COELHO Rosa Maria Alves - Dissertaçao Mestrado
COELHO Rosa Maria Alves - Dissertaçao Mestrado
COELHO Rosa Maria Alves - Dissertaçao Mestrado
1 – INTRODUÇÃO
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o seu impacto na vida das pessoas, está
finalmente a sedimentar o merecido reconhecimento, quer como evento agudo quer como uma
doença crónica. O interesse repentino no status do AVC deve-se ao impacto que esta entidade
clínica gera no indivíduo, na sua família, nos serviços de saúde e na própria sociedade. A
preocupação investigativa do presente estudo surge exactamente pela inquietação que a
doença vascular cerebral representa em si mesma, não apenas pela panóplia de consequências
negativas geradas no doente, como também pelo encargo que traz aos seus cuidadores.
E o que poderia ser pior do que a repentina incapacidade de falar, mover um membro, manter-
se de pé, caminhar, ver, ler, ou tornar-se seriamente incapaz de compreender a linguagem
falada, escrever, pensar com clareza ou não ter sequer a capacidade de recordar? E qual a
sensação de ser um indivíduo funcional para se tornar, num ápice, em um inválido
desamparado, e no instante seguinte ser um caso clínico, tal como conta na sua autobiografia
Eric Hodgins? A perda da função é muitas vezes instantânea e totalmente imprevisível; as
deficiências podem ser transitórios ou permanente, ligeiras ou devastadoras.
De acordo com Bonita (1992 cit in Tambara, 2006), aproximadamente 85% dos
acidentes vasculares cerebrais são de origem isquémica e 15% hemorrágica; de entre os
hemorrágicos, 10% são hemorragias intraparenquimatosas e 5% são hemorragias
subaracnóideias. Relativamente ao AVC hemorrágico, este pode ser causado por
“malformações arteriovenosas, ruptura de aneurisma, determinadas substâncias (por exemplo:
anticoagulantes e anfetaminas) ou hipertensão descontrolada, podendo resultar em hemorragia
craniana, extradural, subdural, subaracnóideia ou intracraniana” (p. 7). Smeltzer e Bare (2002
cit in Vasconcelos, Rodrigues, Freitas e Sousa, 2004) consideram que o AVC isquémico pode
ser dividido em cinco subtipos: trombose de grandes artérias (20%), trombose de pequenas
artérias perfurantes (25%), acidente vascular cerebral embólico cardiogénico (20%),
criptogénico (30%) e outros (5%).
Segundo estimativas da OMS, já em 2005 o AVC foi responsável por 5,7 milhões de
mortes no mundo, o que representou quase 10% de todas as mortes e um terço em pessoas
com mais de 70 anos de idade (World Health Organization [WHO], 2006). Em 2010,
considerou-se que 15 milhões de pessoas em todo o mundo foram vítimas de AVC; destes,
cinco milhões morrem e outros cinco milhões ficam incapacitados permanentemente,
constituindo um fardo para a família e comunidade (MacKay e Mensah, 2010). De acordo
com a National Stroke Association (2011), 10% dos sobreviventes de AVC recuperam quase
na totalidade, 25% recuperam com sequelas mínimas, 40% ficam com deficiência moderada a
grave, necessitando de cuidados especializados, 10% precisam de cuidados a longo prazo
necessitando de institucionalização e 15% morrem após o episódio de AVC.
De acordo com a OMS, o AVC é uma doença de causa multifactorial. Isto é, uma
combinação de factores de risco influencia a probabilidade de um indivíduo vir a ter um AVC
(WHO, 2006). Rey (1999) define factor de risco como um “aspecto do comportamento
pessoal ou do estilo de vida, da exposição ao meio ambiente, ou uma característica própria ou
herdada do indivíduo que se sabe, tendo por base a evidência epidemiológica, estarem
associados com condições importantes de se prevenir para proteger a saúde” (p. 316).
IDADE . Em toda a revisão literária considerada sobre factores de risco, o factor idade é o mais importante
para o desenvolvimento do AVC, não devendo contudo, tal como dizem Araújo, Silva, Moreira e
Bonilha (2008), encarar este factor como uma decorrência natural do envelhecimento.
. Segundo Correia (2004) cit in Ferreira, Fernando, Ferreira, Rodrigues e Cruz (2006) “estima-se
que em cada 10 anos depois dos 55 anos, o risco de AVC duplique” (p. 8).
. Em Primary Prevention of Ischemic Stroke prediz-se que o risco de AVC antes dos 50 anos de
idade é duas vezes superior nas pessoas com peso à nascença inferior a 2,5 kg (Goldstein et al.,
2006 cit in Ferreira et al., 2006).
GÉNERO . Os homens apresentam maior incidência de AVC do que as mulheres, para a mesma idade
(Correia et al., 2004 cit in Ferreira et al., 2006).
. O aumento da taxa de AVC nas mulheres está associado a Diabetes Mellitus (DM) e o uso de
contraceptivos orais aumenta em 6 vezes o risco de AVC sobretudo em mulheres com enxaqueca,
HTA, DM ou dislipidémia (Nitrini e Bacheschi, 1999 cit in Araújo et al., 2008).
. De acordo com o National Institute of Neurological Disorders and Stroke [NINDS] (2010), a
gravidez, o parto e a menopausa colocam a mulher numa situação de risco para AVC devido às
alterações hormonais.
. A gravidez aumenta o risco entre 3 a 13 vezes e estudos estão a ser levados a cabo de forma a
determinar a importância de terapêutica à base de estrogénio na menopausa que pode reduzir o risco
de AVC recorrente e até mesmo a morte, uma vez que o estrogénio aumenta os níveis da
lipoproteína de alta densidade (HDL) e reduz os níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL)
(NINDS, 2010).
HEREDITA- . A hereditariedade está também associada a um maior risco de AVC.
RIEDADE . Goldstein et al., (2006) e Hankey (2006) cit in Ferreira et al., (2006), explicam que “pode
acontecer pela transmissão mendeliana (único gene) de doenças hereditárias raras ou pela
transmissão de factores poligénicos como a facilidade de desenvolver determinados factores de risco
vascular (…) ou a susceptibilidade aos seus efeitos” (p. 8).
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Se por um lado, Araújo et al. (2008) consideram o facto de nos últimos anos termos
assistido a um aumento na incidência do AVC, consequência do aumento da esperança média
de vida bem como do estilo de vida menos saudável dos indivíduos, por outro lado Azeredo
(2000) discorda, considerando que estamos perante uma diminuição global da incidência do
AVC, devida a um melhor controlo dos factores de risco associados, através de campanhas
sensibilizadoras e preventivas com vigilância da hipertensão arterial, da diabetes mellitus,
entre outros e as quais fomentam o diagnóstico precoce e o tratamento mais adequado para
tais patologias, bem como prevenção de comportamentos aditivos. Deve ser dada relevância
ao rastreamento, como uma medida profilática, das três causas imediatas de AVC, ou seja, a
doença carotídea, a arritmia cardíaca e a hipertensão. Tannouri (2006) também considera que
as sequelas provocadas pelos AVC podem ser reduzidas através da sua prevenção, com o
tratamento ou com a reabilitação; no entanto pondera o facto de o tratamento dos AVC´s
“com agentes trombolíticos resulta em benefício apenas para 10% das poucas vítimas que são
elegíveis para tratamento; e a reabilitação é incerta, demorada, (…) incompleta” (p.20). O
mesmo autor considera haver uma taxa de mortalidade de 28% e em 15-30% dos doentes as
sequelas são permanentes, concluindo portanto que a maneira mais eficaz de reduzir as
consequências do AVC é antes de mais a sua prevenção.
Sommerfeld et al. (2004, cit in Silva, Moura e Godoy, 2005) referem-se ao AVC como
sendo um conjunto de sinais clínicos relacionados com a área encefálica lesada. Assim
Martins (2002 cit in Cancela, 2008), considera que a “ localização e extensão exactas da
lesão provocada pelo AVC determinam o quadro neurológico apresentado por cada utente”
(p. 2). Foi em 1796 que pela primeira vez se conheceram os trabalhos do doutor Franz Joseph
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que sempre que acordava durante de noite sentia, junto a ele, uma perna peluda, fria e
morta. Sem poder compreender o que se estava a passar empurrava com o braço e a perna
boa, a perna da cama abaixo e, obviamente, caía. Era um excelente exemplo da completa
perda de consciência de um membro hemiplégico. (Sacks, 1985, p.81)
amplamente nos seus efeitos comportamentais. Indivíduos com lesão no hemisfério esquerdo,
mostram-se realistas na apreciação dos seus problemas e têm um comportamento
lentificado, revelando-se cuidadosos, incertos e inseguros. Desta forma, apresentam-se
ansiosos e hesitantes no desempenho das tarefas, obrigando a um constante “feedback” e
apoio.
AVC; esta passa por princípios como a restituição, substituição e compensação (Dobkin e
Carmichael, 2005 cit in Williams e Pryor, 2010). A restituição tem a ver com habilidades
restauradas, isto é capacidades que o doente tinha antes do AVC, como a deglutição, foram
recuperadas. A substituição refere-se à aquisição de outros meios para alcançar um mesmo
fim, como é o caso de usar a mão esquerda na alimentação quando se usava a mão direita
antes do AVC. A compensação é uma técnica usada quando nem a restituição nem a
substituição são possíveis ou apropriadas, como o uso por exemplo de uma auxiliar de marcha
para a deslocação. Com estes conceitos, Cancela (2008) reconhece a primazia da
reabilitação neuropsicológica, considerando que um dos propósitos desta passa por
favorecer a recuperação de objectivos, trabalhando com o doente de modo a poder
desenvolver e alcançar esses memos objectivos usando meios distintos aos usados antes da
lesão.
população no reconhecimento do AVC ao despreparo dos serviços de saúde cuja reposta não é
universal nem completa no que diz respeito à reabilitação de doentes vítimas de AVC,
deixando os seus sobreviventes com uma parcela de incapacidade que vai desde problemas de
locomoção às sequelas cognitivas. A estes factores, associando a baixa auto-estima perante a
nova situação, os doentes com AVC deparam-se num caminho de isolamento e exclusão
social. E é neste seguimento que Min (2010) defende que o acolhimento na fase aguda em
centros especializados diminui a severidade do comprometimento funcional e o
consequente tempo de internamento.
80% dos doentes que sofreram um AVC atingem o melhor nível funcional às seis
semanas, 90% atingem-no às 12,5 semanas (3 meses). Não é de esperar grande melhoria
funcional ou neurológica após os 3 meses, pois só 5% dos doentes farão algum progresso a
partir desta altura. Quando completam o programa de reabilitação, 20% vão ficar com
incapacidade grave, 8% com incapacidade moderada, 26% com ligeira incapacidade e 46%
ficam independentes. Uma percentagem próxima dos 50% retomará uma profissão ou manterá
as actividades habituais. (Ramires, 1997 cit in DGS, 2001, p. 7)
Cancela (2008) preconiza que logo que se estabilize a situação clínica na fase
aguda do AVC inicia-se a reabilitação, consistindo em diversas técnicas que ajudam a
readquirir a função anterior o mais cedo possível tendo como objectivo superar as
incapacidades surgidas.
Actualmente, para que o indivíduo seja detentor de uma saúde física e mental necessita
de inúmeros atributos: independência, interactividade com os outros, afectividade e outros
componentes biopsicossociais que reintegram o homem ao convívio a vários níveis: social,
familiar, profissional e emocional. Mas, após uma lesão neurológica, há à uma redução desses
atributos, havendo uma necessidade de reaprendizagem das actividades da vida diária,
funções orofaríngeas, comunicação, linguagem e cognição, tornando-se necessária a
implementação de acções que proporcionem a estes indivíduos, o melhor grau de
independência possível, minimizando as suas limitações e ampliando suas capacidades através
dos ganhos psicossociais e funcionais (Alves, Guimarães, Striebel e Peralles, 2009). Neste
seguimento, e de acordo com Cacho, Melo e Oliveira (2004) as consequências funcionais
após AVC predispõem os seus sobreviventes a um padrão de vida inactivo, com limitações
individuais para as AVD’s. O comprometimento motor pode causar descoordenação dos
movimentos, debilidade de músculos específicos, tónus anormal, adaptações posturais
anormais, movimentos activos anormais e alterações nas estruturas da cintura escapular. Desta
forma, a reabilitação destes doentes constitui um grande desafio. Os profissionais de
reabilitação empenham-se em minorar o impacto e aumentar a recuperação funcional do
doente após AVC (Cacho et al., 2004).
Wiles et al. (2005, cit in Silva, Moura e Godoy, 2005) referem que a evidência mostra
que “63% das pessoas que sobrevivem a um episódio de doença vascular no encéfalo terão
algum déficit motor por 1 mês, e 50% continuarão a ter déficits motores por 1 ano” (p.267,
268). O prejuízo no tracto piramidal e em fibras do tracto córtico-espinhal anuncia lesão do
motoneurônio superior, conduzindo à deterioração sensorial, espasticidade, às posturas
anormais, perca de força muscular, inadequado controle motor, mobilidade articular limitada
e alterações da motricidade fina. A fraqueza muscular repercute-se na dificuldade de produzir
força e sustentá-la. Este conjunto de factores gera transformações fisiológicas, mecânicas e
funcionais e modificações musculares e teciduais. Há um descontrole dos movimentos, um
prejuízo no equilíbrio e na propriocepção provocando no doente grande risco de queda.
Assim, actividades de vida diária tais como deambular, subir e descer escadas bem como
actividades como vestir, despir, abotoar botões, calçar meias, enlaçar atacadores de sapatos
exigem coordenação motora, destreza manual, que se manifesta pela precisão e pela rapidez,
estão comprometidas e mesmo com treino especifico para readquirir a habilidade motora, há
tarefas que se tornam impossíveis de serem executadas para alguns indivíduos de acordo com
grau de comprometimento (Medeiros et al., 2002 e Sommerfeld et al., 2004 cit in Silva et al.,
2005). O treino de força assume um papel relevante na recuperação funcional, sobretudo se
esse treino está relacionado com execução de actividades quotidianas (Medeiros, Lima,
Martins, Júnior e Medeiros, 2002).
A reabilitação dos doentes vítimas de AVC privilegia tanto o lado afectado como o
lado não afectado, assim Medeiros et al. (2002) preconiza que se deve trabalhar a força de
todos os grupos musculares e não se pode pensar no lado mais forte como o não abrangido.
Doentes pós AVC com deficiência motora evidenciam fraqueza no membro inferior parético e
no não-parético. O baixo desempenho do lado não-parético pode ser provado por razões
neuroanatômicas, porque aproximadamente 10% das fibras motoras descendentes não cruzam
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para o lado contralateral. Portanto, o treino deve envolver ambas os membros. À questão feita
por um doente: “Quantas vezes tenho que tentar um movimento antes de eu ver a melhoria?”,
a resposta é inexacta, isto é, não existe um número específico que responda a esta questão;
alguns cientistas tentam adivinhar: dez mil. Para se tornar um especialista de alto nível em
algo (seja um músico como Beethoven ou um jogador de basketball como Michael Jordan) o
número de repetições necessárias situam-se entre um e dois milhões. Mas para um
sobrevivente de AVC, o número torna-se complicado, até porque iria variar de doente para
doente de acordo com a complexidade do movimento a ser reaprendido, a quantidade de
movimento remanescente e o incentivo com as quais as repetições são feitas (Levine, 2009).
Este autor acredita que a recuperação irá naturalmente acontecer ao trabalhar com o único
órgão lesado pelo AVC e do qual a verdadeira recuperação advém: o cérebro. A fim de
recuperar, os sobreviventes de AVC têm de o reorganizar. Graças ao fenómeno na
neuroplasticidade, a reabilitação é possível devida à descomunal capacidade do cérebro em
aprender e modificar. Pais Ribeiro (2005, cit in Cancela, 2008) considera que
actualmente “sabe-se que as células de outras áreas do cérebro, que não foram afectadas
pelo AVC, podem assumir determinadas funções realizadas pelas células da área afectada”
(p. 14).
Como constatado até ao momento, o AVC pode afectar aspectos da vida do doente
bem como a do cuidador, devendo a reabilitação ser feita, e t al com o
ant eri orm ent e m encionado, sempre que possível com o envolvimento de familiares e
amigos (Cancela, 2008).
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Inouye, Pedrazzani, Pavarini e Toyod (2009) através de Sotto Mayor, Ribeiro e Paúl
(2009) consideraram a família como unidade de cuidados e como uma unidade a ser cuidada.
Assim, quanto maior for o bem-estar do cuidador maior será a sua satisfação, apesar de a
satisfação ser coexistente com patologia depressiva. Uma das conclusões levadas a cabo num
estudo acerca da percepção da satisfação de cuidadores de pessoas com AVC foi o facto de se
considerar que, por uma lado, o cuidar de outra pessoa pode-se tornar numa tarefa difícil, mas,
por outro, pode também estar associada a factores positivos, gerando níveis de satisfação.
Brito (2002, cit in Sotto Mayor et al., 2009) considera que os profissionais de saúde
“devem ser capazes de antecipar as necessidades dos cuidadores e prever o desenvolvimento
de situações pessoais relacionadas com as fases da doença” (p. 5). Segundo a Organização
Panamericana da Saúde, vinculada à OMS, a adaptação do doente à nova situação de
incapacidade física pós AVC é um processo de colaboração entre vários intervenientes: o
próprio sujeito, a sua família e os profissionais de saúde (Teixeira e Silva, 2009). Esta
cooperação não se confina ao ambiente hospitalar, devendo continuar durante toda a
trajectória da doença. As mesmas autoras referem-se à Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (ICF), na qual o AVC constitui “um desafio tanto pelo
impacto social, quanto pelas repercussões na vida das pessoas e suas famílias. O estar ou ser
portador de incapacidade física compromete o próprio indivíduo e os que o cercam;
especialmente a família” (p. 3). Neste sentido, torna-se num desafio para a enfermagem a
preparação, durante o internamento, dos doentes e familiares no sentido de reestruturarem a
vida em seus lares de modo a assumirem os cuidados, detectando, evitando e controlando
situações que possam suceder.
Andrade (1996, cit in Perlini e Faro, 2005) sugere um emergir de uma inevitabilidade
de reorganização. Quer uma redefinição de papéis entre os elementos da família, com a
eleição de alguém que assuma a responsabilidade de cuidador, quer a adaptação do ambiente
físico no domicílio, de modo a suplementar as exigências do familiar doente. Todo este novo
contexto circunstancial pode originar impactos económicos e sociais capazes de reformarem a
própria estrutura familiar. A família é considerada como a fonte mais habitual de assistência
nos cuidados, e a procura da institucionalização dá-se apenas quando a própria família não
consegue ter capacidade e recursos de apoio. Desta forma, há que ter em conta que muitos
cuidadores são pessoas idosas, também elas próprias doentes, e que por seu lado não
conseguem dar resposta às demandas da prestação de cuidados até porque quanto mais
incapacitado estiver o doente, maior será a exigência física do cuidador. Por outro lado, se se
considerarem os filhos como cuidadores, muitos deles trabalham longe do domicilio do
doente e/ou têm filhos, não conseguindo também dar assistência aos progenitores (Perlini e
Faro, 2005).
objectivos alvos na preparação para a alta. Perlini e Faro (2005) afirmam que o conhecimento
das actividades relativas ao cuidado prestado no domicílio e das contrariedades enfrentadas
pelos familiares cuidadores destes doentes, servirão de contributo para o papel educacional da
equipe de enfermagem e interdisciplinar no desenvolvimento de acções de preparação para a
alta hospitalar, de acompanhamento no domicilio e de atenção personalizada ao cuidador.
Estas autoras referem as ideias de Elsen et al. (2002) ao relembrarem que “muitas vezes, as
orientações fornecidas são incoerentes e até impossíveis de serem realizadas no domicílio, em
função das condições em que vivem” os sujeitos (p. 162). Já na década de 90, autores como
Karch (1998) e Andrade (1996) são referenciados por Perlini e Faro (2005) ao explanarem
que é escassa a orientação recebida pelos cuidadores familiares por parte dos profissionais de
saúde, mas apesar da falta de informação adequada, os cuidadores são capazes de cuidarem
dos seus familiares mesmo de forma intuitiva, baseando-se nas suas crenças, anteriores
experiências, e pela troca de esclarecimentos com amigos, vizinhos e até grupos ligados à
igreja e de voluntários, isto é, uma parte da rede de suporte social. As autoras alertam também
para o facto de a falta de preparação do cuidador poder trazer sérios danos ao doente,
resultando, inclusivamente em repetidas hospitalizações. A não boa preparação pode causar
maior desgaste emocional e físico, ocasionando situações de risco para ambos.
De acordo com Silva (1995, cit in Perlini e Faro, 2005), a permanência de sequelas
incapacitantes, impõe aos doentes restrições motoras, sensitivas, de percepção, de
compreensão e expressão, levando a modificar o seu estilo de vida devido às sequelas físicas e
cognitivas que restringem as actividades da vida diária tornando estas pessoas, na maioria das
vezes, dependentes de terceiros. As conclusões do estudo: Cuidar de pessoa incapacitada por
acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar, remetem para a
realidade do cuidar considerando uma prioridade a identificação, por parte dos enfermeiros,
de carências e fragilidades, e a compreensão do processo do cuidar no domicílio. Esta é uma
área em que o enfermeiro pode e deve enfatizar, de forma que a assistência domiciliária
constitua uma metodologia de trabalho a ser repensada e reinventada pelos profissionais de
saúde e em que os enfermeiros concebam que o decurso doença/saúde não se confina ao meio
hospitalar e centros de saúde, onde a interacção com as pessoas em seus domicílios constitui
um estímulo que carece ser assumido (Perlini e Faro, 2005). Estas autoras mencionam
Machado (1995) que considera o cumprimento de programas de reabilitação, mesmo no
domicílio, uma maneira do sujeito enfrentar a sua doença crónica e de assumir novas
responsabilidades. O doente e família encaram o tratamento efectuado pelos fisioterapeutas e
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terapeutas da fala, como uma possibilidade de regresso à situação do sujeito antes do AVC,
num curto prazo. No entanto, ao constatarem que se trata de um processo moroso, juntamente
com a dor e dificuldade na execução dos exercícios por parte do doente, são abaladas as suas
expectativas, gerando sentimentos de desalento e que associados a problemas de transporte e
recursos económicos, levam o doente e família a uma redução progressiva na aderência ao
tratamento, desistindo gradativamente do processo de reabilitação.
Tendo como pano de fundo esta questão, referimos que o presente estudo persegue três
grandes objectivos gerais:
Essencialmente, este trabalho visa traçar uma linha orientadora sobre os cuidados
inerentes ao enfermeiro de reabilitação na abordagem ao doente com AVC, numa lógica de
produção de conhecimentos que facilite o desenho de programas de intervenção formativos e
informativos, visando a minoração das deficiências adquiridas reduzindo consequentemente
as incapacidades e desvantagens à posterior a que está sujeito o doente vítima de AVC.
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2 – MATERIAIS E MÉTODOS
Variáveis Sócio-Demográficas
Variáveis Clínicas Variáveis Circunstanciais da Alta
Idade; Tipo de AVC; Ensino Formal de Preparação
para a Alta;
Sexo;
Tempo de Internamento;
Estado Civil; Necessidade de Ajuda
Zona de Residência; Local da Lesão; Domiciliar;
2.1 – PARTICIPANTES
No contexto deste trabalho de investigação, não nos seria possível estudar a totalidade
da população por ser bastante numerosa, sob pena de este se tornar muito moroso,
dispendioso e de certo modo até difícil de levar a efeito. Recorremos assim ao processo de
amostragem não probabilística que, segundo Fortin (2009), não é mais do que recorrer a “um
grupo de pessoas ou uma porção da população (amostra) escolhida para representar uma
população inteira. Sendo o objectivo deste exercício tirar conclusões precisas sobre a
população, a partir de um grupo mais restrito de indivíduos” (p.310).
A nossa amostra ficou constituída por 61 doentes, na sua maioria homens (65.57%) e
com uma média de idades de 72.54 anos.
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2.2 – INSTRUMENTOS
I Parte
II Parte – Escalas
Índice de Barthel
Numa revisão crítica de mais de vinte escalas de AVDs, Law e Letts (1989 cit in
Vuadens, 2002), analisaram as funções mais adequadas para cada índice e recomendaram o
índice de Barthel. Assim, estamos perante uma escala que avalia a capacidade de execução de
AVD´s e as suas orientações centram-se em focos reais e não potenciais (Vuadens, 2002). O
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tempo dispendido no preenchimento da escala é curto (poucos minutos), o seu custo é baixo,
pode ser efectuado por profissionais, cuidadores informais e pelos próprios doentes,
permitindo monitorizações longitudinais; sendo que estas são algumas das características que
fazem desta escala uma das mais usadas na prática clínica e na investigação. Numerosos
estudos têm demonstrado a sua validade de construção. Araújo et al. (2007) consideram o IB
profusamente utilizado, desde o intra-hospitalar às unidades de convalescença, bem como em
centros de reabilitação. A sua grande desvantagem é que não tem em conta aspectos
cognitivos, sociais ou actividades domésticas (Hsieh et al., 1999 cit in Vuadens, 2002).
Esta escala tem, como já referido, oito níveis que descrevem o comportamento do
doente, assim: o nível I - Sem resposta representa o doente em coma; que não responde a
sons, sinais, luzes, toque ou movimento; no nível II - Resposta Generalizada, o doente reage
inconsciente, com resposta despropositada e inespecífica a estímulos; respostas limitadas,
frequentemente as mesmas independentemente do estímulo; no nível III - Resposta
Localizada, o doente reage especificamente, mas inconscientemente aos estímulos; pode
seguir comandos simples num modo inconsciente e retardado, como fechar os olhos ou
apertar a mão; no nível IV - Confuso / Agitado, representativo de um estado intensificado de
actividade; comportamento bizarro, despropositado relativamente ao ambiente imediato;
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Fonte: Quadro traduzido e baseado em Salter, K. B. A., Jutai J., Teasell R. (2011). Assessment of Outcomes
Following Acquired/Traumatic Brain Injury. ERABI Research Groups.
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2.3 – PROCEDIMENTOS
De acordo com os objectivos definidos para este estudo adoptou-se como metodologia
aplicar um formulário aos doentes, preenchido pelos enfermeiros que trabalham nas unidades
de AVC, já referenciadas no capítulo subjacente aos participantes. A aplicação das escalas,
constituintes do formulário, foi processada em dois momentos distintos: às 24 horas após
AVC e no dia da alta. Foi enviado a cada uma das instituições já mencionadas, um ofício,
concretizando formalmente o pedido para aplicação do formulário. Após a autorização destas
(Anexo II), realizou-se um primeiro contacto com os enfermeiros das unidades de AVC das
instituições hospitalares, onde lhes foi explicitado o objectivo do estudo, apresentado o
instrumento de colheita de dados, solicitada a colaboração para a concretização da
investigação e uniformizaram-se os critérios de aplicação. Foi fornecida uma régua de bolso
com a ERLA para os enfermeiros ficarem familiarizados com a escala, devido ao seu
desconhecimento prévio. Todas as instituições contactadas se mostraram receptivas ao estudo,
apesar de na recolha das colheitas de dados se ter verificado que em só em uma unidade de
AVC os enfermeiros responderam aos questionários.
A colheita de dados decorreu desde o dia 1 Fevereiro de 2011 até dia 31 de Agosto de
2011 e o tempo médio de preenchimento do formulário foi de aproximadamente 10 minutos.
A medida de assimetria Skewness (SK) calcula-se através do cociente entre (SK) com
o erro padrão (Std. Error). Se SK/StdError oscilar entre –2 e 2, a distribuição é simétrica. Mas
se SK/StdError for inferior a –2, a distribuição é assimétrica negativa, com enviesamento à
direita e se SK/StdError for superior a +2, a distribuição é assimétrica positiva com
enviesamento à esquerda (Pestana e Gajeiro, 2003). Para as medidas de achatamento curtose
(K) o resultado também se obtém através do cociente com o erro padrão (Std. Error). Deste
modo se K/StdError oscilar entre –2 e 2 a distribuição é mesocúrtica, pelo contrário se
K/StdError for inferior a –2, a distribuição é platicúrtica, enquanto que para K/StdError superior a
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Em toda a análise estatística, assumimos 0.05 como valor crítico de significância para
os resultados dos testes estatísticos, rejeitando-se a existência de associações/diferenças
quando a probabilidade do erro for superior a este valor. Concretamente assumimos os
seguintes níveis de significância, referenciados por Pestana e Gageiro (2003): p ≥ 0.05 - não
significativo; p < 0.05 - ligeiramente significativo; p < 0.01 - muito significativo e p < 0.001-
altamente significativo. Para a análise do coeficiente de variação (CV), que permite comparar
a percentagem de dispersão de uma variável face à outra, seleccionamos os graus de dispersão
apresentados pelos mesmos autores (2003): CV ≤ 5% – dispersão fraca; 15% < CV ≤ 30% –
dispersão moderada e CV > 30% – dispersão elevada.
Assim, para uma probabilidade igual a 0.05, quando os resíduos se situam entre -1,96 e 1,96:
o comportamento é semelhante ao esperado; inferior a -1.96, significa que a célula tem um
comportamento significativamente inferior ao esperado e acima de 1.96: significa que a célula
tem um comportamento significativamente superior ao esperado. Quando os resíduos
ajustados se situam fora do intervalo: -1.96 e 1.96: há relação entre as variáveis. “A
interpretação dos resíduos ajustados necessita de um número mínimo de oito elementos tanto
no total da linha como na coluna” (Pestana e Gajeiro, 2005, p. 131).
Teste de Mann-Whitney
Teste de Kruskal-Wallis
Este teste é uma alternativa ao teste paramétrico ANOVA one-way (Maroco, 2007).
Assim, é um teste utilizado quando não se encontram reunidos os pressupostos da
normalidade e da igualdade das variâncias. “Permite ver se existem diferenças no pós-teste
entre três ou mais condições experimentais” (Pestana e Gageiro, 2005, p. 455).
Teste de Wilcoxon
De acordo com Maroco (2007, p. 214), este teste tem como aplicação “a comparação
de duas medianas populacionais a partir de amostras emparelhadas”. Segundo Pestana e
Gageiro (2005), o teste de Wilcoxon analisa diferenças entre duas condições: pré-teste e pós-
teste no mesmo grupo de sujeitos; “é uma alternativa não paramétrica ao teste t para amostras
emparelhadas” (p. 477).
44
45
Após a análise descritiva dos dados obtidos, passamos de seguida à análise inferencial
dos mesmos, através da estatística analítica. Procedemos assim, através do estudo das
associações entre as variáveis independentes e a variável dependente da nossa investigação, à
verificação da validade dos objectivos formulados.
Caracterização sócio-demográfica;
Caracterização clínica;
Idade e género
Pela análise da tabela 1, podemos constatar que a amostra utilizada no nosso estudo é
constituída por 61 doentes, 21 do sexo feminino (34.43%) e 40 do sexo masculino (65.57%).
Constatamos igualmente que a idade dos 61 elementos da amostra total oscila entre um
mínimo de 45 anos e um máximo de 91 anos, correspondendo-lhe uma idade média actual de
72.54 anos, um desvio padrão de 11.29 anos e um coeficiente de variação de 0,1556
(15,56%), que nos indica a existência de uma moderada dispersão em torno da média.
Em termos de estado civil constatamos (cf. Tabela 3) que a grande maioria dos
doentes da amostra é casado (78.7%), sendo que este facto é mais evidente no grupo de
doentes do sexo masculino (87.5%) comparativamente ao do sexo feminino (61.9%). O
contrário se passa com os doentes cujo estado civil é viúvo representando a minoria da
amostra (21.3%) e em que o sexo feminino é o mais representativo (38.1%). Um aspecto
importante que se constata é não haver representatividade de sujeitos solteiros e nem
divorciados na amostra. As diferenças entre os grupos são estatisticamente significativas (x2 =
5.380; p = .020) situando-se essas diferenças pelos residuais entre os casados e do sexo
masculino e viúvos do sexo feminino.
48
Profissão e género
A relação entre as variáveis é válida mas não significativa (x2 = 9.141; p = .331).
A análise desta variável mostra-nos (cf. Tabela 8) que 41 elementos da nossa amostra
(67.2%) vivem em moradia, dos quais 34 sujeitos têm escadas e 7 não têm. Em apartamento,
vivem 18 pessoas (29.5%), das quais 5 dispõem de elevador e 13 vivem em apartamentos sem
elevador. Apenas 3.3% residem em lar.
Tipo de AVC
Tempo de Internamento
Lado da Lesão
Factores de Risco
No que concerne aos factores de risco, a HTA é o factor mais representativo com
40.1%, seguida da diabetes com 17.5%, doença cardíaca com 14.2% e hipercolesterolémia
com 13.3%. Os factores de risco: etilismo e obesidade apresentam a mesma percentagem
(5.8%). O tabagismo representa 2.5% da amostra e é constituído apenas por indivíduos do
sexo masculino. A contracepção oral constitui o factor de risco menos representativo sendo
respeitante a um único elemento do sexo feminino. Apenas um elemento da amostra não
apresenta qualquer factor de risco associado.
53
Tipo de AVC
Tempo de Internamento
Local da Lesão
Factores de Risco
Programa de Reabilitação
No que diz respeito ao número de sessões (cf. Tabela 11), este variou entre o mínimo
de uma sessão até ao máximo de 13 sessões. Analisando as descrições estatísticas,
verificamos que a média do número de sessões é de 5.29 apresentando uma dispersão elevada
(CV > 30%).
Dos 61 elementos da amostra, o ensino formal de preparação para a alta apenas foi
efectuado a 41 elementos que corresponde a 67.2% do total, tendo maior representatividade o
sexo masculino relativamente ao feminino. Assim sendo, a quase 1/3 da amostra não foi
efectuado ensino formal de preparação para a alta.
Dos 41 elementos da amostra a quem foi feito ensino formal de preparação para a alta,
e de acordo com a Tabela 13, podemos verificar que o ensino foi dirigido na sua maioria ao
56
cuidador (36.6%), seguido do ensino dirigido a ambos (doente e cuidador) com 34.1% e a
apenas 29.3% o ensino foi dirigido ao próprio doente.
Ajuda Domiciliar
Quanto à necessidade de ajuda domiciliar após a alta, podemos constatar (cf. Tabela
15) que 37.8% da amostra não carece dessa ajuda e 31.1% necessita de ajuda familiar,
precisando a mesma percentagem (31.1%) de ajuda assistencial. Quanto ao género, podemos
referir que o sexo masculino é mais representativo quer para não necessitar de qualquer ajuda,
57
como para precisar de ajuda assistencial. Quanto ao sexo feminino, este é mais representativo
para a necessidade de ajuda familiar (47.6%).
Para analisar a capacidade funcional do doente com AVC recorremos a duas escalas
distintas: Escala de Barthel e Escala Rancho Los Amigos que avaliam respectivamente a
capacidade física e a capacidade cognitiva. As avaliações foram efectuadas em dois
momentos distintos: às 24 horas após o AVC e no dia da alta.
Escala de Barthel
Barthel n % n % n % n % n % n %
Podemos constatar, pela análise da Tabela 17, que às 24 horas após o AVC, não houve
nenhum doente com o menor nível cognitivo, isto é, do Nível I, mas no momento da alta
houve um elemento do sexo masculino e outro do sexo feminino. Quanto ao Nível II, houve
três sujeitos da amostra às 24 horas e nenhum aquando a alta. O Nível III só está representado
no sexo masculino por dois elementos, mantendo-se o mesmo número na segunda avaliação e
59
no mesmo género. No que diz respeito ao nível IV, existem dois elementos no sexo masculino
e dois elementos no sexo feminino na primeira avaliação, isto é às 24 horas após o AVC, e na
alta não se verifica nenhum indivíduo com este Nível em ambos os géneros (.0%). O nível V
tem maior representatividade às 24 horas (16.4%) relativamente à alta (8.2%), tendo mais
elementos o sexo masculino relativamente ao sexo feminino em ambos os momentos de
avaliação. O Nível VI é caracterizado por ter a mesma quantidade de elementos do sexo
feminino às 24 horas e na alta (28.6%), tendo o sexo masculino três elementos na primeira
avaliação e ficando com dois sujeitos no momento da alta.
Após a análise descritiva dos dados obtidos, passamos ao procedimento seguinte que
consiste em “inferir acerca dos valores dos parâmetros da população teórica de onde foram
obtidas as amostras” (Maroco, 2007, p. 55). Com a ajuda da estatística inferencial, isto é,
através do recurso à utilização dos testes estatísticos, podemos determinar “se as relações
observadas entre certas variáveis numa amostra são generalizáveis à população de onde esta
foi tirada” (Fortin, 1999, p. 269), no entanto, no presente estudo, com as devidas ressalvas,
dado que a amostra por nós estudada é do tipo não probabilístico o que nos limita a
procedermos a generalizações. Assim, trata-se de determinar em que medida os valores da
amostra constituem por si só, boas estimações dos parâmetros da população.
Após uma análise inicial subjacente aos resultados do estudo da relação entre a
capacidade funcional física e cognitiva às 24 horas de internamento e aquando da alta
procedemos de seguida ao estudo de outras variáveis, tendo por referência os dois momentos
de avaliação no intuito de inferir acerca dos efeitos das variáveis independentes sobre a
variável dependente de forma a encontrar fundamento empírico que dê resposta aos objectivos
do presente estudo emergentes da seguinte questão de investigação: “Qual a influência das
variáveis de contexto sócio-demográfico e clínico na capacidade funcional do doente após
acidente vascular cerebral?”
Score Escala de Rancho Los Amigos 1 (às 24 horas) 33.39 26.45 324.500 .134
Score Escala de Rancho Los Amigos 2 (na Alta) 32.90 27.38 344.000 .219
Wallis (cf. Tabela 20). Assim, podemos verificar que os grupos com idades entre os 45 e 62
anos apresentam ordenações médias mais altas em todas as subescalas em relação aos
restantes grupos etários, traduzindo uma maior capacidade funcional neste grupo etário. De
forma oposta se comporta o grupo dos 81-91 anos que apresenta as ordenações médias mais
baixas à excepção do momento de avaliação da capacidade cognitiva às 24 horas de
internamento.
Grupos Etários 45 – 62 63 – 75 76 – 80 81 – 91 X2 p
Total Escala Barthel 1 (às 24 Hrs) 37.46 29.38 30.04 28.00 2.550 .466
Total Escala Barthel 2 (na Alta) 41.82 33.59 27.14 22.82 9.935 .019
Score Escala de Rancho Los Amigos 1 (às 24 Hrs) 40.21 33.88 25.14 25.53 7.846 .050
Score Escala de Rancho Los Amigos 2 (na Alta) 42.18 34.25 28.36 20.91 13.468 .004
estatística na primeira avaliação da capacidade cognitiva expressa pela escala Rancho Los
Amigos. No momento da alta, quer a capacidade funcional física, tal como a capacidade
cognitiva, apresentam um valor muito significativo.
Escala de Rancho Los Amigos 1 (às 24 Hrs) 39.19 28.09 229.000 .026
Escala de Rancho Los Amigos 2 (na Alta) 40.72 27.54 204.500 .007
Realizado o teste de U Mann – Whitney (cf. Tabela 22) verificámos que as ordenações
médias são menores nos doentes com AVC hemorrágico em todas as avaliações das escalas, o
que traduz menor capacidade funcional nos doentes com este tipo de AVC. No entanto,
nenhuma destas diferenças adquire significância estatística (p > 0.05).
64
Capacidade Funcional
Escala de Rancho Los Amigos 1 (às 24 horas) 30.82 22.75 136.500 .258
Escala de Rancho Los Amigos 2 (na Alta) 30.94 21.67 130.000 .179
Capacidade Funcional
Escala de Rancho Los Amigos 1 (às 24 horas) 36.95 25.24 286.500 .008
Escala de Rancho Los Amigos 2 (na Alta) 37.10 25.10 282.000 .005
O sentido dos resultados altera-se para a capacidade cognitiva avaliada pela ERLA em
ambos os grupos de doentes onde as ordenações negativas são superiores às positivas. Neste
âmbito, as diferenças encontradas são muito significativas (p 0.01) sugestivas de uma menor
capacidade funcional cognitiva, independentemente do tempo de internamento.
hemisfério esquerdo. No entanto pelos valores de p > 0.05, as diferenças encontradas entre os
grupos não são estatisticamente significativas.
Capacidade Funcional
Escala de Rancho Los Amigos 1 (às 24 horas) 29.77 25.68 305.500 .325
Escala de Rancho Los Amigos 2 (na Alta) 27.02 27.88 348.500 .830
Quando aplicado o Teste de Wilcoxon, podemos constatar (cf. Tabela 27) que todos os
doentes tiveram uma evolução positiva, independentemente da localização da lesão, isto é,
uma melhoria da capacidade funcional física e cognitiva avaliadas pela escala de Barthel, e
ERLA desde a primeira para a segunda avaliação. Em concreto existem diferenças estatísticas
altamente significativas entre os dois momentos de avaliação nos doentes com AVC no
hemisfério esquerdo (p = 0.000) na evolução da capacidade física e muito significativas no
grupo de doentes com AVC no hemisfério direito na evolução da capacidade física e no grupo
de doentes com AVC no hemisfério esquerdo aquando a evolução da capacidade cognitiva (p
< 0.01). Nos doentes com AVC no hemisfério direito e no que diz respeito à evolução da
capacidade cognitiva, as diferenças são ligeiramente significativas (p = 0.012).
Após a aplicação Teste Kruskal-Wallis, podemos constatar (cf. Tabela 28) que às 24
horas de internamento, em ambas as escalas, os doentes com o grupo de risco de ordem
metabólica são os que apresentam uma ordenação média mais elevada e portanto melhor
capacidade funcional física e cognitiva. O que também acontece no momento da alta, no que
concerne apenas à capacidade funcional cognitiva. Respeitante à capacidade funcional física,
são os doentes do grupo de risco Comportamental que apresentam uma ordenação média
superior. Os doentes com grupo de risco de ordem cardiovascular são os que apresentam
ordenações médias mais baixas no momento da alta em ambas as escalas, significando que
são estes os doentes com pior capacidade funcional a todos os níveis aquando a alta. No
entanto, as diferenças não são estatisticamente significativas (p > 0.05).
69
Ordenação Ordenação
Ordenação Média Ordenação Média
Capacidade Funcional Média Média
Total Escala Barthel (às 24 Hrs) 27.34 27.33 40.17 30.82 1.680 .641
Total Escala Barthel (na Alta) 27.71 48.67 31.00 29.54 3.959 .266
Escala de Rancho Los Amigos (às 24 Hs) 27.50 23.83 50.33 30.15 5.374 .146
Escala de Rancho Los Amigos (na Alta) 27.76 35.50 39.50 29.93 1.737 .629
O grupo que associa dois ou mais grupos de factores de rico, designado Outro,
apresenta uma ordenação positiva superior à negativa para a capacidade funcional física, com
um valor crítico altamente significativo (p = 0.000). Mas no que diz respeito à capacidade
funcional cognitiva, a ordenação positiva é inferior à ordenação negativa, com um valor
estatisticamente ligeiramente significativo (p = 0.012).
70
Realizado o teste de U Mann – Whitney verificámos (cf. Tabela 30) que em todas as
avaliações da capacidade funcional, as ordenações médias são menores nos doentes que não
cumpriram programa de reabilitação, face aos que usufruíram do programa de reabilitação,
com um nível estatístico ligeiramente significativo (p 0.05) apenas para as avaliações da
escala de Barthel, mas sem significância estatística para a ERLA com p > 0.05.
71
Capacidade Funcional
Escala de Rancho Los Amigos 1 (às 24 horas) 33.20 29.93 366.000 .484
Escala de Rancho Los Amigos 2 (na Alta) 32.90 30.07 372.000 .534
Após a análise dos dados obtidos e procurando salientar os resultados mais relevantes,
surge a necessidade de os interpretar e discutir, tendo por referência a revisão bibliográfica
efectuada, de modo a auferir as conclusões possíveis e destacar o interesse no
desenvolvimento de novos estudos. Neste contexto, discutir-se-ão os resultados que se
realçaram na execução do capítulo anterior. Para uma melhor organização da nossa discussão,
optámos por interpretar os resultados obtidos tendo por base os objectivos expressos no inicio
da presente investigação. Cada objectivo será estruturado por dois momentos: no primeiro
abordaremos de forma sintética os achados da nossa investigação; e no segundo momento,
faremos a discussão e análise dos resultados obtidos, comparando-os com investigações
anteriores, expressando quando possível a minha experiência pessoal.
A nossa amostra foi constituída por 61 doentes, vítimas do primeiro episódio de AVC,
maioritariamente do sexo masculino (65.57%). No que respeita à variável idade, esta oscilou
entre os 45 anos e os 91 anos, correspondendo-lhe uma idade média de 72.54 anos, sendo o
grupo etário mais representativo o dos 81 aos 91 anos, constituindo 27,8% da amostra. No
referente a outras variáveis sócio-demográficas utilizadas na caracterização da amostra,
podemos de um modo geral descreve-la dizendo que a maioria dos sujeitos são casados
(78.7%), residem em meio rural (67.2%) e como habilitações literárias possuem o 1º ciclo do
ensino básico (com quatro anos de escolaridade) representando 55.7% da nossa amostra
Quanto à situação laboral, e indo de encontro com a média de idades atrás mencionada, 75.4%
estão reformados. Quando inquiridos quanto ao grupo profissional, 47.6% dos indivíduos da
nossa amostra pertencem ao grupo dos agricultores e trabalhadores rurais.
74
Relativamente aos ensinos formais de preparação para a alta, foram realizados apenas
pelos enfermeiros. Do ensino efectuado, apenas 19.5% deste foi da responsabilidade do
enfermeiro especialista em reabilitação. Quanto à visita pré-domiciliária, esta não foi
efectuada a nenhum elemento da amostra.
Podemos afirmar, em suma, que estamos perante uma amostra constituída na sua
maioria por homens o que corrobora com a revisão de literatura sobre as diferenças de sexo
na epidemiologia do AVC, que demonstra que este é mais comum em homens que em
mulheres (Appelros, Stegmayr e Terént, 2009). A nossa amostra revela que os doentes são
maioritariamente idosos Os estudos encontrados na literatura, referem que o AVC é
primariamente uma doença característica da idade avançada (Humphrey, Gibson e Jones,
2010). Uma das justificações sugeridas por Lusignan et al. (2006) bem como por Fairhead e
Rothwell (2006) cit in Humphrey, Gibson e Jones (2010), é a existência de boas evidências
que mostram que as pessoas idosas não são tão bem diagnosticadas e tratadas
comparativamente com as pessoas jovens, até porque factores de risco, nomeadamente a
incidência de estenose carotídea, aumentam acentuadamente com a idade. A DGS (2004) cit
in Andrade (2009) especifica que o aumento da prevalência do AVC aumenta de 3% aos 65
anos para 30% com idade igual e superior a 85 anos. Estudos referem que a idade média de
sofrer um AVC, nas mulheres é aos 75 anos, superior quando comparada com a idade média
de AVC nos homens (70 anos) (Feigin, Lawes, Bennett, Zorowitz e Anderson, 2009),
contrariamente ao demonstrado nos elementos da nossa amostra, em que a média de idades
para o sexo masculino ( x =72.80) é ligeiramente superior à do sexo feminino ( x =72.05),
apresentando ambos uma dispersão moderada (15% < CV ≤ 30%).
em que esta prestação se baseava num acto de reciprocidade” (p. 41), actualmente assistimos
a um processo de mudança na estrutura familiar e dos papéis exercidos pelos seus membros.
Vários fenómenos tais como: famílias com reduzido agregado familiar, o papel activo da
mulher no mercado de trabalho, migrações para meios urbanos dispersos geograficamente ou
mesmo para o estrangeiro e aumento do número de famílias divorciadas, explicam a
diminuição de cuidadores informais (Andrade, 2009). No entanto, quando os filhos, pelas
razões atrás referidas, ou porque o conjugue também doente e/ou idoso, não conseguem
prestar os cuidados direccionados ao doente vitima de AVC, há necessidade de apoio
assistencial. Este último passa pela colaboração de centros de dia e serviços de apoio
domiciliário. Quando estas redes de suporte referidas não dão resposta dá-se a
institucionalização do doente em lares ou internamento em unidades especificas após
referenciação para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI).
Relativamente aos ensinos, estes não foram feitos por outros grupos profissionais,
além dos enfermeiros, talvez porque os doentes que necessitem de outros profissionais de
saúde, nomeadamente fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e terapeutas da fala, continuem
a manter contacto com estes, no Serviço de Medicina Física e de Reabilitação após a alta,
dando continuidade ao programa de reabilitação instituído pelo Fisiatra. A pouca percentagem
de ensinos efectuados pelo enfermeiro especialista em reabilitação pode-se atribuir à presença
de apenas um único especialista no serviço onde foi feita a colheita da amostra.
No que concerne aos factores de risco, a HTA é o mais comum nos doentes que
estudámos. De acordo com a bibliografia revista, doentes com hipertensão diastólica elevada
têm um aumento de risco de AVC em 46% e doentes medicados para hipertensão sistólica
79
isolada, o risco de AVC é reduzido em 36% (Jurgens e Graudal, 2004 cit in Humphrey,
Gibson e Jones, 2010). Auditorias sobre tratamento do AVC têm revelado que o deficiente
controlo da pressão arterial é o mais importante factor de mortalidade, apesar de ser um factor
de risco evitável e tratável.
Quanto aos 13.3% dos elementos com hipercolesterolémia, estes possuem, pela forte
relação com a formação de placas ateromatosas, maior risco associado ao AVC, e tal como já
dito na fase conceptual, a aterosclerose das artérias extra e intracraniana é responsável por
cerca de dois terços dos AVC´s isquémicos (Tannouri, 2006).
Apesar de apenas 2.5% dos elementos serem fumadores, Shinton e Beevers (1989 cit
in Humphrey, Gibson e Jones, 2010) acusam a forte ligação entre o tabagismo e incidência de
AVC em 50%, considerando que habituais consumidores de tabaco apresentam evidentemente
maior risco, independentemente de terem outros factores de risco associados. Também Wolf
et al. (1998) cit in Pinzon e Furie (2009) consideram que fumar duplica em média o risco de
AVC. O risco individual de AVC e outras doenças vasculares diminui rapidamente aquando a
cessação do consumo de tabaco (Wolf et al., 1988 cit in Humphrey, Gibson e Jones, 2010).
et al. (2002) cit in Humphrey, Gibson e Jones (2010) um factor de risco para o AVC na
medida em que homens com índice de massa corporal (IMC) de 30 Kg/m2 ou mais, têm duas
vezes mais risco de AVC do que aqueles que têm um IMC de 20-29, e a cada aumento de
unidade do IMC é associado um aumento de 6% no risco de AVC. Quanto ao etilismo,
representado também por 5.8% dos indivíduos, Reynolds et al (2003) cit in Pinzon e Furie
(2009), consideram que o consumo excessivo de álcool (60 gramas por dia), aumenta o risco
individual de AVC para todos os subtipos, especialmente a hemorragia intracerebral e a
hemorragia subracnóideia, estando também associado à incidência da HTA.
Quanto ao tipo de AVC, e apesar de os doentes quer com AVC isquémico e AVC
hemorrágico terem evoluído favoravelmente entre o início do internamento e na alta,
melhorando a sua capacidade funcional física e cognitiva, foi no grupo de doentes com AVC
isquémico que as avaliações de Barthel e ERLA apresentam diferenças estatísticas altamente
significativas (p = 0.000), sendo também melhor a capacidade funcional física e cognitiva
82
logo às 24 horas de internamento nos doentes com este tipo de AVC (isquémico)
relativamente aos doentes com AVC hemorrágico.
Através da análise dos dados, obtidos no capítulo anterior, relativamente aos grupos
que abrangeram os factores de risco, podemos concluir que no primeiro momento de
avaliação, os doentes com factores de risco de ordem metabólica (diabetes e
hipercolesterolémia) são os que apresentam melhor capacidade funcional física e cognitiva.
No momento da alta, no que respeita à capacidade cognitiva, também estes indivíduos têm
melhores resultados. No entanto as diferenças não são estatisticamente significativas (p >
0.05).
Chegamos agora a uma das variáveis que constitui, também ela, forte determinante na
evolução da capacidade funcional: o programa de reabilitação. Todos os doentes da amostra,
independentemente de cumprirem ou não o programa de reabilitação, tiveram uma evolução
positiva na sua capacidade funcional física; para os que não cumpriram programa de
reabilitação, existe um nível estatístico altamente significativo (p = 0.000) e para os que
tiveram acesso ao programa de reabilitação o valor crítico é considerado muito significativo
(p = 0.001). O mesmo não se pode auferir relativamente à capacidade funcional cognitiva,
uma vez que houve uma involução, e para doentes que não usufruíram do programa de
reabilitação esta diferença é altamente significativa (p = 0.000). Para os doentes que
usufruíram do programa, o valor crítico não é significativo (p = 0.064).
O facto de as mulheres terem tido uma evolução menos favorável que os homens, na
nossa amostra as diferenças não são estatisticamente significativas (p > 0,05). No entanto, um
estudo envolvendo 1136 indivíduos entre os quais 638 mulheres, sobre Diferenças de Género
na Incidência de AVC e pós-AVC, Petrea et al. (2009) constataram que as mulheres
apresentaram incapacidades significativamente maiores do que os homens quer na fase aguda
do AVC em executar determinadas actividades de vida diárias quer no follow-up aos 3 e 6
meses após o AVC, e com maior probabilidade de serem reinstitucionalizadas (p 0.01).
Quanto à idade, os idosos evoluem menos favoravelmente comparativamente com os
doentes mais novos, o que nos leva a concluir que quanto menor for a idade do doente, melhor
será a sua capacidade funcional geral na fase aguda e aquando a alta. Muitos dos idosos não
associam o início dos sintomas na fase aguda do AVC, atribuindo esses sintomas a outra
doença anterior como a fadiga, dor de cabeça crónica, artrite e fraqueza, não tomando as
medidas imediatas de actuação (Shaughnessy e Michael, 2009), dirigindo-se ao hospital ou
pedindo ajuda. Contudo, não nos podemos esquecer de que com o aumento da idade e no
processo do envelhecimento mesmo sem história de AVC, o indivíduo experimenta alterações
em vários sistemas do organismo, ao nível da visão, da audição, do metabolismo, declínio das
actividades intelectuais, alterações no aparelho locomotor, estando as pessoas idosas mais
limitadas física e mentalmente (Andrade, 2009). Assim, quer no processo natural do
84
envelhecimento, quer indivíduos com AVC com idade superior a 65 anos, as suas capacidades
funcionais são menores e os graus de dependência maiores.
O facto dos doentes com AVC hemorrágico terem tido uma evolução menos
favorável, vai ao encontro com a revisão literária contemplada na primeira parte. Autores
como Parente et al. (2000) referem que o AVC hemorrágico apresenta maior severidade
comparativamente ao AVC isquémico, traduzindo-se por internamentos mais prolongados,
maiores complicações, maior taxa de mortalidade e maiores custos financeiros associados.
Quanto aos grupos de risco, são os doentes com factores de risco de ordem metabólica
85
O facto dos doentes que tinham factores de risco de ordem comportamental serem os
que inicialmente apresentavam pior capacidade física e cognitiva e na alta apresentarem a
melhor capacidade física, comparativamente aos doentes com outros factores de risco, revela
a importância do ensino e prevenção secundária acerca dos factores de risco modificáveis
nomeadamente o tabagismo, a obesidade e o etilismo. Medidas de combate a estes factores,
tais como dar conhecimento sobre os malefícios destes factores e de que maneira foram
responsáveis pelo internamento dos doentes, juntamente com vários tipos de apoio
nomeadamente a orientação dada nas consultas de Nutrição e Cessação Tabágica ainda
durante o internamento, podem constituir toda a diferença para uma melhor qualidade de vida
e não recorrência de novo AVC. Nos doentes com factores de risco de ordem cardíaca,
apesar da sua evolução favorável durante o internamento, foram os que apresentaram
menor capacidade física e cognitiva na alta. Este facto pode induzir-nos que a HTA e a
doença cardíaca têm tratamentos específicos e mais complexos. A HTA, enquanto factor de
risco modificável, acredita-se que com os ensinos e medidas já atrás referidas, possa ser
melhorada; no entanto, a patologia cardíaca, considerada silenciosa, necessita de constante
supervisão clínica bem como medicação particularmente adaptada em função do próprio
organismo do doente, justificando assim os resultados menos favoráveis no momento da alta.
5 – CONCLUSÕES
Após esta odisseia procuramos agora reflectir sobre as limitações do nosso estudo,
fornecendo sugestões e fazemos de seguida uma breve abordagem à forma como cumprimos o
trajecto efectuado e onde focamos as principais conclusões deste estudo. No final deste
capítulo realizamos uma reflexão sobre as implicações práticas onde sugerimos algumas
medidas que, segundo os nossos achados, pensamos ser oportunas e benéficas visando o apoio
ao doente vítima de AVC.
Por estarmos cientes das nossas limitações, sugerimos novas investigações nesta área
com um número de elementos consideravelmente maior de forma que a sua representatividade
seja generalizada para a população em geral, constituindo boas estimações dos parâmetros
dessa mesma população.
88
No quarto capítulo realizamos a discussão dos resultados, que visam dar uma resposta
concreta aos objectivos inicialmente traçados. Assim, tomando em consideração a ordem dos
objectivos gerais da presente investigação, chegamos às seguintes conclusões:
IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
Quanto aos factores de risco modificáveis, verificámos que todos eles estão
directamente relacionados com a ocorrência de AVC, no entanto, factores comportamentais,
como a obesidade, etilismo e tabagismo são mais facilmente corrigíveis, havendo uma melhor
evolução da capacidade funcional destes doentes após prevenção secundária. Desta forma, o
sucesso de conseguir que o indivíduo cesse de fumar requer uma combinação
multiprofissional, desde campanhas de sensibilização anti-tabágica, apoio psicológico, à
terapia famacológica (Rice e Stead, 2004, Silagy et al., 2004 cit in Humphrey, Gibson e
Jones, 2010). Já o exercício físico tem um efeito benéfico não só na diminuição de peso como
também na redução de outros factores de risco tais como a HTA, hipercolesterolémia e
diabetes. Considera-se que o exercício físico reduz o risco de AVC quer isquémico, quer
hemorrágico (Lee et al., 2003 cit in Humphrey, Gibson e Jones, 2010).
HTA e o alcoolismo devem ser grandemente consideradas pelo pior panorama nestes doentes,
como já referido na fundamentação teórica. Estudos comprovam que a restrição de sal na
comida é benéfica para o tratamento da HTA e alguns doentes podem mesmo reduzir ou parar
de tomar medicação anti-hipertensora (Hooper et al., 2004 cit in Humphrey, Gibson e Jones,
2010).
Assim e após esta reflexão, podemos finalmente ter uma visão mais ampla do status do
AVC, quer como doença per se, como também pela identificação das suas determinantes e de
que forma influenciam a capacidade funcional e consequente (in)dependência dos doentes que
experimentam esta condição.
92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Parente F., Fernandes A., Pinheiro B., Isidoro A., Barbosa V., Torres S. e
Ferreira A. P. (2000). Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico – Impacto Clínico e Social -
Uma experiência num Hospital Distrital, Trabalho apresentado no 6º Congresso Nacional de
Medicina Interna. Porto. Acedido em 23, Março, 2011 em
http://www.spmi.pt/revista/vol09/v09_n3_avc_hemorragico.pdf.
AVC, rev latino-am enfermagem setembro-outubro; 17(5), Acedido em 22, Julho, 2011 em
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v17n5/pt_04.pdf.
Saúde sob a orientação do Professor Doutor José Luís Pio Abreu. Instituto Superior Miguel
Torga: Escola Superior de Altos Estudos. Coimbra.
World Health Organization (2006). WHO STEPS Stroke Manual: The WHO
STEP wise approach to stroke surveillance. Geneva, World Health Organization.
101
ANEXOS
102
103
ANEXO I
Instrumento de Colheita de Dados
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Código do Formulário
105
Parte I
3 – Estado Civil:
Solteiro
Casado
Viúvo
Divorciado
Outro. Qual? __________________________
4 – Zona de Residência:
Urbana
Rural
5 – Habilitações literárias:
Não sabe ler nem escrever
Menos de 4 anos de escolaridade
4 anos de escolaridade (4ª classe)
4-6 anos de escolaridade
7-9 anos de escolaridade
10-12 anos de escolaridade
Curso Superior
Outro. Qual?__________________________
8 – Condições habitacionais:
Moradia
Com escadas
Sem escadas
Apartamento
Com elevador
Sem elevador
Outro. Qual?__________________________
Parte II
Caracterização Clínica
1 – Tipo de AVC:
Isquémico
Hemorrágico
Outro. Especificar ____________________
2 - Tempo de Internamento:
até 7 dias
de 7 a 14 dias
mais que 14 dias
4- Factores de Risco:
HTA
Diabetes
Doença Cardíaca
Hipercolesterolemia
Tabagismo
Estilismo
Obesidade
Outro (s). Qual(ais)?_______________________
5.1 – Se a resposta foi Sim, por quem foi realizado o programa de reabilitação?
Enfermeiro de Reabilitação
Fisioterapeuta
Outro. Especifique ______________________________
5.2 – Se a resposta foi Sim, qual o número de sessões de reabilitação realizadas? __________
Enfermeiro Generalista
Enfermeiro de Reabilitação
Fisioterapeuta
Terapeuta Ocupacional
108
8.1 – Se a resposta foi Sim, quem realizou ou irá realizar essa visita?
Enfermeiro de Reabilitação
Fisioterapeuta
Outro. Especifique ______________________________
109
Parte III
Avaliação da Evolução da Capacidade Funcional
Escala de Barthel
Actividades de Vida Diária Às 24 horas Dia da Alta
___/___/___ ___/___/___
0 = Totalmente dependente
Alimentar 5 = Precisa de ajuda para cortar, barrar a manteiga, etc..
10 = Independente (a comida é providenciada)
0 = Necessita de ajuda com o cuidado pessoal
Higiene 5 = Independente no barbear, dentes, rosto e cabelo (utensílios
Pessoal fornecidos)
0 = Incontinente ou cateterizado e incapacitado de cuidar da
Urinar algália
5 = Acidente Ocasional (máximo uma vez em 24 horas)
10 = Continente
0 = Incontinente (ou precisa que lhe façam um enema);
Evacuar 5 = Acidente Ocasional (uma vez por semana)
10 = Continente
0 = Incapaz – não tem equilíbrio ao sentar-se
Transferência 5= Grande ajuda física (uma ou duas pessoas), mas consegue
(Cama/Cadeir sentar-se
a e Vice Versa) 10 = Alguma ajuda (verbal ou física)
15- Independente
0 = Imobilizado
5 = Independente na cadeira de rodas incluindo cantos, etc…
Mobilidade 10 = Anda com ajuda de uma pessoa (verbal ou física)
15 = Independente (alguns tem a ajuda de uma bengala)
0 = Totalmente Dependente
Ir à casa de 5 = Precisa de ajuda mas consegue fazer algumas coisas sozinho
banho 10 = Independente
0 = Totalmente Dependente
Vestir 5 = Precisa de ajuda, mas faz cerca de metade sem ajuda
10 = Independente (incluindo botões, fechos e atacadores)
0 = Dependente, necessita de ajuda
Tomar banho 5 = Independente
0 = Incapaz
Escadas 5 = Precisa de ajuda (verbal, física, ajuda carregando)
10 = Independente para subir e descer
Total (0-100)
110
Terminou o formulário.
Muito Obrigada pela sua colaboração.