Aula MPM 018 2021

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MPM 5604-Álgebra com Aplicações

Prof. Raul Antonio Ferraz


Segundo Semestre de 2021

1 Grupos
1.1 Definição e exemplos
Definição 1.1 Seja G um conjunto não vazio, onde está definida uma operação
entre pares de elementos de G, que será denotada por ∗:

∗ : G × G −→ G
(g, h) 7→ g ∗ h.
Dizemos que o par (G, ∗) é um grupo se satisfaz as seguintes proprieda-
des:

1. Associatividade:

(a ∗ b) ∗ c = a ∗ (b ∗ c), ∀a, b, c ∈ G.

2. Existência de elemento neutro:

∃e ∈ G, tal que e ∗ a = a ∗ e = a, ∀a ∈ G.

3. Existência de inverso:

∀a ∈ G, ∃b ∈ G, tal que a ∗ b = b ∗ a = e.

Proposição 1.2 Seja G um grupo. Então

1. O elemento neutro é único

2. Para cada a ∈ G, existe um único inverso, isto é, existe um único


b ∈ G tal que
a ∗ b = b ∗ a = e.
O elemento b é denominado elemento inverso de a (ou simplesmente
inverso de a) e será denotado por a−1 .

Demonstração:

1
1. Sejam e e e0 elementos neutros de um grupo G. Então

e0 = e0 ∗ e = e.

Assim, quaisquer dois elementos neutros de G são iguais. Logo existe


um único elemento neutro

2. Dado a ∈ G, tomemos b e b0 em G tais que

b ∗ a = a ∗ b = b0 ∗ a = a ∗ b0 = e.

Assim

b = b ∗ e = b ∗ (a ∗ b0 ) = (b ∗ a) ∗ b0 = e ∗ b0 = b0 .

2
Se n é um inteiro positivo, denotarmos por an o produto de n cópias de
a. Também denotaremos por a−n o produto de n cópias de a−1

an = a
| ·{z
· · a} a−n = a−1
· · a−1} .
| ·{z
n vezes n vezes

Definição 1.3 Diremos que um grupo (G, ∗) é abeliano, (ou comuta-


tivo), se vale a propriedade comutativa

a ∗ b = b ∗ a, ∀a, b ∈ G.

Muitas vezes usaremos em vez do sinal ∗, o ponto . ou até mesmo, depen-


dendo do caso o sinal de composição de funções, ◦ para denotar a operação
de um determinado grupo G. Porém, na maioria das vezes, usaremos a sim-
ples concatenação de elementos para denotar a operação do grupo. Neste
último caso, se fará necessário que a operação de grupo esteja subentendida.

Algumas vezes, quando G for um grupo abeliano, usaremos o sinal de


adição + para denotar a operação do grupo. Teremos então o grupo (G, +).
Os exemplos a seguir tornarão mais claras as observações acima.

Exemplos 1 1. Para os seguintes conjuntos A, teremos que (A, +) é um


grupo abeliano:

• (Z, +), (Q, +), (R, +),(C, +);

2
• (Zn , +), o anel dos inteiros módulo n com a adição;
• (R[x], +), o anel dos polinômios com coeficientes reais com a
adição usual;
• (Mn (Q), +), o anel das matrizes com coeficientes racionais com
a adição usual.

são grupos abelianos.

(Z5 , +) :

+ 0 1 2 3 4
0 0 1 2 3 4
1 1 2 3 4 0
2 2 3 4 0 1
3 3 4 0 1 2
4 4 0 1 2 3

2. Se F é um corpo e V é um espaço vetorial sobre F , então (V, +) é um


grupo abeliano.

3. Se (F, +, ·) é um corpo, e F ∗ = F \ {0}, então (F ∗ , ·) é um grupo


abeliano. Em particular temos os grupos (Q∗ , ·), (R, ·) e (C∗ , ·).

4. De forma mais geral, se (A, +, ·) é um anel com unidade, denotamos


por U (A) o conjunto dos elementos inversı́veis de A (também chama-
dos de unidades de A).

U (A) = {α ∈ A | ∃β ∈ A, tal que βα = αβ = 1}.

Então (U (A), ·) é um grupo.

(U (Z5 ), ·) : (U (Z8 ), ·) :
· 1 2 3 4 · 1 3 5 7
1 1 2 3 4 1 1 3 5 7
2 2 4 1 3 3 3 1 7 5
3 3 1 4 2 5 5 7 1 3
4 4 3 2 1 7 7 5 3 1

3
5. Seja C um conjunto não vazio. Defino S(C), como sendo o conjunto
das bijeções de C em C

S(C) = {f : C → C | f bijetora}.

Denotando por ◦ a operação de composição de funções, temos que


(S(C), ◦) é um grupo. Se C é um conjunto finito com n elementos,
denotaremos S(C) por Sn . A cardinalidade de Sn será n!.
Para exemplificar:
Seja C = {1, 2, 3}. Teremos que o S3 é o conjunto de todas as funções
bijetoras de C em C. Isto é,

S3 = {Id = σ1 , σ2 , . . . , σ6 }
  
 σ1 (1) = 1  σ2 (1) = 1  σ3 (1) = 2
σ1 : σ1 (2) = 2 σ2 : σ2 (2) = 3 σ3 : σ3 (2) = 1
σ1 (3) = 3 σ2 (3) = 2 σ3 (3) = 3
  

   .
 σ4 (1) = 2  σ5 (1) = 3  σ6 (1) = 3
σ4 : σ4 (2) = 3 σ5 : σ5 (2) = 1 σ6 : σ6 (2) = 2
σ4 (3) = 1 σ5 (3) = 2 σ6 (3) = 1
  

(S3 , ◦) :

◦ σ1 σ2 σ3 σ4 σ5 σ6
σ1 σ1 σ2 σ3 σ4 σ5 σ6
σ2 σ2 σ1 σ5 σ6 σ3 σ4
σ3 σ3 σ4 σ1 σ2 σ6 σ5
σ4 σ4 σ3 σ6 σ5 σ1 σ2
σ5 σ5 σ6 σ2 σ1 σ4 σ3
σ6 σ6 σ5 σ4 σ3 σ2 σ1

Acima, o produto foi dado por elemento da 1a coluna ◦ elemento da


1a linha.

6. Os Grupos diedrais: Seja n um número inteiro, maior ou igual a 3, e


seja Pn o polı́gono regular de n lados. Ao grupo de simetrias (ou iso-
metrias) deste polı́gono, damos o nome de grupo diedral de ordem

4
2n. Denotamos por D2n . Como veremos mais tarde a ordem é a cardi-
nalidade de um grupo finito. E temos exatamente 2n simetrias agindo
em um polı́gono regular de n lados: As n rotações e as n reflexões em
relação aos seus n eixos de simetria
Como exemplo vamos construir as tabelas dos grupos D8 e D6 . Seja
D8 , o grupo de simetrias do quadrado.

@ d1 v d2 u1
@
@ T
@  T
@  T
@  T
@ b  T "
b u2  T u3 "
b "
@
@ h b 
b T""
@  bb "
"T
@  b " T
 b " T
@ "b
@  " b T
" b
@  " b T
@  "" b
b T
@ "" b T
b
@ 
" T
b
" b
@ " b
Figura 1 Figura 2

Observando a Figura 1, podemos verificar que existem 8 simetrias que


levam o quadrado nele mesmo

• A identidade que denotarei por r0 ;


• As rotações rπ/2 , rπ e r3π/2 , que denotam a rotação do qua-
drado no sentido anti-horário de π/2, π e 3π/2 radianos respec-
tivamente;
• E as reflexões nos eixos de simetria v, h, d1 e d2 , que denotarei
por Rv , Rh , Rd1 e Rd2 respectivamente.

Logo a tabela de multiplicação do grupo (D8 , ◦) será:

5
◦ r0 rπ/2 rπ r3π/2 Rv Rh Rd1 Rd2
r0 r0 rπ/2 rπ r3π/2 Rv Rh Rd1 Rd2
rπ/2 rπ/2 rπ r3π/2 r0 Rd1 Rd2 Rh Rv
rπ rπ r3π/2 r0 rπ/2 Rh Rv Rd2 Rd1
r3π/2 r3π/2 r0 rπ/2 rπ Rd2 Rd1 Rv Rh
Rv Rv Rd2 Rh Rd1 r0 rπ r3π/2 rπ/2
Rh Rh Rd1 Rv Rd2 rπ r0 rπ/2 r3π/2
Rd1 Rd1 Rv Rd2 Rh rπ/2 r3π/2 r0 rπ
Rd2 Rd2 Rh Rd1 Rv r3π/2 rπ/2 rπ r0

Acima usamos a convenção:


(elemento da 1a coluna) ◦ (elemento da 1a linha).

Da figura 2 concluimos que existem 6 simetrias para o triângilo equilátero.


As rotações r0 , r2π/3 , r4π/3 e as três reflexões que denotaremos por R1 ,
R2 e R3 , associadas respectivamente aos eixos de simetria u1 , u2 e u3 .
Segue abaixo a tabela de composição do grupo (D6 , ◦). Para calcular
o produto, usaremos a mesma convenção que já utilizamos anterior-
mente.

◦ r0 r2π/3 r4π/3 R1 R2 R3
r0 r0 r2π/3 r4π/3 R1 R2 R3
r2π/3 r2π/3 r4π/3 r0 R2 R3 R1
r4π/3 r4π/3 r0 r2π/3 R3 R1 R2
R1 R1 R3 R2 r0 r4π/3 r2π/3
R2 R2 R1 R3 r2π/3 r0 r4π/3
R3 R3 R2 R1 r4π/3 r2π/3 r0

7. O último exemplo é na verdade um caso particular do exemplo 4.


Dado um inteiro n, com n ≥ 2, tomemos o anel (Mn (R), +, ·), das
matrizes n × n cujas entradas são números reais. Uma matriz será
inversı́vel se e somente se seu determinante for não nulo. Vamos
definir, para cada n, o Grupo Linear Geral de Dimensão n sobre
R como sendo o conjunto

GLn (R) = {M ∈ Mn (R) | det(M ) 6= 0}.

6
Temos que (GLn (R), ·) é um grupo.

1.2 Subgrupos
Definição 1.4 Dizemos que um subconjunto não vazio H de um grupo
(G, ·), é um subgrupo de G se (H, ·) é também um grupo.

A partir desta definição como decidir de forma sistemática se H é um


grupo?
Antes de analisarmos condições para que H satisfaça os axiomas de
grupo, precisamos antes nos certificar que a operação · leva um par qualquer
de H × H em H. Isto é temos a primeira condição:

1. Se h1 e h2 pertencem a H, então h1 h2 pertence a H:

h1 , h2 ∈ H ⇒ h1 · h2 ∈ H.

Vamos agora as propriedades de (H, ·).


A associatividade do produto segue da associatividade de (G.·).
O grupo H tem de possuir um elemento neutro eH tal que para todo
h ∈ H, tenhamos eh h = heh = h. Em particular temos de ter eH eH =
eH . Assim tomando b = e−1
h em G temos

b · eH eH = b · eH ⇒ eH = eG .

Portanto nossa segunda condição será

2. eG ∈ H.
Como eH = eG e para todo h ∈ H, o inverso de h deve estar em H
temos a nossa terceira condição:

3. ∀h ∈ H, h−1 ∈ H.

Podemos então dar uma definição equivalente

Definição 1.5 Um subconjunto H não vazio de um grupo (G, ·) é dito um


subgrupo de G se satisfaz as seguintes condições:

1. Se h1 e h2 pertencem a H, então h1 h2 pertence a H.

2. e = eG ∈ H.

7
3. ∀h ∈ H, h−1 ∈ H.

Usremos a notação H < G para dizer que H é subgrupo de G.

Exemplos 2 1. Se (G, ·) é grupo, então o própio G e o conjunto unitário


{eg } são subgrupos de G. Chamados subgrupos triviais de G.

2. Se g ∈ G o conjunto
{g n | n ∈ Z},

é um subgrupo de G. Este subgrupo será denominado de subgrupo


cı́clico de G gerado por g (ou simplesmente subgrupo cı́clico de G).
Usarei a notação hgi para designar tal subgrupo.
Um grupo é dito cı́clico se existe um elemento g ∈ G tal que G = hgi.
Os grupos (Z, +) e (Zn , +), n ∈ N∗ , são exemplos de grupos cı́clicos,
ambos gerados pelo elemento 1 (ou se preferirem, 1̄, no caso do Zn ).
Reparem que o elemento neutro destes grupos é o 0.

3. O centro de G. Seja G um grupo. Denominamos de centro de G e


denotamos por Z(G) o conjunto de todos elementos de G que comutam
com qualquer elemento de G:

Z(G) = {g ∈ G | gh = hg, ∀h ∈ G}

Podemos verificar facilmente que Z(G) é na verdade um subgupo de


G, pois:

• Se g1 e g2 pertencem a Z(G), então para todo h ∈ G temos:

(g1 g2 )h = g1 (g2 h) = g1 (hg2 ) = (g1 h)g2 = h(g1 g2 ).

Logo g1 g2 ∈ Z(G).
• Da definição de grupo segue que e ∈ Z(G).
• Se g ∈ Z(G) então para todo h ∈ G temos

g −1 h = g −1 he = g −1 hgg −1 = g −1 ghg −1 = ehg −1 = hg −1 .

Assim, se g ∈ Z(G), então g −1 ∈ Z(G).

Logo temos que Z(G) é subgrupo de G. Vale notar que Z(G) = G se


e somente se G é um grupo abeliano.

8
4. Temos (Z, +) < (Q, +) < (R, +) < (C, +) < (C[x], +). Este exemplo
é bom para nos lembrar que um subgrupo é também um grupo. Vale
também para todo natural não nulo n que (nZ, +) < (Z, +). Se m é
outro natural não nulo que divide n, temos (nZ, +) < (mZ, +)

5. No grupo (GLn (R), ·) das matrizes n×n sobre R temos o subgrupo que
chamamos de grupo linear especial e denotamos por (SLn (R), ·) que
é dado por

SLn (R) = {M ∈ Mn (R) | det(M ) = 1}.

6. Podemos estender a definição de grupo linear geral e grupo linear es-


pecial para qualquer corpo F , obtendo assim

GLn (F ) = {M ∈ Mn (F ) | det(M ) 6= 0},

SLn (F ) = {M ∈ Mn (F ) | det(M ) = 1}.

Com as notações acima temos

GLn (Q) < GLn (R) < GLn (C) e SLn (Q) < SLn (R) < SLn (C).

7. Seja C∗ = U (C) = C \ {0}, e consideremos o grupo (C∗ , ·) Então o


subconjunto S 1 dado por

S 1 = {z ∈ C | |z| = 1},
é um subgrupo de C∗ .
Seja n ∈ Z, n ≥ 1 o conjunto

H = {θ ∈ C | θn = 1},
é um subgrupo de C∗ .

Teorema 1.6 Se H1 , . . . , Hn são subgrupos de um grupo G, então o con-


n
T
junto Hi também será um subgrupo de G.
i=1

9
Demonstração: Façamos
n
\
H0 = Hi .
i=1

Se h e k pertencem a H0 , então h e k pertencerão a Hi , para todo i, 1 ≤ i ≤ n.


Como cada Hi é subgrupo de G temos que hk ∈ Hi , para todo i. Assim
concluimos que hk ∈ H0 .
Para cada i temos e ∈ Hi , pois cada Hi é subgrupo. Logo e ∈ H0
Por fim se h ∈ H0 então h ∈ Hi para todo i. Portanto h−1 ∈ Hi , para
todo i e segue que h−1 ∈ H0 . Assim concluimos que H0 é subgrupo de G
2
Na verdade pode-se demonstrar que qualquer intersecção arbitrária de
subgrupos de G é um subgrupo de G. Ou seja, sendo mais formal, se H é
um subconjunto
T não vazio do conjunto de todos os subgrupos de G, então
H0 = H é um subgrupo de G. A demonstração é análoga a do teorema
H∈H
acima.

Definição 1.7 Se S é um subconjunto de um grupo G, definimos o sub-


grupo de G gerado por S, e denotamos por hSi, o seguinte subgrupo
\
hSi = H.
H<G, S⊂H

Dizemos que hSi é o menor subgrupo de G que contém o subconjunto S.

Exemplos 3 1. Se S é vazio, então S está contido em todos os subgrupos


de G. Em particular S ⊂ {e}. É claro que a intersecção de qualquer
famı́lia de subgrupos que contém {e}, é o próprio subgrupo {e}. Logo

h∅i = {e} = (e)

2. Se temos um subconjunto unitário {a} de G, então

h{a}i = hai = {an | n ∈ Z}

é o grupo cı́clico gerado por a.


De fato, notemos que se a pertence a qualquer subgrupo H de G, então
por um argumento de indução, an também pertencerá, para qualquer
inteiro positivo. Por outro lado, se a pertence a um subgrupo H, a−1

10
pertence a H e portanto teremos que a−n também pertencerá a H.
Logo

{an | n ∈ Z} ⊂ h{a}i .

Por outro lado podemos demonstrar usando indução que an am = an+m ,


e assim concluir que {an | n ∈ Z} é subgrupo de G, que contém a. Logo
da definição de h{a}i, segue que

{an | n ∈ Z} ⊃ h{a}i .

Logo h{a}i = {an | n ∈ Z}

O próximo resultado deixarei como

Atividade 1 :

Demonstre o seguinte teorema

Teorema 1.8 Seja S um subconjunto não vazio de um grupo G. Então

hSi = {g1n1 · · · gknk | gi ∈ S, ni ∈ Z, k ≥ 0}.


Ou seja o grupo gerado pelo conjunto S, é o conjunto de todos os possı́veis
produtos de potências de elementos de S.

Definição 1.9 Um grupo (G, ·) é dito finito, se a cardinalidade do conjunto


subjacente G é finito.

Definição 1.10 Direi que um grupo G é finitamente gerado, se existir


um subconjunto finito S de G, tal que G = hSi.

Exemplos 4 1. Grupos cı́clicos são gerados por um conjunto unitário,


logo são finitamente gerados.

2. Grupos finitos são finitamente gerados, pois G = hGi. Mas nem todo
grupo finitamente gerado é finito. O (Z, +) é ciclico e portanto finita-
mente gerado. Mas não é finito.

11
Definição 1.11 Sejam H e K subgrupos de G defino o produto HK como
sendo o conjunto:

{hk | h ∈ H, k ∈ K}.

O conjunto acima nem sempre é um subgrupo de G.

Exemplo 1 No grupo D8 . Se tomamarmos H como sendo o grupo gerado


por Rv e K o grupo gerado por Rd1 , teremos

H = {Id, Rv }, K = {Id, Rd1 }

e
HK = {Id, Rv , Rd1 , Rv ◦ Rd1 } = {Id, Rv , Rd1 , r3π/2 }.
2
Claramente HK não é subgrupo pois, r3π/2 = rπ não pertence a HK.

Temos um resultado que nos diz quando o produto de 2 subgrupos de G


é um subgrupo de G
Teorema 1.12 Sejam G um grupo e H e K dois subgrupos de G. Então
HK é subgrupo de G se e somente se HK = KH.
Demonstração:
(⇒:)
Dado h1 k1 ∈ HK, queremos mostrar que existem h2 ∈ H e k2 ∈ K tais
que k2 h2 = h1 k1 .
Como HK é subgrupo existe um elemento h3 k3 ∈ HK tal que

(h3 k3 )(h1 k1 ) = e.
Assim temos:
h1 k1 = (h3 k3 )−1 = k3−1 h−1
3 .

Fazendo k2 = k3−1 ∈ K e h2 = h−1


3 ∈ H temos que HK ⊂ KH.
Suponha kh ∈ KH. Note que (kh)−1 = h−1 k −1 . Pelo que vimos acima
existem k2 ∈ K e h2 ∈ H tais que h−1 k −1 = (k2 h2 ). Assim temos

(kh)−1 = (k2 h2 ) ⇔ kh = (k2 h2 )−1 = h−1 −1


2 k2 .

Logo KH ⊂ HK e concluimos a igualdade.


(⇐:)
Vamos mostrar que HK é subgrupo a partir da igualdade HK = KH.
Sejam h1 k1 e h2 k2 em HK. Temos

12
h1 k1 h2 k2 = h1 (k1 h2 )k2 .
Como HK = KH, existem h3 ∈ H, k3 ∈ K tais que k1 h2 = h3 k3 . Assim
segue que
h1 k1 h2 k2 = h1 (h3 k3 )k2 = (h1 h3 ) (k3 k2 ) ∈ HK.
| {z } | {z }
∈H ∈K

Calramente e ∈ HK, pois e = e · e.


Se hk ∈ HK, então (hk)−1 = k −1 h−1 . Como HK = KH temos que
existem h4 ∈ H, e k4 ∈ K, tais que

(hk)−1 = k −1 h−1 = h4 k4 .

Assim concluimos que HK é subgrupo de G.


2

Definição 1.13 Se G é um grupo, definimos a ordem de G como sendo a


cardinalidade de G. Dado um elemento g de G, definimos a ordem de g
como sendo a ordem do grupo hgi. Usaremos a notação |G| para a ordem
do grupo G e o(g), para a ordem do elemento g. Direi que um elemento tem
ordem finita se o(g) for finita e que tem ordem infinita, caso contrário.

Proposição 1.14 Seja G um grupo e g um elemento de G. Se a ordem de


g é finita igual a n, então n é o menor inteiro positivo tal que g n = 1. A
ordem de g é infinita, se e somente se g n 6= 1, para todo inteiro positivo n.

Demonstração:
Vamos usar que para quaiquer dois inteiros m e n, e qualquer elemento
g ∈ G valem:

g m+n = g m g n e (g m )n = g mn .
Seja n o menor inteiro que satisfaz g n = 1. Pelo algoritmo da divisão,
para todo k ∈ Z existem q e r em Z com 0 ≤ r ≤ n − 1, tais que k = nq + r.
Assim para todo k ∈ Z, temos

g k = g qn+r = g qn g r = ( g n )q g r = g r .
|{z}
=1
Consequentemente temos

hgi = {g k | k ∈ Z} = {g r | r ∈ Z, 0 ≤ r ≤ n − 1}.

13
Vamos mostrar que | hgi | = n. Para tanto basta mostrar que se s e r são
inteiros com 0 ≤ s < r ≤ n − 1, então g r 6= g s . Se supusermos que g s = g r
terı́amos

g r = g s ⇔ g r (g s )−1 = 1 ⇔ g r−s = 1.
Mas 0 < r − s < n. Isto contradiz a hipótese de n ser o menor inteiro
positivo tal que g n = 1. E isto prova a primeira parte da proposição.
Se g n = 1, para algum inteiro positivo n, existiria um menor inteiro
positivo n0 , com g n0 = 1. Pelo que vimos acima, teremos que o conjunto

hgi = {g k | k ∈ Z}.
teria cardinalidade n0 .
Reciprocamente, se para nenhum inteiro positivo n, tivermos g n = 1,
então dados quaiquer inteiros s e r com s < r teremos g r 6= g s . Caso
contrário, g r−s = 1 contrariando a nossa premissa.
Daı́ segue facilmente que hgi tem a mesma cardinalidade de Z e portanto
é infinito.

Proposição 1.15 Sejam G um grupo e H e K dois subgrupos finitos de G.


Então vale

|H||K|
|HK| = .
|H ∩ K|

Demonstração:
Temos HK = {hk | h ∈ H k ∈ K}. Dado um elemento hk queremos
saber para quantos pares (h1 , k1 ) ∈ H ×K temos h1 k1 = hk. Podemos notar
que

hk = h1 k1 ⇔ kk1−1 = h−1 h1 ⇒ kk1−1 = h−1 h1 ∈ H ∩ K.


Obtemos então um elemento g = kk1−1 = h−1 h1 que pertence a H ∩ K.
Vamos denotá-lo por F ((h1 , k1 )),

g = F ((h1 , k1 )) = kk1−1 = h−1 h1 .


Por outro lado dado g ∈ H ∩K se fizermos h1 = hg e k1 = g −1 k, teremos
h1 ∈ H, k1 ∈ K e

h1 k1 = hgg −1 k = hk.

14
Denotaremos por F 0 esta função, dado g ∈ H ∩ K:

F 0 (g) = (hg, g −1 k).


Logo para cada par (h1 , k1 ) de H × K satisfazendo h1 k1 = hk produzo
um elemento g de H ∩ K e para cada elemento g de H ∩ K produzo um par
de H × K satisfazendo h1 k1 = hk.
Uma função é a inversa da outra:

(F 0 ◦ F )(h1 , k1 ) = F 0 (kk1−1 ) =
(h kk1−1 , (kk1−1 )−1 k) = (hh−1 h1 , k1 k −1 k) = (h1 , k1 )
| {z }
=h−1 h1
e

(F ◦ F 0 )(g) = F (hg, g −1 k) = k(g −1 k)−1 = kk −1 g = g.


Assim para cada elemento hk de HK, existem precisamente |H ∩ K|
pares (h1 , k1 ) de H × K que satisfazem h1 k1 = hk. Logo

|H × K| |H||K|
|HK| = = .
|H ∩ K| |H ∩ K|
2

Próxima Aula:

Definição 1.16 Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Se x ∈ G, o


subconjunto

Hx = {hx | h ∈ H}
é denominado de classe lateral (ou co-classe), à direita de H em
G (que contém x).
De forma análoga definimos as classes laterais à esquerda de H em
G

xH = {xh | h ∈ H}.

15
Proposição 1.17 Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. O conjunto
das classes laterais à direita de H em G, Ld (H)

Ld (H) = {Hx | x ∈ G},

é uma partição de G. Isto se Ld (H) é o conjunto das classes laterais à


direita de H então
1. Para quaisquer elementos x e y pertencentes a G, ou Hx = Hy ou
Hx ∩ Hy = ∅.

2. [
G= Hi
Hi ∈Ld (H)

Definição 1.18 Direi que um subgrupo H de um grupo G é normal se para


todo x ∈ G temos Hx = xH.

Teorema 1.19 Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Dado x ∈ G,


considere o conjunto:

xHx−1 = {xhx−1 |h ∈ H}.


Então H é um subgrupo normal de G (ou simplesmente normal em G), se
e somente se

xHx−1 = H.

Teorema 1.20 Sejam G um grupo e H um subgrupo normal de G então o


G
conjunto H , com o produto

g1 H · g2 H = (g1 g2 )H
é um grupo. Este grupo será denominado grupo quociente de G por
H.

Teorema 1.21 (Teorema de Lagrange) Seja G um grupo finito e H um


subgrupo de G. Então:

|G| = |H|[G : H].


Em particular se H é subgrupo de G então a ordem de H divide a ordem
de G

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