Guia de Artigos Científicos

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GUIA de ESTUDOS
Percursos iniciais à construção de
artigos científicos

Rosana Abutakka

Michèle Sato

Curso de Especialização PROGRAMA ESCOLA DA TERRA:


"Práticas Pedagógicas na Educação do Campo:
professores que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental"

GUIA DE ESTUDOS: Percursos iniciais à construção de artigos científicos

Cuiabá: Instituto de Educação, UFMT


2022

2
Prezado (a) Cursista,
No decorrer dessa caminhada de aprendizado, de interação, de
colaboração e de estudos, chegamos nas semanas finais do
nosso curso. Neste momento, de suma importância, você tem o
propósito de construir o seu trabalho monográfico, materializado
pela produção de um artigo científico e que representa o
resultado da sua jornada formativa, já que da entrega de uma
monografia, dependerá o título de ESPECIALISTA.

Exigirá esforços, mas estaremos com você nessa travessia!

Pensando nisso, elaboramos este Guia, que tem como objetivo te auxiliar no
planejamento, organização, construção e escrita do seu artigo científico. Por meio
desta proposta, você terá subsídios para entender aspectos como: o que considerar
no artigo científico; como organizar um texto científico; como publicar em uma
revista científica; como ocorrem os trâmites editoriais, entre outras informações.

Desde já, gostaríamos de chamar a atenção a respeito da abordagem conceitual do


curso, que atravessa o agenciamento das NARRATIVAS. Por isso, é interessante e
importante pensarmos numa pesquisa com esta abordagem. No Guia, colocaremos
à disposição alguns entendimentos sobre a pesquisa narrativa, bem como textos que
auxiliarão na compreensão do tema e na produção de seu artigo.

Ademais, convém destacar que existem várias ciências importantes - e nem todas
nasceram ou moram na academia - assim, os diálogos entre as diversas
epistemologias são essenciais, em especial ao considerarmos as práticas
pedagógicas na educação do campo e suas narrativas.

Nós, professoras Michèle e Rosana, seguiremos esse percurso contigo como


orientadoras dos artigos científicos, e apostamos nas proficientes e brilhantes
produções que virão.

E então, vamos iniciar nosso diálogo e construção coletiva?

Rosana e Michèle

3
SUMÁRIO

1. Um pouco sobre artigo científico e publicação 5

Mas… para que publicar? – 6


Publicar é democratizar o conhecimento! - 7

2. Pesquisa narrativa - apenas um preâmbulo 10

Artigos e exemplos - 12

3. O artigo - conjecturas 14

Roteiro básico – 15
Fica a dica - 16
Revistas científicas / área da educação - 17

4. Dinâmica de orientação 19

Referências 20

Texto: Rosana Abutakka e Michèle Sato


Pinturas: Gildásio Jardim
Arte gráfica: Michèle Sato

4
1. Um pouco sobre artigo científico e publicação
Não há receitas para se publicar, do contrário não existiria esta
corrida atrás de publicações. Não temos a intenção de detalhar
os aprofundamentos teóricos e conceituais sobre o que venha ser
um artigo científico, mas apresentar somente um panorama
breve de repertórios, para facilitar a compreensão do que seja
um artigo científico, contribuindo com a sua produção de um
artigo, como parte importante do curso de especialização.

Bem, como o próprio nome já nos revela, o ‘artigo científico’ caracteriza-se por um
texto elaborado com a função de relatar os resultados de uma dada pesquisa, sendo
esses resultados pautados de originalidade, mas também no registro de uma
singularidade. Dessa maneira, o artigo, que é materializado sob a forma de um relato
acerca dos resultados originais de um estudo, torna-se conhecido por meio de
publicações em revistas científicas.

Um artigo segue algumas regras de publicação porque no mundo das ciências, houve
a necessidade de utilizar uma linguagem em comum, pois isso facilitaria a
comunicação e a divulgação de maneira mais coerente e universal. Obviamente, há
distintas formas de artigos, desde fórmulas matemáticas à reinvenção poética.

Aqui no Brasil, somos regidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas1 (ABNT,
2003, p. 2), que em umas de suas definições, apresenta o entendimento de artigo
científico como “parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e
discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do
conhecimento”. Portanto, o artigo científico apresenta os resultados de uma
pesquisa, sendo uma fonte importantíssima para disseminar conhecimentos.

Conforme Lakatos e Marconi (1991), o artigo científico pode ser definido como um
pequeno estudo, porém completo, que trata de uma questão verdadeiramente
científica, mas que não se constitui em matéria de um livro, o artigo pode publicado
em revistas ou periódicos especializados e deve conter dados suficientes para que o
leitor possa analisar os argumentos do autor; avaliar o peso científico da pesquisa e
precisa estar disponível para a comunidade acadêmica.

1
https://www.abnt.org.br/

5
Nesse sentido, é importante distinguir a monografia, comumente também chamada
de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso2) de um artigo científico. A monografia é
um trabalho mais extenso, que expressa os resultados de uma pesquisa com um
tema único, ela segue um formato e uma estrutura lógica, comumente pautada no
método científico, apresentando dados e até hipóteses, como também detalha o
percurso metodológico desenvolvido e resultados da pesquisa. Já o artigo científico
é também um trabalho monográfico, mas apresentado de forma objetiva e sintética,
ele segue os critérios da pesquisa para sua elaboração e apresentação, sendo um
texto que pode ser disseminado pela publicação em revistas científicas ou em
eventos com aderência à sua temática de pesquisa.

Observe que é prática habitual, na finalização de um curso de pós-graduação, que o


estudante apresente um trabalho final que congregue tudo aquilo que foi apreendido
durante sua trajetória formativa, como também o que foi pesquisado e analisado,
sendo o registro da pesquisa consolidado em um artefato. Em nosso caso, esse
artefato será o artigo científico, que expressa o resultado da sua caminhada de
aprendizado e pesquisa, com potencialidade de publicação.

Mas… para que publicar?

A publicação é uma maneira de divulgar à comunidade científica os resultados de


conhecimentos em uma determinada área, mas também auxilia no desenvolvimento
e aprofundamentos de novas pesquisas, aprimoramento de novas técnicas e
métodos de análise nas diversas áreas da ciência. É importante mencionar, ainda,
que a publicação é uma forma de aumentar o prestígio do autor, com
reconhecimento na comunidade acadêmico-científica.

Para você que está cursando uma pós-graduação, em nível de especialização,


pesquisar e publicar auxilia no entendimento mais acurado de um determinado

2
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/blog/tcc/o-que-e-tcc

6
assunto do curso, com perspectivas de melhorar o seu rendimento acadêmico,
agregar valor para o seu currículo profissional no campo da docência, com a
possibilidade de auxiliar no acesso em programas de iniciação científica e pós-
graduação stricto sensu (mestrado e doutorado).

Mas, dentre outras justificativas possíveis que nos levam a publicar um artigo
científico, certamente está o ganho social.
 Publicar, em especial no campo da educação, é também dar visibilidade aos
povos, comunidades e grupos sociais, que porventura estejam em situação de
vulnerabilidade.
 Publicar é revelar as injustiças e as desigualdades de diferentes ordens e
contextos, diminuindo as violações de direitos humanos e igualmente da
natureza.
 Publicar é também revelar um excelente trabalho realizado em uma
determinada escola ou comunidade, com belos processos de aprendizagens.
 Publicar é narrar histórias e expressar vivências, permitindo que a
subjetividade também consiga dialogar com a razão.
 Publicar é um compromisso social, um engajamento com a nossa educação e
uma responsabilidade perante o mundo.

Publicar é democratizar o conhecimento!

Nesse cenário, é importante então considerar “Onde publicar?". De maneira


resumida, podemos dizer que há dois caminhos possíveis para publicar seu artigo,
quer seja em anais de eventos (nacionais/internacionais), ou em revistas científicas.
A opção por publicar em eventos é interessante pela socialização da pesquisa, trocas
de experiências, redes de contatos e diálogos com seus pares durante o evento. No
entanto, a publicação em uma revista científica tem um alcance maior de distribuição
do seu artigo científico de maneira global, haja vista os indexadores on-line que
atualmente reúnem um conjunto de títulos de periódicos e, impulsionados pela
internet e seus buscadores, possibilitam aos leitores o acesso amplo do seu artigo.

7
Apenas a título de ilustração, podemos mencionar como indexadores extensamente
conhecidos de temática geral, o SciELO3 (nacional) e a Web of Science4
(internacional). Você também pode localizar uma lista de indexadores de uma área
específica, por meio do Portal de Periódicos da Capes5. Mas veja, indexador não é o
mesmo que revista científica, como a palavra anuncia, indexador organiza e lista um
conjunto de revistas.

Seguindo com o nosso assunto, gostaríamos de pontuar a questão dos periódicos e


revistas científicas, que na verdade são sinônimos, levando em conta que os
periódicos e as revistas científicas são publicações com periodicidade que se
dedicam aos conhecimentos científicos. Conforme a ABNT (2002, p.2), o periódico
científico é “uma publicação em qualquer tipo de suporte, editada em unidades
físicas sucessivas, com designações numéricas e/ou cronológicas e destinada a ser
continuada indefinidamente”. Assim, nos periódicos são publicados artigos
científicos, resumos, resenhas, relatos de experiências, sendo que os artigos
científicos formam a seção principal dos periódicos.

Outro aspecto importante ao escolher uma revista para publicar seu artigo científico,
para além da aderência à temática de sua pesquisa, é verificar a classificação do
periódico. Você já deve ter ouvido falar na conhecida classificação Qualis Capes, não
é? Pois bem, o Qualis Capes oferece uma classificação de periódicos que retratam o
produto intelectual dos programas de pós-graduação brasileiros das diversas áreas
do conhecimento, e faz parte da Plataforma Sucupira6, que abarca vários sistemas e
funcionalidades oferecidos pelo Ministério da Educação (MEC).

A classificação é realizada pelos comitês de consultores de cada área de avaliação,


seguindo critérios previamente definidos e aprovados pelo Conselho Técnico-
Científico da Educação Superior 7 (CTC-ES), que procuram refletir a importância dos
diferentes periódicos para uma determinada área. Sendo assim, o método de análise
foi criado para classificar a qualidade dos artigos e das pesquisas científicas e como
resultado, uma lista com a classificação é disponibilizada e pode ser acessada por
quem deseja conhecer os periódicos que apresentam um bom conteúdo. Na
Classificação de 2017-2020, os veículos poderão ser classificados nos seguintes
estratos: A1, mais elevado; A2; A3; A4; B1; B2; B3; B4; C - peso zero.

3
https://www.scielo.br/
4
https://clarivate.com/webofsciencegroup/solutions/web-of-science/
5
https://sucupira.capes.gov.br/
6
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/
7
https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/conselho-tecnico-cientifico-
da-educacao-superior

8
Mais adiante, em nosso Guia, disponibilizamos para você uma pequena lista de
revistas científicas para que as considerem como possíveis veículos de publicação do
seu artigo. Mas caso queira fazer uma busca na listagem completa, basta acessar na
Plataforma Sucupira na área Qualis Periódicos8.

Prosseguindo…vamos agora abordar um aspecto relevante para a construção do seu


artigo, e tem relação com a proposta metodológica a ser adotada. Como já
mencionamos, por conta da natureza do nosso curso e de suas especificidades da
prática docente, trabalharemos com o método da pesquisa narrativa. O
agenciamento das narrativas subsidiará desde o planejamento, organização de
informações, até a escrita do seu artigo científico. Então, é chegado o momento de
conhecermos um pouquinho sobre a pesquisa narrativa, vamos lá?

8
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsul
taGeralPeriodicos.jsf

9
2. Pesquisa narrativa - apenas um preâmbulo
Cada pesquisa possui sua singularidade, seu contexto, seu
percurso, sua experiência... A travessia do pesquisador, no
decorrer do desenvolvimento de uma pesquisa é uma história
única que é construída pelos caminhos trilhados e percorridos,
sendo que cada caminho não é um dado fixo e determinado,
senão rotas que se formam, expandem e entrecruzam na ação
de pesquisar.

Uma pesquisa narrativa é uma escuta de um relato de histórias sobre pessoas,


natureza, arte ou essências para compreender um determinado fenômeno. É
também uma revisitação pretérita que pode ser real ou imaginária, rompendo a
linearidade do tempo, permitindo fluir e ressignificar com novos atributos. Os
procedimentos destes relatos sensíveis podem ser oralizados, escritos, desenhados,
ouvidos ou simbolizados, dependendo dos procedimentos adotados na pesquisa
(CLANDININ & CONNELLY, 2000; PAIVA, 2008).

É importante considerarmos que a pesquisa narrativa nos possibilitará visualizar as


singularidades e sensibilidades do campo pesquisado. Imbuir na pesquisa narrativa
é ter compreensão da ideia de vivência implicada no pesquisador, isto é, produzir um
escrito da vida que reflete um fazer minucioso, artístico com o protagonismo de
quem conta e de quem ouve uma história. Ambos são afetados nessa relação
dialógica.

Com isso, a idealização de narrar se afasta de um processo passivo apenas de escuta,


de coleta, de análise de dados e que coaduna num resultado. Mas, por meio das
narrativas, você é autor de uma produção e com seus dispositivos vividos, o narrar
se institui como uma afirmação da vida cíclica em que estamos implicados nela e
produzindo uma verdade. Nesse sentido, Clandinin e Connelly (2015, p. 120)
ressaltam que:
Quando pesquisadores narrativos estão em campo, eles nunca estão ali
como mentes (sem corpo) registradoras da experiência de alguém. Eles
também estão vivenciando uma experiência, qual seja: a experiência da
pesquisa que envolve a experiência que eles desejam investigar. A
experiência da narrativa do pesquisador é sempre dual, é sempre o
pesquisador vivenciando a experiência e também sendo parte da própria
experiência. [...], ou seja, nós os pesquisadores narrativos fazemos parte do
desfile que presumimos estudar.

10
Monteiro (2020, p.4), afirma que narrar é uma forma de compreender a experiência
vivida, “em um lugar e em um tempo determinado aos quais se reporta o narrador
em um processo que envolve reflexão, propiciando um outro olhar sobre suas
próprias experiências”. A autora afirma que, a experiência de narrar precisa ser
compreendida a partir de si mesma, pela sua história de vida e formação, sendo
oportuno salientar que esse processo de construir conhecimento e propor processos
formativos busca romper com “fronteiras teórico-metodológicas reducionistas e
formalistas que permeiam o contexto educacional, considerando que há
indiscutivelmente um enriquecimento de perspectiva” (MONTEIRO, 2020, p. 4).

Levando em conta a natureza das práticas pedagógicas que ocorrem na educação


do campo, sendo os professores implicados nessa vivência pela atuação nos anos
iniciais do ensino fundamental, o propósito aqui é atentar para investigações que
tomam a pesquisa narrativa com o objetivo de compreender e desvelar experiências
do profissional docente. Assim, a pesquisa narrativa também contribuiu para olhar a
ação docente sem, contudo, tratar de forma objetiva questões repletas de
subjetividade humana. (MONTEIRO, 2020, p. 3).

11
Outro aspecto relevante que precisamos ter atenção, ao considerarmos o
agenciamento das narrativas, é entender o lugar dos participantes da pesquisa. É
comum denominar os participantes como sujeitos ou colaboradores da pesquisa, no
entanto, na pesquisa narrativa “as pessoas são vistas como a corporificação de
histórias vividas.” (CLANDININ; CONNELLY, 2015, p. 77).

Conforme expressam Clandinin e Connelly (2015), ainda que os pesquisadores


narrativos venham estudar narrativas institucionais, como as histórias da escola, as
pessoas envolvidas direta ou indiretamente são encaradas como vidas compostas
que constituem e são constituídas por narrativas sociais e culturais.

A isso, Monteiro e Aimi (2020, p. 8) reiteram afirmando que as pessoas têm um “lugar
especial na pesquisa narrativa”. E, portanto, é considerado participante da pesquisa
“alguém que colabora, narrando suas trajetórias formativas, e não um mero
colaborador ou sujeito que fornece informações a outros.”

Como consta no título desta seção do nosso Guia, trazemos um preâmbulo da


pesquisa narrativa, um anúncio do que venha a ser esse método de investigação, até
porque seria impossível dar conta desse tema que é tão vasto, múltiplo e rico neste
pequeno guia. No entanto, gostaríamos de deixar como sugestão de leitura para
aprofundamento do assunto, dois artigos que estão disponíveis na internet, e dizer
ainda que no decorrer das orientações iremos revisitar os entendimentos que
balizam a pesquisa narrativa para te auxiliar na elaboração do seu artigo científico.

● Artigo 1 - Pesquisa narrativa: reflexões sobre produções dos últimos 14 anos


- Autoras: Deusodete Rita da Silva Aimi e Filomena Maria de Arruda Monteiro).
Acesso em: https://periodicos.ufv.br/educacaoemperspectiva/article/view/8403/5883

● Artigo 2 - Entre experiências e saberes: narrativas de professoras em


exercício nos anos iniciais - Autora: Filomena Maria de Arruda Monteiro - Acesso
em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-795X.2020.e63314

● Artigo 3 - Entre a vida e a formação: pesquisa (auto)biográfica, docência e


profissionalização. Autores: Maria da Conceição Passeggi; Elizeu Clementino de
Souza e Paula Perin Vicentini. Acesso em:
https://www.scielo.br/j/edur/a/hkW4KnyMh7Z4wzmLcnLcPmg/

12
De mais a mais, pensando em te auxiliar nesse processo de entendimentos da
pesquisa narrativa, disponibilizamos os textos abaixo para que possa visualizar
exemplos de artigos científicos que se apoiaram nesse método e concretizaram sua
escrita, clique e confira:

Exemplo 1 - A experiência epistolar de investigadores narrativos: conversando


e cartografando vidas, biografias e existências - Autores: Danise Grangeiro e
Tiago Ribeiro. Acesso em:
https://www.revistas.uneb.br/index.php/pontosdeint/article/view/14402

Exemplo 2 - A escola pública e suas fagulhas instituintes - Autoras: Carolina


Brito, Célia Linhares e Marina Praça. Acesso em:
https://periodicos.uff.br/revistaleph/article/view/38990/22429

Observe que na redação dos textos que deixamos como exemplos, as regras rígidas
do método científico são por vezes ressignificadas por um texto fluido, que
transborda a fixidez da academia e se forja numa escrita narrativa de cunho artístico,
vivido e cíclico.

Dessa forma, um texto de pesquisa narrativa não é apenas um texto! É uma


narração vital! Sem escrúpulos ou a menor cerimônia, trata-se de uma
narrativa que rasga os horizontes limitantes da escrita acadêmica; golpeia
os cânones, não como forma de desobediência ou transgressão, mas, antes,
como possibilidade de afirmação de uma existência potente no mundo, em
primeira pessoa! (GRANGEIRO e RIBEIRO, 2020, p. 431).

No entanto, não podemos deixar de lado que o seu artigo será publicado em uma
revista científica e, com isso, as regras de publicação não podem ser inteiramente
desconsideradas, sob pena de uma recusa do seu texto.

Pensando nisso, passamos para o próximo assunto do nosso Guia Orientativo, e que
está relacionado aos aspectos do planejamento do artigo científico, organização e
escrita.

Sigamos…

13
3. O artigo - conjecturas
Para começar é preciso pensar num tema relacionado à
educação do campo e às narrativas. Considere suas vivências,
contextos e cotidiano escolar, alguma experiência singular da
escola, algum projeto, algum acontecimento…

Atenção! Dependendo da abordagem escolhida para o seu artigo,


as buscas pelas revistas desta determinada área se fazem
necessárias, até para verificação de prazos, regras e outros
detalhes.

Geralmente, as revistas possuem "template", isto é, um modelo próprio em formato


word, e o seu texto deve seguir o modelo estabelecido pela revista. Outro ponto
importante é a revisão ortográfica e gramatical do seu artigo, é preciso pagar um
profissional que corrija a língua portuguesa, além das regras da ABNT. Além disso, é
preciso tomar cuidado com as regras do periódico, pois qualquer deslize pode ser
motivo de recusa pelos avaliadores.
Confira uma lista de revisores: https://gpeaufmt.blogspot.com/p/revisorxs.html

A vastíssima maioria das revistas exige que o texto seja fruto de uma pesquisa, não
podendo ser um simples ensaio teórico. A rigidez das revistas é para garantir alto
grau de fidedignidade da pesquisa, permitindo que a lisura científica não seja afetada
facilmente. Obviamente nenhuma ciência é neutra, contudo, ainda temos uma
ciência robusta, credível e importante em tempos de negacionismo e “pós-verdade”.
Portanto, para conseguir escrever um bom texto, precisamos de uma pesquisa! Por
intermédio dela, teremos informações e formações que nos permitem escrever com
mais facilidade. O grande segredo de uma pesquisa chama-se LEITURA! Por vezes é
um caminho solitário de muitos estudos, mas essencial à nossa formação e
habilidade em escrever bem os resultados de uma pesquisa. O modelo mais bem
aceito aos artigos científicos segue uma ordem cartesiana básica (com 10 a 15
páginas).

O modelo abaixo é somente um exemplo, que não precisa ser cumprido 'à risca'. É
somente um roteiro básico que a ciência encontrou e chamou de MÉTODO
CIENTÍFICO. Contudo, outras inovações podem ser construídas, dependendo das
regras da revista e da capacidade de cada pessoa em conseguir RESSIGNIFICAR
novos jeitos de se escrever as ciências contemporâneas.

14
Roteiro Básico do Artigo
TÍTULO Deve expressar o contexto do texto e da pesquisa, sem ser muito
longo, mas criativo para despertar a curiosidade e ser um convite à
leitura.

RESUMO e No resumo, não é possível fazer referências, nem tecer elementos


ABSTRACT teóricos. É importante apenas situar a pesquisa com seus objetivos,
metodologia e resultados de forma bem abreviada e compreensível.
Saiba escolher bem as 3 ou 5 palavras-chave que expressam bem os
estudos realizados.

INTRODUÇÃO Logo de início, situar os objetivos da pesquisa de forma breve, então


(20%) iniciar o debate conceitual, igualmente de forma breve, que justifique
a pesquisa. Referências em educação do campo e citação de autores
consagrados na área escolhida fazem-se essenciais. É preciso
escolher autores que dialoguem com a abordagem da pesquisa
escolhida. Observar que não existe PRODUÇÃO do saber nesta seção,
mas uma sistematização da literatura. Por isso, não exagere na
extensão, dedique uns 20% do trabalho.

OBJETIVOS Detalhar os objetivos, de modo exaustivo, sem necessidade de


(15%) segregar objetivos gerais e específicos. Lançar hipóteses, conjecturas
e suposições teóricas que sustentem a importância da pesquisa
escolhida. Descrever o local, utilizar mapas ou fotografias,
caracterizando os detalhes importantes da pesquisa. Por exemplo, se
for na escola, caracterizar a escola: origem, localização, história e
demais detalhes. Caso tenham publicações referentes ao objetivo,
citar as referências.

METODOLOGIA Uma das partes mais nobres da pesquisa, não basta apenas citar o
(25%) tipo da pesquisa, senão descrevê-la densamente, sem a dissociação
entre teoria e prática. Em outras palavras, a epistemologia do método
deve estar no trabalho inteiro dando consistência científica.
Apresentar as pessoas envolvidas, usando apelidos (a comissão de
ética proíbe usar nomes verdadeiros), além da apresentação do
roteiro da possível entrevista. Descrever como aconteceram os
encontros, as visitações e outros detalhes procedimentais. Oferecer
ênfase nas narrativas obtidas, dialogando com a literatura.

OBS - No GPEA estamos abandonando a palavra SUJEITO de


pesquisa (SATO, 2021), por estar relacionada com subalternidade,
inferiorização ou desconhecido [https://conceito.de/sujeito].

15
RESULTADOS Detalhar os resultados obtidos EM DIÁLOGOS com a literatura
(25%) científica, interpretando as entrevistas. É importante considerar que
mais do que fazer a citação de trechos das narrativas, será
essencialmente importante INTERPRETÁ-LAS ao lume das
epistemologias adotadas. Aqui a força argumentativa é MUITO
importante, pois é a hora de BRILHAR expressando os bons
resultados. Usar e abusar de conceitos teóricos que foram reservados
para esta parte (e não somente na introdução).

CONSIDERAÇÕES Tentar escrever com palavras próprias, com poucas citações ou


(15%) referências. Ponderar se os objetivos foram alcançados e de que
maneira os métodos contribuíram com os resultados. Considerar a
importância da pesquisa, dos temas estudados e revelar as
produções científicas mais significativas durante a travessia do curso,
culminando na pesquisa. Encerre usando argumentos importantes,
criativos e emergentes.

REFERÊNCIAS Geralmente, regras da ABNT, dependendo de cada revista.

AGRADECIMENTOS Caso tenha financiamento, citar a fonte de recursos.

★ PARA SABER MAIS


Para outras informações, dicas e materiais, consulte o blog do Grupo Pesquisador em
Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da UFMT. Há um banco de tese, vários
artigos, livros, capítulos, materiais para download e muito mais!
Blog Gpea: https://gpeaufmt.blogspot.com/p/edu-campo.html

#FICA A DICA
Nesta seção, expomos algumas dicas para apoiar o seu processo de escrita e
minimizar possíveis problemas na construção do seu artigo.

★ Conheça a revista que pretende publicar - A escolha da revista é de suma


importância, pois é preciso estar atento (a) se o escopo da revista é aderente ao
tema da sua pesquisa. No site da revista, visite espaços como: Sobre a revista;
Submissões; Equipe editorial e leia alguns artigos das edições anteriores, isso
pode te ajudar!
★ Não divulgue dados ou análises falsas - A ética na pesquisa é fundamental, sendo
imperioso ao pesquisador ter consciência orientadora, idoneidade, clareza e
honestidade na exposição dos resultados.

16
★ Atenção ao plágio - Não custa te lembrar, ao fazer citações, indique a fonte e
estas precisam constar nas referências. A violação dos direitos autorais é crime
previsto no Artigo 184 do Código Penal.
★ Leia sobre o que já foi feito - Tente localizar artigos que se assemelham ao seu,
isso ajuda na definição de sua temática de estudo, bem como pode auxiliar na
sua escrita, tendo em vista que os artigos localizados têm potencial de ser uma
fonte de consulta.
★ Esteja aberto (a) para lidar com sugestões e críticas - É preciso saber assimilar
as críticas de forma positiva, como um aprendizado em fluxo. O processo de
orientação não é um obstáculo, mas sim uma ponte entre você e seu artigo.
★ Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) - A depender do teor da pesquisa, esta
precisa ser submetida aos trâmites do CEP/UFMT.
★ Acompanhe os resultados - A publicação do seu artigo não é o fim de um ciclo,
mas o início da divulgação de sua pesquisa. Portanto, procure observar a
repercussão do seu trabalho no mundo científico e quais reflexões estão sendo
geradas a partir dele.

REVISTAS CIENTÍFICAS - Área da Educação

Deixamos aqui uma pequena lista de revistas científicas da área da Educação, como
um ponto de partida na busca por demais periódicos para a publicação do seu artigo.
Lembre-se que, no portal Sucupira na área ‘Qualis Periódicos’, é possível ter acesso
à listagem completa das revistas científicas organizadas por área de avaliação, ISSN
e classificação.

ISSN TÍTULO AVAL ENDEREÇO

1678-4626 EDUCAÇÃO & A1 https://www.cedes.unicamp.br/publicacoes/20


SOCIEDADE

2175-6236 EDUCAÇÃO E A1 https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade


REALIDADE

1982-6621 EDUCAÇÃO EM REVISTA A1 https://periodicos.ufmg.br/index.php/edrevista


(UFMG - ONLINE)

984-0411 EDUCAR EM REVISTA A1 https://revistas.ufpr.br/educar

809-449X REVISTA BRASILEIRA DE A1 https://www.anped.org.br/site/rbe


EDUCAÇÃO

17
2238-0094 REVISTA BRASILEIRA DE A1 https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/in
HISTÓRIA DA dex
EDUCAÇÃO

645-1384 CURRÍCULO SEM A2 http://artigos-csf.org/index.php/csf


FRONTEIRAS

2238-2097 REVISTA EDUCAÇÃO A2 https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.p


PÚBLICA DA UFMT hp/educacaopublica

981-1802 REVISTA EDUCAÇÃO EM A2 https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao


QUESTÃO (ONLINE)

2184-8408 EDUCAÇÃO, SOCIEDADE B1 https://www.fpce.up.pt/ciie/?q=en/node/293


& CULTURA

1981-8106 EDUCAÇÃO: TEORIA E B1 https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/in


PRÁTICA dex.php/educacao/index

18
4. Dinâmica de orientação
Para que tenhamos êxito nesse trabalho conjunto, é preciso
estabelecer a nossa dinâmica de diálogo e construção. Assim
sendo, teremos 3 contextos de orientação:

As relações de orientação dependem de duas partes: de quem orienta e de quem


deseja ser orientado. Não há receitas prontas a serem oferecidas e será o
pesquisador que deverá encontrar suas forças argumentativas e caminhos a serem
traçados no caminhar da investigação científica.

Os diálogos de orientação podem acontecer por diversas vias e mídias:


★ O presencial, em que poderemos nos reunir num determinado espaço físico
com data e hora combinados previamente;
★ Com o apoio das tecnologias digitais, teremos momentos de orientação em
tempo real, síncronos, por meio de webconferências disponíveis em nosso
Ambiente Virtual (ou outras plataformas como meet, zoom, etc.), do mesmo
modo com data e hora previamente pactuados;
★ E ainda pelo Ambiente Virtual faremos as orientações assíncronas, que não
serão em tempo real, mas mediadas por fóruns e outros recursos de
comunicação da plataforma.
★ Consideramos que este guia de estudos, com foco na construção de artigos, já
é um começo dialógico, e foi carinhosamente construído pela Rosana e Michèle,
que tentaram resumir etapas, contextos e detalhes importantes que auxiliem
no desenvolvimento da pesquisa, bem como sua redação final em formato de
artigo científico.

Sabemos que imprevistos podem acontecer nessa caminhada, por isso o diálogo é
fundamental para que possamos superar dificuldades e encontrar alternativas que
não prejudiquem a sua pesquisa.

O que é importante: respeitar os prazos, não faltar nas reuniões de orientações


(avisar ANTES), manter a constância da escrita e, essencialmente importante:
solicitar ajuda sempre que precisar.

Contem conosco!

19
Referências
AIMI, Deusodete Rita da Silva; MONTEIRO, Filomena M. de Arruda Monteiro. Pesquisa narrativa:
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