Uma Analise de Submissao

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UMA ANÁLISE DE

SUBMISSÃO DE MICHEL
HOUELLEBECQ A
PA R T I R D E T E O R I A S
DE RELAÇÕES
I N T E R N AC I O N A I S
CRÍTICAS
Cícero Krupp da Luz1

Os árabes poderiam ser balançados sobre uma ideia


como sobre uma corda, pois a submissão sem compromis-
so de suas mentes os tornava criados obedientes.

T. E. Lawrence
The seven pillars of wisdom: a triumph
(1926)

INTRODUÇÃO

A proposta do artigo é problematizar as ideias centrais


da obra literária de Michel Houellebecq, Submissão, a partir
de uma perspectiva teórica de relações internacionais e de
direito internacional de interseccionalidade com estudos
críticos pós-coloniais, religiosos e raciais, ainda incipientes
na área. Essas noções proporcionam tensionar ao menos dois
pontos perigosos na narrativa do autor: o racialismo religioso
e a anistia às controversas relações internacionais históricas

1
Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo. Atua
como professor do Mestrado da Faculdade de Direito do Sul de Minas e
como professor de Relações Internacionais e de Ciências Econômicas na
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado.

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imperialistas entre a França e os povos árabes muçulmanos.
A descrição do autor dos “novos imigrantes” — em especial,
dos árabes muçulmanos — faz uso de estereótipos e só é um
pouco amenizada pela atitude de desprezo com que ele retrata
o narrador francês, Huysmans. Ainda assim, o minimalismo
cultural para com os árabes muçulmanos reforça traços
ocidentais e nacionalistas, alimentando novamente uma ideia
de que pessoas que não se pareçam com europeus, mesmo que
o sejam, não deveriam ser ou conviver num mesmo Estado-
nação. A narrativa também sustenta uma ideia de que a França
perderia sua hegemonia secular para o povo árabe muçulmano,
vitimizando o povo e o Estado francês. Contudo, a história é
justamente o avesso: a França apenas existe como Estado-Nação
e existiu como império do mundo como país dominador dos
árabes e dos povos que pode conquistar. Essa inversão histórica
é igualmente muito problemática.
Sob uma perspectiva metodológica, o artigo procura
continuar a contribuir com o projeto conjunto chamado
interfaces entre Relações Internacionais e Literatura
Comparada2. A partir de pontos de contato, fatos históricos,
teorias sociais ou obras literárias, essas disciplinas se
encontram, pois sugeriam haver traços em comum às literaturas
do mundo, pela disciplina da Literatura Comparada, e uma
especificidade à maneira como os atores e valores políticos
se comportavam na esfera internacional, pela disciplina das
Relações Internacionais.
No mesmo dia que seria o seu lançamento, acontecem os
ataques fatais contra o jornal Charlie Hebdo, em 7 de janeiro
de 2015, em Paris. O jornal publicava na sua capa uma grande
charge sobre o livro Submissão, de Michel Houellebecq3. Dentre
os jornalistas mortos no massacre, estava um amigo próximo
de Houellebecq, o economista Bernard Maris (BASS, 2015, p.
131). A trágica coincidência, ao longo do tempo, se interpôs às
especulativas interpretações e polêmicas entrevistas do autor

2
Essa é a terceira produção do projeto (cf. CUNHA; LUZ, 2020; 2018; vide
referências).
3
HOUELLEBECQ, Michel. Soumission. Paris: Flammarion, 2015.
HOUELLEBECQ, Michel. Tradução brasileira: Submissão. Tradução Rosa
Freire d’Aguiar. 1ª edição. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

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do livro4.
O seu texto trata de um futuro distópico, dando um papel
significativo à guerra cultural entre oriente e ocidente. No
mundo da narrativa, os muçulmanos, dentro da Europa — em
especial, na França —, vencem as eleições presidenciais de
2022 e emergem como um novo personagem político. Deixam
de ser simplesmente os “submissos” da história para serem o
centro de poder e de cultura. Nesse caso, o Islã também seria
capaz de seduzir o personagem principal da narrativa: um
homem europeu, branco, cis, heterossexual, ateu, apolítico,
misógino, de meia idade. Michel Houellebecq é famoso por
seus personagens niilistas e por eles refletirem uma crítica
aos valores da sociedade ocidental e o declínio da Europa
(SWEENEY, 2019), mas talvez o personagem acima descrito
poderia ter algo a mais por perder antes de se confrontar com
essa inesperada proposta de “submissão” que lhe é apresentada.
“Submissão”, título da obra, é uma tradução aceitável para “Islã”.
Assim, a submissão do catolicismo romano, que está morrendo,
ao Islã. A submissão da cultura e do povo francês e europeu ao
árabe muçulmano.
Nesse contexto, Michel Houellebecq vem retomar o estilo
das distopias. “O universo representado pelos distopistas
desmitifica de forma contundente a idealização de uma
estrutura social capaz de prover a humanidade com um
estado permanente de harmonia, estabilidade e bem-estar”
(PAVLOSKI, 2014, p. 252). A proposta fictícia das distopias —

4
O jornal francês Libération fez uma crítica de deboche sobre a obra,
enfatizando que o livro só havia sido publicado por ter sido escrito por
ele. “Se Houellebecq não fosse Houellebecq, este livro não passaria de
um pochade burlesco e esperto. Por que esperto? Porque o cenário leva a
mais barulhenta ansiedade do momento, a de uma vitória de Marine Le
Pen em 2017” (SCHNEIDERMANN, 2015). Em entrevista ao jornal inglês
The Guardian, o autor afirma: “Sim, provavelmente eu sou islamofóbico”.
Sobre o referendo em torno da União Europeia: “Estou realmente
contando com o Reino Unido para votar não, o que poderia ter um efeito
dominó do colapso da Europa” (CHRISAFIS, 2015). Em outra entrevista,
desta vez para o jornal estadunidense The New York Times, Michel
Houellebecq, questionado sobre a declaração de 2001, quando disse que
“islã é a religião mais idiota do mundo”, afirma: “fundamentalmente, eu
não mudei de opinião” (DONADIO, 2015).

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desenhar futuros subversivos, distorcidos ou invertidos — é
uma escolha consagrada entre autores que influenciaram
debates nas relações internacionais e na ciência política.
A célebre obra de George Orwell, 1984, publicada em 1949,
marcou não apenas os dilemas contraditórios da bipolaridade
da Guerra Fria nas Relações Internacionais, mas é relembrada
ainda hoje para debater os limites do papel digital-totalitário
na relação liberdade e segurança em democracias e outras
formas de governos (GIROUX, 2014). Outra distopia, publicada
recentemente, desta vez pelo brasileiro Ignácio de Loyola
Brandão, chamada Desta terra nada vai sobrar, a não ser o
vento que sopra sobre ela (2018), poderia ser descrita como uma
reflexão sobre o momento político brasileiro5. No caso, a distopia
literária encontra interfaces na política. Nota-se também, que
a relação ficcional entre o autor (Ignácio L. Brandão) e a obra
(Desta terra...) se desdobrou numa série de inferências políticas
a partir de eventos contingenciais da recente história brasileira.
Contudo, as escolhas que o autor havia feito para escrever a
sua distopia tinham relação com a sua concepção e proposta de
cenário ideológico temporal anterior. Isto é, as distopias, tanto
quanto as utopias, por si só já são escolhas relevantes do ponto
de vista da teoria crítica, pois estão reformando as ideias de
futuros da sociedade por meio de esquadros de visões dos seus
autores, que constroem imaginários entrópicos de diferentes

5
O próprio autor Ignácio de Loyola Brandão, em entrevista à Revista CULT,
afirmou: “A gente já está vivendo. A gente não tem um presidente sem
cérebro? É ou não é o Bolsonaro? É um homem totalmente despreparado,
totalmente sem cultura, totalmente sem escola, totalmente sem
raciocínio. É igual aos meus presidentes em Desta terra… um tem uma
doença, outro não tem cérebro, outro vive sem coração. Não existe mais
anonimidade, a gente está vigiado o tempo inteiro. Se você for trepar,
vão saber que você está trepando, se for mijar, vão saber do mijo. Você
é vigiado, fiscalizado. Não tem mais esse ser que se esconde. Você é
coagido a consumir, compra coisa que não precisa. Com o celular, você
não quer em nenhum momento ficar só. A arte da conversação deixou
de existir. A discussão, então, acabou, porque a discussão pode resultar
numa morte. Ninguém mais tolera a opinião do outro, a crença do outro,
a religião do outro, a política do outro, nada, isso não existe mais. Existe
ódio. Isso me incomoda muito, e a única maneira de eu tirar as coisas de
dentro é pôr num livro, botar no texto” (BENEVIDES, 2019).

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possibilidades da vida humana.
A escolha da distopia pode ser um bom instrumento para se
questionar a realidade e as verdades postas. Assim, a obra se
coaduna com a teoria crítica contemporânea das ciências sociais
— em particular, das Relações Internacionais e do Direito
Internacional, ambas com grande interesse pela exploração
histórica e historiográfica, incluindo debates de conceitos de
pós-colonialismo, império e racialização. A teoria crítica do pós-
colonialismo reconstrói a visão na qual as narrativas históricas,
assim como regras de Direito Internacional, podem ter sido
muitas vezes propostas de forma natural, imparcial ou ainda
científica quando, na verdade, são produtos de uma relação de
poder que tem fundamentos ou explicações que datam ainda
de uma geografia entre colonizadores e colonizados. “A política
contemporânea é geralmente vista através das lentes do Estado-
nação, que é amplamente, mas erroneamente, entendido como
tendo origem no sistema de estados soberanos que surgiu na
Europa em 1648” (BHAMBRA, 2020).
Um dos mais destacados precursores do pós-colonialismo é
Edward Said, na obra Orientalismo: o Oriente como invenção
do Ocidente (2007). A ideia central da sua obra foi demonstrar
historicamente casos nos quais a Europa e os Estados Unidos da
América contribuíram de forma efetiva para a formação de um
sentido associado de diferenciação entre os civilizados e os não
civilizados. Todos aqueles que não fazem parte do continente
europeu, ou de sua imagem repetida, seriam povos menores,
bárbaros, não cultos, e precisariam ser civilizados e educados.
Um dos seus casos mais simbólicos diz respeito à conquista do
Egito pela França, quando Napoleão levou a maior comitiva de
savants do mundo até então para analisar, estudar e explicar
ao mundo o que o Egito era; afinal, os egípcios não eram e
nem seriam capazes de fazer algo semelhante. “Sua ideia era
construir uma espécie de arquivo vivo para a expedição, na forma
de estudos realizados sobre todos os tópicos pelos membros do
Institut d’Égypte, que ele fundou” (SAID, 2007, p.124). Assim, o
autor incorpora à ideia de oriental e orientalismo um caráter
ideológico de dominação — uma crítica central às narrativas
históricas, geográficas, políticas e jurídicas:

74
O Orientalismo nunca está muito longe da “ideia de
Europa”, uma noção coletiva que identifica a “nós”
europeus contra todos “aqueles” não-europeus, e pode-
se argumentar que o principal componente da cultura
europeia é precisamente o que tornou hegemônica
essa cultura, dentro e fora da Europa: a ideia de uma
identidade europeia superior a todos os povos e culturas
não-europeus. (SAID, 2007, p. 34)

Portanto, é necessário também estar vigilante a todo


apelo de regras regionais, comunitárias ou internacionais.
Esse é propriamente o problema dos Direitos Humanos e da
democracia ocidental, que talvez sejam ideais seculares demais
para uma sociedade acostumada a outra realidade. Uma
comunidade de valores apontaria para um caminho parecido
com um dos problemas apontados por Koskenniemi (2006), isto
é, os valores podem refletir a hegemonia e império de certos
princípios, seguindo um neorrealismo que preconiza uma busca
por hegemonia. O debate sobre a constitucionalização do Direito
Internacional não deve assemelhar-se com a forma doméstica,
não apenas porque não há no campo internacional uma falta de
poder constituinte, mas, mesmo se existisse, seria um império.
O império é o desafio que quer precisamente debater se o
direito internacional realmente tem o objetivo de refletir alguns
valores substantivos hierarquicamente (KOSKENNIEMI, 2008).
Dentro dessas noções, destacam-se também a nova função
de passado que Anne Orford (2012) propõe desde sua visão da
teoria crítica do Direito Internacional. Ela tem defendido que
tanto historiadores quanto a academia clássica devem entender
o passado como fonte de obrigações (ESLAVA, 2016).
Assim, diante da relação focal entre ocidente e oriente,
argumento deste artigo é que diante de uma perspectiva
dessas novas noções de críticas das Relações Internacionais
e do Direito Internacional será possível uma interpretação
alinhada com noções mais pluralistas de direitos humanos e
de Relações Internacionais, uma vez que novamente na obra e
nessas disciplinas há a interfaces que desempenha um papel
significativo no processo de legitimar ideias dominantes, e na
crítica, uma forma de reorganizar esse poder.

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TERREMOTO MUÇULMANO SACODE A MONÓTONA
VIDA OCIDENTAL

O livro é narrado em primeira pessoa por um professor e


escritor especializado em Joris-Karl Huysmans, um duplo alter
ego de Houellebecq que, além de o autor da obra, é, ele mesmo,
um grande admirador e conhecedor da obra de Huysmans.
Talvez por isso, descreve a vida do narrador como um professor
de literatura da Sorbonne solitário, conformista, misógino e
ateu, até se converter, ao fim do romance, ao islã. “A trajetória
ficcional da vida de François espelha a vida real de Huysmans:
condições de vida sombrias, uma situação de trabalho tediosa,
uma imaginação útil, um pouco de sucesso, uma tendência
para as prostitutas e, finalmente, uma aceitação resignada
da fé” (GOLLNER, 2015). Contudo, restam diferenças: além
de Huysmans ter vivido no século XIX, ele se converteu ao
cristianismo e foi uma pessoa, um escritor de carne e osso.
As diferenças também são mais amplas na descrição que a
narrativa faz do contexto e nas escolhas de vida que François
apresenta no seu modo de ver o mundo, que incluem uma
crítica à vida ocidental, tanto ao consumo quanto à busca pelo
dinheiro: “os romances de Houellebecq tem sido em sua maioria
explorações de uma percepção de um declínio e desintegração
do ocidente” (SWEENEY, 2019, p. 5).
Esse argumento é sustentado pelo retrato inicial da vida
de François, que é resumida por Houellebecq como uma rotina
de um professor que dava aula para alunos desinteressados
numa sala quase deserta (p. 22), vida sexual e amorosa em
declínio (p. 19-20; 39), comida indiana de micro-ondas (p. 30;
44; 48), vinho comum (p. 40; 48) e incontáveis programas de
televisão. O desânimo e desinteresse por desejar algo diferente,
embora more na França, com uma cozinha e alimentos
tradicionais, vinhos variados, é realizada com traços niilistas,
sem críticas ao sistema econômico ou social. A monotonia era
plena.
Até que surge a primeira referência da obra a algum árabe
muçulmano no enredo. François observa: “Diante da porta de
minha sala de aula [...] três sujeitos de uns vinte anos, dois
árabes e um negro, bloqueavam a entrada” (p. 26). A citação
dá início a uma série de afirmações, muitas vezes imprecisas,

76
sobre a ideia de “árabe” e de “muçulmano”. O texto confunde,
inclusive, essas duas noções: ora usa “árabe”, ora “muçulmano”
praticamente ao longo de quase todo o texto, como palavras
intercambiáveis. Sempre que uma etnia ou raça é sobreposta ou
entrelaçada com uma religião, estamos falando de racialização
religiosa (NYE, 2019). Quando sabemos que o maior país
muçulmano do mundo é a Indonésia, que há também inúmeras
outras diversidades de muçulmanos, como persas e indianos,
foca-se no rótulo e categorização árabe. Dessa forma, ainda que
o objetivo não seja debater uma questão étnica ou religiosa, é
ao mesmo tempo explícito que tanto árabes quanto negros
bloqueiam a entrada de franceses à instituição desde o início
do enredo do livro. Isso é percebido na obra e nas relações
internacionais como um todo pela acentuação midiática seletiva
do que é considerado terrorismo depois do 11 de setembro de
2001 e do fluxo imigratório pós-Guerra da Síria de 2011.
A presença de um negro na entrada da porta reforça uma
imagem de medo e racismo. Como escreveu Frantz Fanon, “a
França é um país racista, pois o mito do negro-ruim faz parte
do inconsciente da coletividade” (2008, p. 88). Em particular,
essas populações de árabes e negros, todos imigrantes, surgem
como um novo “problema”, a questão das imigrações e influxos
recentes de refugiados na Europa, e que poderiam criar
inclusive uma possível guerra civil, de acordo com o autor (p.
38). Com efeito, o contexto da obra é o impacto dos imigrantes
muçulmanos dentro na França, e principalmente o seu
papel a partir do momento que eles começam a deixar de ser
simplesmente os esquecidos da história. Os imigrantes saem
dos acampamentos de refugiados e em certo momento passam
a integrar a própria ideia de França de Estado nacional. Como
imagem paralela ao delírio da distopia, pode ser relembrado
o exemplo mais prosaico: as duas vezes que Les Bleus foram
campeões da Copa do Mundo de Futebol, seus times foram
marcados por grande participação de imigrantes. Em 1998,
o grito da torcida era: Black-Blanc-Beur (“Negros, Brancos e
Árabes”); em 2018, vinte anos depois, o time bicampeão de 23
jogadores foi composto por descendentes dezessete nações:
Filipinas, Mali, Mauritânia, Senegal, Argélia, Itália, República
Democrática do Congo, Haiti, Angola, Camarões, Guiné,
Marrocos, Togo e Martinica e Guadalupe (MOREL, 2018).

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A diversidade dos povos não é apenas um valor positivo para
o futebol, uma vez que, por exemplo, a chegada do estrangeiro
é fundamental na mitologia grega como elemento fundamental
para seu desenvolvimento. Nas palavras de Hegel, seria
necessário um estranho/estrangeiro que gerasse a estranheza a si
e a sua superação para gerar o espírito grego belo e livre. Assim,
é a “estranheza em si mesma o único meio pelo qual ele [o
espírito] recebe a força de ser na condição de espírito” (BYUNG-
CHUL, 2019, loc. 76). As relações internacionais guardam
inúmeros exemplos enigmáticos sobre a magnética mistura
entre os “estranhos” igualmente:
Se a contradição for o pulmão da história, o paradoxo
deverá ser, penso eu, o espelho que a história usa para
debochar de nós. [...] Napoleão Bonaparte, o mais
francês dos franceses, não era francês. Não era russo
Josef Stalin, o mais russo dos russos; e o mais alemão
dos alemães, Adolf Hitler, tinha nascido na Áustria.
Margherita Sarfatti, a mulher mais amada pelo
antissemita Mussolini, era judia. (GALEANO,1989, p. 67)

Nesse ambiente irônico, só nos sobra reconstruir a memória


para não perdermos a conta das guerras e tratados de paz
pelos quais a Europa foi responsável. Mesmo considerando
que a obra Submissão seja considerada pela crítica como uma
distopia, como já foi afirmado, isto é, uma “antevisão de um
lugar imaginário onde reinaria o caos, a desordem, a anarquia,
a tirania, ao contrário do paraíso cristão ou dos mitos de
felicidade eterna, cidade do sol” (MOISÉS, 2001, p. 129), torna-
se cada vez mais eloquente a tensão que a história fictícia
propõe aos imigrantes e refugiados — em especial, aos árabes e/
ou muçulmanos, no seu suposto papel de terroristas deixam de
fazer parte dessa margem da sociedade invisível e começam a
ser integrados agora na política, como descreve no romance um
âncora televisivo: “É um terremoto”, Frente Nacional chegava a
amplamente na dianteira, com 34,1% dos votos e Mohammed
Ben Abbes, candidato da Fraternidade Muçulmana, chegava em
segundo lugar, com 22,3% dos votos.
Isso começa a incomodar uma sociedade pretensamente
democrática e pluralista. O que já levanta uma questão
democrática fundamental: até que ponto os liberais toleram o

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pluralismo? Toleram-no desde que ele não seja diferente do que
a sociedade ocidental considera pluralismo. Contudo, só num
modelo de alteridade que se construa exatamente em torno
da busca de uma permanente possibilidade de alteração da
identidade em face do outro, pode-se processar o paradoxo da
colisão entre direitos fundamentais, como na própria Declaração
Universal dos Direitos Humanos. A própria identidade de cada
observador define o seu ponto cego, o observador não pode
ver em virtude de sua posição ou perspectiva de posição. Eu
vejo aquilo que tu não vês, e o contrário, o ponto cego de um
observador, pode ser visto pelo outro. Nesse sentido, pode-se
afirmar que uma perspectiva global de imigrantes e nacionais
implica o reconhecimento dos limites de observação de uma
determinado ponto de vista, que admite a alternativa: o ponto
cego, que o outro pode ver (NEVES, 2009, p. 243-245).
Assim, para o contexto de uma discussão política, o
segundo turno da eleição presidencial da obra tenta levantar
um debate dessas questões, desde vagas agremiações políticas
identitárias até propostas de supostos indígenas europeus:
“somos os indígenas da Europa, os primeiros ocupantes desta
terra, e recusamos essa colonização muçulmana. Recusamos
também as empresas americanas, tal como a compra do nosso
patrimônio pelos novos capitalistas vindos da Índia, da China”
(HOUELLEBECQ, 2015 p. 56). Essa sátira faz uma analogia
interessante com os desenhos extremistas nacionalistas
europeus atuais. A figura do Estado como comunidade única
moral e política não é um comportamento ético, pois é fechada
a nacionais e pressupõe a exclusão de outros, nos limites de
identidade. Há um universalismo moral sem inclusão. A União
Europeia era um projeto oposto a isso, como um exemplo
reverenciado por projetar inclusões dentro da Europa. Contudo,
ela também acaba praticando a exclusão com todos que não
são europeus, isto é, cria-se uma outra estrutura para excluir
(LINKLATER, 1996).
E a volta ao nacionalismo europeu pré-Segunda Guerra
volta a assombrar a Europa, volta-se a temer essa desintegração
cultural, política e demográfica com o momento das populações
vindas de outro continente. A União Europeia é construída
a partir do final da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo
de paz e desenvolvimento, colhendo frutos impressionantes.

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Se formos pensar nos 60 anos de Europa unida, ela consegue
se reconstruir completamente, mas, ela se torna um tipo de
Disneylândia dentro de suas fronteiras: há circulação de pessoas,
mas apenas dentro de um muro ao redor do espaço Schengen e
ninguém pode entrar6.
O autor destaca em vários momentos o medo da população
de que ocorra uma certa guerra civil, entre a Frente Nacional e
a Fraternidade Muçulmana. Isso levaria, por chantagem, outros
atores a se mobilizarem em torno de Mohammed Ben Abbes; e
nesse momento tem início no livro uma cascata de clichês das
promessas de campanha muçulmana: que as mulheres não
iriam mais trabalhar, ficariam em casa recebendo um salário
melhor, abririam várias vagas de emprego, porque as mulheres
não estão mais trabalhando; os homens teriam direito a mais
de uma esposa; as mulheres não estudariam mais... Segundo
a obra, surgem negociações entre a Fraternidade Muçulmana
e o Partido Socialista, que não tinham nenhuma divergência
sobre economia, nem sobre a política fiscal; tampouco sobre
a segurança, alguns desajustes sobre política externa, mas o
problema era mesmo a questão do ensino islâmico: as mulheres
seriam orientadas a se casar o quanto antes e à educação
doméstica (p. 67). “Por outro lado, todos os professores, sem
exceção, deverão ser muçulmanos. As regras relativas ao regime
alimentar das cantinas e o tempo dedicado às cinco preces
diárias deverão ser respeitados; mas, sobretudo, o próprio
currículo escolar deverá ser adaptado aos ensinamentos do
Alcorão” (p. 68). Mesmo com todas essas demandas, o Partido
Socialista chega a um acordo com a Fraternidade Muçulmana,
quando sua corrente antirracista vence internamente a corrente
laica. Com isso, vence as eleições.
Houellebecq chantageia seus leitores com o Islã. Mas isso
é muito arriscado, pois é fácil fazer isso com qualquer grande
religião, utilizando-se de clichês e de seletividade histórica.
6
O Acordo de Schengen é uma convenção entre países europeus sobre
uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas entre
os países signatários. Um total de 26 países, incluindo quase todos os
integrantes da União Europeia — as exceções são Bulgária, Romênia,
Chipre e Croácia, que estão em fase de implementação do acordo, e
a Irlanda — e quatro países que não são membros da UE (Islândia,
Noruega, Liechtenstein e Suíça), assinaram o acordo de Schengen.

80
O fundamentalismo católico, freia, por exemplo, um debate
sério — sobre saúde pública e classe social — sobre aborto. “Em
meados do século XX acreditava-se que o secularismo era uma
tendência irreversível e que nunca mais a fé desempenharia
um papel importante nos acontecimentos mundiais”
(ARMSTRONG, 2009). Certamente, essa previsão não foi
confirmada. A França possui uma população atual estimada
em 8,8% seguidora do Islã, enquanto a Europa 4,9% (PEW
RESEARCH CENTER, 2017). Portanto, a percentagem maior
de população islâmica na França em relação à Europa, uma
vez que todos os países europeus receberam uma população
imigrante síria proporcionalmente parecida, demonstra que
a povo muçulmano na França não decorre somente da última
migração síria que aconteceu apenas há pouco, entre 2013 e
2014. A história francesa com o oriente e a África tem raízes
mais longas e profundas. A França inicia o seu segundo período
de colonização em 1830, e será um império que vai redesenhar
as fronteiras entre Síria e Líbano desde então.
Em 1884-5, a Conferência de Berlim repartiu vulgarmente
os territórios africanos por entre as grandes potências
europeias, tendo sido considerado o início de imperialismo
clássico em Relações Internacionais. Os estados europeus
tomaram a soberania de territórios coloniais do território
africano (ANGHIE, 2004). “Na virada do século, comentadores
europeus e americanos defendiam com entusiasmo uma
política imperialista, uma vez que a ideia de expansão era vista
e apresentada em termos de melhoria para as ‘nações bárbaras’”
(ASHCROFT et al, 2002, p.112). Oportuno lembrar que ainda
está vigente o Estatuto da Corte Internacional de Justiça, anexo
da celebrada da Carta das Nações Unidas, assinada no dia 26
de junho de 1945, que no seu artigo 38 deflagra uma das fontes
do Direito Internacional: “c) os princípios gerais de direito
reconhecidos pelas Nações civilizadas”.
Dentro de uma perspectiva crítica, Koskenniemi
destaca que essa antiga legislação internacional uniforme
deve ser considerada como uma luta hegemônica entre
os diferentes atores, cada um representando interesses e
perspectivas particulares, mas reivindicando autoridade
para as suas próprias instituições. Por isso a fragmentação,
a desformalização e o império são os principais desafios à

81
legislação internacional (KOSKENNIEMI, 2006). Em particular
ao nosso texto, o império é um conceito que deve ser debatido
no Direito Internacional pelo fato que pretende refletir alguns
valores substantivos hierarquicamente, uma vez que o exemplo
do artigo 38 de nação civilizada, imperialismo e colonialismo se
coadunam nesse estreito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Revolução Iraniana de 1979 provou que uma sociedade


pode ser islamizada — mas uma sociedade que já era
muçulmana. Aliás, o Irã também é uma prova de que uma
sociedade muçulmana também pode ser secular, ao contrário
da frase do Aiatolá Khomeini que está na obra de Houellebecq,
e que muitos gostam de repetir: “Se o Islã não é político,
não é nada”. É verdade que o Alcorão diz o contrário, e que a
Turquia pagou um preço muito alto por essa mudança. Mas
não há necessariamente intolerância: basta lembrar que o
Império Turco-otomano antes de 1914, sempre foi conhecido
como um dos reinados mais diversificados e tolerantes antes
da modernidade. Há muito desconhecimento, preconceito
e talvez, péssimas escolhas de imperialismos ocidentais que
geram reações internas e externas nesses Estados.
Os racismos da obra em relação ao mundo muçulmano
são clichês, mas não são exatamente algo tão preocupante ou
inovador. Nós já a ouvimos muito em diferentes momentos,
e talvez seja o momento de pensar a respeito de qual o limite,
e qual seria a forma de aceitar outros tipos de sociedades
e de comportamentos. Ao ser reprimida ou sublimada
repetidamente, essa contradição tende a retornar, em outro
momento, de forma bloqueante ou destrutiva. As sociedades
precisam desenvolver mecanismos para conviverem com a
diferença. É preciso criar um novo diagnóstico, com novas
perguntas, correlatos de um forte argumento que se associe a
uma ética universal do excluído da teoria crítica.

82
REFERÊNCIAS

ARMSTRONG, K. Em nome de Deus. O fundamentalismo no


judaísmo, no cristianismo e no islamismo. Tradutora: Hildergard
Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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ASHCROFT, B.; GRIFFITHS, G.; TIFFIN, H. Key concepts in post-
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sociological imagination. Palgrave Macmillan, 2009.
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MUNDOPOÉTICA
geopolíticas do literário

Andrei dos Santos Cunha


Cinara Antunes Ferreira
organização

2020
Todos os direitos desta edição Equipe de revisão
reservados. Andrei dos Santos Cunha
Copyright © 2020 da edição: Anselmo Peres Alós
Andrei Cunha Cinara Antunes Ferreira
Cinara Ferreira Elizamari Rodrigues Becker
Copyright © 2020 dos capítulos: Fernanda Vivacqua de Souza
Seus autores Galvão Boarin
Gabriel Pessin Adam
Coordenação editorial Ian Alexander
Roberto Schmitt-Prym Karine Mathias Döll
Marcelo Oliveira da Silva
Conselho editorial Rafael de Carvalho Matiello
Antonio David Cattani Brunhara
Claudio Vescia Zanini Vinícius Casanova Ritter
Daniela Pinheiro Machado Kern
Demetrius Ricco Ávila Como citar este livro (ABNT)
Elaine Barros Indrusiak CUNHA, Andrei; FERREIRA, Cinara
Jéferson Assumção (org.). Mundopoética: geopolíticas
Karina de Castilhos Lucena do literário. Porto Alegre: Bestiário /
Luciana Wrege Rassier Class, 2020.
Pedro Demenech

Projeto gráfico
Roberto Schmitt-Prym

Capa e ilustração da capa


Andrei dos Santos Cunha Rua Marquês do Pombal, 788/204
CEP 90540-000
Revisora-chefe Porto Alegre, RS, Brasil
Marianna Ilgenfritz Daudt Fones: (51) 3779.5784 -
99491.3223
www.bestiario.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD


M965 Mundopoética: Geopolíticas do literário / organizado por An-
drei dos Santos Cunha, Cinara Antunes Ferreira. - Porto Alegre,
RS : Class, 2020.
292 p. : il. ; 14cm x 21cm.

Inclui bibliografia e índice.


ISBN: 978-65-991765-0-0

1. Literatura brasileira. 2. Ensaios. I. Cunha, Andrei dos Santos.


II. Ferreira, Cinara Antunes. III. Título.
CDD 869.94
2020-1520 CDU 82-4(81)

Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410


Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura brasileira : Ensaios 869.94
2. Literatura brasileira : Ensaios 82-4(81)

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