Gestão de Drenagem MG
Gestão de Drenagem MG
Gestão de Drenagem MG
ABSTRACT– The occurrence of floods is very recurrent in Brazil, especially in the more urbanized
regions, causing numerous inconveniences to the population. The causes of these phenomena, among
others, are due to climate change, the disorderly occupation of urban space and deficiencies in
drainage systems. Therefore, the management of storm drainage is important to reduce flooding and,
consequently, disorders and disasters. The Urban Drainage Master Plan in the municipalities is
configured as an instrument for this management. The purpose of this article is to discuss the
importance of rainwater drainage management in urban expansion regions, and the need for
interventions when the existing network does not meet local demand, generating risks of flooding.
As a methodology, a narrative review of the literature was used in order to present the state of the art
of the theme, followed by a case study in the municipality of Muriaé-MG. The case study carried out
portrays a recurring problem in many Brazilian municipalities in which the lack of an urban
stormwater drainage management system, associated with climate change and land occupation in a
disorderly manner, are causes for the occurrence of floods.
1) Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, e-mail: alan.fonseca@engenharia.ufjf.br
2) Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, e-mail: josilene.toledo@engenharia.ufjf.br
3) Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil, e-mail: fabio.sanches@ufjf.br
IV Simpósio de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul 1
Campos dos Goytacazes/RJ
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos últimos anos o Brasil apresentou um significativo crescimento da população
urbana. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015 a
maior parte da população brasileira, 84,72%, vive em áreas urbanas e 15,28% dos brasileiros vivem
em áreas rurais. E a região com maior percentual de população urbana é a Sudeste, com 93,14% das
pessoas vivendo em áreas urbanas. (IBGE, 2015)
Essa crescente urbanização, em grande maioria desordenada, associada às mudanças climáticas
impactam diretamente no escoamento das águas pluviais. Os principais impactos são devido ao
aumento do escoamento superficial, pico dos eventos extremos, aumento da produção de sedimentos
e erosão, deterioração da qualidade da água e redução da recarga dos aquíferos (TUCCI, 2016).
Dentre os impactos decorrentes do escoamento superficial e do pico dos eventos extremos,
destacam-se as inundações e alagamentos urbanos. De acordo com o Atlas Digital de Desastres no
Brasil (BRASIL, 2022), entre os anos de 1991 e 2019, 37, 13% das ocorrências de desastres são
devido a fatores hidrológicos, entre eles alagamentos e inundações. A região sudeste é a que detém o
maior número de danos hidrológicos, ocupando o primeiro e segundo lugar, respectivamente, por
danos de inundações e alagamentos. No estado de Minas Gerais 43,78% das ocorrências de desastres
são do grupo hidrológico, com 102 ocorrência de alagamentos e 1003 ocorrências de inundações.
As chuvas intensas em um curto período contribuem para a ocorrência de alagamentos,
principalmente em superfícies pouco permeáveis, mas as precipitações relativamente baixas,
associadas a uma drenagem ineficiente também podem desencadear alagamentos. Este fenômeno
pode, ainda, ser intensificado pela falha na gestão dos demais componentes do saneamento, como:
efluentes domésticos ligados à rede pluvial e disposição inadequada de resíduos sólidos em vias
públicas. Logo, a expansão da urbanização desordenada associada à ausência do correto planejamento
interfere diretamente nos eventos de inundação e alagamento. No que tange ao planejamento, a
elaboração de Planos Municipais de Drenagem e Planos de Manejo de Águas Pluviais Urbanas pode
ser uma poderosa ferramenta para a gestão e prevenção de desastres relacionados a alagamentos nas
áreas urbanas. (BRASIL, 2013)
O objetivo geral do artigo é discutir sobre a importância da gestão da drenagem pluvial em
regiões de expansão urbana, e a necessidade de intervenções quando a rede existente não supre a
demanda local, gerando riscos de alagamentos. O objetivo específico é apresentar a solução proposta
para um sistema de drenagem ineficiente no município de Muriaé-MG.
2 METODOLOGIA
A metodologia do presente artigo constituiu-se de uma revisão narrativa da literatura sobre a
gestão da drenagem pluvial urbana na prevenção de inundações e alagamentos, seguida de um estudo
de caso no Município de Muriaé-MG.
Segundo Cordeiro et al. (2007), a revisão narrativa da literatura não exige um protocolo rígido
para sua realização; a busca das fontes é frequentemente menos abrangente, não sendo pré-
determinada, nem específica. A seleção dos artigos ocorre de maneira arbitrária, munindo o autor de
informações sujeitas a viés de seleção, com interferência da percepção subjetiva. Desse modo, foi
realizada uma busca na base de dados do Google Acadêmico, com critério de inclusão de artigos de
periódicos dos últimos dez anos, com abrangência nacional, visando subsidiar a revisão da literatura
e a estrutura conceitual deste artigo. Ademais, também utilizou-se de outras referências para
complementação como, manuais e referências fundamentais na temática.
O estudo de caso se pautou na descrição e caracterização da rede de drenagem pluvial do bairro
Santana do município de Muriaé-MG, com o objetivo de apresentar a solução proposta para a
deficiência da mesma no suprimento da demanda local e consequente mitigação dos alagamentos e
inundações decorrentes. Foram consultados documentos relativos às obras realizadas pelo
Departamento Municipal de Saneamento Urbano (DEMSUR).
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Inundações e Alagamentos
As alterações climáticas vêm intensificando as chuvas, que, aliadas ao processo de urbanização
sem planejamento, são identificadas como as causas de desastres (CHRISTOFIDIS et al., 2019). Tais
desastres, no sistema urbano, causam impactos naturais e sociais. No que tange ao atributo natural, o
excesso de chuvas em pouco tempo, ou a chuva concentrada em muito tempo é pré-requisito para
ocorrência de desastres de chuva e inundações urbanas (MA et al., 2021). Segundo a Classificação e
Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE, 2012), as inundações se referem a submersão de
áreas fora dos limites normais de um curso de água em zonas que normalmente não se encontram
à população. Logo, ela é importante para a prevenção de efeitos negativos provocados pelas chuvas,
como: deslizamentos, erosões, alagamentos, inundações, entre outros (CALDEIRA; LIMA, 2020).
Para uma drenagem eficiente deve- se drenar o escoamento sem causar impactos no local, assim como
a jusante (ANDRADE FILHO et al., 2000).
Visando mitigar ou acabar com os problemas decorrentes das inundações faz-se uso do controle
de inundações, ou seja, de um conjunto de medidas, para diminuir os riscos, os prejuízos e possibilitar
o desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e sustentável. Esse controle considera
tanto os meios estruturais quanto não estruturais. As medidas estruturais são aquelas essencialmente
construtivas, projetadas para controle e incluem a construção de represas ou adufas, reservatórios de
retenção, diques, barragens, melhoramento de canal de rio e canais de desvio. As medidas não-
estruturais, por sua vez, são aquelas que buscam uma boa relação entre a população e as enchentes,
incluindo a prevenção e previsão desses eventos, reassentamento ou realocação, alertas e evacuação,
e controle do uso do solo. (ANDRADE FILHO et al., 2000)
Como instrumento para a gestão das águas pluviais na cidade, tem-se o Plano Diretor de
Drenagem Urbana (PDDU), previsto pela Lei de Saneamento (BRASIL, 2007). O PDDU deve ser
desenvolvido com interfaces com outros planos da cidade, tanto o Plano de Saneamento Básico
quanto no Plano Diretor Urbano (TUCCI, 2012).
O Plano Diretor de Drenagem Urbana tem como principal objetivo criar mecanismos de gestão
da infraestrutura urbana, relacionados com o escoamento das águas pluviais, rios e arroios em áreas
urbanas. Ademais, o PDDU tem como produtos principais: regulamentação de novos
empreendimentos; planos de controle estrutural e não-estrutural para os impactos existentes nas
bacias urbanas da cidade e manual de drenagem urbana. A regulamentação tem o objetivo de evitar
que os impactos indesejáveis, decorrentes da implantação da edificação e parcelamento do solo com
drenagem inadequada, sejam gerados nas cidades. O Plano de controle estabelece as alternativas de
controle de cada bacia da cidade, reduzindo o risco de ocorrência de inundação nas mesmas e o
Manual de Drenagem representa o documento que orienta a implementação dos projetos de drenagem
na cidade (PORTO ALEGRE, 2005).
O Plano Diretor de Drenagem Urbana deve buscar implementar a distribuição da água no
tempo e no espaço; controlar a ocupação de áreas de risco de inundações por meio de restrições em
áreas de risco alto e; convivência com as enchentes, nas áreas de baixo risco. O PDDU deve integrar
4 ESTUDO DE CASO
O município de Muriaé se localiza na Zona da Mata mineira, possui área de 841,693 km² e
109.997 habitantes, de acordo com a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
(IBGE, 2021). Com a divisão regional vigente desde 2017, instituída pelo IBGE, Muriaé pertence às
Regiões Geográficas Intermediárias de Juiz de Fora e Imediata de Muriaé.
O município está totalmente inserido na bacia do rio Paraíba do Sul e os principais cursos
d’água que cortam o município são os rios Muriaé (afluente do rio Paraíba do Sul) e Glória (afluente
do Muriaé). As terras do município apresentam altitudes entre 209 metros na sede e 1110 metros
(Morro do Serrote). (MURIAÉ, 2022)
O clima é do tipo tropical, quente e úmido no verão, com temperaturas máximas que chegam
até 40°C em alguns pontos. É seco no inverno, com temperaturas máximas que chegam até 25°C e
temperaturas mínimas que chegam até 10°C. Temperaturas médias anuais entre 25°C e 30°C.
(MURIAÉ, 2022)
Analisando as informações presentes no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), é
possível observar que o ano de 2012 foi o que apresentou maior acúmulo de precipitação acumulada
em um dia, 211,2 mm em 30 dias com 656,4 mm. Já o ano 2008 apresentou a maior precipitação em
intervalo de 1 hora, com 64 mm.
O município de Muriaé sofre, em algumas regiões pontuais, com alagamentos ocasionados por
intensas precipitações em curto período de tempo, sobrecarregando a rede de drenagem pluvial com
uma vazão superior a capacidade da rede existente no local. Esse fato vem se agravando com a
expansão urbana não planejada a longo prazo, que geram novas áreas impermeabilizadas que
direcionam o volume de água pluvial para redes de drenagem existentes que não foram planejadas
para tal aporte.
Muitas das vezes, tais expansões possuem aprovação devida dos órgãos competentes e são
legalmente regulares, porém, por conta das limitações de atuação do poder público quanto ao
planejamento urbano de longo prazo devido à ausência de um PPDU, estas não possuem qualquer
análise de impacto no sistema existente para o qual irá contribuir, agravando, gradualmente e ao longo
dos anos, os problemas de alagamentos dos sistemas a jusante.
O caso estudado neste artigo ocorreu na rua Maria Cândido do Carmo, bairro Santana,
localizado a oeste da cidade de Muriaé, onde observou-se o crescimento urbano em sentido norte e
oeste da região, a rua Maria Cândido do Carmo. Essa expansão territorial acompanha impactos sociais
e estruturais. Nesse estudo de caso será abordado apenas os impactos estruturais, decorrentes da
influência da expansão urbana na drenagem pluvial.
O bairro Santana foi lançado na década de 60, sendo realizada a canalização de uma parte do
córrego que levava a água pluvial da bacia local para o Rio Muriaé, passando internamente aos lotes
das Ruas Maria Cândida do Carmo e Rua Primavera, canalizado na época em um tubo de concreto
com diâmetro de 600mm, sobre o qual havia inclusive algumas edificações.
Esta canalização interior aos imóveis era prática comum naquele tempo, em que pouco se sabia
sobre os impactos futuros possíveis do crescente processo de urbanização em uma canalização de
córrego. Com a expansão urbana no decorrer de anos, houve o aumento da demanda de vazão de
águas pluviais, concomitante começou a ocorrer problemas de alagamento na região do encontro do
córrego com a canalização.
Com os alagamentos crescentes, em 1992 foi realizada a primeira intervenção municipal para
conter os alagamentos, implantando nova rede de drenagem com tubos de concreto e diâmetro de
1200mm (Figura 1).
Esta intervenção, tais como todas as obras de drenagem daquela época, seguiu o conceito
higienista do século XIX (Silveira, 2000), onde a ideia central era eliminar de maneira sistemática as
águas pluviais através da implantação de novas canalizações de maior porte, prática que hoje sabemos
ser insustentável. Essa nova rede de drenagem pluvial inicia no mesmo ponto do córrego, vai em
sentido leste da rua Dr. Nilo Pacheco Medeiros, passa pela rua Primavera e direciona às águas pluviais
para o rio Muriaé.
Figura 1 – Primeira intervenção na Figura 2 – Contribuição das bacias pluviais Figura 3 – Extensão da rede de
rede de drenagem pluvial em 1992 para a rede de drenagem drenagem pluvial em 2021
Durante a pesquisa, observou-se que a bacia ainda apresenta uma grande área não urbanizada,
e que de acordo com o Departamento Municipal de Saneamento Urbano (DEMSUR), o proprietário
já manifestou interesse em iniciar o processo de loteamento do local, impermeabilizando toda a área
e direcionado as águas pluviais para a rede de drenagem pluvial da rua Maria Cândido do Carmo. O
setor técnico do departamento, tendo ciência da situação local e que a rede existente não suportará
toda a vazão a longo prazo, enviou diretrizes direcionando o empreendimento a utilizar meios de
retenção para água pluvial, como bacias de retenção, promovendo a concepção de expansão urbana
com controle de drenagem na fonte, contrapondo-se ao referido conceito higienista de eliminação
sistemática das águas para jusante. O objetivo desse método é limitar a contribuição da rede já
existente, fazendo com que o hidrograma de saída das águas provenientes das áreas urbanizadas, para
um determinado evento chuvoso definido em projetos específicos, tenha vazão máxima igual à
máxima observada no hidrograma de pré-ocupação desta mesma bacia. Desse modo, não existirá a
necessidade de substituir toda uma rede já construída, contribuindo para a economia dos gastos
públicos e para a diminuir impactos na região derivados da execução da obra.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo de caso realizado no bairro Santana do município de Muriaé, pode-se concluir
que não houve na região um planejamento de drenagem pluvial. Pois as duas obras de drenagem
foram realizadas de maneira corretiva, objetivando resolver os problemas existentes, mas não
projetava o aumento de demanda proveniente da expansão urbana e aumento de áreas
impermeabilizadas.
Casos como esse estão presentes em todas as cidades que sofreram expansões urbanas sem um
plano de drenagem pluvial, ou implementaram obras de drenagem pluvial a fim de solucionar um
problema momentâneo, sem que houvesse um planejamento que definisse o modo como tal bacia iria
se urbanizar sem tornar o sistema de drenagem existente ineficiente. Com isso os municípios precisam
de meios para elucidar as questões existentes e Planos Diretores de Drenagem Urbana para serem
seguidos a fim de que problemas como esses não continuem se intensificando.
REFERÊNCIAS
ANDRADE FILHO, A. G.; SZÉLIGA, M. R.; ENOMOTO, C. F. Estudo de medidas não-estruturais
para controle de inundações urbanas. Publicatio UEPG. Ciência Exatas e da Terra, Ciências Agrárias
e Engenharias, v. 6, nº1,p. 69 -90, 2000.
BRASIL, Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as diretrizes nacionais para o
saneamento básico. Brasília, 2007. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 31 mar. 2023
BRASIL. Atlas Brasileiro de Desastres Naturais: 1991 a 2012. Centro Universitário de Estudos e
Pesquisas sobre Desastres. 2. ed. rev. ampl. Florianópolis: CEPED UFSC, 2013. 126p.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Secretaria de Proteção e Defesa Civil.
Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa
Civil. Atlas Digital de Desastres no Brasil. Brasília: MDR, 2022.
CALDEIRA, L. A. C.; LIMA, D. P. Drenagem urbana: uma revisão de literatura. Engineering
Sciences, v.8, n.2, p.1-9, 2020. DOI: http://doi.org/10.6008/CBPC2318-3055.2020.002.0001