Rodolfo 2021
Rodolfo 2021
Rodolfo 2021
IFPB - MONTEIRO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO
AMBIENTE
MONTEIRO– PB
2020
RODOLPHO GOMES MARTINS
MONTEIRO– PB
2020
RODOLPHO GOMES MARTINS
Banca Examinadora
____________________________________________
Prof. Dr. ERICSON DA NÓBREGA TORRES
Orientador (Instituto Federal da Paraíba)
___________________________________________
Prof. DRA. MÔNICA LARISSA AIRES DE MACÊDO
Examinador Externo Colaborador do Instituto Federal da Paraíba
_________________________________
Especialista KÁSSIA DYJEANE LEAL FELIX
Examinador Externo
A Deus. A meus pais, familiares e amigos por todo apoio e
carinho!
AGRADECIMENTOS
Devo demonstrar primeiramente a gratidão que eu tenho a Deus por todos esses anos da
especialização e por ter me protegido, já que sem essa força, saúde, paciência e sabedoria eu
não teria conseguido.
Posteriormente aos meus pais, que me proporcionam educação e oportunidades, a quem devo
a vida e toda minha carreira. Me faltam palavras para expressar a minha gratidão, sem eles
nada disso seria possível. Apenas cheguei a esta fase com ajuda deles, que eu amo e admiro.
A meu amigo Diogo Cabral, que me ajudou de forma esplêndida e contribuiu com o sucesso
desse trabalho.
A professores da banca examinadora por fazer parte com muita importância dessa etapa da
minha vida acadêmica.
Ao meu Professor Orientador Éricson Torres, que me acolheu desde início do projeto, me
apoiando e me passando segurança.
Por fim agradeço a todos que de alguma forma contribuíram durante o caminho que percorri
até a finalização de mais uma etapa.
“Preservar o Meio Ambiente é preservar a vida. À
Natureza é o único livro que oferece um conteúdo
valioso em todas as suas folhas.”
(Johann Goethe)
RESUMO
O projeto de integração da bacia do rio São Francisco por muito tempo ensejou muitas
discussões e a partir de sua construção e operacionalização causou alguns conflitos e também
uma esperança devido ao aumento da oferta hídrica aos beneficiários desse projeto. Sabendo a
importância dessa obra e da riqueza que ela pode trazer para a região semiárida, pretendeu-se
através deste trabalho identificar alguns impactos (negativos e positivos) que essa obra causou
na região afetada. Assim, o objetivo é identificar os principais pontos das produções
acadêmico-científicas sobre os impactos sociais, ambientais e econômicos causados as
comunidades afetadas pela a transposição do Rio São Francisco. Para atender esse objetivo a
metodologia desta pesquisa assume uma abordagem qualitativa e aproxima-se de uma revisão
sistemática sob a forma de pesquisa bibliográfica. Com isso, foram utilizados artigos de
periódicos encontrado nos portais de busca: Scielo, Periódicos da CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e Google Acadêmico, no período de 2007 até
os dias atuais, com o idioma em português. Logo, resultou que os impactos citados nessa
investigação têm um teor maior negativo, o que é um indício de alerta. Porém, esses impactos
são de curto prazo e alguns já previstos pelo RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). São
necessárias investigações mais aprofundadas e melhor descritas sobre o tema, fato este, que
limitou alguns resultados encontrados. Dessa forma, é preciso que a comunidade acadêmica
volte o olhar para a transposição e possa identificar o que vem ocorrendo com a
operacionalização do projeto, e com isso propor reflexões e algumas soluções para
dificuldades observadas, bem como salientar e destacar aspectos positivos, uma vez que o
aumento da oferta hídrica pode favorecer o desenvolvimento econômico regional.
The integration project of the São Francisco river basin for a long time gave rise to many
discussions and after its construction and operation it caused some conflicts and also hope
due to increase in water supply to beneficiaries of this project. Knowing the importance of this
contruction and the wealth it can bring to the semi-arid region, this work intended to identify
some impacts (negative and positive) that this contruction caused in the affected region. Thus,
the objective is to identify the main points of academic-scientific productions on the social,
environmental and economic impacts caused to communities affected by the transposition of
the São Francisco River. To meet this objective, the methodology of this research takes a
qualitative approach and approaches a systematic review in the form of bibliographic
research. Thus, articles from journals found in search portals were used: Scielo, CAPES
Periodicals (Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel) and Academic
Google, from 2007 to the present day, with the language in Portuguese. Therefore, it turned
out that the impacts mentioned in this investigation have a greater negative content, which is a
warning sign. However, these impacts are short term and some are already foreseen by the
RIMA (Environmental Impact Report). More in-depth and better described investigations on
the subject are needed, a fact that limited some of the results found. So, it is necessary for the
academic community to turn their gaze to the transposition and be able to identify what has
been happening with the operationalization of the project, and thus propose reflections and
some solutions for difficulties encountered, as well as highlighting positive aspects, once that
increasing water supply can favor regional economic development.
Keywords: Transposition; São Francisco River; Social and environmental impacts; Regional
development.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 08
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 13
2.1. História do Semiárido Nordestino: desenvolvimento regional e impactos
ambientais e sociais ..................................................................................................................... 13
2.2. O rio São Francisco ................................................................................................. 17
2.3. A Transposição/Canalização do rio São Francisco ............................................ 20
3. METODOLOGIA.................................................................................................... 25
4. ANÁLISE E DISCURSO DE DADOS ................................................................. 29
5. RESULTADOS ....................................................................................................... 38
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 44
8
1. INTRODUÇÃO
O homem modifica o ambiente onde vive e cada vez mais tem avançado nas alterações
em seu meio, devido às necessidades e problemas com que convive diariamente, a fim de
melhorias e benefícios para seu bem estar e para sua própria sobrevivência. Isso pode ser
explicitado desde o movimento de transformações no campo até a ocupação urbana, bem
como a exploração da área marítima para pesca, para transportes fluviais, dentre outras
atividades.
A Região do Nordeste Brasileiro, mas especificamente o Semiárido Nordestino,
sempre passa por períodos longos de estiagens. Estes causam muitos problemas nas
comunidades ali localizadas. Assim, com o índice pluviométrico baixo e ainda somado ao fato
de que cerca de 10 milhões de habitantes do Semiárido detêm seu sustento de atividades que
dependem bastante de água (agricultura e pecuária tradicionais), o morador do semiárido está
muito vulnerável aos problemas decorrentes da seca (CASTRO, 2011). Então, o problema das
poucas precipitações e da evapotranspiração alta, evidencia a escassez hídrica que afeta
principalmente os povos das cidades mais interioranas e das comunidades rurais.
Porém vale destacar que nessa região há uma diversidade cultural e natural, mas é
amplamente conhecida pelo os períodos de secas que marcam o clima e afetam a produção e
dificulta a realidade da região local. Todavia, apesar desse período, o semiárido brasileiro é
um dos mais chuvosos do mundo, mas com chuvas concentradas e temporalmente, além de
solos impermeáveis, rasos e pedregosos (ASSAD et al., 2016). E ainda, de acordo com os
autores, as fontes de água no Brasil que são disponíveis permanentes, a região semiárida
detém apenas cerca de 3% do total. Isso leva a reflexão sobre o problema da escassez de água
da região.
A região possui uma área com cerca de 982 mil km², concentrando cerca de 89,5% da
Região Nordeste. Vale a pena ressaltar que a região do semiárido vai além dos estados do
Nordeste (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia),
a única exceção é o Maranhão, e inclui Minas Gerais, a parte norte do estado. Assim, os
10,5% concentra-se na Região Sudeste, justamente em Minas. Assim, o Semiárido brasileiro é
composto por 1262 municípios. E os critérios estabelecidos para essa delimitação são os
níveis de precipitação pluviométricos (com média anual igual ou inferior a 800 mm), os
índices de aridez igual ou inferior a 0,50 (segundo o método ou classificação de clima de
Thornthwaite) e os percentuais diários (em todos os dias do ano) de déficit hídrico maior ou
igual a 60%. (IBGE, 2018). O mapa abaixo nos mostrar o território
9
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nesta seção iremos contextualizar nossa pesquisa a partir de uma revisão bibliográfica
que nos ajudou a entender a problemática ao qual estudamos, bem como apresentar algumas
características importantes para entender todo o entorno da problemática.
Assim, apresentaremos um pouco sobre o desenvolvimento regional e alguns impactos
na região do semiárido nordestino; sobre o Rio São Francisco e sua importância; e por fim a
importância do processo de transposição de águas e algumas obras já realizadas, bem como
alguns de seus impactos.
tentativas mesmo que amenizando algumas situações, de fato não resolveram ou obtiveram
sucesso a longo prazo. Muitas organizações estatais foram criadas ao longo do tempo para lhe
dar com os efeitos das secas, conforme aponta Brito et al (2017, p. 58):
Durante toda a trajetória política, social e econômica brasileira, foram criados vários
departamentos e projetos no combate as secas na região Nordeste. Foram várias as
tentativas ao combate deste problema, que marca de forma histórica a população
nordestina, que sempre conviveu com a problemática da estiagem. Ao longo dos
séculos, criando-se órgãos para lidar com a questão da seca, programas foram
elaborados e obras executadas.
explorados nas condições climáticas com sustentabilidade. Porém, isso não exclui a
importância das políticas já construídas sobre os recursos hídricos e de captação e
armazenamento de águas, mas refletir para provocar mudanças para melhoria dessas políticas
que sejam mais condizentes com as necessidades locais e as condições climáticas.
Então, tendo em vista essa nova perspectiva e sobre esse processo de mudança de
pensamento Silva (2008) fez um breve resumo de alguns pesquisadores importantes sobre
esse tema, contrapondo esse pensamento de combate à seca e propondo algumas alternativas
de superação e convivência com o semiárido:
1. Djacir Menezes: descreveu os aspectos humanos, políticos, econômicos, culturais,
biológicos e sociais do sertão nordestino. Menezes buscava expressar o
rompimento do pensamento acrítico e socialmente passivo das explicações
naturalistas e racistas dos problemas regionais, elaborando uma denúncia da
miséria e das injustiças sociais. Portanto, a crítica desse pensador buscava uma
proposta de valorização dos saberes locais e de que as formas de convivência em
conexão com os recursos a que se dispõe;
2. Josué de Castro: explicou que a causa da fome pode ser encontrada nos sistemas
socioeconômicos, na concentração de renda e da estrutura fundiária, na
exportação da produção e no descaso da produção interna de alimentos.
Identificou algumas causas da calamidade durante o período das secas: a estrutura
agrária na região, a concentração da terra; a exploração do trabalho nas áreas
privadas; e a escassez de produtos de subsistência com as crises econômicas
inflacionárias. Criticava as ações do governo de combate à seca e os seus efeitos,
pois não solucionavam o problema e sim reproduzia o subdesenvolvimento na
região. A crítica de Castro tinha como base a defesa de uma economia baseada no
desenvolvimento humano e equilibrado, da fixação do homem à terra, e da
educação popular como ferramenta de liberdade econômica, política e espiritual;
3. Guimarães Duque: ressaltava a importância e a necessidade da agricultura
ecológica. Destacou o processo de desertificação do Semiárido, resultante do
manejo inadequado e intensivo da caatinga. Do pensamento de Duque podemos
destacar: a formulação de políticas públicas condizentes para o desenvolvimento
regional (considerando as condições naturais, e um conjunto de propostas
estruturais: garantia de trabalho e também o acesso à terra, a infraestrutura e ao
crédito); defendia o avanço da industrialização adequada ao contexto do
semiárido; a elaboração de planos de ação e a implantação de obras no semiárido
16
Na bacia do Rio São Francisco se tem um dos principais rios do território nacional
chegando a abranger os estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco,
Sergipe e inclusive o Distrito Federal. A Bacia Hidrográfica do São Francisco ocupa cerca de
8% do território brasileiro (com uma extensão de 2.863 km e de 636.920 km² de área).
(BRASIL, 2005).
E de acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas):
A população total na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, no ano 2000, é de
12.796.082 habitantes, sendo 74,4% da população urbana e 25,6% da população
rural. A densidade demográfica média na Bacia é de 20,0 hab./km2. Do total de 503
municípios, 456 têm sede na Bacia. (BRASIL, 2005, p. 36)
Diante disso, ao percorrer essas regiões o rio chega a nutrir muitos biomas, já que
percorre diferentes regiões. Assim, abrange a Mata Atlântica (inclusive a Costeira), Cerrado,
18
Caatinga e Insulares. Devido o trajeto traçado ao banhar esses biomas e três diferentes regiões
do país, o Rio São Francisco é conhecido como o rio de integração nacional.
O Velho Chico nasce na região conhecida como Alto do São Francisco a 1.280 m de
altitude. E historicamente a nascente do Velho Chico ficou conhecida como sendo localizada
na Serra da Canastra em Minas Gerais, mais especificamente no município de São Roque de
Minas. Entretanto, em 2002 foi constatado, após estudos da Companhia de Desenvolvimento
dos Vales dos São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), que a verdadeira nascente é
localizada em Medeiros (MG).
O rio São Francisco tem vários afluentes, onde os principais tem concentração maior
nos cerrados, na nascente em Minas Gerais e na Bahia (a parte fronteiriça com o estado de
Minas). Pelo fato desse rio ter um grande percurso, com isso passando por regiões que possui
diferenças climáticas e de outras condições naturais, há uma variação na quantidade de águas
e na concentração delas, até pelo próprio relevo. E isso dificulta algumas informações mais
precisas do próprio rio.
Essa bacia hidrográfica tem um papel muito importante para a Região Nordeste,
principalmente para diversas atividades econômicas, como a pesca, as grandes produções
alimentícias agrícolas, a geração de energia, o turismo, transportes fluviais, entre outras
atividades. E pelo fato desse rio ter um grande percurso, durante o seu trajeto podemos
encontrar diversos contrastes socioeconômicos com áreas de grandes riquezas e com
densidade demográfica alta e de áreas de muita pobreza e com uma dispersão na população.
Então, para facilitar e melhor delimitar as características do São Francisco, o seu
percurso é dividido em quatro regiões fisiográficas (ver na figura a seguir): o Alto São
Francisco (da nascente até o Rio Jequitaí, em Pirapora – Minas Gerais); o Médio São
Francisco (de Pirapora até Remanso, no estado da Bahia), o Submédio São Francisco (de
Remanso até Paulo Afonso, na Bahia) e o Baixo São Francisco (de Paulo Afonso até a sua
foz, no estado de Alagoas). (BRASIL, 2004).
Sobre a população que reside na região da bacia do Rio São Francisco temos que a
quantidade de habitantes é de aproximadamente 13,3 milhões distribuída nas quatros regiões,
em que 48,8% são do Alto São Francisco (onde se encontra a região Metropolitana de Belo
Horizonte – MG), 25,3% do Médio São Francisco, 15,2% do Submédio São Francisco e
10,7% Baixo São Francisco. A região do Semiárido ocupa cerca de 57% da área da Bacia,
com aproximadamente 361.825 km² e compreende 218 municípios e mais de 4,7 milhões de
habitantes. (BRASIL, 2005).
19
A bacia hidrográfica do São Francisco é muito importante para o país, pois além de
levar água a regiões semiáridas e de ter um potencial hídrico, tem uma influência direta nas
produções alimentícias do país, fomentando assim parte da economia do Brasil.
Essa bacia ainda tem um papel importante na geração de energia elétrica, chega a 13%
do total produzido no país. O potencial hidroelétrico é de 25.795MW, e 10.395 MW estão
distribuídos nas usinas de Três Marias, Queimado, Sobradinho, Itaparica, Complexo Paulo
Afonso e Xingó, estas que são pertencentes a Bacia do Rio São Francisco. Vale destacar
20
também que a barragens das usinas de Três Marias e Sobradinho são fundamentais para a
regularização das vazões do rio São Francisco. Essa energia produzida pelas águas do São
Francisco é a base para o suprimento da energia da Região Nordeste. (BRASIL, 2005).
O rio tem passado por vários problemas ambientais devido ao mau uso e a exploração
das suas águas. Isso ocorre devido às demandas pelo uso das águas do São Francisco estas
relacionadas às questões agrícolas, urbanas e industriais, causando conflitos e interesses na
gestão e restrições dos recursos hídricos, sendo pauta também nos conflitos dos debates da
transposição da água do rio.
A quem irá favorecer, ao consumo do sujeito que vive no semiárido para sua
sobrevivência e dos pequenos produtores e agricultores da região ou aos grandes
latifundiários, industriais e/ou grandes produtores que querem monopolizar as águas para lhes
favorecer pouco atendendo a população? A quem vai afetar positiva ou negativamente? Quais
os principais impactos? A população da região foi preparada para usufruir a água de maneira
sustentável e que possa para além do consumo favorecer as pequenas produções e agricultura
familiar? Quais são os projetos que podem auxiliar no desenvolvimento sustentável da região
e fortalecer o desenvolvimento da região?
São questões como essas que nos fazem pensar sobre a importância e a viabilidade da
Transposição do Rio São Francisco. Então, para refletir com base nessas perguntas na seção
abaixo buscaremos, a partir de outras obras sobre a transposição, identificar os principais
impactos causados, como foi utilizado essas águas, quais eram os objetivos e se ajudou no
desenvolvimento da região, ou se o objetivo não foi atingido.
Esse tipo de obra não é uma novidade ou uma revolução nas questões hídricas, uma
vez que até mesmo as discussões sobre a “transposição” do São Francisco já vêm de muito
tempo, desde o século XIX, como já apontou Villa (2004) citado na introdução.
Na tese de Assis (2015), são destacadas algumas obras de transposição que já
ocorreram em outros países, como:
A transposição do Rio Tejo (Espanha e Portugal), que não atingiu o objetivo levar
água a regiões mais carentes que era primordial, além de problemas como a
salinização dos solos, dentre outros;
A transposição do Mar Aral (Cazaquistão e Uzbequistão) que tinha como objetivo
converter terrenos baldios em zonas irrigadas para a produção de algodão. Um
grande canal de extensão foi aberto para espalhar as águas pelo solo desértico. E
isso afetou outras produções, como a alfafa e a produção de óleo vegetal extraída
de outras plantas;
Transposição do Rio Santa (Peru), conhecido como projeto Chavimochic, nesse
projeto, ainda em andamento, não foram considerado alguns desafios para a
implantação e funcionamento da integração, como a salinização do solo, a alta
turbidez e a concentração de sedimentos, além de problemas financeiros e manejo
com a irrigação;
Transposição do Rio Snowy (Austrália), iniciado em 1949, gerou e estimulou
empregos, além disso houve conflitos entre a região doadora e receptora.
Atualmente, apresenta alguns desafios como a dessalinização, suprimentos para a
reutilização da água, poços, dentre outros.
Podemos perceber que foram destacados alguns desafios para a implementação e
construção das obras, e isso pode ser justificado pela falta de um planejamento mais detalhado
que deixou de levar em consideração aspectos bem importantes, como por exemplo a
transposição do Rio Santa no Peru que não houve um planejamento mais adequado
considerando as condições que seriam encontradas durante o percurso e a bacia receptora. No
entanto, também há relatos de pontos positivos como a melhoria de produções, criação de
novas áreas produtivas, geração de emprego e até de turismo. (ASSIS, 2015).
Então, tendo como base outras experiências, torna muito mais fácil construir um
projeto e prever algumas situações que poderiam ser encontradas na transposição do Rio São
Francisco. Com isso, traçar caminhos que amenizem os desafios e que solucionem problemas
já encontrados em outras obras de transposições.
22
Para melhor entender sobre a obra da canalização das águas do Rio São Francisco,
podemos destacar quais são os principais objetivos dessa obra. De acordo com o Relatório de
Impacto Ambiental, os objetivos básicos dessa obra são:
Aumentar a oferta de água, com garantia de atendimento ao Semi-Árido;
Fornecer água de forma complementar para açudes existentes na região,
viabilizando melhor gestão da água;
Reduzir as diferenças regionais causadas pela oferta desigual da água entre
bacias e populações. (BRASIL, 2004, p. 25).
Essa obra vem pra suprir a necessidade da população da região do semiárido devido à
escassez de água, que afeta não só os meios de produção, mas até a sobrevivência devido as
necessidades básicas do próprio ser humano. A canalização do Rio São Francisco irá integrar
outras bacias hidrográficas (Rio Jaguaribe – CE, Apodi – RN, Piranhas-Açu – PB e RN,
Moxotó – PE, e Brígida – PE), e de acordo com Brasil (2004) levará cerca de 3,5% da vazão
disponível de Sobradinho. Isso corresponde a cerca de 2 bilhões de metros cúbicos de água,
dos quase 90 bilhões que esse rio despeja no mar.
A transposição está dividida em dois eixos. O Eixo Norte, que visa chegar ao estado
de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Esse primeiro ponto de captação desse eixo
fica localizado na cidade de Cabrobó (PE) e terá um percurso de aproximadamente 400 km
até chegar aos rios Salgados e Jaguaribe (localizados no Ceará), ao rio Apodi (no Rio Grande
do Norte), ao Rio Piranhas-Açu (Paraíba e Rio Grande do Norte). Enquanto isso o Eixo Leste,
que tem a captação da Barragem de Itaparica (em Floresta, Pernambuco), terá um percurso até
o Rio Paraíba (no estado da Paraíba) com cerca de 220 km. No entanto, durante esse trajeto
abastecerá as bacias do Pajeú, do Moxotó e no Agreste de Pernambuco (com um ramal de 70
km até o rio Ipojuca). (HENKES, 2014).
Acredita-se que os aspectos positivos da transposição vêm para o âmbito econômico e
também social na geração de empregos, no aumento das rendas e circulação do capital na
região. Assim, além da distribuição de águas, trata-se do asseguramento de safras de
agricultura, do desenvolvimento industrial bem como o fortalecimento do turismo.
Durante o período de discussão e de implementação da obra de canalização das águas
do São Francisco duras críticas surgiam devido a vários fatores, tais como: o custo da obra e
da manutenção da operacionalização; riscos a fauna e flora da região que percorrerá a obra,
devido ao desmatamento; problemas sociais gerados pelas desapropriações e deslocamentos
de pessoas das regiões afetadas; aumento dos efeitos erosivos devido às escavações e abertura
dos canais; a diminuição da produção de energia, tendo uma perca de cerca de 2,4%, que
23
1
Ver Brasil (2005)
24
3. METODOLOGIA
diferenças e os pontos que são comuns. Assim, num processo de validação dos próprios
resultados, de novas evidências e de contraprova ou contraposição ao que foi identificado.
Já a revisão sistemática é uma forma mais criteriosa para se fazer um levantamento de
pesquisas que irão compor um trabalho científico, e esta revisão não se faz de maneira
aleatória. Para isso é estabelecido um processo de busca de artigos relevantes que poderão
compor a fundamentação ou revisão teórica da pesquisa e que também poderão constituir os
resultados. O intuito é ter uma metodologia definida nesse processo de busca, assim fugindo
de critérios subjetivos, já que estes podem ser susceptível e influenciados por vieses das
hipóteses do pesquisador.
De acordo com Demerval, Coelho e Bittencourt (2020, p. 04):
Revisão sistemática procura minimizar erros sistemáticos e aleatórios buscando
definir claramente o procedimento a ser adotado na condução do levantamento do
estado da arte de um tópico de pesquisa. Por exemplo, revisões sistemáticas devem
ser executadas de acordo com uma estratégia de busca previamente definida e que
permita que sua completude seja avaliada por outros pesquisadores, devem
considerar um período específico para a busca, recuperar trabalhos que atendam
palavras-chaves pré-determinadas, além de definir de forma clara os critérios de
inclusão e exclusão dos trabalhos buscados.
Esse tipo de pesquisa é importante, uma vez que ela é o ponto de partida na produção
de novos conhecimentos, assim investigando o que já foi produzido e também o que vem
sendo investigado, ajudando a compreender o objeto, aprimorar os objetivos e até formular
melhor a questão da pesquisa delimitando e/ou especificando ainda mais. Assim, busca a
compreensão mais clara das produções científicas na área e problemática em jogo, dos
encaminhamentos futuros e dos aprimoramentos das produções.
Escolhemos os artigos científicos para melhor delimitar as novas buscas, uma vez que,
devido a importância e relevância do tema, encontraríamos uma infinidade de materiais o que
dificultaria e tornaria inviável uma leitura de todo o material.
Para realizar esse processo de pesquisa, baseado nos autores acima citados (idem) e
com algumas adaptações, adotaremos como protocolo os seguintes passos:
1. escolha das palavras-chaves (ou string2) para delimitar as buscas;
2. critérios de inclusão e exclusão dos estudos, por meio dessas palavras-chaves;
3. estratégias de buscas de artigos;
4. leitura dos resumos e escolha de critérios para escolha e aprovação do trabalho;
5. leitura das pesquisas identificando os impactos destacados nas investigações;
6. um quadro comparativo e relatório final.
2
Ver Demerval, Coelho e Bittencourt (2020).
27
A revisão sistemática não tem todos esses passos, porém nossa investigação quer ir
mais além, com um olhar mais minucioso para a problemática que queremos abordar. E para
coletar esses dados usaremos como palavras-chaves: rio São Francisco; transposição;
Canalização; desenvolvimento regional; impacto socioambiental. A justificativa pela a
escolha dessas palavras se dá pelo entendimento de uma busca não tão ampla e que englobe
algumas de nossas hipóteses sobre as interferências das obras e operacionalização da
transposição, desde impactos ambientais, como as questões sociais e econômicas.
Caso o uso dessas palavras-chaves não apresente resultados usaremos “transposição do
rio São Francisco”, assim há uma possibilidade de aparecer trabalhos que relatem essa
temática, mesmo que não se enquadre nas características que pretendemos. De forma, que
possamos analisá-los para obter informações sobre impactos causados pela obra.
O tipo de produção a ser investigada será artigos de periódicos e anais de eventos, que
se encontrarão nas buscas realizadas nas plataformas Scielo e no Portal de Periódico da
CAPES3 e na ferramenta de busca do Google Acadêmico. Assim, compondo a nossa
estratégia para busca de artigos.
O Scielo4 é um repositório eletrônico de periódicos de produções científicas
brasileiras, que tem como objetivo não só o armazenamento das produções, mas também a
preparação, a disseminação e avaliação das investigações realizadas.
O Portal Periódico da CAPES é uma biblioteca virtual que disponibiliza produções
científicas das mais variadas instituições de ensino, inclusive produções internacionais, como
muitas obras de referências e muito conhecido e acessado pelos pesquisadores. Sendo assim,
uma boa e importante fonte para busca e coleta de dados.
Como estratégia de busca estabelecemos alguns critérios para facilitar e delimitar mais
os resultados que poderão ser encontrados, sendo mais específicos e fazendo com que os
dados encontrados vão ao encontro com o objetivo de nossa investigação. Assim, pelo fato de
a obra ser brasileira e se encontrar integralmente no território nacional, um dos critérios será
de produções em língua portuguesa, mais especificamente de autores brasileiros. Outro
critério são as produções de 2007 até o ano atual. Mas por que 2007? Esse ano foi onde
iniciou a obra e já encontrava alguns relatórios mais elaborados e que já apresentava alguns
sinais de impactos e ou interferências, uma vez já dada o início da obra.
Atendido a busca pelas palavras-chaves, o idioma das produções e o período
estabelecido, nós iremos analisar os resumos dos trabalhos encontrados nas buscas. Onde
3
Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (https://www.periodicos.capes.gov.br/).
4
Scientific Electronic Library Online (ver: https://scielo.br/?lng=pt)
28
objetivamos identificar a partir dos objetivos indícios de investigação que buscou identificar
os impactos causados pela obra da canalização ou se nos resultados apresentados nesse
resumo também apresentou essas interferências, sejam ambientais ou sociais.
Após isso iremos ler o trabalho buscando apontamentos sobre os impactos das obras
citadas no trabalho e a partir daí fazer um breve resumo para fazer as comparações entre os
trabalhos que se enquadram nesses critérios. Em seguida, analisaremos as referências
bibliográficas dessas investigações com o intuito de identificar outros trabalhos da mesma
problemática e que talvez poderão também compor nossa pesquisa, desde que atenda os
critérios estabelecidos e que não foram encontrados por esses sites de buscas.
Após atender todo esse protocolo estabelecido iremos identificar categorias a
posteriori que irão emergir dos próprios dados, assim categorizando-as e organizando-as a fim
de identificar os principais impactos e quais as ocorrências, percebendo a evolução ao longo
das produções e verificando se o que foi destacado e/ou proposto se realizou ou não.
Vale ressaltar que pretendíamos olhar para os impactos sobre a população afetada
diretamente com as construções dos canais da transposição, especificando a realidade dos
moradores da cidade de Monteiro – PB, dos sujeitos que precisaram ser desapropriados de
suas antigas residências devido à obra. No entanto, com a pandemia e o isolamento social isso
ficou inviável tendo em vista que traria certo risco de contaminação. Porém, no final do
trabalho, nas considerações traremos uma visão, enquanto cidadão monteirense sobre os
impactos perceptíveis na nossa cidade.
29
Nossa coleta de dados se iniciou pelo site de busca Google Acadêmico, ao colocar as
palavras-chaves para a busca e depois selecionar só páginas em português foi gerado 51
páginas com mais de 500 resultados de trabalhos. No entanto, com a exclusão de trabalhos
que não são artigos (como e-books, relatórios, monografias, dissertações, teses entre outros) e
de links quebrados (que não gerava uma nova página ou apresentava algum erro para abrir
e/ou fazer o download do artigo) fez uma primeira redução dos dados coletados.
Com a rápida leitura dos resumos, a exclusão de trabalhos que não abordavam sobre a
transposição chegamos a 4 trabalhos, aos quais se enquadravam em nossa investigação,
mesmo que apresentassem timidamente alguns impactos da obra e/ou do projeto quando ainda
se iniciava a construção dos canais hídricos. Ou seja, muitos dos artigos encontrados não
condiziam com o objetivo de nossa pesquisa, não apresentando dados ou relatos acerca dos
impactos da transposição e muitas vezes nem se tratavam de trabalhos que falavam sobre a
obra e/ou construção dos canais, uma vez que os outros termos de busca talvez direcionaram
esses trabalhos que surgiram da nossa busca.
Ainda foi encontrado trabalhos que se referiam a contextos da bacia do rio São
Francisco e/ou da transposição, mas sem abordar aspectos sobre a obra ou operacionalização
da mesma ou apenas citando que era uma região próxima da obra, sem sinalizar qualquer
interferência a partir da transposição.
Após a leitura desses trabalhos foi identificado alguns pontos sobre a transposição do
Rio São Francisco, pautas de críticas ou de esperanças para um desenvolvimento da área
beneficiada, além dos que foram previstos pelo Relatório de Impacto Ambiental já citado. E
isso veremos abaixo:
1. “O papel dos recursos hídricos no desenvolvimento sustentável do Nordeste” –
nesse trabalho foi destacado algumas resistências por parte de críticos do projeto,
onde os mesmos diziam que essa obra não iria beneficiar ou ser usada para o
consumo humano e sim para disponibilizar água para a agroindústria e a
carcinicultura, beneficiando principalmente “os grandes latifundiários nordestinos,
pois grande parte do projeto passa por grandes fazendas e os problemas
nordestinos não serão solucionados” (AZEVEDO; SRINIVASAN; SANTOS,
2013, p. 05);
2. “Os desafios do Paradigma da ‘cidadania’ hídrica na América Latina: conflitos,
estado e democracia” – um dos pontos destacados foi sobre a postura do estado
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frente a população que seriam afetadas diretamente com a realização da obra, com
falta de informações e desdobramentos sobre o futuro dos desalojados, assim
deixando a sensação de lesão a direitos. Há uma preocupação da inclusão das Vilas
Produtivas Rurais (criação destinadas aos desalojados para produção sustentável,
de subsistência e geração de renda), “não se observa nas vilas um conjunto de
ações constantes que mobilizem os beneficiários em atividades produtivas, ao
contrário, vê-se o ócio e o pouco contato com os representantes do governo”
(CASTRO; SILVA; CUNHA, 2017, p. 23) e que alguns moradores falam em
descasos do governo com os habitantes. Além disso, é destacado sobre cursos que
dão de capacitação acerca de atividades agrícolas que não condizem com a
realidade, bem como a não disposição de materiais para a prática produtiva, assim
sendo negado a capacidade de trabalhar e exercer atividades criativas. Concluindo
que o “Estado não desenvolveu espaços para uma efetiva discussão política
deliberativa e diálogo frequente entre ele e os moradores, o que desembocou em
vilas cujas características não imprimem as vontades e identidade da população”
(CASTRO; SILVA; CUNHA, 2017, p. 25-26).
3. “Projeto São Francisco: garantia hídrica como elemento dinamizador do semi-
árido nordestino” – os benefícios destacados nesse trabalho ressaltam o potencial
econômico devido a garantia hídrica bem como o aumento de sua oferta. É
destacado que “durante o período de construção do empreendimento sejam gerados
cerca de 5 mil postos de trabalho diretos e indiretos” (SANTANA FILHO, 2007, p.
17), e a longo prazo, além do aumento da renda disponível, terá uma geração de
320 mil postos de trabalho nas regiões receptoras. Ainda é destacado que a área
diretamente afetada poderá oportunizar cerca de 24,4 mil hectares de novas áreas
irrigadas até 2025. Outros benefícios são destacados também:
aumento no bem-estar do usuário de abastecimento urbano, resultante do maior
acesso dos usuários à água adicional; produção de excedente nas atividades de
produtores urbanos e rurais, aumentando a renda líquida obtida em função da
utilização da água bruta; redução dos gastos públicos emergenciais durante as secas,
com a distribuição de cestas de alimentos, frentes de trabalho e fornecimento de
água em carros-pipa; aumento do emprego e renda da população residente na área de
abrangência do projeto, diminuindo os processos de desagregação familiar e
promovendo redução da migração populacional para áreas metropolitanas e suas
conseqüências sobre a economia e infraestrutura das cidades brasileiras.
(SANTANA FILHO, 2007, p.17).
5. “Rio abaixo, rio acima: o pescador, o rio e os riscos no Baixo São Francisco” – os
riscos apontados sobre o aspecto ambiental é apontado sobre mudança no curso da
água (mais estreito e mais fundo) dificultando atividade como a pesca. Foi
apontado sobre o descaso, sensação de abandono e ausência da escuta das
populações afetadas nas tomadas de decisões. (CARVALHO et al, 2020). E ainda
foram identificados:
[...] riscos socioeconômicos – precarização social, migração, subemprego, crise
fundiária; desestruturação social, prostituição e suicídio; riscos culturais - perda da
oralidade ancestral, esquecimento de lendas e sentimento de religiosidade,
distanciamento cultural dos jovens e rompimento do vínculo afetivo com o Velho
Chico. (CARVALHO et al, 2020, p. 12, grifo do autor).
7. “Transvases do Rio São Francisco: riscos sociais para os moradores da vila junco
em Cabrobó (PE) – Brasil” – os impactos citados nesse trabalho tem relação aos
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das bacias receptoras, e que não traziam discussões sobre o impacto da obra da transposição,
mas sim de outros contextos e que nem sempre apresentava os termos transposição ou
canalização ou se referia ao rio São Francisco. Assim, fugia do nosso objetivo. Por isso,
quando fazíamos as buscas apresentavam esses números de resultados, mas quando líamos os
resumos e até os próprios artigos, fugia da temática que nos propusemos a estudar. Além
disso, havia páginas com links quebrados e artigos repetidos que se apresentava em mais de
uma plataforma.
Então, diante das leituras dos trabalhos e observações de aspectos que frisavam sobre
as interferências durante a construção e operacionalização da transposição do rio São
Francisco conseguimos categorizar algumas evidências que são comuns e dão validade aos
pontos destacados em nosso trabalho, ao qual discutiremos nos resultados (seção a seguir).
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5. RESULTADOS
Percebemos que as obras das construções dos canais e sua operacionalização causaram
impactos na vida da população afetada pela obra nos mais variados âmbitos, alguns previstos
pelo RIMA e outros não. No entanto, é preciso uma maior descrição desses impactos para
fazer uma comparação e avalição desse aspecto.
Os resultados destacados apontam mais pontos negativos do que positivos, o que pode
alertar para algo preocupante. No entanto, pelo fato dos impactos destacados serem de curto
prazo essa avaliação pode ser um pouco tendenciosa, pois já era previsto alguns impactos
devido a extensão e grandiosidade dos canais da transposição. Mas, já são indícios
alarmantes.
Entretanto, é preciso uma melhor avaliação dessa obra em aspectos de estudo mais
densos e que mostrem a realidade mais detalhada e como isso afetou diretamente as
comunidades. É preciso que a comunidade científica se desdobre para identificar as principais
mudanças causadas pelas obras e pela operacionalização do projeto, uma vez que aumentada a
oferta da água há muitas possibilidades de melhorias na vida dos sujeitos beneficiados e
também de atividades produtivas como industriais e de outros polos produtivos.
Como morador de uma cidade (Monteiro, Paraíba) beneficiada pela obra da
transposição do rio São Francisco, detendo de alguns conhecimentos informais, através de
relatos e pesquisa não estruturada e informal, percebi alguns impactos diretos, como a
desapropriação de várias comunidades: Sítio Mulungu, Pau d’Arco e Extrema entre outros.
Em conversa com alguns moradores percebemos que muitos não aceitaram o fato de
ter que se mudar do lugar onde nasceu e que tinha perdido as suas raízes. Outros entenderam
que se fazia necessário para que a Transposição viesse para ajudar os mais necessitados e para
aqueles produtores que, de certa forma iria, precisar da água trazida do rio São Francisco, para
a melhora da sua produção.
Mas o que aconteceu foi totalmente ao contrário, essa ajuda não veio. Há relatos sobre:
várias irrigações clandestinas para algumas propriedades privadas; de famílias que foram
praticamente expulsas de suas terras, sendo realocadas em uma vila (Lafayete, em Monteiro-
PB) com condições precárias, sem acesso a água, gerando mobilizações de denúncias e
reportagens em jornais do estado; rumores de que quando essas famílias tiverem acesso aos
recursos hídricos a verba que o governo federal disponibilizava para os desapropriados serão
suspensas; poços da zona rural secaram, talvez os lençóis freáticos podem terem sidos
afetados pelas explosões e escavações das obras.
Um ponto positivo é que essa mesma comunidade, teve apoio da Embrapa resgatando
a produção de algodão, e esta produção já foi comprada por uma grande empresa, que
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inclusive se instalou recentemente no município. Outro ponto foi à forma que eles se uniram
para ajudar um ao outro, onde foi criada um associação para que os moradores pudessem lutar
pelos seus direitos, reivindicando o que o Estado não atendeu e tentando reaver seus
prejuízos.
Essas informações informais foram obtidas por meio de uma exploração, cujo objetivo
era nos basear sobre as problemáticas de formar e organizar nossa pesquisa, tentando ver os
problemas causados nas comunidades locais, para então construirmos uma pesquisa
estruturada que viesse a trazer dados registráveis, como entrevistas ou escuta de relatos sobre
os impactos causados pela obra. No entanto, devido a pandemia, tivemos que mudar todo o
nosso roteiro e nos adaptar à realidade que estamos vivenciando.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir de nossa investigação podemos perceber que esse ainda é um tema delicado
por envolver vários contextos, mesmo sendo de uma mesma região, mas com realidades
diferentes, algumas mais afetadas e outras não.
É preciso haver uma maior avaliação dos impactos causados pelas obras e
operacionalização dos canais da transposição do rio São Francisco, compará-las com o que
era apresentado no RIMA, bem como verificar outros aspectos que poderão ter aparecido e ser
alguma novidade.
Há muitas controvérsias sobre a construção e o seu real objetivo, uma vez que o
destino final desses canais é destinado a cidades com potenciais econômicos muito
importantes, o que não é um problema, pois favoreceria o desenvolvimento da região e
economia local. Porém e a população como será atingida? Quais aspectos vai melhorar a vida
da população enquanto aproveitamento do recurso hídrico? Que outras medidas precisam ser
tomadas para evitar ou amenizar os impactos causados pela obra?
Enfim, muitas perguntas surgem e nosso objetivo não é respondê-las, mesmo se fosse
seria muito complicada uma reflexão que afirmasse com precisão as respostas ou soluções
desses problemas. E como morador de uma cidade beneficiada pela obra e conhecendo a
realidade local, foi possível perceber alguns impactos diretos das obras sejam negativos ou
positivos, nesse curto tempo, ao qual já destacamos nos resultados.
Porém, conseguimos perceber que é preciso mais trabalhos com esses aspectos de
modo a avaliar os benefícios e malefícios dessa grande obra, a fim de levar a reflexões de
achar possíveis soluções para melhor aproveitamento dela, promover um desenvolvimento
regional, bem como mitigar e/ou amenizar os impactos negativos que a mesma provocou
sejam eles ambientais, sociais, de saúde, dentre outros.
Portanto, é preciso haver uma maior comunicação desses aspectos com a publicação
de mais trabalhos que evidenciem essa temática, que deixe os sujeitos a par dessa situação,
para que os mesmos possam cobrar dos governantes soluções e/ou melhorias para o usufruto
de tão rico recurso como a água.
Conseguimos identificar que houveram mais aspectos negativos destacados nas
produções do que positivos e que isso pode ser um alarme, mesmo sendo impactos a curto
prazo. Também não foi identificado um estudo aprofundado sobre os impactos diretos da obra
para a produção e desenvolvimento econômico. Existe uma carência de trabalhos nessa área.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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seca e convivência com o semiárido. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, Pombal, v.
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CARVALHO, K. M. et al. Rio abaixo, rio acima: o pescador, o rio e os riscos no Baixo São
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https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/estrutura-territorial/15974-
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dinamizador do semi-árido nordestino. Inclusão Social, Brasília, v. 2, n. 2, p. 14-18, 2007.
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