Grupos e Simetrias - Notas de Aula
Grupos e Simetrias - Notas de Aula
Grupos e Simetrias - Notas de Aula
Notas do curso
Estas notas são sumários alargados do curso. Nelas pretendemos referir conceitos, resultados
e exemplos apresentados nas aulas. Seguimos de perto o livro
Neste texto incluiremos apenas as demonstrações que não constam ou são diferentes das apre-
sentadas neste livro. Faremos também algumas sugestões de leitura e consulta.
0. Introdução
O conceito de grupo tem a sua origem nas seguintes áreas:
• A teoria dos números do fim do século XVIII, com o estudo da aritmética modular, primeiro
por Euler(1761), depois por Gauss(1801) e por muitos outros matemáticos.
• A teoria das equações algébricas do fim do século século XVIII, que levou ao estudo de
grupos de permutações.
A teoria dos grupos pode ser considerada como o estudo da simetria: o conjunto das simetrias
de um objecto (um poliedro, um polinómio, um cristal e muitos outros), preservando alguma da
sua estrutura, forma um grupo. O estudo desses grupos é um instrumento essencial em várias
áreas não só da Matemática mas também, por exemplo, da Fı́sica e da Quı́mica.
Sugestões de consulta
1
1. Definição de grupo
Um grupo é um conjunto munido de uma operação binária (uma regra que a cada par de
elementos do conjunto faz corresponder um e um só elemento desse conjunto), que é associativa,
tem elemento neutro, e tem inversos.
Definição 1.1 Um grupo é um par (G, ∗), constituı́do por um conjunto G e uma operação
binária ∗ : G × G → G, que satisfaz os seguintes axiomas:
Se, além disso, a ∗ b = b ∗ a para todos os elementos a e b de G, o grupo (G, ∗) diz-se abeliano
ou comutativo.
Estas são chamadas propriedades elementares dos grupos já que derivam apenas da definição.
1. (Z, +),
1. (N, +),
2
3. (Z, ×),
4. O conjunto das matrizes reais n × n para a multiplicação usual de matrizes, (Mn (R), ×).
1. a = ((a)0 )0 .
2. (a ∗ b)0 = b0 ∗ a0 .
Exercı́cios 1.5 Seja G um conjunto não vazio com uma operação binária associativa ∗. Prove
que
Definição 1.6 Um grupo é um par (G, ∗), constituı́do por um conjunto G e uma operação
binária ∗ : G × G → G, que satisfaz os seguintes axiomas:
Várias simplificações vão ser a regra. Assim, em vez de (G, ∗), falaremos no grupo G, sempre
que não exista ambiguidade quanto à operação considerada.
3
Usaremos, em geral, notação multiplicativa, substituindo x ∗ y por x · y ou, simplesmente, por
xy. Neste caso, o inverso de um elemento x será denotado por x−1 . Denotaremos o elemento
neutro por eG ou apenas por e.
A notação aditiva é usada, em geral, quando o grupo é abeliano. Nesse caso o elemento
neutro é denotado por 0 e o inverso de x por −x, que se designa por simétrico de x.
1. an am = am+n ,
2. (am )n = amn
2. Grupos de Números
Vários conjuntos de números têm estrutura de grupo relativamente às operações de adição e
multiplicação que nos são familiares.
Munidos da adição usual, são grupos os conjuntos Z dos inteiros, Q dos racionais, R dos reais,
C dos números complexos e muitos outros tais como o conjunto dos inteiros pares. O mesmo
já não sucede com qualquer subconjunto finito dos inteiros diferente de {0} ou com os inteiros
ı́mpares. (Porquê?)
São grupos multiplicativos os conjuntos Q − {0} dos racionais não nulos, R − {0} dos reais
não nulos, Q+ dos racionais positivos, R+ dos reais positivos, {1, −1}, C − {0} dos números
complexos não nulos, C dos complexos de módulo unitário, {±1, ±i}, etc..
4
Os elementos deste conjunto podem também ser multiplicados módulo n, operação que de-
notaremos por .n . Neste caso, se queremos obter um grupo, tal como fizemos noutros conjuntos,
temos que remover o zero (Porquê?). Mesmo assim o resultado pode ainda não ser o pretendido:
em Z6 − {0} = {1, 2, 3, 4, 5} a multiplicação não é uma operação já que 2.6 3 = 0 e o zero não
pertence ao conjunto.
De facto, prova-se que Zn − {0} é grupo para a multiplicação módulo n se e só se n é primo.
1. O conjunto das raı́zes quartas da unidade, {1, i, −1, −i}, para a multiplicação de números
complexos
· 1 i −1 −i
1 1 i −1 −i
i i −1 −i 1
−1 −1 −i 1 i
−i −i 1 i −1
◦ e r s1 s2
e e r s1 s2
r r e s2 s1
s1 s1 s2 e r
s2 s2 s1 r e
Num conjunto com quatro elementos quantas operações binárias podemos definir que lhe
confiram estrutura de grupo?
Um dos elementos do conjunto tem de ser o elemento neutro, cada elemento tem um inverso
e, atendendo às leis de cancelamento, na tabela do grupo cada elemento aparece uma e uma só
vez em cada linha e em cada coluna. Assim, considerando o conjunto G = {e, a, b, c}, onde e
denota o elemento neutro, temos duas possibilidades relativamente aos inversos de a, b e c:
5
Podemos construir as tabelas correspondentes a cada uma destas hipóteses:
? e a b c
e e a b c
a a b c e
b b c e a
c c e a b
e
¦ e a b c
e e a b c
a a e c b
b b c e a
c c b a e
Falta averiguar se estas operações são associativas. Para cada uma das operações, isso cor-
responde a analisar 33 casos - todos os que resultam da inserção de parêntesis e da aplicação da
operação - para as permutações com repetição dos elementos a, b e c, embora existam algumas
simplificações óbvias (quais?).
As operações são de facto associativas, portanto temos dois grupos distintos. Efectivamente,
concluı́mos que, num conjunto com quatro elementos podemos definir dois e apenas dois grupos
distintos (G, ?) e (G, ¦).
Que podemos dizer sobre os grupos de quatro elementos anteriormente referidos? É fácil ver
que a menos da designação dos elementos, (G, ?) é o grupo ({1, i, −1, −i}, ×) e (G, ¦) é o grupo
das simetrias do rectângulo. Os conjuntos subjacentes têm o mesmo número de elementos e esses
elementos combinam-se da mesma forma que os de (G, ?) e que os de (G, ¦), respectivamente.
Como traduzir estes factos? No primeiro caso, define-se uma função bijectiva
definida por f (e) = 1, f (a) = i, f (b) = −1 e f (c) = −i que transforma o composto de quaisquer
dois elementos x, y ∈ G no composto das suas imagens, isto é tal que f (x ? y) = f (x)f (y).
Analogamente, no segundo caso, é possı́vel definir uma função bijectiva, g : G → {e, r, s1 , s2 },
tomando g(e) = e, g(a) = r, g(b) = s1 e g(c) = s2 , tal que g(x ¦ y) = g(x) ◦ g(y).
Descrevemos situações deste tipo dizendo que os grupos correspondentes são isomorfos.
(G, ?) ∼
= (L, ª),
se existe uma função bijectiva f : G → L tal que f (x ? y) = f (x) ª f (y) para todos os elementos
x e y de G.
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Sugestão de consulta
4. Grupos Diedrais
Para n > 2, o conjunto das simetrias de um polı́gono regular de n lados é um grupo para
a composição de simetrias. Este tipo de grupo chama-se grupo diedral de ordem n e denota-
se por Dn . Ele é constituı́do por n rotações de 2kπn em torno do centro do polı́gono, para
k = 0, 1, 2, · · · n − 1, num dos sentidos (por exemplo, no sentido directo), e por n reflexões em
torno dos eixos de simetria do polı́gono. Denotando por r a rotação de 2π n , o conjunto das
rotações é
e, r, r2 , · · · , rn−1 .
Se s é a reflexão en torno de um eixo de simetria, então todas as outras reflexões são da forma
ri s para i = 1, · · · , n − 1. Portanto, temos que
sendo rn = e e s2 = e. Além disso, verifica-se que sr = rn−1 s ou seja sr = r−1 s, visto que
rn−1 = r−1 . Todos os outros produtos podem ser calculados a partir destas igualdades. Por
exemplo,
sr2 = srr = r−1 sr = r−2 s = rn−2 s
.
Para n=3 temos o grupo
D3 = {e, r, r2 , s, rs, r2 s}
· e r r2 s rs r2 s
e e r r2 s rs r2 s
r r r2 e rs r2 s s
r2 r2 e r r2 s s rs
s 2
s r s rs e r 2 r
rs rs 2
s r s r e r2
r2 s r2 s rs s r2 r e
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Da mesma forma, D4 = {e, r, r2 , r3 , s, rs, r2 s, r3 s} é o grupo de simetrias do quadrado,
D5 = {e, r, r2 , r3 , r4 , s, rs, r2 s, r3 s, r4 s} é o grupo de simetrias do pentágono regular, e assim
sucessivamente.
ra rb = rk e ra (rb s) = rk s, com k = a +n b
Diz-se que o conjunto {r, s} gera o grupo Dn , num sentido óbvio que tornaremos preciso
mais adiante.
O único elemento de um grupo que tem ordem um é o elemento neutro. No grupo Z ele é o
único elemento de ordem finita.
No grupo infinito C − {0}, existem elementos de ordem finita tais como i e −i (que têm
ordem quatro) e elementos de ordem infinita como, por exemplo 1 + i. Quais os elementos de
ordem finita deste grupo?
5. Subgrupos e Geradores
Existem subconjuntos do grupo
D6 = {e, r, r2 , r3 , r4 , r5 , s, rs, r2 s, r3 s, r4 s, r5 s}
que são, eles próprios, grupos relativamente à composição de simetrias. Esse é o caso dos
subconjuntos
H = {e, r, r2 , r3 , r4 , r5 }
e de
K = {e, r2 , r4 , s, r2 s, r4 s}.
Definição 5.1 Subgrupo de um grupo G é um subconjunto de G que tem, ele próprio, estrutura
de grupo relativamente à operação que define o grupo G.
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Os grupos G e {e} são subgrupos do grupo G, são os subgrupos triviais de G. Os restantes,
caso existam, chamam-se subgrupos próprios. Escreve-se H < G ou H ≤ G, consoante H denota
apenas um subgrupo próprio de G ou pode também ser subgrupo impróprio, respectivamente.
Exemplos 5.2 1. São subgrupos de Z todos os subconjuntos nZ = {nx|x ∈ Z}, com n inteiro
não negativo.
Isto é falso para conjuntos infinitos (por exemplo, N ⊂ Z satisfaz esta condição). No entanto,
este critério permite-nos concluir que subconjuntos finitos de grupos finitos ou infinitos são
subgrupos desde que sejam fechados para a operação. Exemplos de aplicação são os subconjuntos
de C − {0} das raı́zes de ı́ndice n da unidade.
é subgrupo de G. Ele é o subgrupo gerado por x. Se G =< x >, para algum dos seus elementos,
diz-se que G é grupo cı́clico.
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1. Z =< 1 >=< −1 >,
1. os grupos aditivos Q, R e C,
Os grupos Dn também não são cı́clicos. Basta ver que o máximo das ordens dos elementos do
grupo é n. No entanto, todo o elemento de Dn se pode escrever como um produto de potências
de r e de s.
Dado um subconjunto não vazio X de um grupo G, o conjunto
H = {x1 m1 x2 m2 · · · xk mk |xi ∈ X, mj ∈ N0 }
Um grupo G diz-se finitamente gerado se G =< X > para algum subconjunto finito X de G.
Exemplo 5.6 O grupo G das funções da recta real em si própria, f : R → R, que preservam
distâncias e transformam inteiros em inteiros, é finitamente gerado. De facto, G =< X > sendo
X = {t, s} com t(x) = x + 1 e s(x) = −x.
Este grupo é constituı́do por
· · · t−2 , t−1 , e, t, t2 , · · ·
e por
· · · t−2 s, t−1 s, s, ts, t2 s, · · ·
e, atendendo à sua semelhança com Dn , chama-se o grupo diedral infinito e denota-se por D∞ .
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Teorema 5.7 A intersecção de qualquer conjunto de subgrupos de um grupo G é subgrupo de
G.
Dado X ⊆ G,
< X >= ∩{H|H ≤ G e X ⊆ H},
uma outra forma de definir o subgrupo gerado por X.
Concluı́mos assim que os subgrupos do grupo aditivo dos inteiros são exactamente os sub-
grupos da forma nZ, para n ∈ N0 , referidos em 5.2.1.
6. Permutações
Por permutação de um conjunto X entende-se uma função bijectiva α : X → X. O conjunto SX
das permutações de X é um grupo para a composição de funções.
Subgrupos de grupos de permutações são exemplos universais de grupos no sentido que, como
demonstraremos mais tarde, todo o grupo é isomorfo a um subgrupo desse tipo.
Na permutação
11
1 2 3 4 5 6 7
α=
2 4 6 1 5 3 7
é (36), portanto
α = (124)(36)
visto que estas permutações têm o mesmo efeito sobre o conjunto dos sete primeiros números
naturais. Ciclos de comprimento um não se escrevem, em geral.
Como β = (124) e γ = (36) são ciclos disjuntos, α = βγ = γβ.
um grupo não comutativo, pois (12)(13) = (132) e (13)(12) = (123). Daqui se conclui que,
para n ≥ 3, Sn não é comutativo: a composição das transposições (12) e (13) de Sn , por ordens
diferentes, dá-nos ciclos diferentes de Sn .
Teorema 6.2 Todo o elemento α 6= ² de Sn se pode escrever de forma única, a menos da ordem
dos factores, como um produto de ciclos disjuntos.
Como (a1 a2 · · · ak ) = (a1 ak ) · · · (a1 a3 )(a1 a2 ), toda a permutação se pode escrever como
produto de transposições, ou seja
(ab) = (1a)(1b)(1a).
12
• {(12), (12 · · · n)}, porque
para k = 2, 3, · · · , n.
α = (123)(45)
= (13)(12)(45)
.
= (13)(12)(14)(15)(14)
= (23)(12)(23)(12)(34)(23)(12)(23)(34)(45)(34)(23)(12)(23)(34)(45)(34)(23)(12)(23)(34)
Consideremos o polinómio
Y
P = (xi − xj ).
1≤i<j≤n
Y
αP = (xα(i) − xα(j) ).
1≤i<j≤n
ζ : Sn → {1, −1}
tal que
(∗) ζ(α · β) = ζ(α) · ζ(β).
De facto,
(α · β)P = α(βP ) = α(ζ(β)P ) = ζ(β)(α(P )) = ζ(α)ζ(β)P.
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Como (1a) = (2a)(12)(2a) e (ab) = (1a)(1b)(1a), atendendo a (∗), toda a transposição tem
sinal -1. Usando mais uma vez (∗), concluimos que uma permutação tem sinal -1 se é ı́mpar e
sinal 1 se é par.
ϕ(α) = (12)α
Teorema 6.5 O subconjunto An das permutações pares é um subgrupo de Sn com ordem n!/2,
o grupo alternante de grau n.
O subgrupo An é gerado pelos ciclos de comprimento três pois, como toda a permutação
α ∈ An se pode escrever como produto de um número par de permutações da forma (1k),
agrupando essas transposições duas a duas temos (1a)(1b) = (1ba). De facto, concluı́mos que
(ii) α ◦ β = β ◦ α;
7. Homomorfismos e Isomorfismos
Definição 7.1 Uma função ϕ : G → G0 entre os conjuntos subjacentes de dois grupos é um
homomorfismo se ϕ(xy) = ϕ(x)ϕ(y), para todo o elemento x, y de G. Um isomorfismo, como já
vimos (3.1), é um homomorfismo bijectivo.
1. a função ϕ : Z → Zn que a cada inteiro faz corresponder o seu resto na divisão por n, com
n natural,
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2. a função ψ : R → C − {0} definida por ψ(x) = e2πxi ,
3. a função log : R+ → R,
1. ϕ(eG ) = eG0 ;
Entre dois grupos existe sempre o homomorfismo ϕ : G → G0 definido por ϕ(x) = eG0 . Em
alguns casos ele é o único homomorfismo entre os dois grupos. Por exemplo, de Z8 em Z3 existe
apenas o homomorfismo constante. Isso é consequência do seguinte facto:
1. G ∼
= G (1G é isomorfismo);
2. Se G ∼
= G0 então G0 ∼
= G (o inverso de um isomorfismo é um isomorfismo);
3. Se G ∼
= G0 e G0 ∼
= G00 então G ∼
= G00 (a composição de isomorfismos é isomorfismo).
Proposição 7.6 Grupos cı́clicos infinitos são isomorfos ao grupo aditivo dos inteiros. Grupos
cı́clicos de ordem m são isomorfos a Zm .
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Exemplos 7.7 São isomorfos
1. Z e nZ, para qualquer número natural n (isomorfismo definido por ϕ(x) = nx);
2. R+ e R (log : R+ → R é um isomorfismo);
Grupos isomorfos têm em comum várias propriedades, umas mais óbvias que outras. Por
exemplo, não são isomorfos
3. (Q, +) e (Q+ , ×): a equação x + x = b tem solução no grupo aditivo dos racionais Q para
todo o número racional b mas x2 = a só tem solução no grupo multiplicativo dos racionais
positivos, Q+ , se a for um quadrado perfeito;
Exercı́cio 7.8 Prove que se ϕ : G → G0 é um isomorfismo, então x e ϕ(x) têm a mesma ordem,
para todo o x ∈ G.
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Teorema 8.1 Teorema de Cayley Se G é grupo então ele é isomorfo a um subgrupo de SG .
Em particular, se G tem ordem n então G é isomorfo a um subgrupo de Sn .
Exemplo 8.2 O grupo Z4 é isomorfo ao subgrupo de S4 (das permutações do conjunto {0, 1, 2, 3})
constituı́do por L0 = ε, L1 = (0123), L2 = (02)(13) e L3 = (0321), sendo La (x) = a + x.
Sugestão de consulta
Sólidos Platónicos:
http://en.wikipedia.org/wiki/Platonic-solids
http://math.ucr.edu/home/baez/platonic.html
9. Grupos de Matrizes
No conjunto Mn das matrizes n × n com elementos reais (ou complexos) a multiplicação de
matrizes é uma operação binária e associativa que tem como elemento neutro a matriz identidade
In . Ele não é um grupo visto que nem todas as matrizes têm inversa. Temos uma estrutura
mais geral, que se chama monóide. O monóide multiplicativo Mn é isomorfo ao monóide das
transformações lineares Tn de Rn em Rn . De facto, existe uma função bijectiva
ϕ : Mn → Tn
que a cada matriz A faz corresponder a aplicação linear definida por ϕA (x) = xAt , sendo x o
vector (x1 , x2 , · · · xn ) e At a matriz transposta de A. Além disso, ϕ(AB) = ϕ(A) ◦ ϕ(B) visto
que
ϕAB (x) = x(AB)t
= xB t At
= ϕA ◦ ϕB (x)
e ϕIn é a transformação identidade id : Rn → Rn .
O subconjunto GLn de Mn constituı́do pelas matrizes invertı́veis é um grupo, o Grupo Linear
Geral.
A restrição de ϕ a GLn define um isomorfismo entre o grupo GLn e o grupo das trans-
formações lineares invertı́veis de Rn em Rn .
Para n = 1, GL1 é isomorfo a R − {0}. Para n > 1 temos uma sucessão de grupos não
comutativos
GL2 , GL3 , · · · GLn , GLn+1 , · · · ,
em que cada GLn é isomorfo ao subgrupo de GLn+1 constituı́do pelas matrizes da forma
" #
A 0
0 1
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para A ∈ GLn .
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Exemplos 10.1 (i) S3 × Z2 é um grupo não comutativo de ordem 12;
(ii) Z2 × Z2 é isomorfo ao grupo das simetrias do rectângulo;
∼ Z6 ;
(iii) Z2 × Z3 =
(iv) Z × Z não é cı́clico.
O grupo On , com n ı́mpar, pode decompor-se num produto de dois dos seus subgrupos:
φ : SO3 × {I, J} → O3
2. H ∩ K = {e},
3. hk = kh para todo o h ∈ H e k ∈ K,
então G é isomorfo a H × K.
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11. Teorema de Lagrange
Se H é subgrupo de um grupo G, classe lateral esquerda de H em G é um subconjunto da forma
aH = {ah|h ∈ H}
Ha = {ha|h ∈ H},
para a ∈ G.
Um grupo G é a união das classes laterais esquerdas distintas aH e |aH| = |H| (e o mesmo
para classes laterais direitas). Daı́ se conclui que, se G finito, |G| = n|H|, para algum inteiro n.
Se n é um inteiro positivo então Zn − {0}, que se denota por Z∗n , é grupo para a multiplicação
módulo n se e só se n é primo. Se n = mk então em Zn − {0} a multiplicação módulo n não é
uma operação: m ×n k = 0.
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No entanto, no subconjunto Rn constituı́do pelos inteiros 1 ≤ m ≤ n − 1 que são primos com
n a multiplicação módulo n é fechada e Rn é grupo para essa operação. A ordem de Rn é ϕ(n),
a função ϕ de Euler.
Se x é primo com n então o resto da sua divisão por n, x(modn), pertence a Rn . Atendendo
a que ϕ(n) = |Rn | e que ϕ(p) = p − 1 se p é primo, por 11.3, obtêm-se os seguintes resultados:
Teorema 11.7 (Teorema de Euler) Se x é primo com n então xϕ(n) é congruente com 1
módulo n.
Z = nZ ∪ nZ + 1 ∪ · · · ∪ nZ + (n − 1).
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Estas classes de equivalência têm uma propridade adicional muito importante, já utilizada
no Teorema de Lagrange para o caso finito. Ela diz-nos que todas as classes laterais
esquerdas e direitas têm o cardinal de H. Para provar essa afirmação basta ver que, para
cada a ∈ G, as funções La : H → aH definidas por La (h) = ah e Ra : H → Ha definidas
por Ra (h) = ha são bijectivas.
Temos portanto que se H é um subgrupo de G então a relação de definida por a ∼ b se
a−1 b ∈ H ( assim como a ∼ b se ab−1 ∈ H) é um relação de equivalência.
O recı́proco é também verdadeiro. Assim temos que : Um subconjunto não vazio H ⊆ G
é subgrupo de G se e só se
a ∼ b se a−1 b ∈ H
( ou se ab−1 ∈ H) é uma relação de equivalência em G.
Este teorema diz-nos que um grupo G de ordem seis tem um elemento x de ordem três e um
elemento y de ordem dois.
Seja H = {e, x, x2 } o subgrupo gerado por x e Hy = {y, xy, x2 y} a outra classe lateral direita
de H em G. Então G = H ∪ Hy.
Como o elemento yx não pertence a H e yx 6= y ficam duas possibilidades:
2. yx = x2 y, sendo então G ∼
= D3 .
Este teorema está também na base da classificação dos grupos de ordem oito.
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14. Conjugação
Dois elementos x e y de um grupo G são conjugados se gxg −1 = y, para algum g ∈ G. A relação
de conjugação é uma relação de equivalência cujas classes de equivalência se designam por classes
de conjugação (Exemplo 12.1.4).
Para um elemento g ∈ G a função ϕg : G → G definida por φg (x) = gxg −1 é um isomorfismo
chamado conjugação por g. Como isomorfismos preservam a ordem dos elementos do grupo,
elementos da mesma classe de conjugação têm a mesma ordem.
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Pretendemos provar que gαg −1 tem k ciclos com o mesmo comprimento. Como
um ciclo com o mesmo comprimento s. De facto gcg −1 leva g(ai ) para ai , depois ai para
ai+1 e, finalmente, ai+1 para g(ai+1 ).
Se existe um número m que não pertence ao conjunto {g(a1 ), g(a2 ), · · · , g(as )} então
gcg −1 (m) = m. Basta ver que gcg −1 só move elementos da forma ai = g −1 (g(ai )) e,
como m não é um dos g(ai ), g −1 (m) não é da forma indicada. Provámos assim que a
conjugação por um elemento g ∈ Sn preserva a estrutura de ciclo.
{²},
{²},
Por exemplo, não existe g ∈ A4 para o qual g(123)g −1 = (132): uma tal permutação é
necessariamente ı́mpar.
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6. Sendo " #
cosθ −sinθ
Aθ = ,
sinθ cosθ
" #
cosϕ sinϕ
Bϕ =
sinϕ −cosϕ
as classes de conjugação de O2 são
{I}, {Aθ , A−θ }, {Aπ } e {Bϕ }, para 0 < θ < π e 0 ≤ ϕ < 2π.
O centro de um grupo G é o conjunto Z(G) dos elementos que comutam com todos o elemento
de G:
Z(G) = {g|gx = xg para todo o x ∈ G}.
2. de D6 é {e, r3 };
Exemplo 15.1 O subgrupo H = {², (13)} de S3 não é normal pois não contém a classe de
conjugação de (13).
Já K = {², (123), (132)} é subgrupo normal de S3 : ele é constituı́do por duas classes de
conjugação.
Este tipo de subgrupo é muito importante porque o conjunto das suas classes laterais esquer-
das, que neste caso são também classes laterais direitas, tem uma estrutura natural de grupo, o
que significa que aH · bH = abH é uma operação nesse conjunto.
Todo o subgrupo de um grupo abeliano é normal visto que, para grupos deste tipo, as classes
de conjugação são conjuntos singulares.
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Proposição 15.2 Para um subgrupo H de um grupo G são equivalentes:
(i) H é subgrupo normal de G;
(ii) gHg −1 ⊆ H para todo o g ∈ G;
(iii) gH = Hg para todo o g ∈ G.
Teorema 15.3 Se H é subgrupo normal de G, então o conjunto das classes laterais é grupo
para a multiplicação definida por aH · bH = abH. O subgrupo H é o elemento neutro deste
grupo e o inverso de aH é a−1 H.
O grupo das classes laterais chama-se o grupo quociente de G por H e denota-se por G/H.
Exemplo 15.4 No grupo diedral D4 o subgrupo H = {², r2 } é subgrupo normal: ele é reunião
das classes de conjugação {²} e {r2 }. As suas classes laterais são
Assim, o grupo quociente tem ordem quatro G/H = {H, rH, sH, rsH} e é fácil ver que é isomorfo
a Z2 × Z2 .
Exemplos 15.6 Temos que [G : H] = 2 para os grupos e subgrupos a seguir indicados, pelo que
concluimos que
1. An é subgrupo normal de Sn ;
Podemos agora caracterizar, a menos de isomorfismo, os grupos de ordem 2p, para p > 2
primo.
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Teorema 15.8 O subgrupo comutador [G, G] é subgrupo normal de G e G/[G, G] é abeliano.
Além disso, se H C G então G/H é abeliano se e só se [G, G] ⊆ H.
Grupos cı́clicos finitos Zn tem imagens homomorfas de ordem d para todo o divisor d de n.
De facto, se n = md,
- Zn tem um, e um só, subgrupo H de ordem m que é o subgrupo gerado por d ( e < d >∼
= Zm );
- H é normal porque Zn é abeliano;
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- a projecção canónica p : Zn → Zn /H definida por p(x) = x + H é um homomorfismo
sobrejectivo cuja imagem tem ordem
|Zn |
[Zn : H] = = p.
|H|
Teorema 16.4 (Segundo Teorema de Isomorfismo) Sejam H e K subgrupos de G. Se K
é subgrupo normal, então
• HK é subgrupo de G,
• H ∩ K é subgrupo normal de H,
portanto, H/H ∩ K ∼
= HK/K
(Z/6Z)/(3Z/6Z) ∼
= Z/3Z.
(g1 g2 ) · x = g1 · (g2 · x) e e · x = x,
28
Exemplos 17.1 Actuam sobre o plano R2
O mesmo grupo G pode actuar sobre um conjunto X de mais do que uma forma.
Dada uma acção do grupo G num conjunto X, se x, y pertencem à mesma órbita, isto é se
existe um elemento g ∈ G tal que g(x) = y, então gGx g −1 = Gy .
Teorema 17.4 Para cada elemento x ∈ X, a função que a cada g(x) faz corresponder a classe
lateral gGx é bijectiva, portanto |G(x)| = [G : Gx ].
Corolário 17.5 Se G é finito o número de elementos de cada órbita |G(x)| divide a ordem de
G.
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Os grupos de ordem 22 são isomorfos a Z4 ou a Z2 × Z2 e o mesmo se verifica para grupos
de ordem p2 , com qualquer p primo.
Exemplo 17.8 Pintando as faces de um cubo de verde ou de vermelho quantos cubos distintos
podemos obter?
No conjunto X dos 26 cubos coloridos, dois cubos são distintos se e só se um não podem ser
obtido do outro por uma rotação.
Considerando a acção do grupo das rotações do cubo sobre X vemos que dois cubos são
distintos neste sentido se e só se estão em órbitas distintas.
O teorema que se segue diz-nos como contar as órbitas e o seguinte que basta calcular o
número de elementos de X g para um único elemento de cada classe de conjugação.
1
(6 × 23 + 3 × 24 + 8 × 22 + 6 × 23 + 26 ) = 10
24
Conclusão: desta forma podemos decorar 10 cubos distintos.
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Teorema 18.2 Dois subgrupos da ordem pm de G são conjugados.
Exemplo 18.3 É fácil ver que os três subrupos de ordem dois de S3 são conjugados: se, além
do elemento neutro, H1 , H2 e H3 contêm (12), (13) e (23), respectivamente, então
Exemplo 18.5 Se |G| = 6, o número de subgrupos de ordem dois é t ≡ 1(mod2) tal que t|3.
Então t = 1 ou t = 3. No primeiro caso G ∼
= Z6 e no segundo G ≡ S3 .
t ≡ 1(mod 3) e t|5,
Exemplo 18.8 Pelo resultado anterior, concluı́mos que são cı́clicos os grupos de ordem 15, 33,
35, 51, 65, 69, 85, etc..
Grupos dicı́clicos
Se m > 2 é um inteiro, no conjunto de 4m elementos
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19. Grupos Abelianos Finitamente Gerados
Teorema 19.1 Todo o grupo abeliano finitamente gerado é isomorfo a um produto directo de
grupos cı́clicos
Zn1 × Zn2 × · · · × Znk × Zs ,
tal que n1 |n2 | · · · |nk .
Corolário 19.2 Todo o grupo abeliano finito é isomorfo a um produto directo de grupos cı́clicos
Corolário 19.3 Todo o grupo abeliano finitamente gerado que não tenha elementos de ordem
finita é isomorfo ao produto directo de um número finito de cópias de Z.
Estes resultados dão-nos uma classificação completa dos grupos abelianos finitamente gera-
dos. De facto a decomposição indicada é única:
Um grupo abeliano finito G admite dois tipos diferentes de decomposição no produto directo
de grupos cı́clicos:
1. G ∼
= Zn1 × Zn2 × · · · × Znk , sendo n1 |n2 | · · · |nk os seus factores invariantes;
2. G ∼
= Zp1 α1 × Zp2 α2 × · · · × Zps αs , onde os primos pi não são necessáriamente distintos e as
potências pi αi se chamam os divisores elementares de G.
1. Divisores elementares 2, 2, 2, 5: Z2 ×Z2 ×Z2 ×Z5 . Factores invariantes 2, 2, 10: Z2 ×Z2 ×Z10 .
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