Rodolfo 2021

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA PARAÍBA

IFPB - MONTEIRO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO
AMBIENTE

RODOLPHO GOMES MARTINS

IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS DA CANALIZAÇÃO DO RIO SÃO


FRANCISCO A PARTIR DE PRODUÇÕES CIENTÍFICAS

MONTEIRO– PB
2020
RODOLPHO GOMES MARTINS

IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS DA CANALIZAÇÃO DO RIO SÃO


FRANCISCO A PARTIR DE PRODUÇÕES CIENTÍFICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Especialização em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, do Instituto Federal da Paraíba – Campus
Monteiro, em cumprimento às exigências parciais
para a obtenção do título Especialista.

ORIENTADOR (A): Dr. Ericson da Nóbrega Torres

MONTEIRO– PB
2020
RODOLPHO GOMES MARTINS

IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS DA CANALIZAÇÃO DO RIO SÃO


FRANCISCO A PARTIR DE PRODUÇÕES CIENTÍFICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Especialização em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, do Instituto Federal da Paraíba – Campus
Monteiro, em cumprimento às exigências parciais
para a obtenção do título Especialista.

Aprovado em ____ / ____ / _______

Banca Examinadora

____________________________________________
Prof. Dr. ERICSON DA NÓBREGA TORRES
Orientador (Instituto Federal da Paraíba)

___________________________________________
Prof. DRA. MÔNICA LARISSA AIRES DE MACÊDO
Examinador Externo Colaborador do Instituto Federal da Paraíba

_________________________________
Especialista KÁSSIA DYJEANE LEAL FELIX
Examinador Externo
A Deus. A meus pais, familiares e amigos por todo apoio e
carinho!
AGRADECIMENTOS

Devo demonstrar primeiramente a gratidão que eu tenho a Deus por todos esses anos da
especialização e por ter me protegido, já que sem essa força, saúde, paciência e sabedoria eu
não teria conseguido.

Posteriormente aos meus pais, que me proporcionam educação e oportunidades, a quem devo
a vida e toda minha carreira. Me faltam palavras para expressar a minha gratidão, sem eles
nada disso seria possível. Apenas cheguei a esta fase com ajuda deles, que eu amo e admiro.

A todos os meus colegas de turma, em especial a Nicoly e Gabriel Fernando, pelo


companheirismo, paciência e colaboração, além de todas as palavras de conforto, fazendo
com que eu acreditasse mais em mim.

A meu amigo Diogo Cabral, que me ajudou de forma esplêndida e contribuiu com o sucesso
desse trabalho.

A todos os professores que estiveram presentes em minha vida acadêmica pelos


ensinamentos e toda sabedoria, contribuindo com a minha formação.

A professores da banca examinadora por fazer parte com muita importância dessa etapa da
minha vida acadêmica.

Ao meu Professor Orientador Éricson Torres, que me acolheu desde início do projeto, me
apoiando e me passando segurança.

Por fim agradeço a todos que de alguma forma contribuíram durante o caminho que percorri
até a finalização de mais uma etapa.
“Preservar o Meio Ambiente é preservar a vida. À
Natureza é o único livro que oferece um conteúdo
valioso em todas as suas folhas.”
(Johann Goethe)
RESUMO

O projeto de integração da bacia do rio São Francisco por muito tempo ensejou muitas
discussões e a partir de sua construção e operacionalização causou alguns conflitos e também
uma esperança devido ao aumento da oferta hídrica aos beneficiários desse projeto. Sabendo a
importância dessa obra e da riqueza que ela pode trazer para a região semiárida, pretendeu-se
através deste trabalho identificar alguns impactos (negativos e positivos) que essa obra causou
na região afetada. Assim, o objetivo é identificar os principais pontos das produções
acadêmico-científicas sobre os impactos sociais, ambientais e econômicos causados as
comunidades afetadas pela a transposição do Rio São Francisco. Para atender esse objetivo a
metodologia desta pesquisa assume uma abordagem qualitativa e aproxima-se de uma revisão
sistemática sob a forma de pesquisa bibliográfica. Com isso, foram utilizados artigos de
periódicos encontrado nos portais de busca: Scielo, Periódicos da CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e Google Acadêmico, no período de 2007 até
os dias atuais, com o idioma em português. Logo, resultou que os impactos citados nessa
investigação têm um teor maior negativo, o que é um indício de alerta. Porém, esses impactos
são de curto prazo e alguns já previstos pelo RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). São
necessárias investigações mais aprofundadas e melhor descritas sobre o tema, fato este, que
limitou alguns resultados encontrados. Dessa forma, é preciso que a comunidade acadêmica
volte o olhar para a transposição e possa identificar o que vem ocorrendo com a
operacionalização do projeto, e com isso propor reflexões e algumas soluções para
dificuldades observadas, bem como salientar e destacar aspectos positivos, uma vez que o
aumento da oferta hídrica pode favorecer o desenvolvimento econômico regional.

Palavras-chaves: Transposição; Rio São Francisco; Impactos socioambientais;


Desenvolvimento regional.
ABSTRACT

The integration project of the São Francisco river basin for a long time gave rise to many
discussions and after its construction and operation it caused some conflicts and also hope
due to increase in water supply to beneficiaries of this project. Knowing the importance of this
contruction and the wealth it can bring to the semi-arid region, this work intended to identify
some impacts (negative and positive) that this contruction caused in the affected region. Thus,
the objective is to identify the main points of academic-scientific productions on the social,
environmental and economic impacts caused to communities affected by the transposition of
the São Francisco River. To meet this objective, the methodology of this research takes a
qualitative approach and approaches a systematic review in the form of bibliographic
research. Thus, articles from journals found in search portals were used: Scielo, CAPES
Periodicals (Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel) and Academic
Google, from 2007 to the present day, with the language in Portuguese. Therefore, it turned
out that the impacts mentioned in this investigation have a greater negative content, which is a
warning sign. However, these impacts are short term and some are already foreseen by the
RIMA (Environmental Impact Report). More in-depth and better described investigations on
the subject are needed, a fact that limited some of the results found. So, it is necessary for the
academic community to turn their gaze to the transposition and be able to identify what has
been happening with the operationalization of the project, and thus propose reflections and
some solutions for difficulties encountered, as well as highlighting positive aspects, once that
increasing water supply can favor regional economic development.

Keywords: Transposition; São Francisco River; Social and environmental impacts; Regional
development.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 08
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 13
2.1. História do Semiárido Nordestino: desenvolvimento regional e impactos
ambientais e sociais ..................................................................................................................... 13
2.2. O rio São Francisco ................................................................................................. 17
2.3. A Transposição/Canalização do rio São Francisco ............................................ 20
3. METODOLOGIA.................................................................................................... 25
4. ANÁLISE E DISCURSO DE DADOS ................................................................. 29
5. RESULTADOS ....................................................................................................... 38
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 44
8

1. INTRODUÇÃO

O homem modifica o ambiente onde vive e cada vez mais tem avançado nas alterações
em seu meio, devido às necessidades e problemas com que convive diariamente, a fim de
melhorias e benefícios para seu bem estar e para sua própria sobrevivência. Isso pode ser
explicitado desde o movimento de transformações no campo até a ocupação urbana, bem
como a exploração da área marítima para pesca, para transportes fluviais, dentre outras
atividades.
A Região do Nordeste Brasileiro, mas especificamente o Semiárido Nordestino,
sempre passa por períodos longos de estiagens. Estes causam muitos problemas nas
comunidades ali localizadas. Assim, com o índice pluviométrico baixo e ainda somado ao fato
de que cerca de 10 milhões de habitantes do Semiárido detêm seu sustento de atividades que
dependem bastante de água (agricultura e pecuária tradicionais), o morador do semiárido está
muito vulnerável aos problemas decorrentes da seca (CASTRO, 2011). Então, o problema das
poucas precipitações e da evapotranspiração alta, evidencia a escassez hídrica que afeta
principalmente os povos das cidades mais interioranas e das comunidades rurais.
Porém vale destacar que nessa região há uma diversidade cultural e natural, mas é
amplamente conhecida pelo os períodos de secas que marcam o clima e afetam a produção e
dificulta a realidade da região local. Todavia, apesar desse período, o semiárido brasileiro é
um dos mais chuvosos do mundo, mas com chuvas concentradas e temporalmente, além de
solos impermeáveis, rasos e pedregosos (ASSAD et al., 2016). E ainda, de acordo com os
autores, as fontes de água no Brasil que são disponíveis permanentes, a região semiárida
detém apenas cerca de 3% do total. Isso leva a reflexão sobre o problema da escassez de água
da região.
A região possui uma área com cerca de 982 mil km², concentrando cerca de 89,5% da
Região Nordeste. Vale a pena ressaltar que a região do semiárido vai além dos estados do
Nordeste (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia),
a única exceção é o Maranhão, e inclui Minas Gerais, a parte norte do estado. Assim, os
10,5% concentra-se na Região Sudeste, justamente em Minas. Assim, o Semiárido brasileiro é
composto por 1262 municípios. E os critérios estabelecidos para essa delimitação são os
níveis de precipitação pluviométricos (com média anual igual ou inferior a 800 mm), os
índices de aridez igual ou inferior a 0,50 (segundo o método ou classificação de clima de
Thornthwaite) e os percentuais diários (em todos os dias do ano) de déficit hídrico maior ou
igual a 60%. (IBGE, 2018). O mapa abaixo nos mostrar o território
9

Figura 1 - Mapa do Semiárido Brasileiro

Fonte: IBGE (2005).

Para amenizar os problemas dos longos períodos de estiagens enfrentados pela


população dessa região muitas medidas foram tomadas. Iniciativas governamentais que eram
voltadas para o enfrentamento das secas ou combate à seca, tinham como objetivos grandes
infraestruturas hídricas, como açudes e sistemas de irrigação. Mas, os êxitos delas não
obtiveram resultados satisfatórios e quase sempre limitados. Então, foram geradas várias
discussões e medidas para sanar essa problemática que há muito tempo era enfrentada.
Para Assad et al (2016, p. 7, grifo do autor) essa visão de “combate à seca”, marcante
nas décadas de 1960 a 1980, mas ainda vigente em diversas ações, programas e políticas,
originou, além de um grande desperdício de recursos públicos, levou a ampliação da crise
social local, a concentração de renda e afetou todo o processo de desenvolvimento da região”.
As construções hídricas por si só não caracterizam a solução para suprir a escassez de
água no semiárido, uma vez que nem sempre essas construções beneficiam os moradores
circunvizinhos dessas obras, bem como a distribuição dessas águas ainda são questionáveis.
10

Porém, ainda não solucionada a problemática da escassez da água no Nordeste, a


canalização do rio São Francisco surge como uma medida para facilitar os meios de produção
e vida da população da região do semiárido brasileiro. Esta demanda hídrica percorrerá canais
e rios inscritos em açudes já existentes que receberão as águas do rio São Francisco, com a
finalidade de beneficiar áreas de munícipios, distritos industriais e alguns perímetros de
irrigação. Desse modo, se tornando uma obra muito importante, e quiçá, a maior para a
região.
No entanto, de acordo com Villa (2004) a discussão sobre a transposição do Rio São
Francisco vem desde o século XIX, onde as primeiras ideias estavam relacionadas à abertura
de um canal que faria com que as águas do Rio São Francisco chegassem ao Rio Jaguaribe.
Esta ideia vinha sendo defendida para “combater” a seca no Nordeste.
Com o passar do tempo essas discussões foram ganhando corpo e tomando novos
rumos, não só sendo apontada como solução para o problema da semiaridez do Nordeste,
como também como promessa de desenvolvimento para o povo da região.
Muito tempo depois num caminho longo e tortuoso – com avanços e retrocessos,
discussões e imbróglios, polêmicas e manifestações de apoio – essas discussões saíram das
narrativas, foram documentadas e por fim concretizadas. As obras ganharam corpo com a
gestão do governo Lula (2002-2010), em que foram iniciadas, avançando assim com o
governo Dilma (2010-2016) com boa parte das obras já finalizadas e com comportas já
abertas, mas só no início do governo atual que estão sendo concluídas.
De acordo com Castro (2011, p. 11), “o Projeto de Transposição prevê a construção de
dois canais: o Eixo Norte que levará água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e
Rio Grande do Norte, e o Eixo Leste, que beneficiará parte do Sertão e a região Agreste de
Pernambuco e da Paraíba”. Assim, podemos perceber que além de ser uma obra gigantesca
causará impactos não só na questão territorial, mas nas populações e no meio ambiente dos
estados receptores dessas águas.
Dessa forma, a transposição do “Velho Chico” poderá trazer novas perspectivas e
novas dinâmicas ao semiárido nordestino através dessas medidas que podemos associar ao
globalismo que vêm avançando e quebrando fronteiras e paradigmas.
Vale a pena ressaltar que é preciso saber que não podemos combater a seca, pois esta é
um fenômeno natural, onde há períodos de longas estiagens. Assim, é preciso conscientizar e
desenvolver políticas públicas a fim de preparar a população para a convivência com o
semiárido. Com isso, identificar as principais características locais, bem como as atividades
que podem ser desenvolvidas e melhor exploradas, respeitando as disponibilidades dos
11

recursos naturais e as condições climáticas, em busca de uma sustentabilidade a partir da


convivência com o semiárido. Um exemplo são as construções de cisternas para a captação e
armazenamento das águas das chuvas. Essas tecnologias sociais vêm trazendo alguns
impactos positivos, de forma a descentralizar a concentração de águas a uma só obra, já que
estas tecnologias nem sempre atingem toda a população necessitada.
Mas isso não deve excluir e nem minimizar a importância das grandes obras para os
recursos hídricos, elas são alternativas complementares para atingir o máximo de necessitados
possíveis. Então, sabendo da importância dessas construções e de seus impactos, acreditamos
que a canalização do Rio São Francisco também contribuirá para a região que estará
disponível para o uso de suas águas, complementadas com políticas públicas e incentivadas as
alternativas que podem superar várias intempéries no semiárido nordestino.
Nesse bojo, ao acreditar nessas mudanças e nos impactos que as mesmas podem
causar, principalmente das grandes obras, surge a inquietação sobre os impactos que as águas
do Rio São Francisco podem trazer a região do semiárido (mas especificamente as regiões
afetadas pela obra) e cientes que existam discussões sobre isso há algum tempo, eclode a
questão norteadora desta pesquisa: o que as pesquisas acadêmicas apontam sobre os impactos
no meio ambiente e os impactos sociais nas comunidades devido à construção da canalização
do Rio São Francisco?
Para responder tal pergunta buscaremos, com uma abordagem qualitativa, desenvolver
uma pesquisa de cunho bibliográfico com base em produções científicas que relatem sobre os
impactos sociais e ambientais causados pela canalização do Rio São Francisco. Com isso, a
nossa coleta de dados se dará por meio de uma revisão sistemática, com pesquisas em banco
de dados como os Catálogos de Teses e Dissertações da Capes, a Biblioteca Digital Brasileira
de Teses e Dissertações (BDTD), o Portal de Periódicos da Capes e também em plataformas
de buscas como o Google Acadêmicos e o Scielo. Essa investigação terá como aporte as
pesquisas nacionais, oriundas de fontes como artigos, monografias, dissertações e teses, além
de alguns documentos sobre a Transposição do Rio São Francisco.
Para tentar responder a nossa inquietação central e refletir sobre tal problemática
traçamos como objetivo geral identificar os principais pontos das produções acadêmico-
científicas sobre os impactos sociais, ambientais e econômicos causados as comunidades
afetadas pela a canalização do Rio São Francisco.
Como objetivos específicos destacamos:
 Fazer um levantamento bibliográfico e verificar publicações científicas sobre
os impactos da canalização do Rio São Francisco;
12

 Identificar as principais características e impactos sociais destacados nessas


produções.
 Investigar os impactos ambientais averiguados na literatura;
 Analisar a realidade atual das comunidades atingidas pelas obras da
transposição.
Nossa pesquisa pretende avançar nessas análises sobre os impactos, uma vez que as
obras já vêm sendo finalizadas. Com isso, pretendemos apresentar os parâmetros destacados
no início das obras e percebendo quais são os pontos que estão mais em evidência agora na
fase de conclusão da canalização, percebendo os aspectos que coincidem e quais foram
descartados ao longo dos avanços das obras.
A justificativa desse trabalho se dá pela importância de entender como esta obra pode
ter afetado a região beneficiária, seja positivamente ou não, no âmbito das questões sociais e
ambientais. Bem como levar a reflexão de quem a obra poderá ter favorecido, se é ao
consumidor e pequeno produtor da região ou aos latifundiários, grandes produtores e as
grandes indústrias, que concentram parte das riquezas dificultando o desenvolvimento
regional e sustentável da região semiárida nordestina.
O desejo de pesquisar tal problemática surgiu da curiosidade de saber como essa obra
pode beneficiar e/ou prejudicar a população que vive circunvizinha da canalização do Rio São
Francisco. Esta que passa pela cidade de Monteiro – Paraíba, que é minha terra natal. Assim,
veio a curiosidade de saber como a distribuição dessa água pode contribuir além do consumo
básico de sobrevivência.
Diante do exposto, tem-se a pretensão de descortinar se a canalização das águas do
Rio São Francisco veio para ajudar ao sujeito da região do semiárido a conviver com as
condições do local em que vive, adequando-se a essa nova realidade, a partir do usufruto
dessas águas e se elas têm chegado a esses sujeitos e tem atendido a expectativas, bem como
ajudado no desenvolvimento e produção da região.
13

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Nesta seção iremos contextualizar nossa pesquisa a partir de uma revisão bibliográfica
que nos ajudou a entender a problemática ao qual estudamos, bem como apresentar algumas
características importantes para entender todo o entorno da problemática.
Assim, apresentaremos um pouco sobre o desenvolvimento regional e alguns impactos
na região do semiárido nordestino; sobre o Rio São Francisco e sua importância; e por fim a
importância do processo de transposição de águas e algumas obras já realizadas, bem como
alguns de seus impactos.

2.1. História do Semiárido Nordestino: desenvolvimento regional e impactos ambientais


e sociais.

Historicamente foi criado imagens de referência do semiárido nordestino como uma


região de terras secas e de miséria, onde a escassez de água é o principal problema. “Os
relatos das secas, do flagelo da fome e da aspereza da vegetação de caatinga contribuíram
para as imagens e representações negativas sobre o Sertão nordestino”. (SILVA, 2008, p. 83).
Isso ocorre devido aos baixos níveis de precipitação nessa região, pois apresenta
períodos de fortes estiagens, secas prolongadas, inclusive o alto potencial de evaporação da
água. E de acordo com o Relatório de Impacto Ambiental – o RIMA, essa evaporação tem
muita influência no armazenamento de água em açudes e rios da região e diz:
Quando há chuvas, as águas são guardadas nos açudes e reservatórios da região,
porém grande parte dessas águas é perdida pela evaporação elevada. Esse é um fator
climático muito importante na região, pois restringe a eficiência dos açudes para
armazenar água. O resultado é que a escassez de água, associada à incerteza
climática, mantém limitadas as atividades humanas básicas, o abastecimento das
populações e o desenvolvimento das atividades agrícolas e industriais. (BRASIL,
2004, p. 59).

Todavia, além das poucas precipitações e da semiaridez, o problema do


desenvolvimento dessa região vai muito, além disso, isto é, da falta d’água. É claro que ela é
um fator importante até para a sobrevivência, mas tem muito mais questões a serem também
resolvidas.
Por muito tempo, inclusive atualmente, há olhares tendenciosos sobre a região
nordestina do nosso país, cujo debates para melhorias e soluções para a região perpassam
sobre o combate à seca e os seus efeitos, onde a seca ainda é apontada como a principal
problemática da região.
E a partir disso surgiram várias iniciativas governamentais para o enfrentamento ao
período das secas, numa tentativa de rever os efeitos desse fenômeno natural. Porém, essas
14

tentativas mesmo que amenizando algumas situações, de fato não resolveram ou obtiveram
sucesso a longo prazo. Muitas organizações estatais foram criadas ao longo do tempo para lhe
dar com os efeitos das secas, conforme aponta Brito et al (2017, p. 58):
Durante toda a trajetória política, social e econômica brasileira, foram criados vários
departamentos e projetos no combate as secas na região Nordeste. Foram várias as
tentativas ao combate deste problema, que marca de forma histórica a população
nordestina, que sempre conviveu com a problemática da estiagem. Ao longo dos
séculos, criando-se órgãos para lidar com a questão da seca, programas foram
elaborados e obras executadas.

As implementações das políticas governamentais deram origem a algumas instituições


ao longo desse processo de enfrentamento aos efeitos da estiagem no semiárido nordestino,
como a IOCS (Inspetoria de Obras Contra as Secas) que depois se tornou a IFOCS (Inspetoria
Federal de Obras Contra as Secas) e em 1945 foi transformada na DENOCS (Departamento
Nacional de Obras Contra Secas).
Segundo Brito et al (2017) essas instituições realizavam estudos geológicos, hídricos,
geográficos, e mineralógicos, a fim de desenvolver políticas hídricas. Assim, desenvolvendo
projetos como construções de açudes, cisternas e poços, e ainda projetos como a agricultura
irrigada, como os sangradouros dos açudes, por exemplo.
Houve outras iniciativas, como GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento
do Nordeste), alterado para OPENO (Operação Nordeste) e depois para CODENO (Comissão
de Desenvolvimento do Nordeste). Estas instituições desenvolveram estudos para diagnosticar
as principais dificuldades na região e apontou o processo de industrialização para garantir
mais autonomia e crescimento regional. E também foi criada a SUDENE (Superintendência
de Desenvolvimento do Nordeste), que financiou a implantação de infraestruturas em grandes
propriedades, que pagariam por essas obras e que gerasse empregos para agricultores sem
terras, porém isso só beneficiou os latifundiários e os pequenos agricultores ficaram
dependentes dos proprietários dessas terras. (BRITO, et al. (2017).
Ainda houve projetos desenvolvidos por essas instituições e outras reviravoltas de
mudança de estratégias e visão política. No entanto, nosso objetivo não é tratar sobre cada
uma delas, e sim ter um parâmetro de como se tratou a seca do semiárido. Uma vez sendo
ciente que esses projetos, mesmo que contribuindo e amenizando os problemas da região,
ainda não era suficiente para solucionar esse problema dos longos períodos de estiagens.
Assim, foi preciso rever essas políticas de enfrentamento e a ideia de combate à seca,
já que esse período é cíclico e sempre acontece. Com isso, ao longo do tempo foi mudando
essa perspectiva trazendo uma nova ótica, que é a convivência com o semiárido, ou seja,
respeitando esse processo de estiagem, bem como os processos produtivos que podem ser
15

explorados nas condições climáticas com sustentabilidade. Porém, isso não exclui a
importância das políticas já construídas sobre os recursos hídricos e de captação e
armazenamento de águas, mas refletir para provocar mudanças para melhoria dessas políticas
que sejam mais condizentes com as necessidades locais e as condições climáticas.
Então, tendo em vista essa nova perspectiva e sobre esse processo de mudança de
pensamento Silva (2008) fez um breve resumo de alguns pesquisadores importantes sobre
esse tema, contrapondo esse pensamento de combate à seca e propondo algumas alternativas
de superação e convivência com o semiárido:
1. Djacir Menezes: descreveu os aspectos humanos, políticos, econômicos, culturais,
biológicos e sociais do sertão nordestino. Menezes buscava expressar o
rompimento do pensamento acrítico e socialmente passivo das explicações
naturalistas e racistas dos problemas regionais, elaborando uma denúncia da
miséria e das injustiças sociais. Portanto, a crítica desse pensador buscava uma
proposta de valorização dos saberes locais e de que as formas de convivência em
conexão com os recursos a que se dispõe;
2. Josué de Castro: explicou que a causa da fome pode ser encontrada nos sistemas
socioeconômicos, na concentração de renda e da estrutura fundiária, na
exportação da produção e no descaso da produção interna de alimentos.
Identificou algumas causas da calamidade durante o período das secas: a estrutura
agrária na região, a concentração da terra; a exploração do trabalho nas áreas
privadas; e a escassez de produtos de subsistência com as crises econômicas
inflacionárias. Criticava as ações do governo de combate à seca e os seus efeitos,
pois não solucionavam o problema e sim reproduzia o subdesenvolvimento na
região. A crítica de Castro tinha como base a defesa de uma economia baseada no
desenvolvimento humano e equilibrado, da fixação do homem à terra, e da
educação popular como ferramenta de liberdade econômica, política e espiritual;
3. Guimarães Duque: ressaltava a importância e a necessidade da agricultura
ecológica. Destacou o processo de desertificação do Semiárido, resultante do
manejo inadequado e intensivo da caatinga. Do pensamento de Duque podemos
destacar: a formulação de políticas públicas condizentes para o desenvolvimento
regional (considerando as condições naturais, e um conjunto de propostas
estruturais: garantia de trabalho e também o acesso à terra, a infraestrutura e ao
crédito); defendia o avanço da industrialização adequada ao contexto do
semiárido; a elaboração de planos de ação e a implantação de obras no semiárido
16

com a consulta popular; a preocupação nas melhorias das condições de vida da


população local (educação, a solidariedade e exercício da cidadania);
4. Celso Furtado: trouxe uma visão do problema da seca para uma questão social,
tirando a responsabilidade das nuvens e propondo um novo olhar para as políticas
públicas. Também destaca que o processo histórico determina as características de
subdesenvolvimento em cada país, e que o fenômeno do subdesenvolvimento se
apresenta de diferentes formas seja na dependência tecnológica, no mercado
interno frágil, no desequilíbrio na economia, e na política autoritária. Furtado
buscava demonstrar que a superação do subdesenvolvimento se dava possível por
meio da industrialização, planejada e conduzida pelo Estado. E isso levando em
consideração o desenvolvimento sustentável e a valorização dos agricultores, já
que a reforma agrária seria capaz de transformar agricultores em um personagem
importante na economia e na convivência com a seca, a partir da agropecuária,
mas com um aspecto ecológico da região;
5. Manoel C. de Andrade: apontou que a modernização conservadora no semiárido
teria implicações ecológicas (desgaste do solo, obstrução no leito dos rios,
degradando assim a caatinga). Andrade apresentou princípios e critérios de
sustentabilidade do desenvolvimento do semiárido: desenvolver atividades
produtivas condizentes ao cotidiano da região; investir no conhecimento da
realidade local, identificando pontos para a transformação da economia local e as
culturas apropriadas do meio natural; promover a educação popular, com a
conscientização política, a adaptação do ser humano e a ação produtiva com os
aspectos da região; fazer a reforma agrária, permitindo o acesso à terra a quem
realmente nela trabalha e garantir o acesso ao crédito e à orientação técnico-
agronômica; instaurar um equilíbrio entre a agricultura tradicional, a agricultura
irrigada e a lavoura seca, com a criação de vários reservatórios de água;
6. Otamar de Carvalho: tratou sobre o desenvolvimento regional, das políticas que
permitam a relação da expansão da agricultura irrigada e a realização da reforma
agrária. E, destacou três aspectos cruciais para o desenvolvimento sustentável no
semiárido: a) viabilizar melhores condições de vida, com o desenvolvimento na
convivência com a semiaridez e criando oportunidade de inserção produtiva e uma
política eficaz de inclusão social; b) o aproveitamento das potencialidades e o
enfrentamento dos problemas regionais (governo e sociedade); c) um olhar sobre a
complexidade das problemáticas no semiárido, a fim de alternativas e soluções,
17

fugindo do padrão de soluções únicas. Portanto o pensamento de Carvalho tinha


como base o desenvolvimento fundado na convivência com a semiaridez e na
participação da sociedade civil nas tomadas de decisões;
7. Tânia B. de Araújo: discutiu sobre o desenvolvimento, baseado nos aspectos
sociais, geográficos, econômicos e políticos e na realidade local. Destacou que o
processo de crescimento econômico não promove o desenvolvimento regional,
pois a integração econômica, por meio do capital produtivo, tornou maior a
dependência de empresas do Sudeste. O pensamento de Araújo defendia a
presença de organizações não governamentais como alternativa à ausência do
Estado, e na necessidade de uma política nacional de desenvolvimento regional
com redução das desigualdades regionais, garantia de serviços públicos básicos,
melhoramento das condições de trabalho e integração dos espaços regionais.
Com isso, mesmo ainda algumas pessoas tendo alguns preconceitos e sendo
influenciadas por uma visão histórica errada de uma região seca e pobre, isso vem mudando
aos poucos. Além disso, os debates estão tomando outro rumo, já que os problemas
enfrentados pela região vão muito além do longo período de estiagem. Mas, de um
planejamento e projetos que respeitem as condições, a realidade e a cultura local. Na verdade,
o problema do Semiárido nunca foi a seca e sim as cercas. Ou sejam as limitações de políticas
e projetos para região, bem como a má distribuição de recursos hídricos, dentre outros
aspectos de restrição para atividades produtivas.

2.2. O rio São Francisco

Na bacia do Rio São Francisco se tem um dos principais rios do território nacional
chegando a abranger os estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco,
Sergipe e inclusive o Distrito Federal. A Bacia Hidrográfica do São Francisco ocupa cerca de
8% do território brasileiro (com uma extensão de 2.863 km e de 636.920 km² de área).
(BRASIL, 2005).
E de acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas):
A população total na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, no ano 2000, é de
12.796.082 habitantes, sendo 74,4% da população urbana e 25,6% da população
rural. A densidade demográfica média na Bacia é de 20,0 hab./km2. Do total de 503
municípios, 456 têm sede na Bacia. (BRASIL, 2005, p. 36)

Diante disso, ao percorrer essas regiões o rio chega a nutrir muitos biomas, já que
percorre diferentes regiões. Assim, abrange a Mata Atlântica (inclusive a Costeira), Cerrado,
18

Caatinga e Insulares. Devido o trajeto traçado ao banhar esses biomas e três diferentes regiões
do país, o Rio São Francisco é conhecido como o rio de integração nacional.
O Velho Chico nasce na região conhecida como Alto do São Francisco a 1.280 m de
altitude. E historicamente a nascente do Velho Chico ficou conhecida como sendo localizada
na Serra da Canastra em Minas Gerais, mais especificamente no município de São Roque de
Minas. Entretanto, em 2002 foi constatado, após estudos da Companhia de Desenvolvimento
dos Vales dos São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), que a verdadeira nascente é
localizada em Medeiros (MG).
O rio São Francisco tem vários afluentes, onde os principais tem concentração maior
nos cerrados, na nascente em Minas Gerais e na Bahia (a parte fronteiriça com o estado de
Minas). Pelo fato desse rio ter um grande percurso, com isso passando por regiões que possui
diferenças climáticas e de outras condições naturais, há uma variação na quantidade de águas
e na concentração delas, até pelo próprio relevo. E isso dificulta algumas informações mais
precisas do próprio rio.
Essa bacia hidrográfica tem um papel muito importante para a Região Nordeste,
principalmente para diversas atividades econômicas, como a pesca, as grandes produções
alimentícias agrícolas, a geração de energia, o turismo, transportes fluviais, entre outras
atividades. E pelo fato desse rio ter um grande percurso, durante o seu trajeto podemos
encontrar diversos contrastes socioeconômicos com áreas de grandes riquezas e com
densidade demográfica alta e de áreas de muita pobreza e com uma dispersão na população.
Então, para facilitar e melhor delimitar as características do São Francisco, o seu
percurso é dividido em quatro regiões fisiográficas (ver na figura a seguir): o Alto São
Francisco (da nascente até o Rio Jequitaí, em Pirapora – Minas Gerais); o Médio São
Francisco (de Pirapora até Remanso, no estado da Bahia), o Submédio São Francisco (de
Remanso até Paulo Afonso, na Bahia) e o Baixo São Francisco (de Paulo Afonso até a sua
foz, no estado de Alagoas). (BRASIL, 2004).
Sobre a população que reside na região da bacia do Rio São Francisco temos que a
quantidade de habitantes é de aproximadamente 13,3 milhões distribuída nas quatros regiões,
em que 48,8% são do Alto São Francisco (onde se encontra a região Metropolitana de Belo
Horizonte – MG), 25,3% do Médio São Francisco, 15,2% do Submédio São Francisco e
10,7% Baixo São Francisco. A região do Semiárido ocupa cerca de 57% da área da Bacia,
com aproximadamente 361.825 km² e compreende 218 municípios e mais de 4,7 milhões de
habitantes. (BRASIL, 2005).
19

Figura 2 - Unidades hidrográficas de referência e divisão fisiográfica da Bacia do Rio São


Francisco

Fonte: Brasil (2005, p. 34)

A bacia hidrográfica do São Francisco é muito importante para o país, pois além de
levar água a regiões semiáridas e de ter um potencial hídrico, tem uma influência direta nas
produções alimentícias do país, fomentando assim parte da economia do Brasil.
Essa bacia ainda tem um papel importante na geração de energia elétrica, chega a 13%
do total produzido no país. O potencial hidroelétrico é de 25.795MW, e 10.395 MW estão
distribuídos nas usinas de Três Marias, Queimado, Sobradinho, Itaparica, Complexo Paulo
Afonso e Xingó, estas que são pertencentes a Bacia do Rio São Francisco. Vale destacar
20

também que a barragens das usinas de Três Marias e Sobradinho são fundamentais para a
regularização das vazões do rio São Francisco. Essa energia produzida pelas águas do São
Francisco é a base para o suprimento da energia da Região Nordeste. (BRASIL, 2005).
O rio tem passado por vários problemas ambientais devido ao mau uso e a exploração
das suas águas. Isso ocorre devido às demandas pelo uso das águas do São Francisco estas
relacionadas às questões agrícolas, urbanas e industriais, causando conflitos e interesses na
gestão e restrições dos recursos hídricos, sendo pauta também nos conflitos dos debates da
transposição da água do rio.
A quem irá favorecer, ao consumo do sujeito que vive no semiárido para sua
sobrevivência e dos pequenos produtores e agricultores da região ou aos grandes
latifundiários, industriais e/ou grandes produtores que querem monopolizar as águas para lhes
favorecer pouco atendendo a população? A quem vai afetar positiva ou negativamente? Quais
os principais impactos? A população da região foi preparada para usufruir a água de maneira
sustentável e que possa para além do consumo favorecer as pequenas produções e agricultura
familiar? Quais são os projetos que podem auxiliar no desenvolvimento sustentável da região
e fortalecer o desenvolvimento da região?
São questões como essas que nos fazem pensar sobre a importância e a viabilidade da
Transposição do Rio São Francisco. Então, para refletir com base nessas perguntas na seção
abaixo buscaremos, a partir de outras obras sobre a transposição, identificar os principais
impactos causados, como foi utilizado essas águas, quais eram os objetivos e se ajudou no
desenvolvimento da região, ou se o objetivo não foi atingido.

2.3. A Transposição/Canalização do rio São Francisco

Transpor, segundo o Dicionário Júnior da Língua Portuguesa significa: atravessar,


passar para o outro lado, passar algo de um lugar para outro, transferir, transladar. Assim,
transposição significa o ato de transpor (MATTOS, 2011).
Quando se trata da transposição do Rio São Francisco esse significado ganha uma
outra conotação. Uma vez que o objetivo da obra não é mudar de lugar o rio (coisa que seria
meio que impossível), mas de ampliar o rio canalizando suas águas até que cheguem em
algumas localidades específicas a fim de atender populações que sofrem com a escassez de
água. Logo, a ideia é de canalização das águas do Rio São Francisco, de forma que sua bacia
hidrográfica possa fornecer água através de um canal para as outras localidades permitindo a
produção e sobrevivência na região semiárida.
21

Esse tipo de obra não é uma novidade ou uma revolução nas questões hídricas, uma
vez que até mesmo as discussões sobre a “transposição” do São Francisco já vêm de muito
tempo, desde o século XIX, como já apontou Villa (2004) citado na introdução.
Na tese de Assis (2015), são destacadas algumas obras de transposição que já
ocorreram em outros países, como:
 A transposição do Rio Tejo (Espanha e Portugal), que não atingiu o objetivo levar
água a regiões mais carentes que era primordial, além de problemas como a
salinização dos solos, dentre outros;
 A transposição do Mar Aral (Cazaquistão e Uzbequistão) que tinha como objetivo
converter terrenos baldios em zonas irrigadas para a produção de algodão. Um
grande canal de extensão foi aberto para espalhar as águas pelo solo desértico. E
isso afetou outras produções, como a alfafa e a produção de óleo vegetal extraída
de outras plantas;
 Transposição do Rio Santa (Peru), conhecido como projeto Chavimochic, nesse
projeto, ainda em andamento, não foram considerado alguns desafios para a
implantação e funcionamento da integração, como a salinização do solo, a alta
turbidez e a concentração de sedimentos, além de problemas financeiros e manejo
com a irrigação;
 Transposição do Rio Snowy (Austrália), iniciado em 1949, gerou e estimulou
empregos, além disso houve conflitos entre a região doadora e receptora.
Atualmente, apresenta alguns desafios como a dessalinização, suprimentos para a
reutilização da água, poços, dentre outros.
Podemos perceber que foram destacados alguns desafios para a implementação e
construção das obras, e isso pode ser justificado pela falta de um planejamento mais detalhado
que deixou de levar em consideração aspectos bem importantes, como por exemplo a
transposição do Rio Santa no Peru que não houve um planejamento mais adequado
considerando as condições que seriam encontradas durante o percurso e a bacia receptora. No
entanto, também há relatos de pontos positivos como a melhoria de produções, criação de
novas áreas produtivas, geração de emprego e até de turismo. (ASSIS, 2015).
Então, tendo como base outras experiências, torna muito mais fácil construir um
projeto e prever algumas situações que poderiam ser encontradas na transposição do Rio São
Francisco. Com isso, traçar caminhos que amenizem os desafios e que solucionem problemas
já encontrados em outras obras de transposições.
22

Para melhor entender sobre a obra da canalização das águas do Rio São Francisco,
podemos destacar quais são os principais objetivos dessa obra. De acordo com o Relatório de
Impacto Ambiental, os objetivos básicos dessa obra são:
 Aumentar a oferta de água, com garantia de atendimento ao Semi-Árido;
 Fornecer água de forma complementar para açudes existentes na região,
viabilizando melhor gestão da água;
 Reduzir as diferenças regionais causadas pela oferta desigual da água entre
bacias e populações. (BRASIL, 2004, p. 25).

Essa obra vem pra suprir a necessidade da população da região do semiárido devido à
escassez de água, que afeta não só os meios de produção, mas até a sobrevivência devido as
necessidades básicas do próprio ser humano. A canalização do Rio São Francisco irá integrar
outras bacias hidrográficas (Rio Jaguaribe – CE, Apodi – RN, Piranhas-Açu – PB e RN,
Moxotó – PE, e Brígida – PE), e de acordo com Brasil (2004) levará cerca de 3,5% da vazão
disponível de Sobradinho. Isso corresponde a cerca de 2 bilhões de metros cúbicos de água,
dos quase 90 bilhões que esse rio despeja no mar.
A transposição está dividida em dois eixos. O Eixo Norte, que visa chegar ao estado
de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Esse primeiro ponto de captação desse eixo
fica localizado na cidade de Cabrobó (PE) e terá um percurso de aproximadamente 400 km
até chegar aos rios Salgados e Jaguaribe (localizados no Ceará), ao rio Apodi (no Rio Grande
do Norte), ao Rio Piranhas-Açu (Paraíba e Rio Grande do Norte). Enquanto isso o Eixo Leste,
que tem a captação da Barragem de Itaparica (em Floresta, Pernambuco), terá um percurso até
o Rio Paraíba (no estado da Paraíba) com cerca de 220 km. No entanto, durante esse trajeto
abastecerá as bacias do Pajeú, do Moxotó e no Agreste de Pernambuco (com um ramal de 70
km até o rio Ipojuca). (HENKES, 2014).
Acredita-se que os aspectos positivos da transposição vêm para o âmbito econômico e
também social na geração de empregos, no aumento das rendas e circulação do capital na
região. Assim, além da distribuição de águas, trata-se do asseguramento de safras de
agricultura, do desenvolvimento industrial bem como o fortalecimento do turismo.
Durante o período de discussão e de implementação da obra de canalização das águas
do São Francisco duras críticas surgiam devido a vários fatores, tais como: o custo da obra e
da manutenção da operacionalização; riscos a fauna e flora da região que percorrerá a obra,
devido ao desmatamento; problemas sociais gerados pelas desapropriações e deslocamentos
de pessoas das regiões afetadas; aumento dos efeitos erosivos devido às escavações e abertura
dos canais; a diminuição da produção de energia, tendo uma perca de cerca de 2,4%, que
23

poderá afetar algumas atividades econômicas inclusive o abastecimento de eletricidade em


várias residências. (LIMA et al, 2013; HENKES, 2014)
No Relatório de Impacto Ambiental1 foi identificado 44 impactos durante a elaboração
do projeto para a canalização das águas do Rio São Francisco. E desses impactos 23 são
considerados de maior relevância, em que 11 são positivos e 12 negativos. Os impactos
positivos destacados para a implantação e operação do projeto de integração das águas são:
1. Aumento da oferta e garantia hídrica;
2. Geração de empregos e renda durante a implantação, ou seja, durante as obras;
3. Dinamização da economia regional;
4. Aumento da oferta de águas para o abastecimento urbano;
5. Abastecimento de água das populações rurais;
6. Diminuir a exposição da população a situações emergenciais da escassez de
água;
7. Dinamização da atividade agrícola e criação de novas áreas de produção;
8. Melhoria da qualidade da água nas bacias receptoras;
9. Diminuição do êxodo rural e da emigração da região;
10. Diminuição da exposição da população a doenças e redução de óbitos;
11. Redução da pressão sobre a infraestrutura de saúde.
Quanto aos impactos negativos relevantes da implantação e operação do projeto foram
destacados no documento:
1. Perda temporária de empregos e renda por efeito das desapropriações;
2. Modificação da composição das comunidades biológicas aquáticas nativas
existentes nas bacias receptoras;
3. Perigo de redução da biodiversidade das comunidades biológicas aquáticas nas
bacias receptoras;
4. Tensões e riscos sociais durante a obra;
5. Ruptura de relações sócio-comunitárias durante a obra;
6. Possibilidade de interferências com populações indígenas;
7. Pressão sobre a infraestrutura urbana;
8. Risco de interferência com o Patrimônio Cultural;
9. Perda e/ou fragmentação de cerca de 430 hectares de vegetação nativa e de
hábitats de fauna terrestre;

1
Ver Brasil (2005)
24

10. Risco de introdução de espécies de peixes potencialmente daninhas ao homem


nas bacias receptoras;
11. Interferência sobre a atividade de pesca nos açudes receptores;
12. Modificação do regime fluvial das drenagens receptoras
Sobre as críticas ao projeto da Transposição das águas do rio São Francisco, Soares
(2013, p. 82) destaca que:
Estudiosos, políticos e movimentos sociais fazem críticas ao projeto. As principais
críticas dizem respeito ao alto custo, aos impactos ambientais e a quem a obra, de
fato, traria benefícios. Além disso, baseados num histórico de obras públicas
inacabadas, os críticos colocam em dúvida a conclusão das obras e de seus
programas ambientais.

Ainda, segundo o autor, movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores


Rurais Sem Terra), criticava a obra acreditando que a mesma estava ligada ao agronegócio e a
privatização dos recursos hídricos para acúmulo de capital e políticas neoliberais. Já o
Movimento Popular São Francisco Vivo, além de criticar a obra e não acreditar que ela seria
uma solução viável, sugeriu um novo caminho com uma contraproposta, onde destacava que
deveria ser revitalizada toda a bacia hidrográfica e aprender a conviver com o semiárido,
numa concepção que construir grandes obras não será a solução dos problemas dessa região.
Hoje isso é perceptível após a operacionalização dos canais em algumas regiões. Por
exemplo o Eixo Leste, que tem como ponto final na cidade de Monteiro na Paraíba, onde as
águas do rio São Francisco cortam o município e a partir dessa localização as águas vão até ao
açude de Boqueirão (que abastece a cidade de Campina Grande, Paraíba) por gravidade.
Mesmo com esse recurso hídrico atravessando a cidade de Monteiro, pouco se ouve
sobre iniciativas que geraram um desenvolvimento econômico no próprio município ou na sua
região. De fato, a obra por vezes, há o abastecimento das residências da população na região,
mas com a conclusão e operacionalização da obra fica implícito que o objetivo final não era
para o desenvolvimento de Monteiro e região e sim para um maior abastecimento de água a
cidade de Campina Grande devido ao seu potencial industrial, onde a escassez de água afeta
diretamente a produção e a economia de uma das principais cidades industriais do Nordeste.
A partir desse exemplo e de outros fatores que aconteceram ao longo da conclusão
desse projeto, a obra ainda hoje recebe duras críticas, seja referente aos gastos exorbitantes
que atingiram (e os casos de corrupções atrelados a esses) até ao objetivo final da obra, se de
fato veio para atender as necessidades da população do semiárido ou apenas de cidades
importantes para a economia do país. O que aumenta a desigualdade, a concentração do
capital, a má distribuição dos recursos hídricos, entre outros problemas.
25

3. METODOLOGIA

A metodologia de nossa pesquisa assume uma abordagem qualitativa, como aponta


Bogdan e Bliken (1994) onde os dados coletados compõe a descrição do objeto de estudo,
incluindo relações subjetivas do interesse do pesquisador a verificar as manifestações do
fenômeno, com isso a análise dos dados tende a ser de forma indutiva. Assim, tornando o
investigador o elemento central para as escolhas e tomadas de decisões. Os autores ainda
afirmam que a preocupação é muito maior com o processo do que com o produto final.
A pesquisa qualitativa é importante para compreender a sociedade, os fenômenos e
atividades que nela ocorrem, e isso vai muito além de identificar a ocorrência do fenômeno ou
quantas vezes ele ocorre. Ou seja, vai além dos números, tende a compreender o fenômeno e
os motivos de sua ocorrência, de como diagnosticá-lo e apresentar caminhos para a busca da
solução de uma problemática. A escolha da abordagem qualitativa se justifica pelo fato de que
buscaremos obter os dados de uma forma mais livre, onde a intepretação dos dados conceda
uma certa liberdade para o autor interpretá-los e não está preso a quantidades e números.
Utilizaremos o método descritivo, pois buscaremos os dados coletados e
descreveremos aspectos importantes das produções científicas que discutam a problemática
dos impactos ambientais e sociais da canalização do Rio São Francisco. Assim, buscaremos
analisar os dados minunciosamente, de forma a respeitar, o quanto possível, a naturalidade de
como foram registrados. (BOGDAN; BLIKEN, 1994).
Assim essa investigação será realizada sob forma de pesquisa bibliográfica, embasada
em aspectos da revisão sistemática. A pesquisa bibliográfica consiste em coletar dados em
produções já realizadas. Para Martins e Theóphilo (2016, p. 52, grifo do autor), esse tipo de
pesquisa trata-se de uma:
(...) estratégia pesquisa necessária para a condução de qualquer pesquisa científica.
Uma pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um assunto, tema ou
problema com base em referências publicadas em livros, periódicos, revistas,
enciclopédias, dicionários, jornais, sites, CDs, anais de congressos etc. Busca
conhecer, analisar e explicar contribuições sobre determinado assunto, tema ou
problema. A pesquisa bibliográfica é um excelente meio de formação científica
quando realizada independentemente – análise teórica - ou como parte indispensável
de qualquer trabalho científico, visando à construção da plataforma teórica do
estudo.

Ou seja, é um tipo de pesquisa que, além de compor todos os trabalhos acadêmicos,


ela esgotada em si só se torna uma importante investigação para avaliação das produções e
também entender a problemática estudada, os avanços e retrocessos, bem como as principais
26

diferenças e os pontos que são comuns. Assim, num processo de validação dos próprios
resultados, de novas evidências e de contraprova ou contraposição ao que foi identificado.
Já a revisão sistemática é uma forma mais criteriosa para se fazer um levantamento de
pesquisas que irão compor um trabalho científico, e esta revisão não se faz de maneira
aleatória. Para isso é estabelecido um processo de busca de artigos relevantes que poderão
compor a fundamentação ou revisão teórica da pesquisa e que também poderão constituir os
resultados. O intuito é ter uma metodologia definida nesse processo de busca, assim fugindo
de critérios subjetivos, já que estes podem ser susceptível e influenciados por vieses das
hipóteses do pesquisador.
De acordo com Demerval, Coelho e Bittencourt (2020, p. 04):
Revisão sistemática procura minimizar erros sistemáticos e aleatórios buscando
definir claramente o procedimento a ser adotado na condução do levantamento do
estado da arte de um tópico de pesquisa. Por exemplo, revisões sistemáticas devem
ser executadas de acordo com uma estratégia de busca previamente definida e que
permita que sua completude seja avaliada por outros pesquisadores, devem
considerar um período específico para a busca, recuperar trabalhos que atendam
palavras-chaves pré-determinadas, além de definir de forma clara os critérios de
inclusão e exclusão dos trabalhos buscados.

Esse tipo de pesquisa é importante, uma vez que ela é o ponto de partida na produção
de novos conhecimentos, assim investigando o que já foi produzido e também o que vem
sendo investigado, ajudando a compreender o objeto, aprimorar os objetivos e até formular
melhor a questão da pesquisa delimitando e/ou especificando ainda mais. Assim, busca a
compreensão mais clara das produções científicas na área e problemática em jogo, dos
encaminhamentos futuros e dos aprimoramentos das produções.
Escolhemos os artigos científicos para melhor delimitar as novas buscas, uma vez que,
devido a importância e relevância do tema, encontraríamos uma infinidade de materiais o que
dificultaria e tornaria inviável uma leitura de todo o material.
Para realizar esse processo de pesquisa, baseado nos autores acima citados (idem) e
com algumas adaptações, adotaremos como protocolo os seguintes passos:
1. escolha das palavras-chaves (ou string2) para delimitar as buscas;
2. critérios de inclusão e exclusão dos estudos, por meio dessas palavras-chaves;
3. estratégias de buscas de artigos;
4. leitura dos resumos e escolha de critérios para escolha e aprovação do trabalho;
5. leitura das pesquisas identificando os impactos destacados nas investigações;
6. um quadro comparativo e relatório final.

2
Ver Demerval, Coelho e Bittencourt (2020).
27

A revisão sistemática não tem todos esses passos, porém nossa investigação quer ir
mais além, com um olhar mais minucioso para a problemática que queremos abordar. E para
coletar esses dados usaremos como palavras-chaves: rio São Francisco; transposição;
Canalização; desenvolvimento regional; impacto socioambiental. A justificativa pela a
escolha dessas palavras se dá pelo entendimento de uma busca não tão ampla e que englobe
algumas de nossas hipóteses sobre as interferências das obras e operacionalização da
transposição, desde impactos ambientais, como as questões sociais e econômicas.
Caso o uso dessas palavras-chaves não apresente resultados usaremos “transposição do
rio São Francisco”, assim há uma possibilidade de aparecer trabalhos que relatem essa
temática, mesmo que não se enquadre nas características que pretendemos. De forma, que
possamos analisá-los para obter informações sobre impactos causados pela obra.
O tipo de produção a ser investigada será artigos de periódicos e anais de eventos, que
se encontrarão nas buscas realizadas nas plataformas Scielo e no Portal de Periódico da
CAPES3 e na ferramenta de busca do Google Acadêmico. Assim, compondo a nossa
estratégia para busca de artigos.
O Scielo4 é um repositório eletrônico de periódicos de produções científicas
brasileiras, que tem como objetivo não só o armazenamento das produções, mas também a
preparação, a disseminação e avaliação das investigações realizadas.
O Portal Periódico da CAPES é uma biblioteca virtual que disponibiliza produções
científicas das mais variadas instituições de ensino, inclusive produções internacionais, como
muitas obras de referências e muito conhecido e acessado pelos pesquisadores. Sendo assim,
uma boa e importante fonte para busca e coleta de dados.
Como estratégia de busca estabelecemos alguns critérios para facilitar e delimitar mais
os resultados que poderão ser encontrados, sendo mais específicos e fazendo com que os
dados encontrados vão ao encontro com o objetivo de nossa investigação. Assim, pelo fato de
a obra ser brasileira e se encontrar integralmente no território nacional, um dos critérios será
de produções em língua portuguesa, mais especificamente de autores brasileiros. Outro
critério são as produções de 2007 até o ano atual. Mas por que 2007? Esse ano foi onde
iniciou a obra e já encontrava alguns relatórios mais elaborados e que já apresentava alguns
sinais de impactos e ou interferências, uma vez já dada o início da obra.
Atendido a busca pelas palavras-chaves, o idioma das produções e o período
estabelecido, nós iremos analisar os resumos dos trabalhos encontrados nas buscas. Onde

3
Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (https://www.periodicos.capes.gov.br/).
4
Scientific Electronic Library Online (ver: https://scielo.br/?lng=pt)
28

objetivamos identificar a partir dos objetivos indícios de investigação que buscou identificar
os impactos causados pela obra da canalização ou se nos resultados apresentados nesse
resumo também apresentou essas interferências, sejam ambientais ou sociais.
Após isso iremos ler o trabalho buscando apontamentos sobre os impactos das obras
citadas no trabalho e a partir daí fazer um breve resumo para fazer as comparações entre os
trabalhos que se enquadram nesses critérios. Em seguida, analisaremos as referências
bibliográficas dessas investigações com o intuito de identificar outros trabalhos da mesma
problemática e que talvez poderão também compor nossa pesquisa, desde que atenda os
critérios estabelecidos e que não foram encontrados por esses sites de buscas.
Após atender todo esse protocolo estabelecido iremos identificar categorias a
posteriori que irão emergir dos próprios dados, assim categorizando-as e organizando-as a fim
de identificar os principais impactos e quais as ocorrências, percebendo a evolução ao longo
das produções e verificando se o que foi destacado e/ou proposto se realizou ou não.
Vale ressaltar que pretendíamos olhar para os impactos sobre a população afetada
diretamente com as construções dos canais da transposição, especificando a realidade dos
moradores da cidade de Monteiro – PB, dos sujeitos que precisaram ser desapropriados de
suas antigas residências devido à obra. No entanto, com a pandemia e o isolamento social isso
ficou inviável tendo em vista que traria certo risco de contaminação. Porém, no final do
trabalho, nas considerações traremos uma visão, enquanto cidadão monteirense sobre os
impactos perceptíveis na nossa cidade.
29

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

Nossa coleta de dados se iniciou pelo site de busca Google Acadêmico, ao colocar as
palavras-chaves para a busca e depois selecionar só páginas em português foi gerado 51
páginas com mais de 500 resultados de trabalhos. No entanto, com a exclusão de trabalhos
que não são artigos (como e-books, relatórios, monografias, dissertações, teses entre outros) e
de links quebrados (que não gerava uma nova página ou apresentava algum erro para abrir
e/ou fazer o download do artigo) fez uma primeira redução dos dados coletados.
Com a rápida leitura dos resumos, a exclusão de trabalhos que não abordavam sobre a
transposição chegamos a 4 trabalhos, aos quais se enquadravam em nossa investigação,
mesmo que apresentassem timidamente alguns impactos da obra e/ou do projeto quando ainda
se iniciava a construção dos canais hídricos. Ou seja, muitos dos artigos encontrados não
condiziam com o objetivo de nossa pesquisa, não apresentando dados ou relatos acerca dos
impactos da transposição e muitas vezes nem se tratavam de trabalhos que falavam sobre a
obra e/ou construção dos canais, uma vez que os outros termos de busca talvez direcionaram
esses trabalhos que surgiram da nossa busca.
Ainda foi encontrado trabalhos que se referiam a contextos da bacia do rio São
Francisco e/ou da transposição, mas sem abordar aspectos sobre a obra ou operacionalização
da mesma ou apenas citando que era uma região próxima da obra, sem sinalizar qualquer
interferência a partir da transposição.
Após a leitura desses trabalhos foi identificado alguns pontos sobre a transposição do
Rio São Francisco, pautas de críticas ou de esperanças para um desenvolvimento da área
beneficiada, além dos que foram previstos pelo Relatório de Impacto Ambiental já citado. E
isso veremos abaixo:
1. “O papel dos recursos hídricos no desenvolvimento sustentável do Nordeste” –
nesse trabalho foi destacado algumas resistências por parte de críticos do projeto,
onde os mesmos diziam que essa obra não iria beneficiar ou ser usada para o
consumo humano e sim para disponibilizar água para a agroindústria e a
carcinicultura, beneficiando principalmente “os grandes latifundiários nordestinos,
pois grande parte do projeto passa por grandes fazendas e os problemas
nordestinos não serão solucionados” (AZEVEDO; SRINIVASAN; SANTOS,
2013, p. 05);
2. “Os desafios do Paradigma da ‘cidadania’ hídrica na América Latina: conflitos,
estado e democracia” – um dos pontos destacados foi sobre a postura do estado
30

frente a população que seriam afetadas diretamente com a realização da obra, com
falta de informações e desdobramentos sobre o futuro dos desalojados, assim
deixando a sensação de lesão a direitos. Há uma preocupação da inclusão das Vilas
Produtivas Rurais (criação destinadas aos desalojados para produção sustentável,
de subsistência e geração de renda), “não se observa nas vilas um conjunto de
ações constantes que mobilizem os beneficiários em atividades produtivas, ao
contrário, vê-se o ócio e o pouco contato com os representantes do governo”
(CASTRO; SILVA; CUNHA, 2017, p. 23) e que alguns moradores falam em
descasos do governo com os habitantes. Além disso, é destacado sobre cursos que
dão de capacitação acerca de atividades agrícolas que não condizem com a
realidade, bem como a não disposição de materiais para a prática produtiva, assim
sendo negado a capacidade de trabalhar e exercer atividades criativas. Concluindo
que o “Estado não desenvolveu espaços para uma efetiva discussão política
deliberativa e diálogo frequente entre ele e os moradores, o que desembocou em
vilas cujas características não imprimem as vontades e identidade da população”
(CASTRO; SILVA; CUNHA, 2017, p. 25-26).
3. “Projeto São Francisco: garantia hídrica como elemento dinamizador do semi-
árido nordestino” – os benefícios destacados nesse trabalho ressaltam o potencial
econômico devido a garantia hídrica bem como o aumento de sua oferta. É
destacado que “durante o período de construção do empreendimento sejam gerados
cerca de 5 mil postos de trabalho diretos e indiretos” (SANTANA FILHO, 2007, p.
17), e a longo prazo, além do aumento da renda disponível, terá uma geração de
320 mil postos de trabalho nas regiões receptoras. Ainda é destacado que a área
diretamente afetada poderá oportunizar cerca de 24,4 mil hectares de novas áreas
irrigadas até 2025. Outros benefícios são destacados também:
aumento no bem-estar do usuário de abastecimento urbano, resultante do maior
acesso dos usuários à água adicional; produção de excedente nas atividades de
produtores urbanos e rurais, aumentando a renda líquida obtida em função da
utilização da água bruta; redução dos gastos públicos emergenciais durante as secas,
com a distribuição de cestas de alimentos, frentes de trabalho e fornecimento de
água em carros-pipa; aumento do emprego e renda da população residente na área de
abrangência do projeto, diminuindo os processos de desagregação familiar e
promovendo redução da migração populacional para áreas metropolitanas e suas
conseqüências sobre a economia e infraestrutura das cidades brasileiras.
(SANTANA FILHO, 2007, p.17).

4. “Seca no Nordeste e a transposição do rio São Francisco” – é apontado que pelo


histórico de obras públicas inacabadas que surgiram muitas críticas pondo em
dúvida a conclusão da obra, uma vez que é de alto custo. Políticos como Paulo
31

Souto (ex-governador da Bahia) e João Alves Filho (ex-prefeito de Aracaju)


teceram críticas devido a possíveis impactos negativos das bacias doadoras, devido
ao elevado gasto para a construção dos canais, a falta de discussões do projeto com
diversos setores da sociedade e da falta de clareza de aspectos técnicos. O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também criticou o projeto
e suscitou dúvidas em relação a ligação com o agronegócio, o hidronegócio
(privatização e/ou controle sobre os recursos hídricos para geração e aumento de
capital) e a carcinicultura. O autor desse trabalho também destaca que há um risco
de que a transposição seja um canal tímido de água que provoque dúvidas da sua
validade social e econômica, a fim de se transformar em ações especulativas de
mercado de terra e da política (SOARES, 2013).
Nesses primeiros trabalhos não há uma discussão mais aprofundada sobre os impactos
positivos ou negativos sobre a obra da transposição do rio São Francisco ou algum trabalho
voltado para essa perspectiva em termos de avaliação ou projeções. Embora apresentem
algumas críticas.
A busca no site do Scielo com os termos já descritos proporcionou uma infinidade
(mais de 3000 trabalhos) de trabalhos quando colocamos or (ou) nos campos de pesquisas. Já
quando colocamos and (e) não apresentou nenhum resultado. Diante disso, buscamos a partir
da sentença “Rio São Francisco”, de artigos em português, no período 2007-2020 e com o tipo
de literatura sendo artigo, foi gerado 272 trabalhos.
Destes, ao ler os resumos buscando evidências que encaixassem nos critérios
estabelecidos para a inclusão em nosso trabalho, ou seja, que relatassem os impactos previstos
da construção, ou já encontrados com a obra em andamento ou com a sua finalização e
manutenção das atividades dos canais da Transposição, conseguimos identificar 05 trabalhos,
nestes foram destacados:
1. “Comunicação de risco e os discursos da imprensa sergipana na Transposição do
Rio São Francisco” – nesse trabalho é destacado os discursos presente nos jornais
sergipanos sobre os riscos da transposição. Com isso, os principais destaque
foram: a transposição é para favorecer a irrigação para o agronegócio e para a
carcinicultura; a vazão do rio está comprometida com essa obra; a má distribuição
das águas e a crise no abastecimento da água; e o impacto ambiental devido ao
aumento da cunha salinidade, prejudicando o solo, a fauna e a flora das Bacias.
Esses discursos apontam alguns indícios sobre os impactos da construção e do
32

funcionamento dos canais da transposição, no entanto, não há nenhuma


comprovação a cerca desses fatos. (BECKER; SANTOS, 2014)
2. “A política, o direito e o desenvolvimento: um estudo sobre a transposição do Rio
São Francisco” – é destacado o impacto sobre o alto custo da manutenção e
operacionalização do projeto, podendo causar impactos na economia. Inclusive os
municípios que antes eram beneficiados pelo uso de sua capacidade energética
terão sua produção reduzida em 2,4%. A distribuição das águas irá afetar pouca
porcentagem da população do Nordeste, mesmo aumentando a oferta da água não
resolverá o problema de acesso e democratização dos recursos hídricos, ou seja,
ainda continuará a má distribuição da água. Os impactos e danos ambientais
poderão atingir a geração presente e as futuras. (HENKES, 2014). Haverá baixo
impacto na redução da pobreza, mesmo gerando alguns empregos, pois
[...] a economia da região pode se beneficiar com a obra e se desenvolver
economicamente por meio da instalação de novos postos de trabalho, mas os
resultados positivos deste desenvolvimento (econômico) não serão igualitários.
Poucos se beneficiarão muito, por exemplo, com os pagamentos das
desapropriações, das empreiteiras, fazendeiros etc. e muitos pouco receberão.
(HENKES, 2014, p. 527)

3. “Ordenamento territorial, governança e a transposição de águas do São Francisco:


uma perspectiva” – sobre os impactos destacados nessa investigação podemos
apontar: a redução da geração de energia hidrelétrica, uma vez que o potencial vem
cada vez mais desgastado, com “sinais visíveis de exaustão (crise energética de
2001, 2015), e a retirada prevista de até 127m³/s para translado de águas do São
Francisco” (DOMINGUES, 2015, p. 65). Mesmo trazendo uma segurança hídrica
a bacias receptoras, não trará benefícios diretos a outras regiões que não estão
incluídas na rota da transposição. E quanto ao enfoque ambiental alerta sobre os
sérios problemas que já são comuns a bacia do rio São Francisco, como o desvio
de suas águas para a irrigação. (DOMINGUES, 2015).
4. “A transposição do rio São Francisco e a saúde do povo Pipipã, em Floresta,
Pernambuco” – violação de direitos das populações (de indígenas, quilombolas e
camponeses) afetada pelas obras da transposição, com intervenções compulsórias,
desterritorialização, pagamentos irrisórios de indenização, nas atividades da
agricultura e na caprinocultura, entre outros. Foi feito uma nova marcação
territorial, o que além de ter afetado os pontos de referência e a mobilidade dos
índios causou alguns agravos físicos e mentais (ansiedade, tristeza, insegurança,
33

crises de alergias e sintomas de problemas respiratórios devido a poeira das


construções e explosões de rochas). Também foi destacado:
As condições materiais de vida foram afetadas, no povo Pipipã, nos seguintes
aspectos: (1) perda de número significativo de animais; (2) perda do pasto; (3)
redução na produção de mel, pois o corte da terra atingiu o território das abelhas; (4)
gastos financeiros para se deslocar para outros lugares, devido à perda das melhores
terras que usavam para agricultura; (5) desaparecimento da caça; (6) perda das
plantas sagradas usadas na medicina indígena, nos rituais e na alimentação humana e
dos animais; e (7) perda das principais fontes de água (poços, barreiros, lagoas), que
tinham grande importância no convívio dos índios com o semiárido e significados
simbólicos para o povo Pipipã. (GONÇALVES et al, 2018, p. 915).

5. “Rio abaixo, rio acima: o pescador, o rio e os riscos no Baixo São Francisco” – os
riscos apontados sobre o aspecto ambiental é apontado sobre mudança no curso da
água (mais estreito e mais fundo) dificultando atividade como a pesca. Foi
apontado sobre o descaso, sensação de abandono e ausência da escuta das
populações afetadas nas tomadas de decisões. (CARVALHO et al, 2020). E ainda
foram identificados:
[...] riscos socioeconômicos – precarização social, migração, subemprego, crise
fundiária; desestruturação social, prostituição e suicídio; riscos culturais - perda da
oralidade ancestral, esquecimento de lendas e sentimento de religiosidade,
distanciamento cultural dos jovens e rompimento do vínculo afetivo com o Velho
Chico. (CARVALHO et al, 2020, p. 12, grifo do autor).

Os trabalhos encontrados nessa plataforma não são relatos específicos sobre os


impactos direto da transposição, mas já dão alguns indícios de interferências e/ou mudanças
nos contextos próximos ao trajeto da obra.
A busca no Portal Periódico da Capes gerou 204 resultados, a partir da expressão
“Transposição do rio São Francisco”, do período de 2007 a 2020, tipo de literatura artigo e
somente em português.
Relacionando com os critérios de inclusão a nossa investigação e a partir da leitura dos
resumos conseguimos reduzir esse número para 08 trabalhos, onde estes destacavam os
seguintes impactos/interferências sobre a construção e operacionalização da transposição:
1. “Transposição do rio São Francisco: (des)caminhos para o semi-árido do Nordeste
brasileiro” – o trabalho traz alguns destaques sobre impactos que podem ser
provocados com a obra da transposição citando autores que vão ao encontro de seu
pensamento. Assim, destacou como pontos negativos: o risco de colapso no rio,
favorecimento de fazendas agrícolas em detrimento do abastecimento humano;
interferência no regime fluvial devido a degradação da bacia hidrográfica
(diminuição de mata ciliar); e o aumento do processo de desertificação em níveis
consideráveis. Foram destacados como pontos positivos: o desenvolvimento de
34

projetos para a produção do biodiesel, por meio da produção de dendê, babaçu e


mamona (esta que tem um rico potencial, de ciclo curto e adaptável às condições
do semiárido); e a segurança hídrica pela integração das bacias, assim aumentando
a oferta da água. (ALVES; NASCIMENTO, 2009).
2. “Identificação das áreas susceptíveis a processos de desertificação no médio trecho
da bacia do Ipojuca – PE através do mapeamento do estresse hídrico da vegetação
e da estimativa do índice de aridez”: o processo de desertificação durante a obra e
operação do sistema foi destacado como um impacto ambiental negativo, isso
devido ao estresse hídrico devido à retirada das águas do São Francisco
aumentando a vulnerabilidade. O lado positivo destacado nesse trabalho é
referente à irrigação de áreas abandonadas e criação de fronteiras agrícolas que
podem favorecer o desenvolvimento econômico da região do percurso dessa obra.
(SILVA; MELO; GALVÍNCIO, 2011).
3. “Povos Indígenas Socioambientais: os Impacto das Grandes Obras em
Pernambuco” – nessa investigação é destacado impactos das grandes obras e uma
delas é referente a transposição do rio São Francisco, e nisso foi destacado: a
segurança hídrica não é garantia para a população, pois apenas 26% serão para o
uso urbano e industrial; o gasto astronômico da obra, orçada em 8,2 bilhões, mas
com previsões de aumento; o abastecimento de água com prioridade para o
desenvolvimento, favorecendo o agronegócio, a irrigação, carcinicultura e a
indústria; impactos ambientais causados pela obra “o desmatamento da caatinga,
diminuição da fauna terrestre, início ou aceleração do processo de desertificação,
erosão e assoreamento, dentre outros” (MENDONÇA et al, 2013, 139); a
insegurança da população afetada pela obra, devido a não consulta prévia e o caso
do projeto que apresenta algumas irregularidades e ilegalidades (dando mais de 15
ações judiciais que contestam o projeto). (MENDONÇA et, 2013).
4. “O mar virou sertão: a transposição do rio São Francisco e a comunidade
quilombola de Santana”: as interferências negativas ocorreram de imediato quando
as obras começaram avançar aos redores da comunidade quilombola Santana
afetou as criações de ovinos. “A criação também se constituía em fonte de renda
para as famílias da comunidade. A dificuldade de se manter a criação ocasionou
perdas importantes na renda familiar do quilombo” (RODRIGUES BRASIL, 2013,
p. 48). Enquanto o aspecto ambiental o canal afetou um percurso com cerca de
17km de distância e 500m de largura de caatinga nativa e isso também interferiu
35

na locomoção da região com acessos modificados e não sinalizados. Foi


fragmentado a participação das lideranças da comunidade nas tomadas de decisões
e esvaziamento da participação da juventude. Em termos econômicos e de
produção afetou áreas de plantios (estas foram diminuídas), o racionamento da
água afetou a produção, o isolamento da barragem afetou a criação, o manejo de
madeira ficou restrito e a caça também restringida. E ainda foi destacado sobre os
conflitos de propriedades de terras. (RODRIGUES BRASIL, 2013).
5. “Vozes da seca: representações da transposição do Rio São Francisco” – o trabalho
traz um estudo sobre os discursos presentes nos jornais acerca da transposição,
assim foi destacado os seguintes impactos: favorecimento de acordos políticos e
empreiteiras (discutidos pelos pontos de alto custo da obra, superfaturamento de
obra públicas e manobras de corrupção e favorecimento do agronegócio); os
impactos ambientais eram referentes ao aumento da cunha salina podendo tornar a
água salobra, a diminuição do pescado, da navegação, da geração de energia e
depuração do rio; o alto custo da água (apesar que o valor final a ser cobrado ao
consumidor não compensará os custos da obra); os impactos em conflitos sociais
(contra a obra) liderada por movimentos sociais; para o desenvolvimento do
semiárido foram destacados as vagas de empregos gerados e aumento da renda nas
cidades; outro positivo destacado foi a oferta de água permanente; e por fim a
reparação de uma dívida histórica, a fim de mitigar uma dívida de séculos de
desconsideração e falta de investimento na região. (CARVALHO; ESPINDULA,
2014).
6. “O processo de desertificação e seus impactos sobre os recursos naturais e sociais
no munícipio de Cabrobó – Pernambuco – Brasil” – os impactos destacados nessa
obra são referentes a aspectos de degradação ambiental, como: a modificação da
paisagem pela retirada da vegetação nativa nas margens do canal da transposição
para a terraplanagem, bem como as explosões; a exposição do solo e as mudanças
no ciclo hidrológico. (SILVA; SILVA, 2015). E ainda foi destacado:
Com a retirada da Caatinga há a diminuição da flora e fauna; perda de terras
potencialmente agricultáveis; aumento das emissões de poeira; assoreamento de
corpos d’água; salinização do solo pela utilização marginal, por agricultores, das
águas dispostas ao longo do canal, e consequente aumento das áreas potencialmente
susceptíveis ao processo de desertificação. (SILVA; SILVA, 2015, p. 212)

7. “Transvases do Rio São Francisco: riscos sociais para os moradores da vila junco
em Cabrobó (PE) – Brasil” – os impactos citados nesse trabalho tem relação aos
36

aspectos socioeconômicos, como: a desapropriação “forçada” (contra a vontade da


comunidade); separação de famílias que moravam próximas e os agrupamentos de
outras, o que gerou alguns conflitos sociais; a falta de diálogo com a comunidade
nas tomadas de decisões; com relação a moradia, mesmo com melhorias em
relação a casa que moravam antes e que passaram a morar depois das obras do
canal da transposição, apareceu alguns problemas, como rachaduras; afetou a
produção na agricultura familiar, já que não possuem acesso a terra e a água; e
também afetou nas questões mais culturais e de costumes, onde o espaço religioso
ficou restrito, pois ficou numa área pertencente a obra, “[...] acabou interferindo
diretamente em questões culturais, religiosas e nos costumes tradicionais da
população de Cabrobó”. (ASSIS; LOURENÇO; TUBALDINI, 2015, p. 173).
8. “A transposição das águas do Rio São Francisco na resposta à seca do Nordeste
brasileiro” – neste trabalho foi apontado os seguintes pontos: referente a economia,
diz em relação ao favorecimento do hidronegócio, do agronegócio, da criação do
camarão, bem como o das grandes obras de construção (isso numa perspectiva
negativa, sem um aspecto de desenvolvimento regional); sobre o déficit energético
que vai ser provocado a partir da operacionalização da obra; o alto custo da obra; o
impacto ambiental negativo devido a perda de biodiversidade e vegetação, bem
como a possibilidade de contaminação da água; e por fim mesmo com a garantia
da segurança hídrica há um problema da má distribuição que ainda precisa ser
resolvido. (FERREIRA, 2019). No entanto, referente ao reforço hídrico o autor diz
que o “reforço hídrico vai gerar renda e desenvolvimento socioeconômico das
famílias, permitindo o suprimento de indústrias, empreendimentos turísticos e
agrícolas” (FERREIRA, 2019, p. 66), apesar que pode afetar negativamente os
estados de bacias doadora, que futuramente pode gerar conflito.
Esses trabalhos foram encontrados pelos métodos de busca que traçamos, apesar que
algumas adaptações foram executadas para facilitar a busca. É possível de ser encontrado
mais trabalhos referentes a essa temática em outras plataformas de busca, no entanto
precisaríamos delimitar uma vez que não daríamos conta em um curto período de tempo de ler
esses trabalhos. Durante a investigação na plataforma do Capes percebemos que há algumas
dissertações com temáticas que se aproxima com o que almejamos, porém dificultaria nossa
pesquisa devido a quantidade de material a ser analisado.
Os trabalhos excluídos, que não atenderam os requisitos de nossa investigação, eram
comuns apresentarem características apenas de serem da região da bacia do São Francisco ou
37

das bacias receptoras, e que não traziam discussões sobre o impacto da obra da transposição,
mas sim de outros contextos e que nem sempre apresentava os termos transposição ou
canalização ou se referia ao rio São Francisco. Assim, fugia do nosso objetivo. Por isso,
quando fazíamos as buscas apresentavam esses números de resultados, mas quando líamos os
resumos e até os próprios artigos, fugia da temática que nos propusemos a estudar. Além
disso, havia páginas com links quebrados e artigos repetidos que se apresentava em mais de
uma plataforma.
Então, diante das leituras dos trabalhos e observações de aspectos que frisavam sobre
as interferências durante a construção e operacionalização da transposição do rio São
Francisco conseguimos categorizar algumas evidências que são comuns e dão validade aos
pontos destacados em nosso trabalho, ao qual discutiremos nos resultados (seção a seguir).
38

5. RESULTADOS

Há inúmeros trabalhos que relatam sobre a discussão, o projeto e o andamento das


obras da transposição do rio São Francisco. No entanto, a maioria dessas pesquisas
apresentam algumas releituras do RIMA, ou aspectos técnicos, o percurso histórico e alguns
problemas judiciais. E quando é referente aos impactos trazidos pela obra esse número cai
bastante.
Já com a operacionalização dos canais é possível destacar algumas interferências, no
entanto, pelo fato da obra e de seu funcionamento ser tão recente, esses impactos talvez
venham ficar mais evidentes num médio prazo. Ainda são poucas investigações que trazem
alguns relatos e/ou aspectos que digam os benefícios e os malefícios trazidos pela grande obra
dos canais da transposição.
Diante da nossa busca, atendendo o protocolo em que nos baseamos para encontrar os
trabalhos que abordassem a nossa problemática, uma vez que adotamos aspectos de uma
revisão sistemática, conseguimos identificar 17 obras que trazem em alguns aspectos
características dessas interferências ou um início dessas discussões.
Há uma possibilidade que a ferramenta de busca tenha reduzido a quantidade de
trabalho, além disso, alguns links estavam indisponíveis (a página para acesso não abria), o
que causou a perda de alguns trabalhos que poderiam ser importantes. E ainda destacar que
alguns trabalhos apareciam duplicados e em mais de um site de busca desses três que
selecionamos. Mas nesses que encontramos conseguimos identificar algumas categorias de
impactos diretos causados pelo o projeto de integração nacional que construiu canais para a
transposição das águas do rio São Francisco.
Ocorreu que muitas investigações lidas não apresentavam discussões mesmo que não
aprofundadas sobre os impactos da obra, mas uma releitura do RIMA, sem destacar pontos
importantes. Percebemos que há dissertações, teses e artigos apresentados em congressos que
podem ter trazidos discussões acerca de nossa temática, mas como não havia possibilidade de
ler todos, acreditamos que esses 17 trabalhos já nos dar um panorama das produções
científicas sobre os efeitos da transposição do Rio São Francisco.
39

Quadro 1 - Impactos destacados nas produções


Pontos destacados
Categoria
Positivos Negativos
Conflitos sociais (movimentos sociais, ONG,
autoridades religiosas); Precarização social
(sensação de abandono e ausência de diálogo para
tomada de decisões); Controle dos recursos
Redução de migração hídricos para acúmulo de capital (indústrias);
populacional para as áreas Sensação de lesão a direitos (falta de informações
Social/
metropolitanas; diminuir a e desdobramentos do projeto e pagamento
Política
dívida histórica pela falta de irrisórios de indenização); falta de discussão do
investimento na região. projeto com diversos setores da sociedade;
violação de direitos das populações (quilombolas,
indígenas e camponeses); desapropriação e
separação de famílias; favorecimento de
corrupção (acordo político e de empreiteiras).
Favorecimento do
desenvolvimento econômico;
Favorecimento de empreiteiras, dos latifundiários,
geração de 5 mil postos de
da agroindústria e do hidronegócio;
empregos a curto prazo e a
Ausência de atividades produtivas para
longo prazo cerca de 320 mil
desalojados; alto custo da construção,
postos de trabalho nas bacias
Econômica/ operacionalização e manutenção da obra;
receptoras; favorecimento de
Produção/ produção energética reduzida; favorecimento de
desenvolvimento de projetos
Subsistência ações especulativas de mercados de terra e da
para produção de biodiesel;
política; perda de melhores terras para agricultura,
melhoramento de atividades
afetando plantios; dificuldades para criação de
produtivas (urbanas e rurais);
ovinos, a pesca e caça; crise fundiária; afetou a
aumento da renda líquida das
navegação.
cidades das bacias receptoras;
criação de fronteiras agrícolas.
Degradação da fauna e flora; novas marcações
Ambiental/ 24,4 mil hectares de novas
territoriais (perda de pontos de referências);
Paisagem áreas irrigadas até 2025.
aumento do processo de desertificação.
Garantia dos recursos Colapso no rio (vazão comprometida); aumento
hídricos; aumento da oferta da da salinidade da água; desvio para irrigação e o
Hídrica
água; possibilidade de melhor mau gerenciamento dos recursos hídricos; perda
distribuição hídrica. de fontes de água (poços, lagos, barreiros).
Afetou a identidade das comunidades e de seus
anseios; perda de aspectos da identidade cultural,
Cultural/ religiosa e de costumes (territórios sagrados
Sem impactos diretos citados.
Religiosa restritos, vínculo afetivo com o rio São Francisco
afetado, perda de planta sagrada na medicina
indígena, dentre outros).
Aumento no bem-estar do
Agravos físicos e mentais (ansiedade, tristeza,
usuário de abastecimento
insegurança, crise de alergias, problemas
Saúde urbano, resultante do maior
respiratórios – devido às explosões, escavações e
acesso dos usuários à água
desenvolvimento da obra).
adicional.
Fonte: Elaborado pelo autor.
40

Percebemos que as obras das construções dos canais e sua operacionalização causaram
impactos na vida da população afetada pela obra nos mais variados âmbitos, alguns previstos
pelo RIMA e outros não. No entanto, é preciso uma maior descrição desses impactos para
fazer uma comparação e avalição desse aspecto.
Os resultados destacados apontam mais pontos negativos do que positivos, o que pode
alertar para algo preocupante. No entanto, pelo fato dos impactos destacados serem de curto
prazo essa avaliação pode ser um pouco tendenciosa, pois já era previsto alguns impactos
devido a extensão e grandiosidade dos canais da transposição. Mas, já são indícios
alarmantes.
Entretanto, é preciso uma melhor avaliação dessa obra em aspectos de estudo mais
densos e que mostrem a realidade mais detalhada e como isso afetou diretamente as
comunidades. É preciso que a comunidade científica se desdobre para identificar as principais
mudanças causadas pelas obras e pela operacionalização do projeto, uma vez que aumentada a
oferta da água há muitas possibilidades de melhorias na vida dos sujeitos beneficiados e
também de atividades produtivas como industriais e de outros polos produtivos.
Como morador de uma cidade (Monteiro, Paraíba) beneficiada pela obra da
transposição do rio São Francisco, detendo de alguns conhecimentos informais, através de
relatos e pesquisa não estruturada e informal, percebi alguns impactos diretos, como a
desapropriação de várias comunidades: Sítio Mulungu, Pau d’Arco e Extrema entre outros.
Em conversa com alguns moradores percebemos que muitos não aceitaram o fato de
ter que se mudar do lugar onde nasceu e que tinha perdido as suas raízes. Outros entenderam
que se fazia necessário para que a Transposição viesse para ajudar os mais necessitados e para
aqueles produtores que, de certa forma iria, precisar da água trazida do rio São Francisco, para
a melhora da sua produção.
Mas o que aconteceu foi totalmente ao contrário, essa ajuda não veio. Há relatos sobre:
várias irrigações clandestinas para algumas propriedades privadas; de famílias que foram
praticamente expulsas de suas terras, sendo realocadas em uma vila (Lafayete, em Monteiro-
PB) com condições precárias, sem acesso a água, gerando mobilizações de denúncias e
reportagens em jornais do estado; rumores de que quando essas famílias tiverem acesso aos
recursos hídricos a verba que o governo federal disponibilizava para os desapropriados serão
suspensas; poços da zona rural secaram, talvez os lençóis freáticos podem terem sidos
afetados pelas explosões e escavações das obras.
Um ponto positivo é que essa mesma comunidade, teve apoio da Embrapa resgatando
a produção de algodão, e esta produção já foi comprada por uma grande empresa, que
41

inclusive se instalou recentemente no município. Outro ponto foi à forma que eles se uniram
para ajudar um ao outro, onde foi criada um associação para que os moradores pudessem lutar
pelos seus direitos, reivindicando o que o Estado não atendeu e tentando reaver seus
prejuízos.
Essas informações informais foram obtidas por meio de uma exploração, cujo objetivo
era nos basear sobre as problemáticas de formar e organizar nossa pesquisa, tentando ver os
problemas causados nas comunidades locais, para então construirmos uma pesquisa
estruturada que viesse a trazer dados registráveis, como entrevistas ou escuta de relatos sobre
os impactos causados pela obra. No entanto, devido a pandemia, tivemos que mudar todo o
nosso roteiro e nos adaptar à realidade que estamos vivenciando.
42

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de nossa investigação podemos perceber que esse ainda é um tema delicado
por envolver vários contextos, mesmo sendo de uma mesma região, mas com realidades
diferentes, algumas mais afetadas e outras não.
É preciso haver uma maior avaliação dos impactos causados pelas obras e
operacionalização dos canais da transposição do rio São Francisco, compará-las com o que
era apresentado no RIMA, bem como verificar outros aspectos que poderão ter aparecido e ser
alguma novidade.
Há muitas controvérsias sobre a construção e o seu real objetivo, uma vez que o
destino final desses canais é destinado a cidades com potenciais econômicos muito
importantes, o que não é um problema, pois favoreceria o desenvolvimento da região e
economia local. Porém e a população como será atingida? Quais aspectos vai melhorar a vida
da população enquanto aproveitamento do recurso hídrico? Que outras medidas precisam ser
tomadas para evitar ou amenizar os impactos causados pela obra?
Enfim, muitas perguntas surgem e nosso objetivo não é respondê-las, mesmo se fosse
seria muito complicada uma reflexão que afirmasse com precisão as respostas ou soluções
desses problemas. E como morador de uma cidade beneficiada pela obra e conhecendo a
realidade local, foi possível perceber alguns impactos diretos das obras sejam negativos ou
positivos, nesse curto tempo, ao qual já destacamos nos resultados.
Porém, conseguimos perceber que é preciso mais trabalhos com esses aspectos de
modo a avaliar os benefícios e malefícios dessa grande obra, a fim de levar a reflexões de
achar possíveis soluções para melhor aproveitamento dela, promover um desenvolvimento
regional, bem como mitigar e/ou amenizar os impactos negativos que a mesma provocou
sejam eles ambientais, sociais, de saúde, dentre outros.
Portanto, é preciso haver uma maior comunicação desses aspectos com a publicação
de mais trabalhos que evidenciem essa temática, que deixe os sujeitos a par dessa situação,
para que os mesmos possam cobrar dos governantes soluções e/ou melhorias para o usufruto
de tão rico recurso como a água.
Conseguimos identificar que houveram mais aspectos negativos destacados nas
produções do que positivos e que isso pode ser um alarme, mesmo sendo impactos a curto
prazo. Também não foi identificado um estudo aprofundado sobre os impactos diretos da obra
para a produção e desenvolvimento econômico. Existe uma carência de trabalhos nessa área.
43

Sabemos que o aumento da oferta hídrica pode favorecer a produção e o


desenvolvimento econômico da região, caso isso não ocorra, o problema pode estar
relacionado ao mau gerenciamento desses recursos. Para isso é preciso uma investigação que
aborde tal problemática. Como a operacionalização começou há pouco tempo os primeiros
trabalhos sobre os impactos dos canais em funcionamento devem começar a surgir ainda.
A comunidade científica também precisa voltar o olhar para as comunidades atingidas,
a fim de levar o conhecimento e ter um trabalho mais direto para a melhoria das condições de
vida dos sujeitos, bem como a cobrança por direitos básicos, como por exemplo o acesso a
água, evitando uma má distribuição desse recurso, uma vez que deve ser direito de todos.
A partir desse trabalho aprendemos sobre a riqueza dessa obra e o quanto ela pode ser
benéfica ou maléfica, sendo preciso no entanto, discussões mais detalhadas e quiçá técnicas
de investigação que nos deixem por dentro de todos os aspectos abordados como impactantes,
para que possamos exercer o direito à cidadania, na luta pelos direitos e na reparação dos
prejuízos que essas comunidades afetadas diretamente pelas obras da transposição, sejam eles
financeiros, psicológicos, e outros, possam ter sofrido.
44

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