Agravo - Hulda

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE

JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Ref. Proc. nº: 0704016-78.2023.8.07.0001


Agravante: HULDA PINTO SANTANA PIRES
Agravado: BANCO DE BRASÍLIA S/A e Outros

HULDA PINTO SANTANA PIRES, brasileira, casada, servidora pública,


inscrita no CPF sob o nº 313.377.751-34, portadora do RG n° 804.686, residente e
domiciliada CNB03, Lote 02/03/, Apartamento 305, Residencial Modrian, Brasília/DF,
CEP: 72.115-035,endereço eletrônico: hulapires@gmail.com, vem respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, por seus advogados constituídos, com fulcro nos artigos
1.015 e seguintes do Código de Processo Civil, interpor o presente

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM EFEITO SUSPENSIVO

contra decisão interlocutória 154996980 – Decisão que indeferiu o pedido de ajuste dos
descontos mensais no contracheque da autora.
Por oportuno, em conformidade com o disposto no artigo 1.016, inciso IV, do
Código de Processo Civil, informa que a AGRAVANTE se encontra representada nos
autos por CAIO DE SOUZA GALVÃO, advogado inscrito sob a OAB-DF 41.020, com
escritório profissional sediado na SCS Quadra 08, Venâncio Shopping Bloco B-60, 2º
Andar, Salas 203 e 204, SHCS, Brasília - DF, 70333-900.
Outrossim científica que, em atenção ao parágrafo 5º do artigo 1.017, do
Código de Processo Civil, em se tratando de processo eletrônico, dispensa-se o anexo das
peças referidas nos incisos I e II do caput do mesmo artigo.
Assim, aguarda o recebimento, conhecimento e provimento do presente
Agravo de Instrumento, juntando-se as anexas razões e esperando-se deferimento e
provimento, na forma da lei.
Nestes termos, pede deferimento.

Brasília-DF, 04 de maio 2023.


RAZÕES DO RECURSO

Ref. Proc. nº: 0704016-78.2023.8.07.0001


Agravante: HULDA PINTO SANTANA PIRES
Agravado: BANCO DE BRASÍLIA S/A e Outros

EGRÉGIO TRIBUNAL
COLENDA TURMA
ÍNCLITOS DESEMBARGADORES
EMINENTE RELATOR

I. DA TEMPESTIVIDADE E DA REGULARIDADE DO AGRAVO

Previamente, resta configurada a tempestividade do presente Recurso


tendo em vista que a decisão dos embargos de declaração foi publicada no dia
21/03/2023, iniciando-se assim, o prazo de 15 dias úteis para a interposição do Agravo.
Portanto, tempestivo o presente recurso e protocolizado no prazo legal.

II. DO PREPARO
A Agravante juntou a guia de pagamento do preparo recursal, consoante
os artigos 1.007, caput e 1.017, §1 ambos do CPC.

III. DO CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

O Agravo de Instrumento é um Recurso destinado a combater a Decisões


Interlocutórias cujas matérias estejam taxativamente elencadas no rol do artigo 1.015
do Código de Processo Civil, quais sejam, in verbis:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre:
I - Tutelas provisórias;
II - Mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - Incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - Rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de
sua revogação;
VI - Exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - Admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - Concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

Destarte, amparado no inciso I do referido artigo, resta inequívoco o


cabimento do presente agravo, tendo em vista que se trata de decisão interlocutória
proferida indeferindo tutela provisória.

IV. DA CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA

A parte recorrente não possui condições de arcar com as custas


processuais, honorários advocatícios e demais consectários sem prejuízo do próprio
sustento e de sua família, razão pela qual, requer o deferimento dos benefícios da justiça
gratuita nos termos do art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil também em fase
recursal.

V. BREVE RESUMO DA DEMANDA

Trata-se de ação de REVISIONAL DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO C/C RESTITUIÇÃO DE VALORES PAGOS E INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS e pedido de tutela de urgência pela Agravante em desfavor do Agravado.
A questão de mérito formulada no presente caso discute os descontos
acima do limite de 30% (trinta por cento) nos seus rendimentos, abatidos apenas os
descontos compulsórios.
O pedido cautelar, objeto da decisão agravada, não discute o mérito.
Tampouco a decisão liminar favorável ao Agravante afetará ou será afetada pela decisão
final sobre o saldo devedor. A cautelar pretende tão somente exigir que o Banco BRB
cumpra, imediatamente, sua obrigação normativa de manter os descontos mensais,
consignados em folha de pagamento, dentro do limite máximo de 30% da renda da
autora.
Vale destacar que essa questão não precisaria ser trazida à apreciação do
Judiciário se o Banco de Brasília S/A, uma instituição financeira pública e signatária do
Código de Ética da Febraban, tivesse cumprido, de ofício, sua obrigação de limitar as
prestações do empréstimo consignado ao limite previsto em lei.
Reitere-se que, mesmo que não venha a ser contemplado o pedido de
revisão do saldo devedor em sentença final, é devido pelo Banco ajustar os valores
das prestações, alargando o prazo de quitação do empréstimo, se necessário.
A decisão cautelar que se busca não está fundamentada na
hipossuficiência na relação entre as Partes, na falta de capacidade do Autor de
compreender aspectos jurídicos ou financeiros das renovações contratuais, ou em
alegações de abusividade nas taxas de juros. Ampara-se exclusivamente em critério
normativo objetivo e aplicável a esse tipo de empréstimo, que visa preservar a
capacidade de sustento do devedor e de sua família.
Assim, em que pese a decisão da magistrada, não foi considerado pelo
douto juízo o principal, qual seja: o limite máximo de empréstimo consignado só pode
comprometer 30% da renda líquida mensal no consignado.

Repisa-se ainda que o deferimento da tutela não trará nenhum prejuízo ao


Agravado, vez que:
i. não interromperia o fluxo de pagamento do saldo devedor;
ii. não aumentaria o risco de crédito do Banco, dado que a renda afetada para
pagamento das prestações mensais é a remuneração que a Autora recebe como
servidor público estável (risco de demissão quase nulo), depositada
mensalmente em conta corrente vinculada ao Banco de Brasília. Vale lembrar que
a Autora é correntista do Banco há mais de 20 (vinte) anos;
iii. representaria o valor máximo a ser pago pela Autora caso o saldo devedor não
venha a ser corrigido judicialmente.
A título meramente ilustrativo, para materializar o RISCO DA DEMORA e a
VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES, apresenta-se a figura a seguir, destaca-se que o caso da

parte autora em análise não é uma revisão de cláusulas contratuais habituais, mas o
último recurso que uma pessoa vítima de dívidas pode lançar de se tornar insolvente.
A autora é aposentada da Secretaria de Educação do Distrito Federal e
aufere seus rendimentos pelo Banco de Brasília- BRB.
Ocorre que nos últimos anos, em face de ter contraído câncer, bem como
seu marido ter ficado desempregado e ter de arcar sozinha com os custos de sua doença
e ainda com o sustento integral de sua família, a parte autora contratou alguns
empréstimos junto ao Banco de Brasília – BRB e precisou utilizar todo o seu limite de
cartões de crédito, junto aos réus: BANCO CSF S/A, LUIZACRED S.A. SOCIEDADE DE
CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, BANCO ITAUCARD S.A., , BANCO
ORIGINAL S/A, BANCO PAN S.A., E CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, NU PAGAMENTOS
S.A. – INSTITUIÇÃO DE PAGAMENTO.
Compulsando os documentos em anexo verifica-se que a autora se
encontra com toda sua renda comprometida, somente para arcar com os custos destes
empréstimos junto ao Banco de Brasília – BRB e as faturas dos cartões de crédito.
Excelência por uma simples análise infere-se dos documentos que não sobra
mensalmente para autora nem o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para arcar com sua
subsistência mensal. É inaceitável, que os bancos possam fazer isso com uma pessoa
aposentada e ainda portadora de deficiência.

Ademais, foi desenvolvido um relatório detalhado de cada empréstimo


descontado em sua conta e ainda dívidas referentes aos seus cartões de crédito, veja-se:
BANCO DATA VALOR OBJE FINAL N° Nº VAL PAR FORM
CONTR CONTR TO IDAD DE PAR OR CELA A DE
TAÇÃO ATADO DO E DA PAR CELA DA S PAGA
– N° ID CONT AQUIS CELA S PAR VEN MENT
E RATO IÇÃO S PAG CEL CIDA O
PÁGIN AS A S
A
BRB 11/11/ R$ SEM Crédit 120 15 R$ 0 Débit
2021 – 133.00 GARA o 2.32 o
ID – 0,00 NTIA Consig 9,10 Consi
14750 nado gnado
4571 Pesso
(PG 07) al
BRB 25/04/ R$ SEM Crédit 048 09 R$ 0 Débit
2022 – 5.594,0 GARA o 282, o
ID 0 NTIA Consig 25 Consi
14750 nado gnado
4570 Pesso
(PG 08) al
BRB 05/12/ R$ SEM Crédit 045 02 R$ 0 Débit
2022 – 4.327,1 GARA o 242, o
ID 7 NTIA Consig 60 consig
14750 nado nado
4568 Pesso
(PG al
13 )
BRB 04/01/ R$ SEM Crédit 048 13 R$ 0 Débit
2022 – 16.500, GARA o 802, o
ID 00 NTIA Consig 61 consig
14750 nado nado
4573 Pesso
(PG 10) al
BRB 20/04/ R$ SEM Crédit 104 11 R$ 0 Débit
2022 20.758, GARA o 382, o em
ID 79 NTIA Pesso 38 conta
14750 al
4575
(PG 06)
BRB 11/07/ R$ SEM Crédit 060 19 R$ 0 Débit
2021 – 16.258, GARA o 360, o
ID 32 NTIA Consig 90 consig
14750 nado nado
4575 Pesso
(PG 07) al
CSF S.A 30/11/ R$ SEM Cartão 24 02 R$ 02 BOLE
2022 – 992,35 GARN de 281, TO
ID TIA Crédit 77
14750 o
Como apresentado, foram identificados que os empréstimos descontados
em sua conta somente estes totalizam o valor de R$ 4.399,84 (quatro mil trezentos e
noventa e nove reais e oitenta e quatro centavos), o que corresponde a mais de 90% de
sua renda, sendo que lhe sobra 10% para sua subsistência. É inaceitável que o Banco -
BRB possa fazer isso com uma pessoa de idade acometida por uma doença.

Outrora, a autora em decorrência de não receber quase nada de salário, se


viu obrigada a recorrer aos cartões de crédito para poder custear suas necessidades
básicas.
Destarte, resta inequívoca a presença dos requisitos indispensáveis à
concessão da tutela pleiteada previstos no artigo 300 do Código de Processo Civil, uma
vez que ficou demonstrado o RISCO DA DEMORA e a VEROSSIMILHANÇA DAS
ALEGAÇÕES, como passa a demonstrar.

VI. DAS RAZÕES PARA REFORMA DA DECISÃO AGRAVADA - DA


ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA RECURSAL

Excelência, data venia, a decisão do Juízo de 1º grau deve ser reformada


imediatamente, uma vez que os elementos acostados aos autos são mais que
esclarecidos para constatar que houve falha na prestação de serviços.
Inicialmente destaca-se que o pedido de tutela visa garantir a obediência,
pelo Agravado, de comando legal previsto no parágrafo segundo do artigo 45 na Lei nº
8.112, de 11 de dezembro de 1990, conforme alteração introduzida pela Lei nº 13.172,
de 21 de outubro de 2015. Tal dispositivo legal limita em 30% o percentual máximo
para contratação de serviço de empréstimo consignado pelos servidores federais,
calculado sobre a remuneração líquida do servidor. Vejamos:

LEI Nº 13.172, DE 21 DE OUTUBRO DE 2015.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

(...)

Art. 3º O art. 45 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 , passa a vigorar com as seguintes
alterações:
“Art. 45. ........................................................................

§ 1º Mediante autorização do servidor, poderá haver consignação em folha de


pagamento em favor de terceiros, a critério da administração e com reposição de custos, na
forma definida em regulamento.

§ 2º O total de consignações facultativas de que trata o § 1º não excederá a 35% (trinta


e cinco por cento) da remuneração mensal, sendo 5% (cinco por cento) reservados
exclusivamente para:

I - a amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito; ou

II - a utilização com a finalidade de saque por meio do cartão de crédito.” (NR)

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 21 de outubro de 2015; 194º da Independência e 127º da República.

DILMA ROUSSEFF
Joaquim Vieira Ferreira Levy
Nelson Barbosa
Miguel Rossetto

Nessa direção salienta-se que o douto juízo sequer considerou o pacífico


entendimento previsto na legislação, nesse sentido. Insta trazer à baila o entendimento
dos tribunais, ipsis litteris:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMPRÉSTIMO PESSOAL. DESCONTO EM CONTA
CORRENTE. AUTORIZAÇÃO CONCEDIDA. REVOGAÇÃO. NÃO COMPROVADA.
LIMITAÇÃO DE 30%. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE AMPARO LEGAL. 1. Os
descontos realizados em conta corrente para pagamento de empréstimo
pessoal expressam a autonomia de vontade da parte e são permitidos, desde
que haja prévia autorização para o débito automático. 2. As limitações de
descontos em 30% (trinta por cento), previstas no artigo 116, § 2º, da Lei
Complementar Distrital n.º 840/2011 e seus regulamentos, são restritas aos
empréstimos realizados na modalidade de consignados, o que não é o caso
de débitos para pagamento de empréstimos pessoais com desconto sobre o
saldo de conta corrente. 3. Diante da ausência de norma que disponha sobre a
limitação para a realização de descontos não consignáveis realizados
diretamente em conta corrente e da ausência de comprovação do cancelamento
da autorização de débito automático, em homenagem ao pacta sunt servanda,
as cláusulas contratuais livremente assumidas pelas partes devem ser
respeitadas. 4. Recurso conhecido e desprovido. (TJ-DF
07326116120218070000 DF 0732611-61.2021.8.07.0000, Relator: MARIA DE
LOURDES ABREU, Data de Julgamento: 10/02/2022, 3ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 25/02/2022 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

DIREITO CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.


DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. LIMITE DE 30% DA REMUNERAÇÃO
LÍQUIDA. CABIMENTO. 1. A União é parte legítima para figurar no pólo passivo
de ação que trate de descontos realizados em folha de pagamento de servidor
público federal. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é
pacífica no sentido de que os débitos efetuados na folha de pagamento de
servidores públicos federais decorrentes de empréstimos consignados
não podem ultrapassar o limite legal de 30% de sua remuneração;
subtraindo-se desse salário o imposto de renda e a contribuição
previdenciária. 3. Apelação a que se nega provimento. (TRF-1 - AC:
10094605220164013400, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL DANIELE
MARANHAO COSTA, Data de Julgamento: 18/04/2018, QUINTA TURMA, Data
de Publicação: 25/04/2018)

Destaque-se, como já mencionado, que a decisão liminar que se pleiteia


não afetará, nem será afetada pela decisão final de mérito no presente caso, que discute
o saldo devedor dos empréstimos consignados contratados pelo Agravante com o
Agravado.
Vale destacar ainda que o pleito do Agravante dispensaria a apreciação do
Judiciário se o Banco BRB, ora Agravado e instituição financeira pública signatária do
Código de Ética da Febraban, tivesse cumprido, de ofício, sua obrigação de limitar as
prestações do empréstimo consignado ao limite previsto em lei.
Sendo assim, por lógica, até o deslinde do processo, deferir o pedido
liminar para o ajuste dos descontos no contracheque da Agravante ao limite máximo de
30% de sua remuneração líquida é medida que não pode ser mais adiada, sob risco de
permitir a continuidade da conduta lesiva cometida pelo Agravado, que impõe ônus não
razoável ao Agravante e sua família ao não cumprir mandamento legal claro e explícito.
Insta destacar que a decisão cautelar que se busca não está fundamentada
na hipossuficiência na relação entre as Partes, na falta de capacidade da Autor de
compreender aspectos jurídicos ou financeiros das renovações contratuais, ou em
alegações de abusividade nas taxas de juros. Ampara-se exclusivamente em critério
normativo objetivo e aplicável a esse tipo de empréstimo, que visa preservar a
capacidade de sustento do devedor e de sua família.
Pede-se, portanto, apenas que esse limite seja respeitado, qualquer que
venha a ser a revisão de mérito sobre o saldo devedor e ressalta-se, mais uma vez, que a
concessão da liminar não traria nenhum prejuízo ao Agravado, vez que:
i. não interromperia o fluxo de pagamento do saldo devedor;
ii. não aumentaria o risco de crédito do Banco, dado que a renda afetada para
pagamento das prestações mensais é a remuneração que a Autora recebe
como servidor público estável (risco de demissão quase nulo), depositada
mensalmente em conta corrente vinculada ao Banco. Vale lembrar que a
Autora é correntista do Banco há anos.
iii. representaria o valor máximo a ser pago pela Autora caso o saldo devedor
não venha a ser corrigido judicialmente.
Destarte, nos termos do artigo 300 do CPC, "a tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo."
Conforme leciona Humberto Theodoro Júnior:

"um risco que corre o processo principal de não ser útil ao


interesse demonstrado pela parte", em razão do "periculum in
mora", risco esse que deve ser objetivamente apurável, sendo que
e a plausibilidade do direito substancial consubstancia-se no
direito "invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o "fumus
boni iuris" (in Curso de Direito Processual Civil, 2016. I. p. 366).

No presente caso tais requisitos são perfeitamente caracterizados. A


PROBABILIDADE DO DIREITO resta caracterizada diante da demonstração inequívoca
de que os descontos superam em muito o limite legal, o que por si só já possibilita a
concessão da tutela de urgência.
Logo, ao contrário do que entendeu o douto juízo de piso e como bem
estabelece a doutrina, não há razão lógica para aguardar o deslinde do processo, quando
está diante de direito inequívoco:

"Se o fato constitutivo é incontroverso não há racionalidade em


obrigar o autor a esperar o tempo necessário à produção das
provas dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos, uma vez
que o autor já se desincumbiu do ônus da prova e a demora
inerente à prova dos fatos, cuja prova incumbe ao réu certamente
o beneficia." (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de Urgência e
Tutela da Evidência. Editora RT, 2017. p.284)

No tocante ao RISCO DA DEMORA, fica caracterizado pela sobrecarga


financeira imposta ao Agravante. Caso não seja deferida a tutela, esses descontos ilegais
continuarão impondo, até a prolação da sentença final, obstáculos ao esforço de
estabilização da situação financeira do Agravante, que se caracteriza por
superendividamento decorrente de despesas de sustento básicas de uma família de
quatro filhos.
Por fim, cabe destacar que o presente pedido NÃO caracteriza conduta
irreversível, não conferindo nenhum dano ao Agravado, mas simplesmente a adequação
de sua ação ao mandamento legal.
Isto posto e diante de tais circunstâncias, são inegáveis a probabilidade do
direito, a verossimilhança das alegações e a existência de fundado receio de dano
irreparável, sendo imprescindível a reforma da decisão agravada para que os descontos
indevidos e ilegais, consignados na conta da Agravante, sejam ajustados ao limite
determinado em lei, nos termos do artigo 300 do CPC.

VII - DA CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA

A recorrente não possui condições de arcar com as custas processuais,


honorários advocatícios e demais consectários sem prejuízo do próprio sustento e de
sua família, razão pela qual requer o deferimento dos benefícios da justiça gratuita
conforme disciplina o art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil.
A recorrente possui salário líquido de R$ 3.406,88 (três mil, quatrocentos
e seis reais e oitenta e oito centavos), o que por si só não demonstra efetiva capacidade
financeira, sendo que o valor acima é utilizado para o pagamento das despesas mensais
e ordinárias.
Importante mencionar que a recorrente constituiu advogado particular da
cooperativa, ao qual faz parte do quadro de associados. Deste modo, não se trata de
advogado particular mediante a assinatura de contrato de prestação de serviços, mas
sim de contratação de serviços advocatícios intermediados pela cooperativa em que é
associado.
O fato da parte recorrente possuir advogado particular não lhe retira o
direito à gratuidade processual. A nova legislação foi bastante clara ao dizer que o
patrocínio por intermédio de advogado particular não impede a concessão aos
benefícios da justiça gratuita nos termos do art. 99, § 4º, do Código de Processo Civil.
Conforme consta dos autos de origem, a recorrente apresentou toda a
documentação necessária para comprovar sua real situação financeira, atestando que
sua condição econômica não lhe permite o pagamento das custas e despesas devidas nos
termos do preceituado pelo art. 99, § 3º, do Código de Processo Civil.
Logo, a fundamentação da r. decisão agravada não deve prosperar uma vez
que considera o rendimento bruto da recorrente suficiente para arcar com as despesas
mensais.
Indeferir o benefício da gratuidade a uma parte no processo sem que
exista uma prova inequívoca de sua suficiência econômica, nada mais é do que negar o
acesso à justiça apenas porque se acredita que a parte, no caso específico a agravante,
possui condições financeiras de suportar as despesas processuais porque supostamente
recebe mais de 03 (três) salários mínimos.
Sobre o assunto, dispõe o art. 99 e seguintes do Código de Processo Civil:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição


inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo
ou em recurso.
§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos
elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a
concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.
§ 3° Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural.
§ 4º A assistência do requerente por advogado particular não impede a
concessão de gratuidade da justiça. Sem grifos no original.
A recorrente é pessoa de parcos recursos financeiros, sendo necessário o
deferimento dos benefícios da justiça gratuita a fim de possibilitar o acesso dos
jurisdicionados à Justiça. Caso a recorrente não possua direito aos benefícios da justiça
gratuita, o que não se acredita, ela terá que efetuar o pagamento de todas as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios sucumbenciais.

A parte recorrente ainda efetua o pagamento de contas de água, luz,


telefone, gás, conta de cartão de crédito e demais despesas. Além disso, a parte
recorrente encontra-se em situação totalmente lhe desfavorável, uma vez que
encontram-se em processo de divórcio, tendo que se readequar a nova situação social
com gastos que até então eram desconhecidos, além de ter que contribuir com novas
despesas decorrentes da extinção da sociedade conjugal, de modo que consiga passar
por este momento difícil de sua vida, o que não lhe permite o pagamento das custas,
despesas processuais e honorários advocatícios, sem que isso implique em prejuízo a
sua própria sobrevivência e de sua família.
Deste modo, não há motivos determinantes para a manutenção do
indeferimento da gratuidade processual, pelo menos nesse momento processual. Aliado
ao exposto, observa-se que não há provas em sentido contrário, o que permitiria
confrontar a decisão de indeferimento.
Portanto, conclui-se que a recorrente não tem uma vida digna e que as
benesses da justiça gratuita devem prevalecer diante os fatos e provas
consubstanciadas. Elidindo-se prova em sentido contrário, deve ser revogada a decisão
que concedeu os benefícios da justiça gratuita a recorrente.

VII. DA CONCESSÃO DA TRAMITAÇÃO PREFERENCIAL DO FEITO

Em conformidade com o artigo 6º, inciso XIV, da Lei n. 7.713, de 22 de


dezembro de 1988, combinada com o artigo 1.048, inciso I, parte final, da Lei n. 13.105,
de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), será concedida prioridade para a
prática de todos os atos processuais relativos à partes ou interessados que sejam
portadores das seguintes moléstias: moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação
mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia
irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de
Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência
adquirida.

Portanto, requer seja deferida a tramitação preferencial do feito com base


nos argumentos supracitados.

VIII. DOS PEDIDOS

Por tudo o quanto foi exposto, requer a parte Agravante:

a) O recebimento do presente agravo nos seus efeitos, nos termos do


parágrafo único do artigo 995 do CPC, para a revisão da decisão agravada,
para ajustar os descontos efetuados na folha de pagamento do Agravante
ao limite máximo de 30% de sua remuneração líquida e que seja provido o
presente Agravo de Instrumento para reformar a r. decisão agravada, em
caráter definitivo;
b) No mérito, o conhecimento e provimento do presente agravo de
instrumento, para a reformar a decisão agravada, no sentido de conceder
os benefícios da justiça gratuita a recorrente nos termos do art. 98 e
seguintes do Código de Processo Civil, bem como deferir a tramitação
preferencial do feito.

c) A intimação do agravado para se manifestar, querendo;

Nestes termos, pede deferimento.

Brasília-DF, 04 de maio de 2023.

CAIO DE SOUZA GALVÃO DANIEL ÂNGELO LUIZ DA SILVA


OAB/DF 41.020 OAB-DF 54.608

HUMBERTO GOUVEIA DAMASCENO JÚNIOR


OAB/DF 38.317

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