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8, e795986226, 2020
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i8.6226
Análise da produção científica sobre atributos da violência obstétrica
Analysis of scientific production on attributes of obstetric violence
Análisis de la producción científica sobre los atributos de la violencia obstétrica
Resumo
Objetivo: Analisar os conceitos e discussões sobre violência obstétrica presentes na literatura
científica. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa do tipo revisão integrativa, realizado entre
os meses de julho de 2019 a janeiro de 2020. As buscas foram operacionalizadas a partir da
pergunta norteadora “quais os conceitos e discussões atuais sobre violência obstétrica presentes
na literatura científica?”, nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde; Medical Literature Analysis and Retrievel System Online e no Banco de
Dados em Enfermagem, por meio da Biblioteca Virtual em Saúde. Foi utilizado os Descritores
Controlados em Ciências da Saúde, com os cruzamentos por operadores booleanos: “Violência
obstétrica AND Violência contra a mulher” AND “Parto humanizado” OR “Educação em
Saúde). Resultados: Foram selecionados 12 artigos que fizeram parte do quantitativo final da
amostra desse estudo. Os pontos destacados para discussão segundo os estudos analisados
foram: Percepção de puérperas sobre violência obstétrica; Tipos de violências obstétricas mais
relatadas; Profissionais de saúde x Violência Obstétrica. Conclusão: Os estudos analisados
trazem a realidade relatadas por mulheres e profissionais da saúde de uma forma sistematizada
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pelos autores. Dessa forma, atingiu-se o objetivo proposto em analisar os conceitos e discussões
sobre violência obstétrica, na visão de mulheres e profissionais da saúde, o que enriquece as
considerações sobre essa temática ainda pouca abordada na literatura científica. Traz-se a
ponderação sobre os malefícios da violência obstétrica e as lacunas que ainda remetem sobre
procedimentos médicos e suas indicações.
Palavras-chave: Violência; Gravidez; Violência contra a mulher.
Abstract
Objective: To analyze the concepts and discussions on obstetric violence present in the
scientific literature. Methodology: This is an integrative review type research, carried out
between the months of July 2019 and January 2020. The searches were made operational based
on the guiding question “what are the current concepts and discussions on obstetric violence
present in the scientific literature? ”, In the Latin American and Caribbean Literature in Health
Sciences databases; Medical Literature Analysis and Retrievel System Online and in the
Nursing Database, through the Virtual Health Library. The Controlled Descriptors in Health
Sciences were used, with intersections by Boolean operators: “Obstetric violence AND
Violence against women” AND “Humanized delivery” OR “Health Education). Results: 12
articles were selected that were part of the final sample of this study. The points highlighted for
discussion according to the studies analyzed were: Perception of puerperal women about
obstetric violence; Most reported types of obstetric violence; Health professionals x Obstetric
Violence. Conclusion: The studies analyzed bring the reality reported by women and health
professionals in a systematic way by the authors. Thus, the proposed objective was reached in
analyzing the concepts and discussions about obstetric violence, in the view of women and
health professionals, which enriches the considerations on this theme that is still little addressed
in the scientific literature. The consideration is given to the harmful effects of obstetric violence
and the gaps that still refer to medical procedures and their indications.
Keywords: Violence; Pregnancy; Violence against women.
Resumen
Objetivo: analizar los conceptos y debates sobre violencia obstétrica presentes en la literatura
científica. Metodología: Esta es una investigación de tipo de revisión integradora, realizada
entre los meses de julio de 2019 y enero de 2020. Las búsquedas se hicieron operativas con
base en la pregunta guía “¿cuáles son los conceptos y debates actuales sobre violencia obstétrica
presentes en la literatura científica? ”, En las bases de datos de Literatura en Ciencias de la
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Salud de América Latina y el Caribe; Análisis de literatura médica y sistema de recuperación
en línea y en la base de datos de enfermería, a través de la Biblioteca Virtual de Salud. Se
utilizaron los descriptores controlados en ciencias de la salud, con intersecciones de operadores
booleanos: "Violencia obstétrica y violencia contra las mujeres" Y "Entrega humanizada" O
"Educación para la salud). Resultados: se seleccionaron 12 artículos que formaban parte de la
muestra final de este estudio. Los puntos destacados para discusión según los estudios
analizados fueron: percepción de las mujeres puerperales sobre la violencia obstétrica; La
mayoría de los tipos reportados de violencia obstétrica; Profesionales de la salud x Violencia
obstétrica. Conclusión: Los estudios analizados traen la realidad reportada por mujeres y
profesionales de la salud de manera sistemática por los autores. Por lo tanto, el objetivo
propuesto se alcanzó al analizar los conceptos y las discusiones sobre la violencia obstétrica,
en opinión de las mujeres y los profesionales de la salud, lo que enriquece las consideraciones
sobre este tema que aún se aborda poco en la literatura científica. Se consideran los efectos
nocivos de la violencia obstétrica y las lagunas que aún se refieren a los procedimientos médicos
y sus indicaciones.
Palabras clave: Violencia; Embarazo; Violencia contra la mujer.
1. Introdução
Até meados do século XVII, o parto era considerado um evento restrito à comunidade
feminina, tendo a parteira como autoridade principal e a mãe como protagonista, sendo o
cenário principal o domicílio (Vendrúscolo & Kruel, 2015). Essa realidade começou a ser
radicalmente mudada com o advento da cirurgia cesariana, que se tornou popular rapidamente
pelo desenvolvimento da medicina com técnicas seguras e aperfeiçoadas para realização do
procedimento (Nakano, Bonan & Teixeira, 2016).
Contudo, a cesariana tornou o parto um evento com pouca participação familiar,
despojando o poder de decisão e a privacidade da mulher, tornando-a coadjuvante e trazendo
discordância quanto a ampla difusão da prática, pois teria se tornado uma forma de nascer
normal, evidenciada pelas altas taxas de realização no Brasil e no mundo (Nakano, Bonan &
Teixeira, 2016).
Atualmente, o parto, não importando qual seja a via, se converteu em um acontecimento
totalmente hospitalocêntrico, seguindo normas institucionais. Diante disso, a ciência da
obstetrícia cresceu com novos entendimentos médicos acerca da gravidez, parto e puerpério,
trazendo mais segurança diante de riscos durante o parto (Vendrúscolo & Kruel, 2015).
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A partir da hospitalização do processo de nascimento, o parto passou a ser uma situação
de propagação de hostilidades, que se tornam profundamente traumáticas por conta da
fragilidade e vulnerabilidade que a gravidez proporciona. Nesse contexto, define-se a violência
obstétrica (VO) por qualquer tipo de maus tratos ou ações desrespeitosas que firam a dignidade
da mulher durante a assistência obstétrica (Pereira et al, 2016).
A violência obstétrica pode ser classificada em violência física, psíquica e sexual. Abuso
físico e verbal, realização de procedimentos invasivos sem necessidade ou com indicação
duvidosa, desconsideração do poder de decisão da mulher, violação do pudor e privacidade são
alguns exemplos evidentes e comuns na prática obstétrica brasileira, trazendo uma grande
questão de gênero (Pereira et al, 2016).
No Brasil, o tema passou a ser difundido no início da década de 2000, onde mulheres
socialmente privilegiadas passaram a expor experiências perturbadoras de seus partos
associadas às experiências de outras mulheres em países da América Latina, onde foram
denunciadas práticas abusivas em serviços de saúde (Assis, 2018). A partir da implantação do
Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), no ano de 2000, diretrizes
foram traçadas com a finalidade de proporcionar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS),
uma assistência qualificada para as mulheres e seus filhos, durante todo o processo de pré-
natal, parto e puerpério, com base nas reivindicações sociais (Rodrigues et al. 2018). Dessa
forma, o objetivo do estudo é analisar os conceitos e discussões sobre violência obstétrica
presentes na literatura científica.
2. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa do tipo revisão integrativa. Esse tipo de estudo caracteriza-se
com aspecto abrangente, proporcionando a inserção de estudos de variadas metodologias. A
revisão integrativa se descreve como um estudo produzido a partir de dados de fontes
secundárias, pautando-se no conhecimento mais atual sobre o assunto em questão, sendo
importante para o desenvolvimento de políticas e protocolos, além de estimular o pensamento
crítico. Dessa forma, a revisão integrativa se realiza a partir de seis fases cruciais: Elaboração
da pergunta norteadora; Amostragem com critérios de inclusão e exclusão; Coleta de dados;
Análise e classificação dos estudos incluídos; Discussão dos resultados e Apresentação dos
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resultados (Souza, Silva & Carvalho, 2010). O estudo teve início em julho de 2019 e a coleta e
análise dos dados foram realizadas durante os meses de agosto de 2019 a janeiro de 2020.
Coleta de dados
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Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção das produções científicas.
Aspectos Éticos
3. Resultados
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Tabela 1 - Distribuição das produções científicas utilizadas no estudo.
AUTORES ANO TÍTULO OBJETIVO METODOLOGIA
Silva MC, et 2018 Parto e nascimento Investigar as formas de Estudo quantitativo,
al. na região rural: a violência obstétrica na exploratório, descritivo e
violência obstétrica assistência prestada ao transversal realizado com 169
parto e ao nascimento. puérperas em maternidades
públicas.
Inagaki 2018 Fatores associados Identificar fatores Estudo quanti-qualitativo,
ADDM, et à humanização da associados à humanização transversal, descritivo, realizado
al. assistência em uma da assistência durante o em uma maternidade pública.
maternidade trabalho de parto, parto e
pública nascimento.
LEAL SYP, 2018 Percepção de Conhecer a percepção de Estudo exploratório, com
et al. enfermeiras enfermeiras obstétricas abordagem qualitativa, realizada
obstétricas acerca acerca da violência com 19 enfermeiras que
da violência obstétrica. atuavam no Centro Obstétrico
obstétrica de um hospital de referência
materno-infantil.
Cardoso 2017 Violência obstétrica Avaliar os saberes e Estudo descritivo, exploratório,
FJC, et al. institucional no práticas sobre violência de abordagem qualitativa,
parto: percepção de obstétrica na percepção realizado por meio de entrevista
profissionais da dos profissionais da saúde. com 20 profissionais da saúde.
saúde
Oliveira 2017 Percepções sobre Conhecer a percepção das Estudo descritivo, de
MC, Merces violências puérperas no tocante às abordagem qualitativa, com 10
MC. obstétricas na ótica violências obstétricas. puérpera
de puérperas
Nascimento 2017 Relato de puérperas Desvelar as formas de Estudo exploratório, descritivo,
LC, et al. acerca da violência violências obstétricas com abordagem qualitativa,
obstétrica nos sofridas durante a gestação realizado com 41 puérperas nas
serviços públicos e o parto a partir de relatos Unidades de Saúde da Família.
de puérperas
Oliveira TR, 2017 Percepção das Caracterizar a violência Estudo descritivo, exploratório,
et al. mulheres sobre obstétrica vivenciada pelas de abordagem qualitativa,
violência obstétrica mulheres durante o realizado com 20 mulheres de
processo parturitivo. uma maternidade pública de
referência.
Rodrigues 2017 Violência obstétrica Analisar a violência Estudo descritivo com
FAC, et al. no processo de institucional contra abordagem quantitativa,
parturição em mulheres no processo de realizado em onze hospitais-
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maternidades parturição em maternidades de média e alta
vinculadas à rede maternidades vinculadas à complexidade.
cegonha Rede Cegonha de
Fortaleza/ Cascavel.
Oliveira VJ, 2017 O discurso da Analisar os discursos de Estudo interpretativo, com
Penna violência obstétrica mulheres e profissionais de abordagem qualitativa realizado
CMM. na voz das saúde sobre a assistência com 36 parturientes, dez
mulheres e dos ao parto, considerando as enfermeiros obstetras e 14
profissionais de situações vivenciadas e as médicos obstetras.
saúde interações construídas
entre eles durante o
trabalho de parto e parto.
Silva RLV, 2016 Violência obstétrica Investigar o conhecimento Estudo descritivo, exploratório,
et al. sob o olhar das das mulheres acerca da com abordagem qualitativa,
usuárias violência obstétrica. realizado em uma maternidade
de referência com oito
mulheres.
Biscegli TS, 2015 Violência Verificar a prevalência de Estudo transversal, descritivo
et al. obstétrica: perfil violência obstétrica na realizado através da aplicação
assistencial de uma Maternidade de um de questionário presencial,
maternidade escola hospital escola e descrever respondido por 172 puérperas.
do interior do as características do
estado de são Paulo atendimento.
Silva MC, et 2014 Violência obstétrica Relatar a experiência de Baseia-se no relato de
al. na visão de enfermeiras obstetras sobre experiência das autoras,
enfermeiras a violência obstétrica construídos em diferentes locais
obstetras vivenciada, presenciada e de trabalho, tipos e tempos de
observada durante suas formação.
trajetórias profissionais.
4. Discussões
Conforme a leitura e análise dos artigos escolhidos para compor a pesquisa, estes foram
divididos em categorias de aproximação de objetivo, conforme os tópicos que serão discutidos.
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Percepção de puérperas sobre violência obstétrica
O perfil de puérperas da grande maioria dos estudos analisados são mulheres jovens,
com parceiro fixo, pardas, de baixa escolaridade e classes socioeconômicas mais vulneráveis.
Em sua maioria, esses perfis de mulheres realizam parto normal pois mulheres com condições
financeiras mais elevadas optam por partos cesáreos para amenização das dores fisiológicas do
parto (Da Silva et al 2016).
Na literatura, interpreta-se que as mulheres vítimas de violência obstétrica estão cientes
da injúria, contudo, não reconhecem tais maus tratos como uma violação de seus direitos ou
sequer associam ao termo em vigência. No estudo de Oliveira (2017), evidencia-se que os
conhecimentos das entrevistadas são restritos ao senso comum de violência como alguma
injúria necessariamente física ou psicológica. Existem também a percepção de que as práticas
de atos dessa natureza são comuns nas maternidades devendo-se ao fato do relato coletivo de
experiências desagradáveis onde o cuidado oferecido torna a mulher submissa às ordens dos
profissionais de saúde que acabam por comandar o processo parturitivo.
Abaixo, estão os estudos que mais detalharam esse tópico, com ideias complementares
que resume este tópico.
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Nota-se que a violência obstétrica é presente em ambos os tipos de parto, porém, durante
o parto vaginal, ela se torna mais visível e agressiva. Tal fator pode ser explicado pela lentidão
do trabalho de parto, sendo um processo doloroso e de intenso estresse para a mulher conjugado
a situação física e mental em que o profissional assistencialista se encontra. As jornadas de
trabalho dos profissionais da saúde tendem a ser exaustivas e agitadas, gerando uma sobrecarga
psicossomática, dessa forma, o indivíduo tende a ficar menos tolerante ao meio em que aplica
seu exercício profissional (De Carvalho et al.2017).
É esperado que uma assistência inadequada deixe consequências para a gestante e/ou
para o recém-nascido. Os relatos giram em torno da traumatização de um parto desventurado
em que a mulher desenvolve sentimento pessimistas pela má experiência. Existem também as
sequelas físicas que se configuram como cicatrizes desnecessárias ou extensas, outras
complicações sistêmicas para o recém-nascido e/ou mãe que são negligenciados na assistência.
Esses casos devem ser considerados mais graves e pontuais.
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Todo esse contexto pode configurar uma negligência na assistência por parte da equipe
profissional.
Na figura abaixo, o diagrama explana as produções científicas que especificam de forma
específica e convergente sobre as formas de violência obstétrica mais relatadas:
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que a utilização da manobra de Kristeller há riscos para ruptura de órgãos internos na mulher
ou traumas físicos na criança, entre outros danos estudados.
São notórios e pronunciados os sentimentos negativos que emergem de mulheres que
denotam suas experiências com partos ultrajantes, com distinções de medo, tristeza,
incapacidade e desvalorização (Guimarães et al. 2018).
Nos estudos que condisseram à percepção dos profissionais de saúde que trabalham
diretamente na assistência ao parto e nascimento, os resultados foram similares, com
divergências sutis, sendo esses profissionais citados resumidos a médicos, enfermeiros e
técnicos de enfermagem. A ilustração a seguir traz as divergências e convergências dos autores
sobre a temática:
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um estudo com apenas enfermeiras obstétricas, contemplou-se um grande conhecimento sobre
violência obstétrica e suas múltiplas formas de ocorrência, porém, alguns tipos de
procedimentos e práticas invasivas não foram considerados um ato de desumanização, como
exemplo, a episiotomia.
Para a categoria da Enfermagem, é reconhecido que a violência obstétrica é a privação
da autonomia e respeito à mulher em suas fases de gravidez e puerpério, podendo causar danos
físicos e psicológicos para aquela que passa. Ressalta-se que os enfermeiros que expõe suas
falas conceituam o fenômeno conforme as definições de organizações de saúde (Santos et
al.2018).
Segundo Cardoso et al. (2017) em um estudo exploratório, os profissionais de
enfermagem são capazes de reconhecer quando eles mesmos cometem esse tipo de agressão,
justificado pelo sentimento de medo de complicações durante o parto, sendo um exemplo as
grosserias ditas a mulheres que não aceitam a conduta médica. Além disso, enfermeiros também
admitem já ter presenciado episódios com outros profissionais da mesma ou de outras
categorias praticando lances de violência obstétrica.
Segundo Oliveira e Penna (2017), houve narrativas positivas onde profissionais
responsáveis pelo cuidado se posicionavam contra a violência obstétricas em situações reais.
Nesse estudo são observados relatos de enfermeiras que demonstram sentimentos negativos aos
atos danosos à parturiente, que se tornam traumatizantes também para quem observa, porém,
em menor intensidade de quem sofre. Há também o relato de enfermeiras que referem que há
puérperas que não “colaboram” com a equipe, gerando conflito iminente entre equipe e
paciente.
No cenário específico da Enfermagem, é válido salientar que o Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN), conforme o novo código de ética na Resolução N° 0564/2017, proíbe
que o profissional de enfermagem cause, colabore ou omita qualquer forma de violência ao
paciente, família ou coletividade, estando este sob o exercício da profissão, sendo passível de
penalidade como cassação do direito ao exercício profissional por um período de até 30 anos
(Cofen, 2017).
5. Considerações Finais
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acontecem por falta de conhecimento da mulher e da família. Tais atitudes podem desencadear
consequências físicas e psicológicas para a mãe e o recém-nascido, além de ter impacto direto
na comunidade em que estão inseridos. Contudo, é necessário que mais estudos sejam
realizados pois é notório que esses dados podem divergir conforme as regiões, culturas e
instituições de perfis diferentes.
Os profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem,
possuem discursos destoantes quanto ao conhecimento das definições de violência obstétricas
e suas variáveis, reconhecimento de atos violentos ou até mesmo reconhecimento da prática.
Nesse contexto, a deliberação sobre violência obstétrica deve se iniciar desde a academia e se
estender a programas de especialização em ginecologia e obstetrícia, além de ser algo cobrado
pelas instituições prestadoras desses serviços, incluindo-a em educação permanente.
Assim, profissional de enfermagem pode trabalhar ofertando um ambiente agradável,
limpo e alegre que proporcione conforto para as parturientes. Além disso, é necessário despertar
o olhar humanizado e holístico para essas usuárias, considerando suas emoções e dores durante
o processo parturitivo.
Traz-se a ponderação sobre os malefícios da violência obstétrica e as lacunas que ainda
remetem sobre procedimentos médicos e suas indicações. Destaca-se a necessidade da
colaboração de hospitais e maternidade para realização de estudos para que a assistência ao
binômio mãe e filho seja prestada com qualidade e baseada em evidências.
Além disso, há a necessidade de que as mulheres sejam mais bem preparadas para o
trabalho de parto durante o período pré-natal pois dessa forma a gestante empodera-se de seus
direitos.
Dessa forma, atingiu-se o objetivo proposto em analisar os conceitos e discussões sobre
violência obstétrica, na visão de mulheres e profissionais da saúde, o que enriquece as
considerações sobre essa temática ainda pouca abordada na literatura científica.
Entende-se como limitação desse estudo o pouco número de estudos a qual foram
encontrados, o que evidencia a necessidade da realização de mais trabalhos científicos que
abordem essa temática.
Referências
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