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Resumo: O presente estudo tem por objetivo discutir o conceito de surdez, com as características e particularidades
que permeiam o desenvolvimento dos sujeitos em tal condição. A proposta é identificar ações para que o sujeito
surdo ou a pessoa com ausência parcial da audição, possa ser incluída no processo de aprendizagem escolar e, de
convivência social saudáveis ao seu pleno desenvolvimento. O educador, de uma maneira geral, tem um papel
importante na compreensão e é grande a sua responsabilidade em promover a participação de todos no processo
de construção do conhecimento.
Abstract: The present study aims to discuss the concept of deafness, with the characteristics and peculiarities that
permeate the development of the subjects in such condition. The proposal is to identify actions for the deaf subject
or the person with partial absence of hearing, can be included in the process of school learning and of social
coexistence healthy to its full development. The educator, in a general way, has an important role in the
understanding and he also has a great responsibility in promoting the participation of everyone in the process of
knowledge construction.
De acordo com Santos, Oliveira e Junqueira (2014), Lev Vygotsky (1896-1934), bielo-
russo de família judia, cursou Direito na universidade de Moscou e, com apreço significativo
1
Mestranda em Filosofia no Curso de Mestrado Profissional do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Ceará
(PROFILO/UFC). Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).Professora de Filosofia na Secretaria da Educação Básica
(SEDUC). E-mail: alexsandrabarbosademoraes@gmail.com
2
Graduado em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Especialista em Caráter e Residência Multiprofissional (UVA/ESFVS)
e em Educação Inclusiva (UECE). Psicólogo do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM/CE). E-
mail: brunopfreire@hotmail.com
3
Doutorando em Educação no Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará (PPGE/UFC). Mestre
em Educação (UFC). Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade da Aldeia de Carapicuíba (FALC). Graduado em
Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Licenciado em Língua Portuguesa pela Faculdade da Grande Fortaleza (FGF).
Professor de Língua Portuguesa na SEDUC. E-mail: jarlles@hotmail.com
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Portanto, dentro do campo institucional da educação, Vygotsky afirmava que o trabalho
com grupos heterogêneos, compostos por crianças de sexos e idades distintas, por sua variedade
inerente, levava ao desenvolvimento com uma qualidade diferenciada e significativa, superando
os aspectos formais do aprendizado, situando a criança no convívio social da alteridade. Nas
palavras dos autores:
Oliveira (2015) observa que, dentro de sua teoria sócio-histórica, Vygotsky estruturou
metodologicamente o desenvolvimento do ser humano em quatro campos: o filogenético, o
ontogenético, a sociogênese e a microgênese. O primeiro faz referência à evolução da espécie
humana, ressaltando o surgimento do Homo sapiens a partir do momento em que pensamento
e linguagem se tornam tão imbricados que permitem ao homem se organizar racionalmente em
sociedade do modo bastante elaborado.
O segundo se volta para o desenvolvimento do homem, de seu nascimento à morte.
Ressaltando a relação entre os processos orgânicos e sociais que apresentam influência direta
da linguagem como mediador do crescimento humano.
Já na sociogênese, “[...]sua atenção recaiu sobre a influência que os indivíduos recebem
a partir de seu convívio com o contexto sócio cultural” (OLIVEIRA, 2015, p. 56). Afirma que
os processos psicológicos superiores (atenção, memória, linguagem, etc.) têm sua gênese na
interação social. Por fim, na microgênese, lida com o desenvolvimento do indivíduo observando
suas próprias experiências, vislumbrando os saltos qualitativos de lidar com o mundo à medida
que cresce enquanto sujeito integral.
Dentro dessa perspectiva, torna-se importante refletir como um sujeito surdo, ou com
perda parcial e significativa da audição, pode se tornar o homem social ressaltado por Vygotsky,
visto que a linguagem pode se torna um empecilho dentro uma logística oralizada em que se
constitui a nossa sociedade.
Vygotsky traz ainda o conceito de Zona Proximal de Desenvolvimento (ZPD), espaço
de crescimento do sujeito que está entre os recursos já construídos pelo indivíduo e as
possibilidades de aprendizagem que este pode alcançar, observando o fundamental papel de um
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mediador, ou como coloca Oliveira (2015), o mais experiente, como facilitador e colaborador
na construção do conhecimento e, por consequência, do desenvolvimento do indivíduo.
A Surdez
Entende-se que cada sociedade tem um modo particular de apreender o mundo, o que
gera valores, comportamentos comuns compartilhados e tradições culturais. Até a modernidade,
os registros que se têm de sujeitos surdos, ou portadores de outras deficiências, referem-se ao
descaso, sacrifícios e exclusões. Somente na Idade Média a Igreja passa a condenar o
infanticídio, fornecendo causas sobrenaturais às “anormalidades” desses indivíduos
(KANNER, 1964). O surdo, visto como ser irracional e castigado, não tinha o direito de ser
educado e socializado, vivendo sozinho e na miséria.
Sacks (1989) aponta que, até então, não havia notícia de qualquer experiência
educacional direcionada a esse público. Somente no século XVIII, na França, surgiu a primeira
Instituição Escolar para crianças surdas, onde foi utilizada a Língua de Sinais a partir de uma
combinação com o alfabeto francês. A escola Ábade Michel de L’epée, que carrega o nome de
seu fundador, começou a mudar o percurso da história dessas pessoas.
No ano de 1857, o também professor Ernet Hwet, o qual era surdo e francês, veio ao
Brasil a convite do Imperador D. Pedro II para trabalhar na educação de surdos. Funda-se o
Instituto de Surdos-Mudos, o qual se desdobrou no atual Instituto Nacional de Educação de
Surdos - I.N.E.S. Em 1864, o professor surdo francês Laurent Cler, seguidor de L’epée, fundou
junto com Thomas Gallandet a primeira escola Estadunidense para surdos, que no mesmo ano
passou a ser a única universidade para surdos no mundo (SACKS, 1989).
Cardoso e Capitão (2007) destacam que nos estudos sobre o desenvolvimento cognitivo
do surdo, há três cortes epistêmicos claramente definidos no modo como a sociedade vê esse
sujeito na contemporaneidade. Em 1923, as crianças surdas eram consideradas mentalmente
inferiores às ouvintes, sob a justificativa de que a surdez também afetava o cérebro, causando
retardo mental. Mais tarde, em 1953, passou-se a considerar que surdos e ouvintes possuíam
desempenho intelectual similar, mas que os primeiros eram mais ligados ao pensamento
concreto e tinham menos capacidades de raciocínio abstrato, dificultando a generalização do
pensamento. Poucos anos depois, em 1960, afirmou-se que ambos os grupos eram iguais e que
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a ausência da fala não impediria o desenvolvimento intelectual do surdo, perspectiva que se
firmou até a atualidade.
De um ponto de vista orgânico, a perca e a deficiência auditiva são sinônimas,
observando-se apenas que o primeiro termo se refere a quem nasceu ouvinte e perdeu a audição
com o tempo. A maioria dos casos de perca auditiva ocorre, geralmente, com pessoas idosas
por conta de um desgaste dos folículos do ouvido interno. Isto pode ser corrigido com auxílio
do aparelho auditivo, o qual eleva o volume do som, aumentando, assim, a vibração sentida
pelo ouvido. Para perca auditiva, em raríssimos casos, é aconselhável a cirurgia de Implante
Coclear (IC), aparelho que estimula o nervo auditivo através de pequenos eletrodos que são
colocados dentro da cóclea (OLIVEIRA, 2005). Segundo o Decreto 5296/04 (BRASIL, 2004),
é considerada deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total de quarenta e um decibéis ou
mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 3000Hz.
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Quanto antes a lesão for detectada e as devidas providências tomadas, como, por
exemplo, a maneira como vão usar da linguagem para criar seu filho (oral, sinais ou bilíngue),
melhor poderá ser o desenvolvimento do sujeito. O problema é que, muitas vezes, demora-se a
descobrir a ausência auditiva no bebê, pois o desenvolvimento de uma criança que nasce surda
se processa normalmente, tal como na criança ouvinte, ficando as suspeitas de surdez
adormecidas até que algum incidente possa comprová-la. Essa situação de espera pode acarretar
em inúmeras consequências graves, mostrando-se de fundamental importância os testes para a
verificação de uma audição normal.
Assim, muitas vezes, só por volta de um ano de idade é que as diferenças e dificuldades
de comunicação são notadas, sendo esse intervalo de tempo entre os indicadores dos pais de
algo errado e o próprio diagnóstico um período em que aumenta o sentimento de incerteza,
criando ansiedade e angústia nos pais (COSTA, 2000). Todo esse processo é muito desgastante
e atribulado para a família, o que pode trazer questões negativas que a acompanharão por muito
tempo. Caso tais vivências não sejam ressignificadas, podem marcar um mal-estar intenso que
despotencializará a todos os membros familiares, principalmente o surdo, fomentando um mito
de surdez atrelado a deficiência e a incapacidade (REZENDE, KROM, YAMADA, 2003).
Levando-se em conta que 90% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes
(RODRIGUES e PIRES, 2002), a preocupação em como fazer essa relação ser a melhor
possível deveria ser prioridade, o que muitas vezes de fato é o objetivo, porém com soluções
malsucedidas. Assim, a família, enquanto sistema, muitas vezes não consegue sair
potencializada desse contexto, por não lidar apropriadamente com a situação, acessando um
caminho não saudável para manter o equilíbrio no grupo.
A interação social do surdo é diferente da que ocorre com a massa populacional, e para
olhar com singularidade seu ambiente é preciso instrumentalizar-se, aprender outros canais de
comunicação que não apenas o verbal, tampouco pensá-lo isolado do contexto que o permeia.
Diante dessa percepção, podemos pensar o desenvolvimento do sujeito surdo a partir de seu
meio familiar e educacional, no qual se utiliza, predominantemente, uma comunicação oral.
Nessa perspectiva, Goldfeld (1997) coloca que:
[...] é a linguagem que permite o salto do sensorial nas pessoas, [...] onde a
dificuldade dos surdos ocorre pelo fato de as línguas auditivas- orais serem as únicas
utilizadas pela grande maioria das comunidades, e a surdez impossibilita a criança de
adquiri-la espontaneamente. [...] Portanto, ressalta que os problemas da surdez são
decorrentes das questões sócio- culturais e que a educação dessas crianças de ter
como objetivo a minimização destes danos (p. 78).
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A esse modo, é fundamental questionar quais as consequências no desenvolvimento de
sua vida que poderão ser positivas, ou não, procedendo desses ambientes, já que a família e a
escola têm fundamentais colaborações em como essa pessoa irá se desenvolver e enfrentar as
situações sociais experienciadas no futuro. Dessa forma, o Ministério da Educação – MEC
(BRASIL, 2000) ressalta que:
Para a criança surda o contato deve ser feito por meio de sinais espontâneos e
expressões faciais cujo significado deve ser compreendido pelos pais e professores,
que precisam valorizar tais manifestações como forma de comunicação e mostrar
compreensão. Toda criança adquire a linguagem naturalmente, por meio da interação:
fala é uma das manifestações da linguagem, tal como sinais, gestos, e a escrita são
formas de estabelecer a comunicação e possibilitar a representação do pensamento.
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A Inclusão da Pessoa Surda na Perspectiva de Vygotsky
Conclusões
Referências
KANNER, Léo. A history of the care and study of the mentally retarded. Springfield,
Illinois: Charles C. Thomas Publisher. 1964.
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MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. Ed – São
Paulo: Hucitec, 2010.
OLIVEIRA, José Antonio A. de. Implante Coclear. Simpósio Surdez: implicações clínicas e
possibilidades terapêuticas. Medina, Ribeirão Preto, 38 (3/4): 262-272, jul/dez. 2005.
SACKS, O. Vendo vozes: uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio Janeiro: Imago,1989.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
BARBOSA, Alexsandra dos Santos; FREIRE, Bruno Pinto; MEDEIROS, Jarles Lopes de. A
Aprendizagem e o Desenvolvimento do Surdo na Perspectiva Sociointeracionista de Lev Vigotsky. Id
on Line Rev.Mult. Psic., 2018, vol.12, n.40, p.614-628-638. ISSN: 1981-1179.
Recebido: 13/04/2018
Aceito: 26/04/2018
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