Cistos Odontogenicos em Criancas Analise Da Descom

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Cistos odontogênicos em crianças: análise da descompressão cirúrgica em


dois casos The Odontogenic Cyst in Children: Analysis of the Surgical
Decompression in 2 Cases

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Leandro Souza Pozzer Miguel Jaimes


University Paulista - UNIP Swift - Campinas, SP, BR National University of Colombia
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Cistos odontogênicos em crianças: análise da descompressão
cirúrgica em dois casos

The Odontogenic Cyst in Children: Analysis of the Surgical Decompression


in 2 Cases

Leandro PozzerI
Miguel JaimesII
Henrique Duque de Miranda Chaves NettoII
Recebido em 05/02/2008 Sergio OlateIII
Aprovado em 18/06/2008 José Ricardo de Albergaria BarbosaIV

RESUMO
Os cistos odontogênicos apresentam-se associados a uma variedade de situações clínicas que devem ser
consideradas durante o plano de tratamento. Patologias odontogênicas apresentam baixa incidência em
crianças, sendo a relação com elemento dentário permanente um fator decisivo na propedêutica. Cistos
dentígeros (CD) associados ao germe permanente e cistos radiculares (CR) são pouco prevalentes. O tra-
tamento de escolha geralmente é o cirúrgico, visando à integridade do elemento permanente. Nestas con-
dições, a marsupialização apresenta-se como uma opção terapêutica. Uma revisão dos aspectos relevantes
no tratamento é descrita por meio de dois casos clínicos.
Descritores: Cisto Dentígero/cirurgia. Cistos Odontogênicos/terapia. Patologia Bucal.

ABSTRACT
Odontogenic cysts are generally associated with a variety of clinical situations that should be considered
during the planning of treatment. There is a low incidence of these cysts in children, the relationship with
the permanent tooth being a major factor in the choice of treatment. Dentigerous cysts associated with
permanent teeth and radicular ones have a low prevalence. The choice of treatment is usually surgical, with
the aim of achieving integrality of the permanent tooth. A review of the important aspects of the treatment
is made and two clinical cases are described.
keywords: Dentigerous Cyst/surgery. Odontogenic Cysts/treatment. Pathology, Oral.

INTRODUÇÃO (II)10. O diagnóstico diferencial é através de análise


Os cistos odontogênicos se originam dos histopatológica, principalmente pelo fato de as ca-
componentes epiteliais do aparato odontogênico ou racterísticas clínicas e radiográficas serem bastante
dos seus remanescentes, que são capturados dentro semelhantes. O diagnóstico diferencial dessas lesões
do osso ou dos tecidos gengivais periféricos, sendo são o ameloblastoma unicístico, tumor odontogênico
classificados em desenvolvimento (I) ou inflamatórios adenomatoide, cisto odontogênico de calcificação12.

I
Graduando, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.
II
Doutorando, Área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual
de Campinas, Brasil.
III
Doutorando, Área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de
Campinas, Brasil. Professor, Departamento de Odontologia Integral, Faculdade de Medicina, Universidade de La Frontera, Chile.
IV
Professor Titular, Departamento de Cirurgia e Traumatologia BucoMaxiloFacial, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade
Estadual de Campinas, Brasil.
ISSN 1679-5458 (versão impressa) Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-fac., Camaragibe
ISSN 1808-5210 (versão online) v.9, n.2, p. 17 - 22, abr./jun.ho 2009
POZZER et al.

Os cistos odontogênicos são compostos por


cistos dentígeros (14%), queratocistos (27%) e cistos
radiculares (59%), principalmente1. A distribuição
espacial mais frequente dos cistos radiculares é na re-
gião anterior da maxila, enquanto os cistos dentígeros
apresentam uma incidência superior na mandíbula,
e os queratocistos apresentam-se prevalentes em
região de ângulo e ramo da mandíbula.
Os cistos de desenvolvimento são normalmen-
te assintomáticos, apresentando grande potencial de
crescimento, podendo, em alguns casos, se expandirem
através da cortical óssea. Radiograficamente, os cistos
Fig. 1. Presença de imagem radiolúcida delimitada,
dentígero e radicular apresentam um aspecto radiolúcido associada ao colo do dente 45, que se apresenta
deslocado inferiormente. Oclusão classe I, com al-
unilocular circunscrito, com características osteolíticas 11. teração na simetria eruptiva do pré-molar inferior.
A exodontia do dente decíduo tinha sido realizada
A grande diferença radiográfica entre eles é a localização
há 3 semanas.
em relação ao dente associado, pois o cisto dentígero
fica envolto da coroa anatômica do dente, e o radicular Após avaliação do dente permanente, foi
se situa em posição apical em relação ao elemento instaurado o tratamento cirúrgico com a marsupia-
dentário9. lização do cisto e exposição do dente permanente
O presente trabalho apresenta considerações associado, com o objetivo de permitir a sua formação
sobre o planejamento e a conduta cirúrgica em dois radicular e erupção espontânea do dente, visto que
casos de cistos associados ao dente decíduo com seu ápice permanecia aberto.
deslocamento do dente permanente. Sob anestesia local (lidocaína 2% 1:100.000
realizou-se uma incisão linear e intra-sulcular, sem
Caso 1 relaxante, envolvendo os dentes adjacentes na sua
Paciente sexo masculino, 10 anos de idade, região vestibular. Posteriormente foi identificada uma
compareceu à Área de Cirurgia encaminhada pelo área de decolamento que permitiu a remoção da
ortodontista, devido à presença de uma imagem cápsula cística na sua região superior e a exposição
radiolúcida de 1,5 cm de diâmetro observada na do dente permanente. No transcirúrgico, o dente
radiografia panorâmica após a exodontia do dente apresentou mobilidade aumentada, havendo então
8.5. A extração foi inicialmente indicada por apre- suporte ósseo para assegurar sua manutenção. Fi-
sentar assimetria na sequência de erupção dentária nalmente foi realizada sutura com fio cat-gut 3-0. A
e alteração na cronologia de erupção dos dentes análise histopatológica diagnosticou cisto dentígero.
permanentes (Figura 1). O paciente apresentava-se Foram prescritas irrigações diárias com soro fisiológico
assintomático. Na radiografia panorâmica, observou- (0,9%), visando remoção mecânica de resíduos até o
se uma região radiolúcida bem delimitada ao redor momento em que foi possível evidenciar a presença da
da coroa do dente 45 de, aproximadamente, 1,5 coroa do dente permanente. Após proservação de 14
cm de diâmetro. O dente encontrava-se deslocado meses, foi possível observar a erupção do dente per-
apicalmente, em direção à base da mandíbula. manente com integridade dos tecidos moles e ósseo,
garantindo a manutenção da função dentária (Figura
2). O diagnóstico histopatológico foi cisto dentígero.

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POZZER et al.

Fig. 3. Imagem clínica e radiográfica apresentando


área radiolúcida associada ao dente decíduo, en-
volvendo região coronária e radicular do dente 45
que se encontra deslocado e com angulação pouco
favorável para erupção espontânea. Na radiografia
periapical, observa-se uma angulação mais favorá-
vel para a erupção do dente.

Fig. 2. Pós-operatório de 14 meses. Observa-se


erupção do dente 45 com formação óssea adequada
e simetria dentária e tecido gengival com gengiva
inserida adequados.

Caso 2
Paciente com 10 anos do sexo masculino
Fig. 4: Imagem clínica e radiográfica pós-operatória
compareceu à Área de Cirurgia encaminhado por de 60 dias, evidenciando erupção e estabilização
cirurgião-dentista, devido à presença de uma ima- do tecido gengival. O Tracionamento não foi ne-
cessário, pois o dente apresenta movimentação e
gem cística em radiografia panorâmica. O paciente mudança na angulação, o que favorece a erupção
dentária.
apresentava-se assintomático. Ao exame clínico, ob-
servou-se dente 8.5 com cárie extensa e restauração
inadequada. Não apresentava aumento de volume DISCUSSÃO
nem irregularidades ao exame clínico (Figura 3). Na Cistos dentígeros são frequentes na cavidade
avaliação radiográfica (radiografia panorâmica), ob- oral, porém sua associação com dentes decíduos é
servou-se uma imagem radiolúcida bem delimitada, escassa. O diagnóstico deve ser feito em associação
associada à região apical do dente decíduo e à coroa com radiografia panorâmica e periapical (avaliação
do dente permanente, apresentando deslocamento da extensão e relações anatômicas da lesão), pun-
do pré-molar em direção ínfero-mesial. O tratamento ção aspirativa e biópsia incisional ou excisional para
cirúrgico consistiu na exodontia do dente decíduo e análise histopatológica3.
eliminação da parede superior do cisto. A conduta Algumas pesquisas apontam que a formação
pós-cirúrgica foi semelhante à descrita no caso no1. de cistos dentígeros associa-se com a acumulação de
Após dois meses de acompanhamento foi possível fluido entre o epitélio reduzido do esmalte ou entre
observar o trajeto eruptivo de dente permanente as capas do órgão do esmalte. Esta acumulação
com neoformação óssea (Figura 4) assim como a pode resultar da pressão exercida pelo potencial de
mudança na angulação do dente, o que permitiu a erupção do dente no folículo, o que poderia obstruir a
correta erupção dentária. O diagnóstico histopato- drenagem venosa e induzir à transudação de líquido
lógico foi cisto radicular, orientado, principalmente, através dos capilares da parede1. No entanto, outras
pela imagem radiográfica com as características da situações podem ser associadas na formação do cisto,
lesão e a estrutura dentária envolvida. como uma resposta inflamatória associada à pato-

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logia apical do dente decíduo2. Na mesma pesquisa, do dente adjacente, existe uma situação favorável
Benn e Altini (1996) estabeleceram relação entre o
1
que permitiria a erupção espontânea. Em 75% dos
desenvolvimento do dente decíduo cariado, posições casos, bons indicativos da erupção ocorreram no 109o
mais ou menos deslocadas do dente permanente e a dia. Desse modo, torna-se importante reconhecer
formação de cistos na primeira dentição. Com isso, o 100o dia pois este apresenta uma relação com a
a inflamação periapical do decíduo não vital poderia necessidade de se realizar ou não tracionamento do
afetar o folículo que recobre o permanente. dente permanente5.
Associações entre o cisto dentígero em Face os resultados dos casos apresentados, a
dentição decídua e o dente permanente na literatura marsupialização de cisto dentígero associada à den-
são raras. Martínez-Perez (2001)8 apresentou 3 casos tição mista é uma opção que pode ajudar a erupção
em região de pré-molar mandibular e um caso em do dente permanente sem gerar complicações.
região de canino maxilar, sendo todos tratados por
meio da descompressão. Kozelj (1999)7 apresentou REFERÊNCIAS
quatro casos de cisto dentígero com deslocamento 1. Benn A, Altini M. Dentigerous cysts of inflammatory
de dente permanente em região de pré-molar man- origin. A clinicopathologic study. Oral Surg Oral Med
dibular, tratados com descompressão erupção do Oral Pathol. 1996;81:203-9.
permanente. Delbem (2006)4 apresentou 2 casos,
sendo um tratado com enucleação e outro, com 2. Bando Y, Nagayama M. Odontogenic cysts induc-
descompressão. Esses autores concluíram que a tion by periapical infection in rats. J Oral Pathol Med.
marsupialização como conduta cirúrgica foi adequada 1993;22:323-6.
nos casos avaliados.
Em crianças, o tratamento dos cistos pode ser 3. Boyczuk MP, Berger JR. Identifying a deciduous
feito por remoção cirúrgica total ou marsupialização12. dentigerous Cyst. JADA. 1995;126:643-4.
Nesses casos, a opção de manter o dente permanente
oferece a oportunidade de erupção deste enquanto 4. Delbem AC, Cunha RF, Afonso RL, Bianco KG, Idem
não apresenta formação radicular completa. Por outra AP. Dentigerous cysts in primary dentition: reporto f
parte, quando a opção é a excisão total, o defeito 2 cases. Pediatr Dent. 2006;28:269-72.
ósseo deixado pelo cisto pode ser completamente
recuperado em um prazo de dois anos1. 5. Hyomoto M, Kawakami M, Inoue M, Kirita T. Clini-
Sendo assim, o tratamento de escolha pode- cal conditions for eruption of maxillary canines and
ria ser definido em função do tamanho da lesão . Em
8
mandibular premolars associated with dentigerous
lesões maiores, a extração do decíduo e a descom- cysts. AJO – DO. 2003;124:515-20.
pressão do cisto podem ser realizadas; no entanto,
principalmente a escolha deve se orientar na tentativa 6. Koseoglu BG, Atalay B, Erdem MA. Odontogenic
de permitir a erupção do dente permanente. Sendo cysts: a clinical study of 90 cases. J Oral Sci. 2004;
este o objetivo, a escolha pela descompressão cística 46:253–7.
deve ser considerada.
Para o sucesso da erupção do dente, deve 7. Kozelj V, Sotosek B. Inflammatory dentigerous
se avaliar a formação radicular e a posição do den- cysts of children treated by tooth extraction and
te. Quando a raiz tem menos que 50%, em posição decompression — report of four cases. Br Dent J.
vertical e não angulada em relação ao eixo vertical 1999; 187:587-90.

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8. Martínez-Pérez D, Varela-Morales M. Conservative


treatment of dentigerous cysts in children: a report of
4 cases. J Oral Maxillofac Surg. 2001;59:331-4.

9. Mosqueda A, Irigoyen ME, Díaz MA, Torres MA.


Quistes odontogénicos. Análisis de 856 casos. Med
Oral Patol Oral Cir Bucal. 2002;7:89-96.

10. Ochsenius G, Escobar E, Godoy L, Peñafiel C.


Odontogenic Cysts: Analysis of 2.944 cases in Chile.
Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2007;12:E85-91.

11. Shibata Y, Asaumi J, Yanagi Y, et al. Radiographic


examination of dentigerous cysts in the transitional
dentition. Dentomaxillofac Radiol. 2004;33:17-20.

12. Shand J, Heggie A. Cysts of the jaws and ad-


vances in the diagnosis and management of nevoid
basal cell carcinoma syndrome. Oral Maxillofac Surg
Clin N Am. 2005;17:403-14.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA


Prof. Dr. Jose Ricardo de Albergaria Barbosa
Av Limeira, 901 - Caixa Postal 52
Piracicaba/SP – Brasil
CEP 13414-903
E-mail: solate@fop.unicamp.br
barbosa@fop.unicamp.br

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