Trabalho - Procedimentos Especiais Ana

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE VITÓRIA

ANA BÁRBARA MENDES DA SILVA

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS: Ação de alimentos

VITÓRIA-ES
2024
Procedimentos Especiais – Teoria Geral
Uma das maiores transformações vistas no mundo jurídico com a entrada em vigência do
novo Código de Processo Civil, em 2016, foi a extinção de vários tipos de processos, que
agora são só dois: Processo de Conhecimento e Processo de Execução.
Nesse sentido, é importante deixar bem clara a diferença entre os dois:
•O Processo de Conhecimento é aquele que busca determinar e informar o direito
no caso concreto; algo como definir “quem tem razão” e “quem tem direito a o quê”
em uma situação de conflito de direitos.
•Já o Processo de Execução é simplesmente para satisfazer o direito já conhecido,
já firmado e definido; isto é, fazer com que a pessoa detentora do direito veja-o
concretizado de fato.

Procedimentos Especiais
Os procedimentos especiais estão englobados nos Processos de Conhecimento, sendo
estes processos cujo objetivo é informar e conhecer o direito no caso concreto.
Elencados entre os artigos 539 e 770, são procedimentos especiais aqueles que
aparecem em leis específicas, reguladoras do direito material em questão. Em ações de
família, por exemplo, deve ser considerada a Lei de Alimentos; em ações possessórias, a
Lei de Locações, e assim por diante. São procedimentos especiais:
•Ação de Consignação em Pagamento;
•Ação de Exigir Contas;
•Ações Possessórias;
•Ação de Divisão e da Demarcação de Terras Particulares;
•Ação de Dissolução Parcial de Sociedade;
•Inventário e Partilha;
•Embargos de Terceiro;
•Oposição;
•Habilitação em Processo;
•Ações de Família;
•Ação Monitória;
•Homologação do Penhor Legal;
•Regulação de Avaria Grossa;
•Restauração de Autos.
Fundamentos para a Criação de Procedimentos Especiais
Apesar de o Código de Processo Civil já ser bastante complexo e trazer uma série de
informações e normas para o regular processamento e andamento dos processos de
conhecimentos, é importante ressaltar que há um motivo para estas ações serem
consideradas procedimentos especiais. Elas possuem particularidades de direito material,
isto é, “delicadezas” inerentes ao direito material discutido que levaram o legislador a criar
leis e fórmulas específicas que as regulassem - leis específicas que interferem no
procedimento de informar e conhecer o direito.
Em um caso de divórcio, por exemplo, em que uma das pessoas está pedindo pensão
alimentícia, esse procedimento sofre interferência da Lei de Alimentos (Lei 5.478/68), de
forma que tanto o pedido quanto a cobrança não podem ser regidos apenas pela norma
aplicada aos procedimentos comuns.
Uma vez que o direito processual deve servir ao direito material, isto é, garantir a tutela do
direito justamente buscado no processo, a existência de peculiaridades de determinadas
matérias (como a do divórcio) dificulta – ou até mesmo impossibilita – que o processo
delas seja idêntico ao dos procedimentos comuns.

Tipos de Procedimentos Especiais: Fungíveis e Infungíveis


Dentro dos Procedimentos Especiais, temos ainda duas classificações, que são os
procedimentos fungíveis e infungíveis.
Sim, estes são quase os mesmos “fungíveis” e “infungíveis” da classificação das coisas,
que a gente estuda logo no começo da faculdade, na primeira matéria de Direito Civil. Nos
termos do art. 85 do Código Civil:
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem
substituir-se por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade.
Tal classificação é aplicada analogamente aos processos.
Dependendo do caso, se a pessoa requerente (que poderia ajuizar uma ação especial por
conta da particularidade de sua situação) quiser, ela não precisa ajuizar uma das ações
elencadas nos procedimentos especiais, ainda que estes tenham sido regulamentados
para facilitar o decorrer da fase de conhecimento em casos específicos. Nos
procedimentos fungíveis, então, pode-se optar por dar seguimento ao procedimento
comum.
A regra é que procedimentos especiais sejam fungíveis mas, como tudo no direito, possui
exceções.
O processo de Inventário, por exemplo, busca seguir a vontade de alguém que faleceu e
não poderá mais manifestar-se. Dada a evidente delicadeza da questão, o procedimento
deve ser, por força, o específico (sendo então infungível, inegociável), a fim de se
evitarem problemas como abusos, equívocos ou arbitrariedades.

Procedimento Especial da Lei de Alimentos


O Código de Processo Civil dispõe:
Art. 693. […]

Parágrafo único. A ação de alimentos e a que


versar sobre interesse de criança ou de adolescente
observarão o procedimento previsto em legislação
específica, aplicando-se, no que couber, as
disposições deste Capítulo.

A lei específica do rito de alimentos é a nº 5.478/68.

Competência para processar e julgar


A lei protege a vulnerabilidade do sujeito que pede alimentos. Nos termos do artigo 53, II
do CPC, para a ação em que se pedem alimentos, é competente o foro do domicílio ou
residência do alimentando.
Trata-se de competência relativa, que admite prorrogação pela vontade da parte protegida
pela lei.
A competência é definida no momento da triangularização da relação processual: uma
mudança de endereço no curso do processo é irrelevante procedimentalmente, porque a
competência já é fixada no local inicialmente escolhido.

Legitimidade para ações de alimentos


A lei nº 5.478/68 traz os requisitos básicos de legitimidade para pleitear alimentos em seu
artigo 2º:
Art. 2º. O credor, pessoalmente, ou por intermédio
de advogado, dirigir-se-á ao juiz competente,
qualificando-se, e exporá suas necessidades,
provando, apenas o parentesco ou a obrigação de
alimentar do devedor, indicando seu nome e
sobrenome, residência ou local de trabalho,
profissão e naturalidade, quanto ganha
aproximadamente ou os recursos de que dispõe.
A partir daí, tem-se três formas básicas de pleito de alimentos:
1.Petição assinada por advogado constituído, em três vias;
2.Solicitação verbal do próprio interessado que compareça ao cartório da vara
pessoalmente;
3.Por termo de defensor constituído ou designado pelo juiz, indicando que a
solicitação verbal seja reduzida a termo pelo escrivão.
O Ministério Público também é legitimado para ação de alimentos proposta em favor de
criança, adolescente ou idoso, pois tratam-se de grupos vulneráveis, com base em sua
função institucional.
Tal legitimidade independe do exercício do poder familiar dos pais ou da existência de
situações de risco ao menor. Se ninguém mais cuidou dos interesses destes grupos, cabe
ao órgão a legitimidade para cuidar do interesse, na proteção de interesses sociais e
individuais indisponíveis.
Súmula 594 STJ: O Ministério Público tem
legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em
proveito de criança ou adolescente
independentemente do exercício do poder familiar
dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas
situações de risco descritas no artigo 98 do Estatuto
da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer
outros questionamentos acerca da existência ou
eficiência da Defensoria Pública na comarca.
Distribuição
Nos termos do artigo 1º da Lei de Alimentos, a ação de alimentos é de rito especial,
independendo de prévia distribuição e de anterior concessão de benefício de gratuidade.
O rito especial decorre de seu caráter alimentar, de sobrevivência e subsistência no
âmbito da dignidade da pessoa humana.

Procedimento durante as férias forenses


Conforme artigo 215 do CPC, a ação de alimentos é processada durante as férias
forenses, onde as houver.
Não há suspensão da ação neste período, devido ao seu caráter urgente, alimentar.

Petição inicial
A petição inicial deve obedecer aos requisitos genéricos do artigo 319 do CPC.
Art. 319. A petição inicial indicará:
I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a
existência de união estável, a profissão, o número
de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço
eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do
réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar
a verdade dos fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de
audiência de conciliação ou de mediação.
Na ação de alimentos, o valor da causa é a soma de 12 prestações mensais pedidas pelo
autor, conforme art. 292, III do CPC.

Despacho liminar e alimentos provisórios


Cumpridos os requisitos do art. 319 do CPC e dos artigos 2º e 3º da Lei de Alimentos, o
juiz faz o despacho liminar, que contém:
•O registro e autuação da inicial recebida;
•A designação de dia e hora para a audiência de conciliação, instrução e
julgamento (audiência única);
•Expedição de ofícios do art. 5º, §7º da Lei de Alimentos, para comprovação da
folha de pagamento, dando parâmetro para fixação do valor a ser fixado
§ 7º. O juiz, ao marcar a audiência, oficiará ao
empregador do réu, ou, se o mesmo for funcionário
público, ao responsável por sua repartição,
solicitando o envio, no máximo até a data marcada
para a audiência, de informações sobre o salário ou
os vencimentos do devedor, sob as penas previstas
no art. 22 desta lei.
•Concessão ou não da gratuidade de justiça;
•Citação do réu e notificação do autor sobre a audiência marcada
•Determinação dos alimentos provisórios.
A exceção à fixação de alimentos provisórios no despacho liminar dá-se no caso de o
credor declarar expressamente que deles não necessita (Art. 4º, Lei nº 5.478/68).
Vale ressaltar que a cientificação para a audiência única importa em citação para todos os
efeitos legais, inclusive podendo ser aplicada revelia.
Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação no processo (art. 13,
§2º Lei nº 5.478/68).

Audiência única de conciliação, instrução e julgamento


O procedimento detalhado está previso nos artigos 6º a 12 da Lei nº 5.478/68.
Trata-se de audiência una e complexa: trata da conciliação, da instrução e do julgamento.
No começo da audiência, ocorre a tentativa de conciliação. Não prosperando, inicia-se a
instrução do feito com colheita de provas e consequente julgamento do pedido formulado
na petição inicial.
De acordo com o artigo 7º da Lei nº 5.478/68, o não comparecimento do autor determina
o arquivamento do pedido; já a ausência do réu importa em revelia, além de confissão
quanto à matéria de fato.
O STJ já entende ser possível a realização de transação sem a presença de advogados,
por inexistir, até o referido momento procedimental, litígio propriamente dito. Assim, até o
momento da conciliação, não é preciso ter advogado acompanhando o caso.
Caso haja conciliação, as provas ficam dispensadas e é lavrado um termo formalizando o
acordo.
Caso não seja frutífera a tentativa de conciliação e não haja advogado, o juiz determina
que a audiência dê continuidade com um defensor dativo.
Frustrada a conciliação, o magistrado receberá a defesa do acionado, determinado o
início da instrução probatória (no próprio despacho em que cita o réu, o juiz costuma
ordenar que a defesa seja apresentada no ato da audiência, caso não haja conciliação).
Resumindo, as partes já devem ir prontas à audiência, pois, caso não haja uma resolução
consensual, já passa para a instrução probatória, de modo que as testemunhas (no
máximo 3) e demais provas já devem estar presentes, nos termos do artigo 8º da Lei nº
5.478/68.
Não havendo acordo, o juiz toma o depoimento pessoal das partes e testemunhas,
podendo julgar o feito sem a mencionada produção de provas, se as partes concordarem.
Com isso, não seria necessário prorrogar a audiência una, nem produzir provas em
momento posterior.
De acordo com o artigo 10 da Lei nº5.478/68, a audiência de julgamento é contínua, mas,
se não for possível concluí-la no mesmo dia, o juiz deve marcar sua continuação para o
primeiro dia desimpedido, independentemente de novas intimações.
Ao fim da instrução, as partes e o Ministério Público terão prazo máximo de 10 minutos
cada para aduzir alegações finais. Em seguida, o juiz renova a proposta de conciliação e,
não sendo aceita, dita sua sentença, com sucinto relatório da audiência.
As partes são intimadas da sentença na própria audiência, pessoalmente ou por seus
representantes.

Intervenção do Ministério Público


Nas ações de família, o Ministério Público deve intervir quando há interesse de incapaz,
sendo ouvido antes da homologação do acordo, conforme disposto no artigo 698 do CPC.

Teoria da Aparência e Fixação de Alimentos


Os sinais externos de riqueza podem ser considerados caso haja dificuldade em se
precisar a renda do alimentante, de modo a verificar sua capacidade contributiva.
Se realmente não há um rendimento fixo a ser analisado pelo juiz para fixar o valor, deve
ser aplicada a teoria da aparência, segundo a qual o estilo de vida do alimentante pode
ser utilizado como parâmetro.

Recurso
No caso de ação de alimentos, o recurso cabível é apelação, com efeito devolutivo,
segundo o artigo 14 da Lei de Alimentos.
Alinhada a isso, tem-se a disposição do artigo 1.012 do CPC, §11º, II, que estabelece que
a sentença que condena a pagar alimentos começa a produzir efeitos imediatamente
após a sua publicação.
Um eventual recurso não pode ter efeito suspensivo, pois cortaria, a princípio, o
pagamento de alimentos que são de caráter essencial, promovem a dignidade da pessoa
humana e sua subsistência.

Coisa Julgada
De acordo com o artigo 15 da Lei nº 5.478/68, a decisão que fixa alimentos não forma
coisa julgada material, podendo ser revista em face de modificação das circunstâncias
fáticas que motivaram.
Art. 15.A decisão judicial sobre alimentos não
transita em julgado e pode a qualquer tempo ser
revista, em face da modificação da situação
financeira dos interessados.
Enquanto a situação se mantém, a decisão também é mantida. Mas, caso se altere,
também é possível alterar a prestação de trato continuado. É a chamada cláusula rebus
sic stantibus.
Há críticas da doutrina contra a disposição legal acima, no sentido de que existe coisa
julgada material, sendo a possibilidade da ação revisional um indicativo nesse sentido, já
que se trata de uma nova ação, com novo pedido e nova causa de pedir.

Ação Revisional de Alimentos


É proposta em caso de alteração das possibilidades de quem presta os alimentos ou
mudança da necessidade de quem recebe. Não se trata de recurso, é possibilidade de se
rediscutir o valor pago em razão da alteração do estado de fato das coisas.
Está prevista no artigo 1.699 do Código Civil:
Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação
financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o
interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração,
redução ou majoração do encargo.
Por exemplo, caso os alimentos sejam fixados num valor determinado, mas a pessoa que
está pagando conseguiu novo emprego em que recebe o triplo do que recebia antes e, se
já havia uma necessidade do alimentando, mas, na prática, só foi definido o valor acima
por conta da possibilidade de quem prestava os alimentos, pode ser pedida a majoração
dos alimentos, com base na alteração da capacidade contributiva daquele que paga.
Ao mesmo tempo, mesmo sem a alteração na capacidade contributiva, o alimentando
pode passar por uma necessidade maior, caso em que também pode ser pedida a
majoração do valor.
O CPC, em seu artigo 505, II, estabelece que a modificação do estado de fato ou de
direito em relação jurídica de trato continuado é exceção à vedação de nova decisão
relativa a lides já decididas, podendo a parte pedir a revisão do que foi estatuído na
sentença.
Há alteração do substrato, das questões de fato na relação jurídica que envolve
sucessivas prestações, podendo adequá-la à realidade do caso concreto.

Ação de Oferta de Alimentos


Pelo artigo 24 da Lei de Alimentos, também é possível a proposição de uma ação de
oferta de alimentos.
Art. 24. A parte responsável pelo sustento da
família, e que deixar a residência comum por motivo,
que não necessitará declarar, poderá tomar a
iniciativa de comunicar ao juízo os rendimentos de
que dispõe e de pedir a citação do credor, para
comparecer à audiência de conciliação e julgamento
destinada à fixação dos alimentos a que está
obrigado.
Por exemplo, ocorre quando um casal se divorcia e a mãe fica com a guarda do filho, mas
ainda não pediu os alimentos. O pai, sabendo que deve pagar, ajuíza ação ofertando o
montante necessário à subsistência do filho.

Ação de Exoneração de Alimentos


A ação de exoneração de alimento pode ter como fundamentos:
•Reversão da guarda de filhos – quem estava pagando a pensão passa a ter a
guarda dos filhos;
•Constituição de nova entidade familiar pelo credor de alimentos – no caso de
pagamento a ex-cônjuge;
•Comportamento indigno do credor de alimentos.
Submete-se ao procedimento especial das ações de família, previsto nos artigos 693 a
699 do CPC.

Desconsideração da Personalidade Jurídica


Em ações de alimentos, é possível desconsiderar a personalidade jurídica, seguindo os
requisitos previstos no artigo 50 do Código Civil, quais sejam: casos de abuso de
personalidade caracterizado por desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público
quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares de administradores
ou de sócios da pessoa jurídicas beneficiadas direta
ou indiretamente pelo abuso.
Geralmente, é aplicável a desconsideração inversa da personalidade jurídica: busca-se
alcançar o patrimônio societário para saldar as dívidas de pessoa física que cometeu
desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
Assim, no caso de o devedor de alimentos passar seus bens para uma empresa com a
finalidade de fugir de obrigações legalmente determinadas, é possível atingir o patrimônio
desta pessoa jurídica.

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