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ANAIS DO V CIDIL – JUSTIÇA, PODER E CORRUPÇÃO © 2017 BY RDL

JUSTIÇA, DESIGUALDADE E PUNIÇÃO: A CRISE DE LEGITIMIDADE


DO SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO SOB A ÓTICA VISIONÁRIA
DE VICTOR HUGO EM OS MISERÁVEIS

JUSTICE, INEQUALITY AND PUNISHMENT: THE CRISIS OF BRAZILIAN


PUNITIVE SYSTEM THROUGH THE VISIONARY EYES
OF VICTOR HUGO IN LES MISÉRABLES

T HIAGO B ARBOSA L ACERDA 1


A RQUIMEDES F ERNANDES M ONTEIRO DE M ELO 2

RESUMO: Os Miseráveis é uma obra grandiosa não apenas pelo longo texto,
muito menos pelas inúmeras reviravoltas na trama, mas principalmente por
conseguir tratar de forma tão simples o complexo debate acerca do ideal de
justiça. Através da saga do podador de árvores Jean Valjean, condenado à
prisão nas galés por roubar um pão, Victor Hugo desnuda toda a crueldade
da sociedade francesa do século XIX, denunciando sua extrema desigualdade
social e seu sistema judiciário tendencioso. Construindo sua ficção a partir
de notícias de jornal e pesquisas nos cárceres, Hugo produz mais um
manifesto que um romance. Já no prefácio antevê, como numa profecia, que
enquanto situações semelhantes às narradas no livro perdurassem a leitura
da obra seria válida. Quase duzentos anos depois, no Brasil do século XXI, a
situação é inacreditavelmente semelhante à história francesa. Mulheres e
homens miseráveis levados à criminalidade pela extrema pobreza e
recebendo a punição desproporcional de um sistema judiciário
explicitamente seletivo. Tal qual no romance, há aqui cárceres que mais
parecem “infernos na terra”, nas palavras do próprio autor, perpetuando um
círculo interminável de violência, punindo triplamente através do estigma de

1 Graduando em Direito pela ASCES-UNITA, Caruaru – PE. E-mail: thiagolacerdah@yahoo.com.br. CV


Lattes: http://lattes.cnpq.br/5241881791713504
2 Docente pela ASCES-UNITA, Caruaru – PE. Orientador do artigo. E-mail:
arquimedesmelo@asces.edu.br. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9070169199863154

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LACERDA; MELO – Justiça, desigualdade e punição...

prisioneiro, muitas vezes adquirido por motivos banais. Assim, o trabalho


tem como objetivo traçar os paralelos entre o tempo e espaço de Os
Miseráveis e a realidade contemporânea brasileira, por meio de uma análise
da prática punitiva vigente. Esse estudo demonstra de forma assustadora a
atualidade da obra de Victor Hugo e a premente necessidade de explorá-la.
PALAVRAS-CHAVE: justiça; punição; desigualdade; Os miseráveis.

ABSTRACT: Les misérables is a great work not only for the extensive text,
neither for the countless changes in the plot, but mainly for being able to
retreat the complex theme of the ideal of justice, as simple as possible.
Through the story of the poor tree trimmer Jean Valjean, condemned to
prison in the “galés” for taking a bread, Victor Hugo shows all the cruelty of
french society in XIX century, denouncing its social dissimilarity and its
corrupt justice system. By building his story based on newspapers and his
visits to jails, Hugo produces a manifest more than a novel. In the preface he
saw, like a profecy, that the same situations narrated in the book would
survive for the next decades, maybe for centuries. Almost 200 years later, in
Brazil of XXI century, the same situation of this book is repeated. Miserable
women and men leaded to crime for their extreme poverty and receiving a
disproportional punishment from a corrupt system of law. Therefore, the
present work has as an objective to make paralels between time and space of
Les misérables and contemporary brazilian society, through an analysis of
punitive systems.
KEYWORDS: justice; punishment; inequality; Les misérables.

1 INTRODUÇÃO

Embora publicado em 1862, Os Miseráveis tem como pano de fundo histórico a


França entre os anos de 1815, a partir da batalha de Waterloo, e 1832, com a insurreição
contra o governo de Luís Filipe I. Os eventos históricos tratados na obra, entretanto, não
estão confinados de forma estanque entre essas datas. Ao contrário, como Victor Hugo
deixa explícito ao longo do livro, por meio de inúmeras digressões históricas e
interferências narrativas, a França passava por um processo revolucionário que já durava
anos, estendendo-se desde a Revolução Francesa até os dias em que o romance foi
escrito.

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Um país em constante ebulição política perpassa todo o enredo, seja por meio dos
eventos narrados ou mesmo pelas opiniões e posições partidárias externadas pelos
personagens. As posturas políticas desses personagens, a propósito, revestem-se de
profunda importância moral na narrativa, sendo o mote para conflitos familiares e
mesmo uma determinante de vida ou morte. De fato, essa era a realidade francesa no
pós-revolução, onde não havia meio termo, e o envolvimento pessoal com os destinos do
país era uma atitude, por vezes, quase religiosa. Como destaca o historiador Eric
Hobsbawn (2015),
A Revolução Francesa [...] foi [...] incomensuravelmente mais radical
do que qualquer levante comparável. Não é um fato meramente
acidental que os revolucionários americanos e os jacobinos britânicos
que emigraram para a França devido a suas simpatias políticas tenham
sido vistos como moderados na França.

Esse envolvimento político quase sagrado da época é retratado por Hugo (2012) na
passagem em que o personagem Marius, ao descobrir as origens de seu pai, combatente
em Waterloo e general de Napoleão, deixou de ser monarquista e “se despiu do
aristocrata, do jacobino, do monarquista, quando se tornou completamente
revolucionário, profundamente democrata e quase republicano”. Essa mudança é
descrita “como acontece com todos os novos adeptos de uma religião, sua conversão o
embriagava, transformando-o em apóstolo, levando-o longe demais”.
Não é à toa que a Revolução Francesa é considerada por muitos o marco fundador
do nacionalismo europeu (FAUSTO, 2001; GELLNER, 2000; MOTTA, 1992;
HOBSBAWM, 2015), impregnando não apenas a França, mas inúmeras nações ao longo
do globo com as chamas do patriotismo revolucionário. De acordo com Hugo, “a França
livre e forte tinha sido um espetáculo encorajador para os outros povos da Europa”. E é
esse evento que está presente ao longo de toda a narrativa de Os miseráveis, como
elemento onipresente, sempre vivo e, mesmo após décadas, ainda ditando o rumo dos
acontecimentos. Embora não inserido cronologicamente na história, é esse marco
histórico que inspira os jovens estudantes em sua revoltosa barricada, no clímax do livro.
Por isso Os miseráveis é descrito muitas vezes como um instantâneo detalhado de
toda uma época. Seus personagens vivem às voltas com dilemas morais na mesma

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proporção em que enfrentam ferrenhos embates no campo político e ideológico. Sendo


este, de fato, o retrato de um país que jamais fora o mesmo após sua grande revolução.
Não há como dissociar os personagens de Victor Hugo da história e o envolvimento
destes com os rumos da nação. Os debates acirrados entre revolucionários e
monarquistas, bonapartistas e conservadores não se tratam de exagero ficcional, mas
retratavam os embates que impregnavam o cotidiano das ruas de Paris, uma cidade,
segundo Hugo, que “está sempre com os dentes à mostra; quando não ralha, ri. [...] A
fumaça de suas chaminés são as ideias do universo. Monte de lama e de pedra, se
quiserem, mas, acima de tudo, ente moral. É mais que grande, é imensa. Por quê? Porque
é ousada.”.
Assim, não apenas no romance em estudo, mas em toda a obra de Victor Hugo, as
tensões surgem e se desenvolvem a partir das relações de poder da humanidade, seja no
campo civil propriamente dito como também no âmbito religioso, ou mesmo diante da
natureza. Como disse o próprio autor no prefácio de Os trabalhadores do mar (Hugo,
1979, p. 11):
A religião, a sociedade, a natureza: tais são as três lutas do homem.
Estas três lutas são ao mesmo tempo as suas três necessidades; precisa
crer, daí o tempo; precisa criar, daí a cidade; precisa viver, daí a charrua
e o navio. Mas há três guerras nestas três soluções. Sai de todas a
misteriosa dificuldade da vida. O homem tem de lutar com o obstáculo
sob a forma de superstição, sob a forma preconceito e sob a forma
elemento. Tríplice ananke pesa sobre nós, o ananke dos dogmas, o
ananke das leis, o ananke das coisas. Na Notre-Dame de Paris o autor
denunciou o primeiro; nos Miseráveis, mostrou o segundo; neste livro
indica o terceiro.

Em Os miseráveis, portanto, o autor explora o tecido social da França de sua época,


com foco especial no sistema legal de punição, seus desdobramentos e conflitos a partir,
principalmente, de quem sofre a pena. Não se trata, entretanto, de uma abordagem
maniqueísta, mas do conflito onipresente entre o ideal de justiça e sua concretização
através das leis. Apesar do panorama apresentado ser de uma justiça desigual e por vezes
arbitrária, em diversos momentos há tensões de ambos os lados, seja pelo representante
do estado que sente o peso excessivo do sistema legal, seja pelo oprimido que submete-
se voluntariamente à supremacia legal.

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O mais surpreendente é que o instantâneo de Victor Hugo, quase dois séculos


depois e milhares de quilômetros além-mar, é também o retrato de todo o sistema
punitivo brasileiro contemporâneo.

2 JUSTIÇA E SOCIEDADE

A narrativa do romance de Victor Hugo tem como eixo central a história de Jean
Valjean, podador de árvores do interior francês que, por falta de recursos provocado por
um rigoroso inverno, vê-se compelido a roubar um pão para alimentar os sete sobrinhos
que dependiam de sua renda. É preso imediatamente, sendo condenado a passar cinco
anos nas Galés, mas ficando ao todo dezenove, devido a quatro tentativas de fuga. Já no
relato da prisão, o autor dá o tom de como tratará a questão do sistema punitivo ao longo
de todo o livro:
...foi declarado culpado. Os termos do código eram categóricos. Nossa
civilização tem momentos terríveis; são os momentos em que uma
sentença anuncia um naufrágio. Que minuto fúnebre esse em que a
sociedade se afasta e relega ao mais completo abandono um ser que
raciocina. (HUGO, 2012, p. 145)

Nessa passagem Hugo acena com uma bandeira em relação ao cárcere que só seria
hasteada décadas depois. Ao tratar a sentença como um “naufrágio” e momento
“fúnebre” ele coloca o dedo no nariz do sistema judiciário, acusando-o de ser um
instrumento pelo qual a sociedade abandona um ser racional a verdadeiros infernos. Ora,
tal postura foi ousada considerando-se a época de publicação e as mudanças já ocorridas
no sistema de punição francês que, conforme Foucault (1987), alcançou o “essencial da
transmutação por volta de 1840” e “os mecanismos punitivos” adotaram “novo tipo de
funcionamento”. Embora as técnicas tivessem mudado, para Hugo a essência
permanecia a mesma. Não importava se a guilhotina ou outra forma de suplício público
tivessem sido abolidas, enquanto o principal, que era o abandono do indivíduo a
condições subumanas, permanecia.
A questão levantada no mesmo trecho também não se limita à questão carcerária,
mas à própria lei. A forma semântica que escolheu para designar que “os termos do
código eram categóricos”, em uma frase curta e precisa, sem espaço para mitigação,

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denota a visão de uma norma extremamente fria, inexorável, irretratável. Pode parecer
um questionamento natural para qualquer teórico do direito na atualidade. No entanto,
a França – e o mundo – vinha de uma era de totalitarismo e as revoluções americanas e
francesas tinham difundido o império das leis, "pois não devem governar os homens;
devem governar as leis!" (DIMOULIS, 2011, p. 86), como única forma de garantir as
liberdades e extirpar sistemas opressivos. Nesse contexto, Victor Hugo tenta voltar os
olhos da civilização – não apenas da França, sendo sua intenção claramente universal –
para uma opressão que se perpetua, mudando apenas de método. Enquanto o mundo se
voltava para as leis como solução, Os miseráveis mostrava que era preciso muito mais
do que normas apenas.
Essa contextualização é importante para constatar o poder de vanguarda que o
romance exerceu em sua época e também as reflexões profundamente atuais que ainda
carrega. A segunda metade do século XIX sedimentava o estado constitucional (LA
BRADBURY, 2006) como uma conquista histórica, consagrando o direito como o único
governante válido, legítimo representante do povo. A ideia era que “a submissão aos
mandamentos constitucionais limita o risco de decisões arbitrárias das autoridades
estatais” (DIMOULIS, 2011, p. 88) e, até então, essa era a esperança de um mundo
experimentado na opressão. Victor Hugo vem desnudar essa utopia décadas antes que a
própria história o confirmasse. Nas palavras de Vieira (1994, p. 72), “os totalitarismos do
século XX demonstraram a fragilidade do direito estatal em assegurar os direitos
essenciais da pessoa humana”. A denúncia de um totalitarismo das leis é feita pelo autor
ainda no prefácio, quando diz que “enquanto, por efeito de leis e costumes, houver
proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos
[...], livros como este não serão inúteis” (HUGO, 2012, p. 27).
O caso de Jean Valjean, que serve ao escritor de mote a um mundo de reflexões
acerca desse governo das leis, não é mera criação artística, mas fruto da realidade. A
personagem foi inspirada em um caso real de roubo noticiado na imprensa e resultado
das pesquisas do autor sobre o sistema penal francês, tendo publicado anteriormente

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(1829) o romance O último dia de um condenado, verdadeiro manifesto contra a pena


de morte. Segundo Ferreira (2016),
Foi no ano de 1824, contando apenas 22 anos de vida, que o autor [...]
embrenhou-se nas mazelas e na escuridão do mundo da penalização, da
fobia e do terrível enclausuramento. Nesse ambiente suas pesquisas
trouxeram a vida não mais que um personagem excelente, mas também
as sequelas que o próprio autor imaginava que tal sujeito lá preso teria
após sua liberdade. Hugo assim criou Jean Valjean: de dentro de um
dos mais atrozes presídios da França.

Quanto à inspiração, diz o próprio Hugo (2012, p. 148):


É esta a segunda vez em que, nos seus estudos sobre a questão penal e
a condenação pela lei, ao autor deste livro se depara o furto de um pão
como ponto de partida para o desastre de toda uma existência. Claude
Gueux3 havia roubado um pão, como Jean Valjean. Uma estatística
inglesa constata que, em Londres, de cinco roubos, quatro têm como
causa imediata a fome.

Na saga de Valjean, a sentença desproporcional ao crime foi só o início do caminho


rumo à degradante vida que esperava um homem condenado pela lei. A etapa seguinte
seria o cumprimento da pena nas galés, mas antes já começaria o martírio nos
subterrâneos de Paris. Victor Hugo, em suas pesquisas sobre a questão penal, visitou não
apenas a prisão de Touloun, mas verificou todo o trajeto feito pelos condenados até lá,
como descreve em uma cena do livro:
Havia no Châtelet de Paris um longo subterrâneo, situado oito pés
abaixo do nível do Sena. Não tinha nem janelas nem respiradouros; a
única abertura era a porta; os homens podiam entrar, o ar não. [...] Aí
eram jogados os homens condenados às galés até que fossem
transportados para Toulon. [...] Prendiam-nos e ali os abandonavam.
Como a corrente era por demais curta, eles não podiam deitar-se.
Ficavam imóveis naquele subterrâneo, naquela noite [...]. Era a
antecâmara das galés. Era-se jogado ali por causa de uma simples lebre
roubada ao Rei. Naquele sepulcro-inferno, que faziam eles? O que se
pode fazer num sepulcro: agonizavam; e o que se pode fazer num
inferno: cantavam, pois, onde não restam mais esperanças, o canto
continua. (HUGO, 2012, p. 1355)

3 Embarcação muito esguia, com cerca de 20 a 50 metros por cinco de largura, dotada de dois castelos, um
à popa outro à proa, a galé era movida a remos, em geral uns 30 a 60 (metade em cada bordo), remos
esses que oscilavam entre os 9 e os 12 metros de comprimento. Cada remo era entregue a três ou quatro
forçados, o que dá qualquer coisa como 90 a 240 homens em cada embarcação (BRAGA, 1999, p. 187).

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Foucault (1987, p. 285) fala de todo o processo de transporte às galés (ou galeras)
como parte do cerimonial de punição:
A cadeia, tradição que remontava à época das galeras, ainda subsistia
sob a monarquia de julho. A importância que parece ter adquirido como
espetáculo no começo do século XIX talvez esteja ligada ao fato de que
ela juntava numa só manifestação dois modos de castigo: o caminho
para a detenção se desenrolava como um cerimonial de suplício.

Sobre esse caminho descreve Victor Hugo: “Os homens amontoados em cima das
carroças [...]. Vestiam-se com simples calças de algodão e tinham os pés nus metidos em
tamancos[...]. As roupas eram as mais disparatadas e hediondas; nada mais fúnebre que
um arlequim coberto de trapos” (HUGO, 2012, p. 1248). Nas galés, esperavam Jean
Valjean, além do trabalho, “os maus-tratos, as correntes, a masmorra, o cansaço, o sol
inclemente [...] e a cama de tábua dos forçados” (HUGO, 2012, p. 149). De acordo com
Silva (2011), eram poucos os “que saíam sem nenhuma sequela desses trabalhos
forçados. Na maioria dos casos, eles contraíam doenças [...], ficavam aleijados, perdiam
a consciência ou morriam [...]. Das penalidades aplicadas o degredo para as galés era a
mais severa”. Os detalhes vívidos da narrativa por vezes assemelham-se a um relato
documental, resultado da extensa pesquisa do autor, que ficou profundamente
impressionado com Touloun.
Além da frieza da lei e das condições torturantes das prisões, completavam o
quadro hediondo, para o autor, a condição social dos condenados. A maior parte deles
sofrendo dupla punição. Primeiro pela própria sociedade, a viver em condições
miseráveis. Depois, por causa da pobreza, conduzido à criminalidade e então punido
novamente. A violência que surge da miséria é, segundo o autor, responsabilidade da
mesma estrutura que pune: “a sociedade é culpada de não instruir gratuitamente e
responderá pela escuridão que provoca. Uma alma na sombra da ignorância comete um
pecado? A culpa não é de quem o faz, mas de quem provocou a sombra”, afirmando ainda
que “é necessário que a sociedade considere esses fatos, de que ela própria é a causa.”
(HUGO, 2012, p. 47/149). É esse duplo abandono social o ponto nevrálgico do romance,
resumido nas reflexões revoltosas de Valjean:

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Pode a sociedade humana ter o direito de sacrificar seus membros, ora


pela sua incompreensível imprevidência, ora pela sua impiedosa
previdência, acorrentando indefinidamente um homem, entre essa falta
e esse excesso, falta de trabalho e excesso de castigo? Não seria, talvez,
exagero a sociedade tratar desse modo precisamente os seus membros
mais maldotados na partilha dos bens de fortuna e, consequentemente,
os mais dignos de atenção?” (HUGO, 2012, p. 150).

Para o autor, os miseráveis eram, por isso mesmo, os verdadeiros combatentes da


França: “A vida, a desgraça, o isolamento, o abandono, a pobreza, são campos de batalha
que também têm seus heróis; heróis obscuros, maiores talvez que muito herói ilustre”
(HUGO, 2012, p. 950). Como bem observa Ribeiro (2012), “Victor Hugo foi o maior
responsável por se constituir, na França e num mundo inteiro que lia e sentia com base
na cultura francesa, uma preocupação com a miséria. Com ele, não só se deslancha esse
tema como, além disso, se assume uma fisionomia compassiva, solidária”.
Entretanto, mesmo que deixe muito claro no enredo a sociedade como responsável
pelos seus miseráveis e condenados, não é de uma forma dualista que o autor representa
essa situação, como se os privilegiados deliberadamente fustigassem a pobreza. Ao
contrário, o que Hugo queria era justamente abrir os olhos de quem detinha o poder de
mudar a humilhante situação das classes desfavorecidas. Para tanto, criou uma
personagem que encarnava o próprio estado e suas leis, o inspetor de polícia Javert.
Embora muitas produções derivadas do livro tenham retratado essa figura como um
vilão clássico, não foi essa a construção feita pelo autor.
Victor Hugo retrata o inspetor como um exemplo de retidão, o cidadão correto, que
cumpre as leis, o funcionário responsável, incorruptível. O membro exemplar de uma
sociedade que pretende ser justa. Em sua palavras, “Javert era um caráter completo; não
admitia rugas nem nos seus deveres, nem no seu uniforme; metódico com os criminosos
e intransigente com os botões da roupa.” (HUGO, 2012, p. 425). Ele “Tinha atrás de si
[...] a autoridade, a razão, a coisa julgada, a consciência legal, a vindita pública [...];
protegia a ordem, fazia sair da lei o raio, vingava a sociedade, dava mão forte ao princípio
absoluto” (HUGO, 2012, p. 425/426). Personificava o ideal contratualista, especialmente
de Rousseau, para quem o estado, ou “o verdadeiro contrato social, base da democracia,
deve fundar-se na vontade geral ou coletiva, ou seja, na preeminência do público sobre o

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privado” (ARANHA e MARTINS apud GOIRIS, 2011, p. 67). Essa era, justamente, a
feição do personagem policial: a proteção da coletividade acima de tudo, a ordem e a lei
em primeiro lugar.

3 O DILEMA DE JAVERT

É no confronto entre Javert e Jean Valjean que encontramos toda a complexidade


do debate entre direito e justiça, e os becos sem saída em que se encontra todo o sistema
punitivo de uma sociedade desigual como a brasileira.
Na figura do inspetor encontra-se representado o estado e o seu ius puniendi4,
conquista histórica importantíssima que transfere a uma estrutura impessoal o papel de
decidir o direito, evitando que os homens devorem a si mesmos ao executar a auto
vingança, em estado de natureza, como definido por Hobbes5. Acontece que a existência
de um estado e normas que disciplinem criteriosamente as condições para se punir não
é uma garantia de justiça, como bem ilustra Dimoulis (2011, p. 78),
Qualquer “máfia” tem regras de disciplina, possui estrutura
hierárquica, aplica sanções contra os membros que cometem faltas e
consegue impor sua vontade mediante a ameaça ou o exercício de
violência física. Resumidamente, exerce poder e aplica regras
vinculantes. Nada muito diferente daquilo que faz o Estado. O Estado
seria então um poderosíssimo bando de delinquentes? Ou há elementos
que distinguem “máfias” dos Estados juridicamente organizados?”

Em outras palavras, a busca por justiça nem sempre se concretiza em algo justo. O
sistema penal pode ser uma boa ilustração desse paradigma. Um país onde as taxas de
criminalidade são altas, como é o caso do Brasil, geralmente tolera que abusos sejam
cometidos contra os condenados, como a existência de condições estruturais precárias
em presídios e mesmo possíveis torturas, aceitando esses mal tratos como parte da

4 O ius puniendi deve ser compreendido como o direito de punir do Estado, revelando-se no Direito Penal
Subjetivo, que se compõe de três elementos: a) poder de ameaçar com pena; b) direito de aplicar a pena;
c) direito de executar a pena (GOMES, 2003).
5 A concepção de Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem
isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou" o homem lobo do homem"
(CHAUÍ, 2000).

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punição. Defender o direito à dignidade dos presos seria quase uma ofensa à
concretização da justiça.
É a lógica vista no Brasil atual, onde programas policiais repetem o mantra ouvido
na população “de que só existem Direitos Humanos para bandido”, e o mesmo espírito
captado por Hugo (2012) na fala de Javert:
- A bondade que consiste em dar razão à mulher pública6 contra o
cidadão, ao Agente de Polícia contra o Maire7, àquele que está embaixo,
contra o que está em cima, é o que eu chamo de bondade injusta. É por
causa desse tipo de bondade que a sociedade se desorganiza” (p. 320).

Em tese o inspetor apenas deseja o justo, que a ordem pública seja cumprida e que
os cidadãos respeitáveis, assim transmutados pela lei, façam valer os seus direitos.
Entretanto, a sede por legalidade parece justificar qualquer meio para obtenção da
justiça. Não apenas a mesma situação verificada nas Galés da França do século XIX é
encontrada de forma equivalente no sistema carcerário brasileiro, mas também uma
permissividade do estado e da sociedade, como se esse suplício fosse justo a quem ousou
violar as regras. Nas palavras de Matsui (2016), aceita-se “este modelo que revela seu
espírito por meio do seu principal mecanismo que é o cárcere, este ergástulo destinado a
produzir o tormento físico e espiritual, local onde se promove o itinerário das penas
corporais, enquanto rituais de expiação e castigo” A tolerância, assim como no contexto
francês de Victor Hugo, dá-se principalmente em relação ao socialmente desfavorecido.
Flauzina (2010) constatou que
os delitos cometidos pelos indivíduos dos grupos hegemônicos tem uma
tendência a serem imunizados, em oposição aos praticados pelos
segmentos vulneráveis, que são facilmente atingidos pelo sistema
penal. Em decorrência disso, as estatísticas criminais ensejam
interpretações distorcidas, indicando que a criminalidade é
predominante entre os segmentos marginalizados, em razões de fatores
sociais, tais como a pobreza, por exemplo.

O sistema judiciário ainda parece ser mais eficiente nos crimes comuns à base da
pirâmide social, como bem frisa Rolim (2006, p. 233)

6 Termo para designar a prostituta.


7 Equivalente ao prefeito do município.

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Estamos, afinal, diante de um complexo e custoso aparato institucional


que, em regra, não funciona para a responsabilização dos infratores,
não produz justiça, nem se constitui em um verdadeiro sistema.
Quando se depara com delitos de pequena gravidade, o direito penal é
demasiado; quando se depara com crimes graves, parece inútil.

No enredo de Os miseráveis o inspetor Javert, após caçada de longos anos ao


fugitivo Jean Valjean (preso novamente devido ao fato de esconder sua identidade, já
que o estigma não lhe permitia recomeçar a vida), vê-se em uma situação inusitada. É
feito prisioneiro em uma barricada de revoltosos nas ruas de Paris. Incumbe ao ex-
grilheta cumprir a sentença de morte de Javert, mas Valjean liberta seu algoz. Pouco
tempo depois, após o fim da revolta, o inspetor tem nova oportunidade de prendê-lo, mas
questiona-se sobre o que de fato é justo. O questionamento do personagem deve ser a
pergunta de uma sociedade diante de um sistema penal falido:
No mundo pode haver algo mais que tribunais, sentenças executórias,
polícia, autoridade? Javert estava transtornado. [...] Que Javert e Jean
Valjean – o homem feito para castigar e o homem feito para sofrer –,
que esses dois homens, um e outro propriedades da lei, chegassem ao
ponto de se colocarem acima da lei, não é horrível? [...] A falha na
couraça na sociedade podia ser encontrada por um miserável
magnânimo! [...] Nem tudo estava certo nas instruções dadas pelo
Estado ao funcionário! Também o dever podia ter becos sem saída! [...]
Era verdade que um antigo criminoso, curvado sob tantas penas, podia
levantar-se e acabar tendo razão? Seria possível! Haveria, então, casos
em que a lei devia retirar-se diante do crime transfigurado, balbuciando
desculpas?” (HUGO, 2012, p. 1782/1789).

Embora pareça um questionamento até ingênuo por parte de Javert,


principalmente no contexto brasileiro, já saturado por ondas de rebeliões em presídios,
denúncias de corrupção envolvendo altos dignitários do estado, dentre tantas outras
questões que demonstram a fragilidade estatal, essa ainda é uma constatação que gera
perplexidade. Isso porque, por mais decadentes que pareçam as instituições, é nelas, e
no tradicional modelo de segurança pública, que repousam as aspirações da população.
Quando há uma sensação de aumento da criminalidade a principal reivindicação é de
aumento das prisões, endurecimento das leis, pois são esses mecanismos, no imaginário
popular, que concretizam o ideal de justiça.

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A realidade, entretanto, confirma a constatação de Javert, com inúmeros casos em


que a lei deveria “balbuciar desculpas” a tantos condenados. Essa realidade, porém, é
perceptível mas não oficializada. Ela encontra-se nas chamadas “cifras negras”, assim
definidas por Cabete (2007):
A "cifra negra" poderia ser conceituada como "um campo obscuro da
delinquência", consistindo na "existência de um bom número de
infrações penais, variável segundo a sua natureza, que não seria
conhecido ´´oficialmente´´, nem detectado pelo sistema e, portanto,
tampouco perseguido".

Mas essas cifras “ocultas” não dizem respeito apenas à questão da impunidade,
mas também às injustiças cometidas e que refletem o efeito inverso da razão de ser do
judiciário. De acordo com Alves (2005),
Ferrajoli (2002, p. 168) explica que as cifras negras que entremeiam o
sistema de justiça penal abrangem as (a) cifras de ineficácia, demarcada
pelo o universo de pessoas culpadas que ficam de fora do sistema, como
também as (b) cifras de injustiça, das quais participam os inocentes
indevidamente considerados culpados. A importância de delimitar esta
distinção reside na capacidade que as cifras de injustiça possuem para
aprofundar a deslegitimação do direito penal a um ponto de não ser
aceitável falar em expansão da prisão. E somente por meio das
garantias penais seria possível contornar os números da cifra de
injustiça. (ALVES, 2015).

Javert, portanto, vê-se diante do fim de uma utopia, que também é o lema do
mundo ocidental moderno: o reino da justiça a partir do governo das leis. Na mente do
inspetor de Victor Hugo somente uma sociedade respeitadora das leis garantiria a ordem
e o bem-estar universal, mas agora percebia que também as leis poderiam ser um
mecanismo de ofensa, um veículo de injustiças. Assim, o horror de Javert pode ser
verificado em um século XXI que assistiu a guerra em nome da democracia (o reino
legal), o governo ditatorial da maioria. O dilema de Javert é o dilema da humanidade
constitucionalista.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De fato, um romance considerado clássico pode ser definido como aquele que
continua a nos dizer algo mesmo após o teste do tempo e do espaço. Até mesmo para seu

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autor. Victor Hugo, mesmo diante da crua realidade que retratou, acreditava que o
progresso e a instrução cada vez maior da humanidade trariam o fim da barbárie social:
Compadeçamo-nos tanto dos estômagos como dos espíritos que não se
alimentam. Se existe algo mais pungente que um corpo que agoniza por
falta de pão é a alma que morre à míngua de luz. Todo progresso tende
para uma solução. Um dia ficaremos boquiabertos. Elevando-se o
gênero humano, as camadas mais profundas sairão naturalmente da
zona da miséria. A destruição da miséria será obtida por uma simples
elevação de nível.” (HUGO, 2012, p. 1366).

Embora consciente que muito ainda deveria mudar, talvez não imaginasse que a
convivência com a miséria se prolongasse tanto. Sua obra deixa claro, como na passagem
acima citada, que toda essa situação só é possível devido a ignorância, uma ideia
puramente iluminista, ainda fortemente influenciado pelas revoluções que haviam
sacudido a França nas últimas décadas, que prometiam a libertação com o fim das
tradições e o império da razão. Não se pode dizer sequer que houve mudança em terras
francesas e que o problema restringe-se ao mundo subdesenvolvido, como seria o caso
brasileiro. Basta olhar para a situação dos estrangeiros em solo francês, em especial os
provenientes das antigas colônias africanas. É suficiente concentrar a visão nos
subúrbios de Paris, que reviveram as barricadas nas revoltas de 20058.
O apelo de Victor Hugo continua vivo, tanto em seu país como no Brasil. Mas talvez
aqui a contemporaneidade seja mais evidente, parecendo que o livro foi escrito para
nossa realidade. Em parte porque aqui a miséria é mais explícita e a sociedade mais
tolerante. Talvez aqui essas palavras soem mais familiares, mais reais, muito mais
verossímeis:
“Sem dúvida, pareciam bastante depravados, bastante corrompidos,
bastante aviltados, dignos de ódio até, mas são tão raros os que caem e
não se degradam; aliás, há um ponto em que os infortunados e os
infames se misturam e se confundem numa só palavra, fatal palavra:
são os miseráveis. (HUGO, 2012, p. 1033).

Ao mesmo tempo, embora a questão da pobreza seja de fato mais verdadeira em


determinados limites territoriais, a lógica da injustiça não o é. Os condenados pela justiça

8 Ver: http://noticias.uol.com.br/ultnot/2005/11/13/ult23u174.jhtm.

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permanecem com a mesma marca, seja qual for o lugar. A recuperação de criminosos
parece permanecer sem solução e o descaso deliberado das sociedades quanto a tudo que
tem a ver com o sistema carcerário parece permanecer inalterada. E tem-se a impressão
que não se pode tocar nas palavras, de tão fresca que aparenta estar a tinta:
Almas caídas no máximo dos infortúnios, pobres homens perdidos no
mais ínfimo dos limbos, esquecidos de todos, os condenados pela lei
sentem pesar-lhes sobre a cabeça todo o peso dessa sociedade humana,
tão formidável para quem está do lado de fora, tão terrível para os que
são por ela sobrepujados. (HUGO, 2012, p. 156).

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