Resumo

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Discussões

As mudanças climáticas são reais e estão se intensificando numa velocidade


espantosa, sem precedentes nos últimos 2 mil anos (pelo menos) e com consequências
potencialmente gravíssimas para os seres humanos e o planeta, incluindo a
intensificação de tempestades, secas e ondas de calor extremo. Muitas dessas
consequências — como o derretimento de geleiras e o aumento do nível do mar — são
irreversíveis, até mesmo numa escala de milhares de anos; mas ainda há tempo de evitar
uma calamidade climática global, desde que a espécie humana reduza imediatamente, e
de forma bastante significativa, suas emissões de gases de efeito estufa para a
atmosfera. Sem isso, é “extremamente provável” (uma faixa de 95% a 100% de
probabilidade) que o aquecimento global ultrapasse a perigosa marca de 2 graus Celsius
até o final deste século, com grandes chances de chegar a 1,5°C já nos próximos 20
anos, caso as emissões de carbono permanecerem no nível atual. Num cenário mais
pessimista de aumento de emissões, o aquecimento poderia ultrapassar 4°C antes de
2100. Essas são algumas das mensagens trazidas pelo Sexto Relatório de Análise (AR6,
em inglês) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), cuja
primeira parte foi divulgada nesta segunda-feira, em Genebra. É um documento de
milhares de páginas, com 234 autores principais (mais 517 colaboradores), oriundos de
66 países (sete deles do Brasil), que destrincha textualmente e graficamente todo o
conhecimento científico disponível no mundo sobre as mudanças climáticas globais —
uma verdadeira enciclopédia científica, com peso mais do que suficiente para esmagar
qualquer resquício de negacionismo que ainda circule por aí.

Uma mudança que chama a atenção no novo relatório é o recálculo da quantidade de


carbono já emitida pelo homem e o encurtamento da janela de tempo dentro da qual os
pesquisadores estimam que o aquecimento global ultrapassará a marca de 1,5°C acima
da temperatura “normal” da era pré-industrial. Segundo os cientistas, os seres humanos
lançaram à atmosfera 2.390 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) entre
1850 e 2019, sendo que a maior parte dessas emissões (entre 80% e 90%) foi gerada
pela queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão mineral). Para limitar o
aquecimento global a 1,5 °C, esse total não poderia ultrapassar a marca de 2.900 bilhões
de toneladas; o que nos deixa um “saldo remanescente” de 400 a 500 bilhões de
toneladas de CO2 para serem emitidas nas próximas décadas. No ritmo atual de 40
bilhões de toneladas emitidas por ano, esse limite seria ultrapassado já por volta de
2040, segundo o relatório. A estimativa anterior, publicada em um relatório especial
sobre o tema de 2018, era de que essa marca seria superada entre 2030 e 2050.
<<<<<GRÁFICO>>>>
Segundo artigo produzido pela World Resources Institute – WRI, por Levin
(2018) através do relatório do IPCC as emissões globais de gases de efeito estufa
estavam em cerca de 52 GtCO2e (gigatolenadas de CO2 equivalente) em 2016. As
projeções indicam que será entre 52 a 58 GtCO2e por ano em 2030. Emissões anuais
precisam cair pela metade (25-30 GtCO2e por ano) em 2030 para limitar o aquecimento
a 1,5˚C. Apesar de ainda ser tecnicamente possível, o comportamento e as tecnologias
precisarão mudar para se poder reduzir emissões. Por exemplo, em 2050, as energias
renováveis precisarão representar entre 70-85% da eletricidade para que o aquecimento
seja limitado

Ou seja, temos menos tempo ainda do que imaginávamos para reduzir emissões
e frear o avanço do aquecimento global. Um aumento de 1,5°C não deixa de ter
impactos significativos sobre o clima — tanto é que as mudanças climáticas já estão em
curso e causando problemas gravíssimos em todo o planeta —, mas especialistas
consideram que este é um limite minimamente seguro, no sentido de evitar mudanças
climáticas mais severas, e minimamente factível, do ponto de vista das ações políticas e
econômicas que precisam ser tomadas para o seu cumprimento. O objetivo do Acordo
de Paris, firmado em 2015 (com base nas conclusões do último relatório do IPCC), é
justamente manter o aquecimento global “bem abaixo de 2°C” e, preferencialmente, até
um limite máximo de 1,5°C.

Neste Mapa elaborado pela Nasa mostra o acúmulo de anomalias térmicas


registradas no planeta de 2016 a 2020, em comparação com a temperatura média
registrada no período 1951-1980 (usada como referência de “temperatura normal”). As
manchas vermelhas representam áreas onde a temperatura ficou acima do normal,
enquanto que as manchas azuis representam temperaturas abaixo do normal. 2020 e
2016 foram os anos mais quentes já registrados no planeta e 2017, 2018 e 2019 também
estão entre os mais quentes da série histórica – Vídeo: NASA’s Scientific
Visualization Studio

Um ou dois graus a mais de temperatura pode parecer pouca coisa, mas é algo
que altera profundamente o funcionamento do sistema climático do planeta como um
todo. As consequências práticas, segundo os cientistas, não são nada agradáveis:
aumento na ocorrência e na intensidade de tempestades, secas, ondas de calor e outros
eventos climáticos extremos; derretimento acelerado de geleiras e da calota polar do
Ártico; aumento do nível e da temperatura do mar; mudanças drásticas nos padrões de
precipitação (chuvas) ao redor do mundo; e várias outras. Tudo isso, claro, com
implicações imensas para a produção de alimentos, a segurança hídrica, a conservação
da biodiversidade, a qualidade de vida nas cidades, a saúde, a produção de energia e
várias outras atividades essenciais à sobrevivência da espécie humana no planeta Terra.
<<<<<GRÁFICO>>>>
O aquecimento da Terra nos últimos 120 anos é um fato inequívoco, como
mostram os gráficos. O gráfico da esquerda (a) mostra como a temperatura da superfície
do planeta variou ao longo dos últimos dois mil anos, com base em registros
paleoclimáticos extraídos de rochas, gelo e sedimentos marinhos. Notem que a
temperatura oscila para cima e para baixo, mas não se descola muito da média
observada entre 1850 e 1900, que é a linha de base do gráfico (representada pelo 0.0 na
barra vertical do gráfico), usada como referência de temperatura normal do planeta,
antes do início da interferência humana no clima. 
O gráfico à direita (b) mostra uma simulação de como a temperatura superficial
do planeta teria se comportado ao longo desses últimos 170 anos com base apenas em
fatores naturais (faixa verde), como atividades vulcânicas e incidência de radiação solar.
Já a faixa marrom mostra uma simulação de como a temperatura teria se comportado
com a somatória de fatores naturais e humanos. Notem como as duas faixas se descolam
uma da outra a partir do início do século 20 (ano 1900), e como a faixa da simulação
marrom se encaixa perfeitamente com a linha preta, que representa as temperaturas
reais, registradas a cada ano desse período — o que indica que a simulação está correta
e corresponde à realidade, tanto daquilo que aconteceu quanto daquilo que poderia ter
acontecido.

Olhando especificamente para o Brasil, estima-se pelas futuras projeções do


IPCC que haverá tendência de aumento da temperatura média da superfície. Em relação
da média dos modelos previstos para as precipitações no território brasileiro, a
indicativa é de alterações nos padrões de precipitação com drásticas reduções nas
regiões Norte e Nordeste, ocasionando uma potencial intensificação das condições de
aridez no centro da região Nordeste assim como no sul da Amazônia, que passaria de
clima tropical úmido para um clima tropical subúmido (IPCC, 2007) sendo a redução
das chuvas mais intensa no cenário pessimista com alerta para possíveis secas mais
intensas e mais longas, particularmente nos trópicos e subtrópicos. Para o Sudeste e
centro do país, os estudos não chegaram a tendências convergentes para precipitação.

Em pesquisas realizadas por Cunha e colaboradores em 2002 os impactos das


mudanças climáticas sobre os recursos hídricos são sentidos tanto na oferta como na
demanda. Segundo os pesquisadores, modificações no elemento climático (precipitação)
provocam uma variação na distribuição temporal dos recursos hídricos. Esse fator pode
proporcionar um aumento na procura por este recurso em algumas áreas (conflitos) e
disponibilidade além da demanda em outras.
Além dos efeitos sobre as águas superficiais, a mudança climática deverá afetar
as taxas de recarga de águas subterrâneas, ou seja, os recursos de águas subterrâneas
renováveis e os níveis dos aquíferos. Tem havido pouca pesquisa sobre esses impactos e
sobre os efeitos na relação entre as águas superficiais e aquíferos, que são
hidraulicamente conectados. Um estudo realizado, por exemplo, estima que as águas
subterrâneas no Nordeste do Brasil devem ter uma redução na recarga em 70% até
2050. No Sistema Aquífero Guarani, quase 70% dos cenários climáticos geraram
variações dos níveis freáticos abaixo daqueles medidos no monitoramento entre 2004 e
2011 por Melo 2013.

Uma das consequências mais impactantes e mais irreversíveis do aquecimento


global é a elevação do nível do mar, causada por uma combinação de aumento da
temperatura da água (que aumenta o volume dos oceanos, por um processo físico de
expansão térmica) e do derretimento em massa de geleiras, tanto em terra quanto nos
oceanos. Segundo o relatório, o nível global do mar aumentou 20 centímetros entre
1901 e 2018, e é “muito provável” (90% a 100% de probabilidade) que esse aumento é
resultado do aquecimento global causado pelo homem, principalmente nos últimos 50
anos. A velocidade com que essa elevação está ocorrendo é sem precedentes nos
últimos 3 mil anos, segundo os pesquisadores; e mesmo que os seres humanos zerassem
imediatamente suas emissões de gases-estufa, essa elevação continuará em curso por
pelo menos mais alguns séculos ou milênios, por causa do tempo que o calor leva para
ser absorvido e se dissipar no oceano. Os cientistas estimam que o nível do mar subirá
de 2 metros a 3 metros nos próximos 2 mil anos, se o aquecimento global for limitado a
1,5ºC; ou até 6 metros, num cenário de 2ºC. Num cenário mais pessimista (linha
pontilhada no gráfico), o nível do mar poderia subir até 2 metros em 2100, e 5 metros
até 2150, dependendo de como os mantos de gelo das regiões polares responderem ao
aumento da temperatura. É um cenário pouco provável, mas não impossível, e que não
pode ser ignorado, segundo os cientistas. A previsão é que as geleiras continentais e os
mantos de gelo polar continuarão a derreter por centenas de anos, assim como o solo
congelado (permafrost) da Sibéria, que contém uma quantidade imensa de carbono
armazenada dentro dele. Outros efeitos irreversíveis nos próximos séculos incluem o
aquecimento, a acidificação e a desoxigenação das águas oceânicas, com impactos
gravíssimos para a biodiversidade marinha global. 

Agora passo a palavra pra colega Edmárcia que irá dar continuidade a
apresentação e irá falar sobre os impactos das mudanças climáticas sobre os Recursos
Hídricos.

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