Vanessa Castro Multimat

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

DETECÇÃO DE ADULTERAÇÃO EM AZEITE DE OLIVA POR

ESPECTROSCOPIA DE FLUORESCÊNCIA E QUIMIOMETRIA: UMA BREVE


REVISÃO

VC OLIVEIRA 1, P COSTA2, EC MOREIRA3


1
Universidade Federal do Pampa, Campus Bagé, Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Engenharia de Materiais (PPCEM)
2
Universidade Federal do Pampa, Campus Bagé, Licenciatura em Química
3
Universidade Federal do Pampa, Campus Bagé, Licenciatura em Física
E-mail para contato: vanessaoliveira.aluno@unipampa.edu.br

RESUMO – O azeite de oliva extra virgem (AOEV) é um produto com alto valor
agregado e frequentemente é alvo de adulterações com óleos vegetais de baixa
qualidade. Para identificar essas fraudes, são necessários métodos analíticos rápidos
e confiáveis. Este artigo de revisão explora o uso da espectroscopia de fluorescência
em combinação com ferramentas quimiométricas para detectar e quantificar
adulterações em azeites de oliva. São abordados os fundamentos da técnica, o
preparo das amostras, a análise dos dados e as aplicações relatadas na literatura
recente. A combinação da espectroscopia de fluorescência com quimiometria
mostra um grande potencial como método rápido e não destrutivo para a
autenticação do AOEV, ajudando a combater fraudes e assegurar a integridade e
qualidade do produto.

1 INTRODUÇÃO
O azeite de oliva extra virgem (AOEV) é um produto de alto valor no mercado, sendo
constantemente adulterado com óleos vegetais de baixo custo, como os óleos de soja, milho e
canola (El Orche et al., 2020). Essas adulterações constituem um desafio significativo para a
indústria e os órgãos reguladores, tornando necessário o desenvolvimento de métodos analíticos
rápidos e confiáveis para sua detecção e prevenção (Homma, 2022).
As técnicas espectroscópicas, aliadas a ferramentas quimiométricas, têm demonstrado um
grande potencial para a autenticação do AOEV. Dentre essas técnicas, a espectroscopia de
fluorescência se destaca, pois possibilita a detecção de componentes fluorescentes naturais do
azeite, como clorofilas, tocoferóis e polifenóis, além de identificar alterações no perfil espectral
provocadas pela presença de adulterantes, garantindo assim a autenticidade e qualidade do
produto (Omwange et al., 2021).
Este artigo de revisão tem como objetivo explorar o uso da espectroscopia de
fluorescência em conjunto com quimiometria para identificar adulterações em AOEV,
abordando os fundamentos, metodologias e aplicações descritas na literatura recente.

2 METODOLOGIA
2.1 Preparo das amostras

1
As amostras de AOEV são frequentemente adulteradas com diversas proporções de óleos
vegetais refinados, como óleo de soja, girassol, milho e canola. Esses óleos vegetais são
introduzidos as amostras de AOEV em diferentes concentrações, variando de 5% a 100%. Cada
amostra adulterada é então submetida a um processo de mistura em vórtice por alguns minutos
à temperatura ambiente para garantir a homogeneização adequada. Para garantir a precisão dos
resultados, amostras autênticas de AOEV provenientes de diferentes origens também são
analisados e usadas como referência comparativa (El Morabit et al., 2023).
2.2 Análise por Espectroscopia de Fluorescência Frontal
Os espectros de fluorescência são obtidos com o uso de um espectrofluorímetro
convencional, que opera com excitação na faixa de 250 a 500nm e emissão de 280 a 700nm.
Os espectros são capturados ao se concentrar em compostos fluorescentes específicos do azeite,
como as clorofilas (excitação em 430nm), os tocoferóis (excitação em 290nm) e os polifenóis
(excitação em 280nm). Essa abordagem permite a identificação e a quantificação desses
compostos, fornecendo informações detalhadas sobre a composição e a qualidade do azeite,
além de auxiliar na detecção de adulterações e na caracterização de diferentes amostras
(Sikorska et al., 2012).
2.3 Análise Quimiométrica
A quimiometria é uma técnica empregada para obter respostas rápidas e precisas a partir
de grandes volumes de dados produzidos por técnicas intrumentais, como espectroscopia e
cromatrografia. Os métodos mais utilizados na quimiometria são a Análise de Componentes
Principais (PCA) que se baseia na transformação das matrizes de dados extraindo os fatores
mais importantes, os componentes principais dos dados, reduzindo a dimensão do conjunto de
dados, sem que essas relações sejam afetadas. Outro método de análise é a Regressão por
Mínimos Quadrados Parciais (PLS) que desenvolve modelos de calibração para estimar a
porcentagem de adulterante no AOEV e avaliar os parâmetros de qualidade, como acidez e os
índices K232 e K270, proporcionando uma análise detalhada da pureza e das características do
azeite (Vieira, 2021).
Os resultados quimiométricos são confrontados com análises químicas de referência para
validação, como a determinação de acidez, índice de peróxidos e a absorção UV específica,
seguindo os métodos oficiais do International Olive Council (IOC). Essa comparação assegura
a precisão e a confiabilidade dos modelos quimiométricos desenvolvidos, garantindo que os
resultados obtidos estejam em conformidade com os padrões estabelecidos e proporcionando
uma análise mais vigorosa da qualidade do azeite (Homma, 2022).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Perfil Espectral do Azeite de Oliva e Adulterações
O AOEV exibe um perfil espectral de fluorescência distinto, com bandas de emissão
associadas principalmente a clorofilas, tocoferóis e polifenóis. A adição de óleos vegetais
refinados como adulterantes modifica esse perfil, resultando em alterações na intensidade e na
localização das bandas. Essas mudanças podem ser usadas para identificar e quantificar a
presença de adulterantes, permitindo uma análise mais precisa da pureza do azeite e ajudando
a detectar fraudes ou adulterações (Venturini et al., 2023).
A Figura 1 ilustra os espectros de fluorescência para amostras de AOEV puro e adulterado
com várias proporções de óleo de girassol. É possível notar uma redução na intensidade dos

2
picos de clorofila e um aumento na faixa de 441-489nm, que é característico dos hidroperóxidos
conjugados presentes no óleo de girassol, conforme a proporção de adulterante aumenta. Essas
alterações ajudam a identificar e quantificar o nível de adulteração no azeite, fornecendo
informações sobre a sua pureza e a extensão da adulteração (Omwange et al., 2021).

Figura 1: Espectros de fluorescência de AOEV puro e adulterado com óleo de girassol


(Omwange et al., 2021).

3.2 Análise Quimiométrica


A Análise de Componentes Principais (PCA) possibilita uma distinção nítida entre
amostras puras e adulteradas de azeite de oliva extra virgem, com base em seus componentes
principais. A Figura 2 ilustra o gráfico da PCA para amostras de AOEV adulterados com óleo
de canola em diversas concentrações. As amostras se agrupam conforme a quantidade de
adulterante presente, permitindo uma visualização clara das diferenças entre as amostras e a
identificação da extensão da adulteração. Essa abordagem facilita a análise e o controle da
qualidade do azeite, ajudando a garantir sua pureza e autenticidade (El Morabit et al., 2023).

Figura 2: Gráfico da PCA para amostras de AOEV puras e adulteradas com óleo de
canola (El Morabit et al., 2023).

Os modelos de regressão PLS foram criados para estimar a porcentagem de adulterante


no AOEV, apresentando coeficientes de correlação superiores a 0,99. Isso demonstra a alta

3
precisão e confiabilidade dos modelos na previsão do nível de adulteração. A estabilidade
desses modelos permite uma detecção eficaz de adulterações, contribuindo para a garantia da
qualidade e autenticidade do azeite. Esses resultados indicam que os modelos são ferramentas
benéficas para o monitoramento e controle da pureza do azeite, facilitando a identificação de
adulterações e assegurando a conformidade com os padrões estabelecidos (El Morabit et al.,
2023).

Tabela 1: Aplicações recentes da espectroscopia de fluorescência e quimiometria para


detecção de adulteração em azeite de oliva.
Adulterante Faixa de Técnica Parâmetro Resultado Referência
adulteração Quimiométrica
Óleo de Soja 5-50% PLS % 𝑅 2 = 0,995 El Morabit
Adulterante et al., 2023.
Óleo de 1-50% PCA, PLS % 𝑅 2 > 0,99 Omwange et
Girassol Adulterante al., 2021.
Óleo de 5-50% PCA, PLS % 𝑅 2 > 0,98 El Morabit
Canola Adulterante et al., 2023.
Óleo de 5-50% PCA Acidez, 𝑅 2 > 0,97 Vieira,
Milho K232, K270 2021.

4 CONCLUSÃO
A espectroscopia de fluorescência combinada com ferramentas quimiométricas revela um
grande potencial como um método rápido e não destrutivo para a detecção de adulteração em
AOEV. A PCA possibilita a caracterização de óleos puros e a identificação de adulterações sem
a necessidade de preparo da amostra.
Os modelos PLS permitem a previsão tanto da presença de adulterantes quanto dos
parâmetros de qualidade do AOEV. Essa abordagem representa uma solução promissora para
combater fraudes e assegurar a integridade e qualidade do azeite, oferecendo uma ferramenta
eficaz para o controle de qualidade e controle de adulterações.
Pesquisas futuras devem se concentrar na validação desses métodos em condições reais
de mercado e no desenvolvimento de dispositivos portáteis para a análise no local, o que
possibilitará uma aplicação mais prática e acessível dessas técnicas no monitoramento e
controle da qualidade do AOEV.

5 AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem à CAPES, CNPq e FAPERGS pelo apoio financeiro.

4
6 REFERÊNCIAS

IOC - INTERNATIONAL OLIVE COUNCIL. Trade standard applying to olive oil and olive-
pomace oil. COI/T.15/NC No 2/ Rev. 9, 1999. Disponível em:
https://www.internationaloliveoil.org/. Acesso em: 29 jul.2024.
EL MORABIT, Y.; EL MAADOUDI, M.; ALAHLAH, N.; AMHAMDI, H.; SALHI, A.;
AHARI, M. Detection and quantification of olive oil adulteration using fluorescence
spectroscopy and chemometric tools. In: BIO Web of Conferences. EDP Sciences, 2024.
p. 01016.
EL ORCHE, A.; BOUATIA, M.; MBARKI, M. Rapid analytical method to characterize the
freshness of olive oils using fluorescence spectroscopy and chemometric algorithms.
Journal of Analytical Methods in Chemistry, v. 2020, n. 1, p. 8860161, 2020.
HOMMA, V. Adulteração em azeite de oliva: uma visão metodológica. FI-Admin,
2022. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/2se7p. Acesso em: 29
jul. 2024.
OMWANGE, K.; RIZA, D.; SAITO, Y.; SUZUKI, T.; OGAWA, Y.; SHIRAGA, K.;
GIAMETTA, F.; KONDO, N. Potential of front face fluorescence spectroscopy and
fluorescence imaging in discriminating adulterated extra-virgin olive oil with virgin olive
oil. Food Control, v. 124, p. 107906, 2021.
SIKORSKA, E; KHMELINSKII, I; SIKORSKI, M. Analysis of olive oils by fluorescence
spectroscopy: methods and applications. Olive oil-constituents, quality, health
properties, p. 63-88, 2012.
VENTURINI, F.; SPERTI, M.; MICHELUCCI, U.; GUCCIARDI, A.; MARTOS, V.; DERIU,
M. Extraction of physicochemical properties from the fluorescence spectrum with 1D
convolutional neural networks: Application to olive oil. Journal of Food Engineering,
v. 336, p. 111198, 2023.
VIEIRA, L. S. Verificação da autenticidade de azeite de oliva por aplicação de métodos
espectroscópicos, cromatográficos e quimiométricos. Tese de Doutorado,
Universidade Federal de Viçosa, 2021.

Marque com um “X” a modalidade de apresentação que tenha preferência.


OBS.: A decisão final será decidida pelo comitê científico. Preenchimento não obrigatório!
(x) Apresentação oral
( ) Apresentação em pôster

Você também pode gostar