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UNIDADE CURRICULAR: História da Idade Contemporânea

CÓDIGO: 31033
DOCENTE: João Miguel Almeida
A preencher pelo estudante
NOME: Maria Madalena Anacleto Silva
N.º DE ESTUDANTE: 2201562
CURSO: História
DATA DE ENTREGA: 7 de Abril de 2024

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A Revolução Francesa, que eclodiu em 1789, foi um ponto culminante na
trajectória histórica. Além de ter assinalado o fim da Idade Moderna e o início da Idade
Contemporânea, a Revolução Francesa introduziu uma transformação profunda nos
âmbitos político, social e cultural tanto na França como globalmente. Para uma
compreensão mais abrangente deste evento histórico é crucial contextualiza-lo dentro da
crise do Antigo Regime que assolava França.

Ora, o Antigo Regime na França era caracterizado por uma estrutura social
profundamente hierárquica e desigual, onde a monarquia detinha todo o poder político,
económico e social (absolutismo). A sociedade estava dividida em três estados: o clero,
a nobreza e o terceiro estado, composto principalmente pela classe trabalhadora,
camponeses e burguesiai. Esta estrutura social injusta e rígida estava repleta de
privilégios e desigualdades, onde a grande maioria da população era oprimida e
explorada enquanto uma minoria privilegiada desfrutava de riqueza e poder. Deste
modo, podemos considerar que a crise do Antigo Regime em França foi o resultado de
uma série de factores interligados. Economicamente, o país enfrentava uma grave crise
financeira devido a anos de gastos extravagantes da monarquia, guerras (como a guerra
dos sete anos e o apoio à guerra da independência americana ii) e uma estrutura fiscal
injusta que sobrecarregava o terceiro estado. Socialmente, a insatisfação crescia entre as
classes mais baixas devido à pobreza, fome e injustiças sociais. Politicamente, a
monarquia absoluta enfrentava crescente oposição devido à falta de responsabilidade e
representatividade, bem como à influência do iluminismo que promovia ideais de
igualdade, liberdade e fraternidade.

Diante desse cenário, o rei D. Luís XVI tentou, como medida para tirar França
da crise económica, implementar uma série de reformas, decretando o aumento de
impostos. Não obstante, estas medidas causaram desagrado principalmente entre a
nobreza, que vê os seus privilégios ameaçados e o seu papel diminuído diante da
ascensão da classe burguesa. Assim, perante a resistência da aristocracia às reformas e o
descontentamento do povo (motivado pela escassez de alimentos) e da burguesia (pela
falta de oportunidades de ascensão social) o rei decide convocar os Estados Gerais. Os
representantes do povo propõem uma votação individual em vez do tradicional voto por
estado, mas o rei veta essa proposta, o que resulta numa divisão e na formação de uma
i
HOBSBAWN, Eric – A Era das Revoluções. 6ª ed. [S.I.]: Editorial Presença, s/d, p.69.
ii
HOBSBAWN, Eric – A Era das Revoluções, p.67.

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Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo de redigir uma constituição para
estabelecer uma monarquia constitucional. Luís XVI tenta dissolver a Assembleia, o
que provoca uma revolta em Paris a 14 de Junho de 1789, culminando na tomada de um
dos símbolos do Antigo Regime: a Bastilha iii, marcando o início da Revolução Francesa.
Este acontecimento marca o fim do absolutismo régio e a 26 de agosto de 1789 a
Assembleia Nacional Constituinte aprova a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão onde se asseguram os princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. A 14
de Setembro de 1791 é promulgada a primeira Constituição Francesa e França torna-se
uma monarquia constitucional que concedia o direito de voto censitário a todos os
homens, independentemente da sua origem social e permitia que estes ocupassem
cargos públicos. Além disso, iniciou-se o processo de laicização do estado, a abolição
dos últimos vestígios do sistema feudal e a separação entre os poderes judicial,
executivo e legislativo que deixam de ser exclusivos do rei. É evidente que Luís XVI ao
ver os seus poderes reduzidos, tenta restaurar o regime absolutista. No entanto, esta
ambição resulta na sua prisão e subsequente execução a 21 de Janeiro de 1793,
marcando o fim da monarquia e o estabelecimento da república.

Há então duas divisões entre os políticos: o grupo mais moderado composto pela
elite burguesa conhecido como Girondinos, e o mais radical, os Jacobinos, formado por
membros da classe baixa burguesa e que tinha grande parte do apoio pela população de
Paris. Em 1794, após concentrar o poder de forma centralizada, Robespierre iv, o líder
radical, foi deposto e executado, ficando os Girondinos no poder com a promessa de
encontrar soluções de consenso entre as diversas forças políticas. Em agosto de 1795,
foi promulgada a terceira Constituição francesa, que priorizava os interesses da classe
burguesa e da ordem privada, consolidando o sistema capitalista de produção. Em 9 de
Novembro de 1799, o golpe de estado do 18 de brumário levou Napoleão Bonaparte ao
poder de França. Napoleão governou entre 1804 e 1814 tendo este período sido
caracterizado como uma regime monárquico vitalício, devido às suas acções
autocráticas. Uma das suas medidas foi o reforço dos interesses da classe burguesa,
reprimindo os jacobinos de forma a evitar o seu retorno ao poder e implementação das
suas políticas sociais. Apesar das políticas de Bonaparte terem estabilizado França,
também trouxeram mudanças nos sistemas governativos de vários países e das suas
iii
HOBSBAWN, Eric – A Era das Revoluções, p.70.

iv
HOBSBAWN, Eric – A Era das Revoluções, p. 79.

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colónias (especialmente com as guerras napoleónicas). Temos como exemplo Portugal
onde seu deu uma revolução liberal em 1820 e a sua antiga colónia do Brasil v que
declara a independência em 1822. Como esta, muitas outras colónias começaram a
manifestar o desejo de independência.

A afirmação de René Remond, de que a revolução “emendou” tendências


anteriores da monarquia é essencial para entendermos as continuidades entre o Antigo
Regime e a sociedade pós-revolucionária. A centralização do poder, a procura pela
unificação e a redução dos particularismos já estavam em andamento durante o período
monárquico. Por outras palavras, a revolução não se originou espontaneamente, mas
beneficiou de tendências pré-existentes e amplificou-as. O Consulado e o Império
Napoleónico (fases subsequentes à Revolução Francesa) são exemplos claros dessa
continuidade. Napoleão Bonaparte consolidou muitos dos princípios revolucionários
durante o seu governo, estabelecendo um estado centralizado e promovendo reformas
administrativas, educacionais entre outras. Embora tenha restaurado certos aspectos da
ordem social pré-revolucionária, como a nobreza e a hierarquia, também incorporou
elementos revolucionários na sua estrutura governamental. No entanto, isto não
significa que a Revolução Francesa tenha sido apenas uma continuação suave do Antigo
Regime. A ruptura foi evidente em várias áreas, especialmente no que diz respeito à
queda da monarquia e à abolição do sistema feudal. As mudanças políticas, como a
instauração da República e a ascensão do poder legislativo, representaram uma
transformação significativa na estrutura do governo. Além disso, é válido admitirmos
que a Revolução Francesa trouxe consigo uma nova concepção de cidadania e direitos
individuais, rompendo as antigas hierarquias sociais e estabelecendo as bases para
movimentos posteriores em direcção à democracia e aos direitos humanos.

Em última análise, a Revolução Francesa promoveu os ideais iluministas e


transformou radicalmente França ao abolir o domínio exclusivo dos privilegiados de
monarquias antigas, permitindo a participação de todos durante o novo período
republicano. Além disso, teve também um impacto significativo nas mudanças sociais
até aos dias de hoje, ao estabelecer os fundamentos das sociedades democráticas que
garantem os direitos e liberdades que desfrutamos actualmente. Se por um lado houve

v
RÉMOND, René – Introdução à História do nosso tempo. Do Antigo Regime aos nossos dias. Lisboa:
Gradiva, 1994, p.126.

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rupturas, também se observou continuidades: a desigualdade social persistiu, embora
sob novas formas, e a ascensão da burguesia ao poder político não necessariamente
resultou numa distribuição mais equitativa de recursos e oportunidades.
Adicionalmente, a Revolução Francesa foi seguida por um período de instabilidade e
violência, exemplificado pelo “Reinado do Terror” liderado por Robespierre e os
Jacobinos, durante o qual milhares de pessoas foram executadas sob o pretexto de
defender os ideais revolucionários.

Bibliografia:

HOBSBAWN, Eric – A Era das Revoluções. 6ª ed. [S.I.]: Editorial Presença, s/d.

RÉMOND, René – Introdução à História do nosso tempo. Do Antigo Regime aos


nossos dias. Lisboa: Gradiva, 1994.

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