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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA _ª VARA DE FALÊNCIAS E

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1136775-93.2023.8.26.0100 e código 10BBBE97.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
RECUPERAÇÕES JUDICIAIS DO FORO CENTRAL CÍVEL DA
CAPITAL/SP

URGENTE | NECESSÁRIA LIBERAÇÃO DE


RECURSOS PARA O PAGAMENTO DE
DESPESAS OPERACIONAIS,
EMPREGADOS E FORNECEDORES

HANDZ PARTICIPACOES S.A. (“Handz”),


pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº
43.189.934/0001-26, com sede na Rua Quintana, nº 887, conjunto 52,
Cidade Monções, São Paulo/SP, CEP 04569-011 (doc. 1.1); VILLA
TABATINGA IMÓVEIS E EMPREENDIMENTOS LTDA. (“Villa
Tabatinga”), pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº
05.513.097/0001-50, com sede na Av. Afonso Arinos de Melo Franco, nº
430, Villa Tabatinga, Caraguatatuba/SP, CEP 11679-340 (doc. 1.2); ELAH
Av. Brigadeiro Faria Lima, 3311, 13° andar SCN QD 4, BL. B, 100, 12° andar, Centro Empresarial Varig
Itaim Bibi, São Paulo, SP | 04538-133 – Brasil Asa Norte, Brasília, DF | 70714-900 – Brasil
Tel.: 11 3552-5000

www.twk.com.br | E-mail: contato@twk.com.br


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AGROBUSINESS AGROPECUARIA LTDA. (“Elah”), pessoa jurídica

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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 09.271.066/0001-90, com sede
na Rua Tiradentes, 2846, Centro, Uruguaiana/RS, CEP 97501-526 (doc.
1.3); MANÁ IMÓVEIS E EMPREENDIMENTOS LTDA. (“Maná”),
pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº
05.992.413/0001-13, com sede na Rua Quintana, nº 887, conjunto 53, Sala
02, Cidade Monções, São Paulo/SP, CEP 04569-011 (doc. 1.4); GOCIL
SEGURANÇA ELETRÔNICA LTDA. (“GSE”), pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 03.979.056/0001-28, com sede
na Rua Doutor Geraldo Campos Moreira, nº 109, Cidade Monções, São
Paulo/SP, CEP 04571-020 (doc. 1.5); GOCIL SERVIÇOS DE
VIGILÂNCIA E SEGURANÇA LTDA. (“GSV”), pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 50.844.182/0001-55, com sede
na Rua Georgia, nº 258, Brooklin Paulista, São Paulo/SP, CEP 04559-010
(doc. 1.6); GOCIL SERVIÇOS GERAIS LTDA. (“GSG”), pessoa
jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 00.146.889/0001-10,
com sede na Rua Carneiro da Silva, nº 293, Vila Leopoldina, São Paulo/SP,
CEP 05304-030 (doc. 1.7); WASHINGTON UMBERTO CINEL (“Sr.
Washington”), brasileiro, casado, empresário individual, inscrito no
CNPJ/ME nº 08.465.594/0001-18, com endereço na Fazenda Sobrado, s/n,
Zona Rural, São Manuel/SP, CEP 18650-000 (doc. 1.8); GOCIL
SERVICOS GERAIS NORDESTE LTDA. (“GSGN”), pessoa jurídica
de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 33.931.783/0001-86, com sede
na Rua Itagi, 599, Edifício Med Trade & Medical, Quadra nº 0009,
lote:25/26, Pitangueiras Lauro de Freitas/BA, CEP 42701370 (doc. 1.9);
GOCIL NORDESTE SISTEMAS DE SEGURANÇA LTDA.
(“GNSS”), pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº

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06.261.891/0001-16, com sede na Avenida Praia de Pajussara, 177, Quadra

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nº B003, Lote nº 00107, Vilas do Atlântico Lauro de Freitas/BA, CEP
42708720 (doc. 1.10); AGROCIN AGROPECUÁRIA LTDA.
(“Agrocin”), pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o
nº 60.482.429/0001-94, com sede na Estrada Usina São Manoel, s/n,
Fazenda Sobrado, São Manuel/SP, CEP 18650-000 (doc. 1.11); NOVA
OLINDA SPE LTDA. (“Nova Olinda”), inscrita no CNPJ sob o nº
43.573.834/0001-07, com sede na Fazenda Nova Olinda, Zona Rural,
Município de Balsas/MA, CEP 65800-000 (doc. 1.12); e BRANGUS
BRASIL AGROPECUÁRIA LTDA. (“Brangus”), inscrita no CNPJ sob
o nº 05.513.150/0001-12, com sede na Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.081,
Jardim Paulistano, São Paulo/SP, CEP 01452-001 (doc. 1.13) (em
conjunto, “Grupo Handz” ou “Requerentes”), vêm, por seus advogados
(doc. 2), com fundamento nos artigos 319 e seguintes do Código de
Processo Civil, e nos artigos 47 e seguintes da Lei 11.101/2005, formular o
presente PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, o que fazem com
base nas razões de fato e fundamentos de direito a seguir expostos.

COMPETÊNCIA DESTE D. JUÍZO

1. O art. 3º da Lei n. 11.101/2005 (“LRF”) estabelece


que é competente para (...) deferir a recuperação judicial (...) o juízo do local
do principal estabelecimento do devedor. A mesma LRF prevê, no art. 69-
G, §2º, que o juízo do local do principal estabelecimento entre os dos
devedores é competente para deferir a recuperação judicial sob
consolidação processual, em observância ao disposto no art. 3º desta Lei.

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2. O principal estabelecimento é, de fato, aquele em

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que há o maior volume de negócios, bem como de onde emanam as
principais decisões estratégicas, financeiras e operacionais do devedor, de
modo que o processamento e o julgamento dos institutos previstos na LRF
devem sempre se dar na comarca em que o devedor centraliza a direção geral
dos seus negócios – conforme a jurisprudência consolidada do C. Superior
Tribunal de Justiça1 e o Enunciado nº 466 do Conselho da Justiça Federal,
aprovado na V Jornada de Direito Civil:

“Para fins do Direito Falimentar, o local do principal


estabelecimento é aquele de onde partem as decisões
empresariais, e não necessariamente a sede indicada no
registro público.”

3. No mesmo sentido é a jurisprudência do E. TJSP:

1
“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. 1. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL AJUIZADO NO FORO DO LOCAL DO PRINCIPAL ESTABELECIMENTO DO
DEVEDOR. ART. 3º DA LEI 11.101/05. COMPETÊNCIA FUNCIONAL. PRECEDENTES. 2.
ALTERAÇÃO DO ESTADO DE FATO SUPERVENIENTE. MAIOR VOLUME NEGOCIAL
TRANSFERIDO PARA OUTRO ESTABELECIMENTO DO DEVEDOR NO CURSO DA DEMANDA
RECUPERACIONAL. IRRELEVÂNCIA. NOVOS NEGÓCIOS QUE NÃO SE SUBMETEM AO
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA ABSOLUTA INALTERADA. 3.
CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE
PORTO NACIONAL/TO. 1. O Juízo competente para processar e julgar pedido de recuperação
judicial é aquele situado no local do principal estabelecimento (art. 3º da Lei n. 11.101/2005),
compreendido este como o local em que se encontra "o centro vital das principais atividades do
devedor". Precedentes. 2. Embora utilizado o critério em razão do local, a regra legal estabelece critério
de competência funcional, encerrando hipótese legal de competência absoluta, inderrogável e
improrrogável, devendo ser aferido no momento da propositura da demanda - registro ou distribuição da
petição inicial. 3. A utilização do critério funcional tem por finalidade o incremento da eficiência da
prestação jurisdicional, orientando-se pela natureza da lide, assegurando coerência ao sistema processual e
material. 4. No curso do processo de recuperação judicial, as modificações em relação ao principal
estabelecimento, por dependerem exclusivamente de decisões de gestão de negócios, sujeitas ao crivo do
devedor, não acarretam a alteração do Juízo competente, uma vez que os negócios ocorridos no curso da
demanda nem mesmo se sujeitam à recuperação judicial. 5. Conflito conhecido para declarar competente o
Juízo de Direito da Vara de Porto Nacional/TO.” (STJ. Conflito de Competência nº 163.818/ES; Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze; Segunda Seção; J.: 23/9/2020).

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“(...) Para a definição da competência atinente ao

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processamento de um pedido concursal, como é o caso

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de uma recuperação judicial, é necessário verificar, nos
termos do artigo 3º da Lei 11.101/2005, onde está
localizado o centro de atividades da empresa, seu
principal estabelecimento, de onde emanam os
comandos destinados à organização de toda a
atividade econômica e é mantido, na maior parte
das ocasiões, relacionamento negocial com
terceiros.”2

4. No presente caso, não apenas a maior parte das


Requerentes possui sede na capital do estado de São Paulo (vide doc. 1),
como também é nesta cidade de São Paulo/SP que se situa centro decisório
do Grupo Handz. Desta localidade emanam todas as principais deliberações
sobre as atividades exercidas pelas empresas do grupo, e aqui se concentra o
maior volume dos negócios das Requerentes. É inequívoco, nesse sentido,
que o presente pedido deverá ser processado e julgado perante esta Comarca
de São Paulo.

5. Ainda, tratando-se de pedido de recuperação


judicial, a competência recai sobre uma das varas especializadas de falências
e recuperações judiciais desta Comarca.

6. De rigor, portanto, o reconhecimento da


competência deste foro para processamento do presente pedido.

2
TJSP, Agravo de Instrumento nº 2101203-10.2019.8.26.0000, Rel. Fortes Barbosa, 1ª Câmara Reservada
de Direito Empresarial; j. em 3/7/2019.

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APRESENTAÇÃO DO PEDIDO EM LITISCONSÓRCIO ATIVO

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7. Conforme estabelecido no art. 113 do CPC 3 ,
admite-se o ajuizamento de uma demanda em litisconsórcio ativo, caso haja,
entre as partes autoras, comunhão de direitos ou de obrigações relativamente
à lide (inciso I) ou afinidade de questões por ponto comum de fato ou de
direito (inciso III). Da mesma forma, a LRF admite a apresentação do pedido
de recuperação judicial de forma conjunta por empresas integrantes de um
mesmo grupo, em consolidação processual, consoante previsto no art. 69-G4.

8. A presente demanda é ajuizada em conjunto pelas


Requerentes, todas integrantes do Grupo Handz, em razão da intrínseca e
inafastável interligação existente entre as empresas e as atividades por elas
desenvolvidas.

9. As Requerentes são sociedades integrantes de um


grupo econômico com controle compartilhado pela família Cinel, centrado
na figura do Sr. Washington, que subdivide sua atuação em três segmentos
distintos: prestação de serviços de segurança, agronegócio e imobiliário.

10. De um lado, o “braço” atuante no segmento da


segurança engloba a prestação de serviços de segurança, tecnologia, limpeza
e manutenção e é consubstanciado em (i) 5 (cinco) sociedades operacionais

3
“Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente,
quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas
houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum
de fato ou de direito.”
4
“Art. 69-G. Os devedores que atendam aos requisitos previstos nesta Lei e que integrem grupo sob
controle societário comum poderão requerer recuperação judicial sob consolidação processual.”

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(GSE, GSV, GSG, GNSS e GSGN), por meio das quais são realizadas as

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operações no âmbito do setor de segurança em geral (comercialização,
assistência técnica, locação, instalação, administração etc.); e (ii) uma
holding patrimonial não operacional (Handz), detentora de quase a totalidade
das quotas de referidas sociedades.

11. De outro lado, o segmento atrelado ao agronegócio


e ao setor imobiliário é constituído (i) pela atividade econômica exercida
pelo Sr. Washington, como produtor rural, o qual arrenda terras pertencentes
a (ii) 5 (cinco) sociedades (Agrocin, Villa Tabatinga, Elah, Nova Olinda e
Brangus) proprietárias de imóveis rurais, as quais são controladas por (iii)
uma holding imobiliária (Maná) detentora de quase a totalidade das quotas
das empresas supramencionadas.

12. A estrutura societária do Grupo Handz pode ser


ilustrada conforme o organograma abaixo:

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13. Em que pese se tratar de segmentos aparentemente

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distintos, as sociedades Requerentes devidamente operam em harmonia entre
si e dependem umas das outras para a continuidade de sua operação, sob o
comando do Requerente Washington Cinel.

14. Há garantias prestadas pelas empresas do setor de


segurança em uma série de contratos/obrigações contratadas por algumas das
empresas do setor agro/imobiliário, ocupando, inclusive, posições de
devedoras solidárias.

15. A título exemplificativo, o Sr. Washington, na


figura de Produtor Rural individual e detentor de quase a totalidade das
quotas das empresas de segurança do grupo, figura como arrendatário em
quase a totalidade das terras de propriedade das empresas do setor agro. Isto
é, o sucesso da atividade agrícola explorada por parte do grupo – e
consequentemente seu soerguimento a partir do presente pedido de
recuperação judicial – depende diretamente do arrendamento celebrado com
o Sr. Washington. Além disso, ele presta garantias pessoais a sociedades dos
ramo agro e de prestação de serviços, além de ter exercido, por anos, a
administração das Requerentes.

16. Logo, restam preenchidos todos os requisitos para


o processamento do presente pedido em consolidação processual. É dizer, o
soerguimento de uma sociedade depende do soerguimento da outra, dada a
indissociável interligação entre todas as Requerentes.

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17. Ademais, não obstante a expressa previsão legal,

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ressalta-se que o processamento de pedido de recuperação judicial em
consolidação processual para empresas de um mesmo grupo econômico é
igualmente admitida na jurisprudência do E. TJSP:

“(...) Decisão que indeferiu a recuperação judicial de


grupo empresarial de fato sob os efeitos de
consolidação substancial ou processual –
Inconformismo – Acolhimento parcial – Agravantes
que afirmam que pertencem a um mesmo grupo
econômico – Possibilidade de litisconsórcio ativo em
consolidação processual, pois facultativa (...).”5

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO


JUDICIAL. DECISÃO QUE DEFERIU O
PROCESSAMENTO EM LITISCONSÓRCIO
ATIVO, QUE É FACULTATIVO E SIMPLES.
POSSIBILIDADE. GRUPO ECONÔMICO. A
LEGITIMIDADE PARA POSTULAR A
RECUPERAÇÃO JUDICIAL É DO DEVEDOR E
NÃO DO CREDOR. (...).”6

18. Ou seja, trata-se de um todo que exige uma solução


global para possibilitar o soerguimento de todas as empresas requerentes e
de suas respectivas atividades, o que justifica o litisconsórcio ativo.

19. Destarte, o processamento do presente Pedido de


Recuperação Judicial em litisconsórcio ativo é medida que se impõe, nos

5
TJSP; Agravo de Instrumento 2036090-70.2023.8.26.0000; Relator (a): JORGE TOSTA; Órgão Julgador:
2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de Tatuí - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
19/07/2023; Data de Registro: 19/07/2023.
6
TJSP; Agravo de Instrumento 2150872-32.2019.8.26.0000; Relator (a): Alexandre Lazzarini; Órgão
Julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 1ª Vara de Falências e
Recuperações Judiciais; Data do Julgamento: 24/06/2020; Data de Registro: 25/06/2020.

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termos do art. 69-G da LRF, de modo a assegurar a continuidade de suas

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atividades e o cumprimento de sua função social.

HISTÓRICO DO GRUPO HANDZ

20. O Grupo Handz tem origens na cidade de Bauru/SP


que remontam há mais de 35 (trinta e cinco) anos, na década de 1980, quando
Washington Umberto Cinel, empresário, formado na Academia de Polícia
do Barro Branco, fundou a empresa Gocil para atuar com serviços de
vigilância e segurança. A ideia surgiu logo após ter sido contratado pela Rede
Globo para fazer a segurança da sede da emissora, em Bauru. Até então, o
Sr. Washington atuava como tenente da polícia militar.

21. Um tempo após a fundação, o empresário viu a


oportunidade de ingressar no mercado da capital paulista, trazendo a sede de
sua empresa de Bauru para a cidade de São Paulo, em 1985. Nos anos
seguintes, devido ao imenso sucesso do negócio, sempre impulsionado pelo
trabalho árduo do Sr. Washington, a empresa abriu filiais nas maiores
cidades do país, como Curitiba/PR (1995), Campinas/SP (1997), Ribeirão
Preto/SP (1997), Santos/SP (2000), Porto Alegre/RS (2005), Rio de
Janeiro/RJ (2008), Belo Horizonte/MG (2010), Lauro de Freitas/BA (2012),
Goiânia/GO (2013), Joinville/SC (2013), Recife/PE (2014), Brasília/DF
(2014), Imperatriz/MA (2018) e Belém/PA (2020).

22. A Gocil, que neste ano comemora 38 anos no


mercado, sendo uma das pioneiras no setor – e até hoje em dia uma das
maiores do país – possui cerca de 20 (vinte) mil colaboradores diretos, e

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mais de 100 (cem) mil pessoas indiretamente impactadas por sua

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atuação.

23. Apesar de ter iniciado com foco no setor de


segurança privada/patrimonial e vigilância, atualmente o grupo oferece
múltiplos serviços, como manutenção, limpeza, conservação, serviços de
portaria e recepção para ambientes corporativos, jardinagem, governança e
rouparia, serviços de assistência social, entre outros.

24. Com a evolução da tecnologia, o empresário


enxergou uma nova oportunidade, e fundou a Gocil Serviços Eletrônicos,
que oferece soluções inteligentes e modernas para melhorar a gestão de sua
empresa, através de consultoria, desenvolvimento, implementação e
monitoramento de projetos. Isto é, soluções voltadas a (i) instalação e
monitoramento de imagens, com foco na segurança patrimonial e processos
operacionais; (ii) controle de acesso personalizados, com a utilização de
diversas tecnologias; (iii) fornecimento, instalação, configuração e
monitoramento de sistemas de alarmes; (iv) controle e prevenção de
ocorrência, com base em softwares analíticos, por meio de seu Centro
Integrado de Comando e Controle (CICC); (v) vídeos analíticos, que ajudam
a identificar padrões em tempo real, utilizados para auxiliar na segurança e
nos processos de negócios dos clientes; (vi) desenvolvimento e customização
de softwares analíticos, para fins de reconhecimento facial, controle e
direção de velocidade e tráfego e contagem de pessoas e objetos; e (vii)
serviços de monitoramento através de drone com tecnologias inteligentes
embarcadas.

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25. A Gocil, referência absoluta em todos os setores

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que atua – e já tendo conquistado uma posição de grande relevância e
confiança no mercado – atende clientes de todos os segmentos, como
instituições de saúde e de ensino, instituições financeiras, indústrias,
shopping centers, centros de distribuição e logística, condomínios, grandes
eventos e varejo. Alguns exemplos de parceiros de grande porte no país são:
(i) Hospital Israelita Albert Einstein; (ii) Universidade de Caxias do Sul
(UCS); (iii) Nestlé; (iv) Iguatemi Empresa de Shopping Centers S.A.; (v)
Grupo DPSP, segunda maior rede varejista de farmácias do Brasil, entre
outros.

26. Além de oferecer serviços ao setor privado, a Gocil


também possui como um de seus maiores contratantes o governo do Estado
de São Paulo, fornecendo mão de obra para diversas companhias estaduais,
como, por exemplo, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
(CPTM) 7 , assim como também oferece serviços para outros governos ao
redor do território nacional.

27. O braço de prestação de serviços do Grupo Handz,


nos dias atuais, gera dezenas de milhares de empregos diretos ao redor do
território nacional, seja através de suas empresas do setor de segurança,
contribuindo ainda para a geração de milhares de empregos indiretos nas
regiões em que atuam, sendo responsáveis por proporcionar a subsistência
de incontáveis famílias, em todas as regiões em que operacionalizam suas
atividades.

7
“CPTM define empresa que assumirá vigilância nas linhas 7 e 10” https://diariodotrans-
porte.com.br/2020/03/14/cptm-define-empresa-que-assumira-vigilancia-nas-linhas-7-e-10/ (acesso em
28/9/2023)

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28. Após os negócios bem-sucedidos no setor de
segurança e vigilância, o Sr. Washington viu no setor do agronegócio uma
possibilidade de expansão de seus negócios, tendo construído e desenvolvido
diversos empreendimentos por todo o país e no exterior, focados, dentre
outras atividades, no cultivo e comércio de produtos agrícolas e criação e
venda de animais.

29. O agronegócio sempre foi um dos principais


pilares da economia no Brasil e foi o setor escolhido para a expansão do
Grupo Handz, feita em conjunto pelo Sr. Washington e sua família, por meio
das sociedades subsidiárias da Maná e com a figura do Sr. Washington como
produtor rural.

30. As atividades nesse setor se iniciaram há 22 (vinte


dois) anos, de forma ainda tímida, e se intensificaram nos últimos 8 (oito)
anos, como consequência da onda de otimismo que viveu o setor nos últimos
anos. O Grupo Handz iniciou, em 2014, projeto de expansão para âmbito
nacional das produções de, principalmente, arroz, soja, milho e cana de
açúcar, além da criação de gado. Foi nesta circunstância que, em meados de
2020, foi adquirida a unidade de produção agrícola em Balsas/MA, cuja
abertura para produção demandou – e ainda demanda – investimentos muito
altos em tecnologia, maiores do que o originalmente programado pelo grupo.

13
fls. 14

PRINCIPAIS RAZÕES DA CRISE ECONÔMICO-FINANCEIRA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1136775-93.2023.8.26.0100 e código 10BBBE97.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
31. Os investimentos necessários ao aumento da
produção na atividade agrícola desenvolvida pelo Requerente Washington e
pelas subsidiárias da Maná demandaram alto índice de alavancagem
financeira, tendo referidas empresas contraído financiamentos na
expectativa de que os ganhos de escala e produtividade fossem suficientes
para garantir o cumprimento das obrigações assumidas.

32. Concomitantemente ao aumento do nível de


endividamento do grupo em razão dos investimentos realizados, os custos de
produção aumentaram de forma significativa, por fatores como a guerra da
Ucrânia que eclodiu logo no início da retomada das atividades produtivas
pós pandemia da Covid-19, a alta da taxa cambial, a alta demanda por
produtos e serviços, que gerou a alta de inflação dos últimos anos. Esses
fatores impactaram decisivamente componentes importantes e pouco
administráveis da matriz de custos da produção agropecuária, tais como
preço dos insumos, de equipamentos e maquinários, além de dissídios
salariais.

33. Se não bastasse, as despesas financeiras


aumentaram significativamente com a alta dos juros, decorrente de questões
relacionadas ao rebaixamento do rating do Brasil, crise econômica e política
do país, além das altas taxas de inflação. A Taxa Selic passou de 2% para
13,75% em pouco mais de dois anos (entre janeiro/2020 e agosto/2022).

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fls. 15

34. Ao mesmo tempo em que houve o aumento dos

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custos de produção e financeiros, a receita da atividade agropecuária caia
abruptamente. Fatores como a alta produtividade, pressão dos clientes e
intervenção do Governo Federal, levaram a reduções significativas das
receitas recebidas, o que gerou a redução da margem da atividade
agropecuária do Grupo Handz a níveis alarmantes. Com a redução das
margens, houve o alongamento do ciclo de retorno dos investimentos
realizados, com a necessidade de novas linhas de financiamento para a
manutenção das atividades desenvolvidas.

35. Com falta de recursos em caixa, mas com o


objetivo de manter seus compromissos em dia, novos empréstimos foram
sendo contraídos ou renegociados e o capital de giro foi sendo
paulatinamente consumido. O endividamento do ramo agro, assim, aumenta
vertiginosamente mesmo sem a tomada de novos empréstimos, pressionado
por novas renegociações para alongamento da dívida e em razão dos altos
juros.

36. O nível de endividamento demandou a revisão da


estratégia de investimento e produção, pois os custos financeiros levariam ao
corte dos volumes na produção agrícola, por ausência de recursos para
custeio e investimento, levando este processo a inevitável problema de
liquidez. O Grupo Handz promoveu diminuição de quadro de funcionários e
reestruturação das atividades – o que, infelizmente, não foi suficiente para
retomada plena e rentável de suas atividades.

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fls. 16

37. Na conjuntura vigente, ainda que o mercado

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nacional de agronegócios esteja no processo de retomada de sua
lucratividade, a crise financeira pela qual passa o Grupo Handz retira-lhe o
poder de reação necessário para, sozinho, retomar de sua normalidade. É
nesse contexto que o Grupo Handz pretende se socorrer das prerrogativas
dadas pela Lei 11.101/2005 para que possa superar sua crise financeira, com
a retomada plena de suas atividades e manutenção dos empregos gerados.

38. Associado à demanda por recursos no braço do


agronegócio e às altas taxas de juros, o ramo de atividades de prestação de
serviços do Grupo Handz também enfrentou – e enfrenta – seus próprios
desafios.

39. A despeito de a GSV ter se consolidado como uma


das maiores e mais tradicionais empresa de segurança patrimonial do Brasil,
as Requerentes estão enfrentando crise financeira, a qual decorre da
convergência de diversos e críticos fatores que acometeram suas atividades
nos últimos anos tais como (i) queda acentuada da demanda durante e após
o fim da pandemia da Covid-19; (ii) alta da taxa de juros a partir de 2021; e
(iii) pressão de preços vindas da concorrência e de seus clientes – que vão
desde grandes bancos a condomínios residenciais, passando por hospitais e
indústrias.

40. As atividades das Requerentes foram fortemente


prejudicadas com o advento da pandemia, e com as consequentes restrições
implementadas pelo governo brasileiro, uma vez que foram impostas
proibições referentes a todo tipo de evento ou local que envolvesse a

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fls. 17

aglomeração de pessoas, tornando-se impossível a geração de caixa e

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também a prestação do serviço de segurança no mesmo volume que
antecedeu o ano de 2020. Por outro lado, houve grande número de
afastamento de funcionários de suas atividades, que aumentaram os custos
para a prestação de serviços.

41. Em um contexto da maior crise sanitária já


vivenciada na história do país, as Requerentes se viram obrigadas a realizar
empréstimos junto às instituições financeiras, a fim de garantir sua
subsistência e a manutenção da atividade econômica tão bem explorada há
quase 4 (quatro) décadas, com a esperança de melhora no cenário
macroeconômico brasileiro.

42. O período pós pandemia também teve um impacto


muito negativo sobre o ramo de prestação de serviços. Com a redução das
restrições e a normalização das atividades, a demanda no mercado de
segurança não retornou à normalidade 8 . Isso se deu não somente pela
atividade reduzida exercida por grandes estabelecimentos como shoppings,
fábricas e aeroportos, mas como também pela alteração na logística de
trabalho nas grandes cidades, com a adoção, por parte de diversas empresas,
do sistema de trabalho remoto, diminuindo, consequentemente, a
necessidade da contratação de serviços de segurança privada e resultando em
uma menor receita e em uma maior dificuldade na renovação dos contratos
até então vigentes.

8
“Como a pandemia afetou o setor da segurança privada” https://revistaseguranca.com.br/como-a-
pandemia-afetou-o-setor-da-seguranca-privada/ (acesso em 27/9/2023)

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43. Os efeitos causados pela pandemia obrigaram

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grupo a reorganizar suas atividades9, a fim de amortecer o impacto da crise,
reduzindo os custos em todos os departamentos e adaptando as operações
para o novo contexto que surgiria no momento pós-pandemia.

44. Nesse contexto de reestruturação e readequação,


foi necessário o aumento do endividamento financeiro, para sustentar sua
operação – breve consulta à relação de credores apresentada nesta
oportunidade revela a expressividade das dívidas com tal perfil no passivo
total das Requerentes.

45. Mesmo que, a princípio, referidas obrigações


financeiras se acomodassem no fluxo de caixa do Grupo Handz, os fatores
acima listados, notadamente o vertiginoso aumento da taxa de juros (que
onerou excessivamente tal endividamento), inviabilizaram o seu
adimplemento nas condições originalmente pactuadas.

46. As Requerentes não pouparam esforços para fazer


frente às suas obrigações, e conseguiram, por muito tempo, se manter
adimplentes com seu endividamento mesmo em meio ao turbulento período
de alta da taxa de juros. Todavia, as dívidas financeiras dilataram-se de tal
forma que fazer frente a elas se tornou insustentável, em meio à redução das
margens operacionais das Requerentes no mesmo período.

9
“Gocil cara a cara com a crise” https://istoedinheiro.com.br/gocil-cara-a-cara-coma-crise/ (acesso em
27/9/2023)

18
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47. Como fator agravante no caso do ramo de

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prestação de serviços tem-se, ainda, o comprometimento de parte relevante
dos recebíveis oriundos de suas atividades, em razão de operações de crédito
contratadas junto aos seus credores financeiros, nas quais foram pactuadas a
cessão fiduciária de parte relevante dos recursos gerados por suas atividades.
Pela natureza de suas atividades, não há bens imóveis nesse ramo do grupo,
que não possui outra forma de dar as garantias demandadas para a
contratação de novos financiamentos que não seus recebíveis.

48. Em um cenário de redução das margens


operacionais e aumento das despesas financeiras, o fato de parcela
considerável dos valores gerados pelas atividades de prestação de serviços
se encontrar comprometida resulta em grave circunstância, de agravamento
do endividamento e falta de recursos para o adimplemento de obrigações
essenciais das Requerentes.

49. Diante disso, visando evitar o colapso de toda a


atividade empresarial, as Requerentes apresentam o presente Pedido de
Recuperação Judicial, a partir do qual se entende possível a sua
reestruturação e soerguimento, viabilizando a superação de sua crise
econômico-financeira, de forma conjunta com seus credores, e sem prejuízo
da manutenção de suas atividades, na forma preceituada pelo art. 47 da
LRF10, preservando-se sua produção e importantíssima função social, com a
manutenção dos milhares empregos diretos mantidos pelo Grupo Handz.

10
“Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-
financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e
dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica.”

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fls. 20

PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS AO

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PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO

50. Conforme exposto, fez-se necessário o presente


pedido de recuperação judicial, a fim de se permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e do interesse de toda sua
coletividade de credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica do país.

51. Nesse contexto, as Requerentes não pouparam


esforços para preencher os requisitos subjetivos previstos pela LRF, nos
termos de seus arts. 1º e 48, como também os requisitos objetivos previstos
no art. 51 do mesmo diploma legal.

52. Relacionam-se abaixo os documentos que


acompanham o presente pedido, em consonância com os requisitos
estipulados pela LRF:

Documentos de constituição das Requerentes, eleição dos


Doc. 1 administradores e ficha cadastral demonstrando o exercício das
atividades há mais de 2 anos (arts. 1º, 48 e 51, inciso V, da LRF)

Doc. 2 Procuração outorgada aos patronos das Requerentes

Instrumentos celebrados com os credores detentores de créditos


Doc. 3
previstos no art. 49, § 3º da LRF (art. 51, inciso XI, da LRF)
Relação nominal dos credores das Requerentes, com a indicação
Doc. 4 da natureza e dos valores de seus créditos, bem como dos
respectivos endereços de cada credor (art. 51, III, da LRF)

20
fls. 21

Certidões de distribuição falimentar, obtidas no estado em que

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situada a sede das Requerentes, demonstrando que jamais foram

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Doc. 5
falidas nem obtiveram a concessão de recuperação judicial (art.
48, incisos I, II e III, da LRF)
Certidões de distribuição criminal, demonstrando que os sócios
e administradores das Requerentes jamais foram condenados por
Doc. 6
qualquer dos crimes previstos pela Lei 11.101/2005 (art. 48,
inciso IV, da LRF)
Demonstrações contábeis das Requerentes, compostas pelos
balanços patrimoniais, demonstrações de resultados e relatórios
de fluxo de caixa dos últimos três exercícios sociais, projeção de
Doc. 7
fluxo de caixa, e, também, demonstrações levantadas
especialmente para instruir o presente pedido (art. 51, inciso II,
da LRF)
Extratos atualizados das contas bancárias e aplicações
Doc. 8
financeiras das Requerentes (art. 51, inciso VII, da LRF)
Certidões de protesto extraídas nas comarcas da sede e filiais das
Doc. 9
Requerentes (art. 51, inciso VIII, da LRF)
Relações subscritas das ações judiciais e procedimentos arbitrais
em que as Requerentes figuram como parte, com indicação da
Doc. 10 estimativa dos valores demandados, acompanhadas das
certidões de distribuição de ações cíveis, trabalhistas e fiscais
(art. 51, inciso IX, da LRF)
Doc. 11 Relatório detalhado do passivo fiscal (art. 51, inciso X, da LRF)
Relação de bens e direitos integrantes do passivo não circulante
Doc. 12
das Requerentes (art. 51, inciso XI, da LRF)

53. Em complementação e nos termos dos incisos IV e


VI do art. 51 da LRF, as Requerentes também apresentarão a relação de seus
empregados e a relação dos bens particulares dos seus administradores e
sócios controladores. Porém, referidos documentos constarão em petição
separada, diante da sensibilidade e particularidade de seu teor, a justificar a

21
fls. 22

sua inclusão sob sigilo – conforme já validado pela jurisprudência11 –, de

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modo que sejam autuados em incidente a ser processado em apartado e sob
segredo de justiça, facultado o acesso somente a este D. Juízo, ao
representante do Ministério Público e ao Administrador Judicial.

54. Ressalta-se, ademais, que as Requerentes estão


realizando levantamento interno e aguardando a emissão de certidões
faltantes, de modo que alguns dos documentos exigidos pela LRF não foram
apresentados nesta oportunidade 12 . Considerando, todavia, a urgência na
apresentação do presente pedido de recuperação judicial, fez-se necessário o
seu ajuizamento antes de obtida a documentação completa, sendo
imprescindível a sua imediata apreciação, com a ulterior juntada dos
documentos faltantes nestes autos.

55. Não obstante, é certo que os requisitos legais se


encontram substancialmente atendidos nesse momento, não havendo óbice
ao processamento deste pedido, com a oportuna complementação dos
documentos – pela qual as Requerentes desde logo protestam –, conforme
autorizado pela jurisprudência do E. TJSP13.

11
“Submeter o processamento do pedido de recuperação judicial a segredo de Justiça contraria a própria
lógica interna de seu rito, dada a necessidade de todos os credores envolvidos serem chamados, inclusive
por meio de publicações na imprensa, a apreciarem a situação da devedora e avaliarem sua posição,
exercendo voto em assembleia; contudo, com relação à declaração de imposto de renda apresentada pelo
sócio Marcio Leandro Loureiro de Souza ao Fisco no exercício de 2017 (fls. 586/592 dos autos principais
e 610/616do agravo de instrumento), a agravante tem razão. (...) considerando que tal documento não
interessa, imediatamente, aos eventuais credores concursais, enfocada uma sociedade limitada e
incidindo o artigo 1.052 do Código Civil de 2002, decreta-se, o sigilo com respeito a tal documento.”
(TJSP; Agravo de Instrumento 2114140-86.2018.8.26.0000; Relator (a): Fortes Barbosa; Órgão Julgador:
1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de Diadema - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento:
17/08/2018; Data de Registro: 17/08/2018).
12
Encontram-se faltantes informações fiscais das empresas Gocil; certidões de protesto de algumas das
filiais das Requerentes; e certidão de distribuição criminal de administrador das Requerentes.
13
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE DEFERIU O PROCESSAMENTO DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DOS AGRAVADOS. INSURGÊNCIA DO CREDOR. ALEGAÇÃO DE

22
fls. 23

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56. Como se depreende, ora são apresentados pelas
Requerentes os documentos necessários ao ajuizamento e deferimento do
presente Pedido de Recuperação Judicial, na forma preceituada pela LRF.

NECESSÁRIA CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA –


LIBERAÇÃO DE RECURSOS

57. Como exposto, o Grupo Handz, em meio ao


desenvolvimento e à manutenção de seus negócios (os quais representam
atividades com alta demanda de capital de giro), contraiu relevante passivo
financeiro junto às instituições que hoje são titulares de parte considerável
de seu endividamento, as quais se encontram listadas na relação de credores
ora apresentada.

58. Como condição à obtenção de linhas de crédito


junto aos bancos, naturalmente, exigiu-se a constituição de garantias sobre
bens das Requerentes. A esse título, foram realizadas alienações fiduciárias

VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 48, E PARÁGRAFOS E 69-J DA LEI 11.101/05. DOCUMENTAÇÃO


APRESENTADA QUE É SUFICIENTE PARA ADMITIR O DEFERIMENTO DO
PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DOS AGRAVADOS, EM
CONSOLIDAÇÃO SUBSTANCIAL. NÃO HÁ ÓBICE PARA QUE OS DOCUMENTOS
FALTANTES SEJAM APRESENTADOS, POSTERIORMENTE, INCLUSIVE EM RELAÇÃO AO
COAGRAVADOS, PRODUTORES RURAIS. DOCUMENTOS QUE DEMONSTRAM O EXERCÍCIO
DAS ATIVIDADES RURAIS PELOS AGRAVADOS, HÁ MAIS DE 2 ANOS, INEXISTINDO PROVA
EM SENTIDO CONTRÁRIO. EXEGESE AMPLIATIVA DO ART. 48, §3º, DA LEI Nº 11.101/05.
CONSOLIDAÇÃO SUBSTANCIAL QUE PODE SER AFERIDA, DE PLANO, NA FORMA DO ART.
69-J DA LEI 11.101/05. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS INDICATIVOS DE EVENTUAL
IRREGULARIDADE OU FALSIDADE NAS INFORMAÇÕES PRESTADAS. PROCESSAMENTO DA
RECUPERAÇÃO QUE DEPENDE APENAS DA VERIFICAÇÃO FORMAL DOS REQUISITOS
OBJETIVOS DOS ARTS. 48 E 51, DA LEI Nº 11.101/05. RECURSO NÃO PROVIDO.” (TJSP; Agravo
de Instrumento 2186955-76.2021.8.26.0000; Relator (a): Alexandre Lazzarini; Órgão Julgador: 1ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial; Foro de Santa Adélia - Vara Única; Data do Julgamento: 01/06/2022;
Data de Registro: 02/06/2022).

23
fls. 24

de bens móveis e imóveis, bem como cessões fiduciárias de aplicações

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financeiras e direitos creditórios.

59. Ocorre que, face à crítica circunstância a que se


submetem as Requerentes, narrada nesta oportunidade, os recursos que se
encontram comprometidos em razão das operações contratadas junto às
instituições financeiras se mostram necessários ao seu soerguimento. A
ausência desses recursos leva as Requerentes a buscar fontes de
financiamento com juros cada vez mais altos, cujo pagamento inviabilizaria
sua atividade, com o aumento vertiginoso de sua dívida financeira e com
prejuízo à sua capacidade de soerguimento.

60. É dizer, os valores envolvidos são essenciais à


manutenção das atividades do Grupo Handz em meio à momentânea crise
que o acomete, e sua liberação, nesse momento, é uma medida urgentemente
necessária.

61. Os recursos a que se faz referência correspondem


àqueles que foram objeto de cessões fiduciárias de aplicações financeiras e
de recebíveis futuros das Requerentes, contratadas por meio de diferentes
instrumentos e com diversas instituições financeiras, conforme relação ora
anexa (doc. 13). Nesse âmbito, tem-se duas situações jurídicas que, apesar
de distintas, têm como ponto comum o envolvimento e comprometimento de
recursos relevantes, os quais são determinantes à viabilidade da
reestruturação das Requerentes.

24
fls. 25

62. Ainda, em ambas as espécies de garantia fiduciária

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mencionadas, existem razões que justificam a liberação dos recursos
correspondentes em favor das Requerentes, seja em decorrência de sua
essencialidade na preservação de suas atividades, ou pela própria vedação
legal à retenção dos recursos pelos credores a partir do ajuizamento deste
Pedido de Recuperação Judicial.

63. Antes de se assinalar propriamente os contratos e


as circunstâncias jurídicas específicas em cada caso, há de se destacar a
essencialidade dos valores envolvidos à preservação da atividade
empresarial das Requerentes. E, sob tal óptica, ratificar a possibilidade de
este D. Juízo determinar a liberação dos valores envolvidos em favor das
Requerentes, independentemente de sobre estes incidir ou não garantia
fiduciária.

Essencialidade dos recursos ao soerguimento do Grupo Handz

64. No contexto de uma recuperação judicial, é forçoso


reconhecer a necessidade de se assegurar recursos à empresa devedora em
patamar suficiente à sua preservação, na medida em que se deve sopesar o
interesse particular de um ou mais credores específicos face ao interesse
coletivo na função social e econômica exercida pela empresa.

65. Em linha com o princípio insculpido no art. 47 da


LRF14, a finalidade de uma recuperação judicial é viabilizar a superação de

14
“Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-
financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e

25
fls. 26

crise econômico-financeira, permitindo-se a manutenção da empresa

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recuperanda e a preservação da função social por ela exercida. É por isso
mesmo que, na forma do art. 49, § 3º da LRF, é vedada a retirada de bens de
capital essenciais à atividade empresarial da devedora, posto que tanto
significaria a prevalência do interesse particular de um credor sobre a própria
finalidade visionada pelo legislador a um processo recuperacional.

66. Depreende-se do dispositivo que pouco importa se


o bem essencial à atividade da recuperanda garante um crédito sujeito ou não
aos efeitos da recuperação judicial. Como já bem ratificado pelo E. TJSP, a
natureza do crédito não se confunde com a essencialidade dos bens para
soerguimento da empresa15.

67. Sob esse prisma, é vedada a retirada de quaisquer


bens que se mostrem necessários à regular manutenção da atividade
desenvolvida pela recuperanda. A definição, naturalmente, não abrange
apenas imóveis ou equipamentos utilizados pela empresa, como também os
recursos por ela gerados e que são imprescindíveis ao custeio de suas
próprias operações. Efetivamente, ao tecer comentário sobre referido
dispositivo, Manoel Justino bem observou que é intuitivo, se o legislador
não permitia a retirada das máquinas, muito menos permitiria a retirada do

dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica.”
15
“Recuperação judicial – Impugnação – Alienação fiduciária – Parcela do crédito - Não sujeição à
recuperação – Natureza do crédito que não se confunde com a essencialidade dos bens para soerguimento
da empresa - Essencialidade dos bens configurada - Bens objeto de arrendamento mercantil - Veículos
essenciais à atividade empresarial (transporte de carga) - Recurso parcialmente provido.” (TJSP; Agravo
de Instrumento 2197051-29.2016.8.26.0000; Relator (a): Fortes Barbosa; Órgão Julgador: 1ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial; Foro de Santos - 2ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 16/12/2016; Data
de Registro: 16/12/2016).

26
fls. 27

dinheiro, muito mais indispensável à produção e ao chamado

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1136775-93.2023.8.26.0100 e código 10BBBE97.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
soerguimento16.

68. Destaca-se conclusão similar refletida no acórdão


proferido pelo E. TJSP no âmbito da recuperação judicial da Livraria
Cultura, oportunidade na qual se declarou a impossibilidade de a credora
fiduciária bloquear recebíveis cedidos fiduciariamente, quando referidos
direitos creditórios se apresentarem essenciais à consecução da atividade da
recuperanda:

“Agravo Interno. Inconformismo contra a decisão


liminar que manteve a decisão de primeiro grau.
Recuperação judicial. Decisão recorrida que
reconheceu a essencialidade de recebíveis cedidos
fiduciariamente para o fim de determinar a
abstenção de bloqueio por 'travas bancárias' do
montante tido como imprescindível para o
desenvolvimento das atividades da recuperanda.
Inconformismo. Competência do Juízo da recuperação
para constatação da essencialidade do bem. Precedente
do C. Superior Tribunal de Justiça. Mérito. Agravante
que sustenta que dinheiro não se enquadra na exceção
prevista no final do §3º, do art. 49, da LRJ, tampouco
é possível a aplicação analógica do art. 49, §5º, LRJ,
por tratar especificamente de penhor. Irrelevância.
Cessão fiduciária que não tem previsão literal expressa
no artigo 49, §3º, LRJ. Criação do instituto meses antes
da vigência da Lei n. 11.101/05. Caso o crédito seja
considerado concursal, há impossibilidade de
excussão dos direitos creditórios de recebíveis
cedidos. Se considerado extraconcursal, a cessão
fiduciária, ao receber o bônus do art. 49, §3º, LRJ,
também deve se sujeitar aos ônus impostos pela lei.
Essencialidade comprovada por demonstração do

16
BEZERRA FILHO, Manoel Justino, Lei de Recuperação de Empresas e Falência [livro digital], 7ª ed.,
São Paulo, Thomson Reuters, 2022, comentário ao art. 49, § 3º.

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fls. 28

administrador judicial. Decisão mantida. Recurso

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improvido.”17

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
69. Da mesma forma, o E. TJSP também já ratificou,
em sede de pedido de tutela cautelar, e ante a possibilidade de ingresso no
stay period, a impossibilidade de se retirar da devedora todos os recursos de
que dispõe, a despeito de o crédito envolvido não se sujeitar aos efeitos da
recuperação judicial, posto que tal medida é capaz de inviabilizar o próprio
soerguimento da empresa:

“RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CAUTELAR.


INCIDENTAL. TRAVA BANCÁRIA. Agravo de
instrumento contra a decisão que deferiu a liminar para
determinar que a agravante, instituição financeira,
deixe de realizar novas retenções das contas bancárias
das recuperandas, bem como determinou a liberação,
em favor da recuperanda, do percentual de 30% dos
valores antes bloqueados. Conquanto a agravante tenha
registrado as cédulas de crédito garantidas por cessão
fiduciária de recebíveis, instrumento que foi,
igualmente, registrado junto ao Registro de Títulos e
Documentos do domicílio da devedora, fato que, a
princípio, conduziria à não sujeição dos créditos da
agravante à recuperação judicial, nos termos do art. 49,
§ 3º, da Lei nº 11.101/2005 e também de acordo com
as Súmulas nº 59 e 60, deste Tribunal, certo é que as
recuperandas poderão, em breve, ingressar no stay,
de modo que a retirada, neste momento, de todos os
recursos disponíveis pelas agravantes, instituições
financeiras, poderá inviabilizar o soerguimento das
agravadas, principal objetivo do pedido de
recuperação. Presente, portanto, o requisito
necessário ao deferimento da tutela cautelar
requerida – probabilidade do direito acautelado.

17
TJSP; Agravo Interno Cível 2236949-78.2018.8.26.0000; Relator (a): Hamid Bdine; Órgão Julgador: 1ª
Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 2ª Vara de Falências e Recuperações
Judiciais; Data do Julgamento: 17/12/2018; Data de Registro: 19/12/2018.

28
fls. 29

Decisão agravada mantida. Recurso não provido.

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Prejudicado o agravo regimental.”18

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
70. No caso das Requerentes, é evidente que, para a
realização de prestação de serviços de segurança e de produção agrícola, os
recursos financeiros operacionais são essenciais à sua atividade, na medida
em que é com seu caixa que as empresas requerentes adquirem seus insumos,
realizam o adimplemento das despesas ordinárias e da sua folha de
colaboradores.

71. Nesse contexto, as Requerentes encontram-se sob


o risco de não dispor de recursos suficientes ao pagamento de suas despesas
básicas, principalmente pelo comprometimento de seus recebíveis futuros
em operações de cessão de direitos creditórios. Em acréscimo, há recursos
que se encontram retidos junto a instituições financeiras, sobre os quais
foram constituídas garantias em cessões de aplicação financeira, e que
poderiam ser vertidos às operações das Requerentes e ao adimplemento de
sua folha de pagamento.

72. Ressalta-se que não se trata, aqui, de hipótese em


que as Requerentes simplesmente pactuaram uma garantia fiduciária em
favor de determinado credor e, contraditoriamente, posteriormente buscaram
no Judiciário meios de se desincumbirem da obrigação acordada.

18
TJSP; Agravo de Instrumento 2081702-75.2016.8.26.0000; Relator (a): Carlos Alberto Garbi; Órgão
Julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de Mogi Guaçu - 3ª V. CÍVEL; Data do
Julgamento: 17/10/2016; Data de Registro: 20/10/2016.

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73. As circunstâncias fáticas vigentes à época em que

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firmadas referidas garantias foram substancialmente alteradas, a partir da
superveniência da pandemia da Covid-19 e do ciclo de alta da inflação, que
frustraram em absoluto as projeções financeiras do Grupo Handz. A garantia
fiduciária que a princípio se acomodaria em suas receitas inflou-se,
concomitantemente à redução do faturamento das devedoras, a torná-la
excessivamente onerosa, capaz de inviabilizar a própria continuidade das
atividades das Requerentes.

74. Serão, assim, expostas nos tópicos que seguem


ambas as circunstâncias mencionadas, com a identificação dos recursos cuja
liberação ora se requer.

Liberação de valores de aplicações financeiras

75. Há cerca de R$ 16.202.333,55 (dezesseis milhões,


duzentos e dois mil, trezentos e trinta e três reais e cinquenta e cinco
centavos) retidos junto a instituições financeiras credoras do Grupo Handz.
Trata-se de valores que foram objeto de cessão fiduciária de aplicação
financeira, em garantia a operações contratadas junto aos bancos credores,
em quatro diferentes contratos19. Melhor detalhando, nesta modalidade de
garantia ao empréstimo contratado junto ao banco, as Requerentes
providenciaram aplicação financeira junto ao credor, mediante certificados
de depósito bancário perfazendo o valor exigido na contratação, os quais

19
CCB 139.2023.773.29532, CCB 139.2023.924.29632 e CCB 139.2023.926.29672, contratadas junto ao
Banco do Nordeste do Brasil; e Instrumento Particular de Cessão Fiduciária em Garantia nº 457/22,
celebrado com o Banco Sistema S.A.

30
fls. 31

foram objeto de cessão fiduciária – aplicações as quais permanecem retidas

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naquele âmbito.

76. Nesse caso, Exa., é preciso vedar que os bancos em


questão procedam, a partir do ajuizamento deste Pedido de Recuperação
Judicial, ao auto pagamento de seus créditos, mediante a baixa e amortização
de referidas aplicações. Trata-se, como se sabe, de conduta comumente
adotada por instituições financeiras, na hipótese do ajuizamento de
recuperação judicial pelos devedores.

77. Com efeito, mesmo se tratando de valores sobre os


quais recai garantia fiduciária, com o ajuizamento desta demanda
recuperacional, descabe a amortização unilateralmente realizada pelo credor.
Cabe a este D. Juízo decidir sobre atos expropriatórios realizados com
fundamento em referido crédito, e sua eventual necessidade para fortalecer
o fluxo de caixa das empresas recuperandas.

78. Nesse sentido é a jurisprudência pacífica do C.


Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO INTERNO NO CONFLITO POSITIVO


DE COMPETÊNCIA. DEFERIMENTO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. MEDIDAS DE
CONSTRIÇÃO SOBRE O PATRIMÔNIO DA
EMPRESA RECUPERANDA. COMPETÊNCIA DO
JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL PARA
EXERCER O CONTROLE DOS ATOS DE
CONSTRIÇÃO. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. 1. Cabe ao juízo da recuperação
judicial exercer o controle dos atos constritivos
incidentes sobre o patrimônio de empresa, aferindo a

31
fls. 32

essencialidade dos bens para seu reerguimento. 2. Os

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estreitos limites do conflito de competência não

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autorizam discutir a natureza do crédito - se concursal
ou extraconcursal -, devendo o debate ocorrer nas vias
e recursos próprios. 3. Ainda que se atribua o caráter
extraconcursal a crédito, incumbe ao juízo em que
se processa a recuperação judicial deliberar sobre
os atos expropriatórios e sopesar a essencialidade
dos bens de propriedade de empresa passíveis de
constrição e a solidez do fluxo de caixa. 4. Agravo
interno desprovido.”20

79. Em termos similares à pretensão ora veiculada


pelas Requerentes, no âmbito da recuperação judicial do Grupo Petrópolis,
o Juízo Recuperacional ratificou a possibilidade de liberação de recebíveis
objetos de garantia fiduciária às empresas devedoras, na medida em que
referidos valores se revelarem necessários à manutenção de suas atividades:

“Apesar da posição sufragada pelo C. STJ no sentido


de que os créditos garantidos por cessão fiduciária não
se submetem ao processo de recuperação Judicial., é
preciso considerar que a chamada TRAVA
BANCÁRIA, pode, na maioria das vezes,
inviabilizar o soerguimento da empresa que
necessita da recuperação.
Com efeito, não deferir a medida cautelar, ofenderia o
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA E
DE SUA FUNÇÃO SOCIAL, pilar fundamental
traçado pela LRF, podendo, ainda, acarretar uma crise
muito maior na economia do País, colocando em risco
milhões de brasileiros que teriam o dessabor enfrentar
o desemprego, além de prejudicar os fornecedores que
dependem das empresas que integram o grupo, e o
próprio Fisco ao deixar de arrecadar uma soma
considerável dos tributos, gerando um verdadeiro caos
na sociedade.
20
AgInt no CC n. 194.397/MG, relator Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Seção, julgado em
28/6/2023, DJe de 3/7/2023.

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Considerando que o escopo da Lei é possibilitar a

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recuperação da empresa viável (diante de uma análise

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perfunctória), em momentânea crise econômica-
financeira, por intermédio do equilíbrio de interesses,
o deferimento da tutela cautelar é a única forma de
atingir o fim colimado pela LRF, preservando a
atividade empresarial e, por conseguinte, os interesses
por ela abrangidos.
[...]
Portanto, o interesse do credor fiduciário não pode
prevalecer sobre o interesse público, devendo
observar com o disposto no artigo 47, da Lei
11.105/05, de modo a possibilitar o êxito da
recuperação e obstar a decretação da falência.”21

80. No presente caso, como exposto, há premente


demanda de recursos para que as Requerentes façam frente às suas
obrigações perante seus fornecedores e empregados (lembrando, aqui, que o
Grupo Handz possui um total de quase 20 mil colaboradores diretos).

81. É plenamente cabível, em linha com a


jurisprudência colacionada acima, que V. Exa. determine a liberação dos
recursos que se encontram retidos junto aos bancos credores, para que sejam
vertidos à manutenção das operações das Requerentes e à consecução da
reestruturação visionada pela presente demanda.

21
Decisão proferida pelo D. Juízo da 5ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro, às fls. 119/125,
nos autos da Recuperação Judicial da Cervejaria Petrópolis (nº 0835616-92.2023.8.19.0001)

33
fls. 34

Recebíveis futuros que não integram a garantia fiduciária dos credores

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82. As Requerentes pactuaram, com alguns de seus
credores financeiros, cessões fiduciárias de recebíveis futuros, incluindo,
nesse âmbito, cessões de direitos creditórios decorrentes de determinados
contratos de prestação de serviços e duplicatas, e com vinculação a contas
bancárias específicas. Há, nesses moldes, 13 contratos celebrados com 12
diferentes instituições financeiras 22 , havendo, atualmente, cerca de R$
6.229.427,56 (seis milhões, duzentos e vinte e nove mil, quatrocentos e vinte
e sete reais e cinquenta e seis centavos) retidos junto a instituições
financeiras credoras do Grupo Handz.

83. Esclarecendo-se o contorno de referidas garantias:


de forma similar no caso de todos os bancos mencionados, pactuou-se a
cessão fiduciária de direitos creditórios de titularidade das Requerentes,
estabelecendo-se que seriam cedidos os recursos e títulos existentes na data
da contratação e os recebíveis futuros, constituídos nos meses subsequentes.
Em outras palavras, as garantias são compostas pelos valores pagos às
Requerentes em função de tais direitos creditórios, os quais são constituídos
apenas após a efetiva prestação de serviços pelas Requerentes, o que se dá
dia a dia.

22
CCB 390/22, CCB 657/22, CCB 788/22, e CCB 0913/23, celebrados com o Banco Pine; Contrato de
Empréstimo Internacional MA1023L401, celebrado com o Itaú Unibanco; Termo Constitutivo de Nota
Comercial, celebrado com o Fundo Aurum; CCB 0001055727/GSD e CCB 0004668870/GSD, celebradas
com o Fundo Atlanta; CCB 0000031809-1, celebrada com o Banco Bonsucesso; CCB 0012/22, celebrada
com o Banco Caixa Geral; CCB 007576451, celebrada com o Banco Safra; CCB 10316673, celebrada com
o Banco Votorantim; CCB 18303355A, celebrada com o C6 Bank; e CCB 100122100000500, celebrada
com o Itaú Unibanco.

34
fls. 35

84. Todas as instituições financeiras com as quais

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foram celebrados instrumentos em tais termos tiveram a natureza de seus
créditos definida na presente data, em que ajuizado o Pedido de Recuperação
Judicial, de acordo com as garantias então existentes nos termos do art. 49,
§ 3º da Lei 11.101/2005.

85. Tanto se dá em observância à regra geral de


sujeição dos créditos, na forma do art. 49, caput, da Lei 11.101/2005, a partir
da qual a concursalidade ou não de todos os créditos é determinada quando
ajuizado o processo recuperacional. Isto é, no caso dos créditos que contam
com garantia fiduciária constituída na forma de referido art. 49, § 3º, apura-
se o valor das garantias existentes naquele momento e tanto será o valor do
crédito extraconcursal do respectivo credor titular.

86. Como se sabe, a alienação fiduciária tem por objeto


a transferência da propriedade de determinado bem ou direito, em garantia
ao cumprimento de uma obrigação principal. No caso da cessão fiduciária de
créditos futuros, a efetiva transferência da propriedade (e, por conseguinte,
a constituição da garantia) somente ocorre quando os valores
correspondentes são recebidos pela empresa cedente. Assim ensina a
doutrina sobre o tema:

“Essa espécie de negócio caracteriza-se, em verdade,


apenas como um negócio obrigacional (ou consensual),
pelo qual o “cedente fiduciante” obriga-se a transferir
ao seu credor, em garantia de obrigações que tem pe-
rante ele, a titularidade de créditos futuros perante ter-
ceiros, tão logo esses créditos sejam constituídos. Com
o cumprimento de suas obrigações contratuais junto ao
terceiro, o “cedente fiduciante” ensejará a constituição

35
fls. 36

dos créditos “cedidos”, que, só então, podem ser trans-

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mitidos ao patrimônio do “cessionário fiduciário”.

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Além disto, caracteriza-se também como um negócio
condicionado, ao qual há de se aplicar a regra do art.
125 do Código Civil, negando-se ao “cessionário fidu-
ciário” a efetiva aquisição da propriedade fiduciária en-
quanto não verificado o atendimento da condição, ou
seja, do surgimento do crédito.”23

87. Não se sabe, no momento da assinatura do


instrumento de cessão, se, quando e sob quais condições surgirá o crédito
cedido. O bem móvel fungível no qual se consubstancia a cessão, além de
ainda não existir, não está suficientemente individualizado no momento da
constituição do contrato – não se sabe seu valor, a data de vencimento ou se
chegarão a existir. Essa falta de individualização dos créditos cedidos
impede, inclusive, que os credores cumpram os ônus que lhe são impostos
pelo art. 19 da Lei 9.514/9724.

88. É apenas no momento da individualização do


recebível que é possível saber o valor do crédito e o seu vencimento. É só
nesse momento, portanto, que o credor garantido pode cumprir os ônus que
lhe são impostos pelo art. 19 da Lei 9.514/97 (aplicável ao caso em razão do
disposto no art. 66-B, § 4º, da Lei 4.728/65), requisito fundamental à

23
KALIL, Marcus Vinicius Alcântara, A Cessão Fiduciária de Créditos Não Performados e o seu regime
na Recuperação Judicial, in RIBEIRO, José Horácio Halfeld Rezende, WAISBERG, Ivo (orgs.), Temas de
Direitos da Insolvência – Estudos em homenagem ao Professor Manoel Justino, São Paulo, Editora IASP,
2017, pp. 793-794.
24
“Art. 19. Ao credor fiduciário compete o direito de: I - conservar e recuperar a posse dos títulos
representativos dos créditos cedidos, contra qualquer detentor, inclusive o próprio cedente; II - promover a
intimação dos devedores que não paguem ao cedente, enquanto durar a cessão fiduciária; III - usar das
ações, recursos e execuções, judiciais e extrajudiciais, para receber os créditos cedidos e exercer os demais
direitos conferidos ao cedente no contrato de alienação do imóvel; IV - receber diretamente dos devedores
os créditos cedidos fiduciariamente.”

36
fls. 37

validade da garantia constituída em seu favor. Antes do devedor ter a

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propriedade do recebível, não tem como transferir tal recurso
fiduciariamente ao credor, já que efetivamente não possuía tal direito.

89. O ponto, Exa., é que os recebíveis ainda não


convertidos em valor monetário não correspondem a uma garantia
existente em favor das instituições financeiras na data do pedido da
presente demanda. A consequência, em estrita observância ao art. 49 da Lei
11.101/2005, é a sujeição dos valores dos créditos excedentes às garantias
existentes na data do pedido, e a impossibilidade de apropriação, pelos
credores, dos valores que passaram a existir posteriormente, a partir da data
do pedido, incluindo os valores posteriormente pagos por meio dos boletos
já vencidos. As garantias não constituídas, comumente denominadas “não
performadas”, não se adequam à hipótese do § 3º de referido art. 49.

90. Sobre o tema, a jurisprudência das Câmaras


Reservadas de Direito Empresarial do E. TJSP é esclarecedora:

“(...) Créditos não performados (não constituídos) na


data do ajuizamento do pedido de recuperação judicial,
por outro lado, em relação aos quais resta a garantia
ineficaz – Propriedade fiduciária que não havia sido
constituída na data de ajuizamento do pedido de re-
cuperação judicial, não se podendo constituir pos-
teriormente, ante o que dispõe o art. 49, caput, da
Lei n. 11.101/05 – Propriedade fiduciária, à luz do
que dispõe o art. 49, § 3°, cuja existência deve ser
aferida na data do pedido de recuperação – Valores
relativos a transações realizadas (i.e., créditos perfor-
mados) após o pedido de recuperação judicial que de-
vem ser integralmente liberados à devedora –

37
fls. 38

Precedente desta C. 2ª Câmara Reservada de Direito

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Empresarial (...).”25

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“Recuperação judicial – Travas bancárias – Cédula de
Crédito Bancário garantida por cessão fiduciária de
créditos – Créditos decorrentes de vendas efetuadas por
meio de cartão de crédito e débito – Créditos "a per-
formar" – Falta dos requisitos formais necessários
para que seja considerado como extraconcursal –
Exclusão prevista no §3º do artigo 49 da Lei 11.101/05
não caracterizada – Recurso provido.
Apesar da previsão da constituição de garantias ao pa-
gamento das cédulas de crédito bancário enfocados
consistentes em cessão fiduciária de créditos decorren-
tes de vendas efetuadas por meio de cartão de crédito
ou débito e da promoção de registro integral perante
Oficial de Registro de Títulos e Documentos, estas ga-
rantias não estão, e nem poderiam estar, devida-
mente especificadas, não sendo efetiva sua individu-
alização, o que inviabiliza sejam tidas como efica-
zes. Isso porque, considerado o disposto no artigo 66-
B, §3º da Lei 4.728/1965, a cessão fiduciária não
pode ser oca e desprovida de conteúdo concreto, de
maneira que só ganharia eficácia plena se houves-
sem créditos efetivamente existentes, disponíveis e
individualizados. Não se pode aceitar a liquidação da
garantia enfocada sem a plena individualização dos
créditos correspondentes e sem que estejam represen-
tados valores especificados. Acresça-se que, no caso
em apreço, o crédito em questão caracteriza-se como
“crédito a performar”, ou seja, créditos que, na reali-
dade, não existem no momento da realização do negó-
cio. Dito crédito não pode ser individualizado, uma
vez que não há certeza sequer com relação a sua
constituição, podendo, ou não, vir a existir. A con-
formação conferida à garantia em apreço, além de sus-
citar graves questões com respeito à forma de sua exe-
cução, não se ajusta às exigências de segurança jurídica
próprias para o reconhecimento da natureza

25
TJSP; Agravo de Instrumento 2274677-56.2018.8.26.0000; Relator (a): Grava Brazil; Órgão Julgador:
2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 2ª Vara de Falências e Recuperações
Judiciais; Data do Julgamento: 13/05/2019; Data de Registro: 05/06/2019.

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fls. 39

extraconcursal de um crédito diante de um requeri-

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1136775-93.2023.8.26.0100 e código 10BBBE97.
mento de recuperação judicial. Para que a propriedade

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
fiduciária seja regularmente instituída pelo devedor,
ele precisa dispor sobre o bem oferecido ao credor, de
maneira que o objeto da garantia há de estar incluído
em seu patrimônio. A constituição de garantias reais
pressupõe a possibilidade de alienação, pois não é per-
mitido comprometer direitos que não se tem. O bem
oferecido em garantia precisa ser de titularidade da-
quele que oferece a garantia, permanecendo, efetiva e
concretamente, sob sua livre disposição. A garantia fi-
duciária, além disso, necessita estar plenamente espe-
cializada. Os bens conferidos em garantia precisam
ser individualizados, tal qual os elementos da dí-
vida. O valor garantido pelo bem oferecido pelo de-
vedor fiduciário deve ser especializado, com uma
quantificação exata; o prazo da dívida precisa ser
conhecido; a incidência de encargos financeiros so-
bre a dívida garantida precisa ser detalhada.”26

“Agravo de instrumento. Recuperação judicial. Preten-


são de impedir desconto de recebíveis provenientes de
cartão de crédito por instituição financeira. Créditos
decorrentes de vendas realizadas após o ajuiza-
mento da recuperação judicial. Não se pode aceitar a
liquidação do empréstimo sem a individualização dos
créditos sem que representem valores especificados.
Créditos a consolidar oriundos de transações eletrô-
nicas feitas por clientes da recuperanda, que não
existiam na data da recuperação. Impossibilidade
de a instituição bancária credora fiduciária realizar
retenções de quantias referentes a pagamentos em
nome da recuperanda mediante utilização de car-
tões de débito ou crédito. Recurso provido.”27

“Com efeito, a cessão fiduciária de créditos futuros se


sujeita a regime jurídico análogo ao da compra e venda

26
TJSP, AI 2075478-53.2018.8.26.0000, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Rel. Fortes
Barbosa, j. em 04/07/2018.
27
TJSP; Agravo de Instrumento 2155873-03.2016.8.26.0000; Relator (a): Hamid Bdine; Órgão Julgador:
1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 1ª Vara de Falências e Recuperações
Judiciais; Data do Julgamento: 15/03/2017; Data de Registro: 16/03/2017.

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de coisa futura. Não existe propriedade sobre algo

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que ainda não existe. A propriedade somente se

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constitui a partir do momento em que seu objeto
passa a existir. Sendo assim, a cessão fiduciária em
garantia de crédito futuro não transfere, desde logo,
a propriedade (rectius, titularidade) do crédito
ainda não existente (ainda não constituído) ao cre-
dor fiduciário. No caso de créditos futuros, embora
válida a cessão, a constituição da propriedade fiduciá-
ria (e fala-se, aqui, em propriedade, ontologicamente,
dada sua natureza de bem móvel) fica sujeita ao imple-
mento de condição suspensiva: a constituição do cré-
dito cedido em garantia. Enquanto isso não ocorre, a
eficácia da cessão resta suspensa, inexistindo proprie-
dade fiduciária (cf. art. 125, do CC), porque inexistente
seu objeto.”28

91. A conclusão, Exa., é a impossibilidade de as


instituições financeiras mencionadas reterem os recebíveis outrora cedidos
fiduciariamente, uma vez que seus valores somente foram recebidos
posteriormente ao ajuizamento do presente Pedido de Recuperação Judicial,
não constituindo uma garantia de propriedade do credor fiduciário nesta data.

92. Trata-se de valores que não integram a garantia


fiduciária dos credores na forma do art. 49 da Lei 11.101/2005. Ao contrário,
são valores que devem ser utilizados na manutenção e preservação das
atividades desenvolvidas pelo Grupo Handz, inclusive como forma de
assegurar o resultado útil da presente Recuperação Judicial.

28
TJSP, AI 274677-56.2018.8.26.0000, 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Rel. Grava Brazil, j.
em 16/05/2019.

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93. Veja-se que, no tocante à liberação dos recebíveis

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futuros das Requerentes, sequer se precisaria falar em essencialidade dos
valores, uma vez que os recebíveis não performados efetivamente não
compõem a garantia fiduciária dos credores, e não poderia ter outra
destinação senão a liberação em favor do Grupo Handz. O fato de se tratar,
ainda, de recursos essenciais ao soerguimento das Requerentes, apenas
denota a urgência da imediata ordem para que as instituições financeiras
deixem de reter quaisquer valores oriundos de referidos recebíveis.

PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

94. O Plano de Recuperação Judicial das Requerentes,


contendo discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem
empregados, demonstração de sua viabilidade econômica e laudo
econômico-financeiro e de avaliação de seus bens e ativos, será apresentado
nestes autos no prazo de 60 (sessenta) dias, nos termos do art. 53 da LRF.

PEDIDOS

95. Por todo o exposto, tendo sido adequadamente


comprovado que as Requerentes preenchem todos os requisitos necessários
ao deferimento do presente pedido de recuperação judicial, requer-se seja:

(i) deferido o processamento deste pedido de


recuperação judicial em consolidação processual
para todas as Requerentes, na forma do art. 69-G
da LRF;

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(ii) em caráter de urgência, determinado às

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1136775-93.2023.8.26.0100 e código 10BBBE97.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
instituições financeiras, conforme relação de
credores e instrumentos ora apresentada (doc.
13), a liberação das aplicações financeiras
retidas, bem como para que se abstenham de
reter quaisquer valores de recebíveis de
titularidade das Requerentes, os quais forem
recebidos após o ajuizamento do presente pedido;

(iii) nomeada a administração judicial – art. 52, I, da


Lei nº 11.101/LRF;

(iv) determinada a dispensa da apresentação de


certidões negativas para o exercício de suas
atividades – art. 52, II, da LRF;

(v) ordenada a suspensão de todas as ações e


execuções em curso contra as Requerentes, bem
como de quaisquer medidas constritivas sobre seu
patrimônio, na forma do art. 6º da LRF – art. 52,
III, da LRF;

(vi) intimado o Ministério Público e comunicadas as


Fazendas Públicas Federal, Estadual e Municipal –
art. 52, V, da LRF; e

(vii) publicado o edital a que se refere o parágrafo 1º do


art. 52 da LRF.

96. As Requerentes informam que, em obediência ao


art. 52, IV, da LRF, apresentarão as contas demonstrativas mensais enquanto
perdurar a recuperação judicial.

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97. Por fim, requer-se que todas as intimações relativas

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1136775-93.2023.8.26.0100 e código 10BBBE97.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOEL LUIS THOMAZ BASTOS, protocolado em 29/09/2023 às 10:16 , sob o número 11367759320238260100.
ao presente pedido sejam feitas exclusivamente em nome do advogado Joel
Luís Thomaz Bastos (OAB/SP 122.443), com escritório na Avenida
Brigadeiro Faria Lima, n° 3.311, 13° andar, Itaim Bibi, São Paulo/SP, CEP
04538-133, sob pena de nulidade, nos termos do art. 272, § 5º, do CPC.

98. Dá-se à causa o valor de R$ 1.758.448.853,50 (um


bilhão, setecentos e cinquenta e oito milhões, quatrocentos e quarenta e oito
mil, oitocentos e cinquenta e três reais e cinquenta centavos), em obediência
ao art. 51, § 5º da LRF, e apresenta-se o comprovante de recolhimento das
respectivas custas necessárias ao ajuizamento da presente demanda (doc.
14).

Termos em que, respeitosamente,


P. Deferimento
São Paulo/SP, 29 de setembro de 2023.

Joel Luís Thomaz Bastos Ivo Waisberg Bruno Kurzweil de Oliveira


OAB/SP 122.443 OAB/SP 146.176 OAB/SP 248.704

Carlos Teixeira L. Filho Adriana Dias de Oliveira Beatriz D. Gnipper


OAB/SP 61.396 OAB/SP 236.521 OAB/SP 331.734

Gustavo F. J. de Andrade Pedro Ito Asbahr Antonio H. Hindi B. Vieira


OAB/SP 448.778 OAB/SP 489.190 OAB/SP 493.995

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