Antonio Hilario Da Rocha - MSC - COPPE - Vfinal (Postada)

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DESENVOLVIMENTO DE APARATO PARA MODELAGEM FÍSICA DE

BARRAGENS DE REJEITOS

Antonio Hilario da Rocha Junior

Dissertação de Mestrado apresentada ao


programa de Pós-graduação em Engenharia Civil,
COPPE, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Engenharia
Civil.

Orientadores: Márcio de Souza Soares Almeida

Leonardo De Bona Becker

Rio de Janeiro

Setembro de 2023
Antonio Hilario da Rocha Junior

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO


LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

_____________________________________
Prof. Marcio de Souza Soares de Almeida

_____________________________________
Prof. Leonardo De Bona Becker

_____________________________________
Prof. Fernando Saboya Albuquerque Junior

_____________________________________
Prof. Samuel Felipe Mollepaza Tarazona

_____________________________________
Prof. Willy Alvarenga Lacerda

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL


SETEMBRO DE 2023
Rocha, Junior
Desenvolvimento de aparato para modelagem física barragens de
rejeitos/Antonio Hilario da Rocha Junior. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2023.

xxii, 176 p.: il.; 29,7 cm.


Orientadores: Márcio de Souza Soares de Almeida
Leonardo De Bona Becker
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2023.
Referências Bibliográficas: p. 141-145.
1. Introdução 2. Revisão Bibliográfica 3. Comportamento
do rejeito estudado nos modelos 1g 4. Caixa de ensaio:
Equipamentos e instrumentação 5. Apresentação e discussão
dos resultados 6. Conclusões e recomendações para pesquisas
futuras I. Almeida, Márcio de Souza Soares de et al. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de
Engenharia Civil. III. Título

iii
“Seja quem você quer ser,

Faça o que queira fazer,

Da teoria vem o saber,

Da ação surge o crescer.”

Sinara.

iv
AGRADECIMENTO

A Deus;

À minha família;

Aos professores e orientadores Marcio Almeida e Leonardo Becker, pelo conhecimento


transmitido, pela orientação e pelas incansáveis revisões desta dissertação;

A todos os professores da COPPE/UFRJ que contribuíram para o meu desenvolvimento


profissional;

À equipe do laboratório LM2C;

À equipe do projeto da VALE/COPPE, especialmente à Willian e Iago;

Aos meus colegas de turma e amigos, agradeço por compartilharem experiências e ideias;

Às instituições e autores cujas obras constituíram a base deste estudo.

Muito Obrigado!

v
DESENVOLVIMENTO DE APARATO PARA MODELAGEM FÍSICA DE
BARRAGENS DE REJEITOS

Antonio Hilario da Rocha Junior

Setembro/2023

Orientadores: Marcio de Souza Soares de Almeida


Leonardo De Bona Becker

Programa: Engenharia Civil

Os desastres ambientais recentes decorrentes de incidentes em barragens de


rejeitos de mineração, com perdas humanas significativas e extensos impactos
catastróficos, têm provocado respostas da sociedade e medidas regulatórias mais
rigorosas. Essas estruturas, frequentemente com partículas de areia, silte e argila, alta
umidade e baixa densidade, são altamente propensas à liquefação. O uso de modelos
físicos na engenharia geotécnica tem se mostrado crucial, permitindo simulações
controladas de sistemas complexos e proporcionando conhecimentos fundamentais para
a compreensão da estabilidade das barragens. Nesse contexto, este estudo propõe a
construção de uma caixa de ensaio para testar modelos reduzidos de barragens de rejeitos
de minério de ferro, enriquecendo a compreensão de seu comportamento. A metodologia
engloba a caracterização dos parâmetros geotécnicos, análise do fluxo e estabilidade, com
resultados avaliados em relação à mecânica dos solos e a modelos numéricos. Isso resulta
em uma compreensão abrangente do comportamento geotécnico dos rejeitos,
fundamental para aprimorar práticas de projeto, construção e gestão de barragens de
rejeitos, com o intuito de reduzir riscos relacionados a desastres ambientais.

vi
DEVELOPMENT OF APARATUS FOR PHYSICAL MODELING OF
TAILINGS DAMS

Antonio Hilario da Rocha Junior

September/2023

Advisor: Marcio de Souza Soares de Almeida


Leonardo De Bona Becker

Department: Civil Engineering

The recent environmental disasters stemming from incidents in mining waste dam
failures, causing significant loss of life and extensive catastrophic impacts, have elicited
responses from society and more stringent regulatory measures. These structures, often
comprised of sand, silt, and clay particles, high moisture content, and low density, are
highly susceptible to liquefaction. The use of physical models in geotechnical engineering
has proven crucial, allowing controlled simulations of complex systems and providing
essential insights for the understanding of dam stability. In this context, this study
proposes the construction of a testing apparatus to assess scaled models of iron ore waste
dams, enriching the understanding of their behavior. The methodology encompasses the
characterization of geotechnical parameters, flow analysis, and stability assessment, with
results evaluated in relation to soil mechanics and numerical models. This culminates in
a comprehensive comprehension of the geotechnical behavior of the waste, essential for
enhancing the practices of dam design, construction, and management, aiming to mitigate
risks associated with environmental disasters.

vii
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA E MOTIVAÇÃO ........................................ 1

1.2. OBJETIVO DO ESTUDO .............................................................................. 3

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO .............................................................. 3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 5

2.1. LIQUEFAÇÃO DE REJEITOS ..................................................................... 5

2.1.1 CONCEITOS GERAIS ................................................................................. 5

2.1.2 CARACTERÍSTICAS DE REJEITOS DE MINÉRIO DE FERRO ........ 6

2.1.3 COMPORTAMENTO NO CISALHAMENTO ......................................... 8

2.1.4 GATILHOS DA LIQUEFAÇÃO ............................................................... 16

2.2. MODELO 1G ................................................................................................. 17

2.2.1 CONCEITOS GERAIS ............................................................................... 17

2.2.2 LEIS DE SIMILITUDE .............................................................................. 18

2.2.3 LEIS DE SIMILITUDE APLICADA A MECÂNICA DOS SOLOS ..... 18

2.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 20

3. COMPORTAMENTO DO REJEITO ESTUDADO NOS MODELOS 1G .... 22

3.1 SOLO ENSAIADO ............................................................................................. 22

3.1.1 REJEITOS UF E OF ................................................................................... 22

3.1.2 COLETA E PREPARO DE AMOSTRAS ................................................ 25

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO REJEITO .............................................................. 29

3.2.1 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO ....................................................... 29

3.2.2 ANÁLISES QUÍMICA E MINERALÓGICA .......................................... 30

3.3 ESTADO CRÍTICO, RESISTÊNCIA E COMPORTAMENTO DE


INTERFACES .......................................................................................................... 31

3.3.1 LINHA DE ESTADO CRÍTICO................................................................ 32

3.3.2 ÂNGULO DE REPOUSO ........................................................................... 32

viii
3.3.3 TILT-TEST .................................................................................................. 34

3.3.4 ÍNDICE DE VAZIOS USADO NO MODELO 1G................................... 36

3.4 COMPORTAMENTO HIDROMECÂNICO .................................................. 39

3.4.1 COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE............................................... 39

3.4.2 COMPRESSIBILIDADE DO REJEITO .................................................. 41

3.4.3 CURVA DE RETENÇÃO........................................................................... 43

3.5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................. 45

4 CAIXA DE ENSAIO: EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTAÇÃO .................. 48

4.1 VISÃO GERAL DA CAIXA DE ENSAIO....................................................... 48

4.2 SISTEMA DE DRENAGEM E DE INJEÇÃO DE CO2 ................................. 49

4.3 INSTRUMENTAÇÃO ....................................................................................... 54

4.3.1 PIEZÔMETROS ......................................................................................... 55

4.3.2 ACELERÔMETROS .................................................................................. 57

4.3.3 AIR HAMMER ............................................................................................ 58

4.3.4 PIV (VELOCIMETRIA POR IMAGEM DE PARTÍCULAS) ............... 59

4.3.5 INCLINÔMETRO....................................................................................... 61

4.4 COMPACTAÇÃO DO REJEITO .................................................................... 63

4.4.1 COMPACTADOR SEMIAUTOMÁTICO ............................................... 64

4.4.2 CAIXA TESTE ............................................................................................ 67

4.4.3 COMPACTAÇÃO DO REJEITO ............................................................. 68

4.4.4 EXECUÇÃO DO ENSAIO ......................................................................... 70

4.5 PROGRAMA DE ENSAIOS ............................................................................. 72

4.5.1 GEOMETRIA E CONDIÇÕES DE CONTORNO .................................. 72

4.5.2 CONDIÇÃO INICIAL DA REDE DE FLUXO........................................ 74

4.5.3 ANÁLISE DE ESTABILIDADE - CONDIÇÃO INICIAL ..................... 78

4.5.4 ANÁLISE DE ESTABILIDADE - CONDIÇÃO INSTÁVEL................. 80

4.5.5 RESUMO DOS ENSAIOS EFETIVAMENTE REALIZADOS ............. 82

ix
4.6 METODOLOGIA DOS ENSAIOS NA CAIXA 1g ......................................... 83

4.6.1 PREPARO DA CAIXA DE ENSAIO ........................................................ 83

4.6.2 RESUMO DA DISPOSIÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO ...................... 89

4.6.3 COMPACTAÇÃO DO REJEITO ............................................................. 96

4.6.4 SATURAÇÃO UTILIZANDO CO 2 ........................................................... 98

4.6.5 EXECUÇÃO DO ENSAIO ....................................................................... 100

4.7 COMENTÁRIOS FINAIS ............................................................................... 102

CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........ 103

5.1 ENSAIO PRELIMINAR: MODELO 1H:1V ................................................. 103

5.1.1 COMPACTAÇÃO E PARÂMETRO DE ESTADO .............................. 103

5.1.2 ANÁLISE DOS PARÂMETROS OBTIDOS PELA


INSTRUMENTAÇÃO ....................................................................................... 108

5.1.3 ANÁLISE DE FLUXO .............................................................................. 110

5.1.4 ANÁLISE DE ESTABILIDADE .............................................................. 112

5.2 ENSAIO NO MODELO 2H:1V ...................................................................... 113

5.2.1 COMPACTAÇÃO E PARÂMETRO DE ESTADO .............................. 114

5.2.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO AIR HAMMER ........................... 118

5.2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PIEZÔMETROS ...................... 119

5.2.4 ANÁLISE DE FLUXO .............................................................................. 132

5.2.5 ANÁLISE DE ESTABILIDADE .............................................................. 133

5.2.6 ANÁLISES DE RESULTADOS DOS ACELERÔMETROS, PIV E


INCLINÔMETRO.............................................................................................. 135

5.3 COMENTÁRIOS FINAIS ............................................................................... 137

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS


FUTURAS ................................................................................................................... 139

6.1 CAIXA DE ENSAIOS ...................................................................................... 139

6.2 RESULTADOS DOS ENSAIOS ..................................................................... 140

6.3 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................... 141

x
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 142

ANEXOS...................................................................................................................... 147

xi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – (a) Pilha de estéril (Mina de águas claras, Nova Lima/MG), (b) Estéril em
detalhe............................................................................................................................... 2

Figura 2 - Barragem de rejeitos (Reservatório da barragem de Itabiruçu - Itabira/MG).. 2

Figura 3 - Faixas granulométricas dos materiais susceptíveis à liquefação (modificado de


Ishihara et al., 1980) ......................................................................................................... 8

Figura 4 - Resultados típicos de ensaios triaxiais de uma areia em condição densa e solta.
a) Tensão desviadora b) Índice de vazios críticos (Casagrande, 1936). ......................... 10

Figura 5 - Representação da Linha de Estado Crítico (Fonte: Jefferies & Been, 2016) 11

Figura 6 - Parâmetro de estado, ψ, (Fonte: Jefferies & Been, 2016) .............................. 11

Figura 7 - Seção transversal recriada da barragem do Córrego do Feijão (Painel de


especialistas, 2019). ........................................................................................................ 13

Figura 8 - Histograma de parâmetro de estado barragem de fundão (Comitê de


especialistas,2016). ......................................................................................................... 15

Figura 9 - Liquefação devido a carregamento estático ou cíclico. (a) Trajetória de tensões


(b) Tensão-deformação (Modificado de Davies et al., 2002) ......................................... 16

Figura 10 - Gráfico de tensão-deformação (modelo e protótipo) Fonte: Modificado de


Rocha (1957) .................................................................................................................. 19

Figura 11 - Exemplo esquemático da técnica de escalonamento constitutivo usando a


Linha de Estado Estacionário; Fonte: Gibson (1997) ..................................................... 20

Figura 12 - Seção de barragem típica com superfície potencial de ruptura ................... 23

Figura 13 - Curva granulométrica com faixas de OF e UF (modificado de VALE, 2020)


........................................................................................................................................ 23

Figura 14 - Barragem típica MG .................................................................................... 24

Figura 15 - Perfis de poropressão, densidade relativa e parâmetro de estado medidos no


ensaio CPTu realizado na praia de rejeitos. .................................................................... 25

Figura 16 - Planta de localização de pontos de coleta de amostras. ............................... 25

Figura 17- Comparação entre a curva granulométrica do rejeito estudado com o rejeito
das barragens B1 do Córrego do Feijão e do Fundão (Coutinho,2022) ......................... 26

xii
Figura 18 - Quarteador de amostras em aço com 18 planos de 25mm ........................... 28

Figura 19 - Gráfico comparativo da curva granulométrica obtida por Coutinho (2022) no


IPT e por esse estudo realizado na COPPE .................................................................... 30

Figura 20 - Sequência de execução do ensaio da caixa para definição do ângulo de repouso


........................................................................................................................................ 33

Figura 21 - Caixa do ensaio para determinação do ângulo de atrito no repouso ............ 33

Figura 22 - Tilt Test ........................................................................................................ 35

Figura 23 - Gráfico de deformação x inclinação ............................................................ 36

Figura 24 - Croqui da definição da linha freática ........................................................... 38

Figura 25 - Permeâmetro de carga constante e variável ................................................. 39

Figura 26 - Amostra compactada para a obtenção da permeabilidade vertical e horizontal


........................................................................................................................................ 40

Figura 27 – Coleta de amostra (a) vertical (b) horizontal............................................... 40

Figura 28 - Curvas de índice de vazios em função da tensão efetiva vertical ................ 42

Figura 29 - Gráfico comparativo entre a curva de retenção do rejeito estudado e a curva


de retenção para areia siltosa definida pelo programa Seep/W. ..................................... 44

Figura 29 – Modelo 3D da caixa de ensaio .................................................................... 48

Figura 30 - Caixa de ensaio instalada no galpão da VALE. ........................................... 49

Figura 31 - Módulos de drenos no piso da caixa ............................................................ 50

Figura 32 - Conexão de válvulas na parte inferior dos módulos .................................... 50

Figura 33 - Válvulas solenoides para controle de injeção de gás e drenagem dos módulos.
........................................................................................................................................ 51

Figura 34 - Croqui indicativo de configuração de drenagem ......................................... 51

Figura 35 - Indicação do nível de água para a configuração de dreno bloqueado ......... 52

Figura 36 - Secção do reservatório de água da caixa de ensaio. .................................... 52

Figura 37- Sistema de controle e monitoramento ........................................................... 53

Figura 38 - Croqui esquemático para definição de nomenclatura dos componentes da


caixa de ensaio ................................................................................................................ 54
xiii
Figura 39 - Teste de bancada dos piezômetros ............................................................... 55

Figura 40 - Detalhe do piezômetro e pedra porosa (Filtro de bronze) ........................... 56

Figura 41 - Planta de localização de piezômetros Casagrande ....................................... 56

Figura 42 - Piezômetro Casagrande................................................................................ 57

Figura 43 - Representação esquemática do tempo de chegada para cálculo da velocidade


de onda entre acelerômetros (modificada de Soriano, 2021). ........................................ 58

Figura 44 - Detalhe do Air hammer e mangueira de poliuretano ................................... 59

Figura 45 - Câmera GoPro Hero 5 Black ....................................................................... 60

Figura 46 - Esquema de montagem para PIV ................................................................. 61

Figura 47 - Ilustração do sistema de aquisição de dados do inclinômetro ..................... 62

Figura 48 - Teste em caixa de ensaio da COPPE com densidade correspondente ao modelo


........................................................................................................................................ 63

Figura 49 - Compactador semiautomático...................................................................... 64

Figura 50- Contrapeso (Carga de impacto) .................................................................... 65

Figura 51 - Pórtico de apoio ........................................................................................... 66

Figura 52 - Componentes do compactador acoplados ao pórtico ................................... 66

Figura 53 - Caixa teste .................................................................................................... 67

Figura 54 – Compactador: a) perspectiva; e b) vista superior da distribuição do


compactador no ensaio da caixa teste. ............................................................................ 69

Figura 55 - Compactação da caixa teste ......................................................................... 70

Figura 56 - Gráfico para obtenção da equação logarítmica ............................................ 71

Figura 57 - Croqui esquemático para definição das geometrias de pesquisa. ................ 73

Figura 58 - Modelo talude 1:1 (Malha 442 elementos e condições de contorno) .......... 74

Figura 59 - Modelo talude 2:1 (Malha 662 elementos e condições de contorno) .......... 74

Figura 60 - Modelo talude 3:1 (Malha 865 elementos e condições de contorno) .......... 74

Figura 61 – Fase de saturação – rede de fluxo em regime permanente - Modelo com talude
1:1 (NA= 0,70m do reservatório e dreno de jusante aberto) .......................................... 76

xiv
Figura 62 - Fase de saturação – rede de fluxo em regime permanente - Modelo com talude
2:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto) .......................................... 76

Figura 63 - Fase de saturação – rede de fluxo em regime permanente - Modelo com talude
3:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto) .......................................... 76

Figura 64 - Modelo com talude 1:1 (Elevação do NA do reservatório de 0,70m para 1,0m
e dreno de jusante mantido aberto) ................................................................................. 77

Figura 65 -Modelo com talude 2:1 (Bloqueio do dreno de jusante com NA do reservatório
mantido em 1,0m) ........................................................................................................... 77

Figura 66 - Modelo com talude 3:1 (Bloqueio do dreno de jusante com NA do reservatório
mantido em 1,0m) ........................................................................................................... 77

Figura 67 - Modelo com talude 1:1 (NA= 0,70m do reservatório e dreno de jusante aberto,
em condição de regime permanente) .............................................................................. 79

Figura 68 - Modelo com talude 2:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto,
em condição de regime permanente) .............................................................................. 79

Figura 69 - Modelo com talude 3:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto,
em condição de regime permanente) .............................................................................. 79

Figura 70 - Modelo com talude 1:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno aberta, na última
condição de regime transiente) ....................................................................................... 80

Figura 71 - Modelo com talude 2:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno bloqueado, na
última condição de regime transiente) ............................................................................ 80

Figura 72 - Modelo com talude 3:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno bloqueado, na
última condição de regime transiente) ............................................................................ 81

Figura 73 - Evolução do FS x Tempo após o bloqueio da drenagem ............................. 82

Figura 74 - Verificação de conexões das mangueiras de água e gás dos drenos internos
........................................................................................................................................ 84

Figura 75 - Teste de estanqueidade ................................................................................ 85

Figura 76 - Bomba centrífuga ......................................................................................... 85

Figura 77 - Bomba autoaspirante e conjunto de válvulas solenoide .............................. 86

Figura 78 - Rolos de Geotêxtil com 1,15m de largura ................................................... 87

xv
Figura 79 - Imagem da caixa de ensaio (a) sem geotêxtil (b) com geotêxtil .................. 88

Figura 80 - Instalação de piezômetros, Air Hammer e base do inclinômetro ................ 88

Figura 81 - Mapa de localização dos instrumentos ........................................................ 89

Figura 82 - Instalação de piezômetros ............................................................................ 90

Figura 83 - Posição do PZ3 para identificar a configuração drenagem "bloqueada" para


geometria 1H:1V, 2H:1V e 3H:1V. ................................................................................ 91

Figura 84- Instalação de acelerômetros .......................................................................... 91

Figura 85- Acelerômetro e cabo blindado ...................................................................... 92

Figura 86 - Base de Nylon impressa para engaste do inclinômetro (a) sem película (b)
com película e perfurada................................................................................................. 93

Figura 87 - Software de aquisição de dados e interrogador ........................................... 93

Figura 88 - Inclinômetro de fibra ótica ........................................................................... 94

Figura 89 - Válvula de dupla ação para acionamento do Air Hammer .......................... 94

Figura 90 - Injeção de areia para contraste de imagem .................................................. 95

Figura 91 - Instalação de relógio digitais para sincronizar imagens com a central de


aquisição de dados. ......................................................................................................... 95

Figura 92 - Sequência de montagem dos anteparos ....................................................... 97

Figura 93 - Barreiras de compactação ............................................................................ 98

Figura 94 - Área de influência dos drenos para geometria 3H:1V. ................................ 99

Figura 95 - Instalação do regulador de pressão e balança digital para controle de vazão.


...................................................................................................................................... 100

Figura 96 - Correção da umidade e homogeneização do rejeito. ................................. 104

Figura 97 - Compactação da primeira camada. ............................................................ 105

Figura 98 - Ultima camada de compactação com o auxílio das barreiras de compactação.


...................................................................................................................................... 105

Figura 99 - Face do talude após a remoção das barreiras. ............................................ 106

Figura 100 – Processo de arrasamento manual da face do talude (estágio intermediário).


...................................................................................................................................... 106
xvi
Figura 101 - Geometria final (Modelo 1H:1V) ............................................................ 107

Figura 102 - Posição dos piezômetros para o modelo 1H:1V. ..................................... 108

Figura 103 - Dados dos piezômetros (Modelo 1H:1V) ................................................ 109

Figura 104 – (a) Processo de galgamento; (b) Erosão causada pelo galgamento do modelo
1H:1V ........................................................................................................................... 109

Figura 105 - Superfície de ruptura modelo físico (a) Vista frontal (b) Vista lateral com
destaque para a superfície de ruptura. .......................................................................... 110

Figura 106 - Surgência no pé do talude do modelo 1H:1V. ......................................... 111

Figura 107 - Definição da linha freática para análise de estabilidade. ......................... 111

Figura 108 - Linha freática Modelo numérico (cor vermelha) e linha freática do Modelo
físico (cor azul) ............................................................................................................. 112

Figura 109 - Distância entre a crista do talude e o material não mobilizado ............... 112

Figura 110 - Análise de estabilidade empregando rede de fluxo obtida no modelo físico.
...................................................................................................................................... 113

Figura 111 - Instalação do geotêxtil na parede interna do reservatório e no piso da caixa


de ensaio. ...................................................................................................................... 114

Figura 112 - Disposição dos instrumentos instalados na cota zero .............................. 114

Figura 113 - Compactação da primeira camada de rejeito no modelo 2H:1V. ............ 115

Figura 114 - Lançamento de material para compactação da última camada ................ 115

Figura 115 - Disposição do acelerômetro instalado no modelo. .................................. 115

Figura 116 - Arrasamento do modelo com talude 2H:1V (a) antes; (b) depois. .......... 116

Figura 117 - Execução do furo guia para a instalação do inclinômetro. ...................... 116

Figura 118 - Instalação do inclinômetro ....................................................................... 117

Figura 119 - Modelo com talude 2H:1V apto para o início do ensaio. ........................ 117

Figura 120 - Registro de dados acelerômetro 1 ............................................................ 119

Figura 121 - Dados dos piezômetros (Leituras a cada 10min) ..................................... 120

Figura 122 - Gráfico comparativo entre os dados do modelo numérico e o modelo físico
no dia 13. ...................................................................................................................... 122
xvii
Figura 123 - Gráfico comparativo entre os dados do modelo numérico e o modelo físico
no dia 14. ...................................................................................................................... 123

Figura 124 - Marco 1 (Carga piezométrica máxima – dia 13) ..................................... 124

Figura 125 - Marco 2 (Dreno bloqueado – dia 14) ....................................................... 125

Figura 126 - Marco 3 (Sobrecarga – dia 14) ................................................................ 125

Figura 127 - Cargas piezométricas para a configuração dreno aberto. ........................ 127

Figura 128 - Dados de piezometria para a configuração dreno bloqueado. ................. 128

Figura 129 – Comparação entre estimativas a partir das leituras dos Piezômetros elétricos
e Casagrande – Condição Dreno Aberto ...................................................................... 128

Figura 130 - Comparação entre estimativas a partir das leituras dos Piezômetros elétricos
e Casagrande – Condição dreno bloqueado (32 minutos após o bloqueio). ................. 129

Figura 131 - Comparação entre estimativas a partir das leituras dos Piezômetros elétricos
e Casagrande – Condição aplicação de sobrecarga (33 minutos após a sobrecarga). .. 129

Figura 132 - Surgência no pé do talude do modelo 2H:1V. ......................................... 130

Figura 133 - Surgência iniciando pelas bordas da caixa de ensaio. ............................. 131

Figura 134 - Linha freática obtidas: (a) Configuração dreno aberto (b) Configuração dreno
bloqueado...................................................................................................................... 131

Figura 135 - Definição da linha freática revisada para análise de estabilidade 2H:1V 132

Figura 136 - Linha freática Modelo numérico (cor vermelha) e linha freática do Modelo
físico (cor azul) ............................................................................................................. 133

Figura 137 - Análise de estabilidade empregando rede de fluxo obtida no modelo físico
2H:1V. .......................................................................................................................... 134

Figura 138 - Evolução da erosão regressiva no pé do talude modelo 2H:1V .............. 134

Figura 139 - Dados de deformação obtido pelo inclinômetro ...................................... 136

xviii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Composições químicas de diferentes amostras de rejeito de minério de ferro


do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais (Fonte: Bezerra, 2017) ................................ 7

Tabela 2 - Característica geotécnica do rejeito estudado ............................................... 29

Tabela 3 – Composição química obtida através da análise química por ataque sulfúrico
........................................................................................................................................ 31

Tabela 4 - Composição química do material de estudo obtida através de análises de


Fluorescência de Raio X (Coutinho,2022) ..................................................................... 31

Tabela 5 - Resumo de parâmetros M .............................................................................. 32

Tabela 6 - Resultado da iterações para definição do peso específico saturado e índice de


vazios do modelo. ........................................................................................................... 38

Tabela 7 - Resultado do ensaio de permeabilidade em carga constante ......................... 41

Tabela 8 - Parâmetros de compressibilidade do rejeito .................................................. 43

Tabela 9 - Resultados do ensaio realizado no Extrator de Richards (ER) ...................... 44

Tabela 10 - Resultados de parâmetros geotécnicos obtidos pela campanha de ensaios . 47

Tabela 11 - Resumo das especificações técnicas dos piezômetros elétricos .................. 56

Tabela 12 - Configuração 01 .......................................................................................... 60

Tabela 13 - Configuração 02 .......................................................................................... 60

Tabela 14 - Resumo de dados obtidos no ensaio da caixa teste ..................................... 71

Tabela 15 - Resumo de resultados para a aplicação do método MMT ........................... 72

Tabela 16 - Programa de ensaios .................................................................................... 83

Tabela 17 - Relação de golpes por geometria................................................................. 96

Tabela 18 - Relação de volume de gás e geometria do modelo adotada. ....................... 99

Tabela 19 - Dados de construção do modelo 1H:1V .................................................... 107

Tabela 20 - Resultado dos dados de piezometria. ........................................................ 108

Tabela 21 - Dados de construção do modelo 2H:1V .................................................... 118

Tabela 22 - Grau de saturação do modelo com talude 2H:1V...................................... 123

xix
Tabela 23 - Resumo dos dados de piezometria ............................................................ 126

Tabela 24 - Análise de dados dos acelerômetros.......................................................... 135

xx
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

C1 e C2 Coeficientes da técnica MMT


CPTu Ensaio de penetração do Piezocone
MEV Microscópio Eletrônico de Varredura
LEC Linha de Estado Crítico
EC Energia de compactação
CIU Ensaio triaxial não drenado e adensado hidrostaticamente
CID Ensaio triaxial drenado e adensado hidrostaticamente
CPs Corpos de prova
MMT Ensaio de Compactação Úmida modificado
Ms Massa do soquete
n Posição da camada a ser compactada
h Altura de queda do soquete
hn Altura de queda do soquete para a camada de posição n
Ng Número de golpes
Nc Número de camadas
V Volume
PN Proctor normal
D50 Diâmetro médio das partículas
Cu Coeficiente de uniformidade
Cc Coeficiente de curvatura
µ porcentagem de sub-compactação
Dr Densidade relativa
e Índice de vazios
ec Índice de vazios no estado crítico
eo Índice de vazios inicial
emax Índice de vazios máximo
emin Índice de vazios mínimo
Κ Coeficiente de permeabilidade
p’ Tensão efetiva média (p’ = σ’1 + 2σ’3)/3

xxi
q Tensão desviatória (q = σ’1 - σ’3)
qs Tensão desviatória no estado permanente (crítico)
σ’3 Tensão principal menor
σ’1 Tensão principal maior
σ’h Tensão efetiva horizontal
σ’v Tensão efetiva vertical
σ’vm Tensão de sobreadensamento ou de pré-adesamento
Ko Coeficiente de empuxo no repouso (Ko = σ'h/σ'v)

S Grau de saturação
ϕ'c Ângulo de atrito do estado crítico
ѱ Parâmetro de estado (e - ec)
M Razão de atrito de estado crítico (M = qc/p’c)
D Dilatância
Dmin Máxima dilatância absoluta
Go Módulo cisalhante inicial
Vs Velocidade da onda cisalhante (Vs = L/t)
T Tempo de viagem da onda cisalhante
K Coeficiente de permeabilidade
w Teor de umidade
ρd Massa específica aparente seca
ρdn Massa específica seca da camada n
γw Peso específico da água
γs Peso específico real dos grãos
Gs Densidade específica

xxii
1. INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA E MOTIVAÇÃO

Na atualidade, a mineração é uma das mais importantes atividades econômicas do


Brasil, que produz e exporta mais de 50 tipos de minerais. Especificamente, o minério de
ferro é o que atinge maior destaque no país, sendo o Brasil um dos mais importantes
provedores dessa commodity para mercado mundial.

O objetivo fundamental da mineração é extrair o minério que possua o maior


interesse econômico, respeitando as leis vigentes e minimizando os impactos
socioambientais. É nesse cenário socioambiental que se encontram hoje alguns dos
maiores incentivos de uma empresa mineradora para investir no setor.

Dentre outras, as atividades de mineração de ferro englobam processos de lavra,


que representa a extração do minério de ferro da jazida, e beneficiamento do minério,
caracterizado por operações químicas e físicas que visam padronizar o teor de ferro do
minério para que ele alcance as características comerciais desejadas, no entanto ambos os
processos geram resíduos indesejados. Durante o processo de lavra, os materiais que não
possuem as características físico-químicas desejadas, são chamados de estéreis. Do
beneficiamento, resultam os rejeitos, uma vez que o produto final obtido representa
apenas uma parcela de todo o material extraído.

Dessa forma, o destino final desses resíduos se torna um fator fundamental para o
sucesso de uma mineração. Ainda que novas técnicas de disposição de resíduos de
mineração, tais como desaguamento e prensagem, venham sendo desenvolvidas e
aprimoradas, a aplicação dessas técnicas ainda é incipiente no Brasil, onde a destinação
desses resíduos é normalmente feita em estruturas geotécnicas, tais como pilhas de
estéreis (Figura 1) e barragens de rejeitos (Figura 2). A segurança operacional dessas
estruturas é fundamental para a continuidade do negócio.

Atualmente muito tem se estudado, por parte de engenheiros geotécnicos, com


relação aos modos de falha dessas estruturas por liquefação, caracterizada pela perda
substancial de resistência ao cisalhamento, se comportando “como um líquido”. As
rupturas por liquefação são caracterizadas por acontecerem de forma abrupta e

1
ocasionarem grandes deslocamentos de massa, podendo causar consequências como a
perda de vidas humanas, irreparáveis danos ambientais e grandes prejuízos econômicos.

(a)

(b)

Figura 1 – (a) Pilha de estéril (Mina de águas claras, Nova Lima/MG), (b) Estéril em detalhe.

Figura 2 - Barragem de rejeitos (Reservatório da barragem de Itabiruçu - Itabira/MG)

Diante desse contexto, este trabalho faz parte do projeto firmado entre a Vale S.A.
(mineradora multinacional brasileira) e a Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas
e Estudos Tecnológicos (COPPETEC) destinado a apoiar a realização de projetos de
desenvolvimento tecnológico, de pesquisa, de ensino e extensão do instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (COPPE/UFRJ). Este projeto denomina-se Assistência Técnica para Projeto e
2
Execução de Modelos Físicos e Realização de Ensaios de Liquefação em Rejeitos de
Mineração, com foco em modelos físicos 1G de barragens de rejeitos em escala reduzida,
visando o desenvolvimento e aperfeiçoamento de tecnologias que sirvam como
benchmark para simulações numéricas.

A modelagem física é uma importante ferramenta que vem sendo utilizada em


simulações cada vez mais eficientes e complexas de problemas da engenharia. A
simulação de um evento real em escala reduzida é uma ferramenta muito utilizada para
observar fenômenos que ocorrem nos protótipos, pois se dois processos físicos são
semelhantes, é possível prever o comportamento de um deles a partir do conhecimento
do comportamento do outro.

1.2. OBJETIVO DO ESTUDO

A condução de ensaios em escala real para avaliar o comportamento de barragens


de rejeito é considerada praticamente inviável devido às suas dimensões e
consequentemente grande quantidade de material. Com a execução de modelos físicos
(escala de laboratório) é possível realizar ensaios afim de simular o comportamento dos
rejeitos, que expressem condições reais encontradas em barragens de rejeito.

O objetivo deste projeto de pesquisa consistiu em desenvolver uma estrutura física


em escala reduzida, contendo um compartimento com rejeitos de minério de ferro, que
possibilite a realização de ensaios capazes de simular a ocorrência de liquefação estática.
Almeja-se reproduzir, em escala reduzida, os fenômenos observados em barragens de
rejeito em sua verdadeira grandeza e contribuir, a partir das análises/conclusões obtidas
através do estudo de um modelo, na questão da avaliação do potencial de liquefação
adotando novas premissas de projeto na construção de depósitos de rejeitos de mineração.

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A dissertação está dividida em seis capítulos, incluindo também referências


bibliográficas e anexos. Estes capítulos foram estruturados da seguinte forma:

3
• Capítulo 1 – Apresenta uma breve introdução sobre o tema abordado, esclarecendo
objetivos, motivações e justificativas para a sua escolha;

• Capítulo 2 – Apresenta a revisão bibliográfica incluindo o embasamento teórico sobre


as questões relacionadas a esta pesquisa e aos ensaios que foram realizados;

• Capítulo 3 – Apresenta o planejamento, procedimentos e metodologias empregados para


a realização dos ensaios 1g;

• Capítulo 4 – Apresenta os equipamentos e instrumentos utilizados nos ensaios 1g;

• Capítulo 5 – Apresenta a análise dos resultados dos ensaios conduzidos na caixa de


ensaio para modelos 1g;

• Capítulo 6 – Apresenta as conclusões e as sugestões para trabalhos futuros, listando-se,


em seguida, as referências bibliográficas utilizadas durante a redação do trabalho, e os
anexos.

4
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este item aborda, de forma sucinta, o tema do trabalho, incluindo conceitos


teóricos sobre o tema e estudos já realizados, visando fundamentar a interpretação dos
resultados obtidos e as discussões realizadas a partir desses resultados. Inclui-se neste
item uma discussão sobre modelos 1g, que constituem o foco do presente estudo.

2.1. LIQUEFAÇÃO DE REJEITOS

Muito recentemente, o estudo do fenômeno da liquefação em solos tem sido muito


incrementado em função de diversos registros de rupturas de taludes, diques e depósitos
de materiais granulares envolvendo liquefação. A maioria das pesquisas, entretanto, tem
sido direcionada à ocorrência do fenômeno sob condições dinâmicas, principalmente em
países com registros constantes de eventos sísmicos. Avaliações direcionadas para as
tensões estáticas, como condicionantes do mecanismo de ruptura, têm sido raramente
realizadas (Fourier et al., 2001).

No Brasil, os estudos da liquefação de materiais granulares sob condições


estáticas são ainda incipientes. A prática de projetos geotécnicos aplicados às barragens
de rejeitos de mineração foi muito influenciada pelos acidentes envolvendo as barragens
de Fundão em Mariana/MG e do córrego do Feijão em Brumadinho/MG. Agora dá-se
muito mais ênfase a este fenômeno do que anteriormente. Portanto, a liquefação é um
fator importante a ser considerado na engenharia geotécnica e na construção de barragens.

2.1.1 CONCEITOS GERAIS

A liquefação de solos é um fenômeno no qual o solo se comporta como um líquido


devido a uma perda temporária de resistência ao cisalhamento devido ao aumento da
pressão intersticial da água no solo. Isso geralmente ocorre durante solicitações nas quais
a poropressão aumenta rapidamente devido a incapacidade de drenagem.

A liquefação pode resultar em uma variedade de efeitos prejudiciais, incluindo a


perda de suporte do solo, que pode causar o colapso de diques e barragens.

5
À medida em que um solo granular é suscetível à liquefação, a mesma pode ser
desencadeada por uma combinação de diversos gatilhos tais como elevação súbita do
lençol freático, ruptura de taludes, entre outros. Uma série de fatores podem influenciar
esta condição, incluindo a densidade e o tamanho dos grãos, o nível de saturação, a tensão
efetiva, a profundidade do lençol freático e amplitude do carregamento (Terzaghi et al.,
1996).

Para evitar ou minimizar os efeitos da liquefação, é importante realizar estudos


geotécnicos adequados antes da construção de estruturas em áreas potencialmente
suscetíveis. Isso pode incluir a realização de ensaios de penetração de cone com medida
de poropressão (CPTu) e testes de vibração para determinar a resistência do solo à
liquefação (Robertson, 2010).

2.1.2 CARACTERÍSTICAS DE REJEITOS DE MINÉRIO DE FERRO

O rejeito proveniente da extração de minério de ferro é constituído por uma


variedade de compostos químicos, sendo os principais óxidos de silício (SiO 2), óxidos de
alumínio (Al₂O₃), óxidos de cálcio (CaO), óxidos de ferro (Fe), óxidos de manganês (Mn),
enxofre (S), fosfatos (PO4-3) e possíveis traços de metais pesados (Yang et al., 2014).
Óxidos de Ferro tais como Hematita (Fe 2O3), Goethita (FeO) e Magnetita (FeO4) são
comumente encontrados em barragens de rejeito, como nas barragens B1 em
Brumadinho/MG (Robertson et al., 2019) e Fundão em Mariana/MG (Morgenstern et al.,
2016).

Estudos anteriores, como o Gi Report (1987) mencionado por Ghose e Sen (2001),
indicam que os constituintes químicos dos rejeitos processados compreendem
principalmente ferro (Fe), sílica (SiO₂) e alumina (Al₂O₃). Quanto à composição
mineralógica, esta consiste principalmente de quartzo e hematita (Fe 2O3),
correspondendo a aproximadamente 35% e 60-65%, respectivamente. Resultados obtidos
por Huang et al., 2013 também corroboram com a predominância de sílica, alumina e
óxido de ferro na composição dos rejeitos.

De acordo com Araújo (2006), as características químicas dos rejeitos de minério


de ferro variam dependendo do tipo de mineral e das substâncias químicas utilizadas no

6
processo de extração dos metais. Para ilustrar essa variação, a Tabela 1 apresenta as
análises químicas de diferentes amostras de rejeitos encontrados no Quadrilátero Ferrífero
em Minas Gerais, conforme descrito por diversos autores.

Tabela 1 - Composições químicas de diferentes amostras de rejeito de minério de ferro do Quadrilátero


Ferrífero em Minas Gerais (Fonte: Bezerra, 2017)

Diante dessas características, Rocha (2008) ressalta que estes materiais, em geral
de granulometria mais fina, podem ser um produto rentável, sendo a gestão adequada do
rejeito de minério de ferro essencial para a minimização dos impactos ambientais e
sociais.

A influência da distribuição granulométrica na susceptibilidade à liquefação é um


aspecto de significativa importância. Materiais granulares finos e de tamanho uniforme
demonstram maior propensão à liquefação em comparação com materiais de
granulometria mais grossa. De acordo com a definição proposta por Ishihara et al. (1980),
faixas granulométricas específicas podem indicar maior ou menor susceptibilidade à
liquefação em um determinado material granular, conforme ilustrado na Figura 3.

7
Figura 3 - Faixas granulométricas dos materiais susceptíveis à liquefação (modificado de Ishihara et al.,
1980)

Ao analisar o fenômeno da liquefação em rejeitos de minério de ferro, é necessário


considerar não apenas as características da distribuição granulométrica, mas também
outros fatores, como os níveis de poropressão, densidade relativa e o parâmetro de estado.

2.1.3 COMPORTAMENTO NO CISALHAMENTO

Para a compreensão do fenômeno da liquefação é importante levar em


consideração o comportamento de solos granulares frente a esforços cisalhantes. Com o
auxílio de uma bolsa de borracha preenchida com areia compacta e saturada, Reynolds
(1885) demonstrou que materiais granulares compactos apresentam uma tendência de
alteração de volume quando cisalhados. Entretanto, este comportamento só ficou bem
compreendido quando Arthur Casagrande definiu o conceito de índice de vazios crítico
(Casagrande, 1936).

Casagrande estudou as características de alteração de volume dos solos granulares


utilizando ensaios de cisalhamento direto e de compressão triaxial. Ensaios drenados com
taxa de deformação constante, em amostras com diferentes densidades iniciais foram
realizados e os resultados destes estudos forneceram a “pedra fundamental” para o atual
entendimento do comportamento cisalhante dos solos não coesivos (Kramer, 1985).

2.1.3.1 TEORIAS DOS ESTADOS CRÍTICOS

8
Ao longo do século XX, foram realizados avanços teóricos significativos que
contribuíram para um aprofundamento do entendimento sobre o comportamento dos solos
quando submetidos a tensões e deformações. Entre esses avanços, destacam-se os
conceitos de dilatância e de estados críticos.

No contexto da estabilidade de barragens de rejeitos, é possível realizar o controle


adequado por meio da obtenção de informações sobre o índice de vazios e o estado de
tensão dos rejeitos depositados in situ em relação ao estado crítico. Esse estado é definido
pela linha do estado crítico (Roscoe, Schofield e Wroth, 1958). Posteriormente, Jefferies
e Been (2016) avançaram estes estudos no contexto de solos granulares contráteis e
suscetíveis à liquefação.

Dilatância e compacidade
Um aspecto de suma importância que caracteriza os solos, distinguindo-os de
outros materiais estudados em engenharia, é a sua capacidade de sofrer variações de
volume quando submetidos a esforços cisalhantes, fenômeno conhecido como dilatância,
o qual foi identificado por Reynolds em 1885 (Jefferies & Been, 2016).

Schofield e Wroth (1968), baseados em avanços teóricos, reconheceram o índice


de vazios do solo como uma variável de estado, substituindo a concepção de densidade
como uma propriedade intrínseca do solo (Jefferies & Been, 2016). Uma consequência
dessa nova abordagem foi a percepção de que a compacidade do solo influencia seu
comportamento, especialmente em relação às variações de volume durante esforços
cisalhantes. Solos inicialmente compactos tendem a dilatar quando cisalhados, enquanto
solos com uma condição inicial fofa têm a tendência de comprimir durante esse processo.
Vale ressaltar que existem casos em que solos inicialmente compactos, ao serem
submetidos a esforços cisalhantes, apresentam comportamento contrátil antes de se
expandirem em volume.

As variações de volume são experimentadas pelo solo ao longo do processo de


cisalhamento até que seja atingido um estado final conhecido como estado crítico. A
Figura 4 ilustra o comportamento característico de solos arenosos em ensaios triaxiais
para diferentes condições iniciais, compacta e fofa. Nessas condições, o solo exibe

9
diferentes variações de tensão desviadora efetiva, q' = σ'1 - σ'3, e de índice de vazios
durante o processo de cisalhamento, aproximando-se do estado crítico.

Figura 4 - Resultados típicos de ensaios triaxiais de uma areia em condição densa e solta. a) Tensão
desviadora b) Índice de vazios críticos (Casagrande, 1936).

Índice de vazios crítico (ec)


Em 1936, Casagrande empreendeu uma investigação sobre as variações
volumétricas dos solos quando sujeitos a esforços cortantes, por meio da realização de
ensaios de cisalhamento direto. Ele observou que as areias fofas apresentavam contração,
enquanto as areias compactas dilatavam até atingirem um índice de vazios
aproximadamente igual, após sofrerem grandes deformações (Jefferies & Been, 2016).
Esse índice de vazios final alcançado pelo solo durante o processo de corte foi
denominado de índice de vazios crítico, ec, conforme ilustrado na Figura 4b.

O índice de vazios crítico é influenciado pela tensão média efetiva, diminuindo à


medida que essa tensão aumenta. Esse comportamento foi também reportado por Taylor
em 1948. A relação entre o índice de vazios crítico, e c, e a tensão média efetiva, p', é
conhecida como critical state locus ou critical state line (CSL), ou em português, linha
dos estados críticos (Roscoe et al., 1958).

Linha de estado crítico, CSL


A linha dos estados críticos é uma função intrínseca de cada tipo de solo,
estabelecendo a fronteira que delimita os valores de índice de vazios nos quais o material
se encontra em uma condição dilatante ou contrátil, considerando um estado específico
de tensão média efetiva, p'. Ao longo dessa linha, o índice de vazios é considerado crítico.

10
Essa relação pode ser visualmente representada em um gráfico que relaciona o índice de
vazios (e) com a tensão média efetiva (p'), conforme ilustrado na Figura 5.

Figura 5 - Representação da Linha de Estado Crítico (Fonte: Jefferies & Been, 2016)

As LECs das areias são geralmente apenas lineares no espaço e:lnp’ para tensões
de confinamento mais elevadas, apresentando-se tipicamente curvas em tensões
moderadas, tendendo para uma assíntota horizontal com a diminuição de p’ (Verdugo e
Ishihara, 1996). Muitos autores, por simplificação, tendem a considerá-las bilineares
(Been et al., 1991).

Parâmetro de estado (ψ)


A teoria dos estados críticos pode ser compreendida por meio do conceito de
parâmetro de estado. O parâmetro de estado, ψ, corresponde à diferença entre o índice de
vazios atual e o índice de vazios crítico do solo para um estado de tensão efetiva média
específico, conforme ilustrado na Figura 6.

Figura 6 - Parâmetro de estado, ψ, (Fonte: Jefferies & Been, 2016)

11
Dessa forma, quando um solo, sob um determinado valor de tensão média efetiva,
p', possui um índice de vazios maior que o índice de vazios crítico, e > e c, seu parâmetro
de estado é positivo, ψ > 0, indicando que o solo está em uma condição contrátil. Por
outro lado, se o solo apresentar um índice de vazios menor que o índice de vazios crítico,
e < ec, sob um valor de tensão média efetiva, p', o solo está em uma condição dilatante e
o parâmetro de estado é negativo, ψ < 0. Quando o parâmetro de estado é igual a zero,
ψ=0, o solo possui um índice de vazios igual ao índice de vazios crítico, e = ec, e, portanto,
é denominado estado crítico. Logo, quanto maior a distância em relação ao estado crítico
final, maior será a dilatação ou contração do solo.

Estado crítico
Os solos são materiais que existem em uma ampla gama de estados, sendo o estado
crítico definido por Roscoe et al. (1958) como o estado no qual um solo continua a
cisalhar com tensão e índice de vazios constantes - essencialmente uma formalização da
ideia de Casagrande. Quando um solo está em uma condição em que a deformação ocorre
continuamente sem variação de volume ou tensões efetivas, considera-se que o solo está
no estado crítico (Atkinson e Bransby, 1978).

Poulos (1981) formalizou a definição de estado estacionário como: "O estado de


deformação estável para qualquer massa de partículas é aquele em que a massa continua
a deformar-se com volume, tensão efetiva normal e tensão de corte constantes, bem como
velocidade constante" (Jefferies & Been, 2016).

Entre as décadas de 1970 e 1980, discutiu-se se o estado crítico e o estado


estacionário seriam equivalentes (Casagrande, 1975; Poulos, 1981; Sladen et al., 1985b;
Alarcon-Guzman et al., 1988). Been et al. (1991), ao examinar aspectos relacionados a
essa questão, concluíram que, para fins práticos, os dois estados (Crítico e Estacionário)
podem ser considerados equivalentes (Jefferies & Been, 2016).

O estado crítico é definido de maneira simples em termos de dilatância: tanto a


dilatância quanto sua variação devem ser nulas. Uma variação de dilatância nula garante
que o verdadeiro estado crítico foi alcançado e não uma transição de estado (Jefferies &
Been, 2016).

12
No estado crítico, o solo continua a deformar-se se houver uma tensão que induza
a deformação. Essa tensão é chamada de tensão cisalhante e é geralmente relacionada à
tensão normal pelo ângulo de atrito em volume constante, ϕ'cv, pelo ângulo de atrito
crítico, ϕ'c, ou pela razão de tensão de corte ou razão de atrito M.

2.1.3.2 EFEITOS DE FORMA E TAMANHO DOS GRÃOS

De acordo com estudos conduzidos por Moretti et al. (1999) e Owen & Moretti
(2011), a ocorrência de liquefação é mais comum em sedimentos com uma faixa
granulométrica entre siltes grossos e areias finas. Sedimentos mais grossos apresentam
melhor capacidade de drenagem, o que reduz a probabilidade de liquefação.

Obermeier (1996) argumenta que a presença de camadas de materiais com


partículas mais finas aumenta o risco de liquefação, uma vez que dificultam a drenagem,
contribuindo na geração de excessos de poropressão em rejeitos arenosos. Como
exemplo, é ilustrada na Figura 7 uma seção transversal recriada utilizando dados
históricos da barragem do Córrego de Feijão, na qual especialistas indicaram a presença
de rejeitos finos sob a estrutura da barragem.

Figura 7 - Seção transversal recriada da barragem do Córrego do Feijão (Painel de especialistas, 2019).

Kramer (1996) sugere que a granulometria e a forma das partículas também


influenciam a liquefação, sendo que solos com má distribuição granulométrica possuem
maior susceptibilidade à liquefação do que solos com boa distribuição. Em solos bem
graduados, o preenchimento dos vazios reduz o potencial de variação volumétrica em
condições drenadas e, consequentemente, a geração de poropressão em condições não

13
drenadas. Além disso, solos com grãos mais arredondados são mais propensos à
liquefação em comparação com solos que possuem grãos angulares.

Por fim, a suscetibilidade à liquefação também pode ser influenciada pelo tipo de
estrutura. Martin et al. (2002) indicam que o método construtivo de alteamento para
montante é mais propenso à liquefação devido ao menor volume de material compactado
global utilizado em comparação com outros métodos construtivos de barragens.

2.1.3.3 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS REJEITOS

A literatura clássica muitas vezes adota uma visão simplista e equivocada do


comportamento cisalhante de solos granulares saturados e sem coesão, como é o caso da
maioria dos rejeitos de mineração. O equívoco principal reside na definição simplificada
da resistência ao cisalhamento com base no ângulo de atrito de pico, juntamente com
poropressões hidrostáticas (Davies et al., 2002). Essa abordagem considera apenas a
mobilização da resistência drenada, negligenciando a possibilidade de ocorrência de um
carregamento não drenado.

De acordo com Davies et al. (2002), os rejeitos granulares geralmente são


materiais de granulometria grossa, com exceção da fração fina dos corpos de minério que
contêm substâncias argilo-minerais. Esses pesquisadores afirmam que os rejeitos in situ
raramente atingem parâmetros de estado negativos (ψ) e, portanto, frequentemente
exibem comportamento puramente contrátil durante o cisalhamento. Como exemplo, são
apresentados, na Figura 8, dados históricos de CPT da barragem de rejeitos de Fundão
antes da ruptura, com predominância de parâmetros de estados maiores que -0,05, no qual
foi utilizado o processo construtivo à montante.

14
Figura 8 - Histograma de parâmetro de estado barragem de fundão (Comitê de especialistas,2016).

Segundo Martin (1999), as condições de saturação e poropressão são fatores


determinantes para definir se os rejeitos contráteis se comportarão de forma drenada ou
não drenada durante a ruptura. A abordagem correta para a análise de estabilidade, em
termos de tensões totais ou tensões efetivas, está diretamente relacionada à compreensão
desse comportamento.

A resposta dos rejeitos granulares durante o cisalhamento não drenado, assim


como qualquer material de comportamento semelhante à areia, depende do índice de
vazios existente antes do carregamento. Portanto, é essencial que os ensaios para
determinar a resistência não drenada desses materiais sejam realizados com o mesmo
índice de vazios encontrado in situ.

A resistência não drenada desses materiais torna-se particularmente importante


quando ocorre um carregamento rápido que induz o crescimento significativo das
poropressões. Nesses casos, a resistência ao cisalhamento deve ser definida pela
poropressão gerada durante o carregamento transitório, e não pela poropressão existente
medida nos piezômetros antes do evento. Uma vez que estimar adequadamente o regime
complexo de poropressões na ruptura nessas situações é frequentemente difícil, é
preferível utilizar resistências não drenadas (Su) em vez de resistências drenadas
associadas às poropressões de cisalhamento. Essa resistência não drenada de materiais
puramente contráteis pode ser caracterizada pela razão de resistência não drenada, que é

15
definida como a resistência não drenada dividida pela tensão vertical efetiva (Davies et
al., 2002 e Morgenstern, 2007).

Poulos (1988) recomenda uma abordagem conservadora para materiais que


apresentam um comportamento tensão-deformação do tipo frágil (strain-softening)
durante o cisalhamento não drenado. Nesses casos, em vez da resistência não drenada de
pico, a resistência não drenada liquefeita deve governar o projeto.

2.1.4 GATILHOS DA LIQUEFAÇÃO

Existem duas formas de gatilho que podem desencadear a liquefação do solo:


estático e dinâmico. A liquefação dinâmica é comumente associada a eventos sísmicos,
enquanto a liquefação estática ocorre quando carregamentos estáticos não drenados
geram excesso de poropressão, resultando na liquefação do material. Embora as
condições de carregamento sejam distintas, os mecanismos subjacentes à liquefação
estática e dinâmica são essencialmente os mesmos.

Por outro lado, a liquefação também pode ser desencadeada por carregamentos
cíclicos, como terremotos, explosões e vibrações causadas pelo tráfego de equipamentos.

Figura 9 - Liquefação devido a carregamento estático ou cíclico. (a) Trajetória de tensões (b) Tensão-
deformação (Modificado de Davies et al., 2002)
Na Figura 9.a, são apresentados os caminhos de tensões efetivas de uma areia
fofa saturada sujeita a carregamentos não drenados, tanto cíclico quanto estático. No caso
de carregamentos estáticos, a amostra tenderia a compactar-se, mas devido à condição
não drenada, ocorre um aumento nos valores de poropressão a volume constante. Já nos
carregamentos cíclicos, ocorrem excessos de poropressão a cada ciclo de carregamento,
que se acumulam gradualmente, direcionando a trajetória das tensões efetivas em direção

16
à ruptura. As correspondentes respostas tensão-deformação são ilustradas na Figura 9.b.
Quando a trajetória das tensões ultrapassa a superfície de colapso e entra na zona instável,
a resistência do solo é reduzida até atingir o valor de estado crítico.

2.2. MODELO 1G

Este item apresenta as teorias de similitude do modelo em escala e elucidará o


desenvolvimento de critérios de modelagem para o programa de testes em modelos 1g.
De forma geral as teorias são baseadas no comportamento fundamental de um solo
granular saturado e os principais parâmetros que controlam seu comportamento, porém
neste trabalho serão discutidos apenas o conceito de parâmetro de estado e linha de estado
crítico para o uso na escala construtiva dos testes com modelo 1g.

2.2.1 CONCEITOS GERAIS

O uso de modelos na engenharia geotécnica oferece a vantagem de simular


sistemas complexos sob condições controladas, e a oportunidade de obter informações
sobre os mecanismos fundamentais que operam nesses sistemas. Em muitas
circunstâncias (por exemplo, um ensaio de carga em estacas), o modelo em escala pode
oferecer uma opção mais econômica do que o teste em escala real correspondente. Para
outras investigações (por exemplo, liquefação de barragens), testes de modelos em escala
permitem a possibilidade de simular fenômenos que não podem ser alcançados no
protótipo.

A prática de realizar estudos de parâmetros com modelos em escala pode ser usado
para aumentar o conhecimento em áreas onde o histórico de casos e/ou testes de
protótipos fornecem apenas dados esparsos. Além da interpretação qualitativa, os
resultados dos testes de modelos em escala são frequentemente usados como benchmarks
de calibração para métodos analíticos, ou para fazer previsões quantitativas da resposta
do protótipo. Para tais aplicações é necessário ter um conjunto de informações que
relacionam o modelo observado e o comportamento do protótipo previsto.

17
2.2.2 LEIS DE SIMILITUDE

A relação entre o comportamento do modelo e do protótipo correspondente é


descrita por uma teoria da similitude. Os modelos em escala podem ser definidos como
tendo similaridade geométrica, cinemática ou dinâmica ao protótipo (Langhaar, 1951).

A similaridade geométrica define um modelo e um protótipo com dimensões


físicas homólogas. Enquanto isso, a semelhança cinemática refere-se a um modelo e
protótipo com partículas homólogas em pontos homólogos em tempos homólogos.
Consequentemente, partículas em pontos correspondentes compartilham a mesma direção
e sentido, enquanto o módulo da velocidade é ditado pelo fator de escala aplicado. Dessa
maneira, redes de fluxo que exibem similitude cinemática também apresentam
semelhança geométrica.

A similaridade dinâmica descreve uma condição em que se mantem constantes a


relação forças de igual natureza que atuam em partes homólogas do modelo geométrica
e cinematicamente semelhante ao protótipo

2.2.3 LEIS DE SIMILITUDE APLICADA A MECÂNICA DOS SOLOS

Rocha (1957) foi um dos primeiros a descrever sistematicamente a modelagem


em escala para problemas em mecânica dos solos. Ele diferenciou a abordagem de tensão
total e de tensões efetivas, criando relações de similitude dinâmica. Para dar conta dos
diferentes níveis de tensões presente em um modelo em escala de 1g e no protótipo, Rocha
propôs que o solo tivesse comportamento constitutivo semelhante para diferentes níveis
de tensão e, portanto, assumido que tanto a tensão quanto a deformação mantivessem uma
relação linear entre o modelo e o protótipo. Este conceito é ilustrado na Figura 10, onde
 é o fator de escala de tensão e  é o fator de dimensionamento de deformação (Observe
que o resultado intuitivo é que se obtém diferentes fatores de escala para tensão e
deformação).

18
Figura 10 - Gráfico de tensão-deformação (modelo e protótipo) Fonte: Modificado de Rocha (1957)
Para a relação de similitude dinâmica, Scott (1989) utilizou equações gerais de
equilíbrio dinâmico definidas por Fung (1977) em conjunto a lei de conservação de
energia para a construção de relações de dimensionamento do modelo para ensaios
dinâmicos em centrífuga. Então, Gibson (1996) reescreveu essas equações para que
fossem aplicadas a um solo granular saturado submetido a centrífuga, tão quanto a testes
1g, obtendo a equação (1):

(1)

x = Comprimento σ = Tensão t = Tempo


ρ = Massa específica do fluido X = Força u = Deslocamento
(*) = Razão de escala

Portanto, a presente equação estabelece a conexão entre uma linha de corrente


estabelecida no modelo e no protótipo, fundamentada nas noções de semelhança
geométrica, cinemática e dinâmica. A semelhança dinâmica foi atingida por meio do
postulado da conservação de energia, no qual a modificação das circunstâncias externas,
em relação à proporção de tensão entre o modelo e o protótipo, motiva a alteração do
fluxo estacionário ao longo de uma linha de corrente.

Gibson igualmente abordou a problemática de dimensionamento do


comportamento do solo para testes 1g, e propôs a modificação do material utilizado no
modelo de modo que, sob condições de tensão de 1g, ele ainda exibiria comportamento
de deformação semelhante ao protótipo. Essa abordagem utiliza a linha de estado

19
estacionário e é descrita em Figura 11; difere dos métodos de Rocha, que optou por
modificar a relação constitutiva e não as propriedades do solo.

Figura 11 - Exemplo esquemático da técnica de escalonamento constitutivo usando a Linha de Estado


Estacionário; Fonte: Gibson (1997)

Gibson adicionalmente mostrou que a escala do tempo dinâmico e escala de tempo


de difusão (relacionada à resposta à pressão dos poros e liquefação) eram incompatíveis
para os ensaios de 1g, a menos que fossem tomadas disposições para utilizar um solo de
grão mais fino ou um fluido de poros mais viscoso, entretanto esta questão dinâmica está
fora do contexto da presente pesquisa, o que impede a possibilidade de atender
plenamente ao requisito de semelhança dinâmica.

2.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do histórico recente de acidentes, a segurança das barragens de rejeitos


emergiu como uma questão premente e de relevância significativa na sociedade
contemporânea. O processo de disposição de resíduos de minério de ferro é intrincado e
requer a implementação de medidas preventivas apropriadas para assegurar a segurança
de todos os envolvidos.

Um dos fatores críticos que influenciam a segurança das barragens é a ocorrência


de liquefação, um fenômeno que pode ocorrer em solos saturados e resultar na perda de

20
resistência do material. Compreender esse processo implica em adquirir conhecimento
sobre a mecânica dos solos, incluindo a granulometria, a morfologia das partículas e a
existência de barreiras impermeáveis, as quais podem afetar o comportamento não
drenado de rejeitos arenosos.

A análise de casos históricos tem evidenciado a importância da utilização de


modelos em escala reduzida como uma referência para a validação e comparação de
estudos sobre a segurança das barragens de rejeitos, entretanto, o dimensionamento em
escala acarreta desafios adicionais, dado que o estado do solo no modelo não será idêntico
ao do protótipo. Em geral, se as mesmas suposições simplificadoras forem aplicadas a
ambos, a abordagem é razoável e deve ser validada por meio de resultados experimentais
que possibilitem a simulação de condições reais em laboratório, bem como a análise de
diversos cenários de risco. Essas medidas auxiliarão no desenvolvimento de estratégias
de prevenção e resposta a emergências.

21
3. COMPORTAMENTO DO REJEITO ESTUDADO NOS MODELOS 1G

Este capítulo descreve o comportamento do rejeito estudado nos modelos 1g


através de ensaios de laboratório.

O objetivo dos ensaios laboratoriais reside na caracterização do rejeito em estudo,


incluindo a determinação dos principais parâmetros geotécnicos à luz da mecânica dos
solos no estado crítico. De acordo com as pesquisas realizadas por Coutinho (2022),
foram obtidos parâmetros fundamentais para a utilização de modelos numéricos que
orientam a construção dos modelos físicos em escala 1g. A implementação dos modelos
físicos em escala exigiu a realização de ensaios complementares, que contribuem para
uma representação mais precisa do modelo numérico. Portanto, os resultados
provenientes das análises de equilíbrio limite são fornecidos por um conjunto de
informações obtidas em Coutinho (2022) e complementadas por este estudo, conforme
listado a seguir:

• Estado crítico, resistência e comportamento de interfaces;


• Comportamento hidromecânico.

3.1 SOLO ENSAIADO

3.1.1 REJEITOS UF E OF

A barragem de que trata este estudo contém rejeitos de underflow (UF) e overflow
(OF). A disposição desses materiais na seção representativa da barragem está mostrada
na Figura 12.

22
Figura 12 - Seção de barragem típica com superfície potencial de ruptura

Para uma superfície potencial de ruptura, observa-se que o material overflow é


mais representativo, pois possui maior comprimento dentro da superfície potencial de
ruptura. Além disso, pela análise de granulometria e o teor de finos (Figura 13), observa-
se que as faixas mínima e máxima estão muito próximas o que torna os materiais muito
similares, a princípio. Essas questões justificam a utilização de apenas um dos materiais
para o modelo e ensaios laboratoriais, o Overflow.

Figura 13 - Curva granulométrica com faixas de OF e UF (modificado de VALE, 2020)

A disposição dos rejeitos é fruto do processo de disposição por ciclonagem


(VICK, 1990). Uma barragem típica (Figura 14) em geral é composta por um lago de
decantação, extravasores e crista bem definida.

23
Figura 14 - Barragem típica, MG

A Figura 15, disponibilizada em relatórios internos da mineradora, mostra os


valores de densidade relativa, parâmetro de estado e poropressão medidos no ensaio de
CPTu, realizado na praia de rejeito, onde o material overflow é localizado. O gráfico
mostra que, abaixo do nível d’água, a densidade relativa do material varia entre 20% e
40%, sendo o parâmetro de estado maior que -0,05. Esse valor é indicado como o limite
inferior, no qual o material apresenta comportamento contrátil (JEFFERIES e BEEN,
2016), condição que ocorre acima e abaixo do nível d’água.

24
Figura 15 - Perfis de poropressão, densidade relativa e parâmetro de estado medidos no ensaio CPTu
realizado na praia de rejeitos.

3.1.2 COLETA E PREPARO DE AMOSTRAS

A primeira fase do estudo foi a realização da coleta de amostras deformadas de


rejeito em diferentes posições da barragem estudada. Foram coletadas 5 amostras, sendo
três de overflow, na praia de rejeitos (P1, P2 e P3) e duas de underflow, no maciço da
barragem a jusante (P4-OD e P5-OE), conforme Figura 16.

Figura 16 - Planta de localização de pontos de coleta de amostras.

Coutinho (2022), realizou os ensaios de caracterização em todas as amostras,


incluindo análise granulométrica, massa específica dos grãos e limites de Atterberg. As
amostras foram classificadas como areia fina a média, com variados teores de silte e não
plástica, sendo os valores de Gs situados entre 2,71 e 2,93. Dentre as amostras coletadas,

25
Coutinho (2022) definiu a amostra P3, situada mais afastada do local de lançamento na
praia de rejeito, como o material para definição dos parâmetros que serão utilizados neste
trabalho. Além de apresentar uma curva granulométrica (Figura 17) muito próxima aos
rejeitos finos reconstituídos da barragem B1 do Córrego do Feijão (ROBERTSON et al.,
2019) e à areia do Fundão (MORGENSTERN et al., 2016), a mostra P3 apresentou o
maior Gs entre todas as amostras, 2,93.

Figura 17- Comparação entre a curva granulométrica do rejeito estudado com o rejeito das barragens B1
do Córrego do Feijão e do Fundão (Coutinho,2022)

O preparo das amostras foi baseado em Bradshaw e Baxter (2007), que


introduziram o conceito de compactação úmida modificada a partir do método de
compactação úmida de Ladd (1978). Os autores prepararam uma amostra para ensaio
triaxial compactando camadas até atingir uma determinada densidade uniforme por meio
do controle da energia de compactação.

O método escolhido para a fabricação do modelo da barragem foi o modified moist


tamping (MMT), tendo em vista sua habilidade em fornecer amostras com uma ampla
faixa de massa específica e que representa de forma mais aproximada as condições de
campo. O MMT é uma variante do método moist tamping (MT) que visa obter camadas
homogêneas pelo controle do volume e massa do material. No método MMT, o controle

26
da massa específica do solo é feito através da altura de queda do soquete definindo uma
energia de compactação para cada camada.

Para a aplicação do método nos ensaios em escala 1g, primeiramente é feita uma
calibração em uma caixa teste de dimensões conhecidos e proporcionais a caixa de ensaio,
fixando o número de golpes e umidade de preparação da amostra, variando-se a altura de
queda do soquete. A umidade de preparação da amostra foi definida por Coutinho (2022)
em 13%, seguindo as diretrizes de HILF (1991) para obtenção da umidade ótima, em que
se obteve a melhor trabalhabilidade do material.

São executadas ao menos 3 repetições, com diferentes alturas de queda com massa
específicas correspondentes, de modo a definir uma curva exponencial, para determinar
as constantes C1 e C2 da equação (2):

(2)

Onde:

Hn: Altura de queda do soquete da n-ésima camada

ρdn: massa específica seca da n-ésima camada

Como estabelecido por Ladd (1978), pelo conceito de subcompactação, a massa


específica das camadas iniciais deve ser crescente à medida que a amostra é alteada. Isto
garante que o efeito cumulativo dos esforços aplicados na amostra gere um resultado
uniforme em toda a espessura. Por isso, a massa específica inicial da n-ésima camada é
encontrada pela equação (3) incorporando o conceito de subcompactação das camadas:

(3)

sendo ρdt a massa específica seca alvo para o corpo de prova, μ a porcentagem de
subcompactação (em decimal) e Nc o número total de camadas. A partir do índice de
vazios escolhido, é definida a massa específica alvo (ρdt) do corpo de prova por meio da
Equação (4).

27
𝛾𝑠
𝜌𝑑𝑡 = (4)
1+𝑒

Após a compactação da camada, prossegue-se com o processo de escarificação e


a repetição da metodologia para as camadas subsequentes. É crucial realizar um controle
da umidade do material e garantir a sua homogeneização, a fim de assegurar a
uniformidade da umidade planejada em todas as camadas de compactação.

Importante salientar, que antes de executar os ensaios de caracterização para


definição dos parâmetros geotécnicos, foi adotado o procedimento de quarteamento como
etapa preliminar (Figura 18). Esse procedimento envolve a divisão da amostra em partes
menores, chamadas de quartos, visando obter subamostras representativas. Essa
abordagem permite a realização adequada e confiável dos ensaios de caracterização, uma
vez que as subamostras obtidas por meio do quarteamento refletem as propriedades e
características do material original.

Figura 18 - Quarteador de amostras em aço com 18 planos de 25mm

Além disso, é essencial ressaltar que a reconstituição de corpos de prova na


geotecnia também possui suas limitações e requer considerações adicionais ao interpretar
os resultados dos ensaios. Por exemplo, durante o processo de reconstituição, é
importante notar que algumas propriedades do solo, como a estrutura, podem sofrer
alterações. Portanto, é fundamental ter em mente essas limitações ao avaliar os resultados
obtidos a partir de corpos de prova reconstituídos.

28
3.2 CARACTERIZAÇÃO DO REJEITO

3.2.1 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO

A obtenção de resultados precisos e confiáveis nos ensaios de caracterização,


como aqueles relacionados à granulometria, é essencial para assegurar a
representatividade das amostras utilizadas. Para alcançar essa representatividade, é
necessário tomar precauções durante a manipulação das amostras, a fim de evitar qualquer
alteração nas características a serem aferidas do material.

Em um estudo conduzido por Coutinho (2022), ensaios de caracterização foram


previamente realizados na amostra P3 proveniente da barragem em estudo no Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT), no entanto devido à necessidade de utilizar uma outra
fração dessa mesma amostra, uma segunda campanha de ensaios realizados no
Laboratório de Geotecnia do PEC/COPPE/UFRJ foi executada com o intuito de verificar
a similaridade entre as amostras.

O material ensaiado foi caracterizado como sendo uma areia fina siltosa com 79%
de areia, 20% de silte e 1% de argila, D50 igual a 0,08 mm, coeficiente de uniformidade
(Cu) de 1,88, coeficiente de curvatura (Cc) de 1,13 e graduação uniforme, conforme pode
ser observado na Figura 19. O ensaio de densidade real dos grãos forneceu valor de Gs
de 2,88. A impossibilidade de obter os valores dos Limites de Atterberg, classifica o
rejeito como não plástico. As folhas de ensaios dos parâmetros de caracterização citados
são apresentadas no Anexo B, sendo as informações sintetizadas na Tabela 2.

Tabela 2 - Característica geotécnica do rejeito estudado


Análise granulométrica
Teor D50
ID Argila Silte Areia de Cu CC Graduação Gs IP
(mm)
(%) (%) (%) finos
(%)
Não
IPT 2 46 52 47 0,06 2,33 1,08 Uniforme 2,93
plástico
Não
COPPE 1 20 79 42 0,08 1,88 1,13 Uniforme 2,88
plástico

29
Figura 19 - Gráfico comparativo da curva granulométrica obtida por Coutinho (2022) no IPT e por esse
estudo realizado na COPPE

Os resultados dos ensaios granulométricos revelaram uma variação significativa


na porcentagem de silte (26%) e areia (27%), o que pode afetar as demais propriedades
do solo. Essa variação pode ser atribuída à ausência do procedimento de quarteamento da
amostra, o qual não foi mencionado por Coutinho (2022). Dado que toda a campanha de
ensaios subsequentes foi baseada no material e granulometria fornecidos pelo IPT, esses
parâmetros serão utilizados como referência para a construção do modelo, especialmente
em relação à densidade real dos grãos (Gs), que é de 2,93.

3.2.2 ANÁLISES QUÍMICA E MINERALÓGICA

Espósito (2000) definiu a equação 5 com o objetivo de estimar a densidade real


dos grãos baseada na concentração de ferro do rejeito. Sendo assim, foi possível comparar
os resultados da caracterização com os resultados das análises química e mineralógica, e
avaliar a densidade real dos grãos obtida.

𝐺𝑠 = 0,025 %𝐹𝑒 + 2,65 (5)

30
Na Tabela 3 é apresentado os resultados obtidos através do método de ataque
sulfúrico, enquanto na Tabela 4 é apresentado os resultados obtidos por Coutinho (2022)
através do método da fluorescência de raios-X (FRX) .

Tabela 3 – Composição química obtida através da análise química por ataque sulfúrico
Análise química por ataque sulfúrico
ID
∆P (%) Al2O3 (%) Fe2O3 (%) Res. (%) Perda (%)
P1 0,32 0,00 11,52 88,15 0,01
P2 0,48 0,00 18,11 81,05 0,36
P3 0,43 0,00 14,30 84,45 0,82
Tabela 4 - Composição química do material de estudo obtida através de análises de Fluorescência de Raio
X (Coutinho,2022)
Óxido Análise 1 Análise 2 Média
SiO2 65,61% 74,82% 70,22%
Fe2O3 32,48% 20,39% 26,43%
SO3 1,41% 1,10% 1,25%
Al2O3 - 3,12% 1,56%
Cs2O 0,31% 0,42% 0,36%
MnO 0,16% 0,11% 0,14%
CuO 0,03% - 0,02%
ZnO - 0,05% 0,02%

A %Fe obtida pelo método de ataque sulfúrico foi de 14,30% para a amostra P3.
O valor de Gs correspondente, ao aplicar a equação 5, foi de 3,00, o que é relativamente
próximo ao valor de 2,93, definido anteriormente no ensaio de caracterização.

Para o método FRX foi obtido uma %Fe igual a 26,43%, e ao aplicar a equação
5, Gs é igual a 3,31. O que é relativamente maior que o valor de referência 2,93.

Além da análise química, Coutinho (2022) realizou a microscopia eletrônica de


varredura (MEV), tendo em vista a influência da geometria dos grãos na susceptibilidade
à liquefação, em que partículas mais arredondadas são mais propensas ao evento. Através
do MEV foi possível identificar a presença de grãos de formato altamente angular e
moderadamente esférico.

Detalhes pertinentes à metodologia utilizada nas análises podem ser avaliadas no


anexo B.

3.3 ESTADO CRÍTICO, RESISTÊNCIA E COMPORTAMENTO DE


INTERFACES

31
3.3.1 LINHA DE ESTADO CRÍTICO

Foram realizados ensaios triaxiais CIU e CID (Coutinho, 2022) para obter a linha
de estado crítico do material estudado.

A Tabela 5 resume os valores do parâmetro M referente à relação q/p’ no estado


crítico, assim como o ângulo de estado crítico e metodologia correspondente. Os
parâmetros de tensão q e p’ são definidos pelas equações 6 e 7:

𝑞 = 𝜎1 − 𝜎3 (6)


𝜎1′ + 2𝜎3′
𝑝 = (7)
3
Tabela 5 - Resumo de parâmetros M
M ∅′𝒄 Metodologia
1,28 32,0° (1)
1,39 34,8° (2)

Metodologia:

(1) Corpos de prova fofos; no gráfico q:p’ a linha do estado crítico foi obtida
através de oito ensaios (CIU e CID) que atingiram esta condição;

(2) Corpos de prova compactos (parâmetros de estado iniciais negativos); ensaios


CID com o valor de M correspondente a Dmin=0.

Coutinho (2022) apresenta nos espaços e versus ln p’, a linha de estado crítico
(LEC) do rejeito estudado, a qual é representada pela equação 8.

e = - 0,030 ln (p’) + 0,97 (8)

3.3.2 ÂNGULO DE REPOUSO

Uma investigação mais aprofundada em relação ao ângulo de atrito no repouso


(ϕ’rep) foi realizada em uma caixa de acrílico transparente, na qual o rejeito é colocado e
nivelado em um plano horizontal antes de ser lacrada. A seguir, a caixa é inclinada a um
ângulo duas vezes maior do que o ângulo de atrito esperado para o rejeito

32
(aproximadamente 60°). Posteriormente, a caixa é gradualmente posicionada em uma
posição horizonta (Figura 20), e então é medido o ângulo de atrito no repouso.

Figura 20 - Sequência de execução do ensaio da caixa para definição do ângulo de repouso

É importante ressaltar que foi utilizado rejeito seco, a fim de evitar o fenômeno
de coesão aparente, que poderia afetar os resultados obtidos. Embora este ensaio não seja
normatizado, o valor do ângulo de atrito obtido serve como uma referência para avaliar a
consistência dos ângulos de atrito obtidos nos ensaios triaxiais, tendo em vista que os
valores obtidos para o ângulo de atrito em repouso são considerados como um limite
inferior para o ângulo de atrito interno do rejeito, ocasionado pelo fenômeno do
“entrosamento” dos grãos (interlocking), (Martins, 2020).

Após 6 determinações, obteve-se valor máximo de 34° e um valor mínimo de 32°,


com um valor médio de 33,5° para o ângulo de atrito no repouso (ϕrep), conforme ilustrado
na Figura 21. O valor obtido para o ângulo de atrito no repouso está de acordo com o
valor do ângulo de atrito crítico (’crit), que foi estabelecido como 34,8° por Coutinho
(2022).

Figura 21 - Caixa do ensaio para determinação do ângulo de atrito no repouso

33
3.3.3 TILT-TEST

O ensaio Tilt-test foi realizado para avaliar a resistência das interfaces entre o
rejeitos, a chapa perfurada (dreno) e o geotêxtil, com o objetivo de simular, condições
semelhantes às encontradas na caixa ensaiada.

Os ensaios foram conduzidos com um índice de vazios de 0,92, e uma tensão


máxima aplicada de 5 a 7 kPa correspondente ao modelo. Esta configuração experimental
permitiu a obtenção de dados relevantes sobre a resistência e comportamento da interface
em estudo.

O ensaio foi realizado utilizando uma base de madeira reforçada, uma talha de
corrente, um inclinômetro, um extensômetro, uma chapa metálica perfurada semelhante
ao dreno utilizado na caixa de ensaio, uma caixa de madeira para conter o rejeito e anilhas
de metal para aplicar tensão na interface, conforme ilustrado na Figura 22.

34
Figura 22 - Tilt Test

Foram realizados testes em duas configurações distintas: uma com o geotêxtil


livre e outra com o geotêxtil fixado à chapa metálica. Os resultados obtidos nos ensaios
demonstraram que, no caso do geotêxtil livre, ocorreu deslizamento no contato entre o
geotêxtil e a chapa metálica perfurada, com um ângulo de atrito variando entre 27° e 28°
(Figura 23) para a interface geotêxtil-metal.

Na segunda configuração, em que o geotêxtil foi fixado por meio de grampos


metálicos, o deslizamento passou a ocorrer no contato entre o rejeito e o geotêxtil. Foram
conduzidos um total de quatro ensaios, sendo que nos ensaios 3 e 4, com o geotêxtil
fixado, foi observado um ângulo de atrito entre 33° e 35° para a interface rejeito-geotêxtil,
conforme ilustrado na Figura 23.

35
Figura 23 - Gráfico de deformação x inclinação

Desse modo, o ensaio reforça a importância de uma fixação eficiente do geotêxtil


à base metálica da caixa de ensaio (Drenos). Tendo em vista a impossibilidade da fixação
do geotêxtil com grampos metálicos conforme executado no Tilt-test, foi aplicado no
ensaio da caixa uma cola de contato sobre a superfície metálica para garantir a aderência
do geotêxtil ao dreno.

3.3.4 ÍNDICE DE VAZIOS USADO NO MODELO 1G

A definição do nível de tensão ao qual um protótipo é submetido, juntamente com


o parâmetro de estado, são aspectos fundamentais para a aplicação da técnica construtiva
usando a Linha de Estado Crítico.

Foi adotado o parâmetro de estado 𝜓 = 0 para o modelo e o protótipo. Para o


protótipo foi utilizado dados apresentados na Figura 15, e para o modelo foi seguido a
teoria utilizada por Gibson (1996) apresentada no item 2.2.3.

Em seguida foi necessário estabelecer o nível de tensão ao qual o modelo estava


submetido para a aplicação da equação 6 da linha de estado crítico, e assim definir o
índice de vazios no qual o modelo seria construído.

Dessa forma, utilizou-se como protótipo uma “barragem típica” com


aproximadamente 80 metros de altura e nível freático na metade da altura. Assim a tensão
efetiva média (p') representativa foi aproximadamente igual a 800 kPa para a base da

36
barragem. Após a definição do nível de tensão do protótipo, foi possível determinar o
nível de tensão do modelo no qual o mesmo estaria submetido, com o objetivo de
construí-lo com o índice de vazios correspondente através da equação da Linha de Estado
Crítico.

Então, foi adotado o índice de vazios estimado pela linha de estado crítico para o
nível de tensão efetiva média do protótipo (p’ = 800kPa) associado ao parâmetro de estado
igual a zero. O valor obtido pela equação 8 corresponde a um índice de vazios crítico
igual a 0,77. Como o índice de vazios do protótipo é estabelecido pela equação (𝑒𝑜 =
𝜓 + 𝑒𝑐𝑟𝑖𝑡 ), e sendo o parâmetro de estado igual a zero, a seguinte igualdade é
estabelecida (𝑒𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑡ó𝑡𝑖𝑝𝑜 = 𝑒𝑜 𝑐𝑟í𝑡𝑖𝑐𝑜 = 0,77).

Definido o índice de vazios do protótipo, é utilizado a equação 9 para definir o


peso específico saturado do material.

𝜌𝑑 𝑒𝑝𝑟𝑜𝑡ó𝑡𝑖𝑝𝑜 . 𝜌á𝑔𝑢𝑎
𝛾𝑠𝑎𝑡 = ( ) . (1 + ).𝑔 (9)
(1 + 𝑒𝑝𝑟𝑜𝑡ó𝑡𝑖𝑝𝑜 ) 𝜌𝑑

Conhecendo-se a massa específica seca (ρd) do rejeito igual a 2,93 g/cm³, o valor
do peso específico saturado (𝛾𝑠𝑎𝑡 ) do rejeito no protótipo é calculado, obtendo um valor
igual a 20,50 kN/m³. Definido o peso específico do rejeito é possível estimar o nível de
tensão do modelo.
A determinação da tensão efetiva do modelo foi realizada na região central,
diferentemente do protótipo que foi avaliada para a base da barragem. Essa definição, foi
baseada em estudos preliminares que indicaram a maior suscetibilidade da região central
do modelo em interceptar superfícies de ruptura, ocasionadas por elevação da linha
freática ou aplicação de sobrecargas compatíveis a escala do modelo.
Considerando um modelo com altura de 1,0 m e assumindo que esteja
completamente saturado, além de possuir uma linha piezométrica em regime permanente

37
localizada a 2/3 de sua altura, conforme a Figura 24, a tensão vertical efetiva (σ'v) para a
região central do modelo é igual a 8,6 kPa.

Figura 24 - Croqui da definição da linha freática

Para estimar a tensão média (p') de forma simplificada, decidiu-se aplicar a


equação 10. Nessa equação, o coeficiente de empuxo no repouso (K0) é definido pela
equação 11, sendo o ângulo de atrito (') igual ao ângulo de atrito crítico (’crit), que foi
estabelecido como 34,8° por Coutinho (2022).

𝜎𝑣′ (1 + 2. 𝐾0 )
𝑝′ =
3 (10)

𝐾0 = 1 − sin ′
(11)

Resolvendo as equações, o valor da tensão média (p') obtido é de 5,3 kPa e o


índice de vazios correspondente, calculado através da equação 8, é de ec = 0,92.

Inicialmente, todos os cálculos foram realizados com base no peso específico


saturado do protótipo, e seu respectivo índice de vazios (𝑒𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑡ó𝑡𝑖𝑝𝑜 = 0,77). Para um
melhor ajuste do peso específico e do índice de vazios correspondentes ao modelo foi
realizado uma interpolação de dados com o intuito de se confirmar o índice de vazios no
qual o modelo seria construído. Portanto, foram executadas duas iterações para que o
índice de vazios do modelo, e consequentemente o peso específico do rejeito fossem
confirmados, sendo os valores apresentados na Tabela 6.

Tabela 6 - Resultado da iterações para definição do peso específico saturado e índice de vazios do
modelo.
Peso específico Tensão média do
eo inicial eo final
(𝜸𝒔𝒂𝒕) modelo (p’)
1º Iteração 0,77 20,5 kN/m³ 5,3 kPa 0,92
2º Iteração 0,92 19,8 kN/m³ 5,1 kPa 0,92

38
Devido ao nível de tensão relativamente baixo ao qual o modelo será submetido,
observa-se nenhuma variação considerável no índice de vazios após as iterações.
Portanto, o valor de 0,92 é adotado como referência para a construção do modelo.

3.4 COMPORTAMENTO HIDROMECÂNICO

3.4.1 COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE

Com o objetivo de obter o coeficiente de permeabilidade (k) do rejeito, optou-se


pela realização de ensaios de carga constante (Figura 25), tendo em vista que se trata de
um solo grosseiro para o qual espera-se permeabilidade relativamente elevada. Cabe
ressaltar que as amostras utilizadas foram reconstruídas em ambiente laboratorial, de
modo a contemplar diferentes índices de vazios, cuja determinação se deu mediante a
utilização da linha de estado crítico e a definição prévia de parâmetros de estado.

Figura 25 - Permeâmetro de carga constante e variável

Foram estabelecidas duas orientações para a determinação da permeabilidade,


vertical e horizontal, com o intuito de obter a razão de permeabilidade do modelo. A
Figura 26 e Figura 27 ilustram a extração de amostras nas direções horizontal e vertical.

39
Figura 26 - Amostra compactada para a obtenção da permeabilidade vertical e horizontal

(a) (b
)
Figura 27 – Coleta de amostra (a) vertical (b) horizontal

Duas amostras foram reconstruídas utilizando o método MMT (modified moist


tamping) em uma caixa metálica rígida com 25cm de largura, por 35cm de comprimento,
por 25cm de altura. Uma amostra foi construída almejando um alvo de índice de vazios
de 0,77, representando o protótipo e outra amostra construída para atingir um alvo de
0,92, representando o modelo. Definido os índices de vazios alvo para a aplicação do
método, foi utilizado um soquete Proctor Normal (PN) para a aplicação de 25 golpes por
camada, sendo a compactação realizada em um total de 5 camadas em um rejeito com
teor de umidade igual a 13%.

Após o processo de compactação, foi efetuado a cravação de um molde de aço


com dimensões aproximadas de 10 cm de altura por 10 cm de diâmetro, na direção
vertical e horizontal em relação ao sentido da compactação. As amostras foram
submetidas ao ensaio de permeabilidade, para a obtenção da permeabilidade horizontal e
vertical, além da sua razão de permeabilidade. Posteriormente, as amostra foram
instaladas em um permeâmetro de carga constante e submetida a uma processo de
saturação por submersão por um período de 24h, antes da realização do ensaio.

40
Os registros dos valores de permeabilidade das amostras testadas estão
disponibilizados na Tabela 7, enquanto as planilhas referentes aos ensaios de
permeabilidade podem ser encontradas no Anexo C. Após a avaliação dos resultados,
para fins de modelagem numérica, foi decidido adotar uma média da permeabilidade
horizontal e vertical de 8,84 cm/s, juntamente com uma razão de permeabilidade de 1
para o modelo.

Tabela 7 - Resultado do ensaio de permeabilidade em carga constante


Permeabilidade de carga constante
ALVO ID Índice de
Orientação k (cm/s) kv / kh
vazios
Protótipo 01 0,79 vertical 3,97 x 10-4
0,98
e0 = 0,77 02 0,79 horizontal 4,04 x 10-4
Modelo 03 0,97 vertical 8,69 x 10-4
0,97
e0 = 0,92 04 0,96 horizontal 8,98 x 10-4

3.4.2 COMPRESSIBILIDADE DO REJEITO

A compressibilidade do rejeito foi avaliada por meio de uma série de ensaios de


compressão unidimensional realizados no Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ,
utilizando prensa hidráulica de precisão (Geocomp) com amostras de diâmetro igual a 70
mm. Os ensaios foram realizados em três corpos de prova (CPs) preparados pelo MMT,
apresentando diferentes índices de vazios, sendo 0,77 estabelecido como alvo da amostra
que representa o protótipo, 0,92 o alvo da amostra que representa o modelo e uma amostra
com um índice de vazios intermediário para efeito comparativo dos resultados. Além
disso, os testes foram conduzidos em condições próximas à saturação, alcançadas pela
inundação da célula de adensamento com água deaerada, seguida de um período de espera
de 24 horas antes do início do ensaio. A máxima tensão vertical aplicada durante o ensaio
foi de 8.000 kPa, resultando nas três curvas de adensamento ilustradas na Figura 28.

41
Figura 28 - Curvas de índice de vazios em função da tensão efetiva vertical

As amostras foram moldadas com índice de vazios de 0,93, 0,89 e 0,82, resultando
em um índice de vazios, pós ensaio, entre 0,69 e 0,73. Uma avaliação preliminar do
ensaio, indica que as amostras tendem a um índice de vazios comum, se condicionadas a
tensões elevadas, que estão acima da capacidade do equipamento utilizado (8.000 kPa).
Para amostras com índices de vazios superiores a 0,93, não foi possível obter resultados
consistentes devido a uma considerável redução de volume após a saturação da amostra.

É importante salientar que o modelo em escala será submetido a um nível de


tensão entre 5 e 25 kPa. Por essa razão, são apresentados três valores de índice de
compressão correspondentes a três níveis de tensão diferentes: 25 kPa (tensão máxima
aplicada ao modelo), 800 kPa (tensão característica de barragens - protótipo) e 8000 kPa
(tensão máxima obtida no ensaio). Estes trechos das curvas são indicados na Figura 28
pelas cores vermelha, azul e verde, respectivamente.

Através do ensaio realizado não foi possível diferenciar os índices de


recompressão (Cr) até o início da reta virgem, que a partir desse ponto representam o
índice de compressão (Cc). Essa transição não é facilmente identificada na compressão
de solos granulares.

Os resultados referentes ao índice de compressão (Cc) e ao índice de


descompressão (Cs) estão apresentados na Tabela 8, e as informações detalhadas dos
ensaios de compressibilidade podem ser encontradas no Anexo D.

42
Tabela 8 - Parâmetros de compressibilidade do rejeito
Cc Cc Cc
CP Índice de vazios (Modelo) (Protótipo) (Alta tensão) Cs
Inicial
1 0,82 0,013 0,034 0,081 0,014
2 0,89 0,018 0,040 0,096 0,012
3 0,93 0,020 0,052 0,118 0,017

Ao analisar a Tabela 8 foi atribuído o valor de índice de vazios de 0,82 para o


protótipo, sendo 0,77 o alvo definido e para o modelo o índice de vazios de 0,93, sendo
0,92 o alvo definido. Essa circunstância ocorre devido a variação do índice de vazios das
amostras reconstruídas através do método MMT submetidas ao ensaio.

Desse modo, a análise da Tabela 8 revela que, considerando um protótipo com


índice de vazios de 0,82 e um nível de tensão de 800 kPa, o índice de compressão (Cc)
foi de 0,034. Por outro lado, para o modelo construído, com um índice de vazios de 0,92
e um nível de tensão de 5 kPa, o índice de compressibilidade foi determinado como 0,020.
Esses resultados indicam que o modelo é menos suscetível à compressão em comparação
ao protótipo. Além disso, a fim de fornecer mais informações para o modelo numérico, o
coeficiente de compressibilidade (av) foi obtido utilizando a equação 12 para o nível de
tensão do modelo (entre 5 e 25kPA) para amostra de índice de vazios inicial igual a 0,93,
resultando no valor de 8,2 x 10-4 kPa-1.

∆𝑒
𝑎𝑣 ≅ − (12)
∆𝜎′

3.4.3 CURVA DE RETENÇÃO

A amostra utilizada para a definição da curva de retenção foi moldada com índice
de vazios igual a e0 = 0,89 (alvo e0 = 0,92) e porosidade n = 0,47 e foi colocada para
saturação em água deionizada e desaerada durante uma semana.

Após a saturação, o ensaio foi iniciado seguindo todos os procedimentos de


refilamento dos tensiômetros e unidade sensora a fim de eliminar bolhas de ar que
poderiam interferir na leitura do equipamento.

43
Concluído o ensaio, foram incluídos no programa HYPROP-FIT pontos
anteriormente medidos no equipamento Extrator de Richards (panela de pressão), para
melhor ajuste da curva de retenção sob altas pressões.

Os pontos adicionais medidos no Extrator de Richards (ER) considerados no


ajuste estão listados na Tabela 9. Após 3 medidas constantes de grau de saturação em 3%,
o ensaio foi finalizado sobre uma pressão de 15000 cmCA, equivalente a 1.471kPa.

Tabela 9 - Resultados do ensaio realizado no Extrator de Richards (ER)


Pontos adicionais (Extrator de Richards)
Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Ponto 6 Ponto 7 Ponto 8
pF 2,0 2,5 2,7 3,0 3,7 3,8 4,0 4,2
kPa 9,81 29,42 49,03 98,06 490,32 686,45 980,64 1470,96
S 0,20 0,09 0,06 0,05 0,04 0,03 0,03 0,03

Na Figura 29 é ilustrada uma comparação entra a curva de retenção obtida por


meio do ensaio e a curva de retenção característica de um material classificado como areia
siltosa, definido como padrão no software Sleep/W da Geostudio.

CURVA DE RETENÇÃO
1,2
GRAU DE SATURAÇÃO

1
Ponto de entrada de ar.
0,8

0,6 REJEITO ESTUDADO


AREIA SILTOSA (DEFAULT)
0,4

0,2

0
0,001 0,01 0,1 6 10
1 100 1000 10000 100000
SUCÇÃO MÁTRICA (kPa)

Figura 29 - Gráfico comparativo entre a curva de retenção do rejeito estudado e a curva de retenção para
areia siltosa definida pelo programa Seep/W.

A curva de retenção do programa apresenta um comportamento mais suave, com


um ponto de entrada de ar em torno de 1 kPa, no entanto para o material em estudo, o
ponto de entrada de ar ocorre em aproximadamente 6 kPa, o que indica que o rejeito
analisado possui maior propensão à retenção de água em comparação com uma areia

44
siltosa típica. Apesar dessa diferença, deve-se considerar que o material em questão
possui baixa capacidade de retenção de água quando comparado a materiais mais
argilosos. Mesmo assim, são necessárias medidas para mitigar os efeitos da sucção e,
consequentemente, da coesão aparente que poderiam afetar o comportamento do modelo,
em função de sua escala reduzida, sendo de fundamental importância buscar a saturação
do modelo em quase 100% para minimizar esses efeitos.

3.5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O resultado da análise granulométrica indicou uma similaridade entre o material


estudado e o material encontrado em barragens de rejeitos que sofreram ruptura por
liquefação estática. Os ensaios de caracterização forneceram um valor de 2,93 para
densidade real dos grãos, relativamente próximo ao obtido pela aplicação da equação de
ESPÓSITO,2000 com a utilização do teor de ferro (%Fe) obtido pela análise química por
ataque sulfúrico Gs = 3,00, enquanto o valor obtido pela análise mineralógica por
Difratometria de Raio-X teve uma maior disparidade com um Gs = 3,31.

Foram realizados ensaios de laboratório com o propósito de determinar os


parâmetros geotécnicos do rejeito em estudo, sendo essencial para garantir a
representatividade do modelo numérico em relação ao modelo físico. As amostras
utilizadas nos ensaios foram construídas com base em dados obtidos por ensaios CPTu,
que indicaram parâmetro de estado próximo à zero para a barragem sob análise. A linha
de estado crítica (LEC) foi adotada como referência para o nível de tensão do modelo, e
as amostras foram reconstruídas com índices de vazios correspondentes usando o método
MMT (modified moist tamping).

Através de ensaios de compactação realizados antes dos demais ensaios, foi obtida
a relação entre a massa específica seca e a energia de compactação, o que permitiu a
aplicação do método MMT.

Com a aplicação do MMT, os corpos de prova foram moldados considerando o


efeito da subcompactação, visando obter corpos de prova homogêneos, com parâmetro
de estado previamente definido e índice de vazios similares ao almejado para o modelo.

45
A aplicação da técnica construtivo usando a Linha de Estado Crítico indicou que
o modelo deveria ser construído com um índice de vazios de 0,92. Esse valor corresponde
ao índice de vazios crítico, no qual o parâmetro de estado (ψ) é igual a zero. De acordo
com Jefferies e Been (2016), é observado que o modelo pode ser classificado como
contrátil e suscetível à liquefação quando o parâmetro de estado é superior a -0,05.

A razão de permeabilidade (kh/kv) obtida nos ensaios com amostras


representativas para o protótipo (e0 = 0,79) e amostras representativas para o modelo (e0
= 0,97) é aproximadamente igual a 1. Desta forma, para o modelo numérico em
consideração, considerou-se isotropia de permeabilidade.

Os ensaios conduzidos para determinar a curva de retenção do rejeito em estudo


demonstraram uma concordância significativa com os parâmetros estabelecidos pelo
programa Seep/w, desenvolvido pelo Geostudio, para uma areia siltosa “característica”.
Ao analisar os dados obtidos, foi reforçada a importância de adotar cuidados na obtenção
de uma saturação praticamente completa do material, que deve ser almejada durante os
ensaios do modelo 1g, visando minimizar a influência da coesão aparente.

Os ensaios de compressão unidimensional desempenharam um papel crucial no


entendimento do comportamento do modelo em relação ao protótipo, principalmente
devido à diferença significativa nos níveis de tensão aplicados em cada caso. Observou-
se que o modelo apresenta uma menor compressibilidade em comparação ao protótipo,
devido à tensão de trabalho aplicada no modelo ser aproximadamente 100 vezes menor.
Os resultados sugerem que o modelo é menos suscetível à compressão do que o protótipo.
Por fim, ao determinar o coeficiente de compressibilidade, os resultados destacam a
semelhança do comportamento do rejeito com o de areias, que são menos compressíveis.

Finalmente, o ângulo de atrito foi determinado com base no ensaio triaxial e


verificado por dois ensaios distintos: Tilt Test; e ensaio de ângulo de atrito no repouso
(ensaio da caixa). O Tilt Test teve como objetivo avaliar a resistência de interface entre o
rejeito, a chapa perfurada (dreno) e o geotêxtil, simulando condições semelhantes às
encontradas na caixa ensaiada, indicando a necessidade de fixação do geotêxtil. O ensaio
da caixa foi realizado para obter um valor mínimo para o ângulo de atrito, pois o material
foi ensaiado completamente seco sob tensão nula, visando determinar o ângulo de atrito
no repouso, que resultou em um valor inferior aos 34,8° obtidos no ensaio triaxial, que
por sua vez foi adotado na modelagem numérica.

46
Os parâmetros estabelecidos para fins de modelagem numérica apresentados neste
item estão resumidos na Tabela 10.

Tabela 10 - Resultados de parâmetros geotécnicos obtidos pela campanha de ensaios


Parâmetros Geotécnicos
𝜸𝒔𝒂𝒕 (𝒌𝑵/𝒎³) (c’) ∅′ Sucção av (kPa-1) k (m/s) ky/kx
fn. Curva
19,8 0 34,8° 8,2 x 10-4 8,8 x 10-6 1
característica

47
4 CAIXA DE ENSAIO: EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTAÇÃO

Neste capítulo inclui a descrição das principais características requeridas dos


equipamentos a serem utilizados: a descrição do método de preparo da amostra;
montagem do modelo com inserção de sensores (instrumentação); saturação do modelo,
visto que o material foi depositado inicialmente apenas úmido; e gatilhos estáticos
necessários à liquefação do modelo.

4.1 VISÃO GERAL DA CAIXA DE ENSAIO

A caixa de ensaios utilizada para os experimentos em modelos 1g é caracterizada


por sua natureza rígida e apresenta dimensões internas de 6,00m de comprimento
(extensão máxima), 1,00m de largura e 1,00m de profundidade. Na configuração usada
nos ensaios, internamente a caixa mede 4,30m de comprimento, conforme mostrado na
Figura 30.

Figura 30 – Modelo 3D da caixa de ensaio

Com o intuito de permitir uma observação mais clara do comportamento


mecânico do rejeito, as paredes da caixa foram construídas em acrílico transparente, um

48
material suficientemente rígido, a fim de suportar as cargas às quais a caixa foi submetida,
conforme ilustrado na Figura 31.

Figura 31 - Caixa de ensaio instalada no galpão da VALE.

Durante os ensaios a caixa esteve instalada em uma galpão de ensaios na Mina de


Timbopeba pertencente à VALE. Devido a inclinação do piso interno do galpão de ensaio
e a impossibilidade de efetuar o nivelamento posterior da caixa, os ensaios foram
realizados com uma inclinação de 1,2% em relação ao plano horizontal. Dessa forma, as
análises numéricas que são apresentadas mais adiante, contemplam essa inclinação em
todos os seus resultados.

4.2 SISTEMA DE DRENAGEM E DE INJEÇÃO DE CO2

A caixa é constituída por cinco módulos, cada um medindo 0,86m de


comprimento por 1,04m de largura. Cada módulo com dois painéis de acrílico de cada
lado e uma chapa perfurada na base, para servir como dreno. As dimensões da parte

49
perfurada são 0,42m de comprimento por 0,74m de largura, contendo furos de diâmetro
igual a 12,7mm (conforme ilustrado na Figura 32).

Figura 32 - Módulos de drenos no piso da caixa

Cada módulo de drenagem desempenha a função de simular a drenagem de uma


barragem. Para essa finalidade, foram instalados conjuntos de mangueiras e válvulas na
parte inferior de cada módulo, a fim de permitir a adoção de diferentes configurações de
drenagem durante os ensaios, conforme ilustrado na Figura 33. Além de controlar o
processo de drenagem, o conjunto de válvulas possibilita a injeção de gás em cada
módulo, permitindo a percolação de CO2 conforme exigido pelo experimento, conforme
demonstrado na Figura 34.

Figura 33 - Conexão de válvulas na parte inferior dos módulos

50
Figura 34 - Válvulas solenoides para controle de injeção de gás e drenagem dos módulos.

Durante a realização dos testes preliminares da caixa de ensaio, foi identificada a


necessidade de instalar um dispositivo medidor de nível de água nos compartimentos de
drenagem de cada módulo. Essa medida foi adotada para determinar o momento em que
a configuração de drenagem passaria de "aberta" para "bloqueada", tendo em vista que a
água percolada através do modelo precisa preencher o compartimento de drenagem, que
possui um volume de aproximadamente 30L, conforme ilustrado na Figura 35.

Figura 35 - Croqui indicativo de configuração de drenagem

Em termos simples, a condição de drenagem "aberta" refere-se ao período em que


o nível de água está abaixo do nível do piso da caixa, enquanto a condição "bloqueada"
ocorre quando o nível de água atinge o mesmo nível do piso da caixa de ensaio.

Devido à impossibilidade de visualizar o piso da caixa após o preenchimento com


rejeito, foram instaladas mangueiras de nível em cada módulo. Essas mangueiras foram
instaladas previamente ao ensaio para estabelecer as cotas do nível de água em que cada
módulo poderia ser considerado com a drenagem bloqueada, conforme ilustrado na
Figura 36.

51
NA DA DRENAGEM

Figura 36 - Indicação do nível de água para a configuração de dreno bloqueado

Um outro componente importante da caixa de ensaio é o reservatório de água


localizado a montante da própria caixa. Esse reservatório tem como principal objetivo
permitir o controle do nível de água por meio de um conjunto de bombas e sensores de
nível. O reservatório possui a mesma profundidade da caixa de ensaio, ou seja, 1,0m,
conforme demonstrado na Figura 37. Após estabelecer um nível de água para fins de
calibração, o sistema de bombas e sensores se mostrou capaz de manter o nível de água
do reservatório estabelecido pela central de comando com um erro de 2%.

Figura 37 - Secção do reservatório de água da caixa de ensaio.

Conforme mencionado anteriormente, a central de comando e aquisição de dados


desempenha um papel fundamental no controle do sistema de acionamento das válvulas
e bombas utilizadas na caixa de ensaio, conhecido como sistema periférico, além de
realizar a coleta de dados provenientes dos instrumentos instalados no modelo físico,
conforme ilustrado na Figura 38. Por meio desse sistema, o pesquisador tem acesso em
tempo real a uma variedade de dados, como piezometria, nível de água do reservatório,
leituras dos acelerômetros e outros parâmetros que serão apresentados posteriormente.

52
Essa capacidade de monitoramento em tempo real proporciona um controle eficiente e
uma análise contínua dos dados durante os ensaios.

Figura 38- Sistema de controle e monitoramento

53
Para um melhor entendimento do conjunto de válvulas e bombas foi elaborado
um croqui esquemático para definição da nomenclatura de cada componente operado pelo
sistema de controle, conforme ilustrado na Figura 39.

Figura 39 - Croqui esquemático para definição de nomenclatura dos componentes da caixa de ensaio

Legenda:

• TEI – Tampa estanque interna do módulo


• G1, G2, G3, G4 e G5 – Válvula de gás
• A1, A2, A3, A4 e A5 – Válvula de água
• RI – Reservatório interno

4.3 INSTRUMENTAÇÃO

A instrumentação utilizada consiste em três piezômetros elétricos, que têm a


finalidade de medir poropressões, e sete acelerômetros, que são empregados para medir
deslocamentos e ondas cisalhantes. No Anexo E, são apresentados as especificações
técnicas e os certificados de calibração dos referidos instrumentos.

Além disso, como parte da pesquisa, foram desenvolvidos e utilizados


instrumentos adicionais, tais como o inclinômetro de fibra ótica para medição de
deslocamentos, o PIV (Velocimetria por imagem de partículas) e o air Hammer, utilizado
para gerar ondas cisalhantes. O objetivo desses instrumentos, além de fornecer os

54
parâmetros geotécnicos do modelo, foi avaliar o desempenho dos mesmos em relação à
precisão, exatidão, sensibilidade e outros aspectos.

Essa abordagem permite uma avaliação completa da instrumentação utilizada,


garantindo a confiabilidade dos dados obtidos e a precisão das medições realizadas no
contexto do modelo 1g.

Devido à restrição temporal imposta, o processo de calibração do sensor laser não


pôde ser concluído antes da realização dos ensaios. Portanto, recomenda-se que a
implantação desse instrumento seja considerada para pesquisas futuras.

4.3.1 PIEZÔMETROS

Os piezômetros foram testados em bancada seguindo instruções do fabricante. Os


testes consistiram em submeter os sensores a estímulos aleatórios variando a altura de
coluna de água de um recipiente à pressão atmosférica. O sinal elétrico de saída foi lido
em um multímetro com resolução de 0,001 Volts (Figura 40). Os sensores apresentaram
uma incerteza de 0,04%, além de uma histerese (Diferença máxima entre as indicações
crescentes e decrescentes) e repetibilidade de 0,01%, o que atende as necessidades do
programa de ensaios.

Como o sistema foi testado utilizando uma ligação elétrica preliminar, não foi
possível avaliar o nível de ruído associado ao conjunto sensor e sistema de aquisição de
dados antes dos ensaios preliminares.

Figura 40 - Teste de bancada dos piezômetros

55
A Figura 41 exibe o detalhe do instrumento empregado neste estudo, fornecendo
uma representação visual do piezômetro. Além disso, a Tabela 11 apresenta as
especificações técnicas detalhadas do instrumento, como faixa de medição, resolução e
outras características relevantes.

Figura 41 - Detalhe do piezômetro e pedra porosa (Filtro de bronze)

Tabela 11 - Resumo das especificações técnicas dos piezômetros elétricos


Especificações técnicas dos piezômetros
Dimensões (162 x ø26) mm
Faixa de medição 0 a 20 kPa
Material da Pedra Porosa Bronze
Resolução 0,005 kPa

Com o objetivo de obter uma redundância em relação a definição da carga


piezométrica aplicada no modelo físico, foram implantados 14 piezômetros de tubo
aberto, aqui denominados “Casagrande” na lateral da caixa de ensaio (Figura 42 e Figura
43).

Figura 42 - Planta de localização de piezômetros Casagrande

56
Figura 43 - Piezômetro Casagrande

Os piezômetros Casagrande se destacam em relação aos piezômetros elétricos


devido ao seu baixo custo, e sua instalação que não interfere no comportamento do
modelo. Além disso, eles não apresentam problemas de perda de saturação.

O tempo de resposta do piezômetro de Casagrande é relativamente longo devido


à necessidade de preencher o volume da mangueira de cristal, e a coleta de dados é
realizada manualmente. Considerando o objetivo do estudo, que é investigar a liquefação
estática com base em eventos que ocorrem em frações de segundos, o uso de piezômetros
elétricos é indispensável.

4.3.2 ACELERÔMETROS

A coluna de acelerômetros instalada no modelo permite obter diversos


parâmetros, tanto nos ensaios estáticos, como nos dinâmicos.

No caso dos ensaios estáticos, foco desta pesquisa, a utilização dos acelerômetros
está limitada à obtenção do módulo cisalhante máximo (Gmáx ou Go) pelo uso associado
ao air hammer (AH), (que também será utilizado nos ensaios dinâmicos) e por meio da
equação 13, onde 𝜌 é a massa específica do solo.

57
𝐺
𝑉𝑆 = √ 𝜌0 (13)

Soriano (2021) dispõe sobre a utilização de AH e acelerômetros na obtenção da


velocidade de onda. A Figura 44 mostra a representação esquemática do AH e da coluna
de acelerômetros com os respectivos registros de ondas.

Figura 44 - Representação esquemática do tempo de chegada para cálculo da velocidade de onda entre
acelerômetros (modificada de Soriano, 2021).

O AH é um pistão pneumático e, ao se aplicar pressões alternadas nas suas


extremidades, ondas cisalhantes são produzidas e se deslocam verticalmente para cima
no modelo, visto que o AH é instalado no fundo. Ao identificar os tempos de chegada
dessas ondas registradas pelos acelerômetros em diferentes profundidades, as velocidades
das ondas de cisalhamento podem ser determinadas.

Os resultados obtidos nos ensaios estáticos vão auxiliar a balizar melhor a


disposição dos acelerômetros na ocasião dos ensaios dinâmicos.

4.3.3 AIR HAMMER

58
O Air Hammer utilizado no ensaio foi desenvolvido e testado em laboratório pela
COPPE, e fornecido à Vale para a realização dos testes de onda cisalhante. Os seus
desenhos técnicos podem ser encontrados no Anexo F. O instrumento funciona como uma
gerador de vibrações mecânicas, criando ondas de cisalhamento. Destinando-se a
medições da propagação da velocidade de onda cisalhante no solo, através da utilização
de acelerômetros atuando como receptores das ondas.

O Air Hammer é acionado através de um sistema pneumático comandos por meio


de válvulas tipo alavanca, os quais são alimentados com cilindros de CO 2 através de
mangueiras de poliuretano, como ilustrado na Figura 45. Esse processo foi operado
manualmente, resultando na geração de pulsos por meio da injeção de gás comprimido.

Figura 45 - Detalhe do Air hammer e mangueira de poliuretano

4.3.4 PIV (VELOCIMETRIA POR IMAGEM DE PARTÍCULAS)

A Velocimetria por Imagem de Partículas (PIV) é uma técnica de medição de


velocidades não intrusiva e quantitativa que permite a coleta de informações entre duas
imagens em frações de segundos. O processamento das imagens conduzido em uma
análise de PIV consiste em comparar imagens digitais, com um determinado tipo de
contraste, capturadas em diferentes instantes de tempo.

O PIV tem sido utilizado tipicamente em materiais arenosos de coloração branca


com pigmentação natural ou artificial escura, como forma de obter contraste. Devido ao
rejeito úmido possuir uma coloração mais escura e homogênea, foram sugeridas
alternativas que serão vistas mais adiante em metodologia.

59
O monitoramento das imagens durante os ensaios realizados utilizou a câmera
GoPro Hero 5 Black (Figura 46). A resolução aplicada foi de 1080p com 60 fps no modo
linear de vídeo. Outra característica da câmera importante de ser citada é a conectividade
Wi-Fi que permite que seu acionamento e visualização em tempo real sejam realizados
externamente.

Figura 46 - Câmera GoPro Hero 5 Black

Testes preliminares com a câmera GoPro, utilizada nos ensaios, foram realizados
no Laboratório da COPPE, com o objetivo de identificar o melhor enquadramento de um
objeto com as mesmas dimensões da janela da caixa de ensaios: 720 mm de largura por
460 mm de altura. A Tabela 12 e Tabela 13 apresentam as configurações alternativas que
podem ser adotadas nos ensaios:

Tabela 12 - Configuração 01
Opção 1
Modelo GoPro Hero 5
Field of View Linear
Modo de operação Vídeo
FPS (Frames por segundos) 60
Resolução (1920×1080) pixels
Distância de montagem da câmera 55 cm

Tabela 13 - Configuração 02
Opção 2
Modelo GoPro Hero 5
Field of View Linear
Modo de operação Time lapse
FPS (Frames por segundos) 2
Resolução (4000 x 3000) pixels
Distância de montagem da câmera 42 cm

60
A opção 1 se aplica a eventos de alta velocidade e curta duração, enquanto a opção
2 a eventos de baixa velocidade e longa duração.

Nos ensaios, para a montagem das câmeras, propôs-se a utilização de tripés com
nível. O esquema de montagem pode ser melhor visualizado na Figura 47.

Figura 47 - Esquema de montagem para PIV

De modo a obter uma melhor qualidade de vídeo foram instaladas luzes Day Light
através de um sistema de iluminação dispostas uniformemente na lateral da caixa de
ensaio. Desta forma, a iluminação incide diretamente e indiretamente sobre as câmeras,
com um arranjo que foi estudado para que as imagens a serem capturadas não apresentem
sombras ou brilho excessivo. Além disso, considerando a longa duração dos ensaios, foi
imprescindível que as câmeras possuíssem fontes de alimentação para que as baterias não
descarreguem, e cartões de memória com capacidade de armazenamento suficiente para
atender a duração do ensaio.

4.3.5 INCLINÔMETRO

61
O sensor a fibra ótica que foi utilizado tem a finalidade de medir os deslocamentos
horizontais do maciço. A literatura mostra diversas aplicações de monitoramento de
deslocamentos horizontais em estruturas geotécnicas. Especificamente Allil et al. (2021)
desenvolveu um Inclinômetro óptico para movimentação de solo, e aplicou algoritmos de
reconstrução de curvas com objetivo de aplicações em barragens de rejeito de minério de
ferro.

O presente sensor foi especialmente desenvolvido para aplicações em modelos em


escala de barragens de rejeito. A Figura 48 apresenta o sensor e o processo de aquisição
dos deslocamentos horizontas e no anexo G é apresentada a metodologia de cálculo de
deslocamentos.

Figura 48 - Ilustração do sistema de aquisição de dados do inclinômetro

O sensor consiste em uma placa estreita de acrílico instrumentada com FBGs


(Fiber Bragg Grating). O modelo matemático de conversão de deformação em
deslocamento horizontais foi baseado no equacionamento de uma viga de Euler-Bernouli
(OLIVEIRA, 2023).

Este sensor foi instalado na crista do talude e conta com 5 pontos instrumentados
em configuração dual espaçados de 200 mm. Com objetivo de avaliar a viabilidade de
instalação do instrumento, foi realizado em laboratório um teste de cravação em uma
caixa com pequenas dimensões, utilizando um rejeito com a mesma densidade que será
empregada nos ensaios. A Figura 49 mostra o processo de cravação utilizando uma barra
ainda sem instrumentação.

62
Figura 49 - Teste em caixa de ensaio da COPPE com densidade correspondente ao modelo

Apesar da barra ser esbelta, (1000 x 10 x 3) mm, o processo de cravação a uma


profundidade de 200 mm foi realizado com facilidade, contudo para efetuar a instalação
do instrumento no modelo com um metro de altura, foi realizado um furo guia com uma
barra chata metálica, de dimensões similares, a fim de prevenir quais quer danos ao
instrumento.

Este dispositivo encontra-se em estágio de desenvolvimento com o propósito de


atender às exigências do projeto, demandando a realização de uma ampla variedade de
testes para a calibração e validação dos dados obtidos nos ensaios.

4.4 COMPACTAÇÃO DO REJEITO

Foi desenvolvida uma metodologia com a utilização da caixa teste com o objetivo
de permitir um controle preciso dos parâmetros de compactação, tais como a energia de
compactação, a umidade do solo e a sequência de aplicação de cargas. Essa capacidade
de controle oferece a oportunidade de avaliar diferentes técnicas e equipamentos de
compactação, além de determinar a combinação ótima de parâmetros para atingir a
densidade desejada.

Além disso, a metodologia de compactação empregada na caixa teste permite a


replicação das condições reais de compactação que serão aplicadas na caixa de ensaio, o
que contribui para uma avaliação mais precisa do comportamento do rejeito. Através
dessa metodologia, foi possível analisar o desempenho de equipamentos e técnicas de
compactação, para garantir a consistência e comparabilidade dos resultados obtidos.

63
4.4.1 COMPACTADOR SEMIAUTOMÁTICO

No contexto desse estudo específico, no qual equipamentos industrializados


disponíveis no mercado não são adequados para serem empregados na caixa de ensaio,
foi desenvolvido um compactador personalizado que satisfizesse as condições
particulares do projeto em questão (Figura 50).

Figura 50 - Compactador semiautomático

O compactador foi desenvolvido pela empresa CONNECTA com o objetivo de


atender a critérios específicos, incluindo repetibilidade, capacidade de içamento de carga
de impacto e mobilidade. A repetibilidade da compactação foi alcançada por meio da
associação da altura de lançamento da carga de impacto com um conjunto de
componentes, tais como sensores indutivos, eletroímã, motor, cabos de aço, polias, guias
verticais, e uma central de comando. Essa combinação permitiu definir a altura de queda
e programar a quantidade de impactos a serem executados.

Em relação à capacidade de içamento, foi estabelecido que o compactador seria


capaz de suportar até 15 kg de carga de impacto. Para atender a esse requisito, foram
fabricadas três unidades de contrapesos, cada uma com aproximadamente 5 kg (Figura

64
51), que podem ser acopladas ao compactador conforme a necessidade do projeto. Esses
contrapesos são içados pelo eletroímã através das guias verticais com o auxílio de cabos
de aço, até alcançarem o sensor de indução, que por sua vez aciona o sistema para liberar
a carga de impacto. Durante a queda, a carga atinge a placa de impacto com dimensões
de 530 mm x 260 mm, que distribui a energia gerada com a queda da massa de impacto
ao rejeito a ser compactado.

Figura 51- Contrapeso (Carga de impacto)

Após a conclusão da fabricação do compactador, foi estabelecida a necessidade


de uma estrutura de suporte para sua instalação no interior da caixa de ensaio. Essa
estrutura foi projetada e denominada como pórtico de apoio, conforme ilustrado na Figura
52.

65
Figura 52 - Pórtico de apoio

O pórtico foi implementado com a utilização de roldanas, visando facilitar sua


mobilidade. Ele auxilia no posicionamento dos componentes do compactador, como
polias, cabos de aço, motor, central de comando e guincho elétrico que efetua o içamento
da carga de impacto, conforme ilustrado na Figura 53.

Figura 53 - Componentes do compactador acoplados ao pórtico


Instalado no pórtico também estava um guincho elétrico de 150kg de capacidade,
que tem a função de içar o compactador a uma altura superior à da caixa de ensaio. Além
disso, ele também é utilizado como suporte para a realização de manutenção e transporte
de cargas para o interior da caixa de ensaio.

66
4.4.2 CAIXA TESTE

A caixa teste foi projetada com o propósito de realizar ensaios preliminares no


material a ser ensaiado. Em outras palavras o objetivo foi calibrar a densidade do modelo
em relação à energia associada ao peso e a altura de queda da massa de impacto, conforme
requerido pelo método Modified Moist Tamping (MMT).

Com base na pesquisa de Pépin (2010), optou-se por construir uma caixa metálica
de menores dimensões, pois essa escolha proporciona um melhor controle da
seção/geometria, resultando em um volume bem definido. Além disso, uma caixa
metálica evita a perda de umidade do material contido nela, possibilitando um controle
adequado da umidade do rejeito.

A caixa foi construída com dimensões internas de 75 cm de altura com seção de


107cm x 107cm, conforme ilustrado na Figura 54. Essas medidas permitem a realização
de 5 camadas de compactação, cada uma com 15 cm de altura.

Figura 54 - Caixa teste

Para a manipulação e transporte da caixa de teste, utilizou-se um caminhão


Munck. Após a realização dos ensaios foi efetuado a limpeza manualmente da caixa,
67
sendo essa tarefa de fundamental importância para garantir resultados confiáveis nos
testes de compactação do solo.

4.4.3 COMPACTAÇÃO DO REJEITO

O procedimento de compactação em uma caixa teste envolve uma série de etapas.


Inicialmente, realiza-se a correção da umidade do rejeito para 13%, conforme
estabelecido como umidade ótima por Coutinho (2022), com o auxílio de uma estufa. Em
seguida, definiu-se um índice de vazios alvo para o ensaio e determinou-se o massa
específica úmida do rejeito. Com base no volume da caixa teste, foi calculada a massa de
rejeito necessária para o ensaio.

Após a correção da umidade e a definição da massa de rejeito, o material foi


separado em camadas de compactação. Para uma caixa teste com altura de 75 cm, são
adotadas cinco camadas de 15 cm de espessura. Utilizando uma balança, o material foi
separado por camadas e ensacado para evitar perda de umidade durante o ensaio.
Amostras antes e após o ensaio foram reservadas para comparação dos parâmetros de
umidade.

Em seguida, determinou-se a energia de compactação a ser aplicada no ensaio.


Utilizando um compactador com capacidade de regular a altura de queda e sua massa de
impacto, definiu-se inicialmente o uso de uma energia de referência com base em ensaios
preliminares de laboratório para amostras com índice de vazios similares ao desejado no
projeto (e0 = 0,92). A energia utilizada no ensaio foi calculada através da equação 14.

𝑚 . 𝑔 . 𝐻 . 𝑛 . 𝑛𝑐
𝐸= (14)
𝑉

Legenda:

E = Energia aplicada (kg.cm/cm³) n = Número de golpes aplicados a cada


m = Massa de impacto (kg) camada
g = Aceleração da gravidade (cm/s²) nc = Número de camadas
H = Altura de queda (cm)
Ao final do ensaio, avaliou-se a massa específica seca obtida. Na sequência foi
realizado uma série de ensaios com diferentes energias de compactação para definir o

68
gráfico altura de queda versus massa específica seca, e assim definir os valores das
constantes C1 e C2 da equação (2).

Para a compactação na caixa teste, foi estabelecido um procedimento de


posicionamento do compactador visando a homogeneização adequada do rejeito. Com
base em testes de laboratório, definiu-se a utilização de 14 posições por camada, onde o
compactador seria posicionado para aplicar 7 golpes por posição, parâmetros que foram
replicados na caixa de ensaio.

Devido às limitações de espaço para movimentação do compactador acoplado ao


pórtico dentro do galpão, foi estabelecida uma sequência de posicionamentos otimizada
para agilizar o processo de compactação. Essa sequência de posicionamentos pode ser
observada na Figura 55.

a) b)
Figura 55 – Compactador: a) perspectiva; e b) vista superior da distribuição do compactador no ensaio da
caixa teste.

Considerando que a placa de impacto do compactador possui dimensões de 530


mm x 260 mm, o procedimento consiste em realizar a compactação em um lado e, em
seguida, no outro lado da caixa teste. Inicialmente, o compactador foi posicionado quatro
vezes (1 a 4) para compactar uma série de posições, e depois reposicionado para mais
uma série de três posições (5 a 7), totalizando sete posições por lado. Esse processo foi

69
repetido novamente no outro lado da caixa teste, resultando em um total de 14 posições
por camada e um total de 98 golpes aplicados.

Dessa forma, o procedimento de posicionamento do compactador durante o ensaio


na caixa teste foi estabelecido considerando as restrições de espaço e buscando garantir
uma distribuição uniforme dos golpes de compactação ao longo do rejeito, conforme visto
na Figura 56.

Figura 56 - Compactação da caixa teste

4.4.4 EXECUÇÃO DO ENSAIO

Para a obtenção do gráfico Massa específica seca x Altura de queda e definição


das constantes C1 e C2 foram executados 3 ensaios na caixa teste. A Tabela 14, resume
os parâmetros obtidos nos ensaios, sendo alguns dados típicos em todos os ensaios como:

• Massa de impacto – 15,85kg


• Nº de Golpes por posição – 7
• Nº de camadas - 5

70
Tabela 14 - Resumo de dados obtidos no ensaio da caixa teste
Massa
Altura de Volume
Rejeito Umidade específica Índice de
Ensaio queda Compactado
(kg) (%) seca vazios
(cm) (m³)
(g/cm³)
1 144 1.523,20 13,09 0,831 1,62 0,81
2 115 1.464,40 12,91 0,820 1,58 0,85
3 87 1.473,17 13,45 0,826 1,57 0,87
Com os dados obtidos foi possível definir a equação 15 para obter as constantes
C1 e C2 (g/cm³) para uma umidade média igual a 13,15%, conforme visto na Figura 57.

𝑦 = 0,0922 ln(𝑥 ) + 1,1559 (15)

TESTE DE CALIBRAÇÃO DO COMPACTADOR


1,63
Massa específica seca (g/cm³)

1,62

1,61
y = 0,0922ln(x) + 1,1559
1,60

1,59

1,58

1,57

1,56
85 95 105 115 125 135 145 155
H queda equivalente (cm)

Figura 57 - Gráfico para obtenção da equação logarítmica

Logo, foi aplicado C1= 0,0922 e C2= 1,1559 na equação (2), resultando na
equação para aplicação do método MMT:

𝜌𝑑𝑛 − 1,1559
𝐻𝑛 = exp ( ) (16)
0,0922

Considerando a determinação do índice de vazios com um valor alvo de 0,92 e,


consequentemente, uma massa específica seca equivalente a 1,53 g/cm³, o presente estudo
emprega o conceito de subcompactação das camadas a fim de estabelecer a massa
específica desejada em cada camada utilizando as equações (3) e (4). Em seguida, a altura

71
de queda foi determinada para cada camada por meio da aplicação da equação 16. O
resultado é apresentado na Tabela 15.

Tabela 15 - Resumo de resultados para a aplicação do método MMT


Massa específica Altura de queda
Camadas
seca (g/cm³) (cm)
1º 1,51 47
2º 1,52 51
3º 1,53 55
4º 1,53 60
5º 1,54 65

4.5 PROGRAMA DE ENSAIOS

O programa original de ensaios foi baseado em análises de fluxo e estabilidade,


que abordam diferentes geometrias e configurações de drenagem da caixa de ensaio.
Neste item é apresentado um estudo comparativo entre as configurações que serão
utilizadas, através da modelagem numérica.

As análises aqui apresentadas são baseadas nos parâmetros geotécnicos até aqui
estudados.

4.5.1 GEOMETRIA E CONDIÇÕES DE CONTORNO

Para o experimento, três geometrias de pesquisa foram selecionadas para a caixa


de ensaios, 1H:1V, 2H:1V e 3H:1V. A escolha dessas geometrias fundamentou-se no
propósito de evitar que o pé do talude coincidisse com os drenos da caixa de ensaio, como
ilustrado na Figura 58. Ao longo das simulações, previu-se causar ruptura dos taludes por
meio bloqueios de drenagem, como forma de simular gatilhos de liquefação.

72
Figura 58 - Croqui esquemático para definição das geometrias de pesquisa.

A distância entre o reservatório de água e a crista do talude foi fixada em 60cm


para todos os modelos, com a finalidade de evitar que a superfície de ruptura crítica
intercepte a parede do reservatório.

Definida a geometria, foi criado o modelo numérico de fluxo com a mesma


geometria e condições de contorno simulares às encontradas na caixa de ensaio utilizando
o programa SEEP/W (2D) da Geostudio.

A geometria de todos os modelos possui inclinação 1,2% na base do talude que


simula a inclinação do piso do galpão no qual a caixa de ensaio foi instalada. No modelo
físico, o dreno mais a jusante simula a condição típica de drenagem do dique de partida
em barragens construídas pelo método de montante, e o mesmo será representando no
modelo numérico por uma face drenante em sua posição correspondente.

A malha de elementos finitos utilizada no modelo numérico é discretizada em


elementos finitos do tipo triangulares e quadráticos com dimensão máxima de 5 cm,
conforme ilustrado nas Figura 59, Figura 60 e Figura 61.

73
Dreno 2
Figura 59 - Modelo talude 1:1 (Malha 442 elementos e condições de contorno)

Dreno 3
Figura 60 - Modelo talude 2:1 (Malha 662 elementos e condições de contorno)

Figura 61 - Modelo talude 3:1 (Malha 865 elementos e condições de contorno) Dreno 4

4.5.2 CONDIÇÃO INICIAL DA REDE DE FLUXO

A configuração inicial visa manter uma condição estável, na qual se possa obter a
máxima saturação possível antes que a ruptura seja ocasionada intencionalmente pelo
sistema de controle. O bloqueio dos drenos ou alteração do nível de água (NA) do
reservatório tem o objetivo de servir de gatilho para atingir a liquefação estática do
modelo.

74
Não era possível submergir completamente o modelo em uma lâmina d’água, pelo
fato de que o projeto original da caixa não dispunha de uma parede frontal estanque.
Decidiu-se, então, utilizar outra maneira para aumentar o grau de saturação do rejeito
recém compactado. O nível de água (NA) no reservatório seria mantido com altura de 1,0
m por um certo período de tempo, estabelecendo uma rede de fluxo no modelo. Uma das
drenagens seria mantida aberta para evitar a saída de fluxo pelo talude de jusante. Desta
forma, a percolação de água deveria saturar grande parte do rejeito sem provocar a ruptura
do modelo. Após um certo tempo, a drenagem seria fechada, para que ocorresse a ruptura
do talude devido à alteração na rede de fluxo. Em todas as geometrias analisadas, foi
imprescindível que o dreno localizado mais a jusante permaneça aberto para assegurar
uma condição estável durante a fase de saturação do rejeito.

Entretanto, este método só poderia ser utilizado nos taludes 2H:1V e 3H:1V. Para
o modelo com talude 1H:1V, o nível d'água (NA) do reservatório foi estabelecido em
0,70m., por não demonstrar uma condição estável quando o nível d'água no reservatório
é fixado em 1,0m de altura, conforme é discutido posteriormente. Por esse motivo,
decidiu-se forçar a ruptura no modelo 1H:1V elevando o NA do reservatório de 0,7 m
para 1,0m mantendo a drenagem aberta, ao invés de utilizar o procedimento de bloqueio
da drenagem, como ocorre nos modelos 2H:1V e 3H:1V.

A Figura 62, Figura 63 e Figura 64 representam a distribuição de poropressões


para condições de regime permanente na fase de saturação do modelo. A previsão para
obtenção do regime permanente nos modelos numéricos são de aproximadamente 7h para
os todas as geometrias (estimativa de tempo para obtenção de regime de fluxo
estacionário com a elevação do nível de água a partir da cota zero). Os parâmetros de
permeabilidades utilizados foram apresentados na Tabela 10.

75
Figura 62 – Fase de saturação – rede de fluxo em regime permanente - Modelo com talude 1:1 (NA=
0,70m do reservatório e dreno de jusante aberto)

Figura 63 - Fase de saturação – rede de fluxo em regime permanente - Modelo com talude 2:1 (NA=
1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto)

Figura 64 - Fase de saturação – rede de fluxo em regime permanente - Modelo com talude 3:1 (NA=
1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto)

Conforme visto anteriormente, no caso do modelo 1H:1V a rede de fluxo foi


alterada pela elevação do NA do reservatório, enquanto no modelo 2H:1V e 3H:1V a
alteração é provocada pelo bloqueio da drenagem. A Figura 65 apresenta a elevação da
freática que ocorre após o aumento do nível do reservatório de 0,70m para 1,0 m. Sendo
as poropressões apresentadas referentes ao regime permanente que seria obtido se o fluxo
continuasse por um longo período sem que o modelo sofresse ruptura.

76
Figura 65 - Modelo com talude 1:1 (Elevação do NA do reservatório de 0,70m para 1,0m e dreno de
jusante mantido aberto)

A mesma situação ocorre para os modelos com taludes 2H:1V e 3H:1V para a
condição de regime permanente, apresentados nas Figura 66 e Figura 67, que seriam
obtidas se o fluxo continuasse por um longo período de tempo após o fechamento dos
drenos com NA à 1,0m. Também é exibida a transição gradual da linha freática, desde a
condição de regime permanente com dreno aberto, até a nova a condição permanente para
drenado fechado (linhas tracejadas).

Figura 66 -Modelo com talude 2:1 (Bloqueio do dreno de jusante com NA do reservatório mantido em
1,0m)

Figura 67 - Modelo com talude 3:1 (Bloqueio do dreno de jusante com NA do reservatório mantido em
1,0m)

77
4.5.3 ANÁLISE DE ESTABILIDADE - CONDIÇÃO INICIAL

As análises de estabilidade foram realizadas por Equilíbrio Limite com o software


SLOPE/W (2D) da Geostudio, sendo os resultados dessas análises baseados na linha
freática definida pelas redes de fluxo de regime permanente antes da elevação dos níveis
freáticos destinada a provocar rupturas.

A análise inicial se faz necessária para garantir uma condição estável, de modo a
se obter o maior grau de saturação possível no rejeito e iniciar os procedimentos de leitura
de dados e aquisição de parâmetros. A Figura 68, Figura 69 e Figura 70 apresentam as
superfícies críticas de cada modelo em vermelho.

78
Figura 68 - Modelo com talude 1:1 (NA= 0,70m do reservatório e dreno de jusante aberto, em condição
de regime permanente)

Figura 69 - Modelo com talude 2:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto, em condição
de regime permanente)

Figura 70 - Modelo com talude 3:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno de jusante aberto, em condição
de regime permanente)

Através do resultado das análises foi possível observar que uma parcela
significativa da superfície crítica do modelo 1H:1V encontrava-se acima da linha freática,
o que dificulta a ocorrência de liquefação, devido a baixa saturação dessa região. Uma
solução para isso seria manter o talude de jusante parcialmente submerso durante a fase

79
de saturação do rejeito para, em seguida, promover um rebaixamento rápido da água a
jusante, entretanto não foi possível aplicar esta solução pois a caixa ainda não contava
com uma parede frontal estanque.

Os modelos 2H:1V e 3H:1V apresentaram um maior volume do modelo abaixo


da linha freática, o que favorece a saturação do modelo. Tendo em vista a impossibilidade
de submergir o modelo e consequentemente sua baixa saturação, a geometria 1H:1V foi
prevista apenas para testes preliminares no programa de ensaios.

4.5.4 ANÁLISE DE ESTABILIDADE - CONDIÇÃO INSTÁVEL

As análises apresentadas a seguir, representam uma condição fictícia obtida pela


análise de equilíbrio limite para a condição última do regime transiente, que é igual ao
regime permanente que se estabeleceria muito tempo após a alteração da freática. O
objetivo foi provocar a ruptura do talude a fim de criar um gatilho para a obtenção da
liquefação estática. A Figura 72, Figura 73 e Figura 73 apresentam na cor vermelha as
regiões nas quais localizam-se superfícies com FS menor ou igual a 1.

Linha freática

Superfície crítica - FS = 0,85

Figura 71 - Modelo com talude 1:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno aberta, na última condição de
regime transiente)

Linha freática

Superfície crítica - FS = 0,61

Figura 72 - Modelo com talude 2:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno bloqueado, na última condição
de regime transiente)

80
Linha freática

Superfície crítica – FS = 0,99

Figura 73 - Modelo com talude 3:1 (NA= 1,00m do reservatório e dreno bloqueado, na última condição
de regime transiente)

Os resultados das análises de estabilidade conduzidas após a elevação do nível da


água indicam uma redução no Fator de Segurança (FS) para as superfícies críticas, com
especial ênfase no caso do modelo 2H:1, que obteve o menor FS.

O modelo com uma inclinação de 3H:1V exibiu o maior valor de FS. Ainda que
esse modelo apresente um FS inferior a 1,0, o mesmo é caracterizado por uma superfície
de ruptura rasa, atribuída principalmente à ausência de coesão do material. A solução para
obter um menor FS no modelo 3H:1V, seria a aplicação de sobrecarga na crista do modelo
ou deslocamentos na sua base.

No âmbito desta pesquisa, o propósito consiste em atingir a liquefação estática


por meio de uma ruptura em profundidade. Esse intento demanda a obtenção de um Fator
de Segurança menor o possível em relação à estabilidade do modelo. Como consequência
desses objetivos, a inclusão da configuração com declividade de 3H:1V no programa de
ensaios foi considerada inviável.

Com o intuito de aprofundar a compreensão do comportamento do modelo, a


Figura 74 exibe a progressão do Fator de Segurança (FS) ao longo do tempo após o
bloqueio da drenagem. É perceptível a redução abrupta do FS ao se efetuar o bloqueio da
drenagem no modelo 1H:1V e 3H:1V, obtendo um FS menor que 1,0 em segundos, sendo
a ruptura ocasionada pela alteração das poropressões oriundas da elevação do nível de
água e mudança no sentido do fluxo na base do modelo.

Além disso, é possível determinar o momento em que o modelo alcança um FS


igual a 1,0. Divergências entre os tempos de ruptura do modelo numérico e do modelo
físico podem sugerir condições de contorno ou parâmetros geotécnicos discrepantes.

81
FS x Tempo
1,6

1,4
Fator de Segurança

Talude 1H:1V
1,2 Talude 2H:1V
Talude 3H:1V
1

0,8

0,6
0 50 100 150 200
Tempo (seg)

Figura 74 - Evolução do FS x Tempo após o bloqueio da drenagem

4.5.5 RESUMO DOS ENSAIOS EFETIVAMENTE REALIZADOS

Com base nas análises de fluxo e estabilidade foi determinada a geometria a ser
ensaiada, optando-se pelo modelo com talude 2H:1V, contudo devido ao esforço e
desgaste associados à construção do modelo em escala reduzida (1g), considerou-se
viável realizar um ensaio preliminar com talude 1H:1V. Tal escolha fundamentou-se na
redução do volume de material a ser transportado e compactado, o que resultou em uma
abordagem mais prática e menos onerosa para a equipe de trabalho.

O propósito deste ensaio preliminar consistiu em realizar a familiarização do


operador com o sistema de controle e aquisição de dados da caixa de ensaio. Além disso,
possibilitou avaliar o funcionamento dos periféricos (bombas e drenos) e a transmissão
de dados à central de aquisição provenientes dos instrumentos de medição, tais como os
piezômetros.

Posteriormente, foi estabelecido a abordagem dos ensaios a serem conduzidos no


modelo com inclinação de 2H:1V. O programa de ensaios planejados para esta pesquisa
é apresentado na Tabela 16.

82
Tabela 16 - Programa de ensaios

Geometria Descrição do Ensaio


Objetivo
- Teste de válvulas e bombas;

- Teste dos instrumentos;


Ensaio preliminar de avaliação da
1H:V
caixa de ensaio. - Treinamento de operação;
- Identificar caminhos
preferenciais de fluxo.
- Obter um elevado grau de
saturação do modelo;
Elevação do NA do reservatório para
1,0 m. - Identificar a vazão sobre
regime permanente.
- Efetuar o bloqueio da
drenagem simulando uma falha

2H:1V Ensaio de variação da tensão efetiva. de drenagem, que venham a


ocasionar elevação nos níveis de
poropressão.
- Efetuar uma aplicação de
sobrecarga na crista,
Ensaio de variação da tensão total.
aumentando os níveis de tensão
sobre o modelo.

4.6 METODOLOGIA DOS ENSAIOS NA CAIXA 1g

Este item tem o propósito de descrever os procedimentos adotados para a


construção do modelo, oferecendo um guia sistemático e compreensível para a condução
da pesquisa. Essa abordagem visa facilitar a compreensão, replicação e avaliação
consistente do estudo.

4.6.1 PREPARO DA CAIXA DE ENSAIO

83
O preparo da caixa de ensaio pode ser divido em etapas, conforme listado abaixo:

1. Avaliação estrutural da caixa de ensaio:

A avaliação consiste em uma inspeção visual da caixa de ensaio, visando


identificar possíveis falhas de montagem, em particular relacionadas à instalação dos
painéis de acrílico e aos drenos internos. É imperativo que os painéis de acrílico
sejam adequadamente fixados à estrutura e apresentem um alinhamento perfeito com
a estrutura metálica, a fim de evitar a formação de pequenas saliências nas laterais
da caixa. As folgas existentes entre a estrutura da caixa e os painéis de acrílico,
conforme previstas no projeto, devem ser preenchidas com silicone, a fim de garantir
uma vedação eficiente da caixa de ensaio.

A inspeção abrange também o reservatório interno e os drenos internos


localizados no piso da caixa de ensaio, com o intuito de avaliar suas conexões e
garantir a montagem correta (Figura 75). As mangueiras devem ser conectadas às
válvulas solenoides correspondentes, a fim de assegurar o funcionamento adequado
do sistema de controle e acionamento das bombas e válvulas.

Figura 75 - Verificação de conexões das mangueiras de água e gás dos drenos internos

Por fim, como parte da avaliação estrutural, foi conduzido um teste de


estanqueidade com o propósito de identificar quaisquer falhas na montagem da caixa
de ensaio. Esse teste envolve a elevação do nível de água no interior da caixa de
ensaio até uma altura de um metro, mantendo-se tal nível por um período de 24 horas.

84
Figura 76 - Teste de estanqueidade

No teste de estanqueidade foram observadas deficiências significativas na


vedação da caixa de ensaio, evidenciadas pela detecção de vazamentos em vários
pontos quando submetida a uma coluna de água de 40 cm, os quais poderiam
comprometer o correto fluxo hidrodinâmico do modelo, conforme ilustrado na
Figura 76, no entanto com o propósito de aprimorar a caixa de ensaio e identificar
outras áreas passíveis de melhoria, o projeto prosseguiu sem resolver os vazamentos
num primeiro momento, por causa das dificuldades de prazo.

2. Avaliação de componentes periféricos;

Os componentes periféricos do sistema da caixa de ensaio consistem em uma


combinação de bombas e válvulas que são controladas pela central de controle e
automação. O sistema de bombeamento é composto por uma bomba centrífuga
(Figura 77) e uma bomba autoaspirante (Figura 78). A função da bomba centrífuga
é realizar a injeção de água no reservatório interno da caixa de ensaio, enquanto a
bomba autoaspirante é responsável pelo acionamento do sistema de drenagem
interno da caixa.

Figura 77 - Bomba centrífuga

85
Figura 78 - Bomba autoaspirante e conjunto de válvulas solenoide

No caso particular da bomba centrífuga, que desempenha a função de injetar água


no reservatório interno, foi necessário avaliar sua capacidade de manter um nível de
água constante dentro do reservatório. Após realizar o teste do conjunto composto
pela central de comando e a bomba, verificou-se que o referido conjunto possui a
capacidade de estabelecer o nível de água do reservatório com uma variação de ± 2
cm.

Com relação ao conjunto de válvulas, o seu funcionamento foi avaliado através


da central de comando com a abertura e fechamento das válvulas que controlam o
fluxo de água ou gás para a caixa de ensaio.

3. Instalação de geotêxtil;

O ensaio realizado utilizou o geotêxtil modelo RT14, fabricado pela marca Bidim
Wavin (Mexichem Brasil) e especificações técnicas disponíveis no catálogo do
fabricante. A seleção deste geotêxtil, bem como seu dimensionamento, foram
determinados com o propósito de filtrar o rejeito em estudo atendendo os critérios
de retenção (GALVIS, 2016) e permeabilidade (GIROUD et al., 2002).

Para atender o critério de retenção em geotêxtil não tecido, a inequação AOS <
1,8 x D85 é aplicada com os dados da curva granulométrica do rejeito, resultando
numa AOS < 3,1mm. Como O geotêxtil RT14 possui uma abertura aparente (AOS)
igual a 0,21mm, esse critério é atendido.

86
Com relação ao critério de permeabilidade, a permeabilidade do filtro deve
atender a seguinte equação kf ≥ is. ks (is = gradiente hidráulico do solo; ks =
Permeabilidade do solo). Como a permeabilidade do rejeito é igual a 8,84 · 10-6 m/s e
adotando um gradiente hidráulico no modelo menor ou igual a 1, então a
permeabilidade do filtro deve ser maior que 8,84 · 10-6 m/s. Sendo a permeabilidade
do geotêxtil RT14 igual a 0,39 · 10-2 m/s, esse critério é atendido.

O material foi gentilmente fornecido pela empresa Geomaks em um rolo com


dimensões de 4,60m de largura por 1,50m de comprimento, sem custos adicionais,
como parte de uma parceria com o Laboratório de Geotecnia da COPPE, e com o
intuito de incentivar e apoiar a pesquisa. Devido às suas dimensões, o rolo foi
dividido em quatro partes de 1,15m cada, a fim de facilitar o transporte e manuseio,
conforme ilustrado na Figura 79.

Figura 79 - Rolos de Geotêxtil com 1,15m de largura

A fixação do geotêxtil ocorreu por meio da aplicação de cola de contato em toda


a extensão dos drenos. A Figura 80 apresenta uma comparação visual antes e depois
da fixação do geotêxtil. Após a conclusão do ensaio, o geotêxtil utilizado foi
descartado, e a superfície dos drenos foi completamente limpa utilizando um
solvente apropriado. A Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos
(FISPQ) utilizados está disponível no Anexo H.

87
(a) (b)

Figura 80 - Imagem da caixa de ensaio (a) sem geotêxtil (b) com geotêxtil

4. Instalação de instrumentos;

Antes de iniciar o processo de compactação do rejeito, foram fixados os


instrumentos conforme o plano de instrumentação para a cota zero. A Figura 81
apresenta a instalação de três piezômetros elétricos, duas bases de fixação do
inclinômetro e um Air Hammer definidos pelo plano de instrumentação.

Figura 81 - Instalação de piezômetros, Air Hammer e base do inclinômetro

88
Uma descrição detalhada das instalações, específica para cada instrumento, será
abordada de forma mais aprofundada mais adiante.

4.6.2 RESUMO DA DISPOSIÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO

O plano de instrumentação do modelo inclui a instalação de um conjunto


composto por três piezômetros elétricos, sete acelerômetros, um inclinômetro, um air
hammer e três câmeras para o PIV. A localização de cada instrumento pode ser
identificada no mapa de localização apresentado na Figura 82, específica para modelos
cuja a inclinação do talude é de 1V:2H. Os instrumentos localizados na base do modelo
foram instalados antes do início da compactação, enquanto os demais foram instalados
durante a própria construção do modelo.

Figura 82 - Mapa de localização dos instrumentos

Piezômetros
Para os piezômetros elétricos, a posição indicada pelo fabricante é a vertical, mas
para evitar que o instrumento fosse danificado pela energia de compactação aplicada ao

89
rejeito ou que sua instalação afetasse o comportamento do modelo, o mesmo foi instalado
na horizontal, conforme Figura 83.
O processo de saturação da pedra porosa dos piezômetros elétricos foi executado
antes da instalação no fundo da caixa de ensaio, porém existe o tempo de construção do
modelo que pode variar de 2 a 4 dias até que o piezômetro seja submetido a uma condição
freática, que impeça a perda de saturação da pedra porosa. Dessa forma, o instrumento na
posição horizontal, favorecerá a dissipação de bolhas de ar oclusas no interior do
instrumento. Importante ressaltar, que a utilização do instrumento na horizontal não é
uma condição validada pelo fabricante, então testes de laboratório adicionais devem
validar essa os dados fornecidos pelo instrumento em futuros projetos.
A instalação dos piezômetros foi executada antes de iniciar a construção do
modelo, de forma a garantir que todos os piezômetros pudessem ser instalados na mesma
cota.

PZ1

PZ2

PZ3

Figura 83 - Instalação de piezômetros

Para o modelo com geometria 1V:2H, o piezômetro 01 (ID 3500) foi instalado a
70cm do reservatório, o piezômetro 02 (ID3501) foi instalado a 130cm do reservatório e
o piezômetro 03 (ID 3502) a 192cm do reservatório de montante. Especificamente para o
PZ3, independente da geometria adotada (1V:1H, 1V:2H ou 1V:3H), o mesmo deve ser
posicionado preferivelmente no limite do dreno mais à jusante em operação durante o
ensaio, com a finalidade de identificar o instante no qual a condição drenagem “aberta” é
alterada para condição drenagem “bloqueada”. Os demais piezômetros podem ser

90
redistribuídos de acordo com a geometria do modelo em estudo, conforme ilustrado na
Figura 84.

1H:1V 2H:1V 3H:1V

Figura 84 - Posição do PZ3 para identificar a configuração drenagem "bloqueada" para geometria 1H:1V,
2H:1V e 3H:1V.

Acelerômetro
Os acelerômetros foram instalados conforme o mapa de localização da Figura 82.
Sua instalação no modelo ocorre após a execução da camada de compactação
correspondente nas cotas e posições pré-definidas, como visto na Figura 85. Um detalhe
do acelerômetro é apresentado na Figura 86, porém é importante frisar que, antes da
instalação no modelo, o acelerômetro foi impermeabilizado com resina epóxi, para isolá-
lo do contato com a água, não sendo possível visualizar na figura esse procedimento.

Figura 85- Instalação de acelerômetros

91
Figura 86- Acelerômetro e cabo blindado

Durante o processo de instalação dos acelerômetros não foi possível efetuar os


testes de calibração e nivelamento dos instrumentos, pois a central de aquisição de dados
necessitava de ajustes no módulo de aquisição dos sinais dos acelerômetros. Mesmo
assim, os dados que foram obtidos durante os ensaios, após habilitado o módulo de
aquisição, serão apresentados para agregar conhecimento para os próximos ensaios.

Inclinômetro

Para a instalação do inclinômetro primeiramente foi necessário a fixação de uma


base que irá funcionar como um engaste para tomada de leituras de deformação do
modelo pelo sensor de fibra ótica. Essa base de nylon foi desenvolvida e impressa com
impressora 3D no laboratório de Geotecnia da COPPE. A Figura 87a ilustra a parte interna
do suporte com inclinações suaves que favorecem o encaixe do inclinômetro. Para evitar
que o rejeito penetrasse na cavidade de instalação do inclinômetro, a base foi produzida
com uma película protetora de nylon na parte superior da base. Essa película foi perfurada
pelo furo guia antes da instalação do inclinômetro, conforme ilustrado pela Figura 87b.

O furo guia foi executado após a construção do modelo, em que uma barra
metálica chata foi cravada através da sua superfície até a base de nylon com o auxílio de
um martelo. Em seguida a barra foi retirada, e o instrumento instalado no modelo.

92
(a) (b)

Figura 87 - Base de Nylon impressa para engaste do inclinômetro (a) sem película (b) com película e
perfurada

A aquisição de dados no inclinômetro ocorreu através da utilização de um


interrogador cedido pelo LIF - Laboratório de Instrumentação e Fotônica da UFRJ,
devido às limitações da central de aquisição de dados, contudo o interrogador foi
conectado a um computador independente, que por sua vez estava sincronizado com a
central de aquisição e controle do ensaio para a correta interpretação dos dados coletados.
As Figura 88 e Figura 89 ilustram a coleta de dados e a posição da instalação do
instrumento no modelo 1V:2H.

Figura 88 - Software de aquisição de dados e interrogador

93
Figura 89 - Inclinômetro de fibra ótica

Air Hammer

O Air Hammer foi instalado a 30 cm do reservatório, no fundo da caixa de ensaio,


alinhado com a coluna de acelerômetros, conforme ilustrado na Figura 82. A instalação
foi feita antes de iniciar a compactação do rejeito e com as mangueiras de alimentação
fixadas na lateral caixa de ensaio até serem conectadas ao sistema pneumático.

A ativação do Air Hammer foi realizada manualmente por meio de uma


válvula de dupla ação, a qual era alimentada por um regulador de pressão instalado em
um cilindro de CO2. Do dispositivo de válvula, duas mangueiras são conectadas às
extremidades do Air Hammer, que era responsável por gerar a onda cisalhante, conforme
ilustrado na Figura 90. Dessa forma, um pulso com uma frequência pré-definida pode ser
aplicado ao Air Hammer, que será captado pelos acelerômetros instalados em diversos
pontos do modelo.

Figura 90 - Válvula de dupla ação para acionamento do Air Hammer

94
PIV (Velocimetria por imagem de partículas)

O sistema de monitoramento por PIV trabalha através da identificação do


deslocamento de partículas, desse modo é preciso que exista um contraste entre elas. Por
esse motivo, foram injetados filetes de areia branca nas janelas em que as imagens
estavam sendo capturadas pelas três câmeras instaladas, assim o deslocamento poderia
ser computado pelo programa de processamento, conforme ilustrado na Figura 91.

Câmera 01

Câmera 03
Câmera 02

Figura 91 - Injeção de areia para contraste de imagem

Com o objetivo de sincronizar as imagens obtidas com a central de aquisição de


dados foi realizada a instalação de relógios digitais devidamente sincronizados com
resolução de segundos, conforme ilustrado na Figura 92.

Figura 92 - Instalação de relógio digitais para sincronizar imagens com a central de aquisição de dados.

95
Executada a instalação das câmeras e iniciado o ensaio não era possível manuseá-
las novamente, para que não ocorresse a perda da referência inicial do enquadramento da
imagem. Dessa forma as câmeras eram acionadas via Wi-fi e a área ao redor da caixa de
ensaio isolada, para evitar qualquer deslocamento acidental das câmeras.

4.6.3 COMPACTAÇÃO DO REJEITO

Similar à compactação na caixa teste, a construção do modelo com altura de 1m


foi subdividida em cinco etapas de compactação com alturas de 20cm cada, e então
executado a compactação como definida pelos ensaios na caixa teste.

No ensaio da caixa teste foi fixado um valor de 98 golpes por camada para uma
área de 1,15m². Como o objetivo inicial deste trabalho era construir modelos com as
geometrias de 1H:1V, 2H:1V ou 3H:1V, concluiu-se que cada camada teria um número
proporcional de golpes de acordo com a geometria adotada. Essa relação de golpes por
camada para cada geometria, considerando uma crista de 60cm, pode ser visualizada na
Tabela 17.

Tabela 17 - Relação de golpes por geometria


Geometria Camadas Área (m²) Nº Golpes
1º 1,60 136
2º 1,40 119
1H:1V 3º 1,20 102
4º 1,00 85
5º 0,80 68
1º 2,60 222
2º 2,20 187
2H:1V 3º 1,80 153
4º 1,40 119
5º 1,00 85
1º 3,60 307
2º 3,00 256
3H:1V 3º 2,40 205
4º 1,80 153
5º 1,20 102
A montagem dos anteparos seguiu a sequência de compactação, conforme
ilustrado na Figura 93. A utilização de anteparos permite o alteamento seguindo a
geometria do talude adotada. Um primeiro anteparo (Figura 93a) foi colocado para a

96
compactação da primeira camada de rejeito sobre o geotêxtil. Após executada a
compactação desta camada a superfície foi escarificada para receber a camada
subsequente

Figura 93 - Sequência de montagem dos anteparos

Um segundo anteparo foi colocado de modo a possibilitar a compactação da


segunda camada de rejeito (Figura 93b). A sequência de execução foi repetida até a quinta
camada, conforme ilustrado na Figura 93c, Figura 93d e Figura 93e, atentando-se para a
instrumentação posicionada ao longo da montagem do modelo.

A fixação dos anteparos (ou barreiras de compactação) foi executada através do


travamento dos apoios superiores nos trilhos de suporte. A fim de aumentar a rigidez do
anteparo, foram instalados eletroímãs no anteparo mais à jusante, com a função de fixá-
lo à base da caixa de ensaio. Por fim, conforme se executa a sequência de montagem das
barreiras são instaladas barras metálicas adicionais interligando as barreiras, com o
objetivo de minimizar deslocamentos horizontais ocasionados pelo processo de
compactação, conforme ilustrado na Figura 94.

97
Figura 94 - Barreiras de compactação

Finalizada a etapa de compactação os anteparos foram removidos (Figura 93f),


para que o corte do talude fosse executado para obtenção da geometria final (Figura 93g).

4.6.4 SATURAÇÃO UTILIZANDO CO 2

Finalizada a construção do modelo, se inicia o processo de saturação com CO 2 de


através dos drenos da caixa de ensaio. O processo da saturação ocorre devido ao gás CO2
ser mais pesado que o ar comum, que é expulso dos vazios durante o fluxo. Ao saturar o
modelo com água, o CO2 é adsorvido dos vazios facilmente, que passa a ser totalmente
preenchidos por água, aumentando assim a saturação do modelo (Torisu et al., 2010).

Para iniciar o processo de percolação CO2, primeiramente foi necessário conhecer


o volume de vazios do modelo. Neste trabalho, foi adotado índice de vazios igual 0,92 e
consequentemente uma porosidade igual 0,48. Desta forma, foi possível estimar o volume
de CO2 a ser percolado pelo modelo de acordo com a geometria adotada, sendo adotado

98
uma percolação gás de aproximadamente três vezes o volume de vazios do modelo. A
Tabela 18 relaciona a geometria do modelo com o volume e o peso equivalente de CO2 a
ser percolado. A conversão de volume de gás em peso, se deve a maior facilidade de
controlar a vazão de gás pela variação do peso do cilindro de armazenamento de gás.

Tabela 18 - Relação de volume de gás e geometria do modelo adotada.


Volume de Volume de CO2 Peso de CO2
Geometria
vazios (m³) adotado (m³) (Kg)
1H:1V 0,53 1,6 3,1
2H:1V 0,77 2,3 4,5
3H:1V 1,00 3,0 5,9
Definido o volume de gás a ser utilizado, foi estimado o volume de gás a ser
percolado por dreno de acordo com a sua área de influência. Para o modelo 3H:1V, por
exemplo, o volume de gás a ser percolado foi divido em quatro frações proporcionais à
sua área de influência, sendo o dreno 1 o que possui a maior área de influência e o dreno
4 a menor área de influência, conforme ilustrado Figura 95.

Figura 95 - Área de influência dos drenos para geometria 3H:1V.

Em seguida, se estabelece uma sequência de abertura de válvulas com o propósito


de esgotar o volume de gás estimado a percolar através de cada dreno até alcançar a
configuração na qual todos os drenos estejam abertos. A representação dessa sequência é
apresentada abaixo:

1º Dreno 1 (Aberto) - Dreno 2 (Fechado) – Dreno 3 (Fechado) – Dreno 4 (Fechado)


2º Dreno 1 (Aberto) - Dreno 2 (Aberto) – Dreno 3 (Fechado) – Dreno 4 (Fechado)
3º Dreno 1 (Aberto) - Dreno 2 (Aberto) – Dreno 3 (Aberto) – Dreno 4 (Fechado)
4º Dreno 1 (Aberto) - Dreno 2 (Aberto) – Dreno 3 (Aberto) – Dreno 4 (Aberto)

99
Por último foi adotado uma vazão de CO2 de 10L/min ou 20gramas/min, baseado
em estudos de saturação em amostras destinadas à ensaios triaxiais (BRADSHAW e
BAXTER, 2007). O controle de vazão foi efetuado por intermédio de um regulador de
pressão acoplado ao cilindro de CO2 e uma balança digital instalada sob o cilindro de
CO2, conforme ilustrado pela Figura 96.

Figura 96 - Instalação do regulador de pressão e balança digital para controle de vazão.

4.6.5 EXECUÇÃO DO ENSAIO

A partir deste ponto, se deu início ao ensaio em si, simulando os gatilhos de


liquefação propostos no programa de ensaio. Um check-list foi elaborado para que as
verificações fundamentais do ensaio fossem efetuadas antes de iniciar o ensaio
propriamente dito, conforme listado abaixo:

I. SISTEMA DE CONTROLE
1) Verificação do sistema de acionamento de bombas;
2) Verificação do sistema de acionamento válvulas de gás e água;

100
3) Verificação do sistema de controle de nível do reservatório interno e
externo;

II. SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS


1) Verificar se todos os instrumentos disponíveis foram instalados
(Piezômetros, Acelerômetros e sensores a laser);
2) Verificação da faixa de ruído dos acelerômetros;
3) Verificação de tomada de dados dos instrumentos;
4) Salvar e anotar em local visível tomada inicial de dados dos instrumentos;
5) Executar teste de salvamento de dados e verificar arquivos de registro.

III. SISTEMA PIV


1) Verificar a configuração e conectividade das câmeras;
2) Efetuar o enquadramento das câmeras;
3) Executar a instalação do sistema de iluminação auxiliar;
4) Avaliar pontos de reflexo e ajustar sistema de iluminação;
5) Sincronizar horário dos relógios auxiliares com o sistema de aquisição de
dados;
6) Instalar câmeras auxiliares para uma vista frontal e lateral do modelo.

IV. MODELO
1) Adicionar pontos de referência nas janelas de acrílico para
acompanhamento visual do ensaio;
2) Coletar amostras para verificação do teor de umidade antes, durante e após
o ensaio;

V. EXECUÇÃO DO ENSAIO
1) Verificação da taxa aquisição inicial de dados (1Hz);
2) Iniciar a gravação de dados;
3) Efetuar a elevação do NA do reservatório conforme proposta do ensaio;
4) Aguardar a estabilização das poropressões;
5) Tomar leituras manuais de vazão;
6) Salvar dados;
7) Alterar taxa de aquisição de dados para (100Hz);

101
8) Iniciar a gravação de dados em um novo arquivo;
9) Acionar o gatilho para liquefação (Bloqueio da drenagem ou sobrecarga);
10) Aguardar a ruptura do modelo;
11) Salvar dados e encerrar o ensaio.

4.7 COMENTÁRIOS FINAIS

Uma caixa teste, com proporções semelhantes à caixa de ensaio, foi utilizada para
definir a metodologia de compactação a ser replicada no ensaio principal. Ademais, os
resultados da compactação executada na caixa testem forneceram os parâmetros
necessários para calcular a energia de compactação a ser aplicada na caixa de ensaio
utilizando o compactador semiautomático. Este compactador foi desenvolvido
especificamente para a construção do modelo pelo método MMT, permitindo o ajuste da
altura de queda da massa de impacto e a quantidade de golpes para obter a energia
necessária e produzir um modelo com o índice de vazios predefinido, tornando o processo
replicável em outros ensaios.

O programa de ensaios foi definido com base em análises numéricas utilizando o


método do equilíbrio limite. Essas análises visaram identificar, inicialmente, a condição
mais crítica à qual o modelo poderia ser submetido, antes que sua ruptura desencadeasse
a liquefação do mesmo. Em última instância, foi proposto um gatilho para a ocorrência
da liquefação e, assim, foi delineado o programa de ensaios.

O plano de instrumentação foi concebido para distribuir os instrumentos ao longo


do modelo, de forma a obter o máximo de informações possível.

Quanto à caixa de ensaios, foram apresentadas suas funcionalidades e a


metodologia empregada para a construção do modelo. Essa caixa possui a capacidade de
reproduzir um reservatório de água em condições semelhantes às existentes em
protótipos, permitindo o controle do nível do reservatório, o que é fundamental para a
ativação de gatilhos de liquefações relacionados à redução das tensões efetivas. A
automação da caixa de ensaio possibilitou o acionamento do gatilho e a coleta de dados
em tempo real, viabilizando a realização de retroanálises com maior fidelidade aos
eventos observados.

102
CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta os resultados obtidos a partir do programa de ensaios


aplicado ao modelo 1g, contemplando análises de fluxo e de estabilidade com base nos
parâmetros obtidos durante a condução dos ensaios. Apresentam-se resultados de ensaios
em modelos com taludes 1H:1V e 2H:1V. Posteriormente, os resultados são submetidos
à discussão, onde se efetua uma comparação com os resultados previstos pelo modelo
numérico.

5.1 ENSAIO PRELIMINAR: MODELO 1H:1V

Este ensaio foi executado com o objetivo de identificar as dificuldades inerentes


à construção de um modelo e avaliar o funcionamento da central de comando e aquisição
de dados. O modelo 1H:1V foi escolhido devido ao seu menor volume e,
consequentemente, menor tempo de construção.

Para o ensaio preliminar modelo 1H:1V, tanto a operação da bomba quanto a


coleta de dados de piezometria foram efetuadas manualmente.

5.1.1 COMPACTAÇÃO E PARÂMETRO DE ESTADO

A construção do modelo foi feita através de carga de impacto içada manualmente


por meio de polia e cabo de aço.

Antes de proceder à etapa de compactação, foi conduzida a homogeneização do


rejeito acompanhada da retificação de seu teor de umidade. Empregando uma estufa,
amostras foram coletadas preliminarmente para determinação da umidade e avaliação da
quantidade precisa de água a ser incorporada para retificar o teor de umidade.
Subsequentemente, coletaram-se amostras para confirmação do teor de umidade almejado
de 13%. Em seguida, o rejeito foi separado em camadas de compactação, com o objetivo
de agilizar a etapa de compactação.

103
Após a fase de homogeneização do rejeito, procedeu-se à aplicação de uma manta
geotêxtil sobre toda a extensão da caixa de ensaio. No ensaio preliminar, a fixação da
manta geotêxtil foi realizada por meio da distribuição uniforme de grampos de aço
galvanizado em toda a área de aplicação, no entanto constatou-se que a utilização desses
grampos de aço resultava na formação de aberturas indesejadas no geotêxtil,
comprometendo assim a eficácia do processo de filtragem. Diante dessa observação,
optou-se, pela adoção de uma abordagem alternativa nos ensaios subsequentes, baseada
na aplicação de cola de contato.
A compactação foi executada utilizando o método MMT (Modified Moist
Tamping) para cinco camadas de compactação de 20 cm cada. Na Figura 97, Figura 98,
Figura 99, Figura 100, Figura 101 e Figura 102 são exibidas uma sequência de imagens
que demonstram o processo de compactação com o auxílio das barreiras de compactação
e a geometria final após o arrasamento da face do talude. Ao término do processo, um
total de 6 horas de labor foi expendido na construção do modelo, distribuídas em
aproximadamente 5 horas para a etapa de compactação e 1 hora para o processo de
arrasamento e obtenção da geometria definitiva.

Figura 97 - Correção da umidade e homogeneização do rejeito.

104
Figura 98 - Compactação da primeira camada.

Figura 99 - Ultima camada de compactação com o auxílio das barreiras de compactação.

105
Figura 100 - Face do talude após a remoção das barreiras.

Figura 101 – Processo de arrasamento manual da face do talude (estágio intermediário).

106
Figura 102 - Geometria final (Modelo 1H:1V)

O índice de vazios a ser atingido era de 0,92 e com parâmetro de estado igual a
zero. Após a determinação da densidade do modelo, foi obtido um índice de vazios igual
a 0,96, conforme demonstrado na Tabela 19.

Tabela 19 - Dados de construção do modelo 1H:1V

Volume do Massa Umidade de


𝝆𝒏 (𝒈⁄𝒄𝒎³) 𝒆𝟎 ψ
modelo (m³) (Kg) compactação (%)

1,10 1.810,2 10,5 1,65 0,96 0,04

Os resultados apresentados indicam uma diminuição no teor de umidade durante


a etapa de compactação, a qual pode ser atribuída às condições climáticas de calor
prevalecentes na região. Um outro aspecto relevante consiste na constatação de que o
modelo em questão alcançou uma densidade inferior àquela estabelecida como objetivo,
contudo é de salientar que foi obtido um parâmetro de estado de 0,04, denotando
características com propensão à contração e suscetibilidade à liquefação.

107
5.1.2 ANÁLISE DOS PARÂMETROS OBTIDOS PELA INSTRUMENTAÇÃO

No modelo de inclinação 1H:1V, foram dispostos dois piezômetros posicionados


na cota zero. O primeiro piezômetro, PZ1, foi instalado a uma distância de 40 cm em
relação ao reservatório, enquanto o segundo, PZ2, foi posicionado a 1,0 m do reservatório,
como representado na Figura 103.

Figura 103 - Posição dos piezômetros para o modelo 1H:1V.

Inicialmente se estabeleceu o NA do reservatório em 70cm até a estabilização das


leituras obtidas pelos piezômetros, e então definiu-se o instante zero para o início do
ensaio. Posteriormente, efetuou-se a elevação do NA do reservatório para 95 cm e a coleta
dos dados. O resumo dos dados pode ser visto na Tabela 20 e ilustrado na Figura 104.

Tabela 20 - Resultado dos dados de piezometria.


NA (cm) Tempo PZ1 (kPa) hp - PZ1(m) H1 (m) PZ2 (kPa) hp - PZ2(m) H2 (m)
70 ± 5 0 3.91 0.40 0.50 0.92 0.09 0.12
95 ± 5 0:05:12 4.24 0.43 0.58 0.98 0.10 0.13
95 ± 5 0:15:05 4.87 0.50 0.66 1.10 0.11 0.15
95 ± 5 0:18:40 4.94 0.50 0.67 1.14 0.12 0.16
95 ± 5 0:34:00 4.89 0.50 0.67 1.37 0.14 0.19
95 ± 5 0:38:19 4.94 0.50 0.67 1.41 0.14 0.19
95 ± 5 0:48:20 5.04 0.51 0.69 1.47 0.15 0.20
95 ± 5 0:57:38 5.19 0.53 0.71 1.52 0.15 0.21
95 ± 5 1:13:06 5.38 0.55 0.73 1.63 0.17 0.22
95 ± 5 1:38:15 5.38 0.55 0.73 1.71 0.17 0.23

108
CARGA PIEZOMÉTRICA - MODELO 1H:1V
Carga pizométrica (kPa) 6,00

5,00

4,00
PZ1
3,00 PZ2

2,00

1,00

0,00
0:00:00 0:30:00 1:00:00 1:30:00 2:00:01
Tempo de ensaio (hh:mm:ss)

Figura 104 - Dados dos piezômetros (Modelo 1H:1V)

Devido a impossibilidade de instalar um medidor de nível de água no modelo


reduzido, as alturas do NA (H1 e H2), correspondentes à posição dos piezômetros, foram
estimadas utilizando os dados de piezometria. Para essa estimativa adotou-se uma
inclinação de 30° em relação à horizontal da linha freática para a posição dos dois
piezômetros.

Durante o processo de elevação do NA do reservatório, ocorreu o seu galgamento,


gerando um sulco de erosão na face do talude, conforme ilustrado na Figura 105. Apesar
deste imprevisto, o ensaio teve continuidade para obtenção de melhorias para ensaios
subsequentes.

(a) (b)

Figura 105 – (a) Processo de galgamento; (b) Erosão causada pelo galgamento do modelo 1H:1V

Nas análises que identificaram a condição instável do modelo 1H:1V,


apresentadas no item 4.5.4, a elevação do NA do reservatório para 1,0 m ocasionaria a

109
ruptura do modelo. No cenário do modelo físico, admitindo um NA do reservatório igual
a 0,95 m, a ruptura do modelo ocorre, conforme ilustrado na Figura 106.

Na Figura 106a apresenta uma vista frontal da ruptura, com feições possivelmente
influenciadas por efeitos de borda. Já na Figura 106b é exibida uma vista lateral do
modelo, na qual é possível identificar a superfície de ruptura. Para facilitar a visualização
do material envolvido no escorregamento foi adicionado um sombreamento em verde.

(a) (b)

Figura 106 - Superfície de ruptura modelo físico (a) Vista frontal (b) Vista lateral com destaque para a
superfície de ruptura.

Com base nos dados de piezometria, e após a identificação da superfície de


ruptura, realizou-se a retroanálise do modelo com talude 1H:1V, conforme será
apresentado nos itens subsequentes.

5.1.3 ANÁLISE DE FLUXO

A análise do fluxo no contexto do modelo físico se fundamenta na utilização dos


dados de piezometria apresentados na Tabela 20. Ao se executar a retroanálise do modelo
físico, adotou-se a condição última do ensaio para compatibilização do modelo numérico.
Consequentemente, para a posição PZ1, estabeleceu-se um nível d'água (NA) de
H1=0,73m, enquanto que para a posição PZ2 atribuiu-se um NA de H2=0,23m.

Adicionalmente às medições obtidas dos piezômetros, outras duas condições de


contorno foram definidas: nível de água no reservatório fixado em 0,95 metros, e a linha
freática que aflora no pé do talude. A última condição é embasada nas manifestações de
surgência identificadas na base do talude, conforme evidenciado na Figura 107, definido

110
então a linha freática a ser utilizada na análise de estabilidade, conforme ilustrado na
Figura 108.

Figura 107 - Surgência no pé do talude do modelo 1H:1V.

Figura 108 - Definição da linha freática para análise de estabilidade.

A linha freática do modelo físico (cor azul) se encontra em uma região um pouco
abaixo da linha freática do modelo numérico (cor vermelha), conforme ilustrado na Figura
109. Em outras palavras as poropressões medidas foram inferiores ao previsto no modelo
numérico de fluxo. A falta de aderência entre a linha freática do modelo numérico e do
modelo físico pode ser justificada pela falta de estanqueidade na base da caixa de ensaio
que afetou a rede de fluxo.
111
Figura 109 - Linha freática Modelo numérico (cor vermelha) e linha freática do Modelo físico (cor azul)

5.1.4 ANÁLISE DE ESTABILIDADE

Para a análise de estabilidade foi adotado o peso específico saturado do rejeito


igual a 19,5kN/m², com base no valor do índice de vazios obtido após o processo de
compactação.

A análise de estabilidade requereu também que fosse identificada a posição em


relação à crista do talude onde a ruptura do talude se inicia, conforme ilustrado na Figura
110. Essa distância foi utilizada no modelo numérico para limitar a superfície de pesquisa,
com o objetivo de obter no modelo numérico uma superfície de ruptura similar à
superfície de ruptura identificada na Figura 106b.

Figura 110 - Distância entre a crista do talude e o material não mobilizado

112
A Figura 111 exibe a retroanálise baseada na análise de fluxo, com a superfície de
ruptura pintada de branco e um FS igual a 1,0, mas sem indicativo de liquefação.
Acredita-se que a liquefação foi impedida porque a superfície de ruptura atingiu uma
região não saturada do modelo físico. A Figura 111 mostra que apenas uma pequena
parcela da massa de rejeito escorregado estava localizada abaixo do nível d’água.

Figura 111 - Análise de estabilidade empregando rede de fluxo obtida no modelo físico.

5.2 ENSAIO NO MODELO 2H:1V

O ensaio com modelo de geometria 2H:1V seguiu uma metodologia semelhante


ao modelo com talude 1H:1V.

O ensaio foi conduzido usando um compactador semiautomático para elevar a


carga de impacto e aplicar o número predeterminado de golpes, além de um sistema
operacional de controle e aquisição de dados.

O experimento foi realizado dentro de um contexto de tempo limitado


estabelecido pelos termos contratuais associados ao projeto. Para este ensaio, foi
designado um período de duas semanas, durante o qual deveriam ser realizados os testes
de validação do compactador semiautomático, da central de controle e aquisição de dados,
bem como dos instrumentos envolvidos.

113
5.2.1 COMPACTAÇÃO E PARÂMETRO DE ESTADO

Para a execução compactação do modelo 2H:1V foi efetuada a correção da


umidade do rejeito para aproximadamente 13%, e o material reservado em sacos de
plástico para evitar perda de umidade, e separados por camadas de compactação.

Na sequência se executou a instalação do geotêxtil, fixado com a utilização de


cola de contato. O geotêxtil foi instalado na parede interna do reservatório e por toda a
extensão do piso da caixa de ensaio para evitar o transporte de grãos através dos drenos,
conforme ilustrado na Figura 112.

Figura 112 - Instalação do geotêxtil na parede interna do reservatório e no piso da caixa de ensaio.

Finalizada a instalação do geotêxtil, foram instalados os instrumentos previstos


para a cota zero, conforme citado no item 4.6.2 e ilustrados na Figura 113, e iniciou-se o
processo compactação do rejeito por camadas, com a barreira de compactação
correspondente instalada, conforme ilustrado na Figura 114 e Figura 115.

Figura 113 - Disposição dos instrumentos instalados na cota zero

114
Figura 114 - Compactação da primeira camada de rejeito no modelo 2H:1V.

Figura 115 - Lançamento de material para compactação da última camada

Conforme previsto pelo plano de instrumentação os acelerômetros foram


instalados sobre o eixo longitudinal do modelo em sua camada de compactação
correspondente, ilustrada na Figura 116.

Figura 116 - Disposição do acelerômetro instalado no modelo.

115
Os cabos de dados dos instrumentos foram instalados de forma transversal ao
modelo e fixados nas bordas da caixa. Esse procedimento visou a redução da influência
do cabeamento sobre o comportamento do modelo.

Após a conclusão da etapa de compactação da camada final, deu-se início ao


processo de arrasamento da superfície do talude, visando alcançar a geometria definitiva
do modelo 2H:1V, com o auxílio de uma régua com inclinômetro embutido, conforme
ilustrado na Figura 117.

(a) (b)

Figura 117 - Arrasamento do modelo com talude 2H:1V (a) antes; (b) depois.

Finalizado o processo de arrasamento foi executado a instalação do inclinômetro


de fibra ótica. Para a instalação desse instrumento, primeiramente se executou um furo
guia através de uma barra chata com dimensões similares às do inclinômetro, conforme
ilustrado na Figura 118. Posteriormente, foi efetuada a instalação do inclinômetro
conforme previsto no plano de instrumentação, ilustrado na Figura 119.

Figura 118 - Execução do furo guia para a instalação do inclinômetro.

116
Figura 119 - Instalação do inclinômetro

Para tornar o modelo apto ao início do ensaio, conforme ilustrado na Figura 120,
foi necessário executar o procedimento de percolação de CO 2, previsto no item 4.6.4.
Esse procedimento foi executado imediatamente antes da elevação NA do reservatório,
através da percolação de 4,5kg de gás CO2, com o objetivo de obter a maior saturação
possível.

Ao final do processo de compactação e obtenção da geometria final foi dispendido


um total de 8h de trabalho dividido em dois dias. O primeiro dia foi destinado a instalação
do geotêxtil, instalação dos instrumentos da cota zero e compactação da primeira camada,
e no segundo dia, foi finalizada a compactação, instalação dos instrumentos pendentes e
o executado o processo de percolação de CO2.

Figura 120 - Modelo com talude 2H:1V apto para o início do ensaio.

Da mesma forma que para o modelo 1H:1V, buscou-se atingir um índice de vazios
igual a 0,92 e com parâmetro de estado igual zero. Após a determinação da densidade do
modelo, foi obtido um índice de vazios igual a 0,99, conforme demonstrado na Tabela
21.

117
Tabela 21 - Dados de construção do modelo 2H:1V

Volume do Massa Umidade de


𝝆𝒏 (𝒈⁄𝒄𝒎³) 𝒆𝟎 Ψ
modelo (m³) (Kg) compactação (%)

1,66 2756,4 12,4 1,66 0,99 0,07

Os resultados obtidos apresentam uma densidade inferior àquela preconizada.


Esta observação implica na necessidade de proceder uma recalibração do gráfico
relacionando a altura de queda com a massa específica seca, a fim de refinar a
determinação dos coeficientes C1 e C2 empregados no método MMT. Supõe-se que a
discrepância verificada entre o valor alvo estipulado e o índice de vazios obtido derive da
disparidade entre a espessura da camada de compactação da caixa teste, estabelecida em
15cm, e a espessura de 20cm adotada na caixa de ensaio. Essa circunstância ocorreu
devido à altura da caixa teste ser de 75cm, enquanto a altura do modelo era de 100cm.
Em síntese, foi obtido um parâmetro de estado de +0,07, conferindo ao rejeito
características de um comportamento contrátil e suscetível à ocorrência de liquefação.

5.2.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO AIR HAMMER

O acionamento do Air Hammer para a obtenção de dados através dos


acelerômetros foi executado antes de se iniciar o processo de saturação do modelo, com
umidade corresponde à definida para o processo de compactação. Finalizada a aquisição
de dados, se iniciou o processo de saturação do modelo por elevação do nível de água do
reservatório.

O Air Hammer foi acionado manualmente, através da abertura da válvula de gás


a cada 5 segundos, com objetivo de gerar pulsos que pudessem ser captados pelos
acelerômetros, conforme ilustrado na Figura 121, referente ao AC1.

118
Figura 121 - Registro de dados acelerômetro 1

Os dados obtidos indicaram repostas aos estímulos gerados pelo air-Hammer


apenas no acelerômetro 01 localizado 20cm acima do air-Hammer, conforme destacado
em vermelho na Figura 121, com amplitude máxima de 0,1 m/s².

Nos demais acelerômetros não foi possível identificar os pulsos gerados pelo Air-
Hammer. O registro de dados desses acelerômetros se encontra no ANEXO I.

Portanto, a obtenção do módulo cisalhante (G0) não foi possível dentro do escopo
deste ensaio. Subsequentemente, em investigações posteriores, deverá ser criteriosamente
considerada a pertinência de conceber um novo dispositivo Air-Hammer com maior
capacidade de disseminação de ondas cisalhantes para a efetiva determinação do módulo
cisalhante inerente ao modelo em estudo.

5.2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PIEZÔMETROS

5.2.3.1 CARGAS PIEZOMÉTRICAS: VISÃO GERAL

As leituras de poropressões ocorreram após a elevação do nível de água no


reservatório de montante para 0,97±0,02m, valor definido para evitar que ocorresse o
galgamento do modelo. É importante ressaltar que o tempo necessário para encher o

119
reservatório até a cota de 0,97m foi de aproximadamente 5 min, tempo menor que a taxa
de aquisição de 10min definida na Figura 122.

Adicionalmente, na Figura 122 é discernível a realização de duas tentativas de


saturação do modelo, sendo uma no dia 13 (representado pela linha de tonalidade mais
intensa) e outra no dia 14 (assinalado pela linha de tonalidade mais clara).

Através do processamento de dados dos piezômetros elétricos foi possível


identificar 3 marcos, sendo o marco 1 definido no ensaio realizado no dia 13 com os
maiores níveis de poropressão e o marco 2 e 3 definidos no dia 14, conforme destacado
em vermelho na Figura 122.

Figura 122 - Dados dos piezômetros (Leituras a cada 10min)

Foram realizados 3 eventos, aqui denominados de Marcos, conforme abaixo, na


tentativa de induzir a liquefação do modelo:

• Marco 1 (Dia 13) – Elevação do NA do reservatório para 1 metro e drenagem de


jusante aberta, com o objetivo de obter uma rede de fluxo estacionária sem que
ocorra a ruptura do modelo, logo FS >1;
• Marco 2 (Dia 14) – Bloqueio da drenagem de jusante mantendo NA em 1 metro,
com o objetivo de obter a ruptura do modelo;
• Marco 3 (Dia 14) – Aplicação de sobrecarga na crista do modelo para forçar a
ruptura do modelo. A sobrecarga aplicada sobre a crista do modelo no marco 3 foi

120
realizada com a utilização de uma massa total de 20kg, equivalente a uma carga
de 0,2 kN.

Conforme mencionado anteriormente foi possível necessário as medições


piezométricas em dois dias diferentes. As medições em dias distintos foram causadas pela
impossibilidade de conduzir o ensaio de maneira contínua devido à necessidade de
retirada da central de controle das instalações do galpão de ensaio por questões de
segurança, resultando na impossibilidade de manter o reservatório de água na cota de 97
cm ao longo do período noturno. Em virtude desse fato, durante a tentativa conduzida no
dia 13, após um período de 2 horas e 30 minutos de ensaio (MARCO 1), no qual se obteve
as maiores leituras de piezometria, se procedeu o rebaixamento do NA do reservatório
para a cota de 80cm e consequente rebaixamento da carga piezométrica após 2 horas e
45min de ensaio, conforme ilustrado na Figura 122. Cabe ressaltar que durante o ensaio
do dia 13, não foi efetuado o bloqueio da drenagem, pelas mesmas questões de horário e
segurança.

Ao se comparar os dados obtidos nos dias 13 e 14 é evidente que, no dia 13,


ocorreu o maior pico de poropressões capturada pelos piezômetros. Esse fato foi atribuído
ao procedimento de saturação com CO2 executado apenas no dia 13, que possivelmente
facilitou o preenchimento dos vazios do solo com água, ocasionando uma elevação dos
níveis de poropressão. Para o dia 14 o mesmo procedimento não foi executado devido ao
modelo se encontrar muito saturado em sua região inferior, o que poderia causar o
aprisionamento do gás nos compartimentos de drenagem devido a impossibilidade do gás
percolar através dos vazios até a superfície. Essa circunstância se deve a percolação de
CO2 que é aplicada de baixo para cima através dos drenos.

A Figura 123 apresenta um gráfico comparativo entre os dados definidos pelo


modelo numérico e os dados obtidos por meio dos piezômetros elétricos. Por meio da
análises deste gráfico, tornou-se possível discernir que a carga piezométrica máxima
registrada no modelo físico alcançou 6,0 kPa, contrastando com a expectativa de cerca de
7,2 kPa para a posição do piezômetro 1. É relevante destacar que o intervalo temporal
para a obtenção da carga piezométrica máxima no modelo físico foi inferior ao estimado.
Essa discrepância pode ser explicada pela maior permeabilidade do modelo físico em
relação ao modelo numérico, em virtude de o modelo físico possuir um índice de vazios
mais elevado do que o previamente projetado.

121
Figura 123 - Gráfico comparativo entre os dados do modelo numérico e o modelo físico no dia 13.

A avaliação similar é empreendida para o dia 14 em relação aos valores previstos


pelo modelo numérico, conforme ilustrado na Figura 124. Nesse contexto, foi possível
constatar uma discrepância mais significativa entre os dados capturados pelos
piezômetros elétricos e as estimativas do modelo numérico. No referido dia, a carga
piezométrica máxima registrada pelo piezômetro 1 foi de 5,7 kPa, divergindo da previsão
do modelo numérico de aproximadamente 7,2 kPa. Observa-se no ensaio conduzido no
dia 14 que o modelo alcançou sua carga piezométrica máxima em um período menor que
o dia 13, sendo tal fenômeno atribuído a um grau de saturação mais elevado do modelo,
ocasionado pelo saturação do modelo.

122
Figura 124 - Gráfico comparativo entre os dados do modelo numérico e o modelo físico no dia 14.

Para avaliar o grau de saturação do modelo foram coletadas amostras na crista, na


parte intermediária do talude e no pé. As amostras foram coletadas após o término da
compactação, no dia 13 (primeiro dia) e no dia 14 (segundo dia), ambas na configuração
do NA do reservatório em 97±2cm e drenagem aberta após a obtenção de um regime de
fluxo estacionário.

Conforme se observa na Tabela 22, o grau de saturação obtido no segundo dia


(sem percolação de CO2) foi de 81,7% sendo menor que o valor obtido no primeiro dia
86,9% (com percolação de CO2), evidenciando que a execução do procedimento de
percolação de CO2 ocasionou um ganho de aproximadamente 5%. na saturação modelo.

Tabela 22 - Grau de saturação do modelo com talude 2H:1V


SATURAÇÃO DO MODELO
Média 1º Média 2º
Posição Compactação 1º Dia 2º Dia
Dia Dia
Crista 74,3% 72,9%
Meio do Talude 37,7% 89,4% 86,9% 80,8% 81,7%
Pé do talude 97,0% 91,4%

Sabe-se que o grau de saturação próximo de 100% seja o ideal para desencadear
a liquefação do modelo (Jefferies e Been, 2016). Além disso, a baixa saturação do modelo
pode aumentar a suscetibilidade à efeitos de sucção que acarretam um ganho de coesão

123
aparente e interferem no processo de deflagração do gatilho (ruptura do talude). Para
eliminar este problema nos ensaios futuros, pode ser necessário manter o talude de jusante
parcial ou totalmente submerso durante a fase de saturação do rejeito para que, em
seguida, o gatilho de liquefação seja acionado.

5.2.3.2 MARCOS E DESENVOLVIMENTO DE PORO PRESSÕES

Procedeu-se à implementação de filtragem dos dados adquiridos durante o ensaio


do dia 14 a uma taxa de 100Hz. Essa filtragem teve por finalidade a identificação das
variações de poropressão nos piezômetros elétricos PZ1, PZ2 e PZ3, associadas a cada
um dos eventos correspondentes aos marcos 1, 2 e 3, como ilustrado Figura 125, Figura
126 e Figura 127.

Figura 125 - Marco 1 (Carga piezométrica máxima – dia 13)

124
Figura 126 - Marco 2 (Dreno bloqueado – dia 14)

Figura 127 - Marco 3 (Sobrecarga – dia 14)

No marco 1, Figura 125, é possível visualizar um nível de poropressão estável nos


três instrumentos, o que sugere a existência de um regime de fluxo estacionário. No marco
2, Figura 126, é identificado o momento do bloqueio da drenagem e consequentemente
uma elevação dos níveis de poropressão em todos os instrumentos, com um destaque

125
maior para o piezômetro PZ3, localizado próximo ao dreno que foi bloqueado. Com
relação ao marco 3, Figura 127, a aplicação de sobrecarga na crista faz com que os níveis
de poropressão mais à montante reduzam e ocorra uma elevação da carga piezométrica
no PZ3 na região mais próxima ao pé do talude em aproximadamente 10 minutos após a
aplicação da sobrecarga.

5.2.3.3 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS PIEZÔMETROS


ELÉTRICOS E CASAGRANDE

As medições obtidas a partir dos piezômetros elétricos foram contrastadas com


aquelas provenientes dos piezômetros Casagrande, realizadas em intervalos de tempo
próximos ao instante determinado como o marco do evento.

Na Tabela 23 é apresentada a altura piezométrica aferida no modelo físico para


cada instrumento e um comparativo com os valores estimados nas mesmas posições do
modelo numérico, para os marcos 1 e 2.

Tabela 23 - Resumo dos dados de piezometria

126
Os dados do modelo físico correspondentes ao piezômetros Casagrande 1,2,3 e 4
não foram coletados para os marcos 2 e 3, pois através deles ocorreu a injeção de corante
para ser possível definir linhas fluxo. Contudo, esse procedimento não funcionou
adequadamente, inviabilizando a demonstração da rede de fluxo nas janelas de acrílico
da caixa de ensaio e a tomada de dados através deles.

Uma consideração adicional de relevância em relação à Tabela 23 reside no fato


de que não se encontram explicitadas as previsões das poropressões geradas por meio da
simulação do marco 3 (Aplicação de sobrecarga) pelo modelo numérico. Essa omissão na
avaliação se deve à circunstância de que o modelo físico demonstrou baixos níveis de
poropressões nos marcos 1 e 2, o que levou à conclusão de que tal análise não era
justificada.

Na Figura 128 e Figura 129 são apresentados dois croquis baseados nos dados de
poropressão obtidos através do modelo físico em comparação com o modelo numérico
referentes aos eventos relatados no marco 1 e 2, conforme dados fornecidos pela Tabela
23.

Dreno aberto

Figura 128 - Cargas piezométricas para a configuração dreno aberto.

127
Figura 129 - Dados de piezometria para a configuração dreno bloqueado.

Em um última análise, os dados de piezometria são convertidos para termos de


carga hidráulica total com o objetivo de estimar a posição da linha freática. Essa
estimativa ocorre através da atribuição da inclinação entre diferentes pontos com altura
piezométrica definida à inclinação da linha freática em relação a horizontal para os
mesmos pontos analisados. Os resultados dessas estimativa podem ser visualizadas na
Figura 130, Figura 131 e Figura 132.

Figura 130 – Comparação entre estimativas a partir das leituras dos Piezômetros elétricos e Casagrande –
Condição Dreno Aberto

128
Figura 131 - Comparação entre estimativas a partir das leituras dos Piezômetros elétricos e Casagrande –
Condição dreno bloqueado (32 minutos após o bloqueio).

Figura 132 - Comparação entre estimativas a partir das leituras dos Piezômetros elétricos e Casagrande –
Condição aplicação de sobrecarga (33 minutos após a sobrecarga).

Devido ao seu maior tempo de resposta, as leituras dos piezômetros Casagrande


se destinam principalmente a:

• determinação das poropressões no interior da massa de rejeito, em regime


permanente.

129
• Comparação com as leituras dos piezômetros elétricos durante o regime
permanente.

Ao observar os gráficos com os dados obtidos, para a configuração de regime


permanente com o dreno aberto, conforme ilustrado na Figura 130, percebe-se um melhor
ajuste entre as freáticas estimadas por intermédio dos piezômetros elétricos e dos
piezômetros Casagrande. Isto indica que não houve uma perda de saturação severa nos
PZs elétricos, desde o início da construção do modelo. As duas outras condições
representam regimes transientes (Figura 131 e Figura 132), nos quais espera-se que haja
diferenças de leitura entre os dois tipos de piezômetros.

A partir das cargas hidráulicas foi executado o traçado da linha freática para cada
evento (Marco 1 - Carga piezométrica máxima, Marco 2 - Dreno Bloqueado e Marco 3 –
Sobrecarga). Contudo, devido ao afloramento da linha freática no pé do talude para as
condições de dreno bloqueado aplicadas nos marcos 2 e 3, conforme ilustrado na Figura
133, foi efetuado um ajuste manual da linha freática nessa região. Essa circunstância foi
ocasionada devido à falta de instrumentos de medição de poropressão para a região mais
próxima ao pé do talude.

Figura 133 - Surgência no pé do talude do modelo 2H:1V.


É relevante ressaltar que a surgência se inicia pelas bordas da caixa de ensaio,
sendo que com maior intensidade pela borda esquerda, conforme ilustrado na Figura 134.
Essa questão foi atribuída a condição de drenagem oferecida pela caixa de ensaio, em que
as bordas do dreno não são perfuradas (conforme se percebe na Figura 32) ocasionando
um efeito tridimensional em relação a rede de fluxo, não consideradas nas análises pelo
programa SEEP/W 2D. Adicionalmente, merece consideração a distribuição do
cabeamento dos instrumentos da cota zero que são instalados na borda da caixa, que
podem oferecer um caminho preferencial de fluxo.

130
Figura 134 - Surgência iniciando pelas bordas da caixa de ensaio.

A linha freática obtida pelos instrumentos na configuração drenagem aberta pode


ser comparada com a linha freática prevista pelo modelo numérico na Figura 135a. Na
sequência é apresentado na Figura 135b a linha freática ajustada para compatibilizar a
surgência visualizada durante o ensaio para o dreno bloqueado com e sem sobrecarga.

(a)

(b)

Figura 135 - Linha freática obtidas: (a) Configuração dreno aberto (b) Configuração dreno bloqueado

131
A linha freática definida para ser utilizada nas análises de estabilidades foi a linha
freática para condição drenagem bloqueada com sobrecarga, por simular a última
configuração aplicada ao modelo físico e também por possuir os maiores níveis de
poropressão.

Com a análise da linha freática definida pelos instrumentos em comparação com


as cargas piezométricas obtidas com o modelo numérico em pontos de mesma posição,
pode-se concluir que o modelo físico não atingiu a freática estimada pelo modelo
numérico com dreno aberto.

Esse fato pode ser justificado pela falta de estanqueidade da caixa de ensaio, pois
vazamentos foram visualizados em pontos na lateral e na base da caixa, prejudicando as
possibilidades de ruptura do talude e de liquefação, pois uma parte significativa do rejeito
encontrava-se parcialmente saturada.

5.2.4 ANÁLISE DE FLUXO

Para o modelo com talude 2H:1V a análise de fluxo foi baseada na interpretação
dos dados coletados pelos piezômetros elétricos e Casagrande. Os parâmetros utilizados
para a execução da retroanálise foram definidos pelos dados obtidos na configuração do
nível de água do reservatório em 97 cm de altura, drenagem bloqueada e sobrecarga
aplicada (Marco 3). Na Figura 136 é apresentada a distribuição de poropressão baseada
nos parâmetros obtidos pela instrumentação do modelo físico e lançados manualmente
ponto a ponto no modelo numérico através da linha freática.

Figura 136 - Definição da linha freática revisada para análise de estabilidade 2H:1V

132
A linha freática do modelo físico (cor azul) se encontra em uma região um pouco
abaixo da linha freática do modelo numérico (cor vermelha), conforme ilustrado na Figura
137.

Figura 137 - Linha freática Modelo numérico (cor vermelha) e linha freática do Modelo físico (cor azul)

A exemplo do modelo 1H:1V a linha freática do modelo físico com talude 2H:1V
se encontra abaixo da linha freática definida pelo modelo numérico.

5.2.5 ANÁLISE DE ESTABILIDADE

A exemplo do modelo 1H:1V, antes de executar a análise de estabilidade foi


preciso ajustar o peso específico saturado do rejeito para 19,3kN/m² compatível com o
índice de vazios no qual o modelo foi construído.

A Figura 138 exibe a retroanálise baseada na análise de fluxo, com a superfície


de ruptura indicada em branco e um FS igual 1,27, mostrando uma condição estável para
configuração adotada.

133
Sobrecarga
P = 0,2kN

Figura 138 - Análise de estabilidade empregando rede de fluxo obtida no modelo físico 2H:1V.

A análise de estabilidade após a aplicação da sobrecarga não indicou a ruptura do


modelo. Contudo, instantes após a aplicação de sobrecarga, ocorreu a ruptura do pé do
talude, que no decorrer do ensaio foi caracterizada como erosão regressiva, conforme
ilustrado Figura 139.

Figura 139 - Evolução da erosão regressiva no pé do talude modelo 2H:1V

134
Por razões relacionadas ao horário e à salvaguarda dos equipamentos, o
experimento teve de ser interrompido antes que a erosão atingisse um estágio crítico.

5.2.6 ANÁLISES DE RESULTADOS DOS ACELERÔMETROS, PIV E


INCLINÔMETRO

5.2.6.1 ACELERÔMETROS

Por questões técnicas, durante a realização as leituras de dados se iniciaram após


4 horas e 32 minutos do início do ensaio, conforme ilustrado na Tabela 24.

Tabela 24 - Análise de dados dos acelerômetros

No que diz respeito ao AC5, foram constatadas leituras inconsistentes que


atingiram um patamar de –0,5g.

Uma outra análise possível sobre a Tabela 24, foi a identificação de uma
alternância entre sinais positivos e negativos obtidos pelos acelerômetros instalados no
modelo. Entende-se que esse fenômeno pode estar relacionado a leituras muito próximas
a zero, visto que os instrumentos não tiveram nenhuma leitura relevante.

A análise dos valores em módulo dos acelerômetros não identificou nenhum pico
de variação, o que está de acordo com o fato de não ter ocorrido uma superfície de ruptura
profunda que atingisse a região onde os acelerômetros estavam instalados.

5.2.6.2 PIV – VELOCIMETRIA POR IMAGEM DE PARTÍCULAS

135
Para a câmera 3, localizada próximo ao pé do talude, os arquivos gravados foram
corrompidos durante o processo de gravação. Para as demais câmeras 1 e 2, o evento
denominado como Marco 3 – Sobrecarga, não foi avaliado pelo sistema de processamento
de dados, pois nenhuma superfície de ruptura foi identificada nas imagens.

5.2.6.3 INCLINÔMETRO

OLIVEIRA JUNIOR (2023) realizou a compilação dos dados obtidos pelo


inclinômetro instalado na crista do modelo. Os resultados indicam deslocamento máximo
inferior a 1 mm, conforme ilustrado na Figura 140.

Perfil do solo
1000

900

800

700

600
Altura (mm)

500
Posição do inclinômetro --
400

300 P1
Marco 1 – Carga piezométrica máxima
200 P2
Marco 2 – Bloqueio da drenagem

100 P5
Marco 3 – Aplicação de sobrecarga

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Variação Deslocamento Lateral (mm)

Figura 140 - Dados de deformação obtido pelo inclinômetro

Os resultados indicam uma boa concordância entre as deformações captadas pelo


inclinômetro e os eventos relacionados. O marco 1 ilustra uma pequena acomodação do
modelo frente ao regime estacionário com o nível de água no reservatório a 0,97 m de
altura. O marco 2, relacionado ao bloqueio da drenagem, também indica uma discreta

136
deformação no modelo, porém não reflete a extensa deformação que seria esperada em
caso de ruptura. O marco 3 revela uma deformação mais acentuada em relação aos
anteriores, embora ainda esteja aquém do grau de deformação aguardado para uma
ruptura que mobilize uma região considerável.

5.3 COMENTÁRIOS FINAIS

O ensaio preliminar executado no modelo com talude 1H:1V permitiu avaliar a


massa específica obtida através da aplicação do MMT e definir melhorias. Ao final da
construção do modelo com talude 1H:1V se obteve um parâmetro de estado positivo,
atribuindo ao modelo uma condição contrátil e suscetível a liquefação.

Durante a execução do ensaio do modelo com talude 1H:1V foi possível


identificar a ruptura. Ao efetuar retroanálise de fluxo foi possível identificar uma
disparidade entre os níveis de poropressões previstos no modelo numérico e o modelo
físico. Contudo, a análise de estabilidade indicou que, para a condição de fluxo obtida no
modelo físico, o FS era unitário.

No ensaio preliminar com talude 1H:1V a liquefação não ocorreu, ainda que a
ruptura tenha ocorrido. Isso foi atribuído ao fato de em que a superfície de ruptura estava
imersa em uma região não saturada do modelo.

Em relação ao ensaio com o modelo de talude 2H:1V se obteve um modelo com


parâmetro de estado igual a 0,07, indicando uma condição contrátil e suscetível à
liquefação. A massa específica obtida para o modelo indicou a necessidade do ajuste dos
coeficientes C1 e C2 para aplicação do método MMT, tendo em vista que a diferença
entre o índice de vazios alvo e o valor obtido.

Os acelerômetros não indicaram nenhuma variação significativa, provavelmente


por não ter ocorrido ruptura generalizada do modelo. De forma similar, sem a ocorrência
da ruptura do modelo 2H:1V não foi possível identificar deslocamentos significativos
através do PIV que pudessem ser submetidos a análise. Em relação ao inclinômetro, os
deslocamentos máximos obtidos são pouco inferiores a 1 mm, que não representam uma
deformação compatível com uma ruptura que mobilize uma região considerável de
modelo.

137
As análises de fluxo do modelo com talude 2H:1V foram efetuadas com os dados
de piezometria obtidos pelos piezômetros elétricos e Casagrande. A linha freática medida
pelos instrumentos indicou que em nenhuma configuração de ensaio atingiu a freática
estimada pelo modelo numérico. Durante o ensaio foi identificada surgência no pé do
talude após o bloqueio da drenagem, sem ocasionar a ruptura do modelo.

Contudo, após a aplicação da sobrecarga, apesar das análises de estabilidade


apontarem um estrutura estável, foi possível identificar uma erosão regressiva no pé do
talude, ocasionada pelo fluxo de água naquele local.

138
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS
FUTURAS

Neste último capítulo são apresentadas as principais conclusões obtidas a partir


do desenvolvimento deste trabalho.

O ponto central deste trabalho foi o desenvolvimento de uma caixa de ensaios


para o estudo de modelos 1g de barragens de rejeitos de minério de ferro. Os ensaios
realizados objetivaram o conhecimento do funcionamento da caixa de ensaio, bem como,
a interpretação dos parâmetros obtidos.

6.1 CAIXA DE ENSAIOS

A construção do modelo 1g contou com a utilização de compactador


semiautomático, capaz aplicar a metodologia MMT, para a construção de modelos com
índice de vazios previamente definidos.

Com a utilização da caixa de ensaio foi possível controlar condições de contorno


como o nível de reservatório e sistema de drenagem de forma satisfatória. Através dessa
funcionalidade a caixa de ensaio foi capaz de submeter o modelo a uma condição crítica,
na qual poderia ocasionar a liquefação do modelo.

O sensor de nível foi capaz de manter estável o nível do reservatório, com uma
sensibilidade de ± 2, e assim estabelecer uma condição de fluxo estacionário para ensaio.

Através do sistema de drenagem foi possível simular falhas na drenagem do


modelo. Com o bloqueio do dreno, se estabeleceu uma condição de fluxo transiente com
a elevação dos níveis de poropressão, no entanto a falha na estanqueidade da caixa de
ensaio não permitiu que a elevação dos níveis de poropressão fossem mais expressivas.

O sistema de aquisição de dados foi capaz de coletar as informações do ensaio em


tempo real, sendo necessário ajustes de hardware para o aumento do número de canais de
aquisição de dados. O software utilizado possuía interface de fácil assimilação do usuário.

139
Os piezômetros instalados foram capazes de obter dados relevantes para execução
de retroanálises. Demais instrumentos, como acelerômetros, sensor laser, PIV, Air
Hammer demandam de ajustes para seu correto funcionamento.

6.2 RESULTADOS DOS ENSAIOS

A construção do modelo foi baseada na definição do índice de vazios usando a


Linha de Estado Crítico e o parâmetro de estado como referência, com o objetivo de obter
um comportamento semelhante entre o modelo e o protótipo.

O nível de tensão experimentado no modelo 1g foi menor do que a tensão aplicada


nos triaxiais para a definição da LEC, essa condição pode resultar na subestimativa do
parâmetro de estado do modelo físico.

As simplificações aplicadas ao modelo físico referente as leis de similitude,


conduzem para uma abordagem não representativa quando comparada ao protótipo,
contudo, os dados obtidos nos ensaios dos modelos 1g construídos utilizando a técnica
baseada na Linha de Estado Crítico, podem ser usados para aumentar o conhecimento em
áreas onde o histórico de casos é incipiente.

Nos dois ensaios apresentados, a liquefação do rejeito não se concretizou. No caso


do ensaio preliminar, a não liquefação do rejeito era esperada, considerando as avaliações
prévias que apontaram para a formação de uma superfície de ruptura em uma região
parcialmente saturada do modelo. Quanto ao modelo com talude 2H:1V, três
determinantes estão vinculados à ausência de liquefação. O primeiro destes fatores está
relacionado ao baixo grau de saturação do modelo. O segundo fator está associado à
presença da linha freática em uma posição mais baixa do que a inicialmente prevista. Por
último, o terceiro fator diz respeito alta permeabilidade do modelo, empregando uma
maior capacidade de dissipação da poropressão.

A caixa de ensaio se mostrou com uma capacidade promissora para a avaliação


do comportamento de barragens de rejeitos, porém, é necessário reavaliar a metodologia
de acionamento de gatilhos de liquefação, para que se possa controlar o momento de
ruptura do modelo.

140
6.3 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

As recomendações para pesquisas futura são baseadas em lições aprendidas


durante a realização dos ensaios. São elas:

• Definição da LEC em tensões compatíveis com a escala do modelo;


• Realizar ensaios com fluido de maior viscosidade para compatibilizar o tempo de
difusão das poropressões;
• Utilizar parâmetro de estado variados para análises paramétricas;
• Definir curva característica para amostras com variados índices de vazios;
• Utilização de tensiômetros sob a face do talude, para identificar a ocorrência de
coesão aparente em locais de baixa saturação;
• Utilização de software 3D para análise de fluxo e estabilidade;
• Implementação de linhas de fluxo com corante no modelo físico;
• Estanqueidade da caixa de ensaio;
• Nivelamento da caixa de ensaio;
• Efetuar melhorias na distribuição das instalações da caixa de ensaio, para melhor
dinâmica do ensaio;
• Instalação de sensores eletrônicos de nível para identificação, através do software,
da configuração dreno bloqueado;
• Aumento da quantidade de canais de aquisição de dados para a instalação de novos
instrumentos;
• Redimensionar o cabeamento dos acelerômetros;
• Instalação de tampa frontal para submersão do modelo com o objetivo de obter a
maior saturação possível do modelo;
• Instalação de balança eletrônica acoplada na estrutura da caixa de ensaio;
• Instalação de chapa deslizante para gerar um gatilho de liquefação;
• Isolamento da luz natural no galpão de ensaio para gravação de imagens pelo PIV;

141
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146
ANEXOS

ANEXO A – Normas utilizadas na realização dos estudos experimentais

ANEXO B – Resultados dos ensaios de caracterização

ANEXO C – Resultados dos ensaio de permeabilidade em carga constante

ANEXO D – Dados obtidos pelos ensaios de compressão unidimensional

ANEXO E – Certificado de calibração

ANEXO F – Projeto do Air Hammer

ANEXO G – Detalhamento do funcionamento do inclinômetro

ANEXO H – Especificações cola de contato

ANEXO I – Dados dos acelerômetros ac2, ac3, ac4, ac5 e ac7

147
ANEXO A – NORMAS UTILIZADAS NA REALIZAÇÃO DOS ESTUDOS
EXPERIMENTAIS

ABNT NBR: 7181 Solo – Análise granulométrica, Associação Brasileira de Normas


Técnicas 2016.

ABNT NBR: 6458 Grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura 4,8 mm –


Determinação da massa específica, da massa específica aparente e da absorção de
água. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2ª edição, 2017.

ABNT NBR 13292: Solo – Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos


granulares à carga constante, Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2ª edição,
2021.

ABNT NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação, Associação Brasileira de Normas


Técnicas, 2016.

ASTM D4254, Standard Test Methods for Minimum Index Density and Unit Weight
of Soils and Calculation of Relative Density. American Society for Testing and
Materials, 2016.

148
ANEXO B – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO

GRANULOMETRIA

Figura B 1 - Cálculos do ensaio de granulometria da amostra P3

149
ANÁLISE QUÍMICA E MINERALÓGICA

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveu um


método de análise química do solo amplamente utilizado no Brasil, conhecido como
Método Embrapa. Esse método tem como objetivo fornecer informações precisas e
confiáveis sobre as propriedades químicas do solo.

A análise química executada pelo Laboratório de Geotecnia do


PEC/COPPE/UFRJ foi baseada no manual de análise de solo da EMBRAPA com
algumas modificações, conforme descritas a seguir:

1) Perda ao Fogo (% ∆P): Obtida pela diferença de peso do solo ao ser


calcinado à 550°C em relação ao solo seco à 105°C;
2) Ataque Sulfúrico: A amostra calcinada é tratada com ácido sulfúrico
(H2SO4 1:1) e no extrato obtido são analisados os teores de Ferro (Fe 2O3)
e Alumínio (Al2O3). O resíduo é então tratado com hidróxido de sódio
(NaOH 0,5N) e no extrato obtido é analisado o percentual de sílica (SiO2).
3) O resíduo final é então calcinado à 1000°C, calculando-se então a
percentagem de material primário não atacado pelo tratamento, sendo
definido a % Resíduos.

Como efeito comparativo, esse ensaio foi realizado sobre 3 amostras (P1, P2 e
P3), obtendo as percentagens referentes aos teores de alumínio e ferro, sendo este último
o objetivo principal da análise química. A Figura B 2a ilustra o preparo das amostras e
seus resultados podem ser observados na Figura B 2b.

(a) (b)

Figura B 2 - Ensaio de análise química (a) ataque sulfúrico (b) resíduo final

150
Para a microscopia eletrônica de varredura (MEV), é apresenta as imagens obtidas
por meio do emprego do Microscópio Eletrônico de Varredura (Figura B 3), com
ampliações de 100 vezes e 200 vezes, respectivamente. A diferenciação entre os grãos de
quartzo (apresentando tonalidade escura) e óxido de ferro (exibindo tonalidade clara)
pode ser realizada. A análise dessas imagens permite uma apreciação global da interação
entre esses dois constituintes (COUTINHO, 2022).

Figura B 3 - Imagens obtidas a partir do Microscópio Eletrônico de Varredura, com aumentos de 100 vezes
e 200 vezes (Coutinho,2022)

151
ANEXO C – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM
CARGA CONSTANTE

Figura C 1- Cálculo de permeabilidade horizontal (e=0,79)

152
Figura C 2 - Cálculo de permeabilidade vertical (e=0,79)

153
Figura C 3 - Cálculo de permeabilidade horizontal (e=0,97)

154
Figura C 4 - Cálculo de permeabilidade vertical (e=0,96)

155
ANEXO D – DADOS OBTIDOS PELOS ENSAIOS DE COMPRESSÃO
UNIDIMENSIONAL

Figura D 1- Planilha de dados obtidos no ensaio de compressão unidimensional

156
ANEXO E – CERTIFICADOS DE CALIBRAÇÃO

157
Figura E 1 - Certificado de calibração PZ1 (ID 3500)

Figura E 2 - Certificado de calibração PZ2 (ID 3501)

158
Figura E 3- Certificado de calibração PZ 3 (ID 3502)

159
Figura E 4 - Especificações dos acelerômetros

160
ANEXO F – PROJETO DO AIR HAMMER

161
162
163
ANEXO G – DETALHAMENTO DO FUNCIONAMENTO DO INCLINÔMETRO

A deformação interna de taludes não pode ser medida diretamente a partir de


sensores baseados em FBG (Fiber Bragg Gratings), sendo necessário a aplicação de
equações matemáticas para converter os resultados de deformação (strain) medidos pelas
FBGs em informações de deslocamento. A literatura apresenta diversas técnicas de
conversão de strain em deslocamento baseadas no modelo Euler-Bernouli.
O método dos elementos de viga (MEV) desenvolvido por GUO et al. (2015),
é baseado na decomposição de uma viga flexível engastada composta por n elementos
de viga, onde o ponto fixo do trecho seguinte é a extremidade do elemento anterior.
Cada elemento é modelado com uma viga engastada com um par diametralmente oposto
de FBGs colados no comprimento central do elemento de viga. O equacionamento é
baseado no modelo Euler-Bernouli e viga obter a deflexão na extremidade de cada
elemento.
Para cada elemento de viga, a deflexão v e o ângulo θ da extremidade livre
são necessários para calcular o deslocamento horizontal, denominado pelo autor
como Si, onde i é o número de cada elemento sendo 1 para o elemento da
extremidade fixa e n para a extremidade livre. Analisando a Figura G 1 e aplicando
a equação 17 é possível deduzir as equações para o strain ao longo (εx) e no centro (εL/2)
do elemento de viga, considerando um força F aplicada na extremidade livre:

Figura G 1 - Princípio de conversão de strain em deflexão pelo Método dos Elementos de Viga.

(17)

164
ANEXO H – ESPECIFICAÇÕES COLA DE CONTATO

165
166
167
168
169
170
171
172
173
ANEXO I – DADOS DOS ACELERÔMETROS AC2, AC3, AC4, AC5 E AC7

Figura H 1 Registro de dados acelerômetro 2

Figura H 2 - Registro de dados acelerômetro 3

174
Figura H 3 - Registro de dados acelerômetro 4

Figura H 4 - Registro de dados acelerômetro 5

175
Figura H 5 - Registro de dados acelerômetro 7

176

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