Apostila - JORNADA DA CATEQUESE DESCOMPLICADA

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J O R N A D A D A C A T E Q U E S E D E S C O M P L I C A D A

Conhecimento da Igreja para


vencer problemas diários
Para começarmos esse curso que tem por finalidade descomplicar o estudo da
sã Doutrina Católica, identificamos algumas dificuldades dadas pela falta de conheci-
mento e de estudo para um católico em nossa sociedade pós-moderna, principalmente
no Brasil onde nossa catequese, infelizmente, está em tantos níveis defasada. Primeiro,
a tibieza ou a chamada “mornidão”, que produz os famosos “católicos de IBGE”, isto é,
aquela atitude do fiel desinteressado, que acomodou-se em participar ocasionalmen-
te da vida sacramental, não lhe pesa a consciência estar longe do estado de graça
ou, pior, em comungar em situação de pecado grave. Mas essa atitude é ainda mais
desapercebida e igualmente nociva entre aqueles que, embora tenham uma vida de
presença na Igreja e nas missas, sua participação é inconsciente e a grande tentação
é aquele sentimento de “papel cumprido” por participar das celebrações dominicais,
ter recebido os sacramentos da Iniciação cristã, ir em retiros esporádicos, etc. Nestes,
pode-se notar o fenômeno de uma “fé suja”, uma fé contaminada por assuntos e ques-
tões fora do âmbito religioso, mas que se acumulam no imaginário religioso sujeito de
modo que lhe seja difícil distinguir o que realmente pertence ou não àqueles conteúdos
essenciais da doutrina da Igreja, o que é ou não é referente às obrigações dos fiéis,
dispersando as atenções de estudo e aprofundamento. Pior é quando se assumem
costumes ou regras de conduta que não estão associados diretamente a vida cristã, de
maneira a “pesar” a vida, a gerar o escrúpulo e a ansiedade como alguém que a todo
momento pretende saber o “pode ou não pode?” e ir minando a liberdade dos filhos de
Deus.
A segunda dificuldade é gerada pelo medo adquirido pela falta de segurança
em relação a doutrina; não saber se posicionar e nem avaliar as situações objetivas
da vida, tornando o fiel acanhado e recluso. Se a nossa condição de criaturas feitas à
imagem e semelhança de Deus significa em nós a vontade e a inteligência, uma fé mal
formada é fonte de uma vontade deformada, fraca, inconstante e insegura, que não
saberá decidir-se pelo bem e pelo caminho correto a seguir. Outro problema é quando
a falta de preparo e de conhecimento acaba por fazer perder as chances de se evan-
gelizar alguém; acabam por afastar o católico de sua missão de evangelizar e conduzir
os outros para a Igreja, seja um amigo, os filhos e até os próprios pais. Alguns até muito
bem intencionados, se propõem em iniciar uma vida intelectual de aprofundamento,
no entanto, sem as bases bem formadas não sabe ordenar-se em relação aquilo que
lhe é essencial e estudar de forma empenhada e gradativa. A estes, pode aparecer um
fenômeno que chamamos de “glutonaria intelectual”: lê-se muito, mas pouco fica retido
por não haver integração alguma.
Para quem se percebe vivendo algumas dessas dificuldades, a primeira coisa
a ser dita é que estudar é organizar, não existe estudo sem ordem e por isso vamos
tratar de orientar os primeiros passos a serem dados, de maneira correta, para que não
se perca tempo nem energia nessa empreitada. Não significa que a organização é um

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pré-requisito para o estudo: o estudo é a organização propriamente dita; isso porque


estudar é por em ordem conteúdos e noções de maneira a construir um edifício de co-
nhecimento, onde cada tijolo deve estar em seu devido lugar. Ler um livro consiste em
assumir uma lógica de uma outra pessoa, posta por escrito, e de organizá-la de modo
que se traduza a si aquela lógica. Depois, estudar é facilitar: resumir, descomplicar, fa-
zer analogias, como Jesus nas parábolas explicando os profundos conteúdos da fé por
meio de historietas. A pressa também será sempre inimiga da perfeição, e o estudo exi-
ge paciência e constância, tanto em relação ao tempo como no respeito à ordem das
coisas, sem saltar temas elementares que se “acha” que sabe e sem receio de repetir
os mesmos temas para aprofundá-los até que de fato se entenda.
Para ilustrar como o caminho catequético da Igreja se estrutura usamos da se-
guinte ambientação: No feudalismo, toda uma comunidade era orientada por um se-
nhor feudal, responsável por proteger e gerir os recursos do feudo; por seus conse-
lheiros diretos, por guardiões, por exploradores – que saíam dos limites das terras
para fazerem descobertas e trazerem recursos – e, por fim, da plebe, ou vassalos,
que se ocupavam com os deveres elementares da sociedade como a agricultura, o
pastoreio, o artesanato, etc. Num lugar desses, certa vez, apareceu um grande dra-
gão que queimou as casas, matou pessoas e rebanhos de maneira que os guardiões,
que nunca tinham visto tal fera, nada puderam fazer para proteger a cidade. Depois
dessa tragédia, o senhor feudal enviou seus exploradores com a missão de procurar o
dragão e matá-lo. Estes saíram na empreitada e passados meses, descobriram onde
se escondia o dragão, bolaram um plano e conseguiram vencê-lo. Levaram a carcaça
para a cidade, onde os conselheiros estudaram sua anatomia, suas presas, sua pele,
suas possíveis fraquezas e compilaram um livro catalogando a espécie. Entregaram
o livro ao senhor feudal que depositou-o na biblioteca do feudo. Anos depois, outro
dragão apareceu, mas os danos foram quase nulos: perceberam a necessidade de
mudar a forma de construírem as casas, trataram de soar um alarme para que o povo
se abrigasse e os guardiões sabiam que armas usar para deter a fera.
Pois bem: nessa nossa história, a Biblioteca do reino é a Igreja, que guarda e
preserva todas as necessárias informações para a vida cristã; os exploradores são os
Teólogos, que vão em busca de resolver o problema e dedicam suas vidas em elucidar
os conteúdos da fé; os guardiões são os grandes Apologetas, os defensores da fé e da
ortodoxia, que buscaram responder as heresias e manter a pureza da fé; os conselhei-
ros são os Bispos que, juntamente com o Papa – senhor feudal – compilam, organizam
e interpretam os dados trazidos pelos teólogos para formarem o Magistério da Igreja,
os ensinamentos e doutrinas essenciais da fé cristã que depois são passados para os
“moradores do vilarejo”, isto é, para todo o povo de Deus segundo suas necessidades.
Para tanto o caminho a se empreender não é outro: o Catecismo da Igreja Católica é
o livro catequético por excelência destinado a todo povo de Deus, leigos e bispos, a
diretriz segura elaborada para conduzir todo e qualquer cristão a um conhecimento
excelente da doutrina católica. É importante dizer: a catequese não é, como muitos
estão habituados a pensar, algo somente para crianças, ou simplesmente para receber
os sacramentos. Assim, nos dedicaremos nas próximas aulas a entender a estrutura do
Catecismo da Igreja e como utilizar dessa preciosa fonte de verdade sobre Deus e o
próprio ser humano no mundo.

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Desbloqueando o conhecimento
da fé com um só livro!
Para essa aula, nosso objetivo é indicar com clareza qual o objetivo de cada livro
católico para o itinerário catequético e de como utilizar desses instrumentos da melhor
forma. Queremos, primeiro, classificar os diversos tipos de literatura cristã, depois, um
esboço de como a Igreja desenvolveu seu método de estudo sobre a doutrina e, por
fim, os assuntos gerais que todo bom católico deve se aprofundar e ter domínio para
crescer na maturidade espiritual e garantir segurança no apostolado.
Basicamente, são quatro as categorias de livros católicos: a Sagrada Escritura
assume uma categoria por si mesma, justamente por ser uma coletânea de livros inspi-
rados, escolhidos e canonizados pela Igreja Católica, contêm a Verdade Revelada de
Deus¹. A segunda categoria é composta pelos documentos da Igreja, aos quais chama-
mos Magistério da Igreja, formada pelos escritos dos concílios, dos papas, definições
dogmáticas, etc, como é o próprio Catecismo da Igreja Católica. Terceira categoria, os
livros teológicos, que tratam do estudo sistemático da Teologia, que nem sempre é
dogmática, e exigem uma formação prévia, filosófica e bem fundamentada². A última
categoria é enfim formada pelos livros de espiritualidade, ou livros da vida dos santos
e seus escritos e meditações; esses são para a vida de ascese e oração, e estudá-los
não cumpre a finalidade do aprofundamento doutrinal.
Uma boa prateleira católica deve partir de três obras essenciais: a Bíblia³, o
Catecismo da Igreja Católica e, um de espiritualidade, a Imitação de Cristo. Para a nos-
sa finalidade, o Catecismo é a resposta da Igreja a todas as questões doutrinais fun-
damentais para todo cristão e é, portanto, aquele que estaremos nos debruçando. A
primeira forma de catecismo que apareceu na Igreja primitiva é, inclusive, anterior a
própria fixação do cânon da Sagrada Escritura: a chamada Didaquê, que teve por ob-
jetivo apontar as diretrizes para a evangelização dos pagãos. Depois, São Cirilo de Je-
rusalém (313-386 d.C.) também compilou uma série de catequeses e Santo Agostinho
faz algo parecido. Muitos séculos depois, com a pseudo-reforma protestante, os bispos
reunidos em concílio(4) viram a necessidade de elucidar a doutrina católica para que
essa não se confundisse com a protestante e fizeram, finalmente, o primeiro Catecismo
Romano. Em meados do séc. XIX, com o surgimento do humanismo, do modernismo,
o Papa São Pio X escreverá um novo catecismo para responder os novos desafios,
conhecido como Catecismo Maior de São Pio X, foi o primeiro compêndio da doutrina
cristã. Nosso atual Catecismo é, do mesmo modo, uma necessidade dos tempos senti-
da no Concílio Vaticano II, que foi levado a cabo pelas orientações do Papa João Paulo
II que confiou essa missão a ninguém menos que ao então cardeal Ioseph Ratzinger, fu-
turo Papa Bento XVI. O card. Ratzinger cria então uma comissão de peritos, e em 1992 é
publicado o Catecismo da Igreja Católica. É justamente nessa obra que estão contidos
aquele elenco de temas primordiais da doutrina cristã que devem ser conhecidos e
aprofundados por todos.

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São quatro grandes temas com suas subdivisões básicas: o Credo, os Sacra-
mentos, os Mandamentos e a Oração. Para o Credo, estuda-se cada um dos atos de fé
do símbolo niceno-constantinopolitano(5); para os Sacramentos, estudam-se os Sete
sacramentos da Igreja e a Liturgia da Igreja; sobre os Mandamentos, estuda-se a Moral
Cristã, no como deve estar orientada a vida do católico e quais as ações que ultrapas-
sam os limites da caridade e ocasionam o pecado nas fontes da moral; por fim, o protó-
tipo de toda oração é a Oração do Senhor, ou Oração Dominical: o Pai-Nosso, em toda
sua composição. Eis o que trata o Catecismo da Igreja Católica. Bons estudos!

1 - Como católicos afirmamos que tudo na Bíblia é Verdade, enquanto a visão protestante afirma que toda
a Verdade está na Bíblia; note-se que há nessas afirmações uma diferença substancial, pois a Verdade é
o próprio Deus, logo toda ela não pode estar encerrada num conjunto de livros, Deus é maior que tudo e
não pode ser abarcado por nada. Afirmamos, pois, que tudo que está presente na Bíblia, tendo sua fonte
o próprio Deus, é verdadeiro e bom para nós.

2 - Na formação dos seminários, por exemplo, todo candidato às Ordens Sagradas forma-se primeiro em
Filosofia para só então estudar a Teologia.

3 - A Escritura Sagrada serve tanto para a oração quanto para o estudo; indicamos a Bíblia de Jerusalém
por servir bem a estes dois propósitos, pela riqueza de suas notas de rodapé e das indicações à margem.

4 - Concílio de Trento em 1563.

5 - É o Credo definido pela Igreja nos sínodos de Niceia (325 d.C.) e Constantinopla (381 d.C.), comumente
rezado nas missas das grandes solenidades.

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Aprendendo a estudar o
Catecismo de forma efetiva
A Verdade só pode ser contemplada a partir dos ombros dos gigantes. Não
podemos ter a pretensão de que abarcaremos toda a Verdade, que como dissemos é
Deus mesmo, nem de que a desvelaremos de maneira profunda e penetrante sozinhos.
Se a humanidade se empenha ao longo de milênios na busca pela resposta dos dile-
mas existenciais, abrir mão de todo esforço empenhado pelos grandes pensadores da
humanidade seria, no mínimo, ingênuo ou prepotente; assim, nessa empreitada deve-
mos e podemos trilhar os passos daquelas grandes figuras históricas que nos legaram
uma doutrina perene com seus esforços e dedicação de toda uma vida. Os chamados
gigantes são, portanto, os grandes filósofos, teólogos, Padres da Igreja, os santos e, de
uma maneira mais apropriada, a própria Igreja Católica, mãe e mestra da vida.
Daremos, assim, as diretrizes, os caminhos, as referências depois de termos
apresentado os conteúdos chave para o estudo doutrinal. Dissemos também que es-
tudar é organizar e facilitar, e consequentemente faz-se necessário um planejamento,
uma rotina, uma agenda que reserve o tempo necessário e disponível para que essa
seja uma operação constante e, importante que seja, no mínimo semanal. Não existe
caminho de estudo sem que se haja respeito para com o assunto estudado, quer dizer,
ter em vista o método que nos é proposto e as etapas uma a uma, sem que se pule con-
teúdos ou avance para as áreas “mais interessantes”, pois esse itinerário foi formado
e pensado para ser respeitado em seu conjunto, e não como um livro de curiosidades
que venha tão somente satisfazer os nossos caprichos. Assim, os parágrafos do Ca-
tecismo estão orientados para que gradativamente se possa progredir num conheci-
mento seguro, também em respeito aos leitores, de maneira que é também importante
a paciência em estar bem esclarecido de um paragrafo para seguir ao próximo, se
necessário, buscando esclarecê-lo com a ajuda das boas fontes, de irmãos mais expe-
rimentados e de sacerdotes.
A fonte primária é, sem dúvidas, o site do Vaticano (www.vatican.va) onde, além
de todos os documentos do Magistério sem qualquer custo, pode-se acessar com segu-
rança o Catecismo da Igreja Católica atualizado e com seu índice de conteúdos (https://
www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/indice_po.html). Para as Sagradas
Escrituras, já indicamos a versão da Bíblia de Jerusalém, porém ainda indicamos o site
www.bibliacatolica.com.br que possibilita um comparativo das mais variadas versões,
inclusive em outros idiomas. Outra ferramenta on-line, é o www.sacred-texts.com/bib/
index.htm¹, onde poderão ser encontradas as mais variadas versões e traduções (tanto
canônicas quanto apócrifos) para comparação entre as versões e línguas. Para uma in-
terpretação segura dos textos bíblicos segundo a concepção católica, ainda temos uma
compilação dos Padres e Doutores da Igreja feita por nada menos que Santo Tomás de
Aquino na chamada Catena Áurea (disponível no site: https://catenabible.com/). Vale a
pena dizer também que as mais diversas versões da Bíblia, bem como o próprio Cate-
cismo da Igreja Católica, possuem um índice analítico de termos e temas bem como um

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índice de citações bíblicas.

1 - Esse site é em inglês, mas com uma ferramenta de tradução do Google pode ser muito útil.

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