Trabalho de Hannah Arendt

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Aluno: Luiz Daniel

Professor: Humberto

Disciplina: Filosofia

Nº: 19
Hannah Arendt
Trabalho de Filosofia

ETE HELBER VIGNOLI MUNIZ – FAETEC


Bacaxá, Saquarema RJ
1 - INTRODUÇÃO

Hannah Arendt foi, em vida, uma influente filósofa alemã de cunho político.
Nascida em 14 de outubro de 1906 em Linden, na até então Prússia (no que abrange,
atualmente, territórios da Alemanha, Polônia e Rússia), a filósofa é ascendente de uma
família judaica de condições financeiras estáveis.

Ainda criança, Arendt mostrou sua imponência matura com a perda de seu pai,
mantendo-se firme em sua casa junto com sua mãe, consolando-a nos momentos difíceis
após essa perda. Como parte desse amadurecimento precoce, temos a entrosagem, com
cerca de 14 anos, da filosofia em sua vida, através do livro Crítica da Razão Pura, de
Immanuel Kant (1724-1804). Dois anos depois, elevando-se o nível de conhecimento na
área, Arendt foi apresentada a Søren Kierkegaard (1813-1855). Muito desse gosto veio
pelo acervo da biblioteca de filhos clássicos mantidas por sua família.

Foi formada pelas Universidades de Marburg, de Albert Ludwig e Heidelberg,


onde fez doutorado em Filosofia nessa ultima, fazendo a tese “O Conceito de Amor em
Santo Agostinho”. Em Marburg, Arendt teve um relacionamento intelectual e pessoal
com o professor e filósofo Martin Heidegger, no qual anos depois houve de ser exposto
ao público por ter sido conturbado pela conduta de ambos – pois o dito era casado na
época. Após Heidegger aderir ao movimento nazista e se tornou o primeiro reitor
nacional-socialista da Universidade de Freiburg, Arendt largou temporariamente a
filosofia para lutar pela resistência antinazista. Por essa arzão, Arendt foi presa em
Gestapo por oito dias.

Anos após os atos, conhecendo mais de sua realidade graças ao antissemitismo


que percorria seus entornos por onde quer que fosse, desde Praga até Paris, a filósofa
conheceu nessa busca o filósofo e professor de História da Arte, de caráter anarquista,
Heinrich Bluecher, com quem se casou em 1936. Em cerca de 1940, a França houve de
ser tomada pelos nazistas onde o casal vivia até então. Nessa leva, o casal foi obrigado a
achar um novo exílio, e nesse fim, ambos acabaram sendo presos e enviados a campo de
concentração, onde permaneceram por alguns meses. Após a saída, o casal se mudou
rapidamente para Nova York, dos Estados Unidos, onde, enfim, firmaram uma
residência fixa. Lá, Arendt houve de retornar aos estudos da filosofia, se aprofundando
ainda mais na resistência às ideias antissemitas que a circulavam – muito graças a sua
experiência vivida até então, e também ao que a guerra mostraria logo então.

Hannah Arendt, em seus últimos anos de vida, lecionou a Universidade de


Chicago e logo então na New School for Social Research, permanecendo nessa ultima
até seus últimos anos de vida. Perdeu seu marido no ano de 1970, onde publicou uma
matéria por sua desolação na época. A filósofa faleceu com 69 anos de idade, no dia 4
de Dezembro de 1975, em Nova York, devido a um ataque cardíaco fulminante. Mesmo
que nos refiramos à ela como uma grande filósofa política, sua amiga Mary McCarthy
afirmou que ela não gosta de ser vista dessa forma, e sempre preferiu ser vista como
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uma “teórica política” – muito devido ao seu longo período de desconexão com a
filosofia por razões abrangentes de seu meio em vivência.

2 – CONCEITOS DE SUA TEORIA

 A “ASCENÇÃO DO TOTALITARISMO”

Na visão de Hannah Arendt em sua obra Origens do Totalitarismo, era


necessário, de antemão, compreender o contexto histórico de transição do início até o
final da primeira metade do século XX, para analisar as raízes do regime que ela trata
como caso “único” e “extremo” na história da humanidade – os de caráter totalitário -,
que moldaram o pensamento político da Europa na Segunda Guerra Mundial.

A Primeira Grande Guerra foi vista de formas completamente paralelas pelos


continentes – por um lado o americano se via grandioso pela sua “vitória” econômico-
social, enquanto o europeu se via imerso em um poço composto por dívidas
catastróficas, perdas significativas de população e ainda a destruição das cidades. Os
Estados Unidos viviam à custa de uma guerra benéfica para sentidos econômicos, pois
isso fez com que o Estado demonstrasse ao mundo que o liberalismo econômico era a
chave para a estabilização de uma potência capitalista. Com a crise de 1929, houve,
segundo Arendt, uma “desilusão do sistema,”, no que fez as ideias antes estabelecidas
de um mundo capitalista ser uma utopia dos detentores de alto poder aquisitivo,
revoltando muitas pessoas. A rápida solução foi buscar uma saída dentro dos modelos
marxistas, que propunham uma paralela forma de redenção pela nova organização
econômica e social, no que agradou bastante as massas graças à difusão desses ideais
por alguns lideres políticos, que prometiam prosperidade e ordem para todo o caos que
subsidia em decorrência do modelo capitalista.

A etimologia da palavra Totalitarismo vem de uma estrutura de modos de poder


que centram a autoridade de um Estado Nacional no uni-partidarismo, sendo ela
reverberada em uma clara ideologia bem definida e imposta nas mãos de uma única
pessoa. Essa única pessoa seria, então, caracterizada pelo líder carismático do regime.
Esse modo de governo busca justamente atingir as massas para que seja bem difusa toda
essa ideologia. Os meios de difusão são provenientes, principalmente, da propaganda,
que objetivam elevar a imagem do líder carismático e suas ideias para toda a população,
através de um redondo senso de pertencimento e propósito de uma nação desamparada.
Como exemplo, as imagens em cartazes mostradas durante a Era Vargas – mais
especificamente durante o regime do Estado Novo -, a figura de Getúlio Vargas era
sempre associada à população, em sua maioria, às crianças, para não só demonstrar um
grau de preocupação com o povo, mas sim para concretizar uma imagem de inocência
diante do contexto de barbárie que houve em dada época. Tais atos eram justamente
para ter o controle absoluto sobre todos os aspectos da vida pública e privada das
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pessoas. Qualquer sinal de oposição era tratado através da brutalidade, torturando e
eliminando seus opositores – tudo isso para manter-se no poder a qualquer custo.

Lembrando que: Autoritarismo ≠ Totalitarismo. Ainda que ambos compartilhem


do mesmo método de dominação e hegemonia popular com um uni partidarismo
centrado numa única pessoa, os dois se contrastam pelo viés da ideologia. O
totalitarismo se assemelha em muitos casos com uma espécie de culto, onde o líder
carismático é louvado e adorado por uma nação, simbolizando que o Estado deve ser
sempre forte, e mostrar imponência ao seu inimigo – o “outro”. Vejamos o nazismo –
como um regime totalitário que elevava a imagem de Adolf Hitler como “salvador da
nação”, uma das regras do nazismo é o Anticomunismo; entrando em conflito, assim,
com o autoritarismo de Josef Stalin, da União Soviética.

Diante disso, com objetivo de mudar a sociedade de uma forma econômica já


estabelecida, havia então de firmar-se uma ideologia social, para mudar a sociedade
como um todo. Com o retorno às ideias do passado, a evidente a necessidade de tornar-
se aos fins imperialistas, que viu muitos povos e raças de forma pejorativa – ou apenas
como meros bodes expiatórios diante de todas as crises passadas. Esses povos e raças
não eram apenas tratados como grupos homogêneos que foram responsáveis por uma
decadência em sua nação, nas sim eram vistos como seus principais inimigos, e
ameaçavam toda a ordem politica e social que lhes objetivavam. Tudo isso sendo
mascarado com ideias eugênicas (nas quais acreditavam numa natureza pura e superior,
genética e fisicamente, de uma dada raça), que buscavam justificar os atos de exclusão e
extermínio, no que culminou no Holocausto.

3 – A “COMPLEXIDADE DA MORAL” – Analise de Eichmann em Jerusalém e A


Zona de Interesse

Adolf Eichmann foi o Tenente Coronel da SS (Schutzstaff) integrado à


Secretaria de Assuntos Judeus do Partido Nazista, responsável pela logística de
extermínio dos campos de concentração durante o Holocausto – sendo responsável pela
criação da mesma com a chamada “Solução Final” e a emigração em massa de judeus.
Fugiu para a Argentina em 1946, e 14 anos depois, foi capturado e levado à julgamento
em Jerusalém (Israel), por Crimes de Guerra. Arendt foi uma representante da New
Yorker Magazine em Jerusalém sobre o caso, relatando, notificando, alertando e, acima
de tudo, analisando todo o processo em questão.

A teórica vê esse julgamento como um grande fenômeno do século XX, pois


apresentava uma série de visões complexas sobre a moral individual, no qual, durante a
história e o processo, em constantes momentos, foi tratado de forma indiferente quanto
a todo contexto de banalização da violência – e a natureza do mal que se permeou em
toda história de opressão do Nazismo como modelo socioeconômico e ideologia.
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 A BANALIDADE DO MAL

Eichmann em Jerusalém (1963) é a visão sugestiva de Arendt sobre


responsabilidade individual e moral em momento de opressão. Essa fala se refere tanto
por parte dos soldados nazistas que exterminaram judeus, como dos próprios judeus
que, em um dilema por colaboração forçada, entregaram muitos de seus familiares e
amigos. O fruto dessas afirmações vêm da mediocridade do dito cujo julgamento
definiria sua visão – e a visão do nazismo – para o mundo. Nas palavras da teórica:

“Eichmann não se revelou um psicopata


ávido em regozijar-se com o sofrimento alheio,
mas sim um burocrata cumpridor de ordens num
regime totalitário, um homem comum e medíocre.”
(ARENDT, Hannah. 1963)

O bom e o mal são subjetivos dependendo do grau de existência em que cada um


se submete, seja desassociando-se da realidade, ou da moralidade, por trôpegos
devaneios que faz com cada um de seus atos seja tratado de forma responsável. O peso
de cada um dos judeus que entregaram seus representantes e dependentes prova que
nada vem de “excepcional maldade”. Isso pode ser muito facilmente definido em uma
palavra, expressa pela própria teórica – irreflexão.

Eichmann, em toda sua carreira como oficial nazista – e como tantos outros na
área -, passaram a ter um contato incessante com a violência, a ponto que ela mesma se
tornou um item frívolo em sua rotina – como se exterminar judeus fosse semelhante que
sair de casa e ir à padaria comprar pão; tudo na maior naturalidade. Ou seja, a
banalidade do mal é um mal que virou comum de ser praticado.

Tudo isso ficava claro para Arendt quando o réu foi constrangido pela passageira
lembrança de falhas cometidas por desobediência das ordens que o regia, mostrando
que, ainda no contexto de extermínio de um grupo étnico e religioso, para a realidade de
um oficial do Partido Nazista, ele tinha um excelente comportamento, e era dado como
um bom oficial.

Ele não era um monstro. Nunca foi. Era um homem comum. Tão comum quanto
nós mesmos.

“Eichmann não se revelou um psicopata


ávido em regozijar-se com o sofrimento alheio,
mas sim um burocrata cumpridor de ordens num
regime totalitário, um homem comum e medíocre”
(ARENDT, Hannah. 1963)

Em 2024, o cinema houve de ser agraciado com uma das obras mais fantásticas e
poderosas e importantes de sua história. Jonathan Glazer é um cineasta inglês que até
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então fazia projetos independentes locais, e com a oportunidade de mostrar ao mundo
uma carta de amor à sua profissão e exclamar um grito de resistência aos horrores do
totalitarismo, ele lança sua obra-prima – A Zona de Interesse. Esse longa-metragem é a
excepcional demonstração da influência que Hannah Arendt tem em nossas vidas até os
dias de hoje e também do poder que o cinema tem em contar uma história de forma
cirúrgica. A história que acompanhamos é a de Rudolf Höss (vivido inocentemente por
Christian Friedel), que se muda com sua esposa Hedwig Höss (a indicada ao Oscar de
Melhor Atriz no mesmo ano, Sandra Hüller) e seus filhos para uma casa literalmente ao
lado de Auschwitz, na Polônia; assim acompanhamos suas vidas bem de perto em meio
ao caos que está havendo ao lado de sua residência.

A obra foi indicada a 5 Oscares, tendo levado 2 – de Melhor Filme Internacional


e Melhor Som. O fato de ter ganhado melhor som é tremendamente obvio. Desde os
primeiros segundos da obra somos abalados com cerca de 5 minutos de zumbidos
rasantes e isolados em nossos ouvidos, para o publico compreender, desde os primeiros
minutos, que qualquer sensação de desconforto não é pura coincidência. Vivendo numa
casa simples e branca – simbolizando a possível paz do ambiente -, de grande quintal
com gramas verdes em um dia ensolarado, o olhar despreocupado de Rudolf Höss abala
nosso bom senso ao ser contrastado com os gritos claros, abafados e paulatinos vindos
do muro ao lado. Essa constância se mantém durante toda a obra. Cada cena, por longas
sequencia de diálogos ou planos que buscam pegar o paralelo entre terra e céu, com a
vista de crianças em um comum dia de piscina em um dia de festa enquanto as nuvens
do céu começam a repentinamente escurecerem em um grande plano geral simétrico
entre ambas as visões, pegando as costas do oficial diante da câmera. Mais um dia
comum para todos ali.

Os diálogos fluem. Tranquilamente. Sobre qualquer coisa do cotidiano e da vida


de qualquer um ali. Ninguém se incomoda com os gritos. Com a fumaça. Com a
brutalidade. O muro é o que divide a vida de cada um ali. Isso fica claro numa das cenas
mais pesadas do filme. Na narrativa, vemos constantemente que há um córrego próximo
da casa da família – e, portanto, de Auschwitz. A família comumente vai lá para se
banhar, aproveitar o sol da manhã, ou apenas relaxar após o longo dia de “trabalho”. É
pacifico. É o único ambiente da obra onde os gritos não podem ser ouvidos. Só o
barulho da água seguindo seu fluxo sobre as pedras e encostas das árvores. Nesses
momentos não só vemos que eles eram exatamente como nós, mas também tinham as
mesmas necessidades que temos. Vemos pelos semblantes deles. Das atitudes deles. Até
mesmo dos sentimentos que os permeiam. Um dia, como normal da rotina deles de
visitarem esse córrego, enquanto as crianças brincam no rio e Rudolf tenta pescar algo
para comerem mais tarde, ele percebe a água começar a ficar cinza, até ficarem
completamente pretas. Ele tira as crianças à base de rompantes e berros da água. Ele
está mais abalado que as crianças naquele local. Em casa, a mãe esfrega todo tipo de
produto na pele das crianças enquanto chora de desespero por, aparentemente, as
crianças terem entrado em contato, não com restos de mortos, mas sim com judeus. Ela

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reza e cai sobre si enquanto tira o resto do lodo de cadáveres de cima das crianças.
Ainda que não haja violência explicita na obra, essa cena é capaz de angustiar a alma.

Além de uma representação fidedigna da obra de Arendt, A Zona de Interesse é


um manifesto que simboliza o elo entre passado e futuro das nossas raízes na história. A
cena final mostra isso, com o oficial saindo de sua sala pós trabalhar o dia todo, e em
meio ao silêncio da sequência, do ponto de visto de uma porta aberta para um cômodo
escuro, temos o olhar cansado e superlativo de Rudolf voltado para a câmara, que
permanece na mesma por cerca de um minuto seguido, até cortar para o cômodo de um
museu de fotografia saturada e proporção (que até então se mantinha no CinemaScope)
passa a ser um 16:9, para mostrar que, se queremos compreender os deslizes do
presente, como humanos, devemos revisitar nossos erros do passado, e compreender
que, ainda na condição falha de nossa realidade, temos consciência suficiente para
superar e mudar os parâmetros do certo e o errado.

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