Técnicas Cromatográficas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

12

Técnicas cromatográficas: princípios,


classificações e aplicações

Amanda Danuello Carla de Moura Martins


UFU IFGoiano

Mário Machado Martins João Flávio da Silveira Petruci


UFU UFU

Rafael Aparecido Carvalho Souza Sérgio Antônio Lemos de Morais


UFU UFU

Michelle Nauara Gomes do Nascimento Marcos Pivatto


UFU UFU

'10.37885/220509051
RESUMO

A cromatografia pode ser definida como um conjunto de técnicas de separação físico-quími-


ca que envolvem um sistema de duas fases, uma estacionária e outra móvel, que pode ser
utilizado para separar compostos presentes em amostras sólidas, líquidas e gasosas. Essas
técnicas permitem a separação, identificação e quantificação dos compostos através do uso
de detectores. Técnicas cromatográficas são fundamentais para a separação e o isolamento
de moléculas bioativas, a partir de matrizes complexas de origem natural, que possam ser
utilizadas na terapêutica, na agricultura ou na pecuária. Assim, aqui apresentamos diretrizes
que abrangem os princípios, classificações e aplicações da cromatografia.

Palavras- chave: Cromatografia, Fases Estacionária e Móvel, Separação de


Matrizes Complexas.
INTRODUÇÃO

Os primeiros relatos do uso da cromatografia foram na Antiguidade. Na literatura é


descrito que o botânico russo Michael Semenovich Tswett apresentou um trabalho em 1903
à Sociedade de Ciências de Varsóvia, no qual ele descreveu os primeiros resultados de sua
pesquisa com extratos de folhas para estudar as estruturas químicas das clorofilas das plan-
tas, utilizando uma coluna de vidro recheada com carbonato de cálcio. Os constituintes do
extrato percorreram a coluna com velocidades diferentes, arrastados por éter etílico, o que
resultou na separação dos componentes, e foi relatado por Tswett como um novo método de
análise baseado no fenômeno de adsorção (ETTRE, 2000; COLLINS, 2006a). Em um segun-
do trabalho publicado em 1906, Tswett utiliza pela primeira vez, as palavras cromatografia,
para o processo, e cromatograma para descrever as bandas separadas na coluna. A utili-
zação desses termos por Tswett teve seu significado na origem das palavras, “cromo” do
grego chroma, que significa cor, e “grafia” do grego graphe, que significa escrever. Porém,
em seu segundo artigo, o botânico explicou que a separação na coluna não dependia da
cor, mas das interações das substâncias, que podem ser coloridas ou não, com o “recheio”
da coluna (fase estacionária) (COLLINS, 2006a).
As técnicas cromatográficas, em geral, permitem a separação, identificação e purificação
de compostos presentes em uma mistura para análises qualitativa e quantitativa. As proteínas,
por exemplo, podem ser purificadas com base em características como tamanho e forma,
carga total, grupos hidrofóbicos presentes na superfície e capacidade de ligação com a fase
estacionária. O objetivo da aplicação de técnicas cromatográficas é, além de quantificar, obter
um perfil cromatográfico que permita uma separação satisfatória dos compostos presentes
em uma amostra dentro de um intervalo de tempo adequado. Para esse fim, ao longo da
história, vários métodos de cromatografia foram desenvolvidos, como a Cromatografia em
Papel, Cromatografia em Camada Delgada (CCD), Cromatografia em Coluna, Cromatografia
por Adsorção, Cromatografia por Troca Iônica, Cromatografia por Exclusão, Cromatografia
por Bioafinidade e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) que serão na sequência
discutidos mais detalhadamente (COSKUN, 2016).

CROMATOGRAFIA

A cromatografia é uma técnica de separação físico-química que envolve um sistema de


duas fases, uma estacionária e uma móvel. A separação dos componentes de uma mistura
ocorre através da distribuição diferenciada dos constituintes entre as duas fases. Esse mé-
todo pode ser utilizado para amostras sólidas, líquidas e gasosas (ETTRE, 2000; SNYDER
et al., 2010). A seguir são mostradas algumas classificações da cromatografia, baseadas em

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
178
critérios como o tipo de fase móvel e estacionária empregados e os princípios de separação
dos componentes da amostra.

Classificações da Cromatografia (DEGANI et al., 1998; COLLINS, 2006b)

Pela forma física do sistema cromatográfico: a cromatografia pode ser subdividida


em: cromatografia em coluna, na qual é utilizado um tubo cilíndrico; cromatografia planar, a
qual se refere à cromatografia em papel; cromatografia por centrifugação; e cromatografia
em camada delgada.
Pela fase móvel empregada: existem três tipos de cromatografia – cromatografia líquida
(a fase móvel é um líquido), cromatografia gasosa (a fase móvel é um gás) e cromatografia
supercrítica (a fase móvel é um vapor pressurizado). A cromatografia líquida é subdivida em
cromatografia líquida clássica, na qual a fase móvel é arrastada através da coluna apenas
pela força da gravidade e a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), que faz uso de
bombas de alta pressão para a eluição da fase móvel.
Pela fase estacionária utilizada: podem ser empregados dois tipos de fase estacioná-
ria – sólidas ou líquidas.
Pelo mecanismo de separação: a separação dos componentes por cromatografia pode
ocorrer por processos físicos (adsorção e partição), químicos (troca iônica e bioafinidade),
mecânicos (exclusão) ou misturas desses mecanismos.
O fluxograma a seguir resume os tipos mais comuns de cromatografia (Figura 1).

Figura 1. Representação esquemática dos tipos mais comuns de cromatografia.

Cromatografia

Planar Coluna

Papel Camada delgada Centrífuga Gás Líquido Fluído supercrítico

*
Clássica CLAE

*
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência
Fonte: Adaptado de Degani et. al., 1998.

Nos processos físicos de separação em cromatografia, os princípios da separação dos


componentes são baseados em atrações dipolares, coulômbicas e pela formação de ligações
de hidrogênio. Na adsorção, quando a fase estacionária é um sólido, o soluto é retido na in-
terface entre o sólido e a fase móvel através de grupos ativos em sua superfície. Na partição,

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
179
quando a fase estacionária é um líquido, o processo de separação é baseado na diferença
de solubilidade dos componentes da mistura nas duas fases líquidas (COLLINS, 2006b).
No processo químico de separação por troca iônica, os íons da amostra se ligam aos
grupos funcionais ionizáveis da fase estacionária. Nesse processo, a fase estacionária é for-
mada por uma matriz em que são adicionados grupos ionizáveis e a fase móvel é constituída
por uma solução iônica com propriedades tamponantes. Assim, a separação ocorre através
de trocadores iônicos. Os trocadores aniônicos, os quais contêm carga positiva, retêm ânions
e os trocadores catiônicos, que contêm carga negativa, retêm os cátions. Na bioafinidade,
a mistura a ser separada possui ligantes bioespecíficos que vão se ligar covalentemente
com o suporte da fase estacionária através de interações biológicas, como os antígenos,
os quais vão se ligar com os anticorpos (componente complementar) presentes na amos-
tra (COLLINS, 2006b; GE HEALTHCARE, 2007). E no processo por exclusão, o princípio
de separação baseia-se no tamanho das partículas da amostra. Geralmente, as partículas
menores passam com mais facilidade pela fase estacionária que é formada por uma matriz
inerte com partículas de forma, tamanho e porosidade uniformes (COLLINS, 2006b).

Cromatografia em Papel (CP)

A cromatografia em papel pode ser considerada a técnica mais simples entre as cro-
matografias. Neste procedimento é necessária pequena quantidade de amostra para rea-
lizar a separação de compostos polares. A distribuição dos componentes de uma amostra
durante a análise é baseada nas diferentes solubilidades dos compostos nas fases móvel e
estacionária. Os componentes mais solúveis na fase móvel possuem maior movimentação
do que aqueles que interagem mais com a fase estacionária, os quais ficam mais retidos
no papel (BRAGA, 2006).
Nessa técnica os componentes de uma amostra são separados por extração líquido-lí-
quido e não por extração sólido-líquido. A celulose absorve até 22% de água, sendo a água
sobre a celulose considerada a fase estacionária (BRAGA, 2006; ENGEL et al., 2012). A se-
paração da mistura ocorre através da partição dos solutos entre a água presente nas fibras
do papel e o solvente (fase móvel) (FAUST, 1997).
Uma análise qualitativa desta técnica pode ser obtida em função do fator de retenção
(do inglês Retention factor – Rf), que é expresso pela seguinte relação (Equação 1):

(Equação 1)

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
180
Quando a técnica é realizada em condições especificadas, o valor de Rf pode ser uma
constante característica de um composto (Figura 2). Além disso, esse valor pode contribuir
para a identificação de um composto desconhecido (ENGEL et al., 2012).

Figura 2. Cálculo do Rf de dois compostos A e B.

Fonte: Adaptado de Okumura et al., 2002.

De acordo com os valores de Rf calculados é possível inferir que o composto B apresen-


ta maior afinidade com a fase estacionária, uma vez que possui menor valor de Rf. Já o com-
posto A apresenta maior afinidade com a fase móvel, uma vez que possui maior valor de Rf.
Esse princípio de separação também é aplicado na cromatografia em camada delgada,
que será abordado em seguida e serve como etapa inicial para a separação dos compo-
nentes utilizando a cromatografia em coluna. Antes da separação dos componentes de uma
amostra por cromatografia em coluna é necessário realizar a otimização das condições em
um sistema de cromatografia planar para selecionar o melhor sistema de solventes.

Cromatografia em Camada Delgada (CCD)

A técnica de cromatografia em camada delgada permite a separação rápida e a aná-


lise qualitativa de pequena quantidade de amostra. Assim, nesta cromatografia planar os
componentes de uma mistura são separados por adsorção. As placas cromatográficas são
revestidas com uma fina camada de adsorvente, e quando são colocadas na vertical em uma
cuba cromatográfica, o solvente sobe através dos interstícios do adsorvente por capilaridade.
Dessa forma, ocorre a separação dos componentes da amostra, os quais são particionados
entre a fase móvel líquida e a fase estacionária sólida (ENGEL et al., 2012; LOPES, 2006).
Existe uma grande variedade de adsorventes disponíveis no mercado para utilização
em CCD. Dentre eles, podem ser citados a sílica (SiO2), alumina (Al2O3), terra diatomácea,

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
181
celulose e poliamida como os mais comuns (LOPES, 2006). A escolha do adsorvente de-
pende da amostra a ser analisada. Por isso, sempre que for necessário utilizar a CCD para
separação dos componentes de uma amostra, é recomendado consultar a literatura para
auxiliar na escolha do adsorvente mais adequado, que promova a melhor separação, e assim
garanta maior reprodutibilidade nas análises.

Cromatografia em Coluna

Na cromatografia em coluna é utilizada uma coluna cromatográfica para efetuar a


separação dos componentes de uma mistura. Uma coluna cromatográfica é constituída
de um tubo de vidro, semelhante a uma bureta, que é fixada em um suporte universal na
posição vertical. A extremidade superior da coluna é aberta e a inferior é afilada possuindo
uma torneira que controla a vazão do eluente (Figura 3). Existem diferentes dimensões de
coluna, que influenciam no processo de separação. A escolha da dimensão correta depende
da quantidade de material que será usado no procedimento (VICHENEWSKI, 2006).
Diferentes tipos de adsorventes podem ser utilizados como fase estacionária na cro-
matografia em coluna. Os mais empregados são: sílica, alumina, silicato de magnésio,
óxido de magnésio, carvão ativo, dextrana e polímeros de estireno (VICHENEWSKI, 2006;
ENGEL et al., 2012). Para a execução da técnica, a amostra é aplicada no topo da coluna e
o solvente (fase móvel) é passada pela coluna, assim, os componentes são separados pela
migração diferenciada através da coluna (Figura 3) (SMITH, 2004).

Figura 3. Coluna cromatográfica.

Fonte: Adaptado de Degani et al., 1998.

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
182
Os constituintes de uma amostra podem ser separados utilizando dois modos de eluição:
isocrático, com a utilização de apenas um sistema de solvente ao longo de todo o procedi-
mento cromatográfico; ou gradiente, onde são utilizados dois ou mais solventes em diferentes
proporções que variam à medida que ocorre a eluição dos analitos na coluna. A mistura dos
solventes é preparada para que a polaridade da fase móvel seja aumentada gradativamente,
permitindo assim a separação dos compostos de acordo com as diferenças de polaridades
(VICHENEWSKI, 2006). A escolha do gradiente de solventes depende das características
da amostra a ser separada.
Com o desenvolvimento das técnicas cromatográficas, diversas fases estacionárias
quimicamente modificadas estão sendo comercializadas com diâmetros de partículas cada
vez menores, que proporcionam maior eficiência nas separações (maior número de inte-
rações entre os analitos com a fase estacionária – maior número de pratos teóricos). Com
isso, surge a necessidade do uso de sistemas de bombeamento (bombas de baixa pressão)
que forçam a passagem do solvente pela fase estacionaria, daí o termo cromatografia flash,
que inicialmente foi empregada para descrever o procedimento cromatográfico que utilizava
sílica com partículas de diâmetro entre 230–400 mesh (ENGEL et al., 2012).
A separação dos componentes na cromatografia em coluna pode ocorrer por diferentes
métodos, tais como adsorção, troca iônica, exclusão e bioafinidade. Estes processos serão
discutidos na sequência.

Cromatografia por Adsorção

O processo de separação por adsorção é baseado na interação dos componentes da


amostra com os grupos ativos fixos da fase estacionária. Os adsorventes mais comuns são a
alumina, carvão ativo e sílica gel. A escolha do solvente é outro fator importante para garantir
uma boa separação dos analitos, sendo que a escolha da série eluotrópica pode ser baseada
na intensidade das interações de adsorção (AQUINO NETO, NUNES, 2003). O processo
de separação é dinâmico, ou seja, as moléculas adsorvidas na fase estacionária podem
ser dessorvidas e voltar para a fase móvel (ENGEL et al., 2012). Esse processo se repete
sucessivamente até que os analitos percorram todo o caminho cromatográfico.
Para garantir uma boa separação alguns fatores devem ser considerados antes de
iniciar o processo cromatográfico, como a escolha do adsorvente, a polaridade do solvente,
o tamanho da coluna e a taxa de eluição. Estes parâmetros devem ser ajustados de acor-
do com a amostra analisada, caso possua constituintes quirais será necessário a utiliza-
ção de um adsorvente opticamente ativo para que o processo de separação seja eficiente
(VICHENEWSKI, 2006; ENGEL et al., 2012).

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
183
Cromatografia por Troca Iônica

A cromatografia por troca iônica é um método de separação e determinação de íons


que utiliza resinas de troca iônica. Os primeiros estudos sobre essa técnica retomam o século
XIX, com o trabalho sobre solos dos químicos Way e Thompson em 1850 (AQUINO NETO,
NUNES, 2003; SPADARO, 2006a).
O princípio de separação é baseado em equilíbrios de troca entre íons do eluente e
íons de mesmo sinal na superfície da fase estacionária. Nesse método, se o íon a ser sepa-
rado tiver carga positiva, a fase estacionária deverá ter carga negativa (McGUFFIN, 2004).
A Figura 4 ilustra um esquema de separação por troca iônica. Em A, o trocador catiô-
nico, ou seja, que troca íons positivos, está em equilíbrio com a fase móvel inicial que con-
tém íons Y+ e os íons M+ e N2+ são as espécies a serem separadas de uma amostra. Em B,
quando o eluente começa a ser passado pela coluna, ocorre uma reação de troca liberando
quantidade equivalente de íons Y+, os quais estavam ligados à matriz. Após a adsorção
dos íons da amostra na resina, é aplicado um eluente que contém íons W+, que possuem
afinidade um pouco maior pelos grupos trocadores da resina. Em C, os íons W+ promovem a
liberação da substância M+, a qual está ligada mais fracamente à resina do que a substância
N2+, em seguida é passado o segundo eluente, que contém íons X+, os quais possuem maior
afinidade pela matriz, permitindo a liberação dos íons N2+. Em D, a separação de M+ e N2+
está concluída. Para a remoção dos íons de maior afinidade pela resina que Y+, ou seja, os
íons W+ e X+ é aplicado na coluna concentrações crescentes de eluente que contém íons Y+,
sendo necessário passar volumes de 5 a 10 vezes a capacidade da resina. Em E, o equilí-
brio entre a fase móvel e fase estacionária é reestabelecido e a resina pode ser novamente
utilizada (SPADARO, 2006a).

Figura 4. Esquema de separação na cromatografia por troca iônica.

Nota: A–E: Etapas do processo de separação por troca iônica. M e N: Compostos a serem separados.
Y+, W+ e X+: : Íons contidos no eluente.
Fonte: Adaptado de Spadaro, 2006a.

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
184
A fase estacionária exerce um efeito significativo na eficiência da separação cromato-
gráfica. Existe um grande número de fases estacionárias para aplicação na cromatografia por
troca iônica, que pode ser formada por materiais orgânicos e inorgânicos. É importante que
todos os materiais possuam grupos funcionais carregados em sua superfície, que possam
trocar íons. Os materiais mais comumente usados nessa técnica são: resinas de polímeros
orgânicos modificadas, sílica gel modificada, sais inorgânicos, vidros, zeólitas, óxidos metáli-
cos e derivados de celulose (LUCY, HATSIS, 2004; EITH et al., 2006-07; SPADARO, 2006a).

Cromatografia por Exclusão

A cromatografia por exclusão, também conhecida como cromatografia de permeação em


gel, separa as moléculas de uma amostra de acordo com o tamanho molecular. As moléculas de
diferentes tamanhos passam pelos poros da fase estacionária de maneira diferenciada, sendo
as moléculas maiores eluídas mais rapidamente do que as menores, as quais ficam mais retidas
na coluna, por passarem por interstícios menores (FAUST, 1997; SILBERRING et al., 2004).
Essa técnica é aplicada na separação de moléculas de tamanho entre 0,5 e 1000 kDa e também
pode ser utilizada para separar moléculas maiores, como proteínas (SILBERRING et al., 2004).
Nesse tipo de separação geralmente são empregados fases estacionárias poliméricas
ou géis, os quais possuem poros de tamanhos variados que ordenam a entrada e a saída
das moléculas, que podem atravessar parcialmente ou completamente a fase estacionária,
sem que haja interação com ela. De maneira ideal, as moléculas que não ficam retidas são
excluídas e eluídas rapidamente da coluna, enquanto as que ficam retidas saem no volume
final da eluição (COLLINS, 2011).
Diferentes tipos de fases estacionárias são utilizadas na cromatografia por exclusão,
sendo que a inércia química, estabilidade e baixo teor de íons, são característica funda-
mentais para estes recheios. Os géis devem conter partículas de tamanho e distribuição
controlados, resistência ao fluxo e rigidez mecânica para garantir boa resolução na sepa-
ração cromatográfica. Os principais géis empregados nessa técnica são géis de dextrana,
poliacrilamida, ágar, agarose, sepharose e sephadex (ROTHSCHILD, 2006).

Cromatografia por Bioafinidade

A cromatografia por bioafinidade é diferenciada das demais categorias descritas ante-


riormente, porque é baseada nas propriedades biológicas ou funcionais da fase estacionária
e da substância a ser separada (SPADARO, FONSECA, 2006b; COLLINS, 2011). Neste
tipo de cromatografia a fase estacionária é modificada através da imobilização de ligantes
específicos. Em seguida a mistura é aplicada na coluna contendo o ligante que é seletivo
para os compostos que se deseja separar. Aqueles compostos que não apresentam afinidade

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
185
com os sítios ativos dos ligantes imobilizados na fase estacionária passam pela coluna sem
serem retidos, enquanto que os compostos que interagem com os sítios ativos ficam retidos,
de acordo com a intensidade da afinidade (Figura 5) (COLLINS, 2011).
Os componentes que não ficaram retidos na coluna saem primeiro. Aqueles que ficaram
retidos podem ser eluídos alterando o pH da fase móvel ou a força iônica do meio, utilizando
um solvente específico, ou ainda modificando a temperatura. Estas alterações desestabilizam
o complexo composto-ligante, levando à sua dissociação. A eluição também pode ser feita
utilizando compostos que apresentem maior afinidade pelo ligante do que o composto que
se deseja separar (Figura 5) (COLLINS, 2011).

Figura 5. Esquema de separação na cromatografia por bioafinidade.

Nota: A: Ligante imobilizado. B: Amostra a ser separada. C: Composto


desejado retido pelo ligante. D: Eluição do composto retido.
Fonte: Adaptado de Collins, 2011.

Essa técnica pode ser aplicada para separação de uma grande variedade de macro-
moléculas, tais como na purificação de enzimas, antibióticos, antígenos, ácidos nucleicos,
proteínas, hormônios, entre outros sistemas biológicos. Uma boa separação é alcançada
com a escolha correta da matriz, do ligante específico e das condições de retenção e eluição
das moléculas da amostra (SPADARO, FONSECA, 2006b).
A separação de biomoléculas também pode ser feita através da Cromatografia de
Afinidade de Íons Metálicos (IMAC), essa técnica se baseia na interação entre espécies
doadoras de elétrons presentes na superfície de biomoléculas em solução e íons metálicos
quelatados imobilizados em um suporte sólido (BRESOLIN et al., 2009).
O método IMAC é baseado na afinidade de íons metálicos imobilizados em uma matriz
sólida por meio de ligações covalentes (agentes quelantes) por grupamentos expostos na
superfície de uma molécula em solução. A afinidade entre o agente quelante e as biomo-
léculas resulta de ligações de coordenação reversíveis formadas entre os dois componen-
tes. Os íons metálicos mais utilizados na técnica são Fe3+, Co2+, Ni2+, Cu2+, Zn2+, Al3+ e Ca2+,

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
186
porém, outros íons podem ser utilizados desde que possuam a capacidade de interagir com
biomoléculas de maneira reversível (KARMALI, 2000; BRESOLIN et al., 2009).

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)

A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) surgiu como um método instrumental


moderno, com alto poder de resolução e sensibilidade, capaz de fornecer resultados qua-
litativos e quantitativos com reprodutibilidade (SMITH, 2004). Nessa técnica são utilizadas
colunas fechadas, com fases estacionárias diversas de tamanhos de partículas muito peque-
nos (micrômetros), que permitem alta resolução nas separações. Estas colunas podem ser
utilizadas diversas vezes para diferentes separações, no entanto, apresentam resistência à
vazão, sendo necessário o uso de bombas de alta pressão para permitir a passagem da fase
móvel. Assim, a vazão do eluente é controlada, promovendo análises mais reprodutíveis e
precisas. No final da coluna há um detector que registra de modo contínuo, os componentes
presentes no efluente, na forma de um cromatograma que permite a identificação e quanti-
ficação (JARDIM et al., 2006; SNYDER et al., 2010).
A CLAE tornou-se um dos métodos analíticos mais utilizados para fins qualitativos e
quantitativos devido a possibilidade de separar espécies não voláteis e termicamente instá-
veis, com aplicação na indústria farmacêutica e na medicina. Grande parte dos laboratórios
de análises utiliza a CLAE em fase reversa, onde são utilizadas fases estacionárias de
menor polaridade e fases móveis de maior polaridade (TONHI et al., 2002). Além disso, a
mesma instrumentação é utilizada para diferentes métodos de separação, como partição,
adsorção, troca-iônica e exclusão (SMITH, 2004), os quais foram explicados anteriormen-
te nesse capítulo.
A fase estacionária é um dos componentes de maior importância para a realização
das separações cromatográficas na CLAE (SILVA et al., 2011), sendo a fase reversa a
mais empregada, pois possibilita o uso de fases móveis de menor custo como metanol e
água. As fases estacionárias reversas modernas são estáveis, permitem rápido equilíbrio
da coluna após a mudança da fase móvel e foram desenvolvidas para permitir a separação
no modo gradiente, com maior rapidez nas análises e boa reprodutibilidade dos tempos de
retenção (TONHI et al., 2002; SNYDER et al., 2010).
As fases estacionárias quimicamente ligadas mais utilizadas em CLAE são do tipo C8 e
C18, as quais possuem baixa polaridade (fase reversa). Na separação de biomoléculas,
como peptídeos e proteínas, são utilizadas fases estacionárias cujos poros das partículas
são maiores que 300 Å. Também estão disponíveis no mercado fases estacionárias de sílica
modificadas com antibióticos de glicopeptídeos, ciclodextrinas e outros componentes quirais,
as quais são aplicadas na separação de estereoisômeros (SILVA et al., 2011).

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
187
APLICAÇÕES DAS TÉCNICAS CROMATOGRÁFICAS

Hoje temos conhecimento que quase toda informação biológica dos seres vivos está
armazenada no DNA (ácido desoxirribonucleico), o qual é constituído por quatro principais
bases nitrogenadas – adenina, citosina, timina e guanina e que as proteínas são principal-
mente formadas por 20 aminoácidos. A genômica funcional descreve a função específica de
genes e proteínas e inclui o estudo da atividade molecular, como transcriptoma, proteômica
e metabolômica (FRAGOSO et al., 2011).
A proteômica envolve o estudo das proteínas provenientes de uma célula, organismo ou
fluido biológico. O estudo de um proteoma possui diferentes aplicações, como a descoberta
das vias metabólicas dos estágios do ciclo celular, identificação de novas moléculas bioati-
vas em produtos naturais e caracterização de marcadores biológicos. Dentre as principais
técnicas utilizadas no estudo do proteoma estão a cromatografia líquida de alta eficiência,
a eletroforese bidimensional, e a espectrometria de massas.
A metabolômica envolve o estudo do metabolismo secundário de diversas classes
de compostos, como alcaloides, flavonoides, terpenos, entre outros. Com a descoberta e
identificação de novos compostos biologicamente ativos, levando em conta que muitos são
complexos e estão presentes em pequenas quantidades, é possível através dos estudos
de engenharia genética, identificar os genes e as rotas biossintéticas com o objetivo de
expressá-los de modo a intensificar a produção dos compostos de interesse. Neste sentido
para que se possam identificar os metabólitos, genes e alvos biológicos é imprescindível o
uso das técnicas cromatográficas, como CLAE e a CCD (FRAGOSO et al., 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto neste capítulo, fica destacada a importância e a versatilidade das


diferentes técnicas cromatográficas. Com aplicações em diversas áreas da ciência, o uso da
cromatografia tem permitido a separação de uma vasta gama de compostos, assim como
de macromoléculas como enzimas, proteínas e biomarcadores genéticos. Nesse sentido,
o conhecimento das técnicas cromatográficas é fundamental para os estudos genômicos
(proteômica, metabolômica e transcriptômica).

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
188
REFERÊNCIAS
1. AQUINO NETO, F. R.; NUNES, D. S. S. Cromatografia: princípios básicos e técnicas
afins. Rio de Janeiro: Interciência, 2003, 187 p.

2. BRAGA, G. L. Cromatografia em papel. In: COLLINS, C. H. et al. Fundamentos de


cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006. Cap. 2, p. 47–66.

3. BRESOLIN, I. T. L. Cromatografia de afinidade por íons metálicos imobilizados (IMAC)


de biomoléculas: aspectos fundamentais e aplicações tecnológicas. Química Nova, v.
32, n. 5, p. 1288–1296, 2009.

4. COLLINS, C. H. Cem anos das palavras cromatografia e cromatograma. Química


Nova, v. 29, n. 4, p. 889–890, 2006a.

5. COLLINS, C. H. Princípios básicos de cromatografia. In: COLLINS, C. H. et al. Funda-


mentos de cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006b. Cap. 1, p. 18–45.

6. COLLINS, C. H. Separações em colunas abertas: cromatografia por exclusão e por


bioafinidade. Scientia Chromatographica, v. 3, n. 2, p. 107–114, 2011.

7. COSKUN, O. Separation techniques: Chromatography. Northern Clinics of Istanbul,


v. 3, n. 2, p. 156–160, 2016.

8. DEGANI, A. L. G. et al. Cromatografia: um breve ensaio. Química Nova na Escola,


n. 7, p. 21–25, 1998.

9. EITH, C. et al. Práticas em cromatografia de íons: uma introdução. Herisau: Metrohm,


2006–2007, 142 p.

10. ENGEL, R. G. et al. Química orgânica experimental: técnicas de escala pequena.


São Paulo: Cengage Learning, 2012, 1010 p.

11. ETTRE, L. S. Chromatography: the separation technique of the 20th century. Chroma-
tographia, v. 51, n. 1/2, p.7–17, 2000.

12. FAUST, B. Modern chemical techniques: an essential reference for students and
teachers. Royal Society of Chemistry, 1997. Cap. 5, p.116–159.

13. FRAGOSO, R. R. et al. Genômica funcional. In: FALEIRO, F. G. et al. Biotecnologia:


estado da arte e aplicações na agropecuária. Planaltina: Embrapa Cerrados, 2011.
Cap. 5, p. 143–173.

14. GE HEALTHCARE. Affinity chromatography: principles and methods. GE Healthcare


Bio-Sciences AB. 2007. 159 p.

15. JARDIM, I. C. S. F.et al. Cromatografia líquida de alta eficiência. In: COLLINS, C. H. et
al. Fundamentos de cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006. Cap. 9, p. 273–398.

16. KARMALI, A. Cromatografia de afinidade com metal imobilizado e suas variantes.


Póvoa de Santa Iria: Sociedade Portuguesa de Biotecnologia, 2000. 24 p. (Boletim de
Biotecnologia, 67).

17. LOPES, J. L. C. Cromatografia em camada delgada. In: COLLINS, C. H. et al. Funda-


mentos de cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006. Cap. 3, p. 67–86.

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
189
18. LUCY, C. A.; HATSIS, P. Ion chromatography. In: HEFTMANN, E. Chromatography:
fundamentals and applications of chromatography and related differential migration.
Amsterdam: ELSEVIER, 2004. Cap. 4, p. 171–211.

19. McGUFFIN, V. L. Theory of chromatography. In: HEFTMANN, E. Chromatography:


fundamentals and applications of chromatography and related differential migration.
Amsterdam: ELSEVIER, 2004. Cap. 1, p. 1–93.

20. ROTHSCHILD, Z. Cromatografia por exclusão. In: COLLINS, C. H. et al. Fundamentos


de cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006. Cap. 6, p. 139–166.

21. SILBERRING, J. et al. Size-exclusion chromatography. In: HEFTMANN, E. Chroma-


tography: fundamentals and applications of chromatography and related differential
migration. Amsterdam: ELSEVIER, 2004. Cap. 5, p. 213–251.

22. SILVA, R. G. C. et al. Cromatografia líquida capilar: estado da arte e aplicações. Quí-
mica Nova, v. 34, n. 5, p. 841–849, 2011.

23. SMITH, R. M. Column liquid chromatography. In: HEFTMANN, E. Chromatography:


fundamentals and applications of chromatography and related differential migration.
Amsterdam: ELSEVIER, 2004. Cap. 2, p. 95–138.

24. SNYDER, L. R. et al. Introduction to modern liquid chromatography. 3. ed. Hoboken:


John Wiley & Sons, 2010. 912 p.

25. SPADARO, A. C. C. Cromatografia por troca iônica. In: COLLINS, C. H. et al. Funda-
mentos de cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006a. Cap. 5, p. 103–137.

26. SPADARO, A. C. C.; FONSECA, M. J. V. Cromatografia por bioafinidade. In: COLLINS,


C. H. et al. Fundamentos de cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006b. Cap. 7,
p. 167–202.

27. TONHI, E. et al. Fases estacionárias para cromatografia líquida de alta eficiência em
fase reversa (CLAE–FR) baseadas em superfícies de óxidos inorgânicos funcionali-
zados. Química Nova, v. 25, n. 4, p. 616–623, 2002.

28. VICHENEWSKI, W. Cromatografia por Adsorção. In: COLLINS, C. H. et al. Fundamen-


tos de cromatografia. Campinas: UNICAMP, 2006. Cap. 4, p. 87–101.

Fitoquímica: potencialidades biológicas dos biomas brasileiros - ISBN 978-65-5360-170-3 - Vol. 2 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org
190

Você também pode gostar