IPCC Se Nada For Feito, Colapso Climático É Imin

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 3

JORNAL DA USP

PORTAL DA USP FALE CONOSCO WHATSAPP

ENVIE UMA PAUTA PODCASTS RÁDIO USP TV USP

MENU 
BUSCA

Início > Atualidades > IPCC: se nada for feito, colapso climático é iminente

IPCC: se nada for


feito, colapso
climático é
iminente
Novo relatório de painel
internacional de cientistas
diz que influência humana
no clima é “inequívoca” e
que aumento de
temperatura pode superar
1,5 ºC já em 2040. Muitos
efeitos são irreversíveis,
mas ainda há tempo de
evitar o pior

09/08/2021
Por Herton Escobar
Arte: Lívia Magalhães/Jornal da USP

A
s mudanças climáticas são reais,
causadas pelo homem, estão se
intensiCcando numa velocidade
espantosa, sem precedentes nos últimos
2 mil anos (pelo menos) e com consequências
potencialmente gravíssimas para os seres
humanos e o planeta, incluindo a intensiCcação
de tempestades, secas e ondas de calor
extremo. Muitas dessas consequências — como
o derretimento de geleiras e o aumento do nível
do mar — são irreversíveis, até mesmo numa
escala de milhares de anos; mas ainda há tempo
de evitar uma calamidade climática global,
desde que a espécie humana reduza
imediatamente, e de forma bastante
signiCcativa, suas emissões de gases de efeito
estufa para a atmosfera. Sem isso, é
“extremamente provável” (95% a 100% de
probabilidade) que o aquecimento global
ultrapasse a perigosa marca de 2 graus Celsius
até o Cnal deste século, com grandes chances
de chegar a 1,5°C já nos próximos 20 anos, caso
as emissões de carbono permanecerem no nível
atual. Num cenário mais pessimista de aumento
de emissões, o aquecimento poderia ultrapassar
4°C antes de 2100.

Essas são algumas das mensagens trazidas


pelo Sexto Relatório de Análise (AR6, em inglês) do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças do
Clima (IPCC), cuja primeira parte foi divulgada
nesta segunda-feira, em Genebra. É um
documento de milhares de páginas, com 234
autores principais (mais 517 colaboradores),
oriundos de 66 países (sete deles do Brasil), que
destrincha textualmente e graCcamente todo o
conhecimento cientíCco disponível no mundo
sobre as mudanças climáticas globais — uma
verdadeira enciclopédia cientíCca, com peso
mais do que suCciente para esmagar qualquer
resquício de negacionismo que ainda circule por
aí.

“É inequívoco que a inguência humana aqueceu


a atmosfera, o oceano e a terra. Ocorreram
mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera,
no oceano, na criosfera e na biosfera”, diz a
primeira mensagem do Sumário para Tomadores
de Decisão (Summary for Policy Makers), um
resumo executivo dos resultados, que
acompanha o relatório. “A mudança climática
induzida pelo homem já está afetando muitos
extremos climáticos e meteorológicos em todas
as regiões do globo”, conclui outro trecho do
documento.

Os relatórios completos do IPCC são divididos


em três partes, produzidas por diferentes Grupos
de Trabalho (GTs), com diferentes enfoques. O
que foi divulgado agora é o relatório do GT1,
que analisa as evidências cientíKcas da
mudança do clima. Os relatórios do GT2, que
analisa os impactos da crise climática, e do
GT3, que analisa possíveis medidas de
combate e adaptação a esse fenômeno, estão
previstos para o início de 2022.

Trocando em miúdos, o que está sendo dito é


que a culpa pelo aquecimento global é do ser
humano, sim, e que não há nenhuma dúvida
pendente com relação a isso. Tecnicamente
falando, isso não é uma novidade — há muitos
anos já existe um consenso cientíCco muito bem
estabelecido de que atividades humanas estão
superaquecendo o planeta, e que essa elevação
de temperatura é responsável pelas mudanças
climáticas, cada vez mais intensas, que temos
vivenciado nas últimas décadas. Ainda assim, o
uso do termo “inequívoco” agrega uma camada
adicional de certeza e contundência ao fato.
Comparativamente, o relatório anterior (AR5),
divulgado em 2013, dizia ser “extremamente
provável que a inguência humana seja a causa
dominante do aquecimento observado desde
meados do século 20”.

Não se trata de uma opinião, mas de uma


constatação cientíCca. Mais de 14 mil estudos
foram analisados na elaboração do novo
relatório, e as evidências não deixam dúvidas
nem sobre o papel do homem nem sobre a
gravidade do problema. O que muda nesse novo
documento, em relação ao anterior é,
principalmente, o grau de reCnamento das
análises sobre o que está acontecendo e das
projeções sobre o que pode vir a acontecer no
futuro, com base nos novos conhecimentos
acumulados ao longo desses últimos oito anos.
Essa primeira parte do relatório não propõe
soluções nem avalia a efetividade de políticas
públicas; apenas apresenta as evidências
cientíCcas necessárias para embasar a tomada
de decisões sobre o enfrentamento da crise
climática.

A coletiva de imprensa do IPCC para a divulgação do


relatório foi acompanhada ao vivo por mais de
sete mil pessoas. A diretora executiva do
Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e secretária-geral adjunta das Nações
Unidas, Inger Andersen, abriu sua fala
ressaltando que as mudanças climáticas são um
problema do presente, não do futuro, e que
“ninguém está seguro”. “Precisamos encarar as
mudanças climáticas como uma ameaça
imediata”, destacou ela. “É hora de sermos
sérios, porque cada tonelada de CO2 emitida
agrava o aquecimento global.”

“É hora de agir, imediatamente”, reforçou o físico


brasileiro Paulo Artaxo, da Universidade de São
Paulo (USP), em um seminário online realizado pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp) sobre o relatório. Sem uma
reação imediata de todos os países, no sentido
de reduzir signiCcativamente suas emissões de
gases de efeito estufa, segundo ele, a meta de
limitar o aquecimento global a 1,5°C pode se
tornar “impossível”. As emissões globais de
dióxido de carbono, por exemplo, teriam de ser
reduzidas cerca de 7% ao ano até 2050. “A
receita está dada”, pontuou Artaxo. “O IPCC já
colocou claramente o que precisa ser feito.”
(Assista ao seminário da Fapesp no Knal desta
reportagem.)

Limite à vista
Uma mudança que chama a atenção no novo
relatório é o recálculo da quantidade de carbono
já emitida pelo homem e o encurtamento da
janela de tempo dentro da qual os
pesquisadores estimam que o aquecimento
global ultrapassará a marca de 1,5°C acima da
temperatura “normal” da era pré-industrial.

Segundo os cientistas, os seres humanos


lançaram à atmosfera 2.390 bilhões de
toneladas de dióxido de carbono (CO2) entre
1850 e 2019, sendo que a maior parte dessas
emissões (entre 80% e 90%) foi gerada pela
queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e
carvão mineral). Para limitar o aquecimento
global a 1,5 °C, esse total não poderia
ultrapassar a marca de 2.900 bilhões de
toneladas; o que nos deixa um “saldo
remanescente” de 400 a 500 bilhões de
toneladas de CO2 para serem emitidas nas
próximas décadas. No ritmo atual de 40 bilhões
de toneladas emitidas por ano, esse limite seria
ultrapassado já por volta de 2040, segundo o
relatório. A estimativa anterior, publicada em um
relatório especial sobre o tema de 2018, era de
que essa marca seria superada entre 2030 e
2050.

Ou seja, temos menos tempo ainda do que


imaginávamos para reduzir emissões e frear o
avanço do aquecimento global. Um aumento de
1,5°C não deixa de ter impactos signiCcativos
sobre o clima — tanto é que as mudanças
climáticas já estão em curso e causando
problemas gravíssimos em todo o planeta —,
mas especialistas consideram que este é um
limite minimamente seguro, no sentido de evitar
mudanças climáticas mais severas, e
minimamente factível, do ponto de vista das
ações políticas e econômicas que precisam ser
tomadas para o seu cumprimento. O objetivo do
Acordo de Paris, Crmado em 2015 (com base
nas conclusões do último relatório do IPCC), é
justamente manter o aquecimento global “bem
abaixo de 2°C” e, preferencialmente, até um
limite máximo de 1,5°C.

“A temperatura global da superfície continuará a


aumentar até pelo menos meados deste século
em todos os cenários de emissões
considerados. As taxas de aquecimento global
de 1,5°C e 2°C serão excedidas durante o século
21, a não ser que reduções profundas nas
emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa
ocorram nas próximas décadas”, é outra das
mensagens centrais do novo relatório, incluídas
no Sumário para Tomadores de Decisão.

“A mensagem do IPCC é cristalina: mudar agora


e preparar para o impacto. As piores previsões
dos cientistas estão se tornando realidade mais
rápido do que o esperado, os pontos de ruptura
estão se aproximando e o único nível aceitável
de emissões é zero”, declarou a especialista em
políticas climáticas do Observatório do Clima,
Stela Herschmann.

Até agora, segundo o IPCC, esse aumento foi de


1,1°C em comparação com a temperatura média
do período 1850-1900, que é usada como linha
de base para representar a temperatura “normal”
(natural) do planeta na era pré-industrial, antes
da interferência humana. A velocidade de
aquecimento observada nas últimas cinco
décadas é sem precedentes nos últimos 2 mil
anos, segundo os cientistas, e a última vez que a
Terra esteve tão quente foi cerca de 125 mil
anos atrás. Tudo isso impulsionado,
principalmente, pelo aumento da concentração
de CO2 na atmosfera, que em 2019 atingiu 410
partes por milhão (ppm) — a concentração mais
alta nos últimos 2 milhões de anos, segundo o
relatório.

“A escala das mudanças recentes no sistema


climático como um todo e o estado atual de
muitos aspectos do sistema climático não têm
precedentes num período de muitos séculos a
muitos milhares de anos”, escrevem os
cientistas. (Veja ao Knal deste texto a lista das 14
declarações-chave do relatório.)

Artaxo ressalta que essa marca de 1,5°C já foi


ultrapassada nos continentes, que aquecem
muito mais rápido do que os oceanos. Em áreas
terrestres, o aumento já está em 1,6°C,
comparado a 0,9°C nos oceanos (o que dá uma
média de 1,1°C de aquecimento global total,
comparado à era pré-industrial). Além disso, em
escala global, esse limite só não foi superado,
ainda, por causa de um outro problema gerado
pelo homem: a poluição do ar urbana, que
contém partículas (aerossóis e fuligem, por
exemplo) que regetem a energia solar de volta
ao espaço e, dessa forma, causam um efeito de
resfriamento — oposto ao causado pelos gases
de efeito estufa. Segundo o relatório, essa
poluição reduziu o aquecimento global até agora
em 0,5°C. “Estamos mascarando cerca de um
terço do aquecimento que já ocorreu”, ressalta o
pesquisador, que é um dos sete autores
brasileiros do relatório.

Vídeo indisponível
Este vídeo não está disponível

Mapa elaborado pela Nasa mostra o acúmulo de


anomalias térmicas registradas no planeta de 2016 a
2020, em comparação com a temperatura média
registrada no período 1951-1980 (usada como
referência de “temperatura normal”). As manchas
vermelhas representam áreas onde a temperatura Kcou
acima do normal, enquanto que as manchas azuis
representam temperaturas abaixo do normal. 2020 e
2016 foram os anos mais quentes já registrados no
planeta e 2017, 2018 e 2019 também estão entre os
mais quentes da série histórica – Vídeo: NASA’s
ScientiKc Visualization Studio

Eventos extremos
O excesso de CO2 (e outros gases de efeito
estufa) produzido pelo homem transforma a
atmosfera numa espécie de cobertor mais
grosso, que acaba aquecendo o planeta além do
desejado. É um cobertor transparente, que
permite a passagem da radiação solar mas
impede que o calor gerado por ela na superfície
do planeta se dissipe no espaço, tal qual os
vidros de uma estufa (daí o nome “efeito estufa”,
que é um fenômeno natural e essencial à vida,
mas que está sendo exacerbado pela ação
humana).

Um ou dois graus a mais de temperatura pode


parecer pouca coisa, mas é algo que altera
profundamente o funcionamento do sistema
climático do planeta como um todo. As
consequências práticas, segundo os cientistas,
não são nada agradáveis: aumento na
ocorrência e na intensidade de tempestades,
secas, ondas de calor e outros eventos
climáticos extremos; derretimento acelerado de
geleiras e da calota polar do Ártico; aumento do
nível e da temperatura do mar; mudanças
drásticas nos padrões de precipitação (chuvas)
ao redor do mundo; e várias outras. Tudo isso,
claro, com implicações imensas para a produção
de alimentos, a segurança hídrica, a
conservação da biodiversidade, a qualidade de
vida nas cidades, a saúde, a produção de energia
e várias outras atividades essenciais à
sobrevivência da espécie humana no planeta
Terra.

“Olhando especiCcamente para o Brasil, o que


salta aos olhos é uma redução drástica na
projeção da precipitação, particularmente no
Nordeste e no Brasil central, o que pode ter
impactos muito importantes sobre a
produtividade agrícola brasileira. Além disso, o
aumento do nível do mar terá impactos muito
importantes nas áreas costeiras do País”,
destaca Artaxo.

Uma das principais inovações deste relatório,


segundo ele, é a maneira como ele quantiCca a
ocorrência de eventos climáticos extremos e os
relaciona às mudanças climáticas induzidas
pelo homem de forma muito mais clara do que
nos relatórios anteriores. De uma forma geral, a
projeção é que quanto maior o aquecimento,
maiores a frequência e a intensidade de eventos
extremos, e maior a probabilidade de eventos
que hoje são raros se tornarem relativamente
comuns. Eventos de seca que, antes da
interferência humana no clima, só ocorriam uma
vez a cada dez anos, por exemplo, poderão
passar a ocorrer duas a três vezes no mesmo
período, num planeta 2 graus mais quente.
Eventos de calor extremo que só ocorriam uma
vez a cada 50 anos, poderão ocorrer 14 vezes no
mesmo período de tempo.

“Não está se mudando apenas o clima médio,


mas também os extremos climáticos”, disse o
pesquisador Lincoln Alves, do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), que também é
autor do relatório do IPCC e foi um dos
responsáveis pela elaboração de um atlas digital
interativo, que permite visualizar todas essas
alterações climáticas. Muitos dos eventos
extremos que têm ocorrido nos últimos anos ao
redor do mundo, segundo ele, seriam “muito
improváveis” de acontecer sem o aquecimento
global induzido pelo homem.

“É praticamente certo que extremos de


temperatura quente (incluindo ondas de calor)
se tornaram mais frequentes e mais intensos na
maioria das regiões terrestres desde 1950,
enquanto extremos de temperatura fria
(incluindo ondas de frio) tornaram-se menos
frequentes e menos severos, com alta conCança
de que a mudança climática induzida pelo
homem é o principal motivador dessas
mudanças. Alguns extremos de calor recentes
observados na última década teriam sido
extremamente improváveis de ocorrer sem a
inguência humana no sistema climático. As
ondas de calor marinhas dobraram de
frequência aproximadamente desde a década de
1980, e a inguência humana muito
provavelmente contribuiu para a maioria delas
desde pelo menos 2006”, diz o resumo executivo
do relatório.

O relatório reforça também a mensagem de que


todos esses efeitos são consideravelmente mais
graves com 2°C de aquecimento do que 1,5°C.
“Cada meio grau tem uma diferença muito
grande em termos de impactos”, pontuou
Thelma Krug, pesquisadora do Inpe e vice-
presidente do IPCC, no seminário da Fapesp.

Para entender melhor os resultados do relatório,


veja os grá?cos abaixo, que resumem algumas
das principais conclusões e previsões do
documento.

Fonte: IPCC AR6 WGI / Jornal da USP (adaptado da versão


original em inglês)

Influência humana comprovada


O aquecimento da Terra nos últimos 120 anos é
um fato inequívoco, como mostram os gráCcos
acima. O gráCco da esquerda (a) mostra como a
temperatura da superfície do planeta variou ao
longo dos últimos dois mil anos, com base em
registros paleoclimáticos extraídos de rochas,
gelo e sedimentos marinhos. Notem que a
temperatura oscila para cima e para baixo, mas
não se descola muito da média observada entre
1850 e 1900, que é a linha de base do gráCco
(representada pelo 0.0 na barra vertical do
gráCco), usada como referência de temperatura
normal do planeta, antes do início da
interferência humana no clima.

A partir de 1850, as temperaturas deixam de ser


“reconstruídas” por meio de registros
paleoclimáticos e passam a ser medidas
diretamente, por meio de termômetros. A partir
daí, o que acontece nesses últimos 170 anos é
assustador: a linha do gráCco sobe
violentamente a partir do início do século 20, até
ultrapassar a marca de 1ºC de aquecimento, no
início do século 21. Agora, segundo o relatório,
está em torno de 1,1ºC; e continua subindo.

O gráCco à direita (b) mostra uma simulação de


como a temperatura superCcial do planeta teria
se comportado ao longo desses últimos 170
anos com base apenas em fatores naturais
(faixa verde), como atividades vulcânicas e
incidência de radiação solar — ou seja, como
seria a temperatura natural da Terra atualmente,
sem a interferência humana. Já a faixa marrom
mostra uma simulação de como a temperatura
teria se comportado com a somatória de fatores
naturais e humanos. Notem como as duas faixas
se descolam uma da outra a partir do início do
século 20 (ano 1900), e como a faixa da
simulação marrom se encaixa perfeitamente
com a linha preta, que representa as
temperaturas reais, registradas a cada ano
desse período — o que indica que a simulação
está correta e corresponde à realidade, tanto
daquilo que aconteceu quanto daquilo que
poderia ter acontecido.

Esse é o primeiro gráCco que aparece no


Sumário para Tomadores de Decisão do relatório,
e por um bom motivo: ele solidiCca uma
conclusão que a comunidade cientíCca
internacional já defende há muito tempo, de que
o aquecimento global que estamos
presenciando é um fenômeno antrópico — ou
seja, causado pelo homem — e não um
fenômeno natural. A culpa é da espécie humana,
sim, e dos gases de efeito estufa que ela vem
lançando na atmosfera (principalmente dióxido
de carbono, metano, óxido nitroso e gases
guorados), em quantidades cada vez maiores,
desde o início da era industrial.

Como se pode ver no gráCco, não há


precedentes para um aquecimento tão abrupto e
tão elevado nos últimos dois mil anos (talvez
nem mesmo nos últimos 125 mil anos, se
compararmos com reconstruções climáticas
ainda mais antigas). Não por acaso, esse
superaquecimento coincide com a intensiCcação
de atividades industriais e o aumento das
emissões de gases de efeito estufa para a
atmosfera ao redor do mundo, principalmente
em função da queima de combustíveis fósseis
para a geração de energia; pois é justamente o
acúmulo desses gases na atmosfera que faz a
Terra esquentar.

Fonte: IPCC AR6 WGI / Jornal da USP (adaptado da versão


original em inglês)

Cenários futuros
Por mais soCsticadas que sejam as simulações
feitas pelos cientistas, não há como prever
exatamente o que vai acontecer no futuro —
porque esse futuro, obviamente, é inguenciado
por uma enormidade de variáveis, não apenas
climáticas, mas também econômicas, políticas e
sociais. Por isso, em vez de fazer uma única
previsão, o cientistas sempre trabalham com
diversos cenários, buscando projetar o que pode
acontecer no futuro em diferentes
circunstâncias.

Para este relatório, o IPCC elaborou cinco novos


cenários de emissões de gases de efeito estufa
para o período 2015-2100, incluindo: dois
cenários mais otimistas, em que as emissões
decaem rapidamente nas próximas décadas; um
cenário intermediário, em que as emissões
permanecem estáveis até 2050 e diminuem
gradativamente a partir daí; e dois cenários mais
pessimistas, em que as emissões continuam a
crescer até o Cm do século. (Esses cenários são
identiCcados pela sigla SSP, que signiCca
Trajetória Socioeconômica Compartilhada, em
inglês.)

No cenário mais otimista de todos (linha azul


clara do gráCco), as emissões antrópicas de
dióxido de carbono decairiam rapidamente nas
próximas décadas, chegando a “emissões
líquidas zero” por volta de 2050, e tornando-se
negativas a partir daí — o que exigiria não só a
redução de emissões, mas também a
implementação de medidas capazes de remover
o excesso de carbono já acumulado na
atmosfera, como o plantio de árvores em larga
escala por todo o planeta; ou seja, o homem
passaria a tirar mais carbono do atmosfera do
que acrescenta. No segundo cenário otimista
(azul escuro), isso também aconteceria, mas só
a partir de 2080.

No cenário intermediário (amarelo), as emissões


ainda cresceriam um pouco nos próximos anos
e começariam a diminuir só a partir de 2050,
mas não o suCciente para chegar a zero antes de
2100. Nos dois cenários mais pessimistas
(vermelho e violeta) as emissões continuariam
subindo nas próximas décadas, porém em
intensidades diferentes.

O gráCco acima mostra como a quantidade de


CO2 emitido por ano evoluiria nesses diferentes
cenários. Os números à direita indicam o
aumento de temperatura projetado para cada
cenário no curto prazo (período 2021-2040),
médio prazo (2041-2060) e longo prazo (2081-
2100). Em todos eles, na melhor estimativa dos
cientistas, o aquecimento atinge ou ultrapassa a
marca de 1,5ºC já nos próximos 20 anos — o que
não signiCca que isso seja um futuro inexorável,
pois a probabilidade de acerto das previsões não
é de 100%, mas é um indicativo fortíssimo de
que esse limite será rapidamente ultrapassado já
nas próximas décadas, a não ser que haja uma
ação imediata e contundente da espécie no
sentido de mudar essa trajetória.

No cenário intermediário, o mundo ultrapassaria


2ºC de aquecimento por volta de 2050 e, mesmo
reduzindo suas emissões a partir daí, chegaria
ao Cnal deste século com 3,6ºC de aquecimento,
o que implicaria mudanças climáticas extremas
e potencialmente catastróCcas para a espécie
humana e todos os ecossistemas da Terra. (A
temperatura continua aumentando mesmo após
a redução das emissões por causa do acúmulo
histórico de gases-estufa na atmosfera, que tem
efeitos de longa duração.)

O cenário que melhor representa a trajetória


atual do mundo, segundo Artaxo, é o SSP3-7.0
(linha vermelha do gráCco), no qual o
aquecimento global ultrapassaria 2ºC por volta
de 2050 e chegaria a 3,6ºC no Cm do século —
com potencial para chegar a 4,6ºC.

Mar em fúria
Uma das consequências mais impactantes e
mais irreversíveis do aquecimento global é a
elevação do nível do mar, causada por uma
combinação de aumento da temperatura da
água (que aumenta o volume dos oceanos, por
um processo físico de expansão térmica) e do
derretimento em massa de geleiras, tanto em
terra quanto nos oceanos.

Segundo o relatório, o nível global do mar


aumentou 20 centímetros entre 1901 e 2018, e é
“muito provável” (90% a 100% de probabilidade)
que esse aumento é resultado do aquecimento
global causado pelo homem, principalmente nos
últimos 50 anos. A velocidade com que essa
elevação está ocorrendo é sem precedentes nos
últimos 3 mil anos, segundo os pesquisadores; e
mesmo que os seres humanos zerassem
imediatamente suas emissões de gases-estufa,
essa elevação continuará em curso por pelo
menos mais alguns séculos ou milênios, por
causa do tempo que o calor leva para ser
absorvido e se dissipar no oceano. Os cientistas
estimam que o nível do mar subirá de 2 metros a
3 metros nos próximos 2 mil anos, se o
aquecimento global for limitado a 1,5ºC; ou até 6
metros, num cenário de 2ºC.

“É praticamente certo que o nível médio global


do mar continuará a se elevar ao longo do
século 21”, diz o relatório. O gráCco acima
mostra o grau de elevação projetado (em
metros) para cada um dos cinco cenários
analisados pelo IPCC, até 2100. No cenário
intermediário, esse aumento Ccaria entre 44 e 76
centímetros. É uma mudança expressiva, que,
combinada com o aumento do número e da
intensidade de chuvas e tempestades, pode ter
efeitos devastadores sobre as zonas costeiras
continentais (onde vive a maior parte da
população brasileira, por exemplo).

Num cenário mais pessimista (linha pontilhada


no gráCco), o nível do mar poderia subir até 2
metros em 2100, e 5 metros até 2150,
dependendo de como os mantos de gelo das
regiões polares responderem ao aumento da
temperatura. É um cenário pouco provável, mas
não impossível, e que não pode ser ignorado,
segundo os cientistas.

A previsão é que as geleiras continentais e os


mantos de gelo polar continuarão a derreter por
centenas de anos, assim como o solo congelado
(permafrost) da Sibéria, que contém uma
quantidade imensa de carbono armazenada
dentro dele. Outros efeitos irreversíveis nos
próximos séculos incluem o aquecimento, a
acidiCcação e a desoxigenação das águas
oceânicas, com impactos gravíssimos para a
biodiversidade marinha global.

Ainda que não seja possível frear


completamente esses processos que já estão
em curso, os cientistas ressaltam que a
diminuição das emissões de gases de efeito
estufa (e, consequentemente, do aquecimento
global) pode reduzir bastante a magnitude e
duração dos seus efeitos a médio e a longo
prazo. “Existe solução”, pontua Artaxo.

Panorama global
O aquecimento global não se manifesta de
forma homogênea em todo o planeta. Segundo o
relatório do IPCC, a temperatura de superfície
global da Terra aumentou cerca de 1,1ºC desde
o início da era industrial, mas esse aquecimento
foi maior sobre áreas terrestres (1,6ºC) do que
sobre os oceanos (0,9ºC) e algumas regiões
estão aquecendo muito mais rápido do que
outras. A região do Ártico é a mais preocupante,
pois está aquecendo duas vezes mais rápido do
que o resto do planeta, e a cobertura de gelo
marinho durante o verão vem diminuindo
signiCcativamente nas últimas décadas. Até
2050, os pesquisadores estimam que já haverá
verões completamente sem gelo marinho na
região.

“O relatório é mais incisivo e claro quanto aos


cenários nas regiões polares”, diz o glaciologista
brasileiro Jefferson Simões, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.

O gráCco acima mostra as mudanças previstas


nos padrões de temperatura, precipitação e
umidade do solo em grande escala, para todo o
planeta, sob diferentes níveis de aquecimento
global. Vejam que a região central da América do
Sul — que inclui a Amazônia e todo o Centro-
Oeste brasileiro — se torna gradativamente mais
quente e seca à medida que a temperatura
global aumenta.

Consequências regionais
Esse gráCco mostra como cada região do
planeta deverá ser afetada por uma combinação
de eventos extremos, num cenário de 2ºC de
aquecimento global. Olhando para o Brasil, a
previsão é que a região Norte se torne mais
quente e seca, o que poderá alterar gravemente
o equilíbrio ecossistêmico da Amazônia como
um todo. O mesmo aconteceria na região
Nordeste, que já é naturalmente muito seca, o
que traria impactos gravíssimos para a
segurança hídrica, energética e alimentar da
região. A região Centro-Oeste, onde está
concentrada a maior parte do agronegócio
brasileiro, também Ccaria mais quente e seca,
enquanto que o Sudeste Ccaria, além de mais
quente, sujeito a mais extremos climáticos de
natureza hídrica.

Mensagens principais
Veja abaixo as 14 grandes conclusões listadas no
Sumário para Tomadores de Decisão do sexto
relatório do Grupo de Trabalho 1 do IPCC (cada
uma delas é explicada de forma detalhada no
documento):

1. É inequívoco que a inguência humana


aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra.
Ocorreram mudanças rápidas e generalizadas na
atmosfera, no oceano, na criosfera e na biosfera.

2. A escala das mudanças recentes no sistema


climático como um todo e o estado atual de
muitos aspectos do sistema climático não têm
precedentes num período de muitos séculos a
muitos milhares de anos.

3. A mudança climática induzida pelo homem já


está afetando muitos extremos climáticos e
meteorológicos em todas as regiões do globo.
Evidências de mudanças observadas em
extremos, como ondas de calor, precipitação
forte, secas e ciclones tropicais e, em particular,
sua atribuição à inguência humana,
fortaleceram-se desde o Quinto Relatório de
Análise (AR5).

4. O conhecimento melhorado dos processos


climáticos, evidências paleoclimáticas e a
resposta do sistema climático ao aumento da
forçante radiativa fornecem uma melhor
estimativa da sensibilidade climática de
equilíbrio de 3°C, com uma faixa mais estreita
em comparação com a do AR5.

5. A temperatura global da superfície continuará


a aumentar até pelo menos meados deste
século em todos os cenários de emissões
considerados. As taxas de aquecimento global
de 1,5°C e 2°C serão excedidas durante o século
21, a não ser que reduções profundas nas
emissões de CO2 e outros gases do efeito
estufa ocorram nas próximas décadas.

6. Muitas mudanças no sistema climático


tornam-se maiores numa relação direta com o
aumento do aquecimento global. Elas incluem
aumentos na frequência e na intensidade de
extremos de calor, ondas de calor marinhas e
fortes precipitações, secas agrícolas e
ecológicas em algumas regiões, proporção de
ciclones tropicais intensos, bem como reduções
no gelo do mar Ártico, cobertura de neve e
permafrost.

7. Projeta-se que a continuidade do aquecimento


global irá intensiCcar ainda mais o ciclo global
da água, incluindo sua variabilidade, precipitação
global das monções e a gravidade dos eventos
de chuva e seca.

8. Em cenários com emissões crescentes de


CO2, projeta-se que os sumidouros de carbono
oceânicos e terrestres se tornem menos
eCcazes na redução do acúmulo de CO2 na
atmosfera.

9. Muitas mudanças devido a emissões


passadas e futuras de gases de efeito estufa
são irreversíveis por séculos a milênios,
especialmente mudanças no oceano, nos
mantos de gelo e no nível global do mar.

10. Os fatores naturais e a variabilidade interna


irão modular as mudanças causadas pelo
homem, especialmente em escalas regionais e
no curto prazo, com pouco efeito no
aquecimento global centenário. É importante
considerar essas modulações no planejamento
de toda a gama de mudanças possíveis.

11. Com o aumento do aquecimento global,


projeta-se que cada região experimentará cada
vez mais mudanças simultâneas e múltiplas nos
fatores de impacto climático. Mudanças em
vários fatores de impacto climático seriam mais
difundidas a 2°C, em comparação com o
aquecimento global de 1,5°C, e ainda mais
difundidas e/ou pronunciadas para níveis de
aquecimento mais elevados.

12. Consequências de baixa probabilidade,


como colapso do manto de gelo, mudanças
abruptas na circulação oceânica, alguns eventos
extremos compostos e aquecimento
substancialmente maior do que a faixa muito
provável avaliada de aquecimento futuro, não
podem ser descartadas e fazem parte da
avaliação de risco.

13. Do ponto de vista das ciências físicas, limitar


o aquecimento global induzido pelo homem a
um nível especíCco requer a limitação das
emissões cumulativas de CO2, atingindo pelo
menos zero emissões líquidas de CO2, junto
com fortes reduções de emissões de outros
gases de efeito estufa. Reduções fortes, rápidas
e sustentadas nas emissões de CH4 (metano)
também limitariam o efeito de aquecimento
resultante do declínio da poluição por aerossol e
melhorariam a qualidade do ar.

14. Cenários que preveem baixas ou muito


baixas emissões de gases de efeito estufa
(SSP1-1.9 e SSP1-2.6) levam a efeitos
perceptíveis, num prazo de anos, nas
concentrações de gases de efeito estufa e
aerossóis e na qualidade do ar, em comparação
com cenários de alta e muito alta emissão
(SSP3-7.0 ou SSP5-8.5). Sob esses cenários
contrastantes, diferenças discerníveis nas
tendências da temperatura da superfície global
começariam a emergir da variabilidade natural
em cerca de 20 anos, e em períodos de tempo
mais longos para muitos outros fatores de
impacto climático.

Workshop: Lançamento do n…

Política de uso
A reprodução de matérias e fotografias é livre
mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No
caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos
créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os
autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses
créditos deverão mencionar a TV USP e, caso
estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser
creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.

JORNAL DA USP

Sugestões de reportagens
Tem sugestões de reportagens ou deseja divulgar sua
pesquisa, preencha nosso formulário e aguarde nosso contato

Fale conosco
Dúvidas, sugestões, elogios, reclamação, entre em contato
conosco.

Número Internacional Normalizado para Publicações


Seriadas: International Standard Serial Number
ISSN - 2525-6009

Política de uso
A reprodução de matérias e fotogra3as é livre
mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No
caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos
créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os
autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses
créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam
explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas
como USP Imagens e o nome do fotógrafo.

Expediente

PARCERIAS:

APP JORNAL DA USP


RSS FEED

© 2019 - Universidade de São Paulo

EDITORIAS
Atualidades
Ciências
Cultura
Diversidade
Educação
Institucional
Tecnologia
Universidade

EDIÇÃO REGIONAL
Ribeirão Preto

PODCASTS
Brasil Latino
Ciência USP
Construção Musical da Liberdade
De Papor Pro Ar
Diálogos na USP
Diversas
Diversidade em ciência
Em dia com o Direito
Fake News não Pod
Jornal da USP +
Jornal da USP no ar: Medicina
Manhã com Bach
Minuto Saúde Mental
Momento Cidade
Momento Odontologia
Momento Sociedade
Momento Tecnologia
Mosaicos Culturais
Novos Cientistas
Olhar Brasileiro
O mar não está pra peixe
Palavra da Semana
Pílula Farmacêutica
Saúde sem complicações
USP Especiais
Via Cast
Vira e Mexe

ARTIGOS
ESPECIAIS

ARTICULISTAS
Alecsandra Matias de Oliveira
Alexandre Macchione Saes
Bruno Paes Manso
Carlos Takeshi Hotta
Cicero Romão de Araujo
Cláudia Maria Bogus
Cláudia Souza Passador
Daniel Afonso da Silva
Daniela Osvald Ramos
Danilo Silva Guimarães
Deisy Ventura
Dennis de Oliveira
Elaine Santos
Ênio Alterman Blay
Ester Gammardella Rizzi
Eunice Aparecida de Jesus
Prudente
Eva Alterman Blay
Fábio Frezatti
Gabrielle Weber
Gaudêncio Torquato
Gerson Salvador
Gildo Magalhães
Gislene Aparecida dos Santos
Guilherme Ary Plonski
Heloisa Buarque de Almeida
Hernan Chaimovich Guralnik
Herton Abacherli Escobar
Ildo Luis Sauer
Janice Theodoro da Silva
Jean Paul Metzger
Jean Pierre Chauvin
José de Souza Martins
José Eduardo Campos Faria
José Roberto Castilho Piqueira
Lorena Barberia
Luiz Augusto Milanesi
Luiz Roberto Serrano
Marcos Buckeridge
Marcos Fava Neves
Maria Luiza Tucci Carneiro
Maria Paula Dallari Bucci
Otaviano Helene
Paulo Feldmann
Pedro Feliú
Pedro Luís Cortes
Rosenilton Silva de Oliveira
Vanderley M. John

REVISTA USP
TV USP
USP IMAGENS

COLUNISTAS
Alberto do Amaral
Alexandre Faisal Cury
André Singer
Bruno Luiz de Souza Bedo
Carlos Eduardo Lins da Silva
Eduardo Rocha
Eunice Prudente
Gilson Schwartz
Giselle Beiguelman
Glauco Arbix
Guilherme Wisnik
João Paulo Becker Lotufo
João Steiner
José Álvaro Moisés
José Carlos Farah
José Eli da Veiga
Luciano Nakabashi
Luli Radfahrer
Marília Fiorillo
Marisa Midori
Martin Grossmann
Mayana Zatz
Nabil Bonduki
Octávio Pontes Neto
Paulo Nussenzveig
Paulo Santiago
Paulo Saldiva
Pedro Dallari
Raquel Rolnik
Renato Janine Ribeiro
Rubens Barbosa

RÁDIO USP
Sobre a Rádio USP
Programas
Abrace uma Carreira
Além do Algoritmo
Ambiente É o Meio
Autoral Brasil
Biblioteca Sonora
Brasil Latino
Cultura na USP
Construção Musical da Liberdade
De Papo Pro Ar
Diálogos na USP
Diversas
Diversidade em Ciência
É Bom Saber
Em dia com o Direito
História do Rock
Interação
Lado “Z”
Madrugada USP
Manhã com Bach
Memória Musical
Mitologia
Mosaicos Culturais
O Samba Pede Passagem
O Sul em Cima
Olhar Brasileiro
Olhar da cidadania
Os novos cientistas
Outra Frequência
Pesquisa Brasil
Por Dentro da Música
Quilombo Academia
Rádio Matraca
Revoredo
Rock Brazuca
Saúde sem Complicações
Som da USP
Sons do Brasil
Universidade 93,7
Universo das Emissoras Públicas
USP Analisa
USP Especiais
USP Manhã
Via Sampa
Vira e Mexe
Você Sabia?

Você também pode gostar