Transporte Aquaviário
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3. TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
3.1. INTRODUÇÃO
Desde a Antiguidade, passando pela época das grandes navegações marítimas, até
a atualidade, o modal aquaviário vem aproximando regiões e civilizações. Em um
País de grande território como o Brasil, com extensa costa marítima, e rico em
bacias hidrográficas, o sistema aquaviário tem papel estratégico na integração
regional, para o transporte de mercadorias e passageiros, principalmente nas
regiões produtoras de grãos e na Região Amazônica.
O setor aquaviário constitui-se em um dos principais fatores para o desenvolvimento
econômico e social do Brasil, que possui grande extensão de vias potencialmente
navegáveis, cerca de 42.000km, e mais de 7.000km de costa atlântica (CNT, 2018).
O sistema aquaviário brasileiro é composto de vias marítimas e interiores e de portos
e terminais portuários. Dessa forma, há basicamente dois subsistemas: o fluvial ou
de navegação de interior, que utiliza as hidrovias e rios navegáveis, e o marítimo,
que abrange a circulação na costa atlântica. O primeiro conta com aproximadamente
41.630km de rios, dos quais 21.000km são naturalmente navegáveis, 15.000km
potencialmente navegáveis, mas apenas 19.964km são efetivamente utilizados
economicamente, o que corresponde a menos de 50% da extensão considerada
(CNT, 2018; DNIT, 2020).
Fazem parte desses subsistemas, ainda, os portos e terminais fluviais e os
marítimos, que totalizam 37 portos públicos organizados (situados em 17 estados,
sendo 34 marítimos e 3 fluviais) e 143 terminais de uso privativo. Esses portos são
administrados pelo setor público (Governos Federal, Estaduais ou Municipais) ou
pelo setor privado por meio de concessão pública (CNT, 2018).
A cronologia recente do setor de transporte marítimo brasileiro, conforme mostra a
Figura 3.1, se inicia com a criação das primeiras Companhias Docas, em 1960, a
criação e extinção da Portobrás, a criação da ANTAQ e suas atuações.
Por suas características de transporte para grandes volumes e grandes distâncias, o
sistema aquaviário agrega preservação ambiental e custos inferiores aos demais
modais de transporte, além de possibilitar o comércio internacional de mercadorias.
No Brasil, o sistema aquaviário responde por aproximadamente 13,6% da matriz de
cargas transportadas, incluindo o transporte fluvial, de cabotagem e de longo curso
(CNT, 2019).
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E P dl Vld g (3.1)
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d1 d2 V1 V2 (3.3)
Onde: d1 = densidade do líquido; d2 = densidade do corpo; V1 = volume do líquido;
V2 = volume ocupado pelo corpo.
Pode-se, então, concluir que:
𝑽𝟐 < 𝑽𝟏 e 𝒅𝟏 < 𝒅𝟐
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Porque o navio é oco e sua densidade média – levando em conta a porção de aço e
a porção cheia de ar – é menor que a densidade da água. Ou seja, 𝑑𝑛𝑎𝑣 < 𝑑𝑎𝑔𝑢𝑎 e
também pelo fato que ele se encontra em equilíbrio, parcialmente imerso e sujeito a
ação de duas forças de mesmo módulo e contrárias, o peso P e o empuxo E,
exercido pela água.
No entanto, a estabilidade do navio não depende apenas desse fato; depende
também do ponto de aplicação dessas forças. A força peso P é aplicada no centro
de gravidade (CG), que é fixo e o empuxo é aplicado no centro de empuxo (CE), que
é variável. A Figura 3.3 mostra a localização do centro de gravidade (CG), do centro
de empuxo (CE) e da força Peso (P), atuando em um navio.
Figura 3.3 – Localização do centro de gravidade (CG), do centro de empuxo (CE) e da força
peso (P) em um navio
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Observa-se que, dos 41.630km de trechos das hidrovias brasileiras, 23.394km ficam
na Região Amazônica (CNT, 2018).
Com relação ao transporte marítimo, salvo algumas raras exceções, não há uma via
materializada na qual os veículos se movimentam. Apenas tem-se uma linha
calculada a ser seguida pela embarcação, denominada rota.
3.5. VEÍCULOS
Os veículos aquaviários podem ser de vários tamanhos, tipos, finalidades e
configurações, adequando se sempre às especificações necessárias. Sua propulsão
é dada por motores de grande potência, capazes de impulsionar e locomover
embarcações de todos os tamanhos, com dezenas e até centenas de milhares de
toneladas.
Os veículos utilizados podem ser de passageiros, de carga, de lazer, de pesca, de
serviços (reboques, bombeiros, salvamento, etc.) e militares, como os de guerra e os
de patrulha costeira.
De acordo com a propriedade, podem ser públicos ou privados. A nacionalidade é
dada pelo país do porto em que foram registrados, cuja bandeira hastearão e de
cujo território nacional passam a fazer parte para efeitos de legislação civil, tributária,
trabalhista, etc., e para aplicação do Direito Internacional.
3.5.1. Principais veículos de transporte aquaviário
O Quadro 3.1 traz diversos tipos veículos do transporte aquaviário (navios e
embarcações), usados por passageiros e cargas, no ambiente fluvial ou marítimo,
bem como a sua descrição.
Quadro 3.1 – Tipos e descrição de navios e outras embarcações (continua)
TIPO FOTO ILUSTRATIVA DESCRIÇÃO
Navios que transportam vários tipos de cargas, geralmente em pequenos lotes: sacarias,
Cargas em
cobertas e porões. A carga é içada ou arriada do cais para o bordo, ou vice-versa, pelo
equipamento do navio (paus de carga e/ou guindastes) ou pelo existente no porto.
Passageiros
Navios que têm a finalidade única de transportar pessoas e suas bagagens. Pode ser para
viagens normais ou até mesmo para cruzeiros turísticos, que possuem uma estrutura
voltada ao lazer, como restaurantes de luxo, cassinos, bares, cinema, boate, lojas,
piscina, salão de jogos e ginástica, etc.
Navios semelhantes aos navios de carga geral, mas normalmente não possuem além de 1
contêiner
toda a área do convés e são providas de guias para encaixar os contêineres nos porões.
Alguns desses navios apresentam guindastes especiais.
Navios para transporte de petróleo bruto e produtos refinados (álcool, gasolina, diesel,
querosene, etc.). São caracterizados por sua superestrutura a ré e longo convés principal,
quase sempre tendo à meia nau uma ponte que vai desde a superestrutura até a proa.
Tanque
Essa ponte é uma precaução para a segurança do pessoal, pois os navios tanques
carregados passam a ter uma pequena borda livre, fazendo com que no mar seu convés
seja "lavado" com frequência pelas ondas.
Fonte: Adaptado de ABRETI (2011)
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Navios também chamados de RoRo (Roll-on Roll-off), onde a carga entra e sai dos porões
e cobertas, na horizontal ou quase horizontal, geralmente sobre rodas (automóveis,
rolamento
Navios parecidos com os gaseiros, transportando cargas químicas especiais, tais como:
enxofre líquido, ácido fosfórico, soda cáustica, etc.
Rebocadores
Navios utilizados para puxar, empurrar e manobrar todos os tipos de navios. Geralmente
utilizados para manobras de grandes navios na zona portuária e canais de acesso aos
portos. Pode também socorrer navios em alto-mar, rebocando-os para zonas seguras, e
puxar navios encalhados em bancos de areia. Apesar de pequenos, possuem grande
potência de motor.
Navios de carga combinada, ou seja, transportam minério (do inglês ore) e petróleo (do
Ore-Oil
inglês oil).
Porta-aviões
Navios utilizados pelas Forças Armadas (Marinha) para o transporte de aviões até a zona
principal de atuação dos mesmos. Servem como uma base móvel de operação, inclusive,
com pista de pousos e decolagens.
São vários os tipos, além dos porta-aviões. Alguns exemplos: fragatas, submarinos,
contratorpedeiros, balizadores, faroleiro, hidroceanográfico, oceanográficos, hidrográficos,
Militares
São conjuntos de veículos trator (chata) e diversas barcaças, utilizado para o transporte
hidroviário fluvial. Transportam, em geral, calcário, cana-de-açúcar, etc.
Balsa, ferry boat ou ferribote é uma embarcação de fundo chato, com pequeno calado,
para poder operar próximo às margens e em águas rasas e grande boca. Usada no
Balsa
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Navios de Linha (Liners Trade): são navios que percorrem sempre a mesma
linha, fazendo parte de uma Conferência de frete ou não. As cargas que são
transportadas por estes navios tem seu frete cotado a uma tarifa fixa e por
prazo determinado;
Navios a Frete (Tramp Trade): navios que não percorrem uma linha fixa. As
cargas transportadas por este tipo de navio pagam um frete vinculado à lei da
oferta e da procura. Como são navios não conferenciados, não usufruem das
vantagens que as Conferências de Frete oferecem;
Navios de Tráfego Privado ou Private Trade: tráfego de empresas que
produzem e transportam suas próprias cargas (exemplo: Petrobras); e
Navios Especializados: navios que são classificados segundo sua finalidade,
apresentados no Quadro 3.1.
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Figura 3.12 – Estrutura de proteção tipo molhe construída na Praia dos Anjos, Arraial do
Cabo (RJ).
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3.13.2. Internas
Obras internas são implantadas nas áreas abrigadas, como obras de acostagem,
estruturas para o equipamento de movimentação de carga e retroporto (áreas de
estocagem, vias e pátios rodoferroviários, oficinas, docas secas e estaleiros).
As principais obras que podem ocorrer são:
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cerca de 6.000 TEUs. São também chamados de “distribuidores”, pois atendem aos
navios que levarão a carga ao seu ponto final de consumo regional, no litoral de um
país ou estado. Os Terminais de Transbordo ou Transhipment podem ser de
transbordo puro, mas também podem servir de alimentadores da região em que se
localizam (a tendência dos existentes atualmente é de mais de 80% da carga ser
transferida para outros navios alimentadores). Por fim, os Terminais
Concentradores ou Hub Ports fazem parte de um porto concentrador de cargas e
de linhas de navegação. O termo decorre das estratégias de aumentar o tamanho
dos navios, concentrando rotas e reduzindo o número de escalas adotadas pelas
principais companhias marítimas. Devido a este fato, a estrutura portuária deve ser
capaz de receber grandes navios, atendendo à navegação de longo curso,
distribuindo ou recebendo cargas de portos de menores extensões. Desta maneira,
pode-se buscar a redução do tempo de viagens internacionais, de forma a aumentar
os negócios de exportação e importação. A implantação e o funcionamento estão
associados a um serviço de cabotagem eficiente, com elevada frequência e
agilidade no transbordo dos contêineres nos portos, o que geralmente exige grandes
volumes de carga para se tornar viável.
3.17. TERMINAL DE CARGAS
Os terminais de carga podem ser dispostos na forma de armazéns, locais de
armazenamento de carga geral. Podem ser utilizados para paletização (embarque)
ou despaletização (desembarque). Existem ainda os terminais especializados em
determinados tipos de carga, como, por exemplo, os terminais de contêineres. Este
tipo de terminal conta com local especializado no armazenamento e movimentação
de contêineres, podendo ser utilizado para unitização (estufagem) e desunitização
(desova).
Os terminais de carga são elos entre os trechos marítimo e terrestre, onde se supõe
que os contêineres ficarão por pouco tempo até seguirem viagem. A dimensão da
área dos terminais é atrelada ao crescente volume de tráfego de contêineres. Caso
não haja expectativa de crescimento, não se viabiliza economicamente um terminal
separado para contêineres, devendo estes ser operados nos de carga geral.
3.18. ESTAÇÃO ADUANEIRA INTERIOR (EADI)
As Estações Aduaneiras Interiores são terminais privados de uso público, instaladas,
preferencialmente, adjacentes às regiões produtoras ou consumidoras (muitas vezes
no interior do país, sendo comumente denominados de portos secos ou “Dry Ports”).
As EADIs possuem a mesma estrutura burocrática necessária ao comércio exterior.
Por este motivo, podem reduzir em até 30% o desembaraço das mercadorias e a
fiscalização dos contêineres enviados através de trem ou caminhão para os navios
ou aviões, para mercado interno ou externo.
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BRASIL. Lei nº 8.630, de 25 de Fevereiro de 1993. Dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos
portos organizados e das instalações portuárias e dá outras providências (Lei dos Portos). Diário
Oficial da União. Brasília, DF, 26 fev. 1993. Seção 1, p.2.351.
BRASIL. Lei nº 9.432, de 08 de Janeiro de 1997. Dispõe sobre a ordenação do transporte aquaviário
e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 09 jan. 1997. Seção 1, p.467.
BRASIL. Lei nº 10.233, de 05 de Junho de 2001. Dispõe sobre a reestruturação dos transportes
aquaviário e terrestre, cria o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte, a
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BRASIL. Lei nº 12.815, de 05 de Junho de 2013. Dispõe sobre a exploração direta e indireta pela
União de portos e instalações portuárias e sobre as atividades desempenhadas pelos operadores
portuários; altera as Leis nºs 5.025, de 10 de junho de 1966, 10.233, de 5 de junho de 2001,
10.683, de 28 de maio de 2003, 9.719, de 27 de novembro de 1998, e 8.213, de 24 de julho de
1991; revoga as Leis nºs 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, e 11.610, de 12 de dezembro de 2007,
e dispositivos das Leis nºs 11.314, de 3 de julho de 2006, e 11.518, de 5 de setembro de 2007; e
dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 05 jun. 2013. Seção 1, p.7.
CNT. Confederação Nacional dos Transportes. Atlas dos Transportes. 1ª Edição. Confederação
Nacional dos Transportes. Brasília: CNT, 2006.
CNT. Confederação Nacional dos Transportes. Plano CNT de transporte e logística 2018.
Confederação Nacional dos Transportes. Brasília: CNT, 2018. 635p
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Disponível em <https://www.cnt.org.br/boletins>. Acesso em: 09 jan. 2020.
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<http://www.emma-maersk.info/>. Acesso em: 09 set. 2011.
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embarcações. Disponível em <http://www.if.ufrgs.br/mpef/mef004/
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