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Revista Teológica PERSPECTIVAS

NÚMERO 2 – ANO 1 – 2021


EDITORES
Altiéres Augusto Lopes
Carlos Abejer

REVISÃO E FORMATAÇÃO
Altiéres Augusto Lopes
Carlos Abejer
Thiago Manchini

CAPA
Daniela Lima Manchini de Campos
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................. 5
A IGREJA: AS FORMAS E O ESPÍRITO............................................................................... 6
Marco Velasco .................................................................................................................... 6
NOSSA HERANÇA NAZARENA DISSIDENTE ................................................................... 11
Andrew J. Wood ............................................................................................................... 11
REFORMA HOJE: AVANÇANDO COMO NAZARENOS .................................................... 14
Williams Montague ........................................................................................................... 14
A IDENTIDADE NAZARENA: CONSTRUÇÃO E PRÁTICA ................................................ 16
Natanael Pinto Cardoso e Altiéres Augusto Lopes ........................................................... 16
APRESENTAÇÃO

O
ambiente social contemporâneo é definido por fatores amplamente complexos. As principais
características são marcadas por contrariedades e conflitos que se decompõem continuamente,
gerando cenários de incerteza e riscos. A expressão desses cenários é sentida, sobretudo, na
dimensão identitária. A crise atual das grandes narrativas sobre identidade, são uma clara evidencia
disso. Tanto o multiculturalismo como a ação afirmativa são causa e efeito daquilo que Livio Sansone
(2020) chama de “onda identitária”, que na última década tem provocado uma forte transformação e
dinamização dos processos identitários no ambiente sociocultural (p. 2).
Segundo Assmann (2008), a identidade é aquela linha contínua que percorre a história do
indivíduo, dando-lhe coerência, e que lhe permite reconhecer-se como sendo o mesmo. A essa
concepção soma-se ao que Hall (2006) chama de “concepção sociológica”. Nesta visão, a identidade é
pensada como fruto das interações entre os indivíduos. Desta maneira, resulta da conjunção entre a
interioridade do sujeito e a exterioridade da sociedade (ou dos indivíduos ou grupos), com os quais
estabelece algum tipo de interação (p. 84). Nessa perspectiva, o “eu” se constrói na relação com o
“outro”. Isto posto, não se tem mais uma ideia de algo rígido e permanente. Para Lasch (1986), esta
forma de lidar com a questão da identidade é tributária do desenvolvimento de uma ciência do homem
vivendo em sociedade e também da complexificação do mundo.
Diante desses breves, porém esclarecedores apontamentos, emerge uma questão inevitável: o
que deve ser prioritário, da nossa parte, para preservar a originalidade da nossa identidade
denominacional?
Para responder a essa indagação, a segunda edição da Revista PERSPECTIVA apresenta
diversas reflexões que nos permitem ampliar o entendimento de quem somos e como essa identidade
nos define denominacionalmente, reconhecendo que somos históricos, mas não saudosistas;
conservadores, mas não retrógrados; tradicionais, mas não tradicionalistas, pentecostais, mas não
pentecostalistas; visionários, mas não progressistas.
Nesse espírito, convidamos você a ler, juntamente com toda a família nazarena, as contribuições
que a seguir são apresentadas.

REVISTA TEOLÓGICA PERSPECTIVAS | Reflexões teológicas em perspectiva ministerial 5


A IGREJA: AS FORMAS E O ESPÍRITO
Marco Velasco1
(Tradução: Carlos Abejer)

A
Igreja do Nazareno é uma denominação que Nossa pneumatologia e eclesiologia como aparece
nasceu no início do século XX, 1908 em Pilot em Atos deve alimentar e condicionar as formas ou
Point, Texas. Desde então, ela vem tomando maneiras pelas quais a estrutura, ou a construção
forma organizacional e institucional. Como outros institucional de nossa organização, deve se
movimentos humanos e religiosos, ela começou com desenvolver, tomando Pentecostes como o evento
uma estrutura mínima. À medida que crescemos e nos fundador da igreja. É a igreja no poder do Espírito
expandimos, estruturas organizacionais melhores e como organismo e comunidade, com suas estruturas e
mais funcionais se tornaram necessárias. funções, que é o corpo de Cristo no mundo.
Junto com seu crescimento, houve também o Nossa denominação altamente sofisticada,
fenômeno da institucionalização inerente a toda organizada global e localmente, deve repensar suas
organização humana. A questão não é se nos estruturas organizacionais, dignas de nossa herança
institucionalizaremos ou não como uma organização e Wesleyana no século 21, para cumprir sua missão de
movimento religioso. Ao contrário, como e em que proclamar a mensagem de santidade.
momento devemos reconhecer que o processo de
2. A Igreja primitiva cristã
institucionalização que temos vivido desde nosso
nascimento, há pouco mais de cem anos, deve ser Os processos de institucionalização se
interrompido e revertido para o bem da missão que manifestaram muito cedo na vida da igreja primitiva
temos como igreja de santidade? no primeiro século d.C. Como todos os processos
Nossas estruturas organizacionais não são neutras humanos e organizacionais, a igreja estava
ou teológicas. Devemos aceitar isto se quisermos ter caminhando para a "rotinização do carisma". Isto
estruturas dignas da natureza autêntica da igreja e de significou o surgimento, dentro da organização, de
sua missão. estruturas e/ou hierarquias e menos espontaneidade e
novidade. O segundo século d.C. seguiu este
1. Introdução processo de "rotinas" que cada vez mais ofuscaram o
O tema do presente artigo "A Igreja: Formas e aspecto "carismático" e dinâmico da igreja. Foi até
Espírito" pode ser considerado a partir da pergunta: O Constantino, no século IV d.C.
que precede o quê? O que vem primeiro ou qual é o Segundo Margaret Y. e MacDonald2, "cartas
ponto de partida: as formas ou o Espírito? O ponto de paulinas como a primeira e segunda cartas aos
partida bíblico-histórico apresentado no livro de Atos coríntios são um caso do tipo de comunidade
1-2 sobre a origem da igreja nos dá uma chave para "carismática" formada nos primeiros anos ou nas
uma melhor compreensão da natureza, estrutura e duas primeiras décadas da igreja cristã primitiva. As
função da igreja. cartas que parecem evidenciar... o processo de
A promessa de Jesus a seus discípulos de que institucionalização e rotinas do carisma são, por
enviaria o Espírito Santo (At 1,8), nos dá a chave para exemplo, as cartas aos Efésios e Colossenses, e em
entender o que aconteceu em Pentecostes (At 2). Em uma terceira etapa aparecem as cartas pastorais (1º e
Atos 2, o evento da descida do Espírito sobre aqueles 2º Timóteo e Tito) consideradas deuteropaulinas.
reunidos no Cenáculo, que deu origem e nascimento à Possivelmente, esta análise não pode ser aceita e
igreja, no poder do Espírito. Atos diz: "E todos eles sustentada em todas as suas implicações, mas aponta
estavam cheios do Espírito Santo, e começaram a falar para um fato importante, que desde muito cedo uma
com outras línguas" (Atos 2:4 KJV60), "Mas mudança começou a ser percebida nas estruturas
recebereis poder, depois que o Espírito Santo vier organizacionais da igreja primitiva, uma mudança
sobre vós" (Atos 1:8 NKJV60). incipiente, mas suficiente, que já traía um processo

1
O Dr. Marco Velasco é o Vice-Reitor Acadêmico do Seminário Nazareno das Américas de Costa Rica.
2
Cito Marco A. Velasco. “Influencias en las Estructuras Organizacionales Nazarenas”, Conferencia Teológica, Sudáfrica, 2014.
Margaret Y., MacDonald (1994). Las Comunidades Paulinas. Estudio socio-histórico de la institucionalización en los escritos paulinos
y deuteropaulinos. Salamanca: SÍGUEME, p. 17-38.

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de institucionalização dentro da vida da igreja". carisma é o poder de mudança mais poderoso na
O processo de institucionalização não é algo esfera institucional. Weber tomou esta noção de
que pode ou não acontecer. É algo que deve "carisma" do antigo vocabulário cristão e o considera
acontecer desde os estágios iniciais de uma como a qualidade própria de uma determinada pessoa
organização. A institucionalização é necessária para em virtude de seus dons, habilidades com as quais ela
qualquer organização, a fim de manter seus é tratada como líder. "A comunidade carismática é
objetivos e sua missão essencial. Entretanto, no um grupo organizado, sujeito à autoridade
processo de institucionalização e rotinas de carismática"4. Através da análise da Weber, temos
'carisma', ele pode se tornar tão sofisticado que uma pista sociológica que nos ajuda a entender a
sufocará a dinâmica e a espontaneidade, impedindo importância da mudança e da renovação.
uma organização de cumprir sua missão original. Segundo Weber, para que a inovação trazida pelo
"carisma" sobreviva, é necessária a "rotinação do
3. O projeto moderno
carisma". As principais razões podem ser duas: a) os
O projeto moderno está intimamente relacionado interesses e ideais nos quais o movimento persiste e
com a igreja protestante e com as igrejas históricas b) os interesses e ideais ainda mais fortes do grupo
que se desenvolveram nos EUA nos séculos XIX e líder no qual seu relacionamento continua. Isto
XX, que se extenderam por toda América Latina significa que a partir do momento em que nasce um
(Metodistas, Batistas, Presbiterianas, Igreja do movimento, começa um processo conhecido
Nazareno). A igreja protestante se uniu, de forma sociologicamente como "rotinas de carisma".
consciente ou inconsciente, ao movimento O objetivo, ao considerarmos a análise de Max
filosófico, ideológico e cultural da modernidade. Weber sobre organizações, é vermos que a igreja
Segundo o sociológo Max Weber, o modelo como organização não está isenta destes processos
burocrático deve estruturar-se sobre as bases de sociais inerentes a qualquer organização humana. Ele
certas características, alguns dos quais são: caráter nos ajuda a entender porque podemos ver
legal das normas, caráter formal das comunicações, manifestações de uma estrutura despersonalizada,
racionalidade na distribuição do trabalho, rígida, inflexível e carente de carisma ou inovação.
despessoalização das relações de trabalho, Também nos dá a vantagem de antecipar processos
hierarquia bem estabelecida de autoridade, rígidos e burocráticos de organização que retêm o
meritocracia, especialização da administração, impulso do Espírito dentro da vida da igreja. Ajuda-
professionalização e previssibilidade de nos a aceitar esta dimensão como o lado humano da
3
funcionamento . igreja que está organizado de forma culturalmente
Sociedades modernas altamente sofisticadas condicionada (Art. XI. A Igreja. Manual 2017-21).
adotaram o modelo weberiano de democracia com a De acordo com Weber, o carisma é a maior força
característica notável de despersonalização, revolucionária. A estrutura institucional, por sua
acentuada hierarquização, profissionalização e força cumulativa, tende a sufocar o "carisma" de
especialização. Basta dar uma simples olhada em qualquer instituição, seja ela secular ou religiosa.
nossas formas de organização eclesiástica para Como qualquer organização humana, a igreja seguirá
perceber que não estamos muito longe do modelo um processo de institucionalização que, se não for
burocrático weberiano. Um critério para avaliar o renovado ou parado a tempo, acabará se tornando
modelo é a eficácia e a produtividade. Setores obsoleto e inoperante. Não é um exagero dizer que a
consideráveis das igrejas evangélicas sucumbiram a estrutura institucional pode crescer ao ponto de
este modelo e a seus critérios de avaliação, tornar-se quase incapaz de se mover, como se fosse
resultando em uma profunda secularização da igreja "um grande elefante artrítico".
e em um marcante institucionalismo. A criação da
burocracia é bela e deslumbrante, parece uma gaiola 4. Carisma vs Estrutura
dourada, mas em última análise uma gaiola na qual Há também uma diferença entre o que Weber quis
estamos aprisionados. dizer com "carisma" e o que a Escritura indica como
A análise weberiana considera, no entanto, a carisma. O primeiro é um conceito sociológico que
existência de uma força capaz de mudar as estruturas tenta definir a dinâmica dentro das relações
mais rígidas e poderosas. De acordo com Weber, o organizacionais entre a ordem e a espontaneidade. O

3
http://www.monografias.com/trabajos12/burocra/burocra.shtml#MAX. Acessado em: 29 de outubro de 2012.
4
Op., cit., Margaret, p. 31.

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segundo conceito bíblico não é uma qualidade segundo lugar, o movimento Wesleyano trouxe uma
humana, mas a presença divina dinâmica dentro da "democratização" significativa da estrutura da igreja.
comunidade cristã que a cria e a impulsiona. Uma consequência desta última foi a inclusão das
A palavra grega "carisma" aponta em duas mulheres na vida ativa da igreja, envolvendo-se na
direções, primeiro para a graça de Deus em termos pregação ou liderando grupos (Bandas e aulas). Os
de nossa salvação que é somente pela graça; por leigos gradualmente, mas claramente, assumiram um
outro lado, ela nos lembra os dons ou carismas que papel essencial no renascimento. Alguns se tornaram
Deus, através do Espírito Santo, deu à igreja para pregadores e outros foram ordenados.
realizar diferentes ministérios. Snyder está correto A liderança de Wesley, sociologicamente, pode
ao dizer que, "Carismático é um bom termo, ser claramente vista como aquele elemento
biblicamente baseado, e precisa ser restaurado à carismático necessário que colocou em movimento
igreja com toda sua riqueza escriturística"5. um renascimento de dimensões globais dentro de
É essencial que o carisma, em seu significado uma estrutura eclesiástica altamente hierárquica.
bíblico, seja trazido ao centro da vida da igreja, a Wesley era o homem do carisma!
fim de contrariar o processo de institucionalização Wesley não hesitou em mudar o que era
inerente às organizações. Devemos buscar mais necessário para melhorar ou otimizar o movimento.
conscientemente promover o significado bíblico de Em "A Plain Account of Methodist People", Wesley
"carisma". enfrenta a questão da mudança de atividades no
De acordo com Snyder (2005) "O modelo movimento: "Eu não entendo esta mudança contínua
carismático e orgânico se distingue por sua ênfase das coisas", alguém respondeu a Wesley7. O que
na comunidade nas relações interpessoais, na Wesley está descobrindo intuitivamente é como
mutualidade e na interdependência. É flexível e alguns ajustes são funcionais para o benefício da
deixa espaço para um alto grau de espontaneidade. maturidade espiritual das pessoas, e ele o descreve
A Bíblia nos dá esse modelo para a igreja - o corpo desta forma: "Muitos estão agora desfrutando
humano" (p. 119). O carisma entendido daquela feliz experiência de comunhão cristã da qual
sociologicamente e teologicamente é o corretivo eles não tinham ideia”8.” Wesley considera as
certo para contrariar a alta estruturação e mudanças não uma fraqueza, mas uma "vantagem"!
institucionalização da igreja onde quer que ela De fato, Wesley considerou as mudanças uma
realize a missão de Deus. Pessoalmente eu vantagem e não um problema. Uma razão é que
privilegio o conceito bíblico-teológico do carisma, Wesley considerou quaisquer ajustes como sendo
mas ele não funciona ou opera além de seu sentido apenas meios prudentes, não essenciais ou de
sociológico. Ou, no sentido contrário, como diz instituição divina. “Dentro de nossos meios,
Snyder: "A igreja nunca pode ser essencialmente cuidamos para que eles não se tornem formais e sem
uma instituição"6. vida. Estamos sempre abertos para aprender,
ansiosos para saber mais do que no dia anterior, e
5. As organizações no avivamento wesleyano
para mudar o que for necessário para melhor"9. Em
O movimento Wesleyano foi, por um lado, uma que momento esquecemos isso em nossas igrejas?
reação à estagnação da igreja anglicana oficial, e Que nenhuma estrutura, por melhor que possa
trouxe ventos frescos para uma melhor compreensão parecer, é essencial ou de instituição divina.
da natureza e da vida da igreja. A igreja anglicana Acredito que o que levou Wesley estar disposto a
no século XVIII era estritamente vertical em seu fazer as mudanças foi tornar o evangelho eficaz e
governo e hierárquica em suas relações. Nem as relevante para seus contemporâneos, bem como
mulheres nem os leigos tiveram qualquer melhorar para o benefício do povo, para sua
participação significativa na vida da igreja. maturidade e crescimento espiritual. "As pessoas
O Renascimento Wesleyano promoveu, dentro do primeiro!" é o lema de Wesley e o que permite que a
movimento, uma significativa "deshierarquização" estrutura organizacional não devore pessoas e
em resposta à paralisia espiritual da igreja oficial. Em carisma. Em termos organizacionais, o critério

5
Snyder (2005). La Comunidad del Rey. Buenos Aires: Kairós. p. 118.
6
Ibid, p. 119.
7
González, J. (1996). Obras de Wesley. Tomo V. Las Primeras Sociedades Metodistas. USA: Providence House Publisher. p. 227.
8
Ibid, p. 226.
9
Ibid, p. 227.

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Wesleyano foi um critério de funcionalidade século XX sob um modelo weberiano de organização
carismática. Portanto, é importante que no século 21 que privilegia a ordem, a hierarquia, uma hierarquia
as estruturas organizacionais sejam constantemente marcada, a profissionalização e a especialização, mas
revistas e contextualizadas em termos do "carisma", que agora vive em um novo século e um paradigma
ou seja, do Espírito. pós-moderno de organização que democratiza as
Wesley, em seu "Thoughts on Methodism" relações. Logo, uma mudança organizacional é
(1786), escreveu: "Não tenho medo de que as necessária para simplificar seus processos e
pessoas chamadas metodistas deixem de existir na democratizar suas funções como redes, e não como
Europa ou na América do Norte". Meu medo é que uma pirâmide.
eles venham a permanecer como uma seita morta, Como diz Snyder, "A questão é: que tipo de
uma forma de religião sem poder"10. estrutura melhor serve à igreja em sua vida e
Wesley não parece estar principalmente testemunha"12. Não foi isto que Wesley aplicou com
interessado na instituição em si, mas em seu espírito tanta frequência em todo o processo de renascimento
ou carisma, seja entendido sociologicamente ou metodista na Inglaterra? Sim, foi. Wesley não estaria
teologicamente, e em sua dinâmica. Vejamos agora disposto a dificultar o evangelho apenas por causa de
algumas razões pelas quais os horários das reuniões certas formas ou padrões que a Bíblia não condena
foram em um determinado momento e não em outro: ou mesmo mandata.
O que Wesley está interessado em última instância Centralismo. O centralismo na tomada de
na organização do avivamento? Ele mesmo diz: decisões, os papéis hierárquicos e a paralisia
"Sua essência é a santidade de coração e de vida. O funcional são alguns dos problemas que muitas de
que não contribui para isso seria tirado em nome do nossas congregações podem estar enfrentando.
bem e da transformação da vida das pessoas. E se Precisamos refletir mais sobre nossa eclesiologia e
alguma vez o essencial evaporar, o que sobrar será sobre o que ela significa para a missão da igreja.
escória e desperdício"11. Enquanto num contexto Como alguém disse certa vez: "Se você começar com
diferente - a consagração de terras - ele pode dizer, a igreja, perderá a missão, mas se você começar com
sem qualquer hesitação, "...é hora de sermos guiados a missão, sempre encontrará a igreja". Parece que
não pelo costume, mas pela Escritura e pela razão". tudo o que devemos é lembrar o que estamos fazendo
Entenda a razão para significar senso comum. aqui como igreja.
Operacionalidade da estrutura. Nossas
6. O presente
estruturas devem ser eminentemente funcionais. Ou
Uma igreja global. A Igreja do Nazareno é uma seja, eles devem servir ao propósito para o qual foram
igreja global. Isto significa que hoje estamos projetados em um determinado tempo e lugar. O
presentes e interligados para cumprir efetivamente critério de funcionalidade não é um simples
nossa missão de "fazer discípulos semelhantes a pragmatismo.
Cristo nas nações" sob nossos valores fundamentais Snyder oferece alguns critérios significativos:
(como Povo de Deus, Povo de Santidade e Povo a. A estrutura da igreja deve ser biblicamente
Missionário). O desafio que temos como igreja válida. Compatível com a natureza e a forma do
global é que o carisma como impulso do Espírito evangelho e da igreja, conforme apresentado na
Santo é sempre colocado em primeiro lugar. Bíblia. Como guardamos com zelo nossos
A necessidade de um "emagrecimento" da programas como tesouros sagrados e os
estrutura organizacional. Neste novo contexto pós- colocamos à frente de nossas relações cristãs e
moderno emergente, é necessário um companheirismo. A questão crítica é: nossas
"emagrecimento" da estrutura organizacional da estruturas são meios que facilitam a koinonia e
igreja. Temos um aparato organizacional muito a missão?
sofisticado, em alguns aspectos funcional e em outros b. A estrutura da igreja deve ser culturalmente
nem tanto. Podemos ver isso como nossas decisões viável. Nossas estruturas devem ser
vão de comitês para subcomitês, etc., para revisão e compatíveis e sensíveis às formas culturais da
aprovação. Às vezes isso leva muito tempo. A Igreja sociedade em que se encontram para permitir a
do Nazareno, é uma organização que nasceu no maturidade e a santidade cristã. Um de nossos

10
Ibid, p. 379.
11
Ibid, p. 382.
12
Op. Cit., Snyder, p. 229.

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erros denominacionais foi - e ainda é a nível partes do mundo tem uma razão na área da estrutura
local em muitos lugares - a transplantação de organizacional. Embora não seja o único motivo de
estruturas eclesiásticas de um lugar e cultura possível estagnação, devemos lembrar o que Jesus
para outro. Este não é um fator que deve disse à geração de seu tempo sobre o novo vinho e os
receber atenção prioritária onde quer que a odres velhos quando lhe perguntaram: "Por que os
congregação da Igreja do Nazareno esteja discípulos de João jejuam com freqüência... mas os
localizada? seus comem e bebem? (Lc 5,33). Jesus respondeu: "E
c. A estrutura da igreja deve ser temporariamente ninguém põe vinho novo em odres velhos"; caso
flexível. Ela deve estar aberta a modificações, contrário, o novo vinho vai quebrar os odres de vinho
pois a mudança das circunstâncias exige a e derramar, e os odres de vinho serão perdidos. (Lc
saúde da igreja e a maturidade cristã. A 5,37).
socióloga Nancy Ammerman elaborou um A estrutura nunca foi e nunca será a essência da
estudo onde constatou que as congregações que igreja como o corpo de Cristo. É um lado humano e,
se adaptam às mudanças na comunidade embora importante, é mutável. Nós nos organizamos
vizinha têm mais probabilidade de sobreviver e através de estruturas culturalmente condicionadas.
ser mais eficazes em seu trabalho e missão. Para renovar nossas estruturas, precisamos voltar
Assim como uma cultura muda, seja global ou a uma noção bíblica de carisma. Precisamos
localmente, serão necessárias mudanças na estabelecer que a igreja, o corpo de Cristo, é uma
forma de funcionamento da igreja, tanto em comunidade carismática, lembrando que o "modelo
suas estruturas institucionais quanto em seus carismático e orgânico se distingue por sua ênfase na
processos. Tais mudanças devem ser comunidade, relações interpessoais, mutualidade e
congruentes com nossa teologia e mensagem interdependência"14.
de santidade. O fenômeno da globalização, por Onde estamos, em qualquer área do ministério,
exemplo, exige que pareçamos “glocal”. Ou sejamos administradores das mudanças no nível
seja, situar-nos em nosso contexto local, institucional que são necessárias para fazer a
olhando para um mundo que se globalizou. renovação que nossas igrejas precisam, para que
d. Viabilidade ético-teológica. Wesley nunca cumpramos fielmente a missão da igreja e
separou sua teologia da prática eclesiástica e permaneçamos fiéis à nossa tradição Wesleyana de
pastoral. Justo Gonzalez diz das primeiras inovação e funcionalidade de nossas estruturas.
sociedades metodistas: "Wesley concebeu a Recordemos o que John Wesley escreveu: "Não
organização em termos de missão e não o tenho medo de que as pessoas chamadas metodistas
contrário". Repetidamente o veremos deixem de existir... Meu receio é que eles venham a
ajustando a organização para responder a uma permanecer como uma seita morta, como uma forma
nova necessidade ou situação"13. Um exemplo de religião sem poder" John Wesley (1786).
muito interessante disso foi o que deu origem a
uma dinâmica revolucionária nas "classes" que
se formaram no renascimento metodista.
7. Conclusão
As estruturas organizacionais não fazem da
igreja a igreja. As estruturas organizacionais são
apenas um meio que, renovado e funcional, se
configura como um modo extraordinário para
cumprir a missão da igreja. Entretanto, não devemos
esquecer que o recurso mais importante na igreja não
são seus recursos materiais, mas o Espírito e os
recursos humanos. A igreja é gente. Cristo não
morreu por uma organização, mas por pessoas.
Estou convencido de que nossa falta de
crescimento e estagnação da igreja em algumas

13
Op., Cit., González, Tomo V, p. 5.
14
Op. Cit. Snyder (2005), p. 119

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NOSSA HERANÇA NAZARENA DISSIDENTE1
Andrew J. Wood2
(Tradução: Altiéres Augusto Lopes)

Q uando olhamos para as diferenças do presente e


do passado, devemos ter a clareza e o cuidado
de não exagerar sobre os motivos pelos quais
Igreja de Santidade e, na maioria das vezes, fazemos
isso precisamente para nos distinguir do Metodismo
tradicional ou de linha principal, que rejeitava as
os cristãos do passado tinham determinadas práticas e ênfases do Movimento de Santidade.
crenças. Em outras palavras, por que eles achavam que Sejamos francos. Os nazarenos têm uma relação
esta ou aquela questão era importante? Tentar tensa com o metodismo de linha principal. Muito da
compreendê-los já é, por si só, motivo suficiente para compreensão que temos como nazarenos provém,
realizar o nosso trabalho. No entanto, com essa especificamente, da comparação com o Metodismo.
atitude, também esperamos que isto nos ajude a No entanto, enquanto nos descrevemos como
compreender a nós mesmos e a nossos irmãos do evangélicos, wesleyanos e de santidade, podemos
presente. estar perdendo a oportunidade de pensar mais
Como podemos classificar a Igreja do Nazareno? claramente sobre como nos tornamos o que somos,
No nível mais simples ou mais amplo, os nazarenos bem como, sobre o impulso histórico da missão e da
são cristãos. Em segundo lugar, os nazarenos fazem identidade nazarenas. Dentro da família das igrejas
parte de uma grande família de igrejas cristãs cristãs, somos mais bem compreendidos como uma
protestantes. Mais especificamente, somos igreja dissidente dentro da tradição metodista. Ou seja,
protestantes evangélicos; muito da identidade estamos dentro da família Metodista; dentro dele,
nazarena, histórica e atualmente, é uma identidade discordamos ou divergimos de eventuais ênfases do
compartilhada com os cristãos evangélicos através dos Metodismo “principal” (a Igreja Metodista Episcopal
tempos e ao redor do mundo3. Entre os protestantes e a Igreja Metodista Episcopal do Sul e, agora, a Igreja
evangélicos, somos evangélicos wesleyanos. Ou seja, Metodista Unida).
pertencemos à família de igrejas que olham para John Tentar compreender os nossos irmãos cristãos do
e Charles Wesley e o avivamento evangélico na passado é motivo suficiente para realizar o nosso
Inglaterra como um marco histórico de quem somos. trabalho. No entanto, também esperamos que isto nos
É neste nível de especificidade - que os nazarenos são ajude a compreender a nós mesmos e a nossos irmãos
wesleyanos evangélicos - que nos deparamos com um do presente.
problema chave em nossa autocompreensão e, Não somos a ala dissidente; não estamos sozinhos
especialmente, em nossa terminologia. na discordância. Por exemplo, temos um terreno
Historicamente, há outra palavra para igreja que é: 1) comum (e em grande parte inexplorado) de dissidentes
Protestante, 2) Evangélica e 3) Wesleyana. E eis uma com as Igrejas Metodistas Afro-Americanas e uma
palavra que os nazarenos raramente usam, a saber, semelhança familiar, especialmente próxima, com a
metodista. Igreja Wesleyana e a Igreja Metodista Livre, como
Por que não usamos “Metodista” como uma igrejas dissidentes do Movimento de Santidade dentro
descrição de quem somos? Muitos, talvez até a da tradição/família Metodista. Há uma longa história
maioria dos seguidores de Wesley na Grã-Bretanha e de dissidência intra-Metodista, marcada não apenas
na América (e em grande parte do mundo) ainda se pelos debates dentro do Metodismo de linha principal,
denominam metodistas. Acredito que isso se deve, em mas também pela lista de igrejas que “saíram” do
grande parte, ao fato de preferirmos nos rotular como
1
Revista Grace and Peace - Uma Revista Dialógica para o Clero Nazareno. Data da publicação: 28 de maio de 2014.
2
O Dr. Andrew J. Wood foi conferencista de Estudos Wesleyanos e História da Igreja no United Theological Seminary em Dayton,
Ohio.
3
“Evangélico” tem muitos significados historicamente. Os autores dos quatro Evangelhos são conhecidos como “Evangelistas”, pois a
palavra grega para evangelho é a palavra original da qual derivam as palavras em inglês “evangélico”, “evangelismo”, etc. No entanto,
há também uma ancoragem protestante ao termo. Por exemplo, a maior seita luterana nos EUA é chamada de Igreja Evangélica Luterana
na América (ELCA), embora o termo "evangélico" em seu uso americano posterior normalmente não inclua a família luterana de igrejas.
A teologia evangélica, em alguns casos, se refere à teologia dos principais reformadores protestantes, talvez especialmente a de Lutero
e Calvino. Mais comumente, evangélico se refere à ampla gama de igrejas cuja herança é protestante e rastreável ao Grande Despertar
ou Reavivamento Evangélico do século 18, incluindo o ministério evangélico de John e Charles Wesley.

REVISTA TEOLÓGICA PERSPECTIVAS | Reflexões teológicas em perspectiva ministerial 11


Metodismo de linha principal, buscando ser mais e, mais fundamentalmente, um governo metodista.
Metodistas do que os Metodistas de linha principal. Modificado em certos elementos congregacionais
Vemos isso claramente em Phineas F. Bresee, o específicos - mais particularmente na chamada de um
primeiro superintendente geral da Igreja do Nazareno, pastor e na correspondente falta de nomeação e de
e B. F. Haynes, o primeiro editor do Herald of itinerância.
Holiness. Bresee e Haynes não rejeitaram o No entanto, a nossa superintendência ou
metodismo. De 1857 a 1894, Bresee foi ministro da implicados é muito metodista e, de certa forma, mais
Igreja Metodista Episcopal (37 anos). De 1873 a 1911, Metodista do que a Igreja Metodista Unida hoje4.
Haynes foi ministro da Igreja Metodista Episcopal do Temos superintendentes gerais itinerantes que são
Sul (38 anos). Não, do fundo de seus corações, eles eleitos pela assembleia geral, viajam por toda a igreja
não rejeitaram o Metodismo! Em vez disso, eles e presidem a toda a igreja. Não temos episcopado
acreditavam que a Igreja do Nazareno seria o que o diocesano (onde os bispos são eleitos por uma área
Metodismo tradicional disse que era e tinha sido, mas específica e apenas presidem/viajam nessa área
não era mais. definida como, por exemplo, a Igreja Episcopal).
A melhor maneira de identificar as origens Equilibramos a representação leiga e do clero em
nazarenas é a partir das discordâncias internas do órgãos de tomada de decisão. Nos encontramos
Metodismo. Se os nazarenos no início de 1900 não quadrienalmente em nível geral (de 1928 a 1980 nos
pudessem mais reconhecer o impulso principal do encontramos nos mesmos anos que a Igreja Metodista
metodismo na América, eles ainda poderiam encontrar de linha principal, a Igreja Episcopal Metodista
modelos históricos e atuais de piedade dentro dele. Africana e a Igreja Episcopal Sião Metodista
Além de John e Charles Wesley, poucos teriam Africana). Reunimo-nos anualmente a nível Distrital
duvidado da piedade do Bispo Francis Asbury, E. M. (distritos Nazarenos combinam as funções de distritos
Bounds ou E. Stanley Jones, que viveram e morreram Metodistas Unidos e conferências anuais).
como Metodistas. Os nazarenos, então, conheceram e Existe uma tradição Wesleyana/Metodista de
trabalharam com metodistas dissidentes que política e ministério, não apenas uma tradição de
permaneceram dentro do mundo metodista de linha doutrina Wesleyana/Metodista. Em vez de uma fusão
principal. É irônico então - com os nazarenos se de políticas episcopais e congregacionais, acredito que
propondo a ser mais metodistas do que os metodistas uma caracterização mais precisa de nossa fusão é que
tradicionais - que hoje, muitas vezes, parecemos os nazarenos são basicamente metodistas na política,
incapazes nos entender (ou não queremos) como mas decididamente mais “igreja livre” e democráticos
membros da ampla família metodista. A doutrina em sentimento e cultura. Isso se encaixa na maioria
Nazarena foi claramente moldada pela doutrina dos grupos dissidentes na história metodista que
Metodista, e é aqui que a palavra “Wesleyana” se torna modificou sua política para ser mais aberta e menos
a descrição mais apropriada da identidade nazarena. autocrática do que o Metodismo tradicional (por
Da graça preveniente à expiação universal e à exemplo, a Igreja Protestante Metodista, a Igreja
perfeição cristã, nossa doutrina foi profundamente Wesleyana, a Igreja Metodista Livre e até mesmo os
embebida nas crenças Wesleyanas e/ou Metodistas Irmãos Unidos Evangélicos). O Metodismo de linha
(incluindo aquelas do Movimento de Santidade, que principal elege seus bispos de forma vitalícia; os
obviamente estavam imersas no Metodismo do século superintendentes gerais nazarenos cumprem
19). Muito tem sido escrito sobre a teologia mandatos, enfrentam reeleição e têm limites de idade
Wesleyana da Igreja do Nazareno, e com razão. para seus serviços, mas cada um como uma “igreja
Na política e na missão, no entanto, as livre”, com uma emenda democrática, ao que é
semelhanças com a família metodista são basicamente um sistema metodista.
especialmente fortes e amplamente desconhecidas. Os primeiros nazarenos estavam tentando recriar
Comumente se descreve o governo nazareno como as melhores características do Metodismo “primitivo”
uma mistura de governo episcopal e congregacional. ou antigo: a ênfase no evangelismo e na santificação,
Isso é enganoso e, a princípio, impreciso, senão um clero e superintendência móveis e com elevados
simplesmente incorreto. O governo nazareno é na base padrões morais. Eles deixaram para trás aquelas partes

4
Os Metodistas Unidos agora elegem os seus bispos apenas por “jurisdição” - semelhante às regiões do Nazareno - e esses bispos apenas
viajam e presidem dentro dessa jurisdição. O Metodismo antes de 1939 tinha uma superintendência geral itinerante que a Igreja do
Nazareno mantém. A maioria das igrejas metodistas (por exemplo, a igreja AME) manteve-se amplamente com a teoria da
superintendência geral itinerante do episcopado herdada do Metodismo de linha principal pré-1939.

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do Metodismo, que lhes não favoreciam:
mundanismo, bispos que maltratavam o clero que não
gostavam, por meio do sistema de nomeação, rejeição
da doutrina de santificação de Wesley, e assim por
diante. Os primeiros nazarenos estavam tentando
"acertar" as coisas por meio do que Bresee chamou de
"santidade organizada". Isso encorajou e exigiu uma
discussão contínua, amplamente realizada através das
páginas da revista denominacional, o Arauto da
Santidade. A paixão e zelo dos primeiros nazarenos
eram precisamente por esta conferência santificada,
por este Metodismo mais “Metodista”.
O Metodismo tem uma longa tradição de
membros que temiam que os metodistas tivessem
rejeitado o poder espiritual, se perdido e que
precisassem voltar à piedade de seus dias anteriores.
Na história metodista, essas pessoas são chamadas de
“resmungões”5. Os nazarenos são herdeiros desta
tradição. Não deveríamos nos surpreender quando
encontramos nazarenos usando o mesmo argumento
hoje - que os nazarenos se perderam e precisam voltar
à piedade dos dias anteriores. Esta é uma semelhança
familiar do Metodismo (e do Protestantismo em geral).
Nós, nazarenos, temos isso em nosso sangue.
Somos idealistas. Queremos uma igreja santa.
Queremos que a nossa igreja seja tudo o que deveria
ser. Em muitos de nossos debates, todos argumentam
que devemos viver de acordo com ideais elevados -
apenas discordamos sobre como seria isso ou como
chegar lá.
Isso também não é surpresa - pelo menos não para
um historiador da igreja! Uma igreja comprometida
com ideais elevados e uma grande missão, tem mais
probabilidade de ter argumentos do que outra que tem
pouco idealismo ou compromisso missionário. Somos
uma igreja de idealistas nascidos de uma tradição
metodista que cresceu rapidamente e espalhou o
evangelho ao redor do mundo - enquanto discutia
vigorosamente consigo mesma! Somos melhor
entendidos como uma igreja dissidente dentro da
tradição metodista. Podemos ser mais do que isso, mas
não menos. Nisso, não estamos agora e nem nunca
estivemos sozinhos. Existem muitas testemunhas
vivas desta tradição entre nós e também há muitas em
outras igrejas. Ademais, há uma grande quantidade de
testemunhas que seguiram em direção a recompensa,
entre elas está Phineas Brese.

5
John H. Wigger, Taking Heaven by Storm: Methodism and the Rise of Popular Christianity in American (Nova York: Oxford
University Press, 1998), 181. Wigger diz: “Tão comuns eram as reclamações sobre o zelo perdido do Metodismo americano que os
dissidentes se tornaram conhecidos pelo rótulo amplamente conhecido de resmungões”. Ele continua dizendo: “Os resmungões
metodistas estavam preocupados com a convicção de que em meio ao grande sucesso do Metodismo, 'nós nos tornamos um povo muito
diferente de nossos Pais... caímos de sua piedade e virtude exemplares, e de sua consideração para com Deus”

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REFORMA HOJE: AVANÇANDO COMO NAZARENOS1
Williams Montague2
(Tradução: Altiéres Augusto Lopes)

C
ostumamos ensinar que o período da Reforma enfatizaria o compromisso da igreja de se identificar
terminou no final dos anos 1700, quando a com o ministério humilde e laborioso de Jesus, o
separação entre igreja e estado passou a ser Nazareno.
vista como um poderoso e preferido ideal dentro da O propósito principal de rotularmos dessa maneira,
imaginação e estruturas políticas ocidentais. era o de formar um grupo de cristãos que vivessem de
Curiosamente, no entanto, existem aqueles que maneira tal que refletisse o significado de Jesus ser de
incluem a Reforma Protestante como, meramente, a Nazaré - uma cidade associada a comunidades pobres
primeira metade do “período moderno”3. Embora isso e marginalizadas.
seja certamente discutível, penso que um resultado útil Encontramos, em João 1.46, uma conversa entre
sobre essa perspectiva é a maneira como ela reformula Filipe e Natanael, na qual este fica surpreso ao ouvir
nosso papel na vida da igreja universal. Em última que o Messias que eles esperavam é Jesus de Nazaré.
análise, essa perspectiva sugere que a obra da reforma Sua reação foi: “Nazaré! Pode vir alguma coisa boa
na vida da igreja não terminou. daí?”. O que torna a pergunta de Natanael significativa
E isso é algo que podemos aproveitar como para a narrativa do evangelho de João é que a resposta
participantes na Igreja do Nazareno. Assim como não é apenas se coisas boas podem vir de Nazaré, mas
Wesley e os chamados Metodistas no século 18 que a própria definição de algo bom é revelada ao
procuraram continuar o trabalho da reforma em seus mundo por meio de uma vida formada em Nazaré.
dias, os nazarenos, no início do século 20, reuniram Deus nos oferece “o caminho, a verdade e a vida” por
um movimento de cristianização do Cristianismo, meio de Nazaré. Somos a igreja do Messias, que vem
através da busca de um coração sincero e de uma fé de uma região que se desejar evitar; uma reigão
cristã socialmente ativa promovida na teologia desprezada e considerada o lado errado dos trilhos.
wesleyana. Não é surpreendente que Jesus buscou ajudar seus
Mais de cem anos depois, nos encontramos como seguidores a entender que o Evangelho está ligado às
uma denominação de muitas línguas, de diversas esperanças, perspectivas e necessidades das pessoas
expressões culturais e de experiências de vidas leais e esquecidas, oprimidas e envergonhadas.
unidas num mundo de rápidas mudanças. Isso é algo Nossa denominação poderia ter recebido o nome de
que celebramos. Pois, reflete aspectos da fidelidade da um líder influente, mas os primeiros nazarenos
denominação ao longo de nossa história relativamente escolheram um nome que tem o potencial de nos
curta. No entanto, tal diversidade pode tornar as ajudar a permanecer focados na missão do Reino
decisões difíceis, se não nos prepararmos para os enquanto navegamos por novas questões que
próximos anos, discernindo teologia e prática. Neste certamente surgirão. À medida que avançamos, pode
breve artigo, ofereço três sugestões à medida que nos ser útil refletir sobre isso.
avançamos na continuação do trabalho de reforma.
2. Parceria com outros grupos no Corpo de Cristo
1. A identidade nazarena de Jesus A segunda sugestão é fazer parceria com outros
A primeira sugestão é explorarmos como o retrato grupos e denominações no Corpo de Cristo. Isso é
das Escrituras da identidade nazarena de Jesus pode simples e pode acontecer de várias maneiras, como
moldar nossa missão como nazarenos. A origem do refeições compartilhadas, interesses comuns, projetos
nome de nossa denominação remonta à congregação de serviço e reuniões de adoração. Experimentei uma
fundada por Phineas F. Bresee e outros, em 1895 em parceria ecumênica única durante minha primeira
Los Angeles. J. P. Widney, parceiro de Bresee no designação pastoral.
ministério, explicou que o nome Igreja do Nazareno

1
Publicado na Revista Holiness Today em 05/13/2021.
2
O Dr. Williams Montague é Professor Associado da Igreja, Cultura e Sociedade na Point Loma Nazarene University em San Diego,
Califórnia.
3
Por exemplo, veja Sally Bruyneel e Alan G. Padgett, Introducing Christianity. Maryknoll, NY: Orbis Books. 2003.

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Um grupo de pastores e líderes leigos de sociais celebram esse momento histórico, mas é
congregações próximas se reunia mensalmente em um importante que consideremos o que vem a seguir.
cinema local no meio da semana para assistir e discutir Ser uma igreja global não se refere apenas à
um filme de sua escolha. Por causa do dia e da hora, o localização de nossas congregações, ou mesmo a
custo era baixo, e o grupo podia ficar no teatro com as formação de nossos líderes eleitos, embora inclua
luzes acesas por uma hora após o término dos créditos. essas coisas. Ser uma igreja global também diz
As discussões eram animadas e interativas e levavam respeito a como praticamos nossa fé cristã diária,
a reflexões sobre relacionamentos, questões da priorizamos nossa cidadania no Reino de Deus e
sociedade e interpretações sobre o sentido da vida. crescemos nos relacionamentos uns com os outros.
A maioria das conversas destacava áreas de À medida que avançamos, devemos continuar a
compreensão mútua, prática e esperança. Durante os desenvolver um senso de mutualidade entre as culturas
momentos de desacordo sobre questões e diferenças e contextos globais. Isso inclui a construção de
teológicas, o facilitador orientava os participantes a parcerias mútuas de serviço e aprendizagem nas
valorizarem o diálogo e a parceria mútua no congregações, em vez de viagens missionárias
discipulado cristão. unidirecionais. E, a inclusão intencional de histórias e
É certo que a parceria com outros grupos pode percepções de diversas culturas e contextos nos
parecer uma forma estranha de continuar o trabalho da sermões. Isso permite que os ouvintes contemplem as
reforma, visto que os estudos sobre a reforma muitas contribuições práticas e teológicas singulares de
vezes apontam para divisões e desvios na história da Nazarenos em contextos diferentes.
igreja. No entanto, dividir a igreja não era o objetivo Significa examinar atentamente nossa teologia,
final dos reformadores. Em vez disso, eles estavam práticas e políticas para garantir que estamos
procurando ajudar a igreja universal a se tornar mais enfatizando o desejo de crescer em nosso
fiel. Hoje, podemos experimentar a reforma como um relacionamento uns com os outros como pessoas
lembrete de como a nossa história denominacional igualmente valiosas aos olhos de Deus.
está muito ligada e, até dependente, das histórias de No mínimo, significa reservar um tempo, como
outras denominações. congregação, para celebrar o quanto crescemos em
Construir relacionamentos intencionais com outros nossa identidade como igreja global. Deus continua
cristãos pode ser uma forma de abraçar nossa nos guiando para refletir o objetivo final de reunir
afirmação do Credo Niceno: “Eu creio na única, santa, pessoas de “todas as nações, tribos, povos e línguas”
católica e apostólica igreja”. Nesse ponto, somos (Apocalipse 7.9).
inclinados a lembrar daquilo que John Wesley chamou
4. Mantendo o foco da reforma
de "espírito católico", que pode ser resumido como um
compromisso ativo, tanto para entender as nuances Manter o foco na reforma nos lembra que o Espírito
doutrinárias da própria tradição, quanto para estar em Santo nunca parou de formar uma comunidade de
amor [comunitário] com outros cristãos de opiniões adoração em diferentes culturas, lugares e gerações.
divergentes4. Isso não é tarefa fácil, mas é vital para Com o nosso compromisso de santidade moldado pelo
continuar o trabalho de ajudar a igreja a viver mais Caminho de Jesus de Nazaré e o enlace de uma igreja
fielmente o seu chamado. global, trazemos contribuições significativas para uma
família cristã mais ampla.
3. Abraçando nossa identidade como uma igreja À medida que continuamos a obra da reforma,
global nosso objetivo como nazarenos não é competir com o
A terceira sugestão é que cresçamos em nossa resto do Corpo de Cristo, mas participar [juntos] na
identidade como igreja global. Pela primeira vez na busca de sermos fiéis ao chamado de Deus à igreja.
história da Igreja do Nazareno, a maioria dos seis Que possamos seguir em frente como pessoas globais
Superintendentes Gerais falam vários idiomas e e parceiras que lembrem a igreja e ao mundo que Deus
representam ambos, a educação e o ministério, fora revelou o caminho, a verdade e a vida por meio de
dos Estados Unidos. Este é um momento único. Alguém que foi moldado pela identificação com o
Muitos comentários comemorativos, povo de Nazaré.
compartilhamentos e “curtidas” expressos nas redes

4
Veja a obra de John Wesley “Espírito Católico”.

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A IDENTIDADE NAZARENA: CONSTRUÇÃO E PRÁTICA
Natanael Pinto Cardoso1 e Altiéres Augusto Lopes2

E m pleno século XXI, qual o sentido em


pertencer a grupos e instituições religiosas que
são organizados a partir de uma identidade
própria que condiciona sua prática, preservação e
reprodução?
todas as suas dimensões. As suas atitudes são a síntese
dos valores morais, normas, costumes e regras sociais
formuladas e manifestadas ao longo da vida.
Moresco e Ribeiro (2012) apresentam a
concepção de identidade segundo a análise de Stuart
Este artigo tem como objetivo refletir sobre os Hall que aborda a identidade a partir de um processo
processos identitários de indivíduos e de histórico:
coletividades, a fim de que isto sirva de subsídio para O autor também destaca em sua obra A Identidade
a compreensão do fato de alguém se unir à Igreja do Cultural na Pós-Modernidade (2003) três distintas
concepções de identidade: o sujeito do Iluminismo, o
Nazareno e cumprir com os seus propósitos de sociológico e o pós-moderno. A primeira compreende a
existência. Esta reflexão leva em consideração não pessoa humana como indivíduo centrado, unificado,
somente o protagonismo histórico que o indivíduo e dotado de razão, de consciência e de ação. Possuidor de
suas ações foram tomando ao longo dos últimos 600 uma identidade que surge no nascimento e permanece a
anos, mas também traz uma análise da atuação mesma ao longo da vida. A segunda envolve um
indivíduo cuja identidade não é autossuficiente e
intencional de Deus na vida de sujeitos e de centrada, mas formada na relação com outras pessoas,
coletividades para o cumprimento de sua missão. mediadoras de outros valores, sentidos e símbolos. Aqui
O estudo da formação das identidades individuais a identidade é formada na interação entre o sujeito e a
e coletivas através da proposta do Evangelho de Jesus sociedade. A concepção do sujeito pós-moderno,
Cristo e da necessária associação à comunidade dos entretanto, abarca um sujeito sem uma identidade fixa,
essencial ou estável. É, portanto, formada e
santos – a Igreja – deve contribuir para que a Igreja do transformada histórica e continuamente de acordo com
Nazareno não seja vista apenas como mais uma a cultura que permeia o indivíduo.
estrutura organizacional humana ou uma corporação Na literatura bíblica é comum encontrar pessoas
administrativa com fins sociais; ela deve levar à com o nome associado a algum aspecto de
inclusão no corpo do qual Jesus disse “as portas do personalidade ou de pertença a alguma região, grupo
inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16.18). ou filiação. Isto tem implicações sociais: é necessário
1. A identidade pessoal pertencer a algum lugar, ser filho de alguém, ser
membro de algum grupo caracterizado por práticas ou
Para um indivíduo, o fato de saber quem é, ter funções. A valorização da identidade individual é
consciência de sua identidade pessoal, torna-se coisa recente nas sociedades. Em boa parte da história,
essencial para sua existência. Isto é tão importante ao o indivíduo fez parte da massa e não tinha autoridade
ponto de a medicina moderna estudar o para projetar sua subjetividade frente ao grupo. As
comportamento individual e descobrir patologias que mulheres foram grandes vítimas desta forma de
atingem diretamente a autoimagem, e por organização das relações. Elas praticamente foram
consequência, a alteração de conduta por perda de consideradas objetos de uso dos seus “donos” por
referências. épocas muito avessas à valorização das pessoas e suas
A consistência nas reproduções dos ideias. Jesus e seu Evangelho, bem como os apóstolos,
comportamentos adquiridos de um indivíduo mudaram isto, restaurando sua dignidade ao dar
possibilita reconhecer que ele constrói uma identidade atenção ao que elas têm a dizer, insistindo na
voltada para relacionamentos com o mundo social em

1
Natanael Pinto Cardoso é Reitor do STNB. Foi Coordenador de Educação Teológica para Portugal e Europa Sul. Superintendente
Distrital no Distrito Portugal Norte e Pastor da Igreja Evangélica e Missionária de Olhão no Algarve. Possui Mestrado em Ciências da
Religião. Mestrado em Sociologia e Especialista em Formação de Formadores. É Licenciado em Sociologia e formado em Teologia
pelo STNB.
2
Altiéres Augusto Lopes é Vice-Reitor Administrativo do STNB. Tem experiência como analista de RH, especialista em Sistemas. É
Pós-Graduado em Sociologia. Possui Licenciatura em História e em Música. É Graduado em Sistemas de Informação e em Formação
Ministerial e Teologia pelo STNB.

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monogamia, em valorização à sua singularidade, e Mariana Zanatta (2011), apresenta o
incluindo-as no serviço da igreja. Interacionismo Simbólico como responsável por
Alguns estudiosos (VELHO, 2000; PERRUSI, explicar as interações sociais, não apenas como
2009) relacionam o movimento social e religioso da respostas pré-determinadas pelo grupo a estímulos
Reforma Protestante com a valorização do indivíduo também já formatados, mas um conjunto vasto de
na sociedade, isto porque a ênfase era colocada na possibilidades em que o indivíduo capacitado
relação direta do indivíduo com Deus através de Jesus racionalmente elabora, pela linguagem, significados
Cristo. Isto mudava drasticamente a posição da diferentes a estas ações e espera que o outro os
pessoa; de parte de uma coletividade sólida em que ela intérprete e haja reciprocamente. Se os significados
não poderia ter nenhum protagonismo devido à das ações sociais são negociados, isto representa uma
dominação religiosa, política e social, para a grande oportunidade para ressignificar as mesmas
possibilidade de manifestação individual perante ações.
aquela “entidade” que só o padre ou o Papa tinham A reza estática na antiga religião transforma-se em
acesso: Deus, o todo poderoso. oração espontânea, a qual o pietismo vai incorporar à
O iluminismo valorizou o “indivíduo soberano” sua prática para determinar sua própria identidade. No
de tal forma que a razão dele se tornou o centro da entanto, partir do princípio de que o homem cria todos
realidade, ou da construção dela. As autonomias os sentidos para as ações e isto permanentemente, é
individuais foram sendo pouco a pouco promovidas, dar a ele um protagonismo na construção de sua
resultando em uma margem de manobra cada vez própria identidade e desconsiderar as influências
maior de indivíduos que influenciaram verdadeiras externas conjunturais ou estruturais. Alguém é alguém
mudanças sociais, econômicas e religiosas. ou alguma coisa sempre por decisão própria? Ou o
Definitivamente a valorização do indivíduo é produto meio tem algum peso nesta decisão? Este é um velho
da modernidade, no entanto, em algumas culturas debate.
ainda não há lugar para a expressão individual de Seja como for, a identidade de alguém é
todos os aspectos da identidade. fundamental para diferenciar-se, distinguir-se, juntar-
Zanata (2011) ao tratar da relação entre a se, excluir-se e situar-se no oceano de pessoas e
Sociologia e a Identidade, traz uma reflexão de situações à sua volta. Ela protege a individualidade
Giddens: quando estrutura internamente certos valores morais e
Da mesma forma, Giddens (2002) não só atribui o tema sociais pelos quais uma pessoa constrói seus
da reflexividade à modernidade, como também o elege relacionamentos e orienta suas expectativas.
como o ponto central em sua teorização. Para o autor, a
reflexividade na modernidade estende-se ao núcleo do
A subjetividade e a reflexividade estão implicadas
eu, isto é, o eu é fruto de um processo reflexivo. na imagem e semelhança de Deus na natureza humana.
Diferentemente do que acontecia nas culturas Ninguém é alguém para o outro se não for primeiro
tradicionais, quando as coisas permaneciam no nível da para si. É certo que há diversas influências na
coletividade, e a mudança de identidade era assumida construção da autoimagem, no entanto, a ciência do
através dos ritos de passagem.
desenvolvimento humano (MUNARI, 2010)
As identidades são muito importantes para as
reconhece que em determinada altura a heteronomia
relações sociais e o equilíbrio das expectativas
começa a ser ameaçada pela consciência do EU, e é
comportamentais. Identidades há muitas e seus
esse EU que se manifesta inicialmente para si mesmo
processos de representação e reprodução são muitas
e posteriormente para o outro.
vezes complexos. Há diversas abordagens nas
A relação entre sujeito e ambiente ou espaço de
concepções teóricas sobre a identidade e a sua
vida na construção da identidade é uma discussão
construção, alguns a consideram como uma
antiga na Sociologia. A Psicologia Social é a irmã
característica que se adquire e pelo seu caráter tão
desta ciência que analisa as influências do grupo sobre
importante, é fixo, permanente e estável. Outros já são
a formação da identidade pessoal a partir do coletivo.
mais abrangentes concebendo a construção da
São os papéis sociais que também terão importância
identidade como um processo permanente e fluido, o
nesta discussão, pois para a sociedade alguém é
qual inclui agregações de diferentes origens, o que
alguém, alguma coisa ou faz alguma coisa. Sendo
possibilita as mudanças com o tempo. Nesta
assim, e para a Sociologia, a melhor forma de
perspectiva o indivíduo já não é a mesmo de 5 ou 10
compreender a relação entre o indivíduo e seu
anos atrás.
contexto na formação da identidade é estruturar as

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teorias do processo de socialização, como o caminho identificada por outra no interior das esferas de que
de aquisição por parte do indivíduo das regras, normas participa. Os papéis, como resultado da rotulagem,
representam as instituições. No entanto, ocorre ao mesmo
e costumes do grupo para construir o seu EU. É na tempo um processo subjetivo que, para Dubar (2005), é o
família nuclear e alargada que o indivíduo percebe o que possibilita falarmos de uma negociação identitária
mundo e é convidado a reagir a ele. Seja na solicitação para a construção de identidades sociais.
de sorrisos de um bebê, como no convite para andar As identidades coletivas como um fenômeno
sozinho até os braços do pai, como nas orientações de consequente da necessidade da vida em comunidade
utilização correta dos objetos e acessórios que têm um grande papel no desenvolvimento da
inundam nossa vida diária. identidade individual. Paulino-Pereira (2014, p. 59),
2. A influência da identidade coletiva para o trata esta identidade coletiva dizendo:
[...] é uma construção histórica que se dá a partir da
indivíduo relação dialética que ocorre em um determinado
Muitos concordam com o fato de que a identidade tempo/espaço entre indivíduos e/ou grupos que organizam
de uma pessoa não é fruto apenas de uma capacidade sua vida cotidiana em torno de atividades semelhantes,
tendo como base um conjunto de significados
interior, tem a ver com características genéticas e das compartilhados, próprios de sua cultura [...].
contribuições do meio social no qual ela vive. Este O meio não define necessariamente o indivíduo,
meio pode ter maior ou menor influência dependendo mas pesa sobre ele por estruturar as interações sociais
da estrutura do indivíduo em lidar com as imposições e definir o que é aceitável ou não. Capacita o indivíduo
da realidade externa, no entanto, como toda planta a ajustar suas ações e reações, bem como suas
retira do seu meio condições para “ser”, o indivíduo expectativas. Qualifica-o a interpretar situações pela
também adquire do seu grupo social elementos linguagem e o utiliza como instrumento reprodutor de
contextuais para a construção de sua identidade. formas de ser e estar perante os outros membros da
Significar as ações sociais e assumir papéis sociais comunidade.
são expressões derivadas da teoria sociológica sobre a
influência do coletivo na constituição do indivíduo. Os 3. Israel e Jesus na formação das identidades
conceitos de self encontrado em George Mead coletivas
(CASAGRANDE, 2016) e Habitus encontrado em A Bíblia trata de grupos sociais e de comunidades
Pierre Bourdieu (SETTON, 2002) indicam o inteiras a partir da concepção que os próprios grupos
protagonismo necessário do grupo social na atribuíam a si. Desde o surgimento da cidade que
construção do caráter e prática social do indivíduo. Caim fundou com o nome de seu filho Enoque, os
Esta perspectiva perpassa várias correntes teóricas, no indivíduos sempre buscaram a agregação social,
entanto as diferenças estão mais relacionadas à forma mesmo dentro da realidade nômada. Seja o sistema
e extensão da influência do coletivo sobre o indivíduo. tribal ou a noção de nação ou povo descendente de um
O próprio fato de designar o indivíduo como sujeito ancestral apenas, ou até mesmo a ideia de reino, as
dá a ele uma agencialidade nas ações sociais, no comunidades da Bíblia são relatadas como uniformes
entanto estudos revelam que certas escolhas dos e homogêneas em suas práticas sociais, governo,
indivíduos podem revelar mais as determinações de religião. Isto lhes deu a capacidade de perpetuarem-se
uma comunidade do que propriamente o fruto da ação no tempo e constituírem um ethos próprio que serviu
do livre arbítrio. para sua caracterização.
É Claude Dubar, segundo Zanata (2011), que, ao É justamente desta característica humana de
analisar o processo de construção da identidade, leva necessidade de organização social reguladora das
em consideração tanto as características individuais identidades que Deus desenvolve um plano de
quanto o peso da comunidade. Assim sendo trabalha redenção humana. São os homens, a partir do como se
com a identidade atribuída quanto adquirida: organizam e da forma de pertença, que cooperarão
Dubar (2001, 2005) também aponta que para chegar às com os propósitos divinos para a revelação da
formas identitárias é preciso iniciar a aproximação através identidade de Deus e de sua intervenção nas
das representações ativas, isto é, dos indicadores que
estruturam o discurso dos indivíduos sobre suas práticas
identidades humanas.
sociais especializadas, sobre a aquisição de um saber Não é por acaso que Deus disse a Moisés: “Eu sou
legítimo que possibilita a afirmação de uma identidade o que sou” (Êxodo 3.14). Isto implica várias coisas,
reconhecida.... Assim, a identidade, tanto a atribuída entre elas: autoimagem, diferenciação, agencialidade,
quanto a adquirida pelo sentimento de pertencimento, é intervenção objetiva, intencional e racional na
assimilada no processo de interação. Cada pessoa é

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realidade dos homens, propósito de existência e lugar Esta crise identitária revelou-se um tanto quanto
de existência (ainda que o que Ele é ultrapasse a ambígua, pois de volta à terra prometida houve uma
realidade dos homens). Esta é uma prova inexorável reorganização social e religiosa baseada não só na Lei,
contra o panteísmo, o estoicismo e o deísmo. mas na sua interpretação rabínica. Agora não bastava
A obediência de Abraão ao chamado divino de o Templo para manifestar a prática da devoção ao
sair de sua terra e parentela era o início de um processo criador da nação, mas a Sinagoga será a grande escola
de construção de uma linhagem que daria origem a um para situar o ethos em torno de Jeová e dos rituais e
povo, capaz de dar sentido de pertença e por escritos “extras”. O grande problema desta nova forma
consequência modelar identidades de milhões de de se situar identitariamente, foi que Judá escolheu
indivíduos. As implicações de Gênesis 12:1-3 são institucionalizar os elementos adicionais da identidade
nitidamente identitárias. Do clã abraâmico, às tribos valorizando-os e esvaziando o sentido de quase toda a
descendentes no Egito pré-êxodo até à noção de povo Torá, centralizando o Talmude. Desta forma surge o
de Israel constituído diante de uma constituição (Lei), judaísmo como expressão do pacto, o qual encontrará
de um poder político (monarquia), de um território fortes críticas de Jesus Cristo.
(Canaã) e de uma religião (Templo e sacerdócio), Dunning (2019) afirma:
Deus delineia a história de redenção baseado em O povo de Israel tomou primeiro a forma de uma
pertenças identitárias. teocracia, a qual com o tempo se desenvolveu em uma
monarquia, por iniciativa do povo e não de Deus. O
Durante séculos Deus, ao exercer sua escolha Senhor se adaptou a estes desenvolvimentos políticos e
soberana, chamou os descendentes de Abraão de “meu eles deram forma às formulações teológicas da religião
povo” e se referia a si como o “seu Deus” (Gênesis de Israel. Cedo, no período da monarquia surgiu a ideia
17.7; Números 15.41; Deuteronômio 7.6; Êxodo de um Templo; e ainda que isto, tal como a própria
29.45; Levítico 22:33; Ezequiel 14.11; Zacarias 8.8; monarquia, não tenha sido ideia de Deus, tornou-se um
elemento de influência na sua compreensão teológica.
Jeremias 7.23). Como resposta a esta gênese Infelizmente estas características acidentais da fé de
identitária temos expressões como no Salmo 100.3 Israel, embora servindo como fatores de influência na
“Reconheçam que ele é o nosso Deus. Ele nos fez e formação da sua teologia, tornaram-se na sua razão de
somos dele: somos o seu povo, e rebanho do seu ser. Ao longo de grande parte de sua história, Israel tinha
pastoreio” (Bíblia NVI). Portanto as origens estão a tendência de preocupar-se mais com a sua vida
nacional e o seu sucesso político do que com o
muito bem claras para o indivíduo, tudo começa em significado teológico da sua existência. Quando estes
Deus e se perpetua pela nação que sai dos pais Abraão, dois se juntaram de forma ilegítima, serviram para
Isaque e Jacó. perverter totalmente o propósito da sua eleição.[...]
Este foi um longo processo de construção da Eventualmente a institucionalização das características
identidade de Israel, pertencer a esta nação significava acidentais da sua religião foi um fator principal da
destruição dos reinos, primeiramente do Norte e depois
partilhar de uma aliança profunda com o Criador do do Sul e, finalmente, levou à rejeição do seu Messias,
universo sem precedentes. A cultura, a religião, a que desafiou o seu institucionalismo egocêntrico com o
política, a gastronomia, as relações sociais, a princípio “pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-
utilização da terra, a língua, a poesia, a música, as á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-
festas, tudo remetia a um relacionamento com Deus. la-á (Mt 16.25). Recusando-se a seguir o caminho do
serviço, perderam o seu lugar ao tentar preservá-lo. (pp.
Isto também implicava na diferenciação dos outros 491,492)
povos e na exclusividade dos benefícios da pertença. Jesus Cristo teve como incumbência revelar sua
A consciência identitária manifestada individual e identidade à humanidade, conectando-a diretamente
coletivamente permitiria a benção, no entanto isto ao Pai. Para o poder religioso de seus dias a declaração
ainda era uma escolha. de Marcos 14.62 foi extremamente escandalosa: Ele
Enquanto Deus utiliza profetas para chamar a era o Messias e exercia papel divino ao lado do Pai.
atenção da natureza da pertença que cada indivíduo Em uma ocasião Jesus Cristo perguntou aos seus
israelita deveria manifestar “E habitareis na terra que discípulos: “Quem os homens dizem que o Filho do
eu dei a vossos pais e vós sereis o meu povo, e eu serei homem é?” (Mateus 16.13). Ele perguntou, não porque
o vosso Deus” (Ezequiel 36:28), o povo vai se dependesse da opinião dos homens, mas queria formar
desvinculando de seu criador e abre a possibilidade, sua própria identidade na vida dos discípulos.
como consequência, da perda da terra, do rei e do Podemos dizer que a lição teve grande resultado.
templo, para serem levados em cativeiro para Todas as vezes que Jesus utilizou as expressões “eu
Babilônia.

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sou” e “eu não sou”, foram conceituações reveladoras de parto por vossa causa, e isso até que Cristo seja
da sua própria identidade, e consequentemente da formado em vós”.
identidade da Trindade como Deus supremo. A novidade de vida no cristão implica mudanças
Jesus não teve nenhum problema ao afirmar para na sua autoimagem, e consequentemente a identidade
os fariseus de sua época, em João capítulo 8, que eles como referência de autoconhecimento e
não tinham por pai a Abraão, mas sim ao diabo. Isso autoafirmação ganha uma força capacitadora vinda do
foi uma apunhalada considerável na base que Espírito Santo, convencendo do pecado, da justiça e
sustentava a salvação por consanguinidade e do juízo, e que transforma estruturas dos valores
hereditariedade das consequências do pacto ou da morais e sociais e manifesta-se em ações santas. No
aliança abraâmica. O pecado nos corações daqueles entanto, os desafios deste processo de formação de
legalistas, que exigiam a reparação do adultério pela Cristo no indivíduo tornam-se especialmente
morte da mulher, foi revelado e deu motivo para a conflituosos por duas razões: é um processo e o
grande questão da identidade do judeu – a paternidade indivíduo permanece no contexto em que vive – a
referida em Isaías 64.8. A identidade estava sendo sociedade humana decaída e em trevas.
ressignificada pela característica pessoal do As análises de teóricos atuais (como a vida
relacionamento firmado em uma fé inabalável entre líquida, amor líquido e modernidade líquida de
um Pai genealógico (Abraão -que não dependia da Lei Bauman) que revelam as fragmentações das
e nem de suas exigências para manter seu estado de identidades, a perda das referências tradicionais e a
escolhido e abençoado) e um Pai espiritual. Mais influência do relativismo e das redes sociais na
ainda, a capacidade de afirmar a identidade no Pai construção das identidades, não são suficientes para
espiritual passa necessariamente pela relação intensa e enfraquecer a construção da identidade de um cristão.
profunda com o seu Filho – o Messias. Na percepção de Paulo em Colossenses 3, com a
Não é pequena a pretensão de Jesus Cristo ao atuação direta do Espírito Santo no homem interior o
começar sua obra de edificação na vida de um novo indivíduo, consciente de que já morreu e
indivíduo que acabou de ter os seus pecados ressuscitou com Cristo, procura as coisas que são do
perdoados e experimentou da salvação eterna pela alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus.
graça e atuação do Espírito Santo. Quando Cristo Mantém o pensamento nas coisas do alto, e não nas
convidou os discípulos a serem pescadores de homens, coisas terrenas, pois ele está seguro que deve fazer
estava propondo intervir profundamente nas bases de morrer tudo o que pertence à sua natureza terrena:
sua existência. Era uma mudança ontológica não imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e
causada apenas pela mudança da atividade, mas na a ganância, que é idolatria. Ainda mais profundo que
descoberta de um novo EU que iria lidar com o isto, para Paulo deve haver uma influência da mente
OUTRO a partir da presença permanente de Jesus de Cristo de tal forma que o apóstolo exclama: Cristo
Cristo. em vós, a esperança da glória (Colossenses 1.27).
Os comandos “negue-se a si mesmo” (Lucas Contudo, essa identidade não tem apenas como
9.23) e “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam base o relacionamento do indivíduo com Jesus Cristo
de mim, pois sou manso e humilde de coração” pelo Espírito Santo e que o faz filho de Deus Pai, está
(Mateus 11.29) são convites a um processo de vinculada estreitamente à nova comunidade da qual
reconstrução identitária que tem implicações eternas, faz parte: a Igreja.
pois o sujeito está aprendendo a viver sua nova 4. A Igreja como a comunidade dos santos:
identidade no Reino que será manifesto na Nova referência identitária
Terra.
As palavras de Paulo têm implicações profundas A perspectiva coletiva da fé é parte integrante da
quando diz: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criação em Cristo. John Wesley afirmou que “o
nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que Cristianismo é essencialmente uma religião social; e
tudo se fez novo” (2 Coríntios 5:17). Também Paulo transformá-lo em uma religião solitária é na
compreende que Cristo necessita tomar lugar na realidade destruí-lo” (BARIERI, p.9). A ideia é de
constituição integral do indivíduo incluindo sua que a salvação em Cristo Jesus capacita o indivíduo
identidade ao dizer em Gálatas 4.19 “Meus amados não só a identificar-se com Cristo, mas atuar como
filhos, novamente estou sofrendo como que com dores Cristo com outros iguais (com a noção consequente da
diferenciação e da exclusividade) dando sentido às

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metáforas utilizadas para a Igreja, como Corpo de tempo ou do contexto, no entanto o ósculo santo, a
Cristo, Reino, a Assembleia (ekklesia), o Reino. Em venda das propriedades para o bem comum, a
Efésios 4 Paulo apela às relações sociais dos santos necessidade de lançar sorte para escolha de liderança
baseadas na unidade dos fundamentos colocados por foram deixados de lado por não serem essenciais à
um só Deus e Pai de todos. O objetivo é claro: “para função. Consequentemente, a Igreja de Cristo tem
que todos alcancemos a unidade da fé e do assumido formas de organização diferentes ao longo
conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à de sua história, institucionalizando seu governo e suas
maturidade, atingindo a medida da plenitude de práticas, nem por isto os cristãos deixaram de
Cristo”. reconhecerem que, por serem lavados no sangue do
As características coletivas atribuídas aos Cordeiro e manterem a comunhão com o Senhor da
descendentes de Abraão, Isaque e Jacó encontradas Igreja, pertenciam ao Reino, ao Corpo, à Família da fé
em Êxodo 19.5-6; Deuteronômio 7.6; 14.2; Oseias espalhada pelo mundo.
1.10; 2.23; são resgatadas e aplicadas à Igreja de É muito interessante a análise de Ray Dunning
Cristo pelo apóstolo Pedro ao declarar: “Vocês, porém, (2019) quando afirma:
são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo Somente quando distinguimos as formas transitórias da
exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas Igreja da sua essência permanente, mas não imutável, é
que podemos ter um vislumbre da Igreja real. A essência
daquele que os chamou das trevas para a sua da Igreja deve, portanto, ser sempre encontrada na sua
maravilhosa luz. Antes vocês nem sequer eram povo, forma histórica e a forma histórica deve ser sempre
mas agora são povo de Deus; não haviam recebido entendida à luz da e com referência à essência. [...] Isto
misericórdia, mas agora a receberam” (1 Pedro implica que todos os movimentos de restauração estão
2:9,10). fora do propósito quando identificam a essência da
Igreja com as suas formas de adoração ou estrutura(s) ou
O quanto um israelita era “mais” israelita? No práticas organizacionais. Eles estão a tentar recuperar a
período da travessia do deserto rumo à terra de Canaã, crosta quando o verdadeiro espírito de restauração
ou no período dos juízes? Ou seria no período dos anos procura recuperar “a simplicidade o poder espiritual
do reinado de Davi? Haveria alguma diferença na manifestos na Igreja Neotestamentária (Manual da
consciência identitária coletiva entre israelitas no Igreja do Nazareno 2017-2021 §19). [...] A natureza
funcional da igreja tem prioridade sobre a forma da
Egito vivendo sem a Lei de Moisés e os israelitas igreja e dita as características institucional (p. 513).
divididos politicamente em dois reinos? Em nenhum A identidade do Cristão passa por saber sua
período histórico os descendentes de Abraão ficaram origem, relacionar-se com a Trindade, manter uma
alheios à sua origem, propósito, missão e função. Em vida santa, comprometer-se com a comunidade dos
cada período foram agregados mais elementos da parte santos para expressar e alimentar sua fé e “fazer
de Deus para aperfeiçoar a manifestação da identidade discípulos à semelhança de Cristo nas nações”.
como povo de Deus. As falhas no propósito, missão e
função vieram pela troca das prioridades, e não pelas 5. A Identidade Nazarena frente à sociedade
diferentes formas assumidas de representação desta fragmentária
origem (clã, tribo, povo e reino). Em todos os É inquestionável o fato de que cada indivíduo é
momentos os indivíduos construíram sua identidade imbuído de um emaranhado de identidades. A
individual e coletiva a partir da revelação que identidade genética, os costumes familiares e
recebiam de Deus seja em tábuas da lei ou pela palavra comunitários, a identidade sexual, a nacionalidade, a
de um profeta, e a manifestavam segundo aspectos religião, a identidade cultural e etc., são em alguma
culturais do seu tempo. O mesmo ocorre com a Igreja. medida herdadas, modeladas, formadas e fortalecidas
Uma vez compreendido que tanto a atuação de ao longo da vida de alguém. Bauman afirma que as
Cristo quanto da comunidade dos santos na vida do identidades "flutuam no ar, algumas de nossa própria
cristão influencia a construção de sua identidade, escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas
torna-se consequente o raciocínio de que a Igreja à nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para
como corpo social é uma realidade nos tempos e defender as primeiras em relação às últimas" (2005, p.
espaços históricos. A urgência da volta de Cristo 19). É esse conjunto de características que torna
retratada no Novo Testamento, a celebração da ceia do alguém reconhecidamente parte de um grupo e que o
Senhor, o batismo dos novos cristãos deve ser distingue de outros.
incorporado por cada membro do seu Corpo como Dessa forma, tanto sociedades como instituições,
práticas significativas e significantes independente do organizações e empresas, também possuem
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identidades que as distinguem de outras; é a partir daí grupo prefere chamar de hipermodernidade e, por fim,
que desenvolvem a sua marca. Ademais, é a existem aqueles (inclusive os autores deste artigo) que
identidade formada e desenvolvida que permite a caracterizam o presente como pós-modernidade. Seja
transmissão dos valores pelos quais irão se firmar qual for a nomenclatura utilizada, o fato é que uma de
compromissos, níveis de qualidade e confiabilidade e, suas marcas mais evidentes é o individualismo. O
por fim, receberá reforço daqueles que trabalham na individualismo, companheiro inseparável do
instituição. relativismo, traz a ideia de que as "outras pessoas têm
Em termos eclesiásticos, não é diferente. As obrigação de não interferir" daquilo que alguém deseja
igrejas ou comunidades locais, são compostas por - a autorrealização e a autossatisfação são as únicas
membros que comungam das mesmas características coisas que importam (ROWLANDS, 2008, p. 17). O
formando uma comunidade cuja identidade deriva do autor continua: "ninguém pode criticar você pelo
próprio Cristo vivo. Numa perspectiva maior, cada modo como vive sua vida. Assim como você não pode
comunidade está diretamente ligada à comunidade de criticar ninguém pelo modo como escolheram viver.
todos os santos; a una, santa, universal e apostólica Todas as escolhas têm seu valor" (ibid., p. 18).
Igreja de Cristo. Isso quer dizer que os seus valores, Somada ao individualismo está a narrativa da
história e práticas, são características que a autenticidade. Não basta ao indivíduo ter autonomia
identificam com o seu criador. nos seus desejos, é preciso que seus desejos sejam
Dito de outra maneira, as igrejas visíveis, autênticos, que passem única e exclusivamente pelo
espalhadas ao redor do globo terrestre, compõem a próprio indivíduo. E, aqui, encontra-se o grande
Igreja invisível cujos membros têm o seu nome escrito perigo. Quando uma pessoa toma uma decisão ou
no livro da vida e, consequentemente, são imbuídos de caminho errado, ela perde suas referências e não tem
dupla identidade: a primeira, ser o povo de Deus onde se ancorar, visto que a sociedade é líquida. Por
redimido e reunido com o objetivo de adorá-lo e, a isso, a importância de uma instituição com processos
segunda, está relacionada à sua missão – anunciar as (marcos) bem definidos. A subjetivação retira do
boas novas ao mundo. Isso, traz à comunidade um indivíduo o senso de comunidade e de pertencimento,
sentimento de pertencimento, um propósito de vida e ou seja, as coisas passam a ter o centro cada vez mais
uma missão previamente estabelecida pelo dono. no sujeito (TAYLOR, 2013, apud RIBEIRO, 2012) e,
Dada a complexidade dos componentes uma vez que o significado das coisas foi
formativos de uma identidade, seja ela individual ou individualizado e interiorizado, os dogmas, os
comunitária, não deveria ser surpresa para o estimado costumes, as instituições, ficam cada vez mais
leitor a multiplicidade e heterogeneidade das igrejas e distantes e irrelevantes - cresce a impaciência e a
denominações encontradas no Brasil, especialmente intolerância do indivíduo com as estruturas externas,
devido à sua diversidade cultural, religiosa, étnica e formas institucionais e, principalmente, as
social. tradicionais. Este, é o bem maior do indivíduo pós-
E, adjunto à complexidade do tecido social moderno. "O homem religioso nasceu para ser salvo;
brasileiro, existem diversos outros desafios que a o homem psicológico nasceu para ser agradado",
Igreja do Cristo tem de enfrentar, como o declara Philip Rieff (1966 apud CALDER, 1999, p.
individualismo, o relativismo, ativismo ateísta nas 29).
universidades, os transtornos de ansiedade e A crise de identidade provocada pela pós-
depressão, o suicídio, o desemprego, a violência modernidade nasce da crise de pertencimento.
doméstica, e a pandemia da COVID-19. A seguir, Bauman (2005, p. 25) explica que "não que se tratasse
pretende-se demonstrar o porquê esses problemas de pessoas particularmente obtusas e de imaginação
sociais devem ser motivo de atenção, discussão e limitada. Afinal de contas, perguntar quem você é só
respostas da Igreja. faz sentido se você acredita que possa ser outra coisa
6. A igreja de Cristo como parte no tecido social além de você mesmo". A crise de pertencimento torna
líquidas as relações que, por sua vez, tornam cada vez
É motivo de inúmeras discussões e estudos o mais frágeis as âncoras que fixam tradições e culturas
nome ou a forma adequada de se dirigir à segunda e, como um efeito dominó, cria uma religião cada vez
metade do século XX até os dias atuais. Para alguns, a mais individualizada (PORTELLA, 2006).
maneira correta é classificar como modernidade Consequentemente, há um crescente desapego e
tardia, para outros, ainda modernidade, um outro descrédito por parte dos indivíduos em relação às

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instituições. Não se presume mais a existência de certa Barna Group revela que 70% dos estudantes que
fidelidade institucional. ingressam na universidade saem de lá incrédulos6,
Quando utiliza a expressão mundo líquido, afirma Vaneetha Rendall Risner, autora do livro
Bauman (2011, p.7) comenta que "tudo ou quase tudo Walking Through Fire: A Memoir of Loss and
em nosso mundo está sempre em mudança" e "o que Redemption.
hoje parece correto e apropriado amanhã pode muito No livro intitulado The State of the Evangelical
bem se tornar fútil, fantasioso ou lamentavelmente Mind, Todd C. Ream faz uma afirmação alarmante
equivocado". É com essa mentalidade que a igreja tem (2018, p. 100):
de lidar sem, no entanto, negociar os valores bíblicos. Se quisermos encontrar um lugar limite na cultura, onde
Acrescenta-se a isso uma forte tendência a identidade evangélica está sendo trabalhada sob
algumas das pressões mais incessantes das tendências
hedonista, cujo único alvo de muitas pessoas é ter uma atuais e muitas vezes contrárias em perspectivas e
vida repleta de prazer, sem ter de experimentar a dor. valores, devemos considerar a experiência de estudantes
De acordo com a escola filosófica hedonista, "a única e professores evangélicos em instituições acadêmicas
coisa que faz a vida valer a pena é o prazer: o prazer e seculares.
a ausência de dor" (ROWLANDS, 2008, p. 185). A Além dos problemas oriundos da personalidade
triste realidade é que muitos cristãos querem os do indivíduo pós-moderno, a pandemia da COVID-19
benefícios da salvação em Jesus (prazer), mas não amplificou o problema da violência doméstica. Só em
querem o ônus de uma vida digna da vocação com que São Paulo a Polícia Militar registrou um aumento de
foram chamados (dor). Jesus preveniu os seus 255% no último ano. Quando a estatística é delimitada
seguidores: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a apenas com relação à violência à mulher, o aumento é
si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 555%7.
9.23). O desemprego também deve ser levado em conta
Recentemente, a OMS (Organização Mundial de entre os desafios da igreja. Em um ano de pandemia,
Saúde) indicou o Brasil tendo o maior número de o total de desempregados cresceu em 20%. São 14,3
pessoas com transtorno de ansiedade no mundo e o milhões de pessoas, um recorde8.
quinto em número de pessoas depressivas3. Neste É neste contexto que os cristãos se encontram.
mesmo artigo publicado pela USP, Gabriel Santos Quer alguns queiram, quer não, Jesus não orou para
aponta que um estudo realizado pela BBC Brasil, que o Pai retirasse os cristãos do mundo, pelo
relatou um aumento de 27,2% da taxa de suicídio de contrário, ele disse: “não peço que os tire do mundo,
jovens em período de 24 anos (1980-2014). Um mas que os livre do mal” (Jo 17.15). Ademais, ele
relatório da página do Senado indica que "o suicídio é reiterou que os seus discípulos seriam o sal da terra e
a sexta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 a luz do mundo (Mt 5.13,14).
anos no Brasil" e que "foram registradas 80,3 mil Destarte, diante desse cenário multicultural, pluri
mortes por suicídios no país"4. religioso e de múltiplos problemas sociais, seria
Outro estudo releva a saúde espiritual dos jovens possível distinguir a igreja do nazareno das demais
nas universidades. Apenas um em cada dez jovens de denominações? Sua estrutura eclesiástica continua
18 a 29 anos se consideram cristãos resilientes5, ou relevante na contemporaneidade? Os seus valores
seja, que permanecessem ativos na igreja enquanto servem como pilares ou âncoras para os seus
cursam a graduação. Outra pesquisa realizada pelo

3
Jornal da USP. Suicídio entre jovem é um problema de saúde pública no Brasil. Disponível em
<https://jornal.usp.br/atualidades/suicidio-entre-jovens-e-um-problema-de-saude-publica-no-brasil/>. Acesso em 26 abr 2021
4
Senado Notícias. Suicídio é questão de saúde pública e pode ser prevenido, dizem debatedores. Disponível em
<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/09/26/suicidio-e-questao-de-saude-publica-e-pode-ser-prevenido-dizem-
debatedores>. Acesso em 25 abr 2021.
5
Barna. https://www.barna.com/research/of-the-four-exile-groups-only-10-are-resilient-disciples/
6
Desiring God. Will You Lose Your Faith in College? Disponível em https://www.desiringgod.org/articles/will-you-lose-your-faith-
in-college. Acesso em 27 abr 2021.
7
Folha de São Paul. Explosão de violência doméstica durante pandemia faz PM de SP implantar Patrulha Maria da Penha. Disponível
em <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/04/explosao-de-violencia-domestica-durante-pandemia-faz-pm-de-sp-implantar-
patrulha-maria-da-penha.shtml>. Acesso em 28 abr 2021.
8
Brasil de Fato. Brasil registra número recorde de desempregados: 14,3 milhões. Disponível em
<https://www.brasildefato.com.br/2021/03/31/brasil-tem-numero-recorde-de-desempregados-14-3-milhoes>. Acesso em 28 abr 2021.

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membros? Estas são algumas das perguntas que o hierárquico e de distribuição de responsabilidades
presente artigo responde a seguir. (observa-se a junta de oficiais e assembleias); e 5) um
6.1. A importância de uma identidade institucional sistema de rituais (liturgia, incluindo a ceia, batismo,
ordenação).
Assim como os judeus tinham a Torá como pétrea
e a igreja de Atos estabeleceu fundamentos 6.2. A Igreja do Nazareno
inegociáveis para a sua identidade e prática, a saber, a O último relatório (2020) estatístico da Secretaria
doutrina dos apóstolos, o partir do pão, a comunhão e Geral, apresentou um número expressivo de nazarenos
as orações (Atos 2.42), da mesma forma, a Igreja do espalhados pelo mundo, 2.640.216 membros em 6
Nazareno – uma instituição global – baseia sua regiões (África, Ásia Pacífica, Eurásia, Mesoamérica,
identidade denominacional em cinco componentes Sul América e USA/Canadá)9. Mais de 31.049 igrejas,
principais: sua história, sua teologia, sua organização, sendo que 23.508 são igrejas organizadas. Isso
missão e seu estilo de vida. Eles, os cinco significa que a Igreja do Nazareno tem presença
componentes, garantem a unidade organizacional da relativamente marcante em quase todos os continentes
igreja na diversidade das culturas; eles funcionam do globo.
como pilares de sustentação pelos quais a instituição Fundada em 1908, a Igreja do Nazareno é uma
preserva e reafirma a sua identidade. Bauman (2005, igreja centenária que tem espalhado a mensagem de
p. 27) está certo em dizer que: santidade pelo mundo.
[...] uma nação sem Estado estaria destinada a ser
insegura sobre o seu passado, incerta sobre o seu
6.3. Fundamentação histórica
presente e duvidosa de seu futuro, e assim fadada a uma A Igreja do Nazareno confessa ser uma igreja
existência precária. Não fosse o poder do Estado de apostólica. Isso a conecta historicamente com a igreja
definir, classificar, segregar, separar e selecionar, o
agregado de tradições, dialetos, leis consuetudinárias e do primeiro século que, unanimemente, perseveravam
modos de vida locais, dificilmente seria remodelado em na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do
algo como os requisitos de unidade e coesão da pão e nas orações (Atos 2.42).
comunidade nacional. Ao se dizer apostólica, ela se identifica com o
A declaração de Bauman é importante pelo fato de povo de Deus, tanto no Antigo como no Novo
trazer sentido à estruturação e organização das Testamento; reconhece os credos ecumênicos dos
instituições, além disso, deixa claro que os estatutos, cinco primeiros séculos da era cristã; compromete-se
leis e hierarquias são imprescindíveis para sua com a pregação da Palavra, “administrando os
subsistência. sacramentos, na manutenção de um ministério de fé e
Bottomore (1970, p. 88) corrobora com o assunto prática apostólicos e nas disciplinas de um viver e
quando afirma que um grupo social ou comunidade é serviço semelhantes a Cristo” (Manual, 2018, p. 8).
caracterizado pelas relações definidas entre os Além disso, como uma igreja protestante, é herdeira
membros que o compreendem e pela consciência que de dois grandes despertamentos, o primeiro, ocorrido
seus membros têm do grupo e seus símbolos. Com no Reino Unido e nas colônias da América do Norte
isso, ele chama atenção para a forma de estrutura e entre os anos 1730 e 1770, cuja ênfase recaiu sobre a
organização dos grupos (a presença de regras e rituais conversão pessoal, a soberania de Deus e a santidade,
e a base psicológica ou consciência de seus membros. o segundo, ocorrido nos Estados Unidos da América
Ademais, para o autor (1970, p. 102), as instituições entre 1780 e 1840, teve como ênfase a conversão
são caracterizadas por, pelo menos, outros cinco pessoal, mas trouxe consigo outros temas: reforma
elementos: 1) um sistema de comunicação - nesse prisional, movimentos feministas e movimentos
sentido, a Igreja do Nazareno se organiza em níveis abolicionistas (COUTO, 2019, p. 27).
local, distrital e global, interdependentes; 2) um Portanto, é uma igreja histórica e teologicamente
sistema econômico (representado pelas ofertas e wesleyana, cujas raízes estão no Metodismo e no
dízimos locais, ofertas e fundos distritais e fundos movimento de Santidade do século XIX.
globais); 3) vocação para a integração de novas
gerações e sucessão geracional (assume-se como o
discipulado e a educação teológica; 4) um sistema

9
Nazarene.org. Annual Chuch Statistical Report 2020. Disponível em
<https://resources.nazarene.org/index.php/s/rYPMYe35ft9Nm9Z#pdfviewer>. Acesso em 24 abr 2021.

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6.4. Teologia 6.6. Valores, missão e estilo de vida
Em termos teológicos mais gerais, a Igreja do Somos um povo cristão é o primeiro dos três
Nazareno confessa ser trinitariana, ou seja, crê na valores essenciais da Igreja do Nazareno. Com essa
existência de três pessoas divinas de mesma essência afirmação, a denominação se submete à Grande
(união hipostática) - isso, por si só, já a diferencia de Comissão de proclamar Jesus Cristo como Senhor de
outros ramos do cristianismo – e na inerrância das todas as coisas e se compromete com o ministério da
Escrituras (COUTO, 2019, p. 224). É armínio- reconciliação, 2Co 5.18 (IGREJA DO NAZARENO,
wesleyana, compreendendo que a ordem da salvação 2015, p. 13). Além disso, chama para si a
[condicional] se dá pela graça, por meio da fé, responsabilidade de testemunhar o caráter e vida de
arrependimento e regeneração – simultânea à Cristo ao mundo.
justificação e a adoção; e o testemunho do Espírito A palavra cristão é carregada de significado para
quanto à certeza da graça (IGREJA DO NAZARENO, os crentes, especialmente, no seu surgimento. A
2015, p. 8). Se denominar armínio-wesleyana implica primeira ocorrência é em Atos 11.26, onde se lê: "em
crer numa segunda experiência (ou obra da graça) Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez,
denominada Inteira Santificação ou perfeição cristã chamados cristãos". Naquela época, os discípulos já
(COUTO, 2019, p. 229). haviam causado uma espécie cisma no judaísmo;
Além disso, é importante salientar que sua alguns os chamavam de "o Caminho" (At 19.23),
eclesiologia e escatologia são inclusivista e otimista, outros, os denominavam seita dos nazarenos. Mas
respectivamente. Inclusivista porque acredita na agora que muitos gregos haviam se convertido, esses
realidade histórica da igreja. Ela é o corpo de Cristo rótulos já não cabiam. Então, se estes são seguidores
presente em diferentes culturas e realidades. Essa (discípulos) de Cristo, falam como Cristo, se
visão se opõe àqueles grupos exclusivistas que se relacionam como Cristo, vivem como Cristo, só
consideram as detentoras da verdadeira religião e podem ser cristãos. A despeito do apelido ser
mensagem de Deus. É otimista, por sua visão carregado de desprezo e ódio (At 24.5) e, mais tarde,
transformacional da sociedade, ou seja, o evangelho um sinônimo de punição10, ele foi rapidamente
transforma o homem e, este, transforma o ambiente à solidificado.
sua volta (COUTO, 2019, p. 235). O evangelista Lucas usou de uma precisão
6.5. Organização e governo cirúrgica no registro dessa nova etapa da igreja do
primeiro século. Ali, é o surgimento de um novo
Desde o seu nascimento, a Igreja do Nazareno grupo. Lucas deixa claro que os discípulos-judeus,
adotou uma forma de organização e governo que ainda tinham a mentalidade judaica: "Deus está
proporcionasse a participação do clero e dos leigos e, conosco. Não fomos chamados para pregar aos
ao mesmo tempo, promovesse, em termos de gentios. A igreja é nossa e é Deus quem vai trazer os
administração, certa autonomia às comunidades gentios - eles, vão se adequar à nossa maneira de
locais. A esta forma de governo dá-se o nome de viver”. Por isso, o texto sagrado diz que os judeus não
representativa. Por outro lado, ela se organiza de anunciavam "a ninguém a palavra senão somente aos
forma local, distrital e geral, para a garantir que sua judeus" (At 11.19). Mas, a narrativa segue dizendo
estratégia missionária não seja comprometida. Os dois que havia cipriotas e cirenenses entre eles e, estes,
principais objetivos para a escolha desse modelo de anunciaram aos gregos.
governança são: 1) permitir que cada igreja local tenha Essa nova congregação de crentes transpôs uma
o direito de escolher o seu próprio pastor, bem como separação que homem nenhum conseguiria transpor:
os demais membros que comporão a junta de oficiais judeus e gentios, circuncisos e incircuncisos, os ditos
da igreja que farão a sua própria gestão das finanças e puros e impuros; vivendo, comendo e orando juntos,
2) evitar o abuso de autoridade por parte do clero, sem nenhuma diferença entre eles, em pé de
comprometendo a sua missão. igualdade. Por amor ao Senhor.
Esta é a primeira igreja multicultural da história.
Por isso, é adequado que sejam chamados
cristãos. Fora derrubado o muro de separação (Ef

10
Na correspondência entre o imperador Trajano e seu governador Plínio no ano de 111–113 d. C. já se aborda a pergunta se o simples
nome de cristão como tal era merecedor de punição (BOOR, 2002, p. 174)

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2.14) entre ricos e pobres, homens e mulheres, Wiley e Culbertson explicam que a palavra santo
escravos e livres, gregos e bárbaros. Uma ou santidade traz a ideia de algo separado, consagrado,
impossibilidade sociológica, superada pelo Espírito de limpo ou purificado. Eles acrescentam que a inteira
Cristo. santificação é a “purificação de todos os inimigos de
Um só corpo e um só Espírito, uma só esperança, Deus presentes na alma” (CULBERTSON; WILEY,
um só Senhor, uma só fé, um único batismo, um só 1990, p. 352).
Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, Além de uma vida santa e em comunhão com o
e em todos (Ef 4.4-6). "Afirmamos a unidade da Igreja Senhor, outras duas finalidades do batismo com o
de Cristo e nos esforçamos, em todas as coisas, por Espírito Santo são o já mencionado empoderamento
preservá-la (IGREJA DO NAZARENO, 2015, p. 14). para o serviço cristão e a total submissão ao Senhor. E
Por isso, a Igreja do Nazareno se identifica como um é nesse sentido que podemos chamá-lo de teleológico,
povo cristão. ou seja, a inteira santificação possui uma finalidade,
Somos um povo de Santidade. Eis aqui o grande um propósito. Wesley chama isso de perfeição cristã -
fio condutor que aproximou e uniu diversos grupos, assunto para ser discutido noutra oportunidade.
associações e denominações no século XIX. Uma vida E, por fim, somos um povo com uma missão. De
de santidade é a grande marca, o grande tema, o forma estrita, a missão da Igreja do Nazareno é fazer
inegociável e insubstituível valor basilar da Igreja do discípulos à semelhança de Cristo nas nações, no
Nazareno e das demais denominações provenientes do entanto, de forma mais ampla, a denominação se
movimento de santidade do século XIX (IGREJA DO apresenta como “uma igreja da Grande Comissão''
NAZARENO, 2015, p. 14). (IGREJA DO NAZARENO, 2015, p. 14). Como uma
O Eu Sou que por mais de setenta vezes11, se comunidade global de fé comissionada “a levar as
revelou especialmente santo ao seu povo, requer dele, Boas Novas de vida em Jesus Cristo às pessoas em
o seu povo, santidade. Assim, Ele mesmo proporciona toda parte e espalhar a mensagem de santidade bíblica
meios (de graça) para realizar essa obra em seu povo. (vida à imagem de Cristo) pelo mundo” (IGREJA DO
Subsequente à obra de salvação realizada por NAZARENO, 2015, p. 17). Na sua declaração
Deus no crente, a Igreja do Nazareno crê que existe missional, percebe-se um compromisso ainda maior
uma segunda obra da graça que empodera o crente que inclui, além do evangelismo e do discipulado, a
para um viver santo. Em resposta à sua fé e através de santificação, a compaixão expressa a todas as pessoas,
uma profunda devoção pessoal, professamos que Deus a adoração e "o serviço cristão através da educação
o liberta do pecado original (inato) ou da depravação cristã de ensino superior" (NAZARENO, 2015, p. 14).
total, operando nele uma mudança de natureza e Como wesleyanos, a Igreja do Nazareno assume o
proporcionando uma inteira devoção e santa chamado missional na sua integralidade. Nas casas,
obediência do amor tornado perfeito (IGREJA DO nos locais de trabalho, em comunidades ou em
NAZARENO, 2018, p. 22). Orton Willey (1990, p. povoados, noutras cidades ou países, os ministérios
370) e Phineas Bresee, concordam na interpretação de nazarenos têm se dedicado, desde sua fundação, ao
Mateus 3.11c,12 atribuindo o pecado original à palha evangelismo, aos ministérios sociais - como por
que, naturalmente, se apega ao trigo, e o fogo ao exemplo em campanhas contra a fome na Índia,
Espírito Santo, que queima a palha - purificando e criação de orfanatos, casa de maternidade, construção
libertando o trigo: “ele vos batizará com o Espírito de hospitais e etc. (IGREJA DO NAZARENO, 2015,
Santo, e com fogo. Em sua mão tem a pá, e limpará a p. 12) - e educação (investindo desde a educação
sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará básica até à superior) "através da cooperação mútua de
a palha com fogo que nunca se apagará”. missionários transculturais e milhares de pastores e
obreiros leigos que têm contextualizado os princípios

11
1Pedro 1.15; 1Pedro 1.16; 1Samuel 2.2; 1Samuel 6.20; 2Pedro 3.11; 2Reis 19.22; Apocalipse 15.4; Apocalipse 16.5; Apocalipse
20.6; Apocalipse 4.8; Apocalipse 6.10; Atos dos Apóstolos 10.22; Atos dos Apóstolos 4.27; Atos dos Apóstolos 4.30; Ezequiel 39.7;
Habacuque 1.12; Habacuque 3.3; Isaías 1.4; Isaías 10.17; Isaías 10.20; Isaías 12.6; Isaías 17.7; Isaías 29.19; Isaías 29.23; Isaías 30.11;
Isaías 30.12; Isaías 30.15; Isaías 31.1; Isaías 37.23; Isaías 40.25; Isaías 41.14; Isaías 41.16; Isaías 41.20; Isaías 43.14; Isaías 43.15;
Isaías 43.3; Isaías 45.11; Isaías 47.4; Isaías 48.17; Isaías 49.7; Isaías 5.16; Isaías 5.19; Isaías 5.24; Isaías 54.5; Isaías 55.5; Isaías 57.15;
Isaías 6.3; Isaías 60.14; Isaías 60.9; Jeremias 50.29; Jeremias 51.5; Jó 6.10; João 17.11; Josué 24.19; Levítico 11.44; Levítico 11.45;
Levítico 19.2; Levítico 20.26; Levítico 21.8; Lucas 1.35; Lucas 1.49; Oséias 11.12; Oséias 11.9; Provérbios 30.3; Provérbios 9.10;
Salmo 111.9; Salmo 22.3; Salmo 71.22; Salmo 78.41; Salmo 89.18; Salmo 99.3; Salmo 99.5; Salmo 99.9.

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Wesleyanos dentro de suas respectivas culturas" 7. Conclusão
(IGREJA DO NAZARENO, 2015, p. 17). Indivíduos se associam à Igreja do Nazareno
Também é importante registrar que a Igreja não é voluntariamente, e desta forma estabelecem vínculos
sectária, ou seja, os nazarenos não advogam para si a e pertenças. Reconhecem que a organização que a
prerrogativa da ineditibilidade em sua forma e nem institucionalização promove, facilita e não prejudica o
exclusividade em seu conteúdo (mensagem), pelo seu caráter, função e missão. Assim como o
contrário, ela une aos demais cristãos protestantes em avivamento da Inglaterra beneficiou-se do método dos
sua obediência à Grande Comissão. Portanto, a Wesleys, a Igreja do Nazareno procurou e ainda
proposta do artigo passa pela reflexão sobre a sua procura seus próprios métodos (ainda que inspirados
identidade histórica transcultural, examinando a sua na primeira organização mãe) para ser fiel aos
relevância para o século XXI. desígnios de Deus.
Em seu sermão 3812, Wesley faz uma exposição Um indivíduo é nazareno porque a sua
do texto de Marcos 9.38,39 - passagem em que os compreensão teológica e bíblica fundamenta
discípulos proibiram um homem de expulsar completamente suas ações e ministérios. Os nazarenos
demônios porque este não fazia parte do grupo -, são inclusivos pelo amor e exclusivos pelas exigências
reprovando o comportamento sectário de muitos de da Palavra de Deus. Não são ramo separado, são mais
seus contrários. No período, os irmãos Wesley um ramo florescente da videira verdadeira que
recebiam duras críticas a respeito da doutrina bíblica alimenta outros ramos com a mesma seiva.
da perfeição cristã e muitas acusações de fanatismo A identidade nazarena na sua íntegra corre perigo
religioso, por causa da vida sistemática e metódica que quando as ações dos nazarenos tomam por base
levavam - daí vem o apelido [pejorativo] que suas qualquer outra identidade que não seja fiel ao
reuniões receberam, clube santo. Wesley, então, Fundamentos Nazarenos organizacionais, doutrinários
censura os seus contemporâneos sob o argumento de e éticos representados pelo Manual, fruto de mais de
que, a despeito das diferenças litúrgicas e teológicas, 100 anos de discussões teológicas e administrativas de
é preciso reconhecer o trabalho de todos quantos se seus representantes. Graças a ele a denominação não é
propõem a fazer a obra de Deus, ele explica: uma instituição estática, um monumento que faz
Se queres evitar todo sectarismo, vai além: Em cada
exemplo dessa espécie, qualquer que seja o instrumento, somente de sua história a base de sua existência
reconhece o dedo de Deus, E não somente reconhece-o, identitária. Os nazarenos são globais, têm histórias
mas regozijai-te em sua obra e louva seu nome com globais de fundadores em todos os continentes, têm
ações de graças. Anima a quem quer que seja que Deus teologia sendo elaborada em todas a instituições
se compraza em empregar, para que ele se entregue
educacionais engajadas em formar novos líderes e
totalmente à tarefa. Onde quer que estiveres, fala bem
desse homem; defende seu caráter e sua missão. Alarga, dependem do que o Espírito Santo está fazendo nos e
tanto quanto possas, seu campo de ação; mostra-lhe todo através dos nazarenos do século XXI.
agrado em palavras e em obras; e não te canses de rogar Portanto, os autores deste artigo, concordam que a
a Deus em seu favor, para que o Senhor salve tanto a ele Igreja do Nazareno se distingue das demais
próprio como a seus ouvintes.
denominações quando se mantém fiel a seus valores e
Até mesmo os seus seguidores metodistas estavam a sua missão. Independentemente de narrativas e
tendenciosos ao sectarismo devido aos fortes embates características regionais, liturgias, e tecido social, os
teológicos da época. Noutro sermão (39)13 sobre a nazarenos podem se sentir parte de uma única, mas
catolicidade do Espírito, Wesley afirma: "ambos globalizada instituição cujo construto organizacional
devemos agir segundo cada um esteja persuadido em promove e viabiliza a expansão da mensagem do
sua própria mente. Guarda firmemente aquilo que crês Reino e que, os seus mais de 100 anos de história,
seja mais aceitável a Deus e eu farei o mesmo". provam a sua relevância e a sua capacidade
reformuladora, ou seja, de se reformular em diferentes
contextos sociais, étnicos, econômicos, políticos e
culturais.

12
WESLEY, John. Sermon 38 - A Caution Against Bigotry. Disponível em <. Disponível em <http://wesley.nnu.edu/john-wesley/the-
sermons-of-john-wesley-1872-edition/sermon-38-a-caution-against-bigotry/>. Acesso em 24 mar 2021.
13
WESLEY, John. Sermon 39 - Catholic Spirit. Disponível em <http://wesley.nnu.edu/john-wesley/the-sermons-of-john-
wesley-1872-edition/sermon-39-catholic-spirit/>. Acesso em 24 mar 2021.

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