Os Fascismos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

UNIDADE CURRICULAR: História da Idade Contemporânea

CÓDIGO: 31033

DOCENTE: João Miguel Almeida

A preencher pelo estudante

NOME: Vítor Manuel Aragão de Freitas e Bettencourt da Silva

N.º DE ESTUDANTE: 2200438

CURSO: Licenciatura em História

DATA DE ENTREGA: 28 de abril de 2024.

Página 1 de 5
TRABALHO / RESOLUÇÃO:

Os regimes fascistas encontram sua plena realização na guerra?


O tema do presente ensaio, proposto para o e-Folio B da unidade curricular História da Idade
Contemporânea, refere-se à caracterização do fascismo no período entre guerras e o início da
Segunda Guerra Mundial. Na verdade, os fascismos que chegaram ao poder, ganharam firmeza
e coesão, sublimaram as suas práticas a nível interno, e ergueram limites a nível externo. «Em
todos os países apregoou-se então o isolamento económico como panaceia para todos os
males.»1.
Pretendemos desenvolver o nosso trabalho, identificando a natureza do fascismo, estabelecer
familiaridade e antagonismos entre os fascismos, tanto com as democracias liberais como com
o comunismo nas várias cambiantes nacionais, assim como avaliar a responsabilidade destes
regimes na origem da guerra. Teremos em atenção o excerto da página 356 da obra de Réne
Rémond – Introdução à História do Nosso Tempo. Do antigo Regime aos Nossos Dias, Lisboa
Gradiva 1994.
Os regimes fascistas, respondendo às mentalidades dos antigos combatentes, tiveram origem
com a conquista do poder em Itália por Mussolini em 1922, em que «tomou forma a primeira
ditadura moderna tipo fascista»2. Estas novas tipologias de regimes tornaram invisíveis velhos
conflitos, tais como a democracia de inspiração liberal e a democracia socialistas. O nacional-
socialismo alemão, os regimes da Europa danubiana e balcânica, as Ligas da III República na
França e outros regimes autoritários seriam uma mesma família? Seriam estes uma variedade
nova ou variante de uma forma tradicional? Segundo Daniel Guérin, o fascismo seria a
expressão política e um instrumento do grande capital. Na certeza que suprimia a liberdade
individual, traria o regime do terror e a repressão policial.
Para os sociólogos americanos, o fascismo e o comunismo são uma e a mesma coisa:
totalitarismo e uma forma contemporânea de tirania. Para eles faz sentido o aforismo: ‘o
fascismo não existe’.
Para René Rémond, o fascismo não se deixa abreviar à reação tradicional, nem ao capitalismo,
nem ao totalitarismo. Importa clarificar a natureza dos fascismos. O nacional-socialismo é uma
exceção, pelo facto da sua ideologia, plasmada pelo Mein Kampf, ser anterior ao movimento
propriamente dito, visto que todos os outros fascismos tiveram a sua originalidade e a sua
génese num conjunto coletivo de desejos, manifestações do instinto, reações primárias contra o
racionalismo, por isso, resulta num universo assertivo, total e claro. Será uma resposta a um

1 (ZAMORA, s.d., P.310)


2 (GRIMBERG, 1969, p. 139)
Página 2 de 5
nacionalismo derrotado, humilhado, ulcerado e desassossegado, assim é o nacional-socialismo.
Entre os vencedores, no caso italiano, os sacrifícios da vitória não teriam respondido às
expectativas, este com a ressalva da derrota de Caporetto em 1917. Bases sociais e parcelas
territoriais sobrepõem-se: sentimento nacional, irredutíveis na construção da grandeza nacional.
Os exércitos nacionais, assim como os antigos combatentes, no mínimo, foram complacentes
ou contribuíram ativamente para o engrandecimento do movimento. Então, o nacionalismo é
essencial ao fascismo.
A democracia nasceu da derrota ou não é capaz de viabilizar os resultados da vitória, não inspira
confiança aos que aspiram à grandeza e às unidades nacionais, por ser considerada um regime
fraco, desprezível no plano externo e não faz mais do que iludir no plano interno, e as suas
instituições não cumprem as suas missões. A democracia clássica é individualista, os fascismos
defendem a unicidade, uma só alma, os valores de grupo, paradas, liturgia comunitária,
supressão do diferente, um povo, um império, um chefe Ein Volk, ein Reich, ein Führer. O
fascismo é contra todas as liberdades individuais que possam enfraquecer o poder e a coesão
nacional. Existam assembleias que representam o partido único, existem também, câmaras de
confirmação, aprovação por unanimidade, publicitação da propaganda e das retóricas dos
chefes. Assim demarcam-se dos valores da democracia, partidarismo e o liberalismo.
Se por um lado a democracia se apresenta como um regime racional, dirige-se aos espíritos dos
cidadãos, e tenta convencer os cidadãos e por outro, o fascismo é uma reação anti intelectualista
de génese irracional e da afetividade. É uma sobrelevação do instinto, do culto da força que
trespassa para a violência. Estão reunidos os elementos para que «o fascismo aparece com um
avatar do romantismo»3
A legitimidade do fascismo, não se identifica com o antigo regime. Este encontrava o seu
fundamento na ordem natural, na tradição, e consequentemente, no passado. Não é uma reação
ao conservadorismo tradicional, da direita autoritária, hierárquica e antidemocrática, nem é uma
contrarrevolução, visto que emana da democracia e por isso afirma a legitimidade democrática,
como sendo a sua natureza. Assim sendo, o chefe recebe a sua legitimidade do povo.
A contrarrevolução seria apoiada pela aristocracia tradicional, a nobreza hereditária, enquanto
os chefes fizeram-se a si próprios e os seus apoiantes provêm da esquerda e são uma população
marginal, de jovens desempregados, de desempregados de longa duração e aventureiros. A
filosofia do fascismo é elitista, não é igualitária. O agravamento das condições sociais e
políticas não criaram o fascismo, mas forneceram-lhes os apoiantes.

3 (RÉMOND, 1977, p. 350)


Página 3 de 5
A população ligada à tradição é aliada dos fascistas enquanto estes não alcançam o poder, mas,
assim que tomam o poder, transformam-se em adversários, porque não desejavam regimes
autoritários e as relações passam a ser de hostilidade: entre o exército e as milícias, resultam
ajustes de contas e o partido passa a dominar o exército regular.
As morfologias dos fascismos e dos comunismos são idênticas: Existe dominação entre o
partido e todas as instituições do Estado, mas, a sua natureza é oposta: o marxismo-leninismo
é universalista e revê-se na luta de classes: «… para o proletariado é importante fortalecer a sua
classe contra a burguesia…»4 enquanto os fascismos suprimem as lutas de classes, cultivam as
suas identidades e diferenças, são adversos a internacionalismos, e exaltam a grandeza da nação
e aspiram à hegemonia de uma raça ou de um povo e rompem com os laços que transcendem
as fronteiras nacionais e evita exorbitar a sua força ao adversário.
As variedades nacionais dos fascismos dependem do passado e da doutrina. No caso alemão, o
racismo, o primado da «raça ariana», é uma fé, conduziu ao genocídio.
Passamos a analisar os sucessos, os colapsos e faltas de sucessos dos fascismos. Entre 1919 e
1939 quase todos os países tiveram alguma forma de fascismo mais ou menos instalado nos
seus órgãos de poder. Na Alemanha, tradições nacionalistas, pangermanistas, antissemitas mais
antigas e um nacionalismo ulcerado estiveram na sua origem. Em Espanha, verificou-se uma
certa harmonia entre os temas do franquismo e o mito da hispanidade, reportados aos reis
católicos e ao tempo em que as coroas da península Ibérica estiveram unificadas. Há um
denominador comum que é o sentimento nacional ferido ou o retorno da vitória não utilizado
no seu benefício. Nas convulsões nacionais, os que melhor resistiram foram a França e os EUA,
devido à robustez destas economias. Um fator de promoção do fascismo foi a proximidade
fronteiriça com os regimes comunistas.
Reportemo-nos ao enxerto proposto, que questiona a política aventureirista e a correspondência
unívoca entre os fascismos e a guerra. Na verdade, o nacional-socialismo, visava empreender a
dominação universal, com golpes de força e com recurso ao bluff. Apelou à aventura, e com
ela, a guerra. Antes da guerra da Etiópia, a Itália agiu prudentemente, minimizando os riscos,
mas, posteriormente, imitou a Alemanha nazi.
A guerra precede o fascismo, pelos seus sentimentos, paixões, doutrina exaltando a aventura e
pelo uso das forças. Os orçamentos de guerra aumentam, a nação está pronta para alinhar de
um dia para o outro. As conquistas, as anexações e as vitórias, alimentam a pertinência do
fascismo. Os fascismos, as suas ideologias, paixões e a relação de forças, são a única causa da
Segunda Guerra Mundial.

4 (LENINE, 1978, p. 33)


Página 4 de 5
BIBLIOGRAFIA

GRIMBERG, Carl – História Universal, Vol. 19, Lisboa: Publicações Europa-América, 1969

LÉNINE, V.I. – Sobre o Direito das Nações à Autodeterminação, Lisboa: Edições Avante,
1978

RÉMOND, René – Introdução à História do Nosso Tempo do Antigo Regime aos Nossos Dias,
Lisboa: Gradiva, 2017

ZAMORA, Juan Clemente – O Processo Histórico, Lisboa: Livraria Renascença, s. d.

Página 5 de 5

Você também pode gostar