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ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E PATOLÓGICOS

DA CLAMIDIOSE: REVISÃO DE LITERATURA

Magale Dallaporta Furquim1, Andressa Trindade Nogueira1, Francielly Silva Gomes1,


Larissa Scheifler1, Eduardo Kich Luersen1, Valeska Martins2

Palavras-chave: Aves. Saúde pública. Zoonose.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A clamidiose aviária, também conhecida como psitacose, é uma das afecções de caráter
zoonótico mais importante das aves (PICCOLI et al., 2021). Causada por uma bactéria
intracelular obrigatória (Chlamydia pscittaci), acomete muitas espécies de aves silvestres,
domésticas e exóticas, principalmente os psitacídeos (periquitos, papagaios e araras), como
também, mamíferos domésticos e seres humanos (REVOLLEDO; FERREIRA, 2009). A
transmissão ocorre por meio das secreções e dejetos de aves que apresentam ou não sinais
clínicos da doença; os locais mais comuns de contato com estes resíduos são os abatedouros de
aves, aviários, granjas e indústrias (PACHALY, 2006). Os surtos estão associados a locais onde
existam animais confinados, como zoológicos e em situações envolvendo transporte de
animais, como o tráfico em severas condições de insalubridade (OLIVEIRA et al., 2008).
Nesta doença as aves podem desenvolver uma forma aguda, subaguda, crônica e
inaparente (subclínica). Na forma subclínica, as aves são portadoras e fazem eliminação
intermitente do agente etiológico por meio das secreções (ANDERSEN; VANROMPAY, 2008;
PROENÇA et al., 2011). Os sinais clínicos são inespecíficos e incluem anorexia, depressão,
penas eriçadas, conjuntivite, sinusite, rinite, dispneia, diarreia, poliúria, tremores e convulsões
(ANDERSEN; VANROMPAY, 2008). Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é relatar os
aspectos epidemiológicos e patológicos da clamidiose aviária, visto sua importância zoonótica
para a saúde pública.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho foi realizado por meio de uma revisão de literatura com caráter de
pesquisa exploratória e qualitativa, através da busca por artigos científicos em periódicos

1 Discente do curso de Medicina Veterinária, da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil.
2Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Saúde Animal, Docente da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil.
E-mail: valsilva@unicruz.edu.br.

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específicos da área de medicina veterinária nas bases de dados Scielo, Biblioteca Virtual em
Saúde, Pubmed, Google acadêmico, entre outros. Foram utilizadas as palavras-chave
"zoonose", "clamidiose", "psitacose", "saúde pública", "psitacídeos" e "doença zoonótica".

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A proximidade das aves com os humanos, bem como a manutenção de animais em
cativeiro possibilita um maior contato com os agentes infecciosos causadores de doenças. Dada
a importância da clamidiose a saúde pública e, por ser uma doença de caráter cosmopolita, é
listada como uma importante zoonose (VASCONCELOS et al., 2013; PICCOLI et al., 2021).
O tráfico de aves é uma prática com potencial disseminador de doenças como a
clamidiose, visto que, os animais são submetidos a condições de extrema severidade, privados
de alimento, água e espaço tornando-os susceptíveis à infecções bacterianas (CASAGRANDE
et al., 2014). Além disso, muitas aves são mortas nessas condutas, onde doenças facilmente são
disseminadas para outras aves acomodadas no mesmo ambiente, por meio de secreções ou
tecido em decomposição (LACERDA et al., 2014).
Casagrande et al. (2014) relatam que a caturrita foi a espécie mais frequentemente
acometida pela doença, o que move certa preocupação a nível de saúde pública, visto que é uma
das espécies que possui mais contato com os seres humanos. No mesmo estudo, a maioria dos
animais acometidos vieram do tráfico ilegal de animais (i.e., apreensão ou centro de triagem),
fato que corrobora a citação anterior de que estas situações de estresse, deficiência nutricional
e imunossupressão são fatores predisponentes para que aves portadoras desenvolvam
clamidiose e disseminem a doença (CASAGRANDE et al., 2014).
A clamidiose ainda é pouco conhecida entre os profissionais da saúde, no entanto, esta
doença está cada vez mais presente na rotina de laboratórios humanos e veterinários, fazendo-
se necessário o investimento na capacitação dos profissionais, visto sua importância
epidemiológica (ABELHA; BIEGELMEYER, 2021). No Brasil, os dados epidemiológicos
sobre clamidiose são escassos, principalmente devido à dificuldade de diagnóstico ou acesso a
esse (PICCOLI et al., 2021). O diagnóstico definitivo é dado pelo isolamento e identificação
de C. Psittaci. Porém, devido a necessidade de laboratórios com alto nível de biossegurança
para o correto armazenamento das amostras e cultivo em ovos embrionados torna-se inviável a
realização do mesmo (SACHSE et al., 2009; PROENÇA et al., 2011). Outras técnicas de
diagnóstico são o PCR, a imunofluorêscencia direta e os exames sorológicos, sendo as mais

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adotadas devido à dificuldade na cultura e isolamento da bactéria (RASO et al., 2006;
VERMINNEN et al., 2006). Os achados patológicos são importantes subsídios para o
diagnóstico, na macroscopia as lesões mais significativas encontram-se no fígado em que se
observa hepatomegalia (RASO et al., 2004; ECCO et al., 2009). Segundo Gerlach (1994),
podem ser observadas também peritonite fibrinosa, aerossaculite, pericardite, perihepatite,
pneumonia, enterite e nefrite, todas estas lesões são mais observadas na fase aguda da doença.
No exame histopatológico podem ser observadas estruturas específicas das clamídias, os corpos
elementares, os quais nem sempre são visualizados (ECCO et al., 2009). A principal lesão
histológica da clamidiose é a hepatite histiocitária e linfoplasmocitária, podendo ser associada
à necrose multifocal, hiperplasia de ductos biliares e hemossiderose (CASAGRANDE; 2014).
Em casos crônicos da doença observa-se granulomas no fígado e pulmões (ECCO et al. 2009)
A clamidiose aviária é uma doença que deve ser obrigatoriamente notificada aos órgãos
de saúde pública (REVOLLEDO; FERREIRA, 2009), sendo, o uso de equipamentos de
proteção individuais - EPI, necessário para evitar a inalação de partículas infecciosas. As
necropsias devem ser realizadas com cautela, em alguns casos faz-se necessário o uso de
cabines de segurança biológica. Dessa forma, se recomenda medidas de controle, haja vista que
a clamidiose é uma das principais zoonoses de origem aviária e uma importante doença
ocupacional com riscos para a população envolvida no comércio, abate e criação de aves
(PACHALY; 2006; ZAPPA et al., 2013). O desenvolvimento de programas de sanidade animal
voltados ao monitoramento da clamidiose em aves auxiliam na detecção, prevenção e controle
desta zoonose (ABELHA; BIEGELMEYER, 2021).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A clamidiose trata-se de uma importante zoonose transmitida por diversas aves, o que
torna preocupante o fato da proximidade com os seres humanos. Assim destaca-se a
importância do diagnóstico por meio de achados epidemiológicos e patológicos, bem como
exames laboratoriais complementares, a fim de notificar os órgãos públicos sobre a ocorrência
desta doença.

REFERÊNCIAS

ANDERSEN, A.A.; VANROMPAY, D. Avian chlamydiosis (psittacosis, ornithosis).


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3
ABELHA, M.V.L.; BIEGELMEYER, P. Potencial zoonótico da psitacose (Clamidiose
aviária) em humanos. 2021

CASAGRANDE, R. A.; et al. Diagnóstico imuno-histoquímico e caracterização


anatomopatológica de clamidiose em psitacídeos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 34, p.
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ECCO, R.; et al. An outbreak of chlamydiosis in captive psittacines. Braz. J. Vet. Pathol, v.
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LACERDA, P.D.; et al. Diagnóstico da fauna silvestre recebida e resgatada pelo Instituto
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PROENÇA, L. M.; FAGLIARI, J. J.; RASO, T.F. Infecção por C. psittaci: uma revisão com
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RASO, T.F.; et al. An outbreak of chlamydiosis in captive blue-fronted Amazon parrots


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de Medicina Veterinária. 2013.

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