Impacto e Planeamento Integrado em Turismo

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Introdução

1. Impacto e planeamento integrado em Turismo

Na perspectiva de Cole (2012), O turismo é uma das indústrias mais dinâmicas e de


crescimento mais rápido em todo o mundo. Contudo, sua expansão traz uma série de
impactos que podem afectar negativamente o meio ambiente, a cultura local e as
comunidades. Por isso, o planeamento integrado em turismo se tornou essencial para
garantir que esses impactos sejam geridos de forma sustentável e eficiente. Esse conceito
envolve a colaboração entre diversos sectores, instituições e partes interessadas, visando à
criação de um modelo turístico que equilibre a oferta de experiências, a preservação
ambiental e o desenvolvimento socioeconómico.

O impacto do turismo pode ser categorizado em diversas dimensões: económica, social,


ambiental e cultural. Economicamente, o turismo gera receitas e empregos, mas também
pode provocar aumento do custo de vida e desigualdades. Socialmente, promove a troca
cultural e o fortalecimento da identidade local, mas pode levar à gentrificação e ao
deslocamento de comunidades (Eder, 2020). Ambientalmente, o turismo traz a
oportunidade de conservação de áreas naturais, mas também pode resultar em degradação
dos ecossistemas, poluição e consumo excessivo de recursos.

O planeamento integrado é uma resposta a esses desafios, permitindo a elaboração de


estratégias que considerem todos os aspectos relacionados ao turismo. Essa abordagem
holística busca optimizar os benefícios e minimizar os danos, garantindo que o turismo
contribua para o bem-estar das comunidades e a sustentação dos ambientes naturais. Um
planeamento eficaz envolve a participação de todas as partes interessadas, incluindo
governo, sector privado, ONGs e a comunidade local, nas etapas de concepção e
implementação das políticas e acções.

Um dos elementos-chave do planeamento integrado em turismo é a realização de avaliações


de impacto. Essas avaliações ajudam a identificar e analisar os efeitos potenciais do
desenvolvimento turístico, permitindo que as decisões sejam tomadas com base em dados e
projecções sólidas. Além disso, o uso de indicadores de sustentabilidade ajuda a monitorar
e avaliar o desempenho do sector ao longo do tempo, garantindo que as metas de
desenvolvimento e conservação sejam alcançadas (Honey, 2008).
Conforme Wallace et al. (1996), O planeamento integrado não apenas ajuda a mitigar os
impactos negativos do turismo, mas também promove o desenvolvimento de um sector
mais resiliente e adaptável a mudanças, como as provocadas por crises económicas, sociais
ou ambientais. Com uma abordagem adequada, é possível transformar o turismo em uma
força propulsora para o desenvolvimento sustentável, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida das comunidades e a protecção dos recursos naturais que sustentam a
indústria. Assim, o desafio que se coloca actualmente é a implementação de práticas de
planeamento integrado que, longe de serem apenas normativas, sejam efectivas e
reconhecidas por todos os envolvidos.

Ao promover um turismo sustentável e responsável, é possível garantir que as futuras


gerações também possam desfrutar dos mesmos benefícios que as comunidades atuais
experimentam, criando um legado positivo e duradouro.

1.1. Desenvolvimento do Turismo de património impacto positivo e negativo

De acordo com Acerenza (1992), O desenvolvimento do turismo é um processo complexo e


dinâmico que envolve a criação e a promoção de experiências que atraem visitantes a um
determinado destino. Isso pode abarcar uma ampla gama de actividades, desde o
planeamento e a construção de infra-estrutura, como hotéis e transportes, até a realização de
estratégias de marketing para promover os atractivos turísticos de uma região.

Um dos principais objectivos do desenvolvimento do turismo é gerar benefícios


económicos e sociais para as comunidades locais. Isso pode incluir a criação de empregos,
a geração de receitas por meio de impostos e também a promoção da cultura e tradições
locais. Além disso, um turismo bem planejado pode contribuir para a conservação
ambiental, se aliado a práticas sustentáveis que minimizem os impactos negativos sobre os
ecossistemas (Cottam et. al., 2019).

O desenvolvimento do turismo deve ser feito de forma integrada, considerando não apenas
os interesses dos empresários do sector, mas também os desejos e necessidades da
população residente. Esse enfoque colaborativo é fundamental para garantir que o turismo
traga benefícios duradouros e positivos para a comunidade anfitriã.

Outro aspecto importante a ser considerado no desenvolvimento do turismo é a necessidade


de diversificação. Em vez de depender de um único tipo de turismo, como o turismo de
massa, é benéfico explorar diferentes nichos, como o ecoturismo, o turismo cultural e o
turismo de aventura. Isso não apenas ajuda a atrair diferentes perfis de viajantes, mas
também distribui melhor os impactos económicos e sociais do turismo.

Para o mesmo autor Cottam el al (2019), No contexto actual, o desenvolvimento do turismo


também deve levar em conta a transformação digital e as novas demandas dos viajantes. O
uso da tecnologia, como plataformas de reserva online e redes sociais, mudou a maneira
como as pessoas escolhem seus destinos e experiências. Por isso, os gestores turísticos
precisam estar atentos às novas tendências e inovações que podem melhorar a oferta
turística e, ao mesmo tempo, proporcionar uma experiência única e memorável aos
visitantes.

A sustentabilidade desempenha um papel crucial no desenvolvimento do turismo. O


impacto das actividades turísticas no meio ambiente e nas comunidades locais necessitam
de uma abordagem responsável. Práticas como o turismo responsável e o uso de recursos
sustentáveis devem ser prioridade para assegurar que, ao promover o desenvolvimento do
turismo, não comprometamos a capacidade das futuras gerações de desfrutar das mesmas
experiências.

Beni (1998), O turismo possui uma gama de impactos, tanto positivos quanto negativos,
sobre o património cultural. De forma positiva, contribui para a conservação do património
ao estimular o interesse pelas culturas locais e histórias específicas, gerando, assim,
recursos financeiros que podem ser direccionados para a restauração e conservação dessas
heranças.

Em contrapartida, o turismo também pode acarretar consequências adversas, incluindo a


deterioração da arquitectura histórica, o desgaste de monumentos, e a perda da identidade
cultural dos locais visitados. Além disso, há o risco da gentrificação, onde o aumento do
turismo pode levar à expulsão de moradores locais e à transformação de áreas tradicionais
em zonas exclusivamente turísticas.

Para minimizar os aspectos negativos do turismo sobre o património cultural, é possível


adoptar várias estratégias. Um ponto crucial é o planeamento turístico, que deve incorporar
a preservação do património cultural, buscando um equilíbrio entre o desenvolvimento do
sector e a conservação dos bens culturais.
Para Beni (2000), A educação dos turistas é outra medida essencial; é importante
conscientizá-los sobre a relevância do património cultural e incentivá-los a respeitá-lo e
protegê-lo. Isso pode ser alcançado através de campanhas educativas, visitas guiadas
informativas e materiais que esclareçam a importância da preservação.

Estabelecer normas e regulamentações para o turismo é igualmente fundamental. Isso inclui


a definição de limites de visitação, regras de conduta e restrições de uso em áreas com
sensibilidade patrimonial. Além disso, é vital promover a inclusão da comunidade local na
gestão do património cultural, favorecendo o diálogo e a colaboração entre moradores,
autoridades e turistas.

Na visão de Sousa (2002), O desenvolvimento do turismo de património pode ter impactos


tanto positivos quanto negativos, e é fundamental que esses factores sejam considerados no
planeamento e na gestão das actividades turísticas. A seguir, são abordados alguns dos
principais impactos de cada tipo:

1.1.1. Impactos Positivos


 Valorização Cultural: O turismo de património ajuda a preservar e valorizar a
cultura, as tradições e a história das comunidades. Os investimentos em infra-
estrutura e serviços turísticos podem levar à restauração de monumentos históricos,
centros culturais e sítios arqueológicos.
 Geração de Empregos: O aumento do fluxo turístico pode resultar na criação de
empregos directos e indirectos, desde guias turísticos, até oportunidades em
comércio e serviços locais, contribuindo para o desenvolvimento económico da
região.
 Desenvolvimento Económico: O turismo de património pode ser uma fonte
significativa de receita para os destinos, trazendo benefícios económicos para a
comunidade local por meio de impostos e taxas geradas pelas actividades turísticas.
 Conscientização e Educação: Visitas a locais patrimoniais incentivam a educação e
a conscientização sobre a importância da preservação do património cultural e
histórico, tanto para visitantes quanto para residentes.
 Melhoria de Infra-estrutura: O investimento na promoção do turismo de património
geralmente leva à melhoria das infra-estruturas locais, como estradas, transporte
público, serviços de saúde e saneamento, beneficiando a população local.
1.1.2. Impactos Negativos
 Desgaste de Recursos: O aumento do fluxo de turistas pode causar desgaste físico
em sítios históricos e culturais, levando ao deterioramento prematuro de edifícios,
monumentos e outros patrimónios.
 Superlotação: A superlotação em locais turísticos pode levar à diminuição da
qualidade da experiência do turista, stressando os recursos locais e prejudicando a
rotina dos moradores. Isso pode gerar desconforto e conflito entre visitantes e
residentes.
 Alteração da Cultura Local: A influência do turismo pode levar à comercialização e
à transformação das tradições culturais locais, resultando na perda da autenticidade
e da identidade cultural. Eventos e produtos que atendem às expectativas dos
turistas podem desviar-se do que é genuíno na cultura local.
 Impactos Ambientais: O turismo de património pode contribuir para a degradação
ambiental, como poluição, desmatamento e a sobrecarga de recursos naturais,
especialmente em áreas sensíveis. A construção de infra-estrutura turística pode
impactar negativamente os ecossistemas locais.
 Desigualdade Social: Embora o turismo possa criar empregos, nem todos os
membros da comunidade se beneficiam igualmente. O turismo pode acentuar
desigualdades económicas e sociais, onde certas populações se tornam dependentes
do turismo, enquanto outras permanecem em desvantagem.

Segundo Lage et. al (2000), O desenvolvimento do turismo de património pode ser um


importante motor para o crescimento económico e a preservação cultural, mas deve ser
realizado de forma sustentável e planejada. Um gerenciamento eficaz deve buscar
maximizar os impactos positivos e mitigar os negativos, envolvendo a comunidade local no
processo de tomada de decisão e promovendo práticas que assegurem a preservação do
património para gerações futuras. Isso inclui a implementação de estratégias de turismo
sustentável, que considerem tanto os interesses dos visitantes quanto das comunidades
anfitriãs.
1.2. Planeamento integrado em Turismo de património

O planeamento integrado é uma actividade mais recente. Adoptado pelo sector público,
objectivou a organização e gestão dos recursos disponíveis para a melhoria colectiva.
Embora defina objectivos sociais e económicos e deva ser abrangente, na prática e nos
resultados, mostra falta de integração.

Beni (2000), nos seus estudos, refere-se a um tipo de planeamento para o turismo, o
planeamento integrado, dizendo que “é o planeamento em que todos os seus componentes
devem estar sincronizados e sequencialmente ajustados a fim de produzir o alcance das
metas e directrizes da área de actuação de cada um dos componentes a um só tempo, para
que o sistema global possa ser implantado imediatamente e passar a ofertar oportunidades
de pronto acompanhamento, avaliação e revisão.”

O progresso humano passou a exigir instrumentos para sua viabilização, levando o homem
a exercitar sua inteligência para criar e estabelecer inter-relações que se tornam cada vez
mais complexas. Essa complexidade exige ordenamento, desenvolvimento e resultados.
Para alcançar tal objectivo, cria-se então o planeamento, que tem a racionalidade como seu
elemento regulador.

Segundo Muñoz Amato, o planeamento é a formulação sistemática de um conjunto de


decisões, devidamente integrado, que expressa os propósitos de uma empresa e condiciona
os meios de alcançá-los. O planeamento é, portanto, um processo dinâmico que deve
desenvolver-se em bases científicas para que o seu acompanhamento seja correto e
possibilite os ajustamentos necessários ao longo do seu desenvolvimento.

Uma marca das sociedades modernas é a ampliação do tempo livre, que provoca o
desenvolvimento das actividades de lazer, consequentemente do turismo. Isso cria a
necessidade de essa actividade ser inserida numa acção de planeamento.

Planeamento é, sem dúvida, o meio correto para consecução do desenvolvimento turístico.


Com as transformações ocorridas a partir do pós-guerra, as noções de desenvolvimento no
âmbito de quaisquer actividades vêm redefinindo os parâmetros do planeamento, visando a
um desenvolvimento sustentável.
O caminho para o turismo sustentável e integrado é o processo de planeamento, que
permite analisar a realidade e estabelecer os meios que transformem essa realidade,
atendendo aos seus interesses, às suas necessidades bem como às suas estruturas
organizacionais.

Nessa mesma linha, Boo (1995), considerando a expansão do turismo e preocupada com os
impactos que ele possa causar, principalmente nas áreas naturais, refere-se à necessidade de
planeamento e gestão para que os destinos turísticos tenham realmente organização,
desenvolvimento e sustentabilidade.

O planeamento integrado do turismo começa a ser reconhecido em nível institucional. A


postura actual dos governos é definir acções democráticas, parcerias com todos os atores
sociais do turismo, em que cada um desenvolve suas competências, com vistas a um
objectivo comum: o desenvolvimento sustentável do turismo.

No Brasil, a aplicação de “modelos” de planeamento pelo Estado, devido a sua estrutura


administrativa complexa, não conduziu o planeamento do turismo através de directrizes ou
políticas básicas no sentido da acção interinstitucional, da integração e da parceria
(EMBRATUR., 1996).

Esses pressupostos, a partir da década de 1990, embora presentes nos documentos


publicados em relação ao desenvolvimento do turismo, na prática operacional e nos
resultados, não são tão visíveis, pois a representatividade do turismo brasileiro no mercado
mundial é modesta.

Nesse sentido, pretende-se comentar e analisar a estrutura, as relações, as acções


estratégicas que têm sido propostas pelo sector público e pelo sector privado em relação à
sustentabilidade do turismo, pois uma estratégia de desenvolvimento turístico perpassa pelo
próprio desenvolvimento proposto para os destinos, considerando aí as dimensões do
social, do ambiental, do cultural, do económico, do político e da identidade local, que
envolvam o turismo e tenham consenso nas propostas do planeamento turístico.

O turismo possui um mercado dinâmico exigindo um planeamento integrado que reflicta as


necessidades da comunidade receptora, seu envolvimento e participação nas decisões da
actividade turística. Conforme assinala Swarbrooke (2000), o desenvolvimento do turismo
nos países emergentes ocorre com os seguintes direccionamentos:
 A maioria dos governos focaliza complexos turísticos em desenvolvimento como
“oásis” de desenvolvimento em “desertos” de subdesenvolvimento;
 O estímulo às grandes operadoras turísticas estrangeiras e grandes empreendimentos
para desenvolverem o turismo às custas de pequenas empresas locais;
 A centralização efectiva da política de turismo nas mãos do governo;
 O planeamento do turismo, aprovando projectos inadequados por conta de
influências e “lobbies”.
Conclusão
Referências bibliográficas

Acerenza, M. A. (1992). Administración del turismo: planificación y dirección (2. ed.).


Trillas.

Amaral, C. A. (1998). Ecoturismo e envolvimento comunitário. In F. P. Vasconcelos


(Org.), Turismo e Meio Ambiente (pp. xx-xx). UECE.

Beni, M. C. (1998). Política e estratégia do desenvolvimento regional – planeamento


integrado e sustentável do turismo.

Beni, M. C. (2000). Análise estrutural do turismo. Senac.

EMBRATUR. (1996). Política Nacional de Turismo. Brasília.

Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (Orgs.). (2000). Turismo, teoria e técnica. Atlas.

Molina, S. (1999). Turismo sin limites. México.

Organização Mundial do Turismo (OMT). (1993). Desenvolvimento de turismo sustentável:


manual para organizadores locais. Embratur.

Ruschmann, D. (1997). Turismo e planeamento sustentável: a protecção do meio ambiente.


Papirus.

Sousa, C. A. A. (2002). Planeamento integrado e sustentabilidade do turismo. Marco Social


- Educação para o Turismo, 20-25.

Swarbrook, J. (2000). Sector público e cenários geográficos. Aleph.

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