Denominações e Seitas - Assembleia de Deus

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 5

1

SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL


CURSO DE TEOLOGIA
PAULO HENRIQUE F M ROCHA

DENOMINAÇÕES E SEITAS
ASSEMBLEIA DE DEUS

GOIANIA, GO
2024
2

AS ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL: UMA ANÁLISE HISTÓRICA,


SOCIOLÓGICA E DOUTRINÁRIA

Introdução:
O presente trabalho propõe-se a analisar a trajetória histórica, o impacto sociológico e os
aspectos doutrinários das Assembleias de Deus no Brasil, desde sua gênese no fervor do
avivamento da Rua Azuza, em Los Angeles, até sua consolidação como uma das maiores
denominações evangélicas do país. Partindo do avivamento liderado pelo Pr. William J.
Seymour entre 1906 e 1909, examinaremos como o pentecostalismo se propagou pelos
Estados Unidos e alcançou o Brasil, configurando-se como um movimento religioso de
grande apelo popular.

1. A Chegada do Pentecostalismo e a Fundação das Assembleias de Deus no Brasil:


O movimento pentecostal, originário do Avivamento da Rua Azuza (1906-1909),
caracterizou-se por uma experiência religiosa efusiva, com ênfase nos dons espirituais, como
a glossolalia e a cura divina. Em 1909, o pastor batista sueco Gunnar Vingren, em Chicago,
teve contato com o pentecostalismo e, juntamente com Daniel Berg, recebeu o chamado para
pregar no Brasil.
A chegada dos missionários suecos a Belém, em 19 de novembro de 1910, marcou o início da
história das Assembleias de Deus no país. Após um breve período de colaboração com a
Igreja Batista local, Vingren e Berg, juntamente com 17 simpatizantes, foram expulsos em 13
de junho de 1911 devido às suas crenças pentecostais. Cinco dias depois, em 18 de junho de
1911, a Assembleia de Deus foi oficialmente fundada em Belém do Pará.

2. Organização, Expansão e Desafios:


A partir da década de 1920, as Assembleias de Deus experimentaram um rápido crescimento,
expandindo-se para diferentes regiões do Brasil. Em 17 e 18 de fevereiro de 1929, ocorreu em
Natal (RN) a reunião preliminar para a criação da Convenção Geral das Assembleias de Deus
no Brasil (CGADB), que foi oficialmente fundada em 1930.
Durante este período, a igreja enfrentou desafios como a definição de uma identidade própria
em um contexto cultural diverso, a relação com outras denominações evangélicas e a
administração de um crescimento acelerado. A Segunda Guerra Mundial (1938-1945) trouxe
3

dificuldades adicionais, resultando na suspensão das assembleias convencionais durante esse


período.

3. Cismas, Divergências Doutrinárias e Adaptação:


A partir da segunda metade do século XX, as Assembleias de Deus vivenciaram uma série de
cismas e divisões internas. Um exemplo emblemático é a cisão do Ministério de Madureira,
em 1958, liderada por Paulo Leivas Macalão. As divergências em torno da autonomia das
igrejas locais, do papel dos dons espirituais e da interpretação de alguns pontos doutrinários
levaram à formação de diferentes convenções e ministérios.

4. Modernização, Ascensão Social e o Desafio da Unidade:


Nas últimas décadas, as Assembleias de Deus têm passado por um processo de modernização,
incorporando novos meios de comunicação em sua missão evangelizadora. Em 1990, a
CGADB lançou o projeto “Década da Colheita”, um esforço evangelístico coordenado pelo
Pr. Waldir Bícego, visando envolver todas as igrejas em um grande movimento evangelístico.
A ascensão social de parte de seus membros também tem provocado mudanças na estrutura e
na liturgia da igreja. No entanto, o desafio de manter a unidade em meio à diversidade de
interpretações doutrinárias e à proliferação de ministérios independentes continua presente.

5. Estrutura Organizacional e Aspectos Doutrinários:


A estrutura organizacional das Assembleias de Deus no Brasil é caracterizada por uma
abordagem descentralizada, refletida em seu estatuto. Este documento, composto por apenas
14 parágrafos, foca primordialmente em aspectos doutrinários, deixando questões
administrativas e eclesiásticas em segundo plano.

Doutrinas e Práticas Fundamentais:


Batismo: Praticado por imersão (credobatismo), simbolizando a remissão dos pecados e o
nascimento de uma nova criatura em Cristo.
Santa Ceia: Adota-se uma visão próxima à transubstanciação, com reverência especial aos
elementos.
Arrebatamento e Escatologia: Crença no retorno iminente de Cristo e no arrebatamento da
igreja.
Batismo no Espírito Santo: Experiência subsequente à conversão, frequentemente
acompanhada pela glossolalia.
4

Cura Divina: Enfatiza-se a cura como parte integral do evangelho, atribuindo a falta de cura a
fatores como pecado não confessado, opressão demoníaca, falta de fé ou vontade divina.
Dons Espirituais: Crença na disponibilidade e busca ativa dos nove dons espirituais
mencionados em 1 Coríntios 12.

Questões Éticas e Sociais:


Divórcio: Permitido apenas em caso de adultério.
Aborto: Proibido em qualquer circunstância.
Homossexualidade: Considerada pecaminosa, exigindo abandono da prática.
Eutanásia: Fortemente repudiada.

Dízimos e Ofertas: Prática enfatizada como dever do crente, com um sistema de distribuição
específico (30% para a sede, 35% para a igreja local, 35% para o pastor, com um teto
estabelecido).

A questão da ordenação feminina tem sido um ponto de debate e divergência entre diferentes
ministérios e convenções, refletindo as tensões entre tradição e adaptação às mudanças
sociais.

Conclusão:
A história das Assembleias de Deus no Brasil é marcada por um paradoxo: a expansão
numérica e a fragmentação institucional. O pentecostalismo encontrou no Brasil um terreno
fértil para se propagar, adaptando-se à cultura local e conquistando milhões de fiéis. No
entanto, a ênfase na experiência individual, a descentralização administrativa e a diversidade
de interpretações bíblicas também contribuíram para o surgimento de cismas e divisões.
A estrutura doutrinária e organizacional das Assembleias de Deus reflete sua origem no
movimento pentecostal, com forte ênfase na experiência pessoal com o divino, na
manifestação dos dons espirituais e na interpretação literal da Bíblia. Esta abordagem tem
permitido à denominação adaptar-se a diferentes contextos culturais e sociais, contribuindo
para seu rápido crescimento. Ao mesmo tempo, a igreja enfrenta o desafio de manter sua
identidade pentecostal tradicional enquanto se adapta às demandas de uma sociedade em
constante transformação.
Apesar dos desafios, as Assembleias de Deus se consolidaram como um ator social relevante
no Brasil, com forte presença no cenário político e cultural. Sua trajetória oferece um rico
5

material para a compreensão das transformações religiosas, sociais e políticas que marcaram o
Brasil no último século, bem como para a reflexão sobre o papel da religião na sociedade
contemporânea.

Você também pode gostar