos em sua composio,
para que possam ser comparados e dialogados com as produes de
Alan Henry, embasando o estudo de ambos no sentido de aprofundar
uma comparao mais clara entre produes poticas sinalizadas e
visuais.
A teoria dos estudos sobre simetria considera que as lnguas
faladas possuem uma estrutura linear e contnua e, ao contrrio das
lnguas de sinais, no possuem o uso do espao neutro de sinalizao
como via de comunicao. Dessa forma, a fala no possvel de ser
construda numa tridimensionalidade (3D). Essa simetria linear uma
particularidade da escrita que se comporta, por sua vez, diferentemente
nas lnguas sinalizadas. A simetria, quando presente nas lnguas de
sinais, construda no espao de sinalizao de forma tridimensional,
sendo possvel articular facilmente os sinais ao mesmo tempo e
combin-los em diferentes propores e dimenses. Ao trazer essa
comparao, verifica-se, portanto, que possvel tambm falar sobre
simetria em lngua de sinais.

"[...] A principal diferena estabelecida

entre lngua de sinais e lnguas orais foi a
presena da ordem linear (sequncia
horizontal no tempo) entre os fonemas das
lngua orais e sua ausncia nas lngua de
sinais, cujos fonemas so articulados
simultaneamente.
"QUADROS& KARNOPP. (2004, p.49)
70

Abaixo se observa o exemplo de imagem 3D (figura 16):

Figura 16 - 3D

fonte:www.libras.ufsc.br

A representao em 3D da lngua de sinais possibilita a

visualizao de trs dimenses: altura, largura e profundidade. J a
representao em 4D da lngua de sinais possibilita a visualizao das
dimenses citadas anteriormente acrescidas de tempo de sinalizao
(Heidi M. Rose, 2010.)
Na lngua de sinais, essa dimenso o 4D. Isso se pode
observar em Encontro de Amor onde a configurao de mo, no
inicio, usa apenas uma mo no sinal de PAPAGAIO,. Logo, em
seguida, essa configurao se repete com as duas mos, representando o
sinal de CORAO vrias vezes e, logo aps, a sequncia termina
com TCHAU.
J no vdeo Movimento dos Surdos Brasileiros, o tempo
marcado por BRASIL. Na sequncia h a repetio do sinal
BATUCAR e finaliza com obrigado. Assim, pode-se notar que o
4D existe na marcao de tempo, com incio, meio e fim (figura 17 e
18).
 71

Figura 17 4D

Inicio Repetio Fim

PAPAGAIO CORAO TCHAU

Fonte: http//www.lsbvideo.com.br

Figura 18 4D

Inicio Repetio Fim

BRASIL TAMBOR OBRIGADA

Fonte: Alan Henry, 2011

A simetria se apresenta de forma diferente quando empregada

nas lnguas de modalidade oral e escrita (possuindo limitaes quanto
linguagem falada) e nas lnguas sinalizadas (onde seu uso e combinao
so ilimitados). Nas lnguas de sinais a simetria pode ser empregada de
forma que seja possvel explorar o espao de sinalizao
tridimensionalmente e compor os sinais, articulando-os e relacionando-
os esteticamente. Essa modalidade de lngua (e simetria nela empregada)
o foco desse estudo que busca trazer discusses sobre a presena
72

desses aspectos simtricos nas produes poticas sinalizadas gravadas

em vdeo, enquadradas em um determinado foco e compostas por um
plano de fundo especfico. Neste sentido, para fins desse trabalho, os
dados sero registrados e analisados, considerando aspectos da
visualidade.

6.1. SIMETRIA E ASSIMETRIA

Pela filosofia ocidental, simetria o oposto de assimetria.

Contrapostos entre si, cada conceito possui sua especificidade e
desdobramento possvel de ser elencado e discutido separadamente. O
conceito de simetria possui, em sua estrutura, regras que determinam
sua qualidade esttica de beleza e perfeio. J a assimetria pode ser
entendida como tudo aquilo que no combinado entre si, isto ,
desarmnico e desigual. Exemplos sero apresentados para explicitar
cada um dos conceitos e seus princpios.
Sobre a simetria e a assimetria possvel afirmar que a primeira
possui qualidade de ordem, enquanto a segunda de desordem. Uma
constituda por combinaes correspondentes, a outra por desacordos e
desconexes. A simetria regida por determinados princpios, leis que
so obedecidas, j a assimetria est livre desses princpios. A simetria
baseia-se na organizao, no arranjo ordenado das formas. A assimetria,
na desorganizao, na estrutura organizada de qualquer jeito e sem um
arranjo combinado. A simetria por fim, possui um carter de beleza,
perfeio e formalidade. J a assimetria, ao contrrio, constituda por
irregularidades onde os sinais so construdos aleatoriamente e sem a
preocupao de combinao.
Os Pares mnimos, na Lngua Brasileira de Sinais, podem
apresentar simetria ou assimetria com relao ao movimento, conforme
exemplo seguinte.
No sinal TRABALHAR, o movimento assimtrico, uma vez
que realizado de forma alternada. Enquanto no sinal VDEO, o
movimento simtrico, pois realizado na mesma direo e ao mesmo
tempo (figura 19).
 73

Figura 19 Sinais que se opem quanto ao movimento.

Fonte: QUADROS & KARNOPP, 2004

Condio de simetria: caso as duas mos se movem na

produo de um sinal, ento determinadas restries aparecem, a saber:
CM deve ser a mesma para as duas mos, a locao deve ser a mesma
ou simtrica e o movimento dever ser simultneo ou alternado
(QUADROS&KARNOPP, 2004) (figura 20).

Figura 20. Simetria

Fonte: QUARDOS & KARNOPP, 2004

Pode-se dizer que tanto a simetria quanto a assimetria so

aspectos presentes nas lnguas de sinais. Os estudos e pesquisas
relacionados s lnguas sinalizadas comprovam a propriedade de
diversidade dos sinais e suas possveis variaes de combinao. Em
geral, o que se observa a construo de um sinal em oposio ao outro,
seja simtrica ou assimetricamente. Essa oposio pode ser entendida
74

como um fator de dualidade. Por exemplo, a oposio entre o que

escuro e o que claro (figura 21). possvel constatar que os aspectos
de dualidade simtrica podem ocorrer inmeras vezes e
sistematicamente numa sinalizao, assim como na relao dinmica do
que escuro e claro.

Figura 21 Oposio

Fonte: http/www.lsbvideo.com.br

Qual ento a relao entre configurao de mo e simetria? E

como isso ocorre? Pode-se pensar na configurao de mo que
sozinha pode trazer a ideia de triste e solitrio. J quando se usa esse
sinal em movimento de encontro das duas mos, pode-se dar uma
conotao feliz para o acontecimento. Sendo assim a simetria pode
mudar o sentido do enredo se for usada.
Na simetria pode-se ter alguns aspectos que geram ideia
positiva e negativa, mas nem sempre as mos fechadas vo trazer a ideia
de algo negativo, principalmente se estiver em simetria com a outra
mo. Isso se comprova no exemplo onde o sinal de PODER realizado
com as duas mos em S. No vdeo de Alan Henry Lutas Surdas...
Quando representa o BATUQUE DOS TAMBORES, o autor realiza
sinais com as duas mos. Outro exemplo seria do sinal sozinho, que
envolve a seguinte configurao de mo . . Pode-se considerar que esse
sinal passa a ser fraco, pois tem apenas uma mo e com menos
movimento. Se for usado o sinal com a configurao de mo
j se tem uma ideia de mais expressividade.
Napoli e Wu (2003), que apresentam a simetria na ASL
American Sign Language, defendem que possvel ter vrios aspectos
 75

simtricos em lnguas de sinais. Nota-se que isso possvel tambm em

Lngua de Sinais Brasileira. As teorias de Napoli e Wu so usadas no
Brasil e apresentam vrios componentes relacionados lngua de sinais,
tais como: reflexo, rotao, traduo, planar, dilatao, entre outros.
Pode-se considerar que cada um desses componentes podem ou no ter
simetria, dependendo da expresso facial, da configurao de mo, de
movimento e de direo. Esses aspectos podem auxiliar para pesquisas
futuras no Brasil.
Napoli e Wu (2003) identificaram a simetria como matemtica
na ASL America Sign Language. Pode-se usar esses aspectos tambm
na Libras, conforme os seguintes exemplos:
Reflexo: como se fosse o espelhamento de sinais. Em um dos
poemas analisados, tem-se isso com a configurao de mo em ,
conforme o exemplo (figura 22);

Figura 22 - Exemplo de reflexo

Fonte: http/www.lsbvideo.com.br

Rotao: quando o sinal faz um deslizamento de um lado ao

outro,. Isso se verifica no exemplo onde se tem o sinal de ajuda, que
realiza a rotao pela mo esquerda. Nos poemas, o sinal de ajuda
aparece vrias vezes. Nesse caso, a rotao se d pelo fato da mo
auxiliar fazer uma rotao, para servir de apoio para mo dominante,
conforme a figura 23;
76

Figura 23- Exemplo de rotao

Fonte: http/www.lsbvideo.com.br

Traduo: quando o sinal realizado com as duas mos e uma

delas faz o movimento diferenciado da mo dominante. O exemplo
seguinte mostra este particular (figura 24);

Figura 24 - Exemplo de traduo

Fonte: Alan Henry, 2011

Planar: quando o sinal realizado com o movimento oposto

entre as duas mos. No sinal de congresso nacional casa onde renem
os polticos brasileiros, nota-se que esse movimento realizado com
deslizamento central e as mos se separam. Observe no exemplo abaixo
(figuras 25 e 26);
 77

Figura 25 Exemplo de planar

Fonte: Desenvolvida pela autora

Figura 26 - Exemplo de plana

Fonte: Alan Henry, 2011

Dilatar: quando o sinal comea de forma sutil e termina com

uma nfase de grandeza. Para tal usa-se a alterao das expresses
faciais. Isso se pode verificar, no poema, o sinal de O Vo sobre o
Rio, que comea de forma sutil e depois colocada mais nfase nas
expresses.
No vdeo O Vo sobre o Rio j h uma leve mudana
na configurao de mo, que comea fechada e fica aberta no final do
movimento. Junto com a mudana na configurao de mo, h tambm
a alterao na expresso facial, com nfase no movimento dos lbios, de
acordo com a imagem abaixo (figura 27):
78

Figura 27 - Exemplo de dilatao

Fonte: Reproduo da autora

Ao criar um poema, o autor sabe os momentos em que vai

usar simetria ou no. Essa deciso tomada no momento que se opta
por fazer um sinal com apenas uma mo ou no faz-lo, de forma clara e
explcita.
H poetas, por exemplo, que constroem suas poesias partindo
de combinaes ordenadas por elementos que se opem e podem ser
expressos visualmente. possvel encontrar nas produes poticas, ora
o uso de elementos simtricos, ora o uso de elementos assimtricos
ambos empregados na poesia da mesma forma ou no. Esses elementos
de simetria e assimetria, bem como os elementos de oposio so
possveis de serem comparados e registrados com base em algumas
produes poticas em lngua de sinais analisadas nessa pesquisa.
Atravs das pesquisas desenvolvidas em BSL (British Sign
Language) pela pesquisadora terica Sutton-Spence e Michiko Kaneko
(2007)foram constatadas ocorrncias de aspectos simtricos nas poesias
sinalizadas entre eles e a combinao simtrica de contato,
especialmente nas produes poticas da poetiza Dorothy Miles. Dot
como tambm conhecida nem uma de suas poesias explora o uso de
variaes de contato (entre os cotovelos, por exemplo figura 28) e
essas variaes, embora bastante distintas e de certa forma difceis de
serem sinalizadas, so combinadas na poesia a partir de uma graduao
espacial de contato e uma composio de re-flexo entre os sinais, que
parecem espelhar-se entre si numa combinao perfeita de
correspondncia simtrica. Essas combinaes de simetria foram
verificadas na poesia de Dot produzida em BSL e pesquisadas por
Rachel Sutton-Spence.
 79

Figura 28 Trio

Fonte: Sutton-Spence e B.Woll,1998

Clayton Valli, poeta surdo americano, tambm desenvolveu

vrias produes poticas que, por sua vez, tambm so compostas de
aspectos simtricos. Valli produziu flash numa poesia sinalizada,
fazendo uso de soletraes manuais onde cada configurao de mo
combinada simetricamente e seus desdobramentos geram novos
significados, compondo palndromos. So raras as poesias sinalizadas
que fazem o uso puro de sinais palndromos. Enquanto fator de
padronizao, esses sinais so mais empregados nas poesias em lngua
de sinais. Em flash possvel estabelecer uma ponte quase que
perfeita entre as configuraes de mo que se constituem como um
padro de formas e so utilizadas em cada sinal repetidamente para
frente e para trs no espao de sinalizao e no transcorrer da
sinalizao do poema (figura 29). Nessa poesia, as configuraes de
mo formam cada sinal e correlacionam-se com as configuraes de
mo do alfabeto manual da Lngua De Sinais Americana. A ideia do
poema um desafio de corrida em que o personagem central est
classificado entre os corredores mais velozes. Nas primeiras trs
sequncias, os sinais formam a soletrao de f-l-a-s-h15, onde cada
configurao de mo sinalizada consecutivamente. Primeiro isso
acontece no sentido inverso, logo no sentido para frente e, em seguida,
no sentido inverso novamente. Desta forma, os sinais se apresentam
relativamente camuflados. Outra poesia de Clayton Valli tambm
composta por essas equivalncias simtricas Cow and Rooster
/ Vaca e Galo (figura 30).Nessa poesia possvel verificar
claramente as equivalncias simtricas entre os sinais numa sequncia

15
Glosa -Symmetry in Sign Language Poetry. Sutton-Spence e Kaneko,
Michiko, 2007
80

de acontecimentos. Valli explica que esses aspectos simtricos so de

fato empregados em suas produes poticas.

Figura29 - Flash

Fonte: www.dwansign.com

Figura30 Cow and Rooster

Fonte: www.dwansign.com

J aqui no Brasil esses aspectos de simetria so tambm

encontrados nas poesias de Nelson Pimenta, cujas anlises de duas de
suas obras sero trazidas nesta pesquisa. So elas: Encontro Do Amor
E Lngua Sinalizada E Lngua Falada. Ambas sero descritas nesse
estudo juntamente com mais duas poesias: Movimento Surdo E Mo
do Mar, de Alan Henry. Essas quatro obras sero dialogadas nesse
estudo trazendo uma interface com as poesias j mencionadas (de Dot
Miles e Clayton Valli (1995), porm, consideradas sob um diferencial
de referncias e estilos: as referncias de Pimenta embasadas em sua
formao de estudos formais sobre poesia e as de Alan Henry,
constitudas a partir de uma concepo autodidata, desprendida de
normas e naturalmente influenciada por experincias visuais. A
primeira, num estilo mais clssico e a segunda, num estilo mais popular.
 81

6.2. SIMETRIA-SIGNIFICADO

Os aspectos simtricos presentes nas poesias em lngua de

sinais que foram selecionados para anlise nessa pesquisa esto
embasados teoricamente nos estudos de Sutton-Spence (2005), que
apontam as especificidades simtricas presentes nas poesias sinalizadas,
bem como os mltiplos significados possveis implcitos nos sinais que,
de acordo com a autora, podem ser classificados como positivos e/ou
negativos.

Os sinais de tipo positivo so formados por configuraes de

mo em forma plana, com os dedos estendidos. Esse tipo de
configurao remete ao que bom e est presente nas poesias
sinalizadas. J os sinais de tipo negativo so formados por configuraes
de mo curvadas, com os dedos flexionados em forma de garra e
tambm so encontrados nas poesias em lngua de sinais. Tanto os sinais
de tipopositivo quanto os sinais de tipo negativo so, frequentemente,
usados nas poesias, mas, alm dessas tipologias, possvel encontrar
tambm uma ambiguidade presente entre elas (figura 31).

Figura 31 Simetria-Significado

Fonte: desenvolvida pela autora

Uma mesma configurao de mo tem trs significados: amor,

beijar e personagem, conforme pode se observar na imagem seguinte
(figura 32).
82

Figura 32 - Ambiguidade

Fonte:www.lsbvideo.com.br

Simetria significa a repetio em um determinado sinal ao longo do

poema. No caso da configurao de mo , assume uma forma que
pode ter vrios significados dentro do poema, como um sentimento ou
representar um animal, ou seja, essa configurao de mo pode carregar
consigo vrias interpretaes. Em Encontro de Amor, essa
configurao aparece com frequncia e o que marca a simetria dentro
da narrativa de Nelson Pimenta.
Em Mos do Mar nota-se a configurao de mo que
expressa os sentimentos de alegria e tristeza. Em todo o poema essa
configurao se repete no comeo, meio e fim, trazendo aspectos
positivos e negativos ao longo da narrativa. Veja abaixo as imagens
(figura 33):
 83

Figura33: Aspectos positivos e negativos

Positivo Negativo
Fonte: Desenvolvida pela autora

Sinais com esses tipos de configurao de mo so amplamente

utilizados nas lnguas de sinais e so empregados de forma bastante
natural, sem apresentar ambiguidade. J nas poesias sinalizadas, quando
os sinais do tipo positivo e negativo so empregados, a ambiguidade
pode se apresentar sem necessariamente definir um ponto de interseco
entre os dois tipos. Os aspectos relativos a essa ambiguidade podero ser
discutidos com mais propriedade a partir dos dados coletados nessa
pesquisa, por sua vez embasados nas referncias de Sutton-Spence. Ser
possvel explicar como essa ambiguidade acontece e como est
relacionada com os dois tipos de sinais mencionados (positivos e
negativos).
A ambiguidade pode ser aplicada na poesia artisticamente,
contudo, possvel de ser desfeita ou anulada quando h o emprego de
sinais combinados irregularmente. Essa anulao permite uma
construo potica reflexiva que decorre da cadncia de composio dos
sinais e seus respectivos tipos de configurao de mo, bem como do
uso de novos sinais (neologismos) muitas vezes com caractersticas
negativas, positivas e ambguas.
84
 85

7. ANLISE DA SIMETRIA NA POTICA VISUAL NA

INTERFACE NA LNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

7.1. ANLISE DE PRODUES POTICAS BRASILEIRAS

A metodologia usada nessa pesquisa contou com a anlise de

quatro poesias sinalizadas, duas por Nelson Pimenta e duas por Alan
Henry. O primeiro, com as poesias Encontro De Amor e Lngua
Sinalizada E Lngua Falada, 2011 e 1999 respectivamente; o segundo,
com Movimento dos Surdos Brasileiros e Mo do Mar, ambas de
2011. Todas foram transcritas e analisadas pelo ELAN, o que
possibilitou o levantamento dos dados, relativos aos tipos de simetria
presentes. A seguir sero apresentados os aspectos analisados nesse
estudo por meio de grficos.

7.1.1. SIMETRIA

Nas imagens abaixo, pode-se observar os seguintes tipos de

simetria:

EJH - Espelhados juntos horizontais: sinais simetricamente espelhados,

com as mos unidas e horizontalmente sinalizados. Nos sinais de Nelson
Pimenta tem-se o exemplo de POUSAR, onde se pode observar o
contato das mos (figura 34);

Figura 34 Espelhados juntos horizontais

fonte: Desenvolvida pela autora

EJV - Espelhados juntos verticais: sinais tambm simetricamente

espelhados e com as mos encostadas, mas verticalmente sinalizados.
86

Isso demonstrado no exemplo de Nelson Pimenta, em LUZES, onde

h o contato das mos verticalmente; em outro poema pode-se observar
o contato com o sinal de BOCA, em forma de corao (figura 35).

Figura 35 Espelhados juntos verticais

Fonte: desenvolvida pela autora

ESH - Espelhados separados horizontais: sinais espelhados, com as

mos afastadas entre si e sinalizadas horizontalmente no espao neutro
Isso demonstrado no vdeo de Alan Henry, que representa a separao
das mos no sinal de ALMA. J em CONGRESSO, observa-se as mos
separadas (figura 36).

Figura36 Espelhados separados horizontais

fonte: Desenvolvida pela autora

 87

ESV - Espelhados separados verticais: sinais espelhados, tambm

afastados, mas verticalmente sinalizados. No vdeo de Nelson Pimenta,
tem-se o exemplo de ANDAR, sem contato vertical. Outro exemplo
observado no vdeo de Alan Henry onde apresentado o sinal de MAR,
tambm sem esse contato vertical (figura 37).

Figura 37 Espelhados separados verticais

Fonte: Desenvolvida pela autora

J nas imagens que seguem, veem-se os seguintes tipos de

assimetria.

ALT_D_E - alternncia da mo dominante para dar equilbrio ao

movimento. No vdeo de Nelson Pimenta isso apresentado no sinal de
MERGULHO. Outro exemplo observado no vdeo de Alan Henry, no
sinal de PESSOAS CHEGANDO (figura 38).

Figura 38 Alternncia da mo dominante

Fonte: Desenvolvida pela autora

88

AH - Movimentos alternados horizontais: sinais que so produzidos

alternadamente, ou seja, assimtricos (no-espelhados) e sinalizados
horizontalmente. So representados por Nelson Pimenta no sinal de
NADA (figura 39).

Figura 39 Movimentos alternados horizontais

Fonte: Desenvolvida pela autora

AV Movimentos alternados verticais: sinais sinalizados

alternadamente, na direo vertical. Nelson Pimenta demonstra isso no
sinal de PAPAGAIO ANDAR. J no vdeo de Alan Henry, o sinal que
representa essa categoria CONFUSO, pois tem as caractersticas de ser
vertical e alternado (figura 40).

Figura 40 Movimentos alternados verticais

Fonte: Desenvolvida pela autora

 89

Pode-se observar vrios sinais simtricos. Durante a pesquisa,

detectou-se que existe outra categoria de sinais simtricos ainda no
descrita. Trata-se da simetria cruzada, que o ponto de contato entre o
dedo, a mo, o punho ou o cotovelo. As imagens abaixo demonstram
isso (figura 41):

Figura 41Simetria cruzada

Dedo Mo Punho Cotovelo

Fonte Reproduo da autora

Isso ocorre quando se realiza sinais espelhados, assim a visualizao

ocorre de forma cruzada ao ser realizado. Essa categoria no foi
encontrada na referncia da rea, no entanto, foi identificada na anlise
dos dados desta pesquisa.

X-D DEDOS CRUZADOS: representa sinais feitos de forma cruzada,

com contato nos dedos. Um exemplo desse sinal apresentado por
Nelson Pimenta em PSSARO VOAR (figura 42).

Figura 42 Dedos Cruzados

Fonte: Desenvolvida pela autora

90

X_M Mos Cruzadas: representa sinais feitos de forma cruzada, com

contato nas mos. Este sinal ocorre em ALAR VOO, de Nelson
Pimenta e em INCLUSO, de Alan Henry (figura 43).

Figura 43 Mos cruzadas

Fonte: Desenvolvida pela autora

X_P PUNHOS cruzados: Cruzados Punhos, representa sinais feitos de

forma cruzada, com contato nos punhos. No vdeo de Alan Henry
observa-se o sinal ESCRAVO, j Nelson Pimenta apresenta o exemplo
de SENTAR (figura 44).

Figura 44 Punhos cruzados

Fonte: Desenvolvida pela autora

 91

X_C Cotovelos Cruzados: Cruzados cotovelos, representa sinais feitos

de forma cruzada com contato nos cotovelos. Nos poemas analisados
no foram encontrados sinais cruzados no cotovelo (figura 45).

Figura 45 Cotovelos Cruzados

Fonte: Desenvolvida pela autora

Ademais, h trs tipos de simetria singular, quais sejam:

1) Quando uma mo apenas faz o sinal sozinho;
2) Quando as duas mos tm a mesma configurao, mas com
orientaes diferentes;
3) Quando as duas mos tm a configurao de mo diferente.
(figura 46)

Figura 46: Tipos de Simetria Singular

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3

Fonte: Desenvolvida pela autora
92

7.1.2. SIMETRIA-SIGNIFCADO

P+ : Os sinais tipo positivo, so marcados por configuraes de mo em

que os dedos encontram-se estendidos. Apresentao semntica est
relacionada ideia de alegria, coisas boas e claras (figura 47) .

Figura 47 Positivo

Fonte: PIMENTA, 1999 e Alan Herny, 2011

Nos sinais acima observa-se a marcao de ideias positivas, tais

como MUITAS RVORES, em Nelson Pimenta e SATISFAO, em
Alan Henry. Essa marcao realizada pela configurao de mo em
N (negativo): As configuraes desta categoria se apresentam com os
dedos flexionados. A representao semntica est relacionada ideia
de raiva, medo e escurido. Nos sinais seguintes, essa marcao
negativa demonstrada pela configurao de mo que traz a ideia de
fechado o obscuro (figura 48)
 93

Figura 48 Negativo

Fonte: Alan Henry, 2011

N (neutro): No possvel o reconhecimento de seu aspecto positivo

ou negativo, porque no apresenta uma configurao de mos definida,
dedos abertos ou estendidos. Nos exemplos seguintes no h nenhuma
marcao de ideias positivas ou negativas, essas so as expresses
neutras (figura 49).

Figura 49 Neutro

Fonte: PIMENTA, 2011

AM (ambiguidade): Essa categoria apresenta possveis configuraes

diferentes de mo, como aquelas representadas por pessoas e objetos.
Isso pode ser verificado em dois exemplos apresentados por Nelson
94

Pimenta, que mostra essa ambiguidade: no primeiro caso,

BOCA+CORAO, no segundo, a mesma configurao de mo, porm
em ponto de articulao diferente, dando assim uma outra conotao
(figura 50).

Figura 50 Ambiguidade

Fonte: Pimenta, 2011

7.1.3. RIMA-REPETIO

As rima se dividem em categorias de regularidade e

irregularidade.

REG - Na categoria de regularidade podemos definir como as

configuraes que so utilizadas nas interaes, com combinaes de
ritmo, rima que so interligados esteticamente na comunicao
cotidiana. Aqui os sinais usados GUERRA e NADAR no tiveram
alteraes, pois foram apresentados em sua forma usual (figura 51).
 95

Figura 51 Regularidade

Fonte:Alan Henry, 2011 e PIMENTA, 1999

.
IRREG - A categoria de irregularidade definida como a no
padronizao lexical, inclusive no nvel gramatical e sendo entendida
como algo que no representa uma uniformidade. Nos exemplos
seguintes, essa categoria apresentada pelo FUNDO DO MAR,
expresso sob a cabea e em CLIOS, produzido por apenas um dedo e
no quatro como na forma usual. Podemos considerar que essa quebra
de um dos parmetros d ao leitor/expectador uma nova leitura do
contexto literrio e metafrico (figura 52).

Figura 52 Irregularidade

Fonte: Pimenta, 1999 e 2011

96

7.1.4. CATEGORIAS DE SIMETRIA

SS Sinais simtricos: A simetria pode ser encontrada em sinais e

classificadores. Os sinais podem ser simtricos ou no. J os
classificadores tambm podem usar o recurso da simetria e assimetria
para constituio do discurso.
Sinais que apresentam configuraes semelhantes com as duas
mos, no caso do poema de Alan Henry com sinal de FORTE, e em
Nelson Pimenta, com o sinal de IGUAL, onde as duas mos repetem a
mesma configurao (figura 53).

Figura 53 Sinais simtricos

Fonte: Alan Henry, 2011 e PIMENTA, 1999

SAS Sinais assimtricos: A simetria pode ser encontrada em sinais e

classificadores. Os sinais podem ser simtricos ou no. J os
classificadores tambm podem usar o recurso da simetria e assimetria
para constituio do discurso.
Sinais que apresentam configuraes semelhantes com as duas
mos, no caso do poema de Alan Henry com sinal de FORTE, e em
Nelson Pimenta, com o sinal de IGUAL, onde as duas mos repetem a
mesma configurao (figura 54).
 97

Figura 54 Sinais assimtricos

Fonte: PIMENTA, 1999 e Alan Henry, 2011

Classificadores Simtricos e Assimtricos.

Abrange todos os classificadores que apresentam configuraes

semelhantes e diferentes.

CLS Classificadores simtricos - Nos exemplos seguintes nota-se que

os classificadores podem se apresentar de forma simtrica, como nos
exemplos de Nelson Pimenta e de Alan Henry, onde o primeiro diz:
OLHAR COM CORAO e o segundo, COMUNIDADE SURDA,
com sinais de grupos (figura 55).

Figura 55 Classificadores simtricos

Fonte: PIMENTA, 2011 e Alan Henry, 2011

98

CLAS Classificadores assimtricos - H aspectos assimtricos em

classificadores de lnguas de sinais. MAR CALMO, de Alan Henry,
demonstra os movimentos de calmaria nas guas, j Nelson Pimenta
apresenta as BOLHAS SAINDO DO FUNDO DO MAR, com
elementos que compem essa ideia, sem usar sinais definidos (figura
56).
Figura 56 Classificadores assimtricos
Figura 56 Classificadores assimtricos

Fonte: Alan Henry, 2011 e PIMENTA, 1999

7.1.5. COLUNA DE TOTAIS

O grfico acima apresenta as quatro categorias encontradas. A

categoria que mais se destaca a de simetriasignificado e rima-
repetio, ambas com 274 ocorrncias, mostrando uma relao direta
entre as duas categorias. Os resultados apresentados nos grficos trazem
os dados estatsticos. Dentro desses dados, pode-se desmembrar as
informaes e gerar novas pesquisas para cada item analisado.
(figura57).
 99

Figura 57 Planilha 6 A Dados consolidados, TOTAIS

Fonte: Desenvolvida pela autora

possvel observar no grfico a diviso em porcentagens das

ocorrncias nos poemas em lnguas de sinais. Pode-se notar que a
verticalidade uma recorrncia frequente em simetria, seja com as mos
alternadas, em contato, ou separadas. Em ESV (mos separadas) tem-se
29%, em EJV (mos juntas), 10% e em AV (mos alternadas), 9%.
Nota-se ainda que h menos simetria nos sinais realizados na horizontal
e em cruzados. Em SIS (mo com configurao diferente) registrou
35%, aspecto esse que deve ser aprofundado em pesquisas futuras, visto
que o mesmo no foi o objeto de estudo enfatizado nessa pesquisas.
(figura 58).
100

Figura 58 Planilha 5A Dados consolidados, Simetria

Fonte: Desenvolvida pela autora

Na categoria simetria e significado temos um maior ndice de

ocorrncia de sinais do tipo neutro (89%), seguidos dos sinais do tipo
positivo (7%), sinais do tipo ambguo (2%) e sinais do tipo negativo
(2%). Todas as configuraes apresentadas na produo potica (figura
59).

Figura 59 planilha 5B Dados consolidados, Simetria-Significado

Fonte: desenvolvida pela autora

A categoria rima-repetio apresenta, conforme no grfico, 76%

de ocorrncias de sinais regulares e 24% de ocorrncias de sinais
irregulares. Os dados evidenciam na produo potica o maior nmero
 101

de ocorrncia de sinais regulares, que so definidos como as

configuraes que so utilizadas nas interaes, com combinaes de
ritmo e rima, que so interligados esteticamente na comunicao
cotidiana. Em ndice menor esto os sinais irregulares que se definem
pela no padronizao lexical, inclusive no nvel gramatical e sendo
entendido como algo que no representa uma uniformidade, peculiar ao
gnero potico (figura 60).

Figura 60 Planilha 5C Dados consolidados, Rima-Repetio

Fonte: Desenvolvida pela autora

Na diviso por categorias, temos uma maior ocorrncia dos

sinais SS (34%)- Sinais simtricos, seguidos por CLS (28%)
Classificadores simtricos, num grau de ocorrncia bem equilibrado.
Logo aps, temos os sinais SAS (23%) Sinais assimtricos tambm
em um percentual prximo ao apresentado pelos sinais CLAS (15%)
Classificadores assimtricos. Apesar da ocorrncia maior de sinais
SS/SAS, os classificadores CLS/CLAS aparecem de forma auxiliar
produo dos sinais (figura 61).
102

Figura 61 Planilha 5D Dados consolidados, Categoria

Fonte: Desenvolvia pela autora

7.2. COMPARAO ENTRE POESIASDE CADA AUTOR:

NELSON PIMENTA E ALAN HENRY

Neste grfico temos uma comparao entre duas poesias

diferentes; Encontro de Amor, de Nelson Pimenta e Mo do Mar,
de Alan Henry. Na poesia de Nelson Pimenta percebemos um uso
continuo da configurao de mos e na poesia de Alan Henry
algumas ocorrncias desta configurao . Comparando as duas
poesias no que tange categoria simetria e significado, podemos
perceber que os sinais neutros (N) aparecem num grau de ocorrncia
esperado. Na poesia de Pimenta, Encontro de Amor, no entanto, a
configurao permite a ocorrncia de AM (13%)ambiguidade, j que
a mesma possibilita representar pessoas, verbos e animais. Ao contrrio
do que vemos na poesia, Mo do Mar, onde os sinais possuem uma
representao visual nica, sem possibilitar a ocorrncia de
ambiguidade. Somente nesta tambm h ocorrncia de sinais N
(14%)negativos, devido ao tema tratar de opresso, que remete ao uso
de sinais negativos (figura 62).
 103

Figura 62 Comparao simetria-significado entre Nelson Pimenta e Alan

Henry

Fonte: desenvolvida pela autora

Na categoria rima-repetio, a poesia Encontro de Amor
apresentou um ndice substancialmente maior de ocorrncias de
irregularidade, 98% em relao a 17% da poesia Mo do Mar que
apresenta 83% de sinais de regularidade em contraposio aos 2%
apresentados na primeira. A irregularidade presente em maior
ocorrncia na primeira poesia consequncia de um maior
conhecimento do poeta em relao a este uso, no to presente na
segunda poesia (figura 63).
104

Figura 63 Comparao rima-repetio entre Nelson Pimenta e Alan Henry

Fonte: Desenvolvida pela autora

Quanto categoria, a poesia Encontro de Amor apresenta a

maior ocorrncia de CLS (85%) Classificador Simtrico, seguido por
13% de ocorrncias de CLAS Classificadores Assimtricos e uma
menor ocorrncia de sinais. Na poesia Mo do Mar temos um maior
nmero de ocorrncias de SS (64%) Sinais Simtricos, seguido por
25% de ocorrncias de SAS (25%) Sinais Assimtricos e uma menor
ocorrncia de classificadores (figura 64).
Na comparao das duas poesias, importante perceber o
aspecto significativo da ocorrncia de classificadores. Os sinais podem
aparecer, mas de forma que estejam relacionados visualidade, tanto de
sinais simtricos quanto de assimtricos, mas com uma predominncia
 105

da ocorrncia de classificadores, especialmente os assimtricos que so

mais abertos e geralmente esto mais associados ao gnero potico.

Figura 64. Comparao categoria entre Nelson Pimenta e Alan Henry

Fonte: Desenvolvida pela autora

106
 107

8. DISCUSSO SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Para fechar este captulo de anlise, apresento uma sntese dos

padres simtricos observados nas poesias analisadas dos dois autores:
Diante dessa sntese, percebe-se que a simetria integra de forma
marcante as produes poticas na Libras, sendo usada como recurso
que traduz harmonia na poesia em lngua de sinais.
SEMELHANAS:
Considerando primeiramente as semelhanas entre as
sinalizaes dos poetas contemporneo e clssico,
verificou-se um padro no uso da criatividade, no estilo e
na esttica empregadas. Verificou-se tambm uma
padronizao no que diz respeito maior recorrncia dos
aspectos simtricos e, consequentemente, uma menor
recorrncia dos aspectos assimtricos.

Uma segunda semelhana observada diz respeito a que
ambos os poetas utilizam, a simetria e a assimetria, em suas
sinalizaes de forma bastante natural e espontnea. Esses
aspectos so espontneos e naturais, mas h alguns sinais e
trechos nos quais nota-se certo preparo com a antecedncia
na forma discursiva. Pode-se considerar que essa
espontaneidade se d por conta do contato com o enredo a
ser narrado. Pode ser que haja mais tempo para que o
ensaio seja realizado com antecedncia no caso de vdeo,
mas a naturalidade se d pela experincia de contato com a
lngua e os acontecimentos.

Uma terceira semelhana observada foi o uso de sinais
novos cruzados espelhados. Os mesmos foram encontrados
nas sinalizaes dos dois poetas e foram devidamente
registrados. Rima e repetio acabam por produzir
construes poticas com significados mltiplos e de
carter emotivo.

DISTINTAS:
considerando agora os elementos que se diferem nas
poesias de um autor para outro, possvel apontar que o
108

emprego de rimas 3+1 foi feito pelo poeta clssico, de

modo a considerar seus saberes e conhecimentos acerca de
normas de rima e repetio potica. O autor
contemporneo, por sua vez, no empregou essas normas
de rima e repetio, acabando por produzir construes
poticas com significados mltiplos e de carter emotivo. A
rima em lngua de sinais est relacionada simetria e tal
fato ocorre pela repetio de movimentos e pela
configurao de mo, podendo gerar tambm a assimetria.
Pesquisas futuras podem assegurar quantos grupos so
possveis de se formar com esses pares simtricos/rima;

Uma segunda diferena observada entre as sinalizaes

corresponde organizao das construes poticas. A
sinalizao do poeta clssico (autor com prvio
conhecimento de normas poticas) apresentou uma
sequncia mais organizada de sinalizao, respeitando a
lngua de sinais. J o poeta contemporneo construiu suas
sinalizaes de forma mais livre, expansiva, sem uma
ordem sequencial.
Outra diferena observada, por fim, foi o emprego maior de
classificadores simtricos por parte do poeta clssico e
menor, por parte do poeta contemporneo. Contudo, a
utilizao de sinais simtricos foi mais recorrente nas
sinalizaes do poeta contemporneo do que nas
sinalizaes do poeta clssico.
 109

9. CONCLUSO

Desde o inicio deste milnio temos visto emergir uma grande

quantidade de produo intelectual acadmica em lngua de sinais. Isso
est evidente nas narrativas, seja em vdeo ou em palco. Nas produes
ao vivo, temos um nmero maior de eventos como, congressos, peas
teatrais, conferncias, universidades e nos ambientes empresariais.
Devido a essa expanso das produes em lngua de sinais, possvel o
grande nmero de registro lingustico das narrativas. Com a conquista
do status lingustico da Libras, por meio da legislao, o decreto
tornou-se mais evidente nos registros das produes e pesquisas
cientificas.
Isso se deve tambm ao avano tecnolgico que permitiu
melhorias nos registros e meios de captao das lnguas de sinais,
possibilitando a gravao em vdeo dos mais diversos gneros de
produo textual em lngua de sinais. Atravs da internet, esses vdeos
podem ser facilmente compartilhados, permitindo a divulgao da
lngua bem como o conjunto de produes literrias dos surdos
brasileiros.
Alm disso, percebe-se uma maior aceitabilidade dos surdos em
assumir a visualidade de suas produes, divulgando suas opinies e
textos que, por sua vez, passam a ser registrados em foto, vdeo ou
registro escrito, permitindo o avano das pesquisas na rea. Dessa
forma, os atores surdos e tcnicos dessa rea ganharam espao para a
divulgao de suas produes e com isso muito tem contribudo para a
valorizao da lngua de sinais.
Minha pesquisa teve como objeto dados naturais coletados de
produes de poemas e poesias em Lngua de Sinais Brasileira, tendo
como foco a simetria e assimetria, encontradas em sua estrutura e
gramtica especfica. Esses dados puderam ser observados na produo
de poetas e suas criaes, atravs da anlise lexical no que tange a
configuraes de mo, estilo e criaes poticas.
Essa produo literria permitiu que se fizesse a traduo e
interpretao dos dados, localizando-se mltiplos sinais novos e em
interface com a lingustica, observar a padronizao dos sinais
produzidos por surdos em um primeiro plano, e a difuso dos mesmos
signos lingusticos entre surdos, sinalizantes de L1(lngua nativa) em
lngua de sinais.
O levantamento de simetrias na pesquisa pretendia verificar a
relao existente dos recursos simtricos com o gnero textual da
poesia. A anlise se deu a partir de quatro categorias principais:
110

simetria, simetria-significado, rima-repetio e categoria, todas

relacionadas e encontradas nas produes poticas analisadas. Tambm
foi possvel perceber, a partir das categorias analisadas e separadas em
cada produo, uma diferena entre os poetas. Um apresentou fluncia e
esttica na sinalizao e outro, com fluncia, mas com menos domnio
esttico, sendo possvel no entanto, com o auxlio de um poeta mais
fluente, incrementar a produo de forma a torn-la mais bem elaborada.
O poeta mais experiente, conhecedor das regras e da
padronizao potica, dos efeitos de rima e repetio, tende a manter
uma produo tradicional, diferente do outro perfil de poeta que aposta
na quebra dos padres mtricos, inovando e permitindo emergir novas
criaes e estilos diferentes, sendo que ambos podem estabelecer
relaes em suas formas de trabalho.
possvel notar uma recorrncia na simetria vertical em ESV;
EJV; AV. Nota-se a maior presena de V, que representa a
verticalidade dos sinais. A alternncia nos movimentos tambm
recorrente. J a simetria horizontal quase no encontrada. Isso se deve
ao fato dos sinais acompanharem a estrutura vertical do corpo humano,
trazendo uma leveza nas expresses. Segundo Heide M. Rose (2006), a
lngua de sinais tem uma marcao de corporeidade, como se o corpo
fosse o papel que recebe o texto a ser impresso. Napoli e Wu (2003)
tambm defendem a ideia da verticalidade na sinalizao que tambm
validada ainda por Sutton-Spence (2007). Esse fenmeno recorrente
nas lnguas de sinais americana, brasileira e britnica, notando-se assim
que a simetria vertical gera uma leveza e traz conforto para a produo
potica em vrios lugares pelo mundo.
possvel visualizar o valor das produes literrias de surdos
na comunidade surda, alm de outros espaos como as associaes de
surdos. Com a difuso da lngua de sinais no ambiente educacional, os
sujeitos envolvidos na educao dos surdos, como professores,
intrpretes e contadores de histrias necessitam desenvolver sua fluncia
nesta lngua para contribuir com a sua difuso no meio social. Dessa
forma, esses profissionais deixam de utilizar a lngua de forma restrita,
apenas lexical ou bimodal, permitindo a valorizao da criatividade
lingustica e expresso da subjetividade surda, estimulando a autoria de
indivduos surdos.
Percebeu-se tambm um aumento das produes e registros
literrios em lngua de sinais, permitindo um avano e fornecendo
materiais de pesquisa, no s restritos a um nico campo, mas
promovendo uma transdisciplinaridade e relao entre as diversas reas,
fortalecendo a produo literria brasileira de sujeitos surdos.
 111

Observou-se, por outro lado, que h um avano na produo

literria brasileira que evidencia a riqueza da lngua brasileira de sinais
utilizada pelos sujeitos surdos no Brasil.
112
 113

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 117

APNDICE A

Planilha 1 A - Poesia "Encontro de Amor". SIMETRIA

PLANOS
EJH 1 2%
EJV 12 30%
ESH 2 5%
ESV 13 32%
ALT_D_E 0 0%
AH 0 0%
AV 4 10%
X_D 1 3%
X_M 0 0%
X_P 6 15%
X_C 0 0%
SIS 137 78%
LEGENDA
EJH ESPELHADOS JUNTOS HORIZONTAIS
EJV ESPELHADOS JUNTOS VERTICAIS
ESH ESPELHADOS SEPARADOS HORIZONTAIS
ESV ESPELHADOS SEPARADOS VERTICAIS
ALT_D_E ALTERNADOS - MO DOMINANTE
AH ALTERNADOS NA HORIZONTAL
AV ALTERNADOS NA VERTICAL
X_D CRUZADOS DEDOS
X_M CRUZADOS MOS
X_P CRUZADOS PUNHOS
X_C CRUZADOS COTOVELOS
118

Fonte: Desenvolvida pela autora

 119

Planilha 1B - Poesia "Encontro de Amor" - Simetria-Significado

Plano
P+ 0 0%
N- 0 0%
N 35 87%
AM 5 13%
LEGENDA
P+ POSITIVO
N- NEGATIVO
N NEUTRO
AM AMBIGUIDADE

Fonte: Desenvolvida pela autora

120

Planilha 1C - Poesia "Encontro de Amor" - Rima-Repetio

Plano
REG 1 2%
IRREG 39 98%
LEGENDA
REG REGULAR
IRREG IRREGULAR

Fonte: Desenvolvida pela autora

 121

Planilha 1D - Poesia "Encontro de Amor" - Categoria

Plano
SS 1 2%
SAS 0 0%
CLS 34 85%
CLAS 5 13%
LEGENDA
SS SINAL SIMETRICO
SAS SINAL ASSIMETRIO
CLS CLASSIFICADOR SIMETRICO
CLAS CLASSIFICADOR ASSIMETRICO

fonte: Desenvolvida pela autora

122

Planilha 1E - Poesia "Encontro de Amor" - Total

SIMETRIA 30
SIMETRIA-SIGNIFICADO 40
RIMA-REPETIO 40
CATEGORIA 40

Fonte: Desenvolvida pela autora

 123

Planilha 2 A - Poesia "Movimento Surdo". SIMETRIA

PLANO
EJH 1 2%
EJV 13 30%
ESH 7 5%
ESV 44 32%
ALT_D_E 6 5%
AH 0 0%
AV 31 10%
X_D 0 3%
X_M 6 5%
X_P 7 6%
X_C 0 0%
LEGENDA
EJH ESPELHADOS JUNTOS HORIZONTAL
EJV ESPELHADOS JUNTOS VERTICAL
ESH ESPELHADOS SEPARADOS HORIZONTAIS
ESV ESPELHADOS SEPARADOS VERTICAIS
ALT_D_E ALTERNADOS - MO DOMINANTE
AH ALTERNADOS NA HORIZONTAL
AV ALTERNADOS NA VERTICAL
X_D CRUZADOS DEDOS
X_M CRUZADOS MOS
X_P CRUZADOS PUNHOS
X_C CRUZADOS COTOVELOS
124

Fonte: Desenvolvida pela autora

 125

Planilha 2B - Poesia "Movimento Surdo" - Simetria-Significado

Plano
P+ 13 11%
N- 1 1%
N 105 88%
AM 0 0%
LEGENDA
P+ POSITIVO
N- NEGATIVO
N NEUTRO
AM AMBIGUIDADE

Fonte: Desenvolvida pela autora

126

Planilha 2C - Poesia "Movimento Surdo" - Rima-Repetio

Plano
REG 99 85%
IRREG 18 15%
LEGENDA
REG REGULAR
IRREG IRREGULAR

Fonte: Desenvolvida pela autora

 127

Planilha 2D - Poesia "Movimento Surdo" - Categoria

Plano
SS 59 48%
SAS 19 13%
CLS 16 13%
CLAS 29 24%
LEGENDA
SS SINAL SIMETRICO
SAS SINAL ASSIMETRIO
CLS CLASSIFICADOR SIMETRICO
CLAS CLASSIFICADOR ASSIMETRICO

Fonte: Desenvolvida pela autora

128

Planilha 2E - Poesia "Movimento Surdo" - Total

SIMETRIA 119
SIMETRIA-SIGNIFICADO 119
RIMA-REPETIO 117
CATEGORIA 123

Fonte: Desenvolvida pela autora

 129

Planilha 3 A - Poesia "Mo do Mar" SIMETRIA

PLANO
EJH 1 4%
EJV 2 7%
ESH 0 0%
ESV 16 57%
ALT_D_E 2 7%
AH 0 0%
AV 6 21%
X_D 0 0%
X_M 0 0%
X_P 1 4%
X_C 0 0%
LEGENDA
EJH ESPELHADOS JUNTOS HORIZONTAL
EJV ESPELHADOS JUNTOS VERTICAL
ESH ESPELHADOS SEPARADOS HORIZONTAIS
ESV ESPELHADOS SEPARADOS VERTICAIS
ALT_D_E ALTERNADOS - MO DOMINANTE
AH ALTERNADOS NA HORIZONTAL
AV ALTERNADOS NA VERTICAL
X_D CRUZADOS DEDOS
X_M CRUZADOS MOS
X_P CRUZADOS PUNHOS
X_C CRUZADOSCOTOVELOS
130

Fonte: Desenvolvida pela autora

 131

Planilha 3B - Poesia "Mo do Mar" - Simetria-Significado

Plano
P+ 1 4%
N- 4 14%
N 23 82%
AM 0 0%
LEGENDA
P+ POSITIVO
N- NEGATIVO
N NEUTRO
AM AMBIGUIDADE

Fonte: Desenvolvida pela autora

132

Planilha 3C Poesia "Mo do Mar" - Rima-Repetio

Plano
REG 24 83%
IRREG 5 17%
LEGENDA
REG REGULAR
IRREG IRREGULAR
Fonte: desenvolvidapelaautora

Fonte: Desenvolvida pela autora

 133

Planilha 3D - Poesia "Mo do Mar" Categoria

Plano
SS 18 64%
SAS 7 25%
CLS 1 4%
CLAS 2 7%
LEGENDA
SS SINAL SIMETRICO
SAS SINAL ASSIMETRIO
CLS CLASSIFICADOR SIMETRICO
CLAS CLASSIFICADOR
ASSIMETRICO

Fonte: Desenvolvida pela autora

134

Planilha 3E - Poesia "Mo do Mar" - Total

SIMETRIA 28
SIMETRIA-SIGNIFICADO 28
RIMA-REPETIO 29
CATEGORIA 27

Fonte: Desenvolvida pela autora

 135

Planilha 4A - Poesia "Lngua Sinalizada e Lngua Falada" SIMETRIA

PLANO
EJH 1 1%
EJV 11 12%
ESH 1 1%
ESV 38 41%
ALT_D_E 18 19%
AH 0 0%
AV 22 24%
X_D 0 0%
X_M 1 1%
X_P 0 0%
X_C 0 0%
LEGENDA
EJH ESPELHADOS JUNTOS HORIZONTAIS
EJV ESPELHADOS JUNTOS VERTICAIS
ESH ESPELHADOS SEPARADOS
HORIZONTAIS
ESV ESPELHADOS SEPARADOS VERTICAIS
ALT_D_E ALTERNADOS - MO DOMINANTE
AH ALTERNADOS
NAHORIZONTAL
AV ALTERNADOS NA VERTICAL

Fonte: Desenvolvida pela autora

Fonte: Desenvolvida pela autora

136

Planilha 4B - Poesia "Lngua Sinalizada e Lngua Falada" - Simetria-

Significado
Plano
P+ 6 7%
N- 1 1%
N 80 92%
AM 0 0%
LEGENDA
P+ POSITIVO
N- NEGATIVO
N NEUTRO
AM AMBIGUIDADE

Fonte: Desenvolvida pela autora

 137

Planilha 4C Poesia "Lngua Sinalizada e Lngua Falada" - Rima-Repetio

Plano
REG 84 95%
IRREG 4 5%
LEGENDA
REG REGULAR
IRREG IRREGULAR

Fonte: Desenvolvida pela autora

138

Planilha4D - Poesia "Lngua Sinalizada e Lngua Falada" - Categoria

Plano
SS 24 27%
SAS 35 40%
CLS 24 27%
CLAS 5 6%
LEGENDA
SS SINAL SIMETRICO
SAS SINAL ASSIMETRIO
CLS CLASSIFICADOR SIMETRICO
CLAS CLASSIFICADOR ASSIMETRICO

Fonte: Desenvolvida pela autora

 139

Planilha 4E - Poesia "Lngua Sinalizada e Lngua Falada" Total

SIMETRIA 92
SIMETRIA-SIGNIFICADO 87
RIMA-REPETIO 88
CATEGORIA 88

Fonte: Desenvolvida pela autora

140

Planilha 5A - Dados consolidados, SIMETRIA

PLANOS
EJH 4 1%
EJV 38 15%
ESH 10 4%
ESV 111 44%
ALT_D_E 26 44%
AH 5 0%
AV 35 14%
X_D 1 0%
X_M 7 2%
X_P 14 14%
X_C 0 0%
SIS 137 35%
EJH ESPELHADOS JUNTOS HORIZONTAIS
EJV ESPELHADOS JUNTOS VERTICAIS
ESH ESPELHADOS SEPARADOS HORIZONTAIS
ESV ESPELHADOS SEPARADOS VERTICAIS
ALT_D_E ALTERNADOS - MO DOMINANTE
AH ALTERNADOS NA HORIZONTAL
AV ALTERNADOS NA VERTICAL
X_D CRUZADOS DEDOS
X_M CRUZADOS MOS
X_P CRUZADOS PUNHOS
X_C CRUZADOS COTOVELOS
SIS SIMETRIA SINGULAR
 141

Fonte: Desenvolvida pela autora

142

Planilha 5B - Dados consolidados, SIMETRIA-SIGNIFICADO

PLANOS
P+ 20 7%
N- 6 2%
N 243 89%
AM 5 2%
LEGENDA
P+ POSITIVO
N- NEGATIVO
N NEUTRO
AM AMBIGUIDADE

Fonte: Desenvolvida pela autora

 143

Planilha 5C - Dados consolidados, RIMA-REPETIO

PLANOS
REG 208 76%
IRREG 66 24%
LEGENDA
REG REGULAR
IRREG IRREGULAR

Fonte: Desenvolvida pela autora

144

Planilha 5D - Dados consolidados, CATEGORIA

SS 92 34%
SAS 61 23%
CLS 75 28%
CLAS 41 15%
LEGENDA
SS SINAL SIMETRICO
SAS SINAL ASSIMETRIO
CLS CLASSIFICADOR SIMETRICO
CLAS CLASSIFICADOR ASSIMETRICO

Fonte: Desenvolvida pela autora

 145

Planilha 6A - Dados consolidados, TOTAIS

PLANOS
SIMETRIA 251
SIMETRIA-SIGNIFICADO 274
RIMA-REPETIO 274
CATEGORIA 269

Fonte: Desenvolvida pela autora

146
 147

Esta dissertao est disponvel em lngua de sinais em DVD na BU

148
 149

ANEXO A
DVD contendo a dissertao em Lngua De Sinais Brasileira-
Libras, com trechos de filmes e vdeos.