Sentenciada - Zoey Moreau e A BR - Michelliny Santos
Sentenciada - Zoey Moreau e A BR - Michelliny Santos
Sentenciada - Zoey Moreau e A BR - Michelliny Santos
Ibrahim
Zoey
Zoey
Zoey
É uma menina. Meu bebê é uma menina e Heather fica mais feliz do que
eu. Ela abandona a má quina de ultrassom para pular de alegria pelo seu
pró prio consultó rio, comemorando o fato de que terá mais uma garota
Moreau no nosso ciclo. Minha mã e é toda sorrisos e meu pai pareceu
empalidecer e se sustentar na parede.
É uma menina! Mais uma mulher para o grupo. Uma mini Zoey ou
—
Marcella! Se ela puxar a mã e ou a avó será uma mulher foda!
Sorrio, tentando desvendar no monitor como ela sabe que, de fato, é
uma menina, eu só consigo enxergar o relevo da minha bebê, e todos já
concordamos de que ela é enorme. Isso nã o é uma característica minha,
obviamente. Eu tenho a sensaçã o de que ela terá mais dele do que mim,
eu sinto isso de todo coraçã o.
— Bem, isso será um motivo para eu envelhecer mais rá pido — meu pai
comenta.
Minha mã e ri abraçando-o pela cintura.
— Seu pai quase enfartou quando descobrimos que você seria uma
menina, e toda vez que alguém fazia uma piada sobre casar você com um
dos filhos deles, ele ameaçava o pobre coitado, sem brincadeira
nenhuma. Mesmo depois de você grande, nenhum homem era capaz de
chegar perto de você com medo do seu pai — mamã e relata, enquanto
meu pai limpa o suor da testa.
— O senhor terá que se acostumar com isso, Capo. Eu espero que se eu
tiver um bebê também seja uma menina. Os homens dessa família sã o
peculiares demais para serem semeados.
Meu pai limpa a garganta, passando os braços ao redor da minha mã e.
— E quando exatamente você e Alessio vã o abrir a fá brica de fazer
meninas? Preciso começar a tomar remédio de pressã o quando isso
tiver início.
— Você com certeza precisa de remédios, Kai. Mas nã o é pressã o, e sim
calmantes. — Mamã e olha para Heather. — Poderia prescrever o mais
forte que tiver. Ele anda tendo picos de energias insuportáveis para
qualquer ser humano aturar.
Eu vejo o sorriso entre eles, o olhar e as bochechas da minha mã e corar
quando meu pai ergue a sobrancelha para ela. Heather estreita os olhos
e o silêncio preenche o espaço, até minha mã e começar a disfarçar a
tensã o sexual, saindo do consultó rio com meu pai logo atrá s chamando
por ela.
— Meus picos de energia têm incomodado você, querida? Nã o escuto
muitas reclamaçõ es, pelo contrá rio… — diz ele, enquanto sai do
consultó rio, fechando a porta atrá s de si até sua voz desaparecer.
Heather sorri, pegando um lenço para limpar o gel na minha barriga.
— Eles ficaram mais unidos nos ú ltimos anos, estã o felizes no
relacionamento, e Marcella parece ter relaxado um pouco mais na
presença de Kai. Isso é bom de ser ver.
Balanço a cabeça, concordando.
— Meu pai fez por merecer, se ganhou uma nova chance da minha mã e,
isso significa que ele se esforçou por isso. Fico feliz por isso.
Sento-me na cadeira ginecoló gica, baixando meu vestido enquanto
Heather desliga os aparelhos. Nó s duas nã o tivemos oportunidades para
conversar, sempre estamos cercadas pelos meus pais ou irmã os, e eu
sinto como se precisasse desabafar.
— Vittorio me aconselhou a casar novamente. Um casamento de
conveniência — conto.
Heather olha rapidamente para mim, com os olhos alertas.
— O que ele está planejando agora? Ter metido você nessa
situaçã o já nã o foi o suficiente?
Levo minha mã o até a barriga saliente, acariciando a
protuberâ ncia rígida e macia.
— Eu nã o vou me casar, foi apenas um pensamento dele. Ele disse
que Ibrahim ainda tem direito a mim e ao bebê comigo casada com ele.
Vittorio me aconselhou a procurar o divó rcio, e me casar para que eu
possa registrar a bebê no nome de outro homem, para mantê-la longe do
pai verdadeiro. Nã o foi uma ideia ruim, tenho medo de que ele descubra
que nã o abortei a criança e venha exigir os direitos dele. Ele é capaz
disso.
Heather me olha com atençã o.
— Ele teria direito a criança, mesmo com ela registrada no nome
de outra pessoa, um simples exame de DNA provaria que ele é o pai. Seu
casamento com outra pessoa só dificultaria o processo. Em todo caso,
nã o acho que deveria fazer isso e sei que nã o vai. Ele fugiu e nã o deu as
caras até agora. Se houvesse o mínimo de preocupaçã o ele teria te
procurado, algumas coisas sã o melhor esquecidas. Você terá uma filha
linda e viverá feliz com ela, isso é tudo que importa.
Aquiesço.
— Espero ver você hoje à noite na mansã o. Recebi um folheto
com apartamentos em Zurique.
Heather sorri.
— Claro que estarei lá . Tenho alguns atendimentos no restante
do dia, mas a noite estarei livre.
Me despeço dela depois de pegar mais uma receita
de vitaminas e sigo para a saída do complexo. Meus pais foram embora
primeiro e deixaram um carro me esperando, junto a Edan, que está
cuidando de mim desde que voltei a circular pela Camorra. Nó s dois nã o
nos falamos além do essencial, ele é fechado e sempre na dele. Estou
caminhando para a saída, quando uma senhora esbarra, derrubando
todos os papeis que estavam nas mã os dela.
— Meu Deus, onde estou com a cabeça? Mil perdõ es, senhorita!
Eu paraliso ao ouvir o sotaque na voz dela, olho para a saída,
onde Edan está me esperando, e depois para a senhora que está
abaixada no chã o, olhando para mim, com os lá bios articulando a
palavra banheiro.
Meu primeiro pensamento é de que Ibrahim finalmente deu as
caras, depois de 3 meses e o peso desse pensamento me faz querer
dissolver na terra, antes que ele chegue perto da minha filha.
— Terceira cabine no banheiro feminino. — A senhora que
esbarrou em mim diz enquanto sai como se nada tivesse acontecido.
O pâ nico parece tomar conta do meu rosto, assim como minha
respiraçã o fica presa na minha garganta, e meus batimentos disparam.
Edan parece notar isso de longe e se aproxima de mim com o rosto
analítico.
— Está sentindo alguma coisa? — inquire, analisando todo meu
rosto.
Balanço a cabeça, negando.
— Preciso ir ao banheiro, pode me esperar do lado de fora do
complexo. Nã o vou demorar.
Minha voz soa o mais firme possível, mesmo com todo meu corpo
tremendo e vacilando a cada passo que eu dou em direçã o ao banheiro.
Eu deveria estar fugindo, indo para qualquer lugar, menos para essa
armadilha, mas eu conheço Ibrahim, sei que ele nã o vai desistir até
conseguir falar comigo. Nessa altura, ele já deve saber que nã o pedi o
bebê e veio aqui exatamente para me levar com ele, só que dessa vez
nã o.
Levo minha mã o até minha bolsa, ao lado do meu corpo,
segurando o cabo da adaga guardada ali, disposta a ir até o fim dessa
histó ria se for preciso, para que eu tenha paz. Ele já conseguiu me levar
sob os olhos dos homens do meu pai, mas dessa vez, eu nã o vou
cooperar. Se veio atrá s da filha, ele terá que escolher entre sair daqui
vivo ou morto, mas de jeito nenhum com nó s duas.
Entro no banheiro, com meus batimentos cardíacos ressoando
em meus ouvidos e minha mã o firme na adaga dentro da bolsa. No
momento que a porta se fecha atrá s de mim, e o banheiro vazio me
recebe, uma porta se abre e estou pronta para o pior.
Mas nã o é Ibrahim.
É o homem mais velho, de cabelo preto e olhos acinzentados que
sempre estava ao lado dele. O conselheiro.
O nome dele. Eu nã o me recordo.
Os olhos do homem baixam para minha barriga de quatro meses que
nã o deveria estar tã o grande, mas devido a minha altura e o tamanho do
bebê pareço estar com mais meses do que realmente tenho.
— Puta merda, ele sabia que você estava grávida? — Sua voz é cheia de
espanto e ele fita minha barriga, como se fosse uma assombraçã o. —
Quantos meses?!
Aperto o cabo da adaga, sem baixar minha guarda.
— O que você quer aqui?
Sua sobrancelha arqueada se movimenta e ele exala com força.
— Ele nã o sabia que você estava grávida, se soubesse, nã o teria se
entregado mesmo que você nã o o quisesse perto dessa criança. O filho é
dele, tenho certeza disso — fala consigo mesmo, enquanto anda de um
lado para o outro pelo banheiro.
— O que veio fazer aqui? — questiono mais uma vez com a voz
inflexível.
s olhos cinza do homem sã o julgadores em mim, é como se ele me visse
O
como um ser humano desprezível.
— Estou aqui por Ibrahim, vim libertá -lo e preciso da sua ajuda, nã o é
possível que você seja uma mulher tã o rancorosa a ponto de deixar seu
pai e irmã os continuar torturando-o . Já faz três meses e nã o tenho
mesmo uma ú nica notícia. Se ele foi morto, quero saber pelo menos
onde está o corpo.
As palavras me pegam desprevenida e eu franzo o cenho, dissecando o
que ele acabou de dizer.
— Ibrahim fugiu do meu irmã o meses atrá s, ele nã o está sob a custó dia
da Camorra.
Os olhos do homem assumem um brilho opaco, e ele abre a boca
rapidamente, assimilando minha ignorâ ncia quanto ao assunto.
— Você nã o sabe — afirma.
Fico em silêncio, com o cenho franzido, confusa com o que está se
passando nesse banheiro. O moreno parece se munir de esperança e se
aproxima de mim.
— Ibrahim se entregou ao seu pai três meses atrá s, ele foi trazido para
Las Vegas, mas nã o tenho notícias e nem sei onde o colocaram. Ele pode
estar morto, ou nã o. Você precisa me ajudar a descobrir.
Ibrahim se entregou ao meu pai? Por que ele fez isso depois de fugir? A
pergunta é respondida antes que eu me esforce muito para pensar. Ele
foi atrá s dos tios.
Todo esse tempo meus pais e irmã os estava em posse de Ibrahim e
agiram como se ele estivesse longe e nem mesmo fico revoltada sobre
isso, mas fico com sentimento de peso com a constataçã o de que eles
podem ter matado o pai da sobrinha deles, nã o que isso importe para
nenhum deles, mais vale Ibrahim morto do que vivo para eles.
(...)
u repasso todos os locais que meus irmã os e pai usam como câ mera de
E
tortura, desconhecendo a maioria delas, mas sei quem pode saber.
Quando a noite chega e toda a família se reú ne para comemorar a
descoberta do sexo do bebê, eu espero por uma oportunidade de
conversar com Heather.
Observo meu irmã o mais velho por toda a noite, assimilando seus
sorrisos e comparando o Alessio, homem de família, com o Alessio
assassino e ditador. Meu irmã o é conhecido como carrasco, todos os
desertores e traidores da organizaçã o têm medo de cair em suas mã os e
acabar sendo torturados por ele.
Eu ouvi muitas histó rias de como ele drenava todo o sangue do corpo de
suas vítimas, até que elas morressem secas, sem nem mesmo uma gota.
Depois, ele desmembrava o corpo e servia de comida aos cachorros da
mansã o, ou mandava os pedaços para a família e é por isso que eu sei
que Ibrahim está vivo. Pode nã o estar bem, mas vivo, sim.
Se Alessio o tivesse matado, a Bratva teria recebido os pedaços dele, e a
Camorra entraria em comemoraçã o. O silêncio é um indicativo de vida,
mesmo que nã o possa ter certeza de que exista um bom estado físico
que Ibrahim possa se encontrar e isso faz com que eu sinta minha
garganta fechada.
Espero Heather sair do banheiro, depois de esperar um momento dela
longe de Alessio, e quando ela sai eu a puxo pelo braço e a levo até meu
quarto.
— O que foi? — pergunta, alarmada.
Minhas mã os estã o trêmulas e minha atençã o divergindo entre ela e a
porta.
— Você precisa me ajudar a encontrar Ibrahim Vassiliev.
As írises bicolores se expandem e ela fica tensa. Porra, ela sabia que ele
estava sendo torturado esse tempo todo? É claro que sabia, ela dorme
com meu irmã o!
— Por que quer ajudá -lo depois de tudo o que ele fez, Zoey? Ele nã o
merece sua misericó rdia.
Balanço a cabeça.
— Nã o. Ele nã o merece. E nã o estou fazendo isso por ele. — Olho para
Heather com toda tensã o que circula pelo meu corpo. — Nã o posso
deixar Alessio matar o pai da minha filha. O que eu direi a ela quando
perguntar sobre o pai? Como vou olhar para minha filha e permitir que
ela conviva com o homem que matou o pai dela? Ibrahim nã o merece
misericó rdia, mas ele recebeu uma segunda chance graças a essa criança
que está dentro de mim. Nã o estou pensando em ninguém além dela,
entã o Heather, como tia e minha melhor amiga, eu imploro para que me
ajude a encontrá -lo.
Heather fica em silêncio, com os olhos bicolores inexpressivos, até
baixarem para minha barriga, ela engole em seco, lutando contra me
ajudar e trair seu marido, libertando o prisioneiro. Sua decisã o nã o é
tomada por mim, e sim pela bebê. Ela quer que Alessio tenha contato
com a sobrinha e que nã o carregue o título de assassino.
— Eu irei ajudar, Zoey. Mas saiba que estará por sua conta e risco
libertar esse homem e lidar com as consequências. Ele nã o vai te deixar
em paz e ainda exigirá a criança. Seus pais, e nem mesmo Alessio
poderã o intervir nisso, entã o se quer mesmo libertá -lo, pense bem esta
noite, e me encontre amanhã no final da tarde no complexo.
u ouço os batimentos cardíacos do bebê quando caio na inconsciência e
E
até mesmo quando me sobra alguns minutos lú cido. Eu o ouço
preencher toda a sala branca e a imagem daquele pequeno pontinho no
ultrassom aparece em minha mente, como se eu estivesse revivendo
aquele momento, e é nisso que encontro um pouco de fô lego. Uma
pequena alegria para me manter longe da dor, enquanto Alessio e
Vittorio brincam com meu corpo. Eles estã o me quebrando de diversas
formas. Estou deitado na maca, nu, desde o dia que eu cheguei. Um ano
atrá s?
Nã o faço ideia.
Nã o consigo me mover, a ú nica parte do meu corpo que se mexe em mim
sã o os meus olhos, o resto do meu corpo só parece existir quando
Vittorio joga á gua gelada ou quando Alessio entra com o choque.
Acho que meu corpo retalhado de cicatrizes nã o tem um propó sito para
ele. Nã o sei por quanto tempo eles irã o perdurar com esses joguinhos,
mas enquanto estou vivo, eu penso no filho que eu ia ter. E em diversos
momentos eu penso na mulher de olhos solares, que vagueia pela minha
mente como um farol no meio de um mar escuro.
Eu esqueci o nome dela, mas nã o seu rosto. Minha mente está se
quebrando, mas as lembranças felizes que tive ao lado dela nã o. Poucas
coisas sã o reais agora, mas ela é a prova de que eu tive uma vida. De que
algo feliz aconteceu comigo.
Zoey
u tenho apenas uma noite para fazer meu cérebro pensar da mesma
E
forma que o do meu pai. Elaboro pensamentos que ele teria se fosse
soltar um dos seus prisioneiros, mesmo sendo ele seu inimigo. O homem
que me criou nã o pensa só nas vantagens, ele também pensa no preço
que a outra parte pagará por receber um indulto dele. Nos meus 24 anos
de vida, foram raras as vezes que ele fez um acordo com alguém.
E as chances dele aceitar o meu sã o rasas, ainda assim, eu prefiro fazer
isso sobre o conhecimento dele do que agir por suas costas. Espero o dia
amanhecer e ele sair da ala dele, e quando ele me encontra o esperando,
nã o evita o olhar de surpresa.
— Aconteceu alguma coisa, Ragazza?
Balanço a cabeça, sentindo seus olhos fazendo um raio-x através de mim.
— Preciso de um minuto. Podemos ir ao escritó rio?
Suas sobrancelhas se unem rapidamente e ele assente, gesticulando para
que eu caminhe na sua frente. Sigo escadas abaixo, até entrar no local
onde era o lugar mais seguro da casa e para onde eu corria quando
queria ficar com o meu pai.
— É sobre a compra do seu apartamento em Zurique? Nã o precisa se
preocupar com isso, basta escolher o que quiser.
Espero ele contornar a mesa e se sentar na sua cadeira, aperto o tecido
do meu vestido e me fortaleço de uma confiança que vem das
profundezas do meu ser. Nã o é por Ibrahim. Isso é pela minha filha.
— Ibrahim Vassiliev está sob o poder de Alessio há três meses.
Meu pai nã o esboça nenhuma reaçã o e também nã o fala nada. Ele fica
em silêncio esperando que eu termine de falar.
— Liberte-o, por favor. — Minha voz nem mesmo fraqueja, mas quando
meu pai estreita os olhos eu sinto uma angú stia tomar meu peito. —
Como vou poder criar minha filha ao redor dos homens que serã o
responsáveis pela morte do pai dela? Eu nã o quero mais nenhum
contato com Ibrahim Vassiliev, e farei de tudo para ele nã o ter alcance
sobre minha filha, mas nã o posso virar as costas e permitir que o senhor
e meus irmã os acabem com a vida dele.
eu pai parece uma rocha, ele nã o exibe nenhuma expressã o e isso me
M
remete a Vittorio. Minha ansiedade aflora e eu me mantenho firme. Um
dos desafios de ser uma Moreau é enfrentar outro membro com o
mesmo sobrenome; somos pessoas desafiadoras, intensas e
imprevisíveis. Uma conversa pode acabar em um abraço ou com uma
adaga fincada no peito.
— Eu temi que fosse ouvir isso de você, mas imaginei que fosse
acontecer. Sua mã e me alertou com o mesmo pensamento que você está
tendo. — Ele estica o pescoço para o lado, respirando fundo — Eu matei
meu primo, pai, tio e irmã … É uma lista macabra e pecaminosa.
Adicionar o pai da minha neta nela nã o seria nada, mesmo eu sendo
proibido de tocar em um só fio de cabelo dele por um acordo de sangue.
Engulo em seco, colocando minhas mã os no encosto da cadeira à
minha frente.
— Pai, nã o estou pedindo isso como esposa dele, e sim como sua
filha. Nã o deixe que meus irmã os derramem o sangue de Ibrahim que é
o mesmo que minha filha tem. Nã o condene o nascimento dela com uma
morte, nã o quero que um dia ela descubra o que aconteceu com o pai
dela se ele chegar a morrer. — Respiro fundo, sentindo o peso do futuro
acerca da minha filha. — Um dos motivos pelo qual quero criar ela longe
da organizaçã o é para que nã o lembre a ela o que aconteceu comigo, eu
nã o vou poder esconder ela da verdade o resto da vida, mas eu garanto
que eu a protegerei e se for necessá rio que eu minta, eu farei isso.
— Você está disposta a deixar que o homem que te fez mal
chegue perto dessa criança, conviva com ela? Todos nó s sabemos que ele
nã o vai parar quando descobrir que você nã o perdeu o bebê.
O tom de voz dele nã o é acusador, e muito menos repreensor.
Meu pai está conversando comigo com paciência, como se estivesse
querendo que eu tivesse ciência de tudo.
— Se ele quiser fazer parte da vida da filha, ele poderá . Eu nunca
irei tirar isso dela, a menos que isso coloque sua vida em risco. Lutarei
contra ele, se for preciso, mas eu quem farei isso, pai. Chega de lutar por
mim. De vingança. Liberte-o. Acabe com todo esse transtorno e deixe
que a vida siga o rumo dela. — Balanço a cabeça, desfazendo os
pensamentos intrusivos que dizem que enfrentar meu pai por Ibrahim é
traiçã o. — Estou cansada, pai. Eu só quero viver em paz com minha filha,
longe de tanto ó dio e represá lias. Nossa família precisa voltar a ser o que
era antes, teremos uma nova criança e assim como o senhor se renovou
no nascimento dos meus irmã os e no meu, faça isso pela sua neta. Pode
fazer isso por mim? Pela sua Ragazza?
Os olhos da mesma tonalidade dos meus cintilam com um brilho
ávido. Ele nã o fala nada, apenas gesticula para que eu saia e eu espero
que isso seja um sim. Eu sei que é, resta saber como Alessio irá reagir a
isso, mas nem ele irá contra a ordem do nosso pai.
Entro em contato com Vadim como disse que faria, e no final da
tarde, ele se encontra comigo e com Heather no complexo. Edan nã o está
por perto, dispensei todos os homens que deveriam fazer minha
segurança e meu pai nã o foi contra isso sabendo o que eu faria hoje.
Heather dirige para um prédio de três andares, perto dos limites
da cidade, Vadim vem nos acompanhando com o carro logo atrá s.
Nenhuma de nó s duas falamos nada e pelo rosto dela, percebo que nã o
está nenhum pouco feliz por estar fazendo isso. Se eu pudesse pedir isso
a outra pessoa, eu, com certeza, faria.
O prédio nã o tem segurança nenhuma e os primeiros andares
parecem estar caindo aos pedaços. Subimos as escadas até o ú ltimo
andar, onde uma porta de metal pertencente a um frigorífico está e
quando Vadim encara a porta eu vejo uma raiva crua exalando de suas
íris.
Heather abre a porta sem esforço algum, como se ela tivesse
acostumada a fazer isso diversas vezes e eu me pergunto se Alessio a
traz aqui e o quanto isso parece perturbador. Ele nã o deveria manter a
esposa longe da parte sombria dele? Mas o relacionamento dos dois nã o
parece nenhum pouco convencional.
Vadim entra na sala e a primeira coisa que vejo sã o paredes
brancas e cortinas de plá sticos por toda parte. O ambiente é congelante,
estéril e tã o limpo como poderia ser.
— Puta merda! — Ouço Vadim xingar antes de correr para o meio
da sala, Heather o acompanha e eu fico parada.
Meu estô mago sofre um golpe e eu tenho vontade de vomitar.
Meu corpo é abraçado pelo frio e meus lá bios tremem ao ver Ibrahim…
O que restou dele.
— Ibrahim? Ibrahim, está escutando? Inferno, ele está morto?!
Heather se debruça sobre o corpo nu em cima de uma maca de
metal e checa os sinais vitais dele, correndo para pegar uma bolsa de
sangue.
— A pulsaçã o está fraca, ele está entrando em choque por falta de
sangue. — Ela verifica as bolsas de sangue na geladeira, pegando uma
depois de olhar o ró tulo. — Qual é o tipo sanguíneo dele?
Vadim está começando a se desesperar a cada vez que olha para
Ibrahim.
— O negativo. Ele vai ficar bem, nã o é? O que diabos fizeram com
ele aqui?
Heather fica em silêncio, se concentrando em encontrar um
acesso no braço dele para começar a levar o sangue até o corpo dele.
De onde estou, eu só vejo a lateral do corpo de Ibrahim e isso é o
suficiente para que emoçõ es esmagadoras e uma pressã o incapacitante
tome conta do meu corpo. Esse nã o parece ele. Tudo nesse homem
parece cadavérico, até a cor do seu cabelo parece ter sido apagada. O
Ibrahim forte, absoluto e cruel nã o passa de um corpo sem vida, com seu
conselheiro tentando trazer ele de volta.
E eu estou com medo.
Um medo paralisante que me faz querer chorar por vê-lo nessa
situaçã o. Por que ele se entregou a isso? Ele devia ter continuado
fugindo, nunca ser pego… Eu teria preferido que ele fosse pra longe.
Lentamente, eu me aproximo da maca, tremendo a cada passo.
Meu coraçã o bate forte em meu peito, enquanto sou açoitada por uma
espécie de culpa por Ibrahim estar desmaiado na marca, respirando de
forma rasa e gelado como uma pedra de gelo. Procuro um cobertor para
cobrir sua nudez e levo minha mã o até a sua, que perdeu grande parte
da sua massa muscular.
— O pulso está ficando mais forte — Heather comenta, com seu
dedo na jugular de Ibrahim.
O efeito é imediato, assim que o sangue entra na sua veia. Ele
abre os olhos, piscando contra as luzes e Vadim respira aliviado. Seus
olhos estã o desfocados, opacos e ele nã o olha para nenhum de nó s, seus
olhos se fixam no teto, enquanto sua boca seca parece balbuciar palavras
incompreendidas.
— Ibram? Está me ouvindo? Sou eu, Vadim. Vou te tirar daqui,
chefe. — Ele olha para Heather — Quando posso mover ele?
— Deixe ele receber a transfusã o primeiro, e depois pensamos
nisso.
Ele está tã o pá lido, é como se nã o tivesse nenhuma gota de
sangue no corpo dele. O corpo cheio de cicatrizes perdeu grande parte
da sua massa muscular e Ibrahim parece apenas uma fumaça da grande
fogueira que foi um dia.
Três meses.
Três malditos meses e eu nã o sabia de nada.
— Nã o vou esperar mais um minuto nessa câ mera de morte, vou
levar ele daqui! — Vadim abre espaço entre Heather e eu, nos
empurrando para erguer um homem de quase dois metros de altura em
seu ombro.
Um gemido baixo sai dos lá bios de Ibrahim fazendo meu peito se
comprimir. Assisto Vadim sair com ele da sala e meus pés estã o indo
juntos quando as mã os de Heather me seguram pelo braço.
— Pense na sua filha, se for com ele pode ser capaz de nã o criar
ela. Nenhum de nó s sabemos o que ele irá querer fazer depois que se
recuperar.
Engulo em seco, sentindo a sala fria congelar minhas lá grimas na
minha bochecha. Sinto-me como se tivesse sido cortada em diversos
pedaços, com sangue vertendo do meu corpo. Eu olho para Heather e a
ú nica coisa que consigo perguntar é mais um motivo para que eu sinta
meu espírito se quebrar em angú stia.
— O que Alessio faz nessa sala?
(...)
Eu passo na minha cabeça, como uma fita sendo rebobinada, tudo
o que aconteceu naquela sala. Quando fecho meus olhos, é Ibrahim que
vejo, em um estado de morte que me faz lembrar da primeira vez que o
vi, das nossas discussõ es e nos ú ltimos dias que passamos juntos.
Por um breve período de tempo eu achei que nó s dois
poderíamos dar certo, e o rancor que senti nos ú ltimos meses parecem
bobo, comparados ao fato de que enquanto eu estava feliz com a
gravidez, escolhendo apartamentos e roupas para nossa filha, ele estava
sendo morto, só para meu irmã o ter o gosto de ressuscitá -lo novamente,
drenando o sangue até que ele entrasse em parada cardíaca.
Eu sabia da crueldade dos homens da minha família, mas ver de
perto nã o me preparou para o trauma que desencadeou na minha
mente. Em momento nenhum desejei algo assim a Ibrahim, nem mesmo
quando achei que ele estivesse bem.
Já se passou um mês desde que ele foi libertado e eu nã o tenho
notícias, o que me deixa ansiosa, mas ciente de que ele está bem, se algo
tivesse acontecido a notícia já teria se espalhado. Estou ciente de que ele
está se recuperando, e que se Vadim contar que continuo grávida, é só
uma questã o de tempo para ele buscar seus direitos.
É por isso que antecipei minha viagem para Zurique e fiz minhas
malas. Encontrei um apartamento perto do centro da cidade e de um
hospital, minha mã e se ofereceu para me acompanhar, mas neste
momento eu preciso ficar sozinha. Longe até mesmo da minha família.
Nos ú ltimos cinco meses fui bombardeada com mais informaçõ es do que
seria natural e se eu nã o estivesse tã o firme com a minha gravidez, eu
nã o teria aguentado o baque.
Alguém bate na porta do meu quarto duas vezes, antes dela se
abrir, eu me surpreendo em ver Vittorio. Ele e Alessio passaram os
ú ltimos dias me evitando, e eu a eles.
— Já organizou tudo — observa, vendo minhas malas por todo
quarto.
Balanço a cabeça, assentindo. Ele nã o entra por completo no
quarto, fica encostado na porta, avaliando o territó rio.
— Você nã o precisa ir embora, se o problema for a minha
presença, eu voltarei para Filadélfia logo. Nã o podia voltar enquanto
você nã o estivesse bem, e agora que tudo parece estar se resolvendo, é a
hora de ir.
Vittorio parece acuado, o que é algo inusitado.
— Nã o. Nã o estou indo embora por causa de você. Estou indo
embora porque quero uma vida diferente, em um ambiente novo. Nã o
tenho rancores contra você, Vittorio.
Ele nã o parece convencido disso.
— Tudo o que aconteceu com você foi culpa minha, Zoey. Todo o
inferno que você passou e eu nunca vou pedir perdã o por isso, nã o
tenho esse cinismo depois de tudo. Se eu nunca vou ser capaz de me
perdoar, quem dirá você.
Respiro fundo, me sentando na cadeira de balanço que meu pai
colocou ali. Cinco meses de gravidez e pareço estar perto de dar à luz
devido ao tamanho do bebê que está me cansando, e fazendo-me sentir
como um saco de batatas ambulantes.
— Nã o vou viver no passado, Vittorio. Sim, foi você quem me
colocou nisso, mas nã o foi proposital, nem mesmo você podia saber o
que aconteceria comigo. Parei de culpar você há muito tempo, isso nã o
me levou a lugar algum, nã o consertou nada. Você é meu irmã o e sei que
isso vai te consumir pelo resto da sua vida, entã o nã o cabe a mim
atormentar você. Deveria começar a se perdoar também, Vittorio. O que
passou, passou e só o futuro pode reparar o que aconteceu.
Seus olhos verdes descem para minha barriga, onde minha mã o
descansa, algo brilha nos seus olhos, com uma espécie de afeto distante.
— Eu espero que seja feliz, Zoey. O mínimo que posso fazer por
você é te apoiar. Qualquer que seja a decisã o que tomar daqui para
frente, conte comigo.
— Eu sei disso, Vittorio. Obrigada.
Ele assente, mantendo os olhos sérios em mim por mais alguns
segundos antes de sair do quarto.
Minha mã e sobe para me ajudar a terminar de arrumar as malas,
principalmente as coisas da bebê. Em uma manhã de junho, cinco dias
perto do aniversá rio do meu pai e irmã os, eu vou embora para Suíça,
escolhendo essa data com o intuito de fugir da atençã o que minha
família ganha nessa época do ano com o aniversá rio do Capo e dos filhos.
Minha mã e escolheu uma das mulheres do complexo que ela
cuida para me acompanhar e cuidar de mim quando ela nã o estiver por
perto. Sendo assim, quando chego em Zurique tenho a companhia de
uma mulher com o dobro da minha idade, com treinamento de defesa
pessoal, mesmo que seja ó bvio que meu pai colocou pessoas para ficar
de olho na minha segurança.
Os dias em Zurique sã o calmos, dou pequenas caminhadas e
tomo café na varanda do meu apartamento. Converso com Keena, a
minha companhia, e durante uma conversa nó s duas falamos sobre o
nome da bebê que eu ainda nem pensei em um.
Ela elabora uma lista com nomes afortunados e eu rio de todos,
mas durante a noite eu tento chegar a um consenso com a minha bebê,
que adora chutar minha barriga e me deixar desconfortável com ela
tomando todo o espaço dentro de mim. Eu adoro conversar com ela, ela
sempre responde com seus chutes certeiros na minha bexiga e na maior
parte das noites nã o me deixa dormir, porque acha meu corpo muito
pequeno para ela.
Ao entrar no sexto mês de gravidez, eu decidi sair com Keena
para a feira de frutas, perto do apartamento, mesmo com a minha coluna
me matando. Keena se distancia para colocar as sacolas em algum lugar
seguro enquanto eu fico perto de uma barraca de maçã , devorando uma.
A manhã está transcorrendo bem como todos os dias, mas algo
está diferente. Me sinto ansiosa, vigiada e quando olho ao redor nã o
demoro em ver de onde vem essa sensaçã o.
Poucos metros de mim, o homem, com dois metros de altura e
com o corpo colossal, está me olhando de forma dura. Os olhos azuis
cravados na minha barriga e ele nã o parece nenhum pouco contente. Eu
sofro um choque ao vê-lo depois de tanto tempo e encontrar no seu
rosto a fú ria crua que me recordo bem e me paralisa.
Eu vacilo, deixando a maçã na minha mã o cair e quando dou um
passo para trá s, ele caminha na minha direçã o e com poucos passos sua
mã o segura meu pulso.
Os olhos azuis tempestuosos me fitam, como se eu fosse uma
ladra.
— Para onde pensa que vai com meu filho na barriga, sua mulher
cruel? O jogo de gato e rato acabou. Eu te peguei, esposa, e você nã o vai a
lugar nenhum com nosso bebê!
que eu posso falar que faça essa fú ria nos olhos dele desaparecer?
O
Como eu posso sequer tentar lutar contra seu aperto firme no meu
braço e sua força me arrastando entre a multidã o, para algum lugar onde
eu nã o consigo enxergar o perímetro, tudo que vejo sã o pessoas abrindo
espaço e pouco se importando com um homem de dois metros de altura,
de peso considerável e um rosto austero, levando uma mulher com
menos da metade do tamanho dele, e ainda grávida.
Este momento parece muito com um sequestro e ninguém está fazendo
nada. Um dos motivos de eu ter me mudado para cá foi justamente pela
receptividade dos habitantes, mas claramente foi um equívoco meu, eu
deveria ter ido para Sicília.
— Para onde está me levando? — questiono Ibrahim, com um fio de voz,
sentindo seu aperto intensificar no meu braço a ponto de eu fazer uma
careta de dor.
— Você nã o tem direito a perguntas.
Direto e rancoroso. Eu mereço isso. Era só uma questã o de tempo para
ele descobrir que a bebê está viva e nã o justificando sua ira, eu a
entendo. Mas de jeito nenhum vou aceitar que só eu tenho culpa disso,
as coisas teriam sido bem diferentes se ele tivesse sido sincero comigo
desde o começo.
Ibrahim entra em um prédio de tijolos, me levando escadas acima, mas é
demais para mim. Eu estou grávida de um bebê gigante e meu
condicionamento físico se tornou medíocre. Eu paro de subir os degraus,
me encostando na parede fria enquanto me curvo para recuperar meu
fô lego. Ibrahim lança um olhar na minha direçã o, um vinco de
preocupaçã o se formando na sua testa, antes dos seus olhos
endurecerem.
Antes que eu possa gritar de surpresa, meu corpo é erguido pelos braços
fortes de Ibrahim ao redor das minhas costas e atrá s dos meus joelhos.
Como se eu nã o estivesse pesando nada, ele me carrega escadas acima e
me encho de gratificaçã o ao ver que os três meses de tortura nã o
deixaram danos aparentes.
Ele recuperou uma grande quantidade de peso, e sua força parece a
mesma, mas isso só dura até chegamos ao terceiro lance de escadas e eu
o senti ficar cansado.
— Eu posso andar, me coloque no chã o — digo suavemente, na tentativa
de nã o irritá -lo, porém tudo em mim parece incomodar Ibrahim.
— Se quer ajudar com algo, feche a porra da boca. Seu peso nunca foi um
problema para mim, e tampouco será agora.
Quero reforçar que estou sentindo seu peito subindo e descendo com
dificuldade, mas me sinto acuada pelo tom ríspido na voz dele. Eu nã o
deveria. Ibrahim só está colhendo os frutos das suas decisõ es, ele
também ia tirar o nosso filho de mim, me usando apenas como
incubadora.
Ele tem todo direito de estar com raiva, assim como eu tive o direito de
decidir esconder essa gravidez dele, optando pelo melhor que achei ser
no momento.
Ibrahim abre a porta de um apartamento e entra comigo nos braços, me
colocando sentada em cima de um sofá vermelho. Ele vira as costas,
passando os dedos pelo cabelo loiro, que estã o maiores do que eu me
lembrava, descendo a mesma pela barba, que está por toda bochecha e
queixo.
Ele nã o parece ter se cuidado nos ú ltimos meses, mesmo depois de ter
sido liberto.
— Com qual direito você mentiu para mim sobre ter perdido nosso
filho? — Sua voz é carregada, pesada e ele nã o está olhando para mim.
u engulo em seco, sentindo a gravidade entoada nas palavras ditas pela
E
primeira vez em voz alta.
— Com o mesmo direito que você pensou em me usar como uma
incubadora e tirar minha filha de mim, me devolvendo ao meu pai e a
usando como uma garantia de poder.
Ibrahim se vira na minha direçã o, ansioso. Os olhos azuis estã o
brilhando, faiscando com um sentimento limpo de curiosidade.
— Filha? É uma menina?
Balanço a cabeça, afirmando, e ele passa a mã o pelo rosto, tomado com
um sentimento protetor e orgulhoso, e desde o momento que nos
reencontramos eu vejo a fú ria ser apaziguada, contudo, isso só dura por
dois minutos. Quando Ibrahim volta a olhar para mim, seu rosto está
expressivo, voraz, como se ele estivesse vendo em mim sua inimiga
mortal.
— Eu ia morrer e ela viveria no mundo sem mim. Sem a porra do pai
dela para protegê-la! Você ia tirar de nó s nosso direito de pai e filha. —
Ele se aproxima de mim, ameaçador. — Ia deixar minha filha ser criada
pelos meus assassinos, os assassinos do pai dela! Você foi cruel. Achei
que fosse diferente dos seus irmã os, mas o mesmo sangue podre que
corre nas veias deles nã o difere nenhum pouco em você, nã o é?
Eu fico parada no sofá , consumida pela fú ria dele, que é como uma
lâ mina na minha pele, cortando sem piedade. Fecho meu rosto em uma
má scara de calma, mesmo que eu esteja fervendo por dentro.
— Eu nunca deixaria que meus irmã os matassem você, nem mesmo
sabia que você estava preso. Passei três meses acreditando que estava
em algum lugar do mundo, vivendo a sua liberdade e orquestrando seu
pró ximo trunfo contra a Camorra, porque nã o importa se isso foi uma
questã o de vingança ou nã o, você gostou de ver meu pai se curvando,
cedendo e como conseguiu uma vez, poderia conseguir de novo. —
Procuro respirar devagar para nã o explodir de vez. — Deve ser bom
estar interpretando o papel de vítima novamente, nã o é, Ibrahim? Você
sempre é a vítima! O pobre coitado que teve os pais mortos e agora
quase perdeu a chance de ser pai por causa de mim!
Nã o venha com joguinhos de manipulaçã o, Zoey! Você sabe que está
—
errada, sabe o tamanho da merda que fez mentindo para mim e ainda
quer encontrar um contexto onde sua narrativa se enquadre?! Me faça o
favor!
Me levanto do sofá , com todas as minhas emoçõ es fervendo em brasas
acordadas depois de meses entorpecidas. Eu encaro Ibrahim com
chateaçã o, ressentimento.
— A narrativa só se torna favorável quando se trata de você me
enganando, prometendo a terra e o céu para mim, quando estava me
enganando para que eu tivesse essa criança, você a tomasse de mim e
depois me mandasse de volta para minha família? — Sorrio sem humor
algum. — Você ligou para o meu pai e prometeu me devolver quando eu
tivesse a minha filha, disse que nã o seria um problema se desfazer de
mim desde que me convencesse a nã o causar problemas a você! — Meu
peito queima de ressentimento e eu cuspo as palavras com toda raiva
que senti, desde que ouvi tudo o que ele planejou pelas minhas costas.
— Ia tirar meu direito de ser mã e. De escolher ser a mã e dela e me
mandar embora no momento que eu a colocasse para fora! E você ainda
quer me perguntar com qual direito eu menti sobre essa criança ter
morrido? — Estou sem fô lego e meus olhos queimam com lá grimas que
nã o quero derramar.
Ibrahim está parado, com a mandíbula trincada e os olhos gélidos. Ele
também parece estar queimando, mas, ao contrá rio de mim, o fogo que o
queima é frio como gelo.
— Você deu a entender que nã o queria gestar essa criança. O que queria
que eu fizesse? — questiona com a voz baixa, contida e rouca.
— Eu também mostrei o quanto a queria quando me deixei ser
enganada por você, me deixei ser convencida de que poderíamos ter
uma vida juntos e me deitei com você uma vez atrá s da outra,
celebrando um futuro que só existiu na minha cabeça. Enquanto eu
pensava em superar tudo, você elaborava mais um ataque. Durante
aqueles dias na cabana em que te aceitei do jeito que você era, que me
deixei ficar vulnerável e rolei com você na cama… Isso continuou dando
a entender que eu nã o queria a família que iríamos ter? Provavelmente,
sim. Você ligou para o meu pai no dia seguinte, apó s temos feito sexo,
nã o deu nem tempo de limpar seus vestígios de mim antes que você já
estivesse me traindo e me entregando de volta.
O rosto de Ibrahim assume uma má goa e uma lá grima solitá ria escorre
de um só olho meu, a qual limpo rapidamente. Sorrio de amargura e
ressentimento, enquanto falo as palavras que assombram minha cabeça
desde o primeiro dia que ele me usou.
— Era só o que eu tinha entre as pernas que você queria. Sempre usando
até se sentir saciado e me descartando como se eu nã o fosse nada além
de uma embalagem. Para você, eu nunca tive sentimentos, e até mesmo
minha dor era excitante para você. É tã o cruel que iria continuar se
deitando comigo enquanto me enganava e já tinha me negociado. — Me
aproximo dele.
Fico tã o perto que sinto o calor do seu corpo e ele ficar rígido com
minha aproximaçã o, ouço ele trincar os dentes e ficar abalado.
Mantenho um sorriso triste nos lá bios, cheio de autocomiseraçã o.
— No final, a ú nica coisa que me diferenciava de uma das suas
prostitutas era uma certidã o de casamento e o fato de que, pelo menos
com elas, você nã o precisava foder como se quisesse matá -las.
Quando sinto que minhas lá grimas vã o cair, eu viro as costas depois de
externar tudo o que minha mente sussurrou para mim, desde que
comecei a adquirir sentimentos por ele. Caminho até uma das janelas,
piscando uma vez atrá s da outra para espantar as lá grimas. Meu peito
está oco. Sinto como se finalmente tivesse drenado minhas forças e
sentimentos.
Ibrahim fica dolorosamente em silêncio, só comprovando minhas
palavras e alimentando a certeza que era só uma hipó tese, é que eu
esperava que, no fundo, com uma maldita e boba esperança, que ele
fosse negar.
Como posso ser tã o tola?
Preciso apoiar minha mã o na parede para nã o me deixar cair com
tamanha pressã o que sinto no peito. Procuro respirar fundo e isso só faz
com que o buraco no meu coraçã o se expanda, e isso é tudo culpa minha
e da esperança boba que criei.
— Vou providenciar para que suas coisas venham para esse
apartamento, quero ficar perto de você até a bebê nascer. — Sua voz
polida só abre ainda mais a ferida que nem começou a cicatrizar.
— Nã o. Nã o vou morar com você e nem me desfazer dos planos que fiz.
— Vai me proibir de acompanhar sua gravidez? De ser pai da minha
filha? — Ele realmente parece aflito, e bravo, mas a primeira impressã o
só deve ser coisa da minha cabeça fodida.
Recobro um pouco do meu fô lego, me virando na sua direçã o com as
minhas mã os na barriga em busca de conforto nos chutes que a bebê
começou a dar. Acho que é pedido para que eu me acalme, estou fazendo
mal a ela sentindo toda essa angú stia.
Fito os olhos de Ibrahim, apagando qualquer expressã o dos meus olhos.
— Quando quiser me visitar é só ligar, tirarei um dia para mostrar todos
os exames e evoluçõ es que perdeu da bebê, mas nunca apareça sem
aviso ou me aborde na rua. Eu nã o quero ter nenhum contato além do
necessá rio com você, e se for possível, vamos formalizar o divó rcio antes
que ela nasça.
Algo se quebra no olhar de Ibrahim, deixando-0 vulnerável, atingido. E
ele continua estancado no lugar, como um soldado caído. Mas essa
aparência nã o vai mais despertar minha compaixã o, eu nunca mais
sentirei nada parecido com isso sobre ele.
— Eu vou levar você de volta, nã o acho que esteja bem para caminhar
sozinha nessas condiçõ es.
Ele faz mençã o de vir na minha direçã o, mas eu desvio meus olhos dos
dele, erguendo minha mã o para repelir qualquer contato entre nó s dois,
enquanto caminho para a saída sem olhar para trá s.
s palavras dela continuam ecoando pelas paredes de tijolos, mesmo
A
horas depois dela ir embora. Elas me fazem companhia, me
assombrando enquanto permaneço sentado por horas a fio no sofá ,
vendo o dia se transformar noite, em um estado quase vegetativo.
Repito, disseco, catá logo e separo as sílabas de cada palavra que saiu
como sangue de uma ferida aberta.
Penso em como os olhos dela estavam brilhando de má goa, em como as
lá grimas estavam sendo desafiadas a nã o abandonarem os olhos… Nã o
houve fraqueza, Zoey derramou em cima de mim todos os seus
fantasmas sobre nosso relacionamento e eu, como um idiota, nã o
conseguir articular nenhuma só palavra. Foi um baque tudo aquilo que
saiu da boca dela, eu nã o deveria estar surpreso porque em poucos
momentos juntos, eu nã o demonstrei qualquer afeto por ela, mas nã o
consigo deixar de pensar que Zoey se sinta tã o inferior. Eu nã o consigo
aceitar que eu a fiz sentir assim.
Eu vi o quã o humilhada ela se sentiu, vi os danos que causei nela acabar
com sua dignidade perante meus olhos horas atrá s e eu nã o fui capaz de
dizer nada, como eu poderia? Fui eu quem a fez se sentir como se ela
nã o tivesse valor, que seu corpo era a ú nica coisa valiosa nela.
Ainda assim, fico me perguntando como ela nã o percebeu a força com
que chegou na minha vida. Estou surpreso e perturbado, porque na
minha mente, Zoey sabia o tamanho da influência que tinha sobre mim,
em como eu posso rastejar se ela pedir. Ela é meu norte. Minha musa. E
se aguentei esses três meses com vida foi justamente porque eu tinha
esperança de que a teria de volta.
Minhas noites insones se resumem a pensar nela, relembrar seus olhos,
sua pele, o calor e o cheiro que vive em mim como um vício feliz. No
ú ltimo mês que passei me recuperando dos danos causados ao meu
corpo, eu tracei diversos planos para voltar pra ela, enlouquecendo com
os momentos distante e mesmo quando comecei a odiá -la, quando
Vadim deixou escapar que ela estava grávida, e eu comprovei sua
mentira de ter perdido o bebê, eu ainda ansiava por ela.
Zoey Moreau é como meu coraçã o batendo fora do peito. É feroz, intenso
e a distâ ncia me deixa ansioso. Poderiam se passar mil anos, eu poderia
viver mil vidas diferentes, mas eu nunca seria capaz de descrever o que
sinto por ela. É algo que queima, nã o como brasas de fogo, mas como
gelo. É similar ao inverno rigoroso com apenas uma lareira para se
aquecer, sem roupas.
E ela vai ter uma filha minha.
Uma menina.
O fogo da lareira parece ter ficado mais forte e eu nã o consigo deixar de
pensar em como eu desisti quando me entreguei a Kai Moreau.
Eu ia morrer sem conhecer a minha filha. Sem saber da existência dela e
pensar nisso nos ú ltimos dias tem me feito ter um começo de um ataque
de pâ nico.
Graças ao gosto doentio que Alessio tinha em me matar e trazer de volta
a vida, desenvolvi uma arritmia e por passar mais de três minutos sem
pulso, ganhei alguns danos neuroló gicos, que, segundo meu médico,
explica a perca de memó ria a curto prazo e meu desligamento em
momentos de estresse.
Já nã o sou o mesmo que era há quatro meses, meu físico e emocional
precisaram passar por uma situaçã o de merda dessa para poderem
funcionar direito. Claro, o meu coraçã o e cérebro nã o. É um milagre eu
nã o ter sofrido um derrame ou morte cerebral, e eu vejo isso como uma
segunda chance.
iquei tã o cheio de fú ria em descobrir que Zoey mentiu sobre o aborto,
F
que peguei o primeiro voo para Zurique e estava disposto a confrontá -la,
mas nã o esperava que fosse eu ser a pessoa a ficar sem palavras quando,
na verdade, eu tinha muita coisa a falar.
Queria olhar nos olhos dela e descobrir como ela foi capaz? Eu nunca
teria tentado tomar nossa filha dela, mesmo que tenha dado a entender
isso. Quando liguei para Kai e negociei entregar Zoey, eu nã o estava
falando a verdade, eu só queria que ele parasse de mandar seus homens
em busca dela.
Apó s ter pego Zoey em Las Vegas e levado para a cabana, ativei
novamente a ira de Kai Moreau e seus filhos, e eles usaram tudo o que
tinham para irem atrá s de Zoey. Destruindo lugares de importâ ncia para
mim. Entã o, eu arrisquei e blefei, e claramente, isso se voltou contra
mim e agora estou sentado há horas em um sofá , com vista para o centro
de Zurique, pensando em como estive perto de perder a coisa mais
valiosa da minha vida.
Uma menina.
Ela será tã o bonita quanto Zoey, espero que ela tenha o mesmo sorriso e
eu irei me apaixonar duas vezes.
Levanto do sofá , apó s as seis da manhã , vendo o sol ameno iluminar a
cidade e o som dos transeuntes e de carros pela rua. Tomo um banho
gelado, visto uma roupa fresca e saio do apartamento sem me alimentar.
Estou ansioso demais para pensar em me cuidar, eu só quero ver Zoey e
assimilar seu novo corpo.
Ela está tã o linda com aquela barriga, tã o majestosa e iluminada que
aumenta minhas certezas de que ela nunca esteve tã o linda como agora.
Cruzo as três ruas que separa o meu prédio do dela, caminho entre os
pedestres parando em uma barraca de frutas para comprar laranjas
frescas, nã o quero chegar de mã os vazias e adoraria fazer um suco para
Zoey.
Sã o 8:00 da manhã quando anú ncio minha chegada na recepçã o e ouço
uma breve hesitaçã o da cuidadora de Zoey para me deixar subir. Me
pergunto se está cedo demais. Zoey dormia o dia inteiro no início da
gravidez, será que isso continua?
ato na porta do apartamento e leva menos de um minuto para que ela
B
seja aberta por uma loira de olhos castanhos puxados. Ela precisa erguer
o rosto para encontrar meu rosto e o que vejo na sua expressã o nã o me
cativa, ela parece está me avaliando como um inimigo.
— Zoey está terminando de tomar banho. Pode entrar e esperar na sala.
— Abre espaço para que eu entre.
Adentro o apartamento pequeno e confortável, procurando por alguma
memó ria registrada da gravidez. Qualquer foto de Zoey com a gravidez
começando a ficar evidente, eu quero saber o que perdi, as mudanças
pelo qual seu corpo passou.
Nã o encontro nenhuma foto.
— Você já preparou o café da manhã dela? — pergunto a loira, que
suspira alto e se apoia no balcã o, me olhando como um gaviã o.
— Ela gosta de tomar o café da manhã na padaria no final da esquina,
temos uma rotina de acordar, nos arrumar e ir até lá . A caminhada faz
bem para ela.
Estreito os olhos, contendo um suspiro. Ela nã o precisa mais sair de casa
para tomar café, vou cuidar disso desde agora. Zoey quase nã o estava
aguentando caminhar ontem, e está se cansando muito rá pido. Claro, ela
precisa fazer atividades físicas, mas vou cuidar disso de outra forma.
— Faz muito tempo que ela está no banho? — inquiro.
— Ela acabou de entrar, vai levar um tempo até que saia. Zoey costuma
tirar esse tempo da manhã para o autocuidado, entã o pode esperar
sentado.
Nã o preciso nem fazer esforço para saber que essa loira nã o gosta de
mim. Coloco a sacola de papel no balcã o da cozinha e saio sem dar
explicaçõ es. Acelero meus passos quando estou na rua para chegar à
padaria para comprar pã o integral fresco e depois vou a uma mercearia
comprar ovos, e frutas como mamã o e maçã . Compro queijo para ir
juntos com os ovos e adiciono mais ingredientes ricos em fibras.
Volto para o apartamento carregando sacolas e recebo um olhar
confuso da loira. Evito qualquer tipo de contato com ela e encontro
sozinho os utensílios que vou utilizar para fazer tudo.
Levo cerca de 40 minutos e nada de Zoey aparecer, só quando
estou pondo a comida na mesa que o aroma dela enche a sala e eu viro o
rosto em direçã o ao corredor, vendo-a com um vestido branco fresco e o
cabelo ú mido caindo por um lado.
— Que cheiro é… — Ela interrompe sua fala quando olha para
mim colocando os pratos na mesa.
A mais pura surpresa cruza seu rosto e sua boca se abre
rapidamente, sem sair nenhum som. Nó s dois nos encaramos com
surpresa, a minha, obviamente, é por estar fascinado com o que estou
vendo.
Ela está tã o linda com essa barriga.
Nã o tem um só defeito nela. Quero me ajoelhar e beijar todos os
centímetros de pele expostos antes de ir para a barriga.
— Sente-se. — Puxo uma cadeira, terminando de servir os ovos à
mesa — Acabou de sair do fogo. Comece pelo leite, é bom para acordar
nossa filha.
Zoey pisca, continuando parada como se estivesse vendo uma
alucinaçã o. Limpo a garganta, fazendo um gesto com as mã os para que
ela se mova e ela parece voltar a si. Andando como se todo seu corpo
estivesse alerta, ela se senta na cadeira que estou segurando e ergue os
olhos para a loira que está no sofá assistindo toda a cena.
— Você disse que ele viria, entã o deixei que entrasse, mas se
quiser eu o tiro daqui. — A loira de olhos puxados fala e Zoey balança a
cabeça.
— Tudo bem, Keena. Venha comer também.
— Nã o, obrigada. Vou até a padaria, se você permitir.
Zoey assente para ela, parecendo implorar a mesma com os olhos
para que ela nã o a deixe sozinha comigo, e caramba, isso me incomoda.
Sou tã o horrível assim?
Percebo o desespero dela quando a porta se fecha e nó s dois
somos englobados pela presença um do outro. Zoey desvia os olhos dos
meus, e sirvo a ela um copo de leite, um prato de ovos mexidos com
queijo, torradas e outro com frutas fatiadas.
Ela nã o fala nada. Simplesmente fica calada sem me olhar, presto
atençã o apenas nos seus movimentos de pegar a comida com o garfo e
levar a boca. Ignorando completamente minha presença.
— Eu posso me sentar e tomar café da manhã com vocês? —
pergunto.
Ela assente e eu puxo uma cadeira à sua frente, me servindo do
que preparei. Acabo percebendo que Zoey e eu só compartilhamos uma
refeiçã o juntos uma vez, antes de eu mandá -la de volta para Las Vegas e
isso parte meu coraçã o.
Trato de observar a quantidade de comida que ela ingere, sempre
descendo meus olhos para a barriga redonda, que parece maior do que
deveria ser.
— Você já escolheu um nome para ela? — questiono.
Zoey leva o copo de leite até a boca, balançando a cabeça em
negaçã o.
— Eu posso escolher?
Finalmente ela ergue os olhos para mim, surpresos e receosos.
— Qual nome tem em mente?
Desço meus olhos para barriga, tentando nã o sorrir ao pensar no
nome e em como ele se enquadra a essa garotinha crescendo dentro de
Zoey.
— Mavie.
— Ma Vie? Como “minha vida” em francês? — instiga, baixinho.
Concordo.
— Essa criança me trouxe de volta à vida, acredito que nó s dois.
Nã o tem um nome melhor para ela, nã o é?
Zoey fica em silêncio, assimilando e sua expressã o se suaviza,
brotando um leve sorriso nos lá bios, enquanto ela experimenta o nome,
levando a mã o até a barriga em uma espécie de aprovaçã o.
Quando terminamos o café, eu coloco tudo na lava-louça,
enquanto Zoey reú ne tudo o que tem da nossa filha dentro do quarto
dela. Eu sigo para o corredor, parando na porta de um quarto de bebê,
branco com detalhes rosas, com todos os mó veis ainda para montar.
Tudo está empilhado e as sacolas estã o por toda parte.
Zoey se senta com dificuldade em uma cadeira de balanço, com
um á lbum nas mã os junto ao celular. Ela percebe meu olhar na barriga e
nos movimentos dela, e logo explica.
— Ela é grande para o meu corpo. A médica disse que nã o há
chances de eu ter um parto normal.
— É doloroso ter ela aí dentro?
Zoey tenta encontrar uma posiçã o confortável e isso responde a
minha pergunta.
— Nã o é tã o ruim, mas eu certamente nã o quero engravidar
novamente de um bebê desse tamanho. Minhas costas doem o tempo
inteiro e ela vive chutando minha bexiga nã o me dando tempo de chegar
ao banheiro, à s vezes.
Estreito meus olhos.
— Você com certeza vai engravidar de novo, e se todos herdarem
os meus genes, será doloroso, mas isso nã o significa que vamos encerrar
em uma criança só . Eu quero ter mais. Mavie precisa de irmã os.
Ela ergue os olhos com uma expressã o dura neles e eu me
condeno por ter soado tã o autoritá rio e possessivo, ela claramente nã o
gostou.
— Nó s nã o iremos ter mais filhos juntos, Ibrahim. Qual parte do
eu querer o divó rcio você nã o entendeu ontem?
Cerro meu punho, permanecendo com o olhar na minha mulher.
— A ú nica forma de nos separarmos é com a minha morte, e
mesmo morto eu viria te procurar. Nosso casamento nã o começou com
um fim estipulado. Quando você se tornou minha, aceitou o fato de
continuar me pertencendo pelo resto da sua vida, esqueça o divó rcio,
Zoey. Isso nã o vai acontecer.
Seus olhos brilham com frieza e ela balança a cabeça, abrindo um
sorriso curto de desdém.
— Você acha mesmo que vou querer algo com você depois de
tudo? Nã o se engane, Ibrahim. O que sempre vai nos ligar é essa criança,
mas apenas ela. Eu nã o quero mais você como meu parceiro ou marido.
Neste momento eu só queria distâ ncia, mas nã o posso fazer isso porque
você é o pai da minha filha.
Eu me mantenho no meu lugar para nã o perder o controle para o
desespero e a chateaçã o que suas palavras me causam.
— Que pena que isso nã o seja seu desejo, mas tenho uma
péssima notícia para você: nã o vou dar o divó rcio! Quer ficar distante de
mim? É uma pena também, eu nã o vou a lugar algum! Mavie terá os pais
juntos, nã o importa o que eu tenha que fazer. Você é minha esposa, Zoey.
A porra do amor da minha vida e por mais machucada que esteja, nã o
pode ser tã o cega para nã o enxergar que eu te amo com todas as fibras
do meu corpo. — Abro meus braços, sem fô lego com tantos sentimentos.
— Olha para mim, para os meus olhos e diz que nã o existe amor aqui
para você. Eu te amei desde o primeiro dia, fui incapaz de te odiar
quando eu deveria ter feito isso. Se eu tivesse te odiado, talvez as coisas
fossem mais fá ceis do que te amar, porque nã o tem um dia que eu nã o
sinta como se fosse morrer porque você nã o está ao meu lado. Nã o tem
um ú nico maldito dia que eu deixe de pensar menos em você e desejar
sua presença. Quero compartilhar tudo. Minha alegria, tristeza e até
mesmo meus fracassos. Quero me curvar diante de você e te exaltar
como nunca fiz e quero isso desde o momento que coloquei meus olhos
em você.
Caminho até ela, me ajoelhando na sua frente, levando minhas
mã os até sua barriga macia e dura, sentindo-a ficar tensa com meu
toque. Eu a fito com amor, devoçã o e desespero.
— Te amei tanto que te fiz acreditar que eu te odiava e queria te
matar. A intensidade dos meus sentimentos foi sentida, mesmo que da
forma errada. Sabe a força com a qual achou que eu queria destruir
você? Aquilo nã o era sobre ó dio, era sobre eu querer morrer por me
sentir tã o devoto a você. — Meu peito sobe e desce em uma velocidade
opressora e eu preciso segurar as coxas dela para controlar o tremor nas
minhas mã os. — Quando eu te olhava, era incapaz de pensar em outra
coisa além do quanto eu a queria. Até hoje eu sinto necessidade por você
e me entreguei ao seu pai porque preferia morrer a passar um dia sem
te ter. Sou doente por você, Zoey Vassiliev. Tenho orgulho por ser minha
esposa e morro de felicidade quando recebo migalhas suas. É s a minha
deusa, mulher. Minha musa e eu vou venerar cada pedaço seu pelo resto
da minha vida.
Levo minhas mã os até seu rosto, sentindo Zoey se afastar do meu
toque com os olhos espantados e petrificados diante da minha explosã o.
Encosto minha testa na sua, afundando meus dedos no seu cabelo,
mesclando minha respiraçã o pesada com a artificial dela.
— Por favor, me deixe beijá -la. Eu preciso disso tanto quanto eu
preciso de oxigênio agora. Passei os ú ltimos meses desejando tocar
meus lá bios nos seus, Zoey… Por favor, esposa…
Estou prestes a ignorar se sua resposta é um sim ou um nã o, mas
antes que eu faça isso, Zoey se ergue da cadeira sem esforço algum, me
deixando desorientado e faminto. Eu levanto junto com ela, prestes a
avançar na sua direçã o quando ela ergue as mã o com a expressã o
decisiva.
— Nã o! Fique onde está , porra! — Ordena e meu corpo obedece
ao seu comando. Fico parado no meio do quarto, com a respiraçã o
ofegante e a fome e necessidade correndo pelas minhas veias.
Zoey vira de costas, passando a mã o pelo cabelo.
— Se me ama tanto quanto diz e quer que eu acredite nisso, me
dê o divó rcio. Nã o aguento mais um minuto com o pensamento de que
você pode querer me possuir porque estamos casados. — Ela se vira
para mim, inexpressiva. — Vou dar entrada nos papéis, você só precisa
assinar. Nã o quero nada seu. Assine e eu vou acreditar que realmente me
ama.
Rosno.
— Eu te amo, e é por isso que nã o vou me divorciar de você. Se eu
deixar você ir embora, nã o vai mais voltar e eu nã o quero assistir esse
filme de novo, Zoey. Eu nã o tenho forças. Prefiro perder um braço ou
uma perna a ter que te perder de novo.
— Você me perdeu! — grita, alterada — Você me perdeu meses
atrá s com suas mentiras! O que havia entre nó s dois acabou, Ibrahim! O
que está fazendo agora é me torturar e eu vou enlouquecer!
— Entã o seremos dois, porque nã o aceito viver sem você e nã o te
dar o divó rcio mostra o quã o desesperado eu estou, porque prefiro você
casada comigo, ligada a mim por uma certidã o de casamento que me
diga que você é minha esposa, do que viver em um inferno sabendo que
você pode encontrar outra pessoa, que nã o terá nada além da nossa filha
que possa manter você na minha vida. — Balanço a cabeça, perturbado.
— Nã o posso, Zoey. Me perdoe, mas eu nã o posso viver em um mundo
onde estamos divorciados.
Ela puxa os cabelos, frustrada e agoniada. Balançando a cabeça
como se eu fosse uma ideia perturbadora, ela me manda embora. E eu
vou, apenas para voltar amanhã e deixar claro que em nenhuma versã o
da sua vida Zoey irá se ver livre de mim. Sou um maldito filho da puta
doente. Nã o sou capaz de viver sem ela e o simples pensamento de que
ela nã o quer nada comigo me faz ter vontade de colocar fogo no mundo.
Porra!
u preciso esperar cerca de 30 minutos para me levantar da cama
E
quando acordo e isso é uma das muitas coisas que me enchem de
chateaçã o. Nã o ser capaz de me equilibrar direito, andar duro e ter
problemas para segurar as coisas também se incluem nisso. Alessio
fodido Moreau deve estar feliz agora, e eu o subestimei junto aos seus
métodos de tortura.
Levanto da cama à s 7:00 da manhã e sigo para o banheiro, onde
travo mais uma luta para colocar pasta de dente na escova e até mesmo
segurar a escova sem sentir minhas mã os tremerem; respiro fundo,
lembrando da paciência de Vadim quando tudo isso começou e por mais
que eu odeie depender de outras pessoas, tenho que admitir que nã o ter
Vadim por perto é um saco.
Aquelas palavras motivadoras dele tiveram um certo efeito, e
estou começando a precisar delas toda vez que penso que nã o serei
capaz de segurar minha filha sem o risco de derrubá -la. Isso me
perturba e eu preciso mandar esse pensamento para as profundezas do
meu ser.
Visto uma roupa fresca que oculta as cicatrizes do meu corpo e
sigo para o apartamento de Zoey, convicto de que hoje nã o teremos
nenhum motivo para discutir. Nã o quero estressá -la e nem colocar Mavie
sob esse sentimento. Faltam apenas quatro meses para o nascimento,
até lá , Zoey e eu teremos que aprender a conviver sem querer matar o
outro.
Pego o elevador até o quarto andar, recebendo um olhar
espantado do porteiro novo, que me olha da cabeça aos pés como se eu
fosse uma figura inusitada. Nã o estranho o olhar. Nã o existem muitas
pessoas com mais de 2 metros de altura andando tã o livremente por aí.
Bato na porta e quando ninguém vem me receber, eu forço a
maçaneta, me surpreendendo por estar aberta. A sala está limpa e em
silêncio, sem a presença inquisidora da cuidadora de Zoey. Verifico as
horas do reló gio da parede, me certificando de que Zoey já esteja
acordada e se preparando para tomar café.
Estou pronto para começar o café da manhã , mas sinto a
necessidade de verificar Zoey e saber se ela acordou bem, entã o sigo
para o corredor a passos curtos e quando estou entre o quarto dela e o
banheiro, começo a ouvir gemidos profundos, baixos e necessitados.
Imediatamente vou até a porta, e antes que a abra eu diferencio o
tipo de gemido e esse que está vindo do banheiro nã o é de dor. Engulo
em seco, cerrando meus punhos e prendendo minha respiraçã o,
inclinando meu pescoço para que eu possa ter certeza.
O som é abafado, mas claro. Eu jamais confundiria os gemidos
dela. Sei quando é de dor e quando está envolvido de prazer. E esse que
raspa sua garganta e engloba o espaço é manhoso, um pedido por mais…
Sem qualquer barulho, eu giro a maçaneta e abro a porta devagar,
tendo a visã o de uma Zoey com os olhos fechados e a cabeça arqueada
para trá s dentro da banheira, com a mã o em um esforço longo para
alcançar sua carne e essa imagem envia ondas de prazer para o meu
corpo; acorda o que estava adormecido desde que nos separamos e eu
preciso travar no lugar para nã o reagir a imagem, contudo, é impossível.
A imagem dela dentro da banheira cheia de espuma, com a
barriga saliente amostra, a pele molhada e pá lida brilhando e o cabelo
preto para trá s, enquanto a boca está aberta e os olhos apertados…
Consigo ver tudo através do espelho em frente a banheira. Vejo a luta
dela para alcançar a carne sensível, a barriga está dificultando e os
gemidos de prazer se misturam aos de frustraçã o.
Ah, minha Zoey. É para isso que estou aqui.
Caminho até ela com a boca seca e os olhos cheios de luxú ria,
totalmente envenenado pela visã o e perto da perda do meu controle.
Meu pau roça contra a calça jeans e eu mantenho minha respiraçã o
controlada.
Sento na borda tã o silenciosamente que ela nã o nota minha
presença, concentrada, com os olhos fechados e a boca aberta em busca
de alcançar o á pice. Porra…
Desço meus olhos da sua garganta, ondulando até os seios cheios
e expostos, com auréolas rosadas. Caralho, os peitos dela estã o enormes.
E a barriga dela… Zoey está magnífica, ainda mais do que era e eu quero
muito louvar a ela como a minha deusa.
Mergulho minha mã o na á gua, cobrindo minha mã o na sua
intimidade, sentindo os dedos pequenos dela no seu clitó ris e dentro de
si, Zoey arregala os olhos espantada, prendendo a respiraçã o.
Seus olhos nublam ao me ver e antes que ela diga algo, eu tiro sua
mã o do meu trabalho e traço uma carícia no seu pontinho inchado.
— Shii, deixe que eu faço. Precisa de pressã o, assim, querida. —
Pressiono meu dedo no seu clítoris ouvindo um suspiro longo saindo da
boca de Zoey, circulando com a mesma pressã o.
— E-eu nã o dei permissã o para você entrar aqui. — Sua voz é
estrangulada, desesperada e antes que ela pense demais, eu introduzo
um dedo dentro do seu canal ensopado, sendo recebido por um aperto.
Porra. Nó s dois prendemos nossa respiraçã o e Zoey fecha os
olhos, abrindo a boca em um gemido surdo. Suas mã os agarram a borda
da banheira e ela abre mais as pernas e minha vontade é de entrar
dentro com ela, me livrar das minhas roupas e fazer o trabalho com meu
pau dolorido, mas isso é gostoso. Ver ela se contorcendo de prazer,
incapaz de fechar a boca e abrir os olhos.
Mantenho pressã o com movimentos circulares no seu monte de
nervos, coloco e retiro o dedo de dentro dela, a sentindo dilatar, e pedir
por mais que um dedo. Entã o, introduzo outro e ela grita, arqueando as
costas.
Estou sem ar e com o peito queimando de desejo, eu baixo minha
testa e encosto a minha na dela. Zoey captura meu pescoço, suas unhas
na minha carne, e seus gemidos ficam mais fortes a cada movimento
rá pido que faço dentro dela.
Zoey me segura como se estivesse na beira do abismo, e eu uso
minha outra mã o livre para segurá -la pela lateral do corpo, para que ela
nã o escorregue dentro da banheira.
— Ahhhh! — O anú ncio do orgasmo é como mú sica para os meus
ouvidos e suas unhas rasgando a pele do meu pescoço, é um maldito
gosto bom.
Quero passar mais tempo com o toque dela, dentro dela, mas
porra, ela está tã o perto e ela quer tanto isso.
— Amor, você quer gozar? — Minha voz é rouca, quase animal.
Zoey aprofunda suas unhas e puxa os fios de trá s do meu cabelo.
— Ibrahim… — clama.
— Ok, vou te fazer gozar forte, mas seja uma boa menina e me
deixe ver seus olhos se entregando.
Ao invés de se afastar, ela me surpreende quando cola seus lá bios
nos meus em um beijo quase terno se nã o fosse a situaçã o atual. O beijo
me acende. Um toque de fogo em uma pele gelada e eu fecho meus olhos,
mantendo os ritmos das minhas carícias.
Zoey movimenta seus lá bios ú midos nos meus, afundando seus
dedos no meu cabelo, me puxando para ela, gemendo contra meus lá bios
e tocando sua língua com a minha. O beijo parece diferente de todos, é
novo, necessitado e repleto de um sentimento distante que nenhum de
nó s conhece. Ele se encaixa. Ela se encaixa e gosto tanto do que está
acontecendo, que quando ela goza e petrifica os lá bios nos meus, eu nã o
consigo parar de beijá -la, nem mesmo quando sinto suas paredes se
contraindo ao redor dos meus dedos.
Ela leva mais tempo que o normal para se recuperar e nossos
lá bios ficam grudados, com as mã os dela ao redor da minha cabeça
perdendo as forças. Eu a puxo para mim, tomando cuidado com a
barriga quando desgrudo meus lá bios dos seus para abraçá -la, me
molhando inteiro no processo. Ela está trêmula e fraca nos meus braços,
e o calor irradia do seu corpo molhado.
Estico o braço livre para apanhar uma toalha e cobrir seu corpo
antes de voltar a aninhá -la nos meus braços, beijando seu cabelo, seu
rosto e sua boca.
Estamos bem por esses poucos minutos, voltamos a nos conectar,
e eu a tenho frá gil e adorável nos meus braços, mas esse momento é
extremamente curto.
Zoey se ergue das minhas pernas e caminha para o centro do
banheiro, substituindo a toalha por um roupã o em um completo
silêncio.
— Sente-se na cadeira, vou secar seu cabelo — digo, me
levantando da borda com uma certa dificuldade.
Ainda de costas vejo ela balançar a cabeça.
— Saia.
— O que disse?
— Saia.
— Zoey, querida…
Ela me olha pelo reflexo do espelho e seus olhos estã o duros e
maliciosos, quase perturbados.
— Nã o confunda as coisas, isso nã o significou nada. Foi só tesã o.
Meus hormô nios estã o alterados e eu faria isso com qualquer um que
fosse capaz de me dar um orgasmo, nã o se sinta especial e nem ache que
estou amolecendo. Você entende de necessidades, nã o entende? — Ela
sorri cruelmente. — Acho que vou precisar de você mais vezes para isso,
porém nã o ache que você vai passar de uma ferramenta de prazer para
mim. — Suspira, caminhando até a pia para escovar os dentes. — Estou
com fome, adoraria os ovos com queijo que você fez outro dia. Vá
preparar e me deixe terminar as coisas aqui.
Eu fico mudo com o tamanho do estrago que suas palavras e
indiferença entram em meus ouvidos e se desenham no seu rosto
enquanto ela me ignora. Nã o tenho palavras para dizer o quanto me
sinto usado e descartado, e o quanto isso me magoa e me enche de uma
vergonha que nunca senti antes.
Mesmo com tudo o que eu fiz com ela, nã o acho que em algum
momento eu a castiguei dessa forma. Envergonhado e me sentindo
usado, eu saio do banheiro com as mã os trêmulas e um nó na garganta,
totalmente vulnerável e exposto como nunca estive antes.
A morte seria melhor que isso.
Ela triturou minha dignidade e pisou nos meus sentimentos.
(...)
Os dias se passaram e eu adoraria dizer que o que aconteceu no
banheiro nã o voltou a se repetir, mas voltou. Um dia depois, eu nem
mesmo havia recuperado os pedaços do estrago que as palavras dela
causaram em mim. Queria ser forte o suficiente para colocá -la contra a
parede e gritar sobre sua atitude de merda e o quanto isso está me
machucando, mas eu nã o consigo. Os momentos que ela permite que eu
toque nela sã o os mais sagrados que tenho da minha vida, e mesmo
quando tudo acaba e ela me manda sair, eu faço isso, torcendo para que
ela me mande ficar.
Sempre ficamos juntos quando Keena nã o está por perto. À s
vezes na sala, no banheiro ou na cozinha, e raramente no quarto dela.
Nã o existe nada da parte dela que seja afetuoso ou respeitoso comigo.
Quando estamos transando é como se eu fosse apenas um acessó rio de
prazer e nã o um ser humano, e quando Zoey se satisfaz apenas se vira
para o outro lado ou some no banheiro, deixando claro que eu devo sair.
Temos momentos como pai e mã e quando ela me deixa sentir
Mavie chutando, ou eu massageio seus pés e costas depois de um dia
cansativo comparecendo a reuniõ es de mã es de primeira viagem e aulas
sobre como cuidar de um recém-nascido. Ela está me deixando
empenhar meu papel como pai do filho dela, e apenas isso.
Por mais vontade que eu tenha de implorar para que ela pare de
me usar dessa forma, tenho medo de que ela nã o queira mais meu toque
e me recuse de todas as formas.
Em uma tarde, quando ela e Reena saem para uma das aulas de
Zoey, eu tento montar o berço de Mavie e os outros mó veis, tentando
escapar dos meus pensamentos e focar na minha fonte de alegria, mas
montar um berço se torna um desafio para mim.
Os parafusos sã o muito pequenos, minhas mã os estã o trêmulas
demais e eu mal consigo ligar a furadeira, isso me enche de frustraçã o e
uma vontade enorme de me esconder do mundo. Virei um inú til que
nem mesmo o berço da filha consegue montar, mas nã o vou desistir.
Mesmo que eu tivesse sem as duas mã os, eu continuaria tentando, nada
me importa mais do que dar a minha filha o que eu nã o tive.
Nã o quero outro homem fazendo o meu trabalho.
Passo três horas para montar a base, sentindo todos os
ligamentos e nervos da minha mã o doerem com a rigidez tomando conta
do meu braço inteiro. Eu preciso de um banho e um pouco de Vodka
para sanar minhas feridas esta noite, visto que Zoey chega cansada e nã o
irá querer minha presença.
Estou prestes a ir embora para o meu apartamento quando meu
celular começa a tocar, penso ser Vadim antes de atender, mas quando
vejo o nome de Zoey meu coraçã o acelera com esperança.
— Oi. Já terminou sua aula?
Ouço o som de pessoas falando atrá s dela e um suspiro vindo da
sua boca.
— Está havendo uma festa para os pais hoje, todos os progenitores
foram convidados. Você quer vir?
— Claro. Chego em 5 minutos.
Desligo o celular, pegando minha jaqueta em cima dos mó veis e
caminho para a saída do prédio, sem nem mesmo tomar um banho
antes, depois de passar o dia todo suando. Eu nã o me importo com isso,
nã o vou perder nenhum momento como pai ou deixar Zoey sozinha
nesse momento, já passei tempo demais ausente durante a gravidez.
Pego um Tá xi, sob o olhar incrédulo do motorista, que me olha
como se eu fosse irreal e suas perguntas sobre meu tamanho sã o ainda
piores. Eu o ignoro, deixando claro que nã o quero conversar.
Chego no centro maternal, onde Zoey está e o qual a trago
quando ela me pede. Adentro o prédio de tijolos, pedindo informaçõ es
sobre onde fica a sala de reuniõ es e uma jovem simpá tica me leva até
ele.
A sala está repleta de balõ es, comida e uma mú sica suave
preenchendo a sala. Localizo Zoey pela roupa e o penteado, e caminho
até ela, que está conversando com uma mulher alta, ambas sorrindo,
enquanto Zoey está tomando algo que deduzo ser suco.
Chego perto delas, colocando minha mã o na base da espinha de
Zoey, a fazendo se virar na minha direçã o e o sorriso nos seus lá bios
congelam, já a mulher sorri ainda mais.
— Zoey, entã o esse é seu marido?! Isso explica o tamanho da sua
barriga, querida. — A mulher, que tem em torno da minha idade, sorri e
estende a mã o na minha direçã o. — Sou Mô nica, a professora.
Aperto sua mã o, mantendo a outra nas costas de Zoey.
— Ibrahim.
— Vocês dois podem ir até o fotó grafo tirar a foto para o mural do
trimestre? Estamos querendo registrar os momentos em família para
reunir lembranças para os bebês quando nascerem, e colocar no mural.
Zoey fica tensa sob minha mã o e a incentivo a caminhar até onde
a câ mera está . Os olhares para nó s dois nã o sã o nada discretos, algumas
pessoas parecem realmente espantadas, porém isso nã o é nada. Eu só
quero ter um momento com a minha família, assim como eles.
— Nã o precisamos fazer isso — Zoey sussurra, enquanto
andamos lentamente. Tem sido cada vez mais difícil para ela ficar de pé.
— O que vou dizer à nossa filha quando ela crescer e ver que os
pais nã o têm nenhuma foto juntos? Vamos tirar essas fotos, e outras.
Sorria. Nã o está fazendo isso por mim ou por você, é por ela.
Minha voz soou ríspida e eu atribuo isso ao fato de Zoey estar
querendo se esquivar de mim todas as vezes, menos quando me quer na
cama dela.
Nó s dois nos posicionamos para a foto e quando o fotó grafo
demonstra desconforto por estarmos tã o distante, eu enlaço Zoey pela
cintura, inclinando sua barriga na minha direçã o, ela olha para mim,
aturdida e a fito com todo amor que existe dentro de mim, mesmo ele
sendo tã o machucado por ela.
Tiramos cinco fotos e circulamos pelo salã o, conversando com
outros casais que tiveram coragem de se aproximar de mim. Quando
percebo que Zoey está ficando cansada e com os pés inchados, começo a
fazê-la se despedir de todo mundo.
Voltamos para o apartamento dela e a primeira coisa que ela faz
quando chega é ir ao banheiro. Aproveito os poucos minutos para fazer
um copo de leite quente para ela e ligo todas as luzes do apartamento,
para que nã o tropece ou esbarre em nada.
Estou terminando de esquentar o leite quando noto que Zoey
está demorando demais e vou atrá s dela, a encontrando no corredor, na
porta do quarto da bebê, vendo o trabalho que fiz em montar o berço.
Ela está encostada na porta, com as duas mã os na barriga,
acariciando-a como sempre faz.
— Ainda nã o terminei, mas garanto que vai ficar pronto antes de
ela nascer — comento, parando ao lado dela.
Zoey respira fundo.
— Eu estava pensando em outro nome para ela.
Olho para a minha esposa.
— Mavie nã o te agradou?
Ela ergue os olhos para mim, eles estã o brilhando e sua voz
parece carregada de sentimentos genuínos.
— Eu passei os ú ltimos dias pensando que se ela tivesse o mesmo
nome que sua mã e, seria uma forma de manter as boas lembranças que
você tem dela, é uma forma de eternizá -la na neta. — Zoey baixa os
olhos para a barriga. — Anna Moreau Vassiliev é um bom nome, e será
uma honra ter nossa filha carregando o nome da pessoa que você mais
amou na sua vida.
As palavras se perdem e o rosto da minha mã e aparece em minha
mente, com seus olhos azuis brilhantes e o cabelo loiro. Meu coraçã o é
quebrado e consertado ao meu tempo, e eu sofro o impacto desse gesto
de Zoey.
Lá grimas ameaçam cair pelos meus olhos e antes que aconteça,
eu respiro fundo e faço um aceno positivo para Zoey.
— Obrigado.
Ela balança a cabeça e faz mençã o de se retirar, mas antes que ela
entre no seu quarto, eu seguro seu pulso e a olho profundamente.
— Eu te amo, Zoey, e isso está me matando.
O silêncio engloba nó s dois e algo se quebra nos seus olhos, como
vidro sendo estilhaçado. Algo brilha ali e eu penso ser lá grimas e que ela
finalmente vai ceder.
— Eu sei, Ibrahim — sussurra. — Amar um ao outro está
arruinando nó s dois. Nã o sabemos como fazer isso, existem muitas
feridas e as minhas nã o parecem cicatrizar.
Puxo-a para o meu corpo, implorando por um pouco de afeto,
qualquer coisa.
— Nã o me descarte esta noite, deixe-me ficar com você. Quero
sentir seu corpo, seu cheiro… Preciso me aninhar em você, Zoey. Estou
tã o machucado. Você pode agir como se importasse comigo? Por favor?
Uma lá grima escorre pelo meu olho e logo outra, minha voz
vacila e minhas mã os tremem. Zoey ergue os olhos para mim e a vejo
sentindo tanta compaixã o que isso nã o me incomoda. Qualquer migalha
dela é o suficiente para mim.
Levo sua mã o até meu rosto, sem controle algum das lá grimas
que saem dos meus olhos e da afliçã o que enche meu peito.
— Eu nã o aguento mais, Zoey. Acabe com isso. Sinto como se
fosse explodir a qualquer momento, tudo dó i. É insuportável está perto
de você, fazer sexo com você e nã o poder te ter de verdade. Eu nunca te
tive de verdade, tive? Isso me assombra. Morro de medo de nunca ser
capaz de me sentir amado por você, quando isso é a ú nica coisa que
quero. — Fungo, tropeçando nas palavras aflitas que saem da minha
boca. — Zoey, eu posso passar o resto da minha vida pedindo perdã o e
aceitando o que tiver para me dar, só me deixe ficar com você, okay?
Meu dedã o acaricia a pele da sua bochecha e seus olhos brilham
com lá grimas. Ela está parada, absorvendo minhas palavras que
parecem ser difíceis demais para ela, pesadas…
Engulo minhas lá grimas, procurando conforto uma ú ltima vez.
Ela nã o me quer mais, só causo sofrimento na vida dela, eu tenho que
acabar com isso.
Limpo minhas lá grimas, buscando a força para o que eu preciso
fazer.
— Só esta noite. Me deixe ter tudo de você por hoje e eu prometo
que assino o divó rcio e nã o a incomodo mais. Só esta noite, eu preciso
disso para seguir em frente. Preciso te amar como deveria ter sido desde
o começo, e por esta noite, eu vou fazer isso.
u quero levar meu tempo com ela, apreciar seu corpo, suas carícias e
E
exaltar todas suas curvas. Quero amá -la como nunca fiz antes, passar
meus lá bios por cada centímetro da sua pele, até que a pró pria Zoey se
convença de que é nos meus braços que ela pertence, que somos o
encaixe um do outro. Isso é tã o ó bvio para mim, mas por que nã o para
ela?
Tomamos uma ducha morna juntos, antes de seguirmos para o quarto,
em silêncio. Lavo o corpo de Zoey com uma bucha e prendo seu cabelo
para nã o molhar. Mesmo com ar denso com tensã o sexual, eu nã o a toco
dessa forma quando estamos embaixo do chuveiro. Eu aproveito o
momento para apreciá -la, admirar e lavar sua barriga, que a cada dia
parece ficar maior.
Eu sorrio ao pensar que Zoey teve uma má sorte ao gerar uma criança
que puxou ao meu gene, e em como ela é pequena e mesmo assim
consegue manter essa gravidez tã o ferozmente.
Os olhos dela sã o sérios, mas brilhantes. Um cerco de emoçõ es incendeia
as íris amarelas e eu prendo meus olhos nos dela como uma afirmaçã o
das palavras que disse minutos atrá s. Se ela quer o divó rcio, eu posso
fazer isso, nã o posso? Ela nunca irá embora da minha vida, nã o por
completo. Teremos Anna pelo resto das nossas vidas, estaremos
eternamente conectados, mas, ainda assim, isso nã o me parece o
suficiente.
cho que nem mesmo estar sob o mesmo teto que ela, tocando-a como
A
estou agora, é o suficiente. Meu peito queima por Zoey, e minha urgência
por ela ultrapassa qualquer nível de racionalidade. Eu preciso tanto dela
quanto preciso respirar, e eu sou capaz de tudo, apenas para que ela me
olhe com amor.
A levo para o quarto sem tirar o excesso de á gua do nosso corpo, me
inclino na direçã o dela para tocar nossos lá bios enquanto nos conduzo
até a cama. Sinto Zoey tensa, dura nos meus braços como se estivesse
com medo e eu interrompo o beijo para olhar em seus olhos em meio a
pouca luz do quarto.
— Está com medo de mim? — sussurro, em uma pergunta firme,
levando minha mã o até a presilha do seu cabelo para soltá -lo.
Os lá bios dela tremem e ela balança a cabeça.
— Fico me perguntando se por ser a ú ltima vez, você irá querer ser cruel
e em como eu permitiria isso, apenas para que nó s dois possamos seguir
adiante sem estarmos amarrados a um sentimento destruidor de que
desejamos um ao outro.
Acaricio sua bochecha, beijando sua testa, nariz e bochecha lentamente.
— Por que acha que serei cruel com você depois de tudo, Zoey?
— Porque você nã o conhece outra coisa além da crueldade, Ibrahim.
Mesmo que me ame, vai demonstrar isso da pior forma, porque foi o tipo
de amor que você recebeu. Nã o sabe como ser carinhoso. Sua natureza é
bruta e as poucas vezes que houve um momento de carinho entre nó s
dois, acabou como havia começado: brutal.
A sento na cama, usando minhas mã os para sustentar seu peso, para que
ela nã o sinta as costas doerem. Me ajoelho diante dela, mirando seus
olhos, acariciando a pele da sua mã o fria.
— Você me ensinou a como cuidar de você, Zoey. A como te tocar e eu
quero fazer esta noite ser sobre amor, quero que se encerre da maneira
como você merecia desde o começo. Naquela noite, na neve, eu era o
pior que podia dar para você, mas hoje eu quero te dar o que nã o pude e
que toda mulher merece. Eu quero te amar como se nã o houvesse um
amanhã e preciso que confie em mim para isso. Pode fazer isso por mim,
amor?
s olhos dela continuam brilhando.
O
— Uma ú ltima noite?
Com o peito apertado demais, eu aquiesço.
— Nossa ú ltima noite — afirmo.
Zoey assente e eu a beijo suavemente, contendo a urgência
tamborilando nas minhas veias, reprimo todos meus demô nios e fecho
meus olhos, pedindo abertura para saborear mais dos seus lá bios, me
encaixar na sua boca da maneira certa, e ela retribui ao beijo, me
deixando incapacitado de pensar, apenas com vontade de me derreter
sobre ela.
Levo seu corpo para o centro da cama e me concentro em beijar cada
centímetro de pele perfumada que encontro, sentindo Zoey começar a
relaxar e suspirar com o contato dos meus lá bios pelo seu pescoço,
clavícula e ao redor dos seus seios até a barriga.
Nã o quero que tudo se resuma ao sexo, eu quero amar cada pedaço dela
antes de estar dentro dela.
— Eu amo como sua pele é macia, como seu corpo ondula quando toco
nele e em como você cora ao sentir prazer. — Confesso me equilibrando
nos braços para nã o pressionar sua barriga. — Amo a sensibilidade que
tem nas costelas quando eu encosto a minha língua… — Desço meus
lá bios até as esquerdas sentindo Zoey se contorcer e suspirar — …
Assim, querida. Assim mesmo.
Zoey leva suas mã os até meus braços e eu me deleito com seu toque.
— Gosto de ser o ú nico a saber como você fica vulnerável a manhosa na
cama, isso me enche de alegria e excitaçã o. — Beijo seus lá bios,
descendo minha mã o até os lá bios de baixo. — Porra, e eu amo como
você lubrifica rá pido. — Contenho um gemido ao sentir sua entrada já
ú mida.
— Ibrahim… — geme, necessitada, com as bochechas rosadas e a
respiraçã o pesada.
Sorrio sob a tortura, me sentindo cada vez mais duro e dolorido contra
ela, e Zoey também sente e isso a faz ficar ainda afoita.
— Shii, princesa. Nó s vamos com calma, quero tomar meu tempo com
você. — Sugo a pele do seu pescoço, mordendo-o o suficiente para
deixar uma marca. — Que coisa feia da minha parte deixar minha esposa
grávida com um chupã o no pescoço. O que as pessoas irã o pensar de
você, Zoey?
Suas unhas afundam nos meus bíceps e ela abre as pernas, tentando me
abraçar, e quando sinto meu pau pincelar sua entrada, é preciso todo o
autocontrole da minha parte.
— Você também nã o vai aguentar muito, vamos logo com isso. Eu
preciso de você dentro de mim. Uma vez, depois outra e outra — geme e
eu rosno contra sua mandíbula ao perceber o tom necessitado na sua
voz.
Desço meu corpo pelo seu torso, dando atençã o a sua barriga até chegar
no meio das suas pernas, sentindo Zoey à s abrir mais para mim. A
imagem dos lá bios ensopados e brilhantes me atinge como uma bala e
eu perco a respiraçã o, contendo o xingamento.
— Tã o malditamente perfeita! — rosno, enfiando meu rosto entre suas
pernas, indo direto para fonte de mel.
Zoey arqueia as costas o quanto pode e inclina o quadril em minha
direçã o, enquanto perco meu juízo a chupando como se ela fosse a fruta
mais doce do mundo. E ela é. O gosto dela é carimbado na minha mente
e sempre que minha língua o recebe é como se os fogos de artifícios de 4
de julho fossem disparados.
Porra! Porra!
— Ibrahim!
Caralho, já ?
— Nã o, Zoey. Se concentra, nã o quero parar agora. — Passo minha
língua por toda extensã o antes de mergulhar novamente na sua fenda.
— E-eu acho que nã o consigo… — Arqueja tentando fechar as pernas.
Volto a separá -las com as minhas mã os, nã o deixando nada me
desconcentrar da minha extraçã o de mel.
— Claro que consegue, é só se concentrar. Nã o goza agora, amor, eu
quero te chupar até perder o juízo.
Ela deve estar apertando o lençol, seu corpo está tenso e ela geme entre
dentes, grunhindo como um animal ferido e inferno, os sons que ela faz,
o gosto dela… Tudo isso vai me fazer explodir logo em breve sem que eu
precise me tocar. Porra, sou eu quem deve se controlar.
— D-desculpe.
Ela treme inteira na minha boca, suas pernas viram gelatina, enquanto
ela explode com um grito longo. Seu líquido escorre pela minha boca e
eu capturo cada gota, sentindo a força de Zoey vir junto com ele.
Quando volto para cima dela, a vejo de olhos fechados e boca aberta,
sorrio com a imagem, vendo seu peito subir e descer em uma respiraçã o
ofegante.
— Ei, olha para mim.
Zoey abre os olhos e estã o cheios de vida, cintilando a luz amarela
maravilhosa deles, que me deixam incapacitado por alguns segundos,
absorto na beleza deles.
— Quero que ela tenha seus olhos, será a coisa mais linda da minha vida.
Sinto que se ela puxar a você, teremos a sorte de ter uma filha tranquila
e com o coraçã o bom.
— Sinto que ela será um clone feminino seu, ela já começou a se
assemelhar a você desde a barriga. Sabe como é difícil encontrar uma
posiçã o para dormir com um bebê do tamanho dela? — Sua voz é rouca,
bem-humorada e nó s dois sorrimos.
— Espero que seja apenas o tamanho que ela puxe de mim, mas se nã o
for, nó s dois daremos um jeito. Estou pronto para amá -la como merece e
nunca desistir dela.
Zoey leva a mã o até meu rosto.
— Eu sei. Nã o tenho dú vidas de que será um bom pai para ela. Em algum
momento desse ú ltimo mês você também se tornou um bom marido.
Uma luz verde de esperança se acende dentro de mim, mas perde sua
força quando Zoey completa o que está falando.
— Mas eu nã o quero você de volta, só quero que isso termine.
Isso me corta em pedaços tã o pequenos que me mover significa me
desmontar inteiro.
— Me matar teria o efeito que você deseja, esposa, porque só eu morto
nã o vou estar presente na sua vida. Mesmo quando essa noite acabar, e
se isso acabar em divó rcio, eu nã o vou superar você e nem deixar que
você tenha outra pessoa. Eu prefiro morrer a te ver com outro, entendeu,
bem? — Minha voz vacila diante da torrente dura da verdade doentia
que nos cerca.
Saio de cima dela, me sentando sobre meus joelhos com os olhos
ardendo e a garganta queimando.
— Você sabe, eu sei que isso aqui nã o vai ser o fim, Zoey. Nã o vai existir
uma vida na qual eu consiga viver sem te amar desesperadamente e meu
pior castigo é acordar todo dia sabendo que você me rejeita. Esta noite
eu terei tudo e espero que isso me conforme, mas nã o apareça com
ninguém, jamais, na minha frente. Posso te dar o divó rcio e seguir
coexistindo com você, como pai da sua filha, e ex-marido. Mas, eu nunca
vou aceitar te ver com outro homem.
Ela se ergue com os olhos mais sérios e uma expressã o abatida.
— Você acha que vou ser capaz de amar outra pessoa depois de ter
minha cabeça e coraçã o contaminados pelo tipo de amor doentio que
você injetou em mim? — Sua voz fraqueja e ela respira fundo. — Eu nã o
consigo parar de ficar voltando para você, sempre procurando um
motivo para te ter ao meu lado e isso é tã o ferrado depois de tudo que
me fez… — Ela leva as mã os até a cabeça. — Nã o consigo parar de
pensar que isso nã o é normal, que eu nã o deveria sentir o que sinto por
você. Estou sufocando, Ibrahim. Minha cabeça parece que vai explodir ,e
mesmo eu dizendo que nã o, nã o sou capaz mais de negar que isso é
amor. Eu me apaixonei por você sem nem mesmo saber como. Um dia fui
dormir te odiando e no outro acordei te amando. Como pude ser capaz
de amar uma pessoa que só me fez mal?
Lá grimas descem pela sua bochecha e ela funga com sua confissã o que
me deixa paralisado na cama, assimilando o que ela acabou de me dizer.
Zoey me ama? Ela acabou de dizer as palavras?
Fito seu rosto angustiado, tentando me compadecer dela porque, para
todos os fins, isso nã o deveria ter acontecido. Zoey e eu nos casamos
como inimigos mortais, indo até o fim desse poço de ó dio quando
ofendemos um ao outro e nos maltratamos de diversas formas. Esse
amor é o sentimento mais puro que nasceu entre nó s dois, e foi
contaminado por todos os sentimentos ruins que nos predominavam.
Foi como uma semente que nasceu em um solo arenoso, cheio de
pedregulho, onde nenhum de nó s dois cuidou para que fosse cultivado,
mas ele foi crescendo, independente das pessoas ao redor, da situaçã o,
do tipo de clima.
A gente nã o escolhe amar alguém, na maior parte do tempo. Sim, o amor
é uma escolha, mas à s vezes ele também é um acidente. Nã o deveríamos
ter nos apaixonado, e olhe onde estamos, magoados e sangrando, com a
constataçã o de que amamos um ao outro e nã o conseguimos seguir sem
o outro.
Se estávamos predestinados, o destino foi cruel no momento que
plantou esse amor entre nó s dois. Nã o tenho muitas crenças, mas
acredito que se existiam outras vidas, Zoey e eu somos alma gêmeas,
entã o devemos ter feito muito mal ao karma para que nossa uniã o nessa
vida tenha acontecido assim.
Eu olho para ela chorando e encontro minhas pró prias lá grimas
silenciosas. Me aproximo de Zoey, trazendo-a para o meu peito,
enquanto sinto seus soluços e minha lá grimas caindo no seu cabelo.
Nossos corpos nus parecem esfriar e buscam um no outro uma camada
quente de proteçã o, e até mesmo nesse momento eu sinto nosso encaixe.
É terrível como tudo desde o começo se encaixou, quando deveria ter
sido o contrá rio. Nã o era pra ter atraçã o. Nada além de ó dio e retaliaçã o,
mas olhe para nó s dois agora: machucados demais por amar um ao
outro.
— O que faremos? — soluça, enfiando seu rosto no meu peito.
Beijo seu cabelo, sentindo mais lá grimas caindo do meu rosto.
— Vamos aprender a tornar isso saudável, faremos esse casamento dar
certo, Zoey. Sem mais ó dio, mentiras ou segredos. Vamos fazer terapia,
se for preciso. Estou disposto a tudo para sarar nó s dois e todos os
danos, teremos uma filha e quando ela nascer terá um pai e uma mã e
com o dobro de amor para depositar nela. Nó s vamos conseguir, Zoey.
Nã o se preocupe, vamos cuidar disso. — A abraço com força, contendo
um soluço. — Eu prometo que vamos nos consertar, querida. Eu
prometo.
(...)
bservo Zoey dormir tranquilamente em meus braços, abraçada ao meu
O
corpo, com sua barriga apoiada em mim, e eu sou incapaz de fechar
meus olhos e deixar que minha mente tente apagar essa visã o dela tã o
pacífica, me abraçando como se eu fosse seu bote salva-vidas, confiando
em mim como sempre deveria ter sido.
Mantenho meus dedos acariciando seu cabelo enquanto meus lá bios
estã o colados na testa dela. Desvio meus olhos para a janela do outro
lado do quarto, pensando que esta é uma das muitas madrugadas que
passo em claro, mas com Zoey nos meus braços. E dessa vez, continua
sendo ela o motivo da minha insô nia, e também, dos pensamentos de ser
melhor por ela.
Quando os primeiros raios de sol apontarem no horizonte e eu preparar
o café da manhã dela, eu darei meu primeiro passo para fazer esse
casamento dar certo. Está na hora de pedir perdã o a família dela, de me
curvar e deixar claro o quanto amo a filha e irmã deles, e que nã o estou
disposto a deixá -la.
O principal de tudo, é deixar Zoey segura quanto à s minhas açõ es e
sentimentos. Eu jamais a farei duvidar de mim de novo, dela mesma. Vou
mostrar que esse amor nã o precisa ser doloroso, nocivo. Anna virá ao
mundo com pais melhores e terá a melhor família que eu poderei
fornecer a mã e e filha. Para isso, eu vou enfrentar todos meus medos e
dilemas e entre todos eles está Vittorio, Alessio e Kai Moreau.
Sei o quanto a família importa para Zoey e que nã o há nenhuma chance
de ela reivindicar a eles, e eu tampouco pediria isso. Já tirei muito dela, é
a minha vez de ceder alguma coisa.
Aos poucos, tornaremos isso saudável.
Zoey desperta por volta das 7 da manhã e leva alguns segundos para
perceber onde está e com quem, mas assim que percebe pisca os olhos e
eu a puxo para mais perto.
— Você parece ter dormido bem — comento, beijando sua testa.
Ela respira fundo, afundando o rosto na curva do meu pescoço enquanto
descansa a mã o no meu peito.
Você é um apoio melhor do que o travesseiro, eu mal senti a Anna
—
mexer durante a noite. Foi uma noite maravilhosa de sono, como nã o
havia tido há meses — confessa, abrindo um sorriso satisfeito.
Levo minha mã o até sua barriga, fazendo movimentos circulares por
toda extensã o.
— Bom saber disso, é mais um motivo para manter meu lugar nessa
cama. — Desço meus lá bios até os dela, iniciando um beijo lento.
A mã o de Zoey sobe para meu cabelo e suspira contra meus lá bios, me
abraçando da maneira como consegue.
— O que quer de café da manhã ?
Sinto seu sorriso contra meus lá bios e sua mã o descer pelo meu
abdome. Porra, eu amo a libido que a gravidez potencializou nela e todo
o atrevimento também. Em um segundo Zoey está montada em mim,
com os cabelos assanhados caindo pelo seu ombro. Ainda estamos nus
da noite de ontem e só de ter dormido com ela, mesmo a mente a mil,
acordei com uma puta ereçã o.
Isso deveria ser errado? Acordar excitado pela esposa grávida? E se ela
nã o estivesse com tanta disposiçã o por sexo como Zoey está ?
Meus pensamentos vã o para o ralo quando Zoey se encaixa no meu pau
e desliza por ele com um gemido alto, me fazendo apertar seu quadril e
morder os lá bios.
— Porra, Zoey! — praguejo, sentindo meu pau ir fundo nela, sua boceta
deliciosa e quente me apertando. — Porra, que delícia!
Zoey espalma as mã os em meu peito, começando a rebolar com
movimentos lentos. A cara dessa safada mordendo os lá bios, seus
movimentos sinuosos… Porra! Que inferno de mulher perfeita.
Sou incapaz de tirar meus olhos dela enquanto ela satisfaz a nó s dois, e
eu só consigo pensar que eu criei um monstro no quesito sexo. Ela é
fantá stica e eu nã o sei como manterei minhas mã os e meu pau longe
dela por alguns dias.
Nã o demoro muito para alcançar meu á pice, mas retardo meu ponto de
inflexã o para que Zoey venha comigo, e quando acontece, eu ergo meu
tronco para conter nosso grunhido, beijando sua boca e sugando todos
os seus gemidos com a minha língua.
ncerramos o primeiro sexo matinal, indo para o banho juntos. Deixo
E
Zoey se arrumando e vou fazer o café da manhã , mas percebo, antes de
começar a pegar nas panelas, que hoje nã o é um dia bom para minha
coordenaçã o motora.
Estou com os dedos rígidos e derrubando os talheres, tento me virar,
mas é uma missã o arruinada e eu me frusto. Preciso respirar fundo e
mandar todas as sensaçõ es ruins que me circulam nesse momento para
as profundezas.
— Deixe que eu cuido disso. — Zoey aparece do meu lado, tomando a
espá tula da minha mã o com dificuldade.
Ela sorri, assumindo o fogã o e eu me afasto para tentar esconder dela
minha fraqueza e inutilidade, mas ela percebeu isso há muito tempo.
Passamos quase todo o tempo juntos, e Zoey deve ter associado uma
coisa com a outra. Ela já presenciou eu tendo dois minis apagõ es
durante uma conversa, ou perdendo a linha do raciocínio e a expressã o
nos olhos dela foram de total compreensã o, como agora.
— Você nã o deveria estar vendo alguém para te ajudar com isso? — Sua
voz suave soa atrá s de mim.
— Como assim?
— Um médico.
Suspiro. Abandonei a fisioterapia no primeiro segundo que vi resultados
para vir atrá s de Zoey.
— Vou voltar depois que resolver algumas coisas.
Ela olha rapidamente para mim.
— Assuntos da organizaçã o?
Balanço a cabeça.
— Vou solicitar uma reuniã o com seu pai e irmã os. Preciso me desculpar
e encontrar uma forma de convivemos como uma família.
Zoey apaga o fogo dos ovos e se vira na minha direçã o com o nã o pronto
a ser dito, mas balanço a cabeça.
— Anna nã o vai ser privada dos avô s por causa de mim, Zoey. Kai,
Alessio e Vittorio terã o que entender isso. Também nã o estou animado
por isso, mas farei por vocês duas.
Tem certeza de que quer fazer isso? Alessio e Vittorio sã o os mais
—
difíceis de falar.
Nã o estou nem um pouco animado para ver os dois depois de tudo o que
aconteceu.
— Vou embarcar para Las Vegas o mais rá pido possível.
oey nã o fica animada com a minha ida a Las Vegas, e eu tampouco por
Z
deixá -la com a gravidez avançando cada dia mais. Porém, tem coisas que
precisam ser resolvidas e mesmo que, em um futuro distante, os Moreau
e eu nunca possamos conviver de forma pacífica, quero deixar claro a
eles de que estou levantando minha bandeira branca, abrindo mã o dos
benefícios que ganhei ao me casar com Zoey.
Nã o preciso da Camorra, a Bratva está se levantando com força depois
que Vadim e eu temos começado uma nova produçã o de drogas e armas,
distribuindo por toda Europa. Estamos trabalhando com um dos
melhores químicos que se poderia achar e essa parceria já começou a
dar frutos graú dos à organizaçã o.
Em breve, Zoey e eu teremos que embarcar para Rú ssia, nã o posso viver
minha vida longe da administraçã o da Bratva e eu sinto que ela irá
entender quando eu falar sobre o assunto com ela.
Parado em frente ao prédio onde se concentra a Alta Cú pula, eu respiro
fundo, tentando nã o perder o controle caso Kai Moreau e seus filhos
venham para cima de mim, em busca de sangue. Estou seguro quanto ao
pai, mas Vittorio e Alessio? Sã o uma só espécie desprezível.
Sou escoltado e revistado antes de seguir adiante, com dois guardas ao
meu lado, me levando para o quinto andar, onde me colocam em uma
espécie de sala gelada, convertida em um escritó rio. Está vazio. A ú nica
coisa que denuncia que esse lugar pertence a Kai Moreau é uma foto de
Marcella grávida, do que suponho ser dos gêmeos infernais.
Me mantenho calmo, analisando tudo ao meu redor, tentando traçar
uma linha de escape, caso eu precise. Se passam mais de cinco minutos
até uma porta atrá s da mesa ser aberta e Kai Moreau surgir por ela
carregando uma pasta. Como sempre, está vestido de preto e a cicatriz
no seu rosto parece mais acentuada hoje.
— É muito audacioso ou suicida de aparecer aqui — comenta
impassível, enquanto joga a pasta em cima da mesa.
Mantenho meus olhos nos dele, encarando seu rosto como se fosse um
pesadelo que passei anos tendo, só que dessa vez, nã o sinto raiva ou
vontade de trucidá -lo. Estou encarando-o como o pai da mulher que eu
amo, o avô da minha filha.
— Estou aqui por um motivo simples: sua filha e neta.
Kai se encosta na mesa de vidro, cruzando os braços fortes.
— E o que tem elas? Até onde sei, elas estã o seguras e sendo vigiadas. E
claro, você também sabe disso, já que está vivendo com a minha filha.
Balanço a cabeça.
— Zoey e eu continuamos casados, é um consenso. Iremos criar nossa
filha juntos e o motivo de eu ter vindo até aqui é para deixar claro que
nunca vou ser um empecilho entre a relaçã o que vai desenvolver com a
sua neta. Terá todo o direito de avô , assim como sua esposa.
Um sorriso de desdém desenha os lá bios de Kai e ele respira fundo.
— Veio aqui me informar que está de volta com a minha filha e quer que
eu, minha esposa e meus filhos aceitá ssemos você?
— Nã o quero que me aceitem, nã o estou pedindo por isso. O que estou
falando é que eu nã o irei interferir na convivência de vocês. Serã o bem-
vindos quando quiserem aparecer.
— Está propondo um acordo de paz entre a Bratva e a Camorra?
— Devemos nos unir agora, mais do que nunca. Zoey é uma Vassiliev e
terá a herdeira da organizaçã o. Os sangues estã o misturados, nã o tem
motivos para continuar o conflito. Meu conselheiro está disponível para
ouvir as exigências do seu, e se, no futuro pró ximo, você vier à Rú ssia,
será recebido como um convidado.
rosto de Kai Moreau está sério, ele nã o parece estar cogitando, sua
O
mente está divagando por camadas de cada fala minha, pelas minhas
açõ es.
— Depois de tudo o que fez com ela, como tem coragem de querer ter
uma vida juntos? Eu entendo você estar apaixonado por ela, mas,
sinceramente? Nã o entendo a minha filha por querer você.
Abaixo meus olhos até a foto onde Marcella está posando, com as mã os
na barriga e um sorriso no rosto. Eu também nã o entendo como ela
continuou casada com um homem como ele.
— Isso é um mistério que você tenta resolver até o dia de hoje, suponho.
Sua esposa tinha todo o direito de ir embora, mas você nã o deixou
porque homens como nó s dois, como seu filho, Alessio, preferimos
morrer a ter que seguir nossa vida sem nossas mulheres. Eu me
arrependo de tudo que eu fiz com Zoey, de ter sido enganado e levado a
crer que tinha sido você o assassino dos meus pais. Vou passar o resto
da minha vida me redimindo com Zoey, você sabe bem como é isso, nã o
é, Kai?
Um brilho gélido passa pelos seus olhos â mbar e ele se apoia ainda mais
na mesa, ficando em silêncio por um breve período .
— Eu nã o gosto de você, e na primeira oportunidade que eu tiver, vou
acabar com sua vida. Eu prefiro Zoey viú va do que casada com alguém
assim. Nunca existirá paz entre nó s e eu nunca colocarei meus pés no
seu territó rio. Sobre minha neta, eu a amo e farei de tudo por ela. Quero
acompanhar o nascimento, o crescimento dela, mas eu nã o quero que
isso aconteça com sua sombra por perto. Entã o, o que tenho a propor é
simples.
Retifico meus ombros, esperando pelo pior que está por vir.
— Zoey dará à luz em Las Vegas, na Camorra. A criança será americana e
terá a iniciaçã o que a mã e teve.
É a minha vez de rir.
— É claro que nã o. Minha filha vai nascer no local onde deve. Anna
pertence a Bratva e é lá que ela irá crescer. Sinto muito pelo seu orgulho,
mas se quer conviver com sua neta, entã o comece a cogitar visitá -la na
Rú ssia, Capo.
desafio brilha nos olhos de Kai, mas ela nã o contesta e quando penso
O
que teremos um confronto, fico mais aliviado ao ver seu silêncio como
uma aceitaçã o.
A porta atrá s dele se abre novamente e Alessio e Vittorio saem dela. É
assustadora a semelhança, mesmo ele sendo gêmeos, a ú nica coisa que
me faz diferenciá -los é a roupa. Vittorio está sempre vestido de social
enquanto Alessio prefere roupas despojadas.
E com certeza o olhar.
Percebo quem é Alessio pela intensidade selvagem e macabra nos olhos,
me olhando como se eu fosse uma presa interessante para brincar,
enquanto Vittorio nã o demonstra nada além de uma raiva fria, que deixa
qualquer pessoa com medo das suas açõ es.
Alessio pode ser o mais descontrolado, mas Vittorio é o mais perigoso e
eu sei o que a combinaçã o desses gêmeos resultou em mim, agora
mesmo enquanto estou pé, eu sinto os danos que causaram no meu
corpo.
— Olhe só para esse brutamontes, está parecendo saudável — Alessio
comenta, baixando os olhos para minhas mã os com espasmos a cada
cinco minutos. — Pelo menos a punheta ficou mais prazerosa, isso
quando consegue bater uma.
Respiro fundo, controlando a necessidade que tenho de querer me
vingar deles dois e fazer pior do que fizeram comigo.
— Bem, Zoey nã o tem reclamado, entã o posso dizer que a brincadeira de
vocês dois nã o prejudicou em nada minha vida sexual.
Os três Moreau se tornam felinos, provocados com as minhas palavras e
eu me mantenho parado no meu lugar, alternando o olhar entre eles.
— Devia ter te matado e tirado da minha sobrinha a desgraça de ter um
filho da puta desgraçado como pai. — É Vittorio quem diz isso, e dessa
vez, seu tom de voz nã o ostenta nenhum tipo de controle.
— Sim, você deveria, mas contou com a sorte de que Zoey nã o
descobriria o que aconteceu comigo e que mesmo que soubesse, ela nã o
iria se importar. Mas, sabe, existe um laço entre marido e mulher que se
desenvolve depois de um tempo e nã o importa o tamanho da fú ria ou a
vontade de deixar o outro… O casal sempre termina juntos. — Olho para
Alessio e Kai — Vocês dois entendem do que estou falando, nã o é? Se
quisessem que Zoey terminasse com um homem bom, teria sido para a
esposa de vocês exatamente o contrá rio do que foram e teriam mandado
ela para longe da organizaçã o. Nã o se preocupem, eu serei bom para ela.
Zoey é a pessoa mais importante da minha vida, e se eu a machucar
novamente, me entregarei a vocês três de bom grado.
Alessio, Kai e Vittorio estã o fervilhando, desejando tirar sangue de mim,
me matar aqui e agora, mas nã o irã o fazer isso, porque além de eu ter
vindo com permissã o, eu sei que Zoey pediu ao três para que me
ouvissem. Dessa forma, depois que eu termino de falar e deixo claro que
eles serã o bem-vindos a conhecer e conviver com Anna, eu me retiro da
Camorra e pego meu jatinho de volta à Suíça.
Eu nã o vejo ou ouço falar de Marcella Moreau, o que deixa claro o que
ela acha da decisã o que a filha dela tomou para vida.
(...)
2 meses depois