MS - VIBE LOG - Exclusão Da CPRB Da BC PIS COFINS

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DOUTO JUÍZO DA _ ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO DE FLORIANÓPOLIS –


SEÇÃO JUDICÁRIA DO ESTADO DE SANTA CATARINA.

VIBE LOG TRANSPORTES EIRELI., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob o nº 14.963.587/0001-49, com sede
na Rua Henrique Michels Junior, nº 580A, bairro Cordeiros,
Itajaí/SC, CEP: 88.311-715, representada nos termos do seu
contrato social, vem por intermédio de seus advogados ao final
firmados com endereço, perante Vossa Excelência perante Vossa
Excelência, com esteio no art. 5º, LXIX, da Constituição Federal e
na Lei nº 12.016/09, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR

Em face de ato ilegal praticado pelo DELEGADO DA RECEITA


FEDERAL DO BRASIL EM FLORIANÓPOLIS/SC, autoridade
vinculada à Secretaria da Receita Federal do Brasil e
representada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, cuja
notificação/intimação poderá ser efetuada por meio eletrônico (na
forma do artigo 246, V, §§ 1º e 2°), pelas razões a seguir
expostas:

1 – DOS FATOS

A Impetrante tem por atividade principal o transporte rodoviário de carga,


exceto produtos perigosos e mudanças, intermunicipal, interestadual e
internacional e transporte de cargas perigosas, no exercício de suas atividades,
está sujeita à incidência das contribuições para o Programa de Integração
Social – PIS e para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS.
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As referidas contribuições têm como base de cálculo o faturamento, de


acordo com a redação original do inciso I do artigo 195 da Carta Magna, ou a
receita, conforme alínea b do mesmo artigo, incluída pela Emenda
Constitucional nº 20, de 16 de dezembro de 1998.
Ocorre que, além da base de cálculo supra mencionada, a Autoridade
Impetrada lhe exige que seja parte integrante da base de cálculo para o
recolhimento do PIS e da COFINS, os valores devidos a título da Contribuição
Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB, contribuição estatuída
instituída pela Medida Provisória nº 540/2011, e posteriormente convertida na Lei
nº 12.546 de 2011.
Inicialmente prevista para perdurar até 31/12/2014, a CPRB vem sendo
prorrogada desde então, perdurando a exigência da Autoridade Impetrada pela
sua inclusão na base de cálculo do PIS e da COFINS da Impetrante, mesmo que
essa não possa, em nenhuma hipótese, ser classificada como receita ou
faturamento.
Assim, tem a Impetrante o DIREITO LÍQUIDO E CERTO de não ser
mais compelida ao recolhimento em debate, bem como de efetuar a
compensação das respectivas quantias indevidamente pagas.
Todavia, tem JUSTO E FUNDADO RECEIO de exercer o direito em tela,
posto que indubitavelmente sofrerá violação por parte da Autoridade Impetrada,
que, por exercer atividade vinculada e obrigatória, nos termos do parágrafo único
do artigo 142 do Código Tributário Nacional, continuará lançando e cobrando as
contribuições com a malfada inclusão em debate, mediante a ameaça de
aplicação de multas e penalidades, e impedirá, ainda, a Impetrante de efetuar a
aludida compensação.
Assim, alternativa não restou à Impetrante a não ser buscar o amparo
jurisdicional.

2 – DO DIREITO

2.1 – Da indevida inclusão da CPRB na base de cálculo do PIS e da


COFINS.

Com a edição da Medida Provisória n° 1.724, de 29 de outubro de 1998,


convertida na Lei n° 9.718, de 27 de novembro de 1998, a qual, pretendendo
alterar a base de cálculo da contribuição ao PIS e a COFINS, determinou a
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incidência de ambas sobre o faturamento. Mas, por outro lado, equiparou o


conteúdo significativo daquele vocábulo ao de receita bruta, impondo fossem
os gravames calculados com suporte nesta última:

Art. 2º. As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, devidas


pelas pessoas jurídicas de direito privado, serão calculadas com
base no seu faturamento, observadas a legislação vigente e as
alterações introduzidas por esta Lei.
Art. 3°. O faturamento a que se refere o artigo anterior
corresponde à receita bruta da pessoa jurídica.
§ 1°. Entende-se por receita bruta a totalidade das receitas
auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de
atividade por ela exercida e a classificação contábil adotada para
as receitas. (grifos nossos)

Depreende-se da leitura do dispositivo acima, que o legislador ordinário


extrapolou os limites da competência constitucional que lhe foi atribuída ao
instituir contribuição sobre receita bruta, terminologia bem mais abrangente que
a de faturamento.

Posteriormente, com a edição da Emenda Constitucional n° 20/98,


permitiu-se a instituição de contribuição para a seguridade social incidente sobre
a receita, nos seguintes termos:

Art. 195. (...)


I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou faturamento;
c) o lucro. (grifos nossos)

O STF se manifestou, a despeito desta alteração legislativa, e afastou a


aplicabilidade do § 1° do artigo 3° da Lei n° 9.718/98, ao argumento de que ele
não teria sido convalidado com a edição da Emenda Constitucional n° 20/98.
Referido dispositivo, além de afrontar a noção de faturamento (art. 195, I,
CF/88), viola o § 4° desse artigo, quanto aos aspectos formais para a criação de
uma nova fonte de custeio para a seguridade social.
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Neste ponto, o brilhante voto proferido pelo Ministro Cezar Peluso, por
ocasião do julgamento do RE n° 346.084-6 / PR:

Por todo o exposto, julgo inconstitucional o § 1° do art. 3° da Lei


n.° 9.718/98, por ampliar o conceito de receita bruta para “toda e
qualquer receita”, cujo sentido afronta a noção de faturamento
pressuposta no art. 195, I, da Constituição da República, e, ainda, o
art. 195, § 4°, se considerado para efeito nova fonte de custeio da
seguridade social.” (grifos nossos)

Pronunciou-se, em seguida, o eminente Ministro sobre o caput do art. 3°,


declarando-o inconstitucional, “(...) para lhe dar interpretação conforme à
Constituição, nos termos do julgamento proferido no RE n.° 150.755 / PE, que
tomou a locução receita bruta como sinônimo de faturamento (...).”

Ocorre que a exigência do PIS e da COFINS com a indevida inclusão da


CPRB em suas bases de cálculo deve ser afastada em razão de sua evidente
inconstitucionalidade, eis que se trata de situação a qual deve ser conferido o
mesmo entendimento jurídico em relação ao quanto assentado pelo C. Supremo
Tribunal Federal, especialmente no RE nº 574.760, submetido ao rito da
repercussão geral, através do qual fora reconhecida a inconstitucionalidade da
inclusão do ICMS da base de cálculo das ditas contribuições, conforme veremos
adiante.

2.2 – Da Exclusão da CPRB da Base de Cálculo do PIS e da COFINS.

Conforme anteriormente ventilado, facultou-se ao legislador


infraconstitucional designar como base de cálculo, especificamente, em relação
ao empregador, à empresa e à entidade a ela equiparada, além da folha de
salários e do lucro, o faturamento e a receita.

Todavia, conforme já colocado, a Autoridade Impetrada determina o


recolhimento do PIS e da COFINS com a indevida inclusão da CPRB em suas
bases de cálculo, que não se enquadra, por sua própria natureza (tributo – ônus
fiscal), em tais conceitos.

Ora, tanto a receita quanto o faturamento trazem consigo o sentido de


ingresso, de incorporação ao patrimônio. Ou seja, para haver a sujeição às
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contribuições ao PIS e à COFINS não se faz suficiente que os valores tenham se


movimentado ou transitado nas contas contábeis do contribuinte. É necessário
que haja efetiva entrada de receita, de forma positiva, incorporada ao seu
patrimônio. Nas palavras do Mestre GERALDO ATALIBA:

O conceito de receita refere-se a uma espécie de entrada. Entrada


é todo o dinheiro que ingressa nos cofres de uma entidade. Nem
toda entrada é uma receita. Receita é a entrada que passa a
pertencer à entidade. Assim, só se considera receita o ingresso
que venha a integrar o patrimônio da entidade que a recebe.

No mesmo sentido temos a definição do professor RICARDO MARIZ DE


OLIVEIRA:

Receita é algo novo, que se incorpora a um determinado


patrimônio. Por conseguinte, a receita é um "plus jurídico" que se
agrega ao patrimônio (...)

MARCO AURÉLIO GRECO, em brilhante ensinamento acrescentou ao


tema:

Ambos têm em comum corresponder a um ingresso (e não a uma


simples movimentação financeira). Este ingresso deve ter cunho
patrimonial no sentido de corresponder (no momento em que
ocorrido) a um evento que integra o conjunto de eventos positivos
que interferem com o patrimônio da empresa.

Para um correto fechamento de raciocínio, trazemos os ensinamentos do


professor JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES:

Faturamento e receita seja bruta, líquida, operacional ou outra


qualquer, são conceitos inconfundíveis. A receita da empresa pode
decorrer ou não de operações faturáveis, assim consideradas as
operações de compra e venda mercantil e as prestações de
serviços, o que lhes revela a mútua autonomia de significados. Mas
esses termos revelam entre si relações de gênero (as receitas)
para a espécie (receitas faturáveis). Nem todas as receitas da
empresa podem ser destarte objeto de faturamento.
Faturamento é o produto do ato de faturar. Não são faturáveis
receitas que extrapolam esse campo conceitual bem demarcado
em termos constitucionais (linguagem-objeto) e
extraconstitucionais (legislação, doutrina, jurisprudência).
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No caso concreto, os valores referentes à CPRB que devem ser


recolhidos aos cofres públicos não são aptos a compor a cobrança das exações
em tela, visto que não representam uma receita ou faturamento.

Ora, a CPRB representa um ônus fiscal, sendo certo que não se


comercializa nem se fatura tributo.

Nesse contexto, tem-se que a inclusão da CPRB na base de cálculo do


PIS/COFINS é exigida com inegável ofensa ao inciso I do artigo 195 da
Carta Magna, tanto em sua redação original, como em seu texto atual, com
alteração promovida pela Emenda Constitucional n° 20/98, que incluiu a alínea b

Não se pode olvidar, ainda, que é vedada pelo artigo 110 do Código
Tributário Nacional a alteração da definição, conteúdo e alcance de institutos e
conceitos de direito privado utilizados pela Constituição Federal para definição e
limitação de competências tributárias.

Destaca-se que o Supremo Tribunal Federal já se debruçou sobre o tema,


por analogia, ao julgar, em sede de repercussão geral, o RE Nº 574.706, Tema
069:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL.


EXCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO DO PIS E COFINS.
DEFINIÇÃO DE FATURAMENTO. APURAÇÃO ESCRITURAL DO ICMS E
REGIME DE NÃO CUMULATIVIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Inviável
a apuração do ICMS tomando-se cada mercadoria ou serviço e a
correspondente cadeia, adota-se o sistema de apuração contábil. O
montante de ICMS a recolher é apurado mês a mês, considerando-
se o total de créditos decorrentes de aquisições e o total de
débitos gerados nas saídas de mercadorias ou serviços: análise
contábil ou escritural do ICMS. 2. A análise jurídica do princípio da
não cumulatividade aplicado ao ICMS há de atentar ao disposto no
art. 155, § 2º, inc. I, da Constituição da República, cumprindo-se o
princípio da não cumulatividade a cada operação. 3. O regime da
não cumulatividade impõe concluir, conquanto se tenha a
escrituração da parcela ainda a se compensar do ICMS, não se
incluir todo ele na definição de faturamento aproveitado por este
Supremo Tribunal Federal. O ICMS não compõe a base de cálculo
para incidência do PIS e da COFINS. 3. Se o art. 3º, § 2º, inc. I, in
fine, da Lei n. 9.718/1998 excluiu da base de cálculo daquelas
contribuições sociais o ICMS transferido integralmente para os
Estados, deve ser enfatizado que não há como se excluir a
transferência parcial decorrente do regime de não cumulatividade
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em determinado momento da dinâmica das operações. 4. Recurso


provido para excluir o ICMS da base de cálculo da contribuição ao
PIS e da COFINS.

Neste sentido, sendo incabível que o ICMS integre a base de cálculo do


PIS/COFINS, imperioso que a CPRB também seja excluída desta grandeza para o
cálculo dos tributos devidos.

Afinal, não há ponto de distinção entre a exclusão do ICMS e da CPRB da


base de cálculo do PIS/COFINS que permita o afastamento do entendimento
consagrado pelo STF no RE 574.706. Vejamos que, na ocasião, assim se
posicionou o Ministro Marco Aurélio:

Digo não ser o ICMS fato gerador do tributo, da contribuição. Digo


também, reportando-me ao voto, que, seja qual for a modalidade
utilizada para recolhimento do ICMS, o valor respectivo não se
transforma em faturamento, em receita bruta da empresa, porque
é devido ao Estado. E muito menos é possível pensar, uma vez que
não se tem a relação tributária Estado-União, em transferir, numa
ficção jurídica, o que decorrente do ICMS para o contribuinte e vir a
onerá-lo.

A conclusão adotada, em síntese, é que o ICMS se trata de ônus para o


contribuinte, ou seja, representa valores que posteriormente são transferidos ao
Estado competente para promover sua cobrança, razão pela qual não pode ser
compreendido no conceito de faturamento.

Nesse mesmo sentido, temos que a CPRB é um ônus fiscal, um


tribute imposto ao contribuinte, que deve, posteriormente, realizar o
repasse dos valores à União Federal, não podendo também, ser
compreendida no conceito de faturamento!

Ressaltam-se as palavras do Desembargador Theophilo Antonio Miguel


Filho, no julgamento da Apelação Cível de nº 5015731-61.2019.4.02.5118/RJ,
também proferido no dia 22 de setembro de 2020, in verbis:

A tese de repercussão geral fixada pelo STF, conforme o tema 069,


foi a de que “O ICMS não compõe a base de cálculo para fins de
incidência do PIS e da Cofins”, já tendo sido publicada, inclusive, a
súmula da decisão que constou da ata, no DJE n° 52, divulgado em
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16/03/2017, a qual vale como acórdão, nos termos do art. 1.035,


§11, do CPC/2015, o que revela a ausência de óbice para aplicação
do entendimento firmado pela Corte Suprema desde logo.
Impende-se destacar, ademais, que a mera pendência de
julgamento de embargos declaratórios com pedido de modulação
de efeitos, em RE submetido à sistemática de repercussão geral,
não tem o condão de suspender o julgamento do recurso de
apelação que verse sobre a mesma matéria, quando inexiste
qualquer determinação da Corte Suprema nesse sentido.
O mesmo raciocínio do STF, no julgamento do RE n.
574706, que se posicionou pela exclusão do ICMS da base
de cálculo do PIS e da COFINS, por não se inserir o aludido
imposto no conceito de receita, aplica-se para o PIS e a
COFINS em sua própria base de cálculo, ou seja, não podem
as aludidas contribuições servirem como base econômica
delas próprias, pois não integram o conceito de receita,
sendo esse o parâmetro previsto na regra de competência
tributária inserta no art. 195, I, “b”, da Constituição Cidadã.
Aplica-se, no caso, o brocardo ubi eadem ratio ibi idem jus.

Especificamente quanto a esta discussão já se verificam decisões


prolatadas pelo Poder Judiciário, destacando:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.


CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SUBSTITUTIVA. ARTS. 7º E 8º DA
LEI 12.546/2011. BASE DE CÁLCULO. RECEITA BRUTA. ICMS, ISS,
PIS E COFINS. INCLUSÃO. IMPOSSIBLIDADE. (1). 1. O Supremo
Tribunal Federal, ao apreciar o Recurso Extraordinário 574.706
pela sistemática da repercussão geral, firmou a tese de “o ICMS
não compõe a base de cálculo para a incidência do PIS e da
COFINS”. (RE 574706 RG, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, julgado
em 15/03/2017) 2. O raciocínio adotado para exclusão do ICMS da
base de cálculo do PIS e da COFINS é cabível para também excluir
o ISS. 3. A parcela relativa ao ICMS, ISS, PIS e COFINS não
se inclui no conceito de receita bruta para fins de
determinação da base de cálculo da contribuição substitutiva
prevista nos arts. 7º e 8º da Lei 12.546/2011, aplicando-se, por
analogia, o entendimento fixado pelo STF em sede de repercussão
geral. 4. Honorários nos termos do voto. 5. Apelação da parte
autora provida. Apelação da Fazenda Nacional e remessa oficial
não providas.” (destacamos) (Tribunal Regional Federal da
Primeira Região, Processo nº 0046688- 83.2013.4.01.3400, Sétima
Turma, Relator Desembargador Federal Eduardo Morais da Rocha,
julgado em 13/06/2017)
“PROCESSO CIVIL. RECURSO DE APELAÇÃO. MANDADO DE
SEGURANÇA. JULGAMENTO REPETITIVO. TEMA 69 DA
REPERCUSSÃO GERAL. RE 574.706. APLICAÇÃO. ADEQUAÇÃO DO
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JULGADO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA


BRUTA. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO DO ICMS, PIS E COFINS.
IMPOSSIBILIDADE. DIREITO À COMPENSAÇÃO. RECURSO PROVIDO.
1. O E. Supremo Tribunal Federal, em 15/03/2017, por maioria,
apreciando o tema 69 da repercussão geral, fixou a seguinte tese:
"O ICMS não compõe a base de cálculo para a incidência do PIS e
da Cofins". A questão, portanto, foi submetida ao microssistema
processual de formação de precedente obrigatório, nos termos do
artigo 927, III, do Código de Processo Civil, objeto de apreciação no
julgamento do RE 574.706/PR. 2. Nos termos do artigo 985, I, c/c o
artigo 1.040, III, ambos do Código de Processo Civil, definida a tese
jurídica no julgamento de casos repetitivos ela deverá ser aplicada
a todos os processos individuais ou coletivos pendentes que
versem sobre a matéria. 3. Conforme definiu o STF, o valor da
referida exação, ainda que contabilmente escriturado, não deve
ser inserido no conceito de faturamento ou receita bruta, já que
apenas transita pela empresa arrecadadora, sendo, ao final,
destinado aos cofres do ente tributante. 4. Considerando que a
contribuição previdenciária sobre a receita bruta prevista na Lei nº
12.546/2011, da mesma forma que as contribuições ao PIS e à
COFINS - na sistemática não cumulativa - previstas nas Leis nº
10.637/2002 e 10.833/2003, adotou o conceito amplo de receita
bruta para fins de apuração da base de cálculo, o fundamento
determinante do precedente deve ser aplicado para as
contribuições previdenciárias substitutivas, por imperativo lógico.
5. Observada a identificação dos fatos relevantes e que os motivos
jurídicos determinantes são aplicáveis ao caso concreto, impõe-se
o dever de uniformização e coerência da jurisprudência, nos
termos do artigo 926, do CPC. 6. As parcelas relativas ao ICMS, PIS
e COFINS não se incluem no conceito de receita bruta para fins de
determinação da base de cálculo da contribuição previdenciária
sobre a receita bruta (CPRB), nos termos da Lei n 12.546/2011,
assegurado o direito à compensação, nos termos fixados.
Precedentes desta E. Corte (AMS 00245703920154036100, Rel.
Desembargador Federal SOUZA RIBEIRO, Segunda Turma, e-DJF3
Judicial 1 13/07/2017; AMS 00187573120154036100, Rel.
Desembargador Federal NELTON DOS SANTOS, Terceira Turma, e-
DJF3 Judicial 1 12/05/2017; AMS 00148548520154036100, Rel.
Juíza Convocada ELIANA MARCELO, 3ª Turma, e-DJF3 Judicial 1
03/02/2017). 7. Recurso de Apelação e remessa oficial
(desprovidos). (Tribunal Regional Federal da Terceira Região,
Processo nº 0000370- 32.2015.403.6111, Segunda Turma, Relator
para Acórdão Desembargador Federal Cotrim Guimarães, julgado
em 24/10/2017)

Por todo o exposto, Requer seja garantido o direito líquido e certo da


IMPETRANTE de não ser mais compelida a apurar e recolher o PIS e a COFINS
com a indevida inclusão da CPRB em suas bases de cálculo.
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3 – COMPENSAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Acerca do pagamento indevido, assim disciplina o Código Civil Brasileiro:

Art. 876. Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica
obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe
dívida condicional antes de cumprida a condição.

Demonstrado o fato de ser indevida a inclusão da CPRB na base de cálculo


do PIS e da COFINS, surge o direito subjetivo da parte lesada de requerer a
devolução da parcela indevidamente paga dos tributos.

No direito tributário, como regra geral, o sujeito passivo é o contribuinte,


devedor do tributo. Mas, tal contribuinte também pode ser credor da Fazenda
Pública, normalmente por ter pago tributo em valor superior ao devido ou por
não ser devida a exação, o que ocorreu na hipótese.

De qualquer modo, é certo que existe similitude entre as hipóteses de


compensação e a restituição do indébito tributário. Ambas são meios à
disposição do contribuinte de reaver aquilo que pagou sem que houvesse
fundamento legal para tanto.

Ressalta-se, ademais, que o Superior Tribunal de Justiça admite a eficácia


executiva da sentença declaratória, nos termos da Súmula 461, in verbis:

O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou


por compensação, o indébito tributário certificado por sentença
declaratória transitada em julgado.

Desta forma, a sentença declaratória certifica o direito de crédito do


contribuinte e acaba por legitimá-lo com o título executivo para postular a
restituição ou realizar a compensação.

Ademais, os direitos à restituição e compensação estão expressamente


previstos no art. 165, I, e 170, respectivamente, do CTN, vejamos:

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de


prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual
for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4°
do artigo 162, nos seguintes casos:
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I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou


maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou
da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador
efetivamente ocorrido;
[...]
Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que
estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade
administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários
com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito
passivo contra a Fazenda pública.

Frisa-se, ainda, que o art. 66 da Lei n. 8.383/91, com redação dada pela Lei
n. 9.069/95, também resguarda o direito à compensação em caso de pagamento
indevido de contribuição, senão vejamos:

Art. 66. Nos casos de pagamento indevido ou a maior de tributos,


contribuições federais, inclusive previdenciárias, e receitas
patrimoniais, mesmo quando resultante de reforma, anulação,
revogação ou rescisão de decisão condenatória, o contribuinte
poderá efetuar a compensação desse valor no recolhimento de
importância correspondente a um período subsequente.

Corroborando esse entendimento, temos que a autorização para


compensação dos valores recolhidos indevidamente, inclusive a título de PIS e
COFINS, com quaisquer tributos federais que sejam administrados pela Secretaria
da Receita Federal, encontra previsão no art. 74 da Lei nº 9.430/96, alterado pela
Lei nº 10.637/2002, in verbis:

Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais


com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição
administrado pela Secretaria da Receita Federal, passivei de
restituição ou de ressarcimento, poderá utilizá-lo na compensação
de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições
administrados por aquele Órgão.

Por fim, o Superior Tribunal de Justiça expressamente autoriza o manejo de


Mandado de Segurança para emissão de declaração do direito à compensação
tributária, conforme estatuído na Súmula 231:

O mandado de segurança constitui ação adequada para a


declaração do direito à compensação tributária.

Destarte, resta claro o direito da IMPETRANTE de obter a declaração do


direito à compensação de tributos e contribuições dos valores indevidamente
recolhidos nos últimos 05 anos, bem como daqueles eventualmente recolhidos
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no curso da demanda, com débitos próprios, vencidos ou vincendos, relativos a


quaisquer tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.

4 – DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA CONCESSÃO DA MEDIDA


LIMINAR

Em que pese a Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) elencar


como requisitos para a concessão de medida liminar o “fundamento relevante do
pedido” e “o ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida”, será demonstrado, a seguir, o fumus boni iuris e o
periculum in mora para que seja deferida a medida, vista a similitude dos
requisitos autorizadores da concessão da liminar em paradigma com o Código de
Processo Civil, cuja aplicação se dá de forma subsidiária.

Requer-se a concessão de medida liminar com base no art. 311, inciso II


c/c parágrafo único (tutela de evidência), ALTERNATIVAMENTE, com base no art.
300, caput c/c § 2º (tutela de urgência) do CPC, visto estarem preenchidos os
requisitos legais.

Nota-se que resta autorizada a concessão da tutela de evidência,


liminarmente, quando o fato constitutivo do direito da Impetrante estiver
demonstrado em prova documental, cuja força probante encontra-se diretamente
ligada à questão de fato discutida na ação, e já exista tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante.

Na hipótese, a tese defendida pela Impetrante tem fundamentação


baseada no tema 994 do Superior Tribunal de Justiça, julgado na sistemática dos
Recursos Repetitivos, cuja aplicação da ratio decidendi se faz obrigatória para
todos os tribunais do país. Bem como, ao Tema 69 do STF, que firmou o
entendimento de que: “O ICMS NÃO COMPÕE A BASE DE CÁLCULO PARA A
INCIDÊNCIA DO PIS E DA COFINS”.

A partir dessas decisões, surge a discussão acerca da ilegalidade da


inclusão da CPRB nas bases de cálculos do PIS e da COFINS, contribuições estas
que tem como base de cálculo a receita bruta (conceito equiparado ao
“faturamento” pelo STF).
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Mutatis mutandis, a ratio decidendi das referidas decisões é a mesma: a


CPRB, por não representar receita bruta/faturamento da empresa, não pode ser
incluso na base de cálculo de tributos cuja base de cálculo seja a receita
bruta/faturamento.

Os documentos arrolados com a petição inicial fazem prova do fato


alegado, na medida em que demonstram que as bases de cálculo das
Contribuições ao PIS e a COFINS, recolhidas pela Impetrante incluiram, como
ainda incluem, a parcela referente ao recolhimento da CPRB.

Alternativamente, caso V. Excelência entenda por inaplicável, ao presente


caso, a concessão da medida liminar com base na tutela de evidência, requer-se
a concessão do pedido liminar com base na tutela de urgência (art. 300, caput e
§ 2º do CPC), visto que também preenchidos os requisitos legais.

Para que seja concedida a medida liminar com base em pedido de


antecipação da tutela de urgência, faz-se necessário a demonstração da
probabilidade do direito invocado, bem como a demonstração no perigo da
demora/risco ao resultado útil do processo.

A probabilidade do direito decorre de toda a fundamentação exposta nos


itens anteriores, especialmente quanto à aplicação axiológica da ratio decidendi
do julgamento do Tema 69 do STF, proferido em sede de Repercussão Geral, e do
Tema 994 do STJ decidido na sistemática dos Recursos Repetitivos, de forma a
concluir que a CPRB não pode compor a base de cálculo das Contribuições do PIS
e da COFINS, visto tal tributo não representar faturamento tampouco receita
bruta da empresa.

Outro requisito para que seja concedido o pedido liminar com base na
tutela de urgência é a demonstração do perigo na demora/risco ao resultado útil
do processo.

O periculum in mora decorre do justo receio de que, uma vez não


concedida a liminar, a Impetrante continue sujeita ao recolhimento do PIS e da
COFINS com a indevida inclusão da CPRB em suas bases de cálculos,
aumentando de maneira significativa o montante a ser futuramente perseguido
contra a Impetrada.
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Ainda, caso a Impetrante sem amparo em decisão judicial passar a


recolher o PIS e a COFINS sem a ilegal inclusão da CPRB em sua base de cálculo,
estará sujeita a autuação por infração fiscal, bem como ser executada por um
valor ILEGALMENTE EXIGIDO que deixou de recolher.

Um prejuízo dessa dimensão não é mera diminuição das possibilidades de


lucro, mas verdadeiro obstáculo imposto à atividade econômica da Impetrante,
causando nítido prejuízo em face de uma demora da concessão do provimento
requestado.

O periculum in mora surge também em face da extrema dificuldade de


recuperação dos valores pagos indevidamente, tanto pelo fato de o governo ser
um mau pagador, quanto pela obrigatoriedade recursal protelatória da Fazenda
Nacional. Ainda, com a vinda desses recursos, a empresa poderia gerar diversos
empregos através de investimentos feitos com os valores
compensados/restituídos, os quais, nos tempos atuais de crise, movimentam a
economia local/regional, fomentando ainda mais a atividade mercantil e
reduzindo a taxa de desemprego.

Por fim, ressalta-se que inexiste perigo de irreversibilidade dos efeitos da


decisão, visto que a questão se trata de bem meramente econômico. Dessa
forma, requer-se a concessão da medida liminar para que seja deferida a tutela
de evidência, alternativamente, a tutela de urgência, visto que preenchidos e
comprovados os requisitos legais para ambas, para que seja determinado o
imediato estancamento das cobranças indevidas, com a exclusão da CPRB de sua
própria base de cálculo.

6 – DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer-se:

1. a concessão de MEDIDA LIMINAR (LMS, art. 7°, inc. III), autorizando a


IMPETRANTE a apurar e recolher o PIS/COFINS sem a indevida
inclusão da CPRB em suas bases de cálculo, suspendendo-se, nos
termos do inciso IV do artigo 151 do Código Tributário Nacional, a
exigibilidade dos respectivos créditos tributários;
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2. Seja a autoridade IMPETRADA notificada a prestar as informações devidas


no prazo de 10 (dez) dias (LMS, art. 7º, inc. I);

3. Seja dada ciência ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica


interessada (União), para, querendo, integrar o feito (LMS, art. 7º, inc. II)
e

4. Oportunamente, seja ouvido o ilustre representante do Ministério Público


Federal (LMS, art. 12).

5. Ao final, requer seja a presente ação julgada TOTALMENTE PROCEDENTE,


CONCEDE-SE A SEGURANÇA DEFINITIVA, assegurando-se:

a) o DIREITO da IMPETRANTE de apurar e recolher o PIS/COFINS sem a


indevida inclusão da CPRB em suas bases de cálculo, seja na vigência
da Lei nº 9.718/98, seja as alterações promovidas pela Lei nº
12.973/2014;
b) DIREITO da IMPETRANTE de efetuar a compensação dos valores
indevidamente recolhidos a tais títulos, observando-se o prazo
prescricional quinquenal; e a incidência de correção monetária e juros
de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir de cada recolhimento
indevido, e taxa SELIC a partir de 01.01.1996, ou subsidiariamente,
com a aplicação dos mesmos índices de correção monetária e juros
aplicados pela IMPETRADA quando da cobrança de seus créditos;
efetivação da compensação com débitos próprios, vencidos ou
vincendos, relativos a quaisquer tributos ou contribuições
administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, inclusive
com os então administrados pelas extintas Secretaria da Receita
Federal e Previdenciária.

c) determinando-se que a autoridade IMPETRADA se ABSTENHA de


obstar o exercício dos direitos em tela, bem como de promover, por
qualquer meio – administrativo ou judicial –, a cobrança ou exigência
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dos valores correspondentes às contribuições em debate, afastando-


se quaisquer restrições, autuações fiscais, negativas de expedição de
Certidão Negativa de Débitos, imposições de multas, penalidades, ou,
ainda, inscrições em órgãos de controle, como o CADIN, v.g.

REQUER, por fim, que as publicações e intimações sejam feitas em nome de


DANIELLI VALADÃO FRAGA, OAB/ES nº 15.179, sob pena de nulidade, nos
termos do artigo 272, §5° do CPC e STF. HC n. 101066/GO, Rel. Min. AYRES
BRITTO, 06/03/2012.

Dá-se à causa o valor de R$ 19.526,99.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Vila Velha, 09 de maio de 2023.

ANDRÉ RICARDO TELES SOUZA


OAB/BA 15.554
OAB/ES 16.093

DANIELLI VALLADÃO FRAGA


OAB/ES 15.179

LARA TAVARES FREIRE


BACHAREL EM DIREITO

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