Seminabio, Gerente Da Revista, 3462-11542-1-CE

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Conhecimento sobre diabetes mellitus de pacientes atendidos em

programa ambulatorial interdisciplinar de um


hospital universitário público

Knowledge about diabetes mellitus of patients treated at


interdisciplinary ambulatory program of a
public university hospital

Gislaine Pinn Gil1; Maria do Carmo Lourenço Haddad2;


Maria Helena D. Menezes Guariente2

Resumo
Como o diabetes mellitus (DM) é uma doença que necessita de mudanças que duram para toda a vida,
torna-se necessária uma ação educativa para instruir e conscientizar o diabético da importância do seu
conhecimento sobre a doença como parte integral do cuidado. Tem-se como objetivo nesta pesquisa
avaliar os conhecimentos adquiridos por diabéticos atendidos em ambulatório interdisciplinar acerca
de temas relativos ao DM e comparar esses resultados com aqueles obtidos num estudo com o mesmo
objetivo realizado em 1995 com qual se obtiveram resultados desanimadores, o que conduziu à uma
reformulação metodológica da atividade educativa. Trata-se de um estudo descritivo na abordagem
qualitativa realizado com pacientes atendidos em um ambulatório interdisciplinar de um hospital
universitário público. Os sujeitos participantes foram dez diabéticos selecionados por amostragem
sistemática. Os dados foram obtidos por meio de entrevista semi-estruturada e gravada em áudio. As
questões norteadoras à entrevista foram compostas por temas referentes aos conhecimentos adquiridos
a respeito do DM, terapêutica medicamentosa, nutrição, automonitorização, atividade física e cuidados
com o corpo. Os entrevistados mostraram um bom conhecimento de diabetes mellitus, terapêutica
medicamentosa, nutrição e importância da atividade física. A automonitorização foi referida como
necessária para o controle glicêmico e reajuste do esquema insulínico. Os cuidados com os pés foram os
mais citados quanto aos cuidados corporais. O conhecimento sobre a temática questionada foi superior
ao do estudo realizado anteriormente. Concluiu-se que, após reformulação da atividade educativa, os
pacientes passaram a conhecer mais sobre a sua doença, evidenciando a importância da educação em
saúde no controle do DM.
Palavras-chave: Educação em diabetes. Diabetes mellitus. Equipe interdisciplinar.

Abstract
As diabetes mellitus (DM) is a disease that needs changes that last a life time, an educational action
is necessary to instruct and make the diabetic aware of the importance of his/her knowledge about the
disease as an integral part of the care. The purpose of this research is to evaluate the knowledge acquired
by the diabetic treated at an interdisciplinary ambulatory about themes related to DM and compare these
results with those obtained in a study with the same purpose carried out in 1995 when discouraging results

1
Residente de Enfermagem da área de Gerencia de Serviços de Enfermagem. Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná.
Universidade Estadual de Londrina-PR. E-mail: lainepinn@gmail.com.
2
Enfermeira; Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina-PR; enfermeira do
Ambulatório Interdisciplinar ao Diabético do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná.

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were obtained, leading to a methodological alteration of the educational activity. This is a descriptive
study in the qualitative approach carried out with patients treated at an interdisciplinary ambulatory
of a public university hospital. The subjects that took part in this study were ten diabetic selected by a
systematic sampling. Data were obtained by means of an audio-taped semi-structured interview. The
interview questions consisted of themes concerning knowledge acquired about the DM, medication
therapy, nutrition, self-monitoring, physical activity and body care. The interviewees showed good
knowledge of diabetes mellitus, medication therapy, nutrition and the importance of physical activity.
Self-monitoring was mentioned as necessary for the glycemic control and insulin scheme readjustment.
Feet care was the most mentioned activity regarding body care. Knowledge about the questioned theme
was greater than that of the study carried out previously. It was concluded that, after the educational
activity alteration, patients became more aware about their disease, highlighting the importance of
health education for the DM control.
Keywords: Diabetes education. Diabetes mellitus. Interdisciplinary team.

Introdução manifestações de disfunção autonô­mica, incluindo


disfunção sexual (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
O diabetes mellitus (DM) é um estado
DIABETES – SBD, 2003).
hiperglicêmico, acompanhado de complicações
agudas e crônicas, que podem incluir dano, disfunção Nesse contexto, as medidas de prevenção
ou falência de órgãos, especialmente de rins, nervos, tornam-se as únicas estratégias de redução da
coração e vasos sangüíneos. É uma doença comum morbimortalidade causada por essa doença. Para
e de incidência crescente. Em 1995, atingia 4% Paiva, Bersusa e Escuder (2006), o controle
da população adulta mundial e estima-se que em metabólico rigoroso associado a medidas
2025, alcançará a cifra de 5,4%. A maior parte desse preventivas e curativas relativamente simples são
aumento se dará em países em desenvolvimento, e capazez de prevenir ou retardar o aparecimento
neles se acentuará o atual padrão de concentração das complicações crônicas do DM, resultando em
de casos na faixa etária de 45-64 anos (BRASIL, melhor qualidade de vida ao indivíduo diabético.
2004). No Brasil, um estudo encontrou 12,1% de A atuação da equipe interdisciplinar de forma
diabetes na população de 30 a 69 anos (TORQUATO contínua, persistente, e em conjunto com o
et al., 2001). paciente e familiar pode minimizar o surgimento
Esta doença está sendo considerada um importante das complicações advindas da falta de cuidado
problema de saúde pública devido aos altos índices e no manejo do paciente ao longo do tempo
epidemiológicos, ao impacto negativo trazido para (HASHIMOTO, 2006).
sociedade, causado pelas suas complicações que O DM é uma doença que necessita de mudanças
levam o indivíduo à invalidez precoce e diminuem que duram toda a vida e seu tratamento exige uma
a qualidade de vida e sobrevida dos doentes, além terapia médico nutricional, medicações diárias,
dos prejuízos econômicos causados pelo alto exercícios físicos programados, automonitorização
custo do tratamento e freqüentes hospitalizações da glicemia, cuidados com o corpo, educação
(DUNCAN, 2004). permanente e modificação comportamental. Desse
As conseqüências a longo prazo como as modo, torna-se necessário uma ação educativa para
complicações crônicas incluem a nefropatia, instruir e conscientizar o diabético da importância do
com possível evolução para insu­ficiência renal, a seu conhecimento sobre a DM como parte integral
retinopatia, com a possibili­dade de cegueira e/ou do cuidado, proporcionando um melhor convívio
neuropatia, com risco de aparecimento de úlceras com a doença, tornando-o protagonista de seu
nos pés, amputações, artropatia de Charcot e tratamento e, assim controlando a patologia e suas
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complicações (BIRAL; CARDOSO; GRUSPAN, Esperamos, com esse estudo, contribuir com os
2005). profissionais que atuam neste serviço ao identificar o
conhecimento dos diabéticos e, dessa forma, analisar
Os profissionais de saúde têm a responsabilidade
a eficácia da mudança educacional implementada a
de auxiliar os portadores de DM ensinando-
partir de 1995.
lhes o autocuidado, instruindo-os sobre a
doença e conscientizando-os da importância da
automonitorização contínua da glicemia, de modo a
Metodologia
garantir mudança de comportamento e participação
no tratamento. Trata-se de um estudo descritivo na
abordagem qualitativa, realizado no Ambulatório
Tendo em vista que a conscientização e a educação
Interdisciplinar de Atendimento ao Diabético
são fatores fundamentais para um adequado controle
do Hospital Universitário Regional do Norte do
e prevenção da doença, um grupo de profissionais da
Paraná (HURNP), que é um órgão suplementar
área da saúde implantou, em 1984, um programa de
da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O
atendimento ambulatorial aos portadores de diabetes
HURNP é um hospital universitário público de grande
mellitus no Hospital Universitário Regional do Norte
porte que presta atendimento exclusivamente ao
do Paraná (HURNP). A equipe interdisciplinar foi
Sistema Único de Saúde, em todas as especialidades
composta por médico, enfermeiro, nutricionista,
médicas.
psicólogo e assistente social. Nas consultas
trimestrais, o diabético conhece sobre sua doença A população do estudo constituiu-se dos
e desenvolve habilidades necessárias para o seu pacientes acompanhados neste serviço em 2007.
autocuidado no dia a dia, tornando-o habilitado a Usou-se como critério de inclusão os pacientes com
lidar com seus aspectos físicos, sociais e emocionais diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 residentes
(ALMEIDA et. al., 2007). em Londrina-PR e grande região metropolitana, que
inclui os municípios de Ibiporã e Cambé. O critério
Em estudo realizado neste serviço, em 1995,
adotado para exclusão dos pacientes foi que os
com o objetivo de avaliar os conhecimentos teóricos
mesmos tivessem menos de um ano de diagnóstico
dos diabéticos obteve-se resultados desanimadores,
da doença.
culminando em uma reformulação global da
atividade educativa (ALMEIDA et al., 1995). O número de pacientes que preencheram os
Diante disso, a equipe passou a realizar atividades critérios foi N= 70 diabéticos. Os pacientes foram
educacionais incluindo ações individuais e grupais, classificados segundo o tempo de diagnóstico
porém focalizando a abordagem individualizada. da doença. Sendo o n desejado de 10 pacientes,
Comparar os avanços obtidos nestes 12 anos procedeu-se ao processo de amostragem
motivou a realização deste estudo. sistematizada (k= 70/10   k= 7). Esse cálculo foi
realizado seguindo recomendações de Polit, Beck e
Considerando que a maioria dos pacientes
Hungler (2004), que orientam dividir a população
cadastrados no programa são acompanhados
pelo tamanho da amostra desejada, para se obter
pela equipe interdisciplinar há mais de 20 anos,
a medida de intervalo da amostragem, que é a
tem-se como objetivo desta pesquisa avaliar os
distância padrão entre os elementos selecionados
conhecimentos desta população sobre o diabetes
(k). Posteriormente, o primeiro caso é selecionado
mellitus, a terapêutica medicamentosa, os aspectos
aleatoriamente, por meio de números aleatórios e, a
nutricionais, a automonitorização da glicemia, a
partir do número aleatório escolhido e do intervalo
atividade física e os cuidados com o corpo.
da amostragem, os casos são incluídos na amostra.

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Ainda segundo os autores, a amostragem sistemática de 01 a 02 e o tempo de participação no programa


conduzida desta maneira é essencialmente idêntica em anos (a).
à amostragem aleatória simples e, na maioria dos
Procurando atender os quesitos primordiais
casos, é preferível, porque os mesmos resultados
da ética em pesquisa (CONSELHO NACIONAL
são obtidos de maneira mais conveniente e eficiente.
DE SAÚDE, 1996), o projeto de pesquisa foi
Nos casos de recusa, ou quando o paciente não foi
submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa
encontrado após três tentativas consecutivas, o
Envolvendo Seres Humanos da Universidade
paciente subsequente na lista foi procurado.
Estadual de Londrina, e aprovado sob o parecer n º
Os dados foram obtidos por meio de entrevistas 086/07 (ANEXO 1).
semi-estruturadas, para permitir que o entrevistado
tivesse a liberdade e a espontaneidade necessárias
para o enriquecimento da investigação. Fez-se uso Resultados e discussão
de instrumento padronizado, gravadas em áudio com Dos dez entrevistados, sete eram do sexo
autorização dos entrevistados e, posteriormente, masculino e três do sexo feminino, e oito eram
transcritas sem alterações dos conteúdos das falas. O portadores de diabetes mellitus tipo 1, e dois, pais
instrumento foi composto por dados de identificação de crianças diabéticas. No caso do respondente
dos sujeitos e questões norteadoras referentes aos ser o pai, para os dados de identificação foram
conhecimentos adquiridos sobre o diabetes mellitus, consideradas as informações das crianças. Em
terapêutica medicamentosa, aspectos nutricionais, relação à faixa etária, observamos uma variação de
automonitorização glicêmica, atividade física e idade de sete a 33 anos
cuidados com o corpo (APÊNDICE 1).
Ao analisarmos o nível de escolaridade,
As entrevistas foram realizadas em local escolhido verificamos que a maioria dos respondentes
pelo informante, marcadas antecipadamente possuía ensino médio completo, condição esta que
por telefone em horário conveniente ao mesmo. pode caracterizar a população com bom nível de
Esclarecemos aos sujeitos participantes os objetivos compreensão cognitiva, e apenas dois possuíam
e natureza da investigação e iniciamos as entrevistas, um nível de compreensão regular, tendo apenas o
após eles terem assinado o termo de consentimento ensino fundamental completo e o outro, uma criança,
livre e esclarecido. estando na última série do ensino fundamental.
Para o tratamento dos dados, utilizou-se o método Esses dados nos indicam que os pacientes possuem
de análise de conteúdo, por ser uma técnica possível capacidade de discernimento para aquisição de
de ser aplicada a textos escritos. O objetivo desta conhecimentos e mostram que o trabalho foi
técnica é compreender criticamente o sentido das realizado com uma população diferenciada quanto à
comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente e as escolaridade, se comparados a outros estudos onde
significações explícitas ou ocultas (CHIAZZOTTI, predominou a baixa escolaridade da população
1995). Os dados coletados foram submetidos estudada (ALMEIDA et al., 1995; CAMATA, 2003;
à análise temática de conteúdo. As categorias KARINO, 2004; HADDAD et al., 2005; OCHOA-
temáticas foram elaboradas em três etapas, segundo VIGO et al., 2006), mas mostra-se semelhante à
Minayo (1994) pré-análise, exploração do material pesquisa de Teixeira (2003) quanto ao tempo de
e tratamento dos resultados obtidos e interpretação. estudo da população.

Para a apresentação dos relatos, os pacientes Em relação ao tempo da doença, verificamos


(p) foram numerados de forma aleatória, e assim, que a média de diagnóstico de diabetes mellitus foi
identificados pelo número de 01 a 08 e os pais (pai) de 10,2 anos, com variação de quatro a 16 anos.

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Oito pacientes iniciaram o acompanhamento no que os pacientes precisavam de reforços nos


ambulatório no mesmo ano de diagnóstico da doença, diversos conteúdos ensinados durante as atividades
outro um ano depois e outro após sete anos. educativas realizadas em grupo. Parte deste mau
resultado foi atribuído à idade avançada e à baixa
O ambulatório interdisciplinar de atendimento
escolaridade dos participantes, em discordância
ao diabético em questão tem, entre suas atividades
com o novo estudo, onde prevaleceu a faixa etária
assistenciais, empregado estratégias educacionais,
de adultos jovens e de escolaridade suficiente
visando a esclarecer os conhecimentos necessários
para compreender as orientações fornecidas pelos
para a vida do diabético, sendo que os pacientes são
profissionais. Em decorrência dos resultados
acompanhados já há muitos anos por esta equipe.
obtidos na pesquisa realizada em 1995, a equipe
Para um portador de DM, o conhecimento multidisciplinar decidiu combinar atividades
sobre sua doença é imprescindível na prevenção de educacionais incluindo ações individuais e grupais,
complicações, no autocuidado e na manutenção do porém focalizando a abordagem individualizada.
controle metabólico. Dos relatos observamos que O presente estudo comprova que as estratégias de
oito dos respondentes demonstram que possuem um intervenção aplicadas nestes 12 anos foram eficazes
bom conhecimento sobre a doença. Apresentamos no quesito conhecimento da doença.
alguns depoimentos:
Rickheim apud Sociedade Brasileira de Diabetes
“[...] impotência do pâncreas de produzir insulina (2006a) considera que a educação realizada de
que é responsável pela parte da metabolização forma individual tem a melhor relação custo/
da glicose que cai na corrente sanguínea quando benefício, pois seus resultados foram melhores na
nos alimentamos e que faz com que nós tenhamos ação individualizada do que nas atividades grupais.
que tomar insulina para substituir essa que não é
produzida pelo pâncreas”. (p. 1; 16a) Guariente et al. (2002) afirma que a assistência
individualizada garante maior estabilidade
“É uma insuficiência do pâncreas que não fabrica emocional aos portadores de DM, auxiliando-os a
insulina e com isso aumenta o açúcar, a glicemia no superar suas dificuldades.
sangue [...] o tipo 1 é dado mais em jovens, a pessoa
é dependente de insulina. O tipo 2 atinge mais os Acredita-se que a implantação de programas
idosos e é controlada com medicamentos e regime”. educacionais que permita ao diabético ampliar seus
(p.2; 7a)
conhecimentos relativos à doença, desenvolvido
“[...] a 1, uma das características geralmente é em um sistema público de saúde que ofereça infra-
emagrecer e da 2 é engordar. A 1 tem que tomar estrutura de apoio humano e técnico, possibilite
insulina, injeção mesmo, e a 2 pode ser tratada com
ao diabético uma vida mais longa e saudável
remédio via oral”. (p.4; 6a)
(ALMEIDA et al., 2002). Para Francioni e Silva
“Uma toma insulina e a outra não”. (p. 5; 7a) (2007), o conhecimento é um processo contínuo,
uma vez que a pessoa em condição crônica de
Estes resultados mostram que houve um avanço saúde necessita compreender as mudanças que
no conhecimento da doença, em comparação aos ocorrem para enfrentar o seu cotidiano e obter
dados obtidos por Almeida et al. (1995) que, em qualidade de vida.
estudo realizado neste mesmo serviço, avaliou a
Os pacientes conhecerem os sinais e sintomas
compreensão e memorização de conceitos acerca
das complicações geradas pelo mau controle do DM,
de DM. Na pesquisa, aplicada em dez grupos de
mas se confundem ao serem questionados a respeito
pacientes diabéticos, apenas um grupo atingiu
das complicações agudas, e, na maioria das vezes,
índice de acerto considerado ideal no quesito
as respostas tratam das complicações crônicas.
noções gerais a respeito de diabetes, e concluiu

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Porém, a falta de conhecimento de terminologias Em relação à automonitorização as respostas


corretas não afeta o tratamento em si, desde que foram semelhantes às encontradas no estudo que
saibam como controlar as manifestações agudas e Guariente et al. (2002) realizaram no mesmo serviço,
prevenir as complicações crônicas. Dois pacientes com crianças e adolescentes. Parte dos entrevistados
responderam corretamente as questões acerca desse (quatro) referiu ser necessária a realização desse
tema, conforme apresentado abaixo: procedimento para obtenção do controle glicêmico e
parte (seis), para identificar a dosagem a ser aplicada
“[...] [complicações agudas] a visão começa a de insulina. É o que se verifica nos relatos abaixo:
ficar turva, a visão da pessoa, porque a glicemia
com certeza deve estar alta, [...]confusão mental,
“É uma forma de saber como está o nível da nossa
até dificuldade pra raciocinar, [...] [complicações
glicemia, pra saber o tanto que a gente precisa
crônicas] Cetoacidose, hálito de fruta passada, [...]A
aplicar de insulina”. (p. 1; 16a)
gente sabe que pode dar problemas nos pés, devido à
má circulação, no coração, comprometendo os rins,
“Pra controlar o teor de açúcar no sangue dele”.
até a parte neurológica da pessoa; a visão também é
(pai 2; 6a)
afetada.” (p. 1; 16a)

“Agudas seria, então, perca da consciência, De acordo com Zanetti, Mendes e Ribeiro
hiperglicemia, hipoglicemia; é mais perca da (2001), a falta de reconhecimento pelos pais da
consciência, passar mal, náusea, essas coisas... e a importância do controle domiciliar para crianças e
crônica seria perca de visão, perca do rim, tem que
adolescentes e, a falta de informações quanto aos
amputar algum membro, seja dedo, perna, essas
coisas assim”. (p. 4;16a) equipamentos de controle e seu alto custo interferem
no controle glicêmico do DM. As pesquisas de
Oito pacientes tiveram desempenho satisfatório Guariente et al. (2002) e Almeida et al. (2002)
nas questões a respeito da terapêutica medicamentosa. ambas realizadas no mesmo serviço em que esse
Com respostas no linguajar popular, os entrevistados estudo foi realizado, mostraram que a freqüência
mostraram saber por que necessitam da insulina e de monitorizações dos pacientes está aquém do
não dos antidiabéticos orais, conforme apresentado proposto como ideal. O estudo de Almeida et al.
nos comentários abaixo: (1995) encontrou baixos índices de acertos quanto
ao assunto automonitorização, apesar de esse tema
“[...] como o pâncreas não fabrica a insulina, ela vai ser comentado em todos os retornos. Os resultados
repor essa insulina, então precisa usar para queimar obtidos em nosso estudo demonstram que a mudança
o açúcar”. (p. 2; 7a)
na abordagem educativa possa ter favorecido o
“Eu acredito que no caso da insulina a absorção é aprendizado.
mais rápida, mais completa. Acho que o comprimido
geralmente é como se fosse para complementar, Segundo Guariente et al.:
no caso da2 que eu falei que produz um pouco de
insulina”. (p. 4; 16a) a automonitorização glicêmica é parte fundamental
no tratamento do Diabetes Mellitus, uma vez que tal
“[...] porque o comprimido tem um efeito menor do procedimento permite detectar e prevenir quadros
que a insulina; porque no diabetes tipo 1 o pâncreas hipoglicêmicos conferindo ao diabético a capacidade
já parou de produzir ou ta produzindo menos, o tipo de reajustar as doses e tipo de insulina a fim de manter
2 ele ainda produz”. (pai 2; 6a) os níveis de glicose sanguíneo o mais próximo possível
do normal, evitando ou retardando o aparecimento de
“A tipo 1 ela não usa comprimidos porque o sistema complicações agudas e crônicas. (2002, p. 53).
já não funciona correto, quer dizer o pâncreas
não funciona nada e se você tomasse comprido, o Dentro da equipe interdisciplinar, o enfermeiro
comprimido não ia conseguir diminuir açúcar”. (p.
7; 10a)
é responsável pela capacitação do paciente no

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cuidado domiciliar de sua doença, incluindo a possibilita maior absorção e eficácia da insulina,
automonitorização glicêmica e a técnica de auto- se comparada ao rodízio de forma indiscriminada,
aplicação da insulina (ZANETTI; MENDES; onde é utilizada uma nova área do corpo para cada
RIBEIRO, 2001; ALMEIDA et al., 2007). E no injeção, que causa variabilidade importante na
atendimento ambulatorial da clientela em estudo, a absorção, dificultando o controle glicêmico.
equipe interdisciplinar conta com a participação de
Os cuidados nutricionais para o diabético não
enfermeiros que realizam as atividades educacionais
diferem das recomendações para uma alimentação
sobre estes temas.
saudável, aplicável à população geral e a família
Quanto às questões relacionadas à aplicação de como um todo, devendo o diabético alcançar sua
insulina, os respondentes sabiam da importância independência em relação à dieta, manejando o
do rodízio dos locais de aplicação e informaram seu cardápio diário em face dasdiversas situações
as conseqüências físicas causadas pela aplicação impostas pela doença, sejam essas de caráter agudo
sempre no mesmo local. Para tanto, foram ou crônico (VAZ; ASSUNÇÃO, 2002). Registraram-
usadas palavras como “caroços”, “nódulos” e se alguns comentários em concordância ao autor
“lipodistrofia”. Porém, percebeu-se a dificuldade acima citado:
de responderem corretamente a justificativa da
necessidade do rodízio quanto à irregularidade na “Deve ser bem balanceada. É importante comer de
absorção de insulina, fato que ocorreu somente nos tudo, mas assim, evitar massas, frituras e os doces”.
(p 8; 4a)
dois relatos abaixo:
“O diabético ela pode tudo desde que ele saiba a sua
“Não, porque forma nódulos, fica marcado e daí ele limitação. O diabético pode come um pedaço de doce,
passa a não ter absorção neste lugar”. (pai 2; 6a) mas ela não pode com uma bandeja, se ele fizer isso a
glicemia dele vai alterar bastante”. (p. 7; 10a)
“[...] pode formar depressões na pele, deformações,
ou ficar um caroço. Então, a pessoa tem que fazer “A gente teve a readequação alimentar [...] O cuidado
esse rodízio até como uma forma de aproveitar a que a gente tem na alimentação dele não é só pra ele
absorção da insulina ao máximo”. (p.1; 16a) é pra nós, a comida dele não é separada da nossa, a
vida dele não é separada da nossa, porque se faz bem
Um estudo acerca das complicações locais na pra ele pra nós também” (pai 2; 6a).
pele relacionadas à aplicação de insulina (CAMATA, “Ela deve ser em várias etapas, no mínimo umas 6
2003) concluiu que a principal complicação vezes por dia”. (p. 2; 7a)
apresentada pelos sujeitos da pesquisa foi o
hematoma, e que as complicações na pele estavam “[...] tem que procurar comer bastante fibras,
porque a fibra demora mais para liberar a glicose
ligadas, principalmente, à técnica inadequada da no sangue; procurar sempre dar preferência para
aplicação de insulina. O mesmo estudo sugere que verdura, legumes, não comer muito amido, frituras”.
os profissionais de saúde informem aos pacientes (p. 1;16a)
sobre esquemas de rodízios de locais de injeção, de
forma a prevenir as complicações na pele. Embora os pacientes saibam como deve ser a
alimentação para um portador de DM, a aquisição
Segundo as recomendações da Associação do conhecimento não é garantia de aplicação do
Brasileira de Diabetes (2006c), devem ser esgotadas mesmo na vida diária, como demonstra estudo em
as possibilidades de aplicação em uma mesma região que após receberem orientações dietéticas apenas
(aproximadamente sete aplicações) distanciando-as metade dos diabéticos seguiram as recomendações
aproximadamente dois centímetros uma da outra, a e realizou a dieta somente nos 15 dias seguintes
fim de prevenir a lipodistrofia. Essa forma de rotação que foram avaliados (ASSUNÇÃO; SANTOS;

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COSTA, 2002). Outro estudo também mostrou freqüência e duração ideal mais referida foram a de
inadequação alimentar dos diabéticos ao concluir uma hora diária realizada três vezes por semana,
que os pacientes necessitavam de orientação quanto mostrando que este item deve ser reforçado durante
ao maior fracionamento das refeições (cinco a seis a ação educativa. Os relatos abaixo demonstram
refeições menos volumosas), consumo adequado essas informações:
de hortaliças, cereais integrais, frutas, leite e
carnes magras, sendo que a principal justificativa “Bom, acho que todo mundo tem que praticar
para o consumo incorreto foi a questão financeira atividade, mas o diabético principalmente, porque
ajuda na circulação, ajuda a estar mantendo o
(BATISTA et al., 2006). Os aspectos financeiros diabetes controlado, colesterol, coisas que na
também foram citados em outros estudos como um diabetes complica [...] acho que pode realizar todas
entrave que dificulta o seguimento da dieta (PÉRES; as atividades, mas não em excesso, mas pode realizar
FRANCO; SANTOS, 2006). todas”. (p. 4;16a)

Embora a nutricionista do programa do HURNP “Praticamente todas, pelo menos não tem... claro,
atenda aos pacientes diabéticos individualmente, tem algumas mais perigosas, mas cuidando certinho
todas”. (p. 2; 7a)
o conhecimento sobre nutrição identificado no
estudo realizado por Almeida et al. (1995) também “Três vezes por semana, 1 hora por dia, ajuda
se apresentou insatisfatório. Sob esta ótica, bastante, é o ideal”. (p. 3; 11a)
verificamos um progresso nos conhecimentos
“Caminhada, natação, academia, mas o mais certo
teóricos relacionados à nutrição dos participantes do mesmo é caminhada”. (p. 6; 1a)
programa, pois todos os entrevistados responderam
corretamente as questões, evidenciando, mais uma “Todas, eu acho que todas sendo bem monitorado,
bem alimentado, não tem contra-indicação, se tiver
vez, que as ações planejadas obtiveram sucesso.
controle é todas”. (pai 2; 6a)
Comprovando a eficácia da educação nutricional,
“Ela deve praticar atividade física pra melhorar a
verificou-se, na pesquisa de Batista et al. (2005), circulação dela e também pra combater a obesidade
que, após a atenção multiprofissional, a redução do e pra glicose manter num nível controlado”. (p.8;
peso e a melhoria do controle glicêmico e dos lípides 4a)
séricos dos pacientes diabéticos que participaram de
seu estudo. Existem evidências consistentes dos efeitos
do exercício físico no diabetes mellitus, como
Os objetivos específicos da terapia nutricional são a melhora no controle glicêmico, redução do
contribuir para normalização da glicemia, reduzir risco de doenças cardiovasculares, diminuição
os fatores de risco cardiovasculares, obtenção e/ou do peso corporal e o aumento da auto-estima
manutenção do peso corpóreo saudável, prevenir (SBD, 2006b). A prática do exercício físico é uma
complicações agudas e crônicas do DM e promover atividade saudável para qualquer pessoa, porém traz
a saúde através de nutrição adequada (SBD, 2003). benefícios adicionais aos portadores de DM, como a
Ao analisarmos as respostas quanto aos melhora no condicionamento físico, principalmente
conhecimentos sobre atividade física, todos os da capacidade cardiorrespiratória, aumenta a
participantes da pesquisa responderam que essa massa muscular e diminui a tensão psicológica
atividade é possível de ser realizada por diabéticos, provocadas pela doença e pelos problemas diários
sendo o exercício “caminhada” referenciado mais (TAKAHASHI; HADAD; GUARIENTE, 1997).
vezes como uma atividade indicada para esta A implantação de um programa de atividade
população. A importância da prática física também física, em São Paulo, dirigido para diabéticos
foi relatada de maneira simples, porém correta. A sedentários, mostrou que, em três meses, houve
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Conhecimento sobre diabetes mellitus de pacientes atendidos em programa ambulatorial interdisciplinar...

redução nos valores médios de hemoglobina não, porque pode complicar na circulação, pode
glicosilada. O mesmo estudo aponta a forte comprometer, estar sempre cortando as unhas, tomar
cuidado para não se machucar”. (p.4;16a)
influência que a família exerce sobre o estilo de
vida e os comportamentos de saúde dos pacientes “[...] você tem que observar as costuras, se é um
(FECHIO; MALERBI, 2004). sapato macio, confortável, isso vai ajudar bastante
para o conforto dos pés; observar sempre a forma
De acordo com a Sociedade Brasileira de que corta a unha, observar antes de calçar o sapato
Diabetes (2007), a prática física deve ser realizada se tem alguma coisa dentro que está incomodando”.
no mínimo de três dias intercalados por semana, ( p.7; 10a)
sendo o ideal todos os dias e, de preferência no
O conhecimento sobre os cuidados com os pés
mesmo horário, pois menor freqüência por semana
se justifica porque, em 1999, foi implantado no
não possibilita resultados eficientes. A respeito da
serviço a avaliação sistematizada dos pés em todos
duração da atividade, recomenda-se o mínimo de 20
os atendimentos, com o objetivo de avaliação,
minutos por dia de atividade física aeróbica para que
acompanhamento e prevenção das complicações
os benefícios sejam alcançados, podendo chegar a
associadas ao pé diabético. Estudo realizado por
60 minutos, ou mais, de acordo com a taxa glicêmica
Haddad et al. (2005) concluiu que, após quatro
pré-exercício e com a proposta do trabalho.
anos de implantação dessa avaliação, foi possível
Takahashi, Hadad e Guariente (1997) alertam a promoção do autocuidado e redução dos riscos de
que esportes que não possam ser interrompidos desenvolvimento de ulcerações, o que contribuiu
a qualquer momento, como mergulho e pára- para uma melhor qualidade de vida do paciente, além
quedismo, devem ser evitados pelos diabéticos, de diminuir gastos com internações hospitalares
pois uma baixa na glicemia em quaisquer destas e amputações. Após oito anos da implantação
atividades pode ser fatal, mas que, à medida que eles dessa estratégia educacional e assistencial, o
adquirem conhecimento sobre sua doença, aprendem presente estudo enfatiza que este acompanhamento
a evitar a hipoglicemia realizando exercícios de possibilitou o conhecimento dos pacientes a respeito
forma adequada e devidamente alimentados. dos cuidados preventivos essenciais a complicações
O estudo de Almeida et al. (1995) também de membros inferiores.
apresentou resultados insatisfatórios quanto ao Resultado positivo também foi encontrado no
conhecimento sobre exercício físico, e apenas um estudo de Cosson, Ney-Oliveira e Adan (2005),
grupo atingiu o índice de acerto estipulado como bom, onde, após intervenção educativa, houve aumento
e houve contradição nas questões que justificavam a significativo do conhecimento sobre medidas
importância da realização do exercício. Novamente preventivas de cuidados com os pés de diabéticos.
o presente estudo aponta resultados melhores aos
Os portadores de DM devem ser conscientizados
encontrados anteriormente.
que seus pés são sensíveis e por isso, devem
Analisando as respostas quanto aos cuidados evitar traumas seja mecânico, químico ou térmico.
com o corpo, os cuidados com os pés quanto à Por meio da adoção de medidas simples, como
hidratação, uso de sapatos adequados, corte correto a higienização, a hidratação e uso de sapatos
das unhas e prevenção de ferimentos foram citados adequados, poderão reduzir os riscos de ulcerações
pela maioria (oito) dos participantes, conforme os e amputações (KARINO, 2004; HADDAD et al.,
relatos abaixo: 2005).
Karino (2004) Ochoa-Vigo et al. (2006) em seus
“Cuidado com os pés principalmente, não pode
água muito quente, sapato apertado, meio apertada estudos, reforçam a importância da consolidação de

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Gil, G. P.; Haddad, M. C. L.; Guariente, M. H. D. M.

programas de diabetes a fim de realizar orientações conseqüente melhoria da qualidade de vida, porque
educacionais na busca do controle metabólico e entendemos que educação para saúde feita por
grupos especializados, poderá ajudar os profissionais,
prevenção de traumas nos pés. pessoas portadoras de diabetes e famílias a atingirem
Após serem incentivados a responderem a qualidade de vida, ao longo do processo de doença.
(2002, p. 142).
acerca dos cuidados bucais, já que nenhum dos
respondentes mencionou o assunto, a maioria (sete) O trabalho interdisciplinar com diabéticos tem
disse que os cuidados são iguais aos da população apresentado bons resultados quando realizado de
em geral, não referindo que o diabético mal forma educativa e conscientizadora, preparando o
controlado tem maior propensão em adquirir doença paciente para enfrentar as dificuldades cotidianas
periodontal. Além disso, informaram não receber advindas da doença (CALDEIRA et al., 2005)
qualquer orientação a respeito da relação existente e reduzindo efetivamente a progressão das
entre diabetes e saúde bucal. Esses resultados são complicações (CAZARINI et al., 2002).
semelhantes aos encontrados por Sandberg apud
Caldeira et al. (2005). Em relação à periodicidade
da visita ao dentista, a maior parte dos entrevistados Conclusão
(seis) respondeu “de seis em seis meses”, referindo-
Quanto aos conhecimentos adquiridos sobre o
se a uma freqüência maior que a recomendada. No
diabetes mellitus, oito respondentes apresentaram
estudo de Almeida et al. (1995) verificou-se um
ter um bom conhecimento daoença, contudo apenas
elevado número de respostas erradas sobre esse
dois souberam diferenciar as complicações agudas
tema. Isso reflete a falta do odontólogo na equipe
das crônicas.
interdisciplinar no serviço do HURNP, mesmo
havendo esse curso na UEL. O dentista que entende A respeito da terapêutica medicamentosa,
o papel do diabetes na etiologia das doenças bucais, oito pacientes responderam de maneira simples,
o potencial da infecção oral sobre o controle mas correta, a necessidade do uso de insulina e a
glicêmico, as abordagens médicas terapêuticas e a ineficácia dos antidiabéticos orais no tratamento
implicação desta doença no cuidado odontológico do DM tipo 1. Nas questões relacionas à aplicação
pode fornecer ao paciente maior probabilidade de de insulina, houve acerto sobre a importância do
sucesso no tratamento (CALDEIRA et al., 2005). rodízio e conseqüências físicas do não uso desta
técnica, mas apenas dois diabéticos informaram da
O alvo da educação em saúde no DM deve ser
necessidade do rodízio devido à irregularidade da
melhorar o conhecimento dadoença, modificar
absorção da insulina.
hábitos que prejudiquem o controle glicêmico e
aprimorar as técnicas de aplicação da insulina, Em relação a automonitorização da glicemia,
promovendo o autocuidado (HADDAD et al., 2005). quatro pacientes disseram ser importante para o
A transmissão de conhecimento pelo profissional de controle glicêmico e seis para o reajuste do esquema
saúde é uma etapa de educação e este deve estar terapêutico.
ciente que é um processo contínuo que só terá fim Ao serem discutidos os aspectos nutricionais
com a mudança de atitude do paciente e não com todos os respondentes souberam relatar como
o término da explicação sobre a doença (VILLA, deve ser a alimentação dos portadores de diabetes
2000). mellitus.
De acordo com Cazarini et al., A análise das respostas relativas à atividade
física mostrou que a “caminhada” foi o exercício
com a educação de portadores de diabetes é possível mais referido como possível de ser realizado por
conseguir reduções importantes das complicações e
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diabéticos. A importância da atividade física foi Referências


respondida de forma simples, porém correta. A ALMEIDA, G. G. A.; TAKAHASHI, O. C.; HADDAD,
freqüência e duração ideal dos exercícios obtiveram M. C. L.; GUARIENTE, M. H. D. M.; OLIVEIRA, M. L.
respostas inadequadas. Avaliação dos conhecimentos teóricos dos diabéticos de
um programa interdisciplinar. Revista Latino-Americana
Os cuidados com os pés foram citados pela maioria de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 3, n. 2, p. 145-164,
dos participantes nas perguntas sobre cuidados com jul. 1995.
o corpo. Porém, os cuidados bucais não foram ALMEIDA, H. G. G.; GUARIENTE, M. H. D. M.;
referidos por nenhum deles, e ainda disseram não HADDAD, M. C. F. L.; VARGAS, V. M.; FREITAS, I.
R. S.; TAKAHASHI, I. T. M. Um olhar sobre vinte e dois
receber informações sobre a relação DM e a doença
anos de assistência multiprofissional ao diabético em
periodontal. Além disso, a periodicidade da visita hospital público de Londrina-PR. Diabetes Clinica, São
ao dentista foi respondida de forma inadequada. Paulo, v. 11, n. 4, p.363-372, jul./ago. 2007.

Com os resultados obtidos no estudo realizado no ALMEIDA, H. G. G.; CAMPOS, J. J. B.; KFOURI,
C.; TANITA, M. T.; DIAS, A. E.; SOUZA, M. M.
mesmo serviço porAlmeida et al. (1995) evidenciando
Perfil de pacientes diabéticos tipo1 insulinoterapia e
conhecimentos teóricos insatisfatórios por parte automonitorização. Revista da Associação Médica
dos pacientes do Ambulatório Interdisciplinar de Brasileira, São Paulo, v. 48, n. 2, p. 151-155, abr./jun.
Atendimento ao Diabético do HURNP, decidiu-se 2002.
por uma reformulação da assistência focalizando ASSUNÇÃO, M. C. F.; SANTOS, I. S.; COSTA, J. S. D.
em ações educativas individualizadas. Este estudo Avaliação do processo da atenção médica: adequação do
tratamento de pacientes com diabetes mellitus, Pelotas,
conclui que, após as estratégias implantadas, os
Rio Grande do Sul, Brasil. Caderno de Saúde Pública,
diabéticos atualmente conhecem mais sobre a sua Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, p. 205-211, jan./fev. 2002.
doença e seu autocuidado.
BATISTA, M. C. R.; PRIORE, S. E.; ROSADO, L. E.
Porém, temas como complicações agudas e F. P. L.; TINÔCO, A. L. A.; FRANCESCHINI, S.C.C.
Avaliação dietética dos pacientes detectados com
crônicas, freqüência da atividade física, necessidade
hiperglicemia na “Campanha de Detecção de Casos
do rodízio nos locais de aplicação de insulina e Suspeitos de Diabetes” no município de Viçosa, MG.
saúde bucal, necessitam ser reforçados. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia Metabólica, São
Paulo, v. 50, n. 6, p. 1041-1049, dez. 2006.
Salientamos a importância da equipe
BATISTA, M. C. R.; PRIORE, S. E.; ROSADO, L. E.
interdisciplinar constantemente avaliar o seu
F. P. L.; TINÔCO, A. L. A.; FRANCESCHINI, S.C.C.
processo de trabalho verificando se sua abordagem Avaliação dos resultados da atenção multiprofissional
apresenta resultados positivos ou carece de novas sobre o controle glicêmico, perfil lipídico e estado
direções educacionais. nutricional de diabéticos atendidos em nível primário.
Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 2, p. 219-228,
Mencionamos ainda, a importância e necessidade mar./abr. 2005.
da implantação do atendimento multiprofissional a BIRAL, A. M.; CARDOSO, P. M.; GRUNSPAN, S. A
diabéticos na modalidade grupal nos serviços de importância do educador em diabetes mellitus. Diabetes
saúde que abarquem o tratamento e a educação e, Clínica, São Paulo, v. 9, n. 3, p.193-199, maio/jun.
2005.
assim, proporcionem conhecimentos relativos à
doença a fim de promover o autocuidado e favorecer BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-
Americana de Saúde. Avaliação do plano de reorganização
o controle glicêmico, diminuindo, desta forma, o
de atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus
ônus trazido pela doença e aumentando a qualidade no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
de vida desta população. CALDEIRA, T. C.; NASSAR, C. A.; MASSUCATO,
E. M. S.; ORRICO, S. R. P.; NASSAR, P. O. Diabetes

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Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 29, n. 2, p. 141-154, jul./dez. 2008
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Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 29, n. 2, p. 141-154, jul./dez. 2008
Gil, G. P.; Haddad, M. C. L.; Guariente, M. H. D. M.

APÊNDICE 1
Instrumento de Coleta de Dados

Formulário

Aprendizado significativo no Ambulatório Interdisciplinar de Diabetes Mellitus do Hospital Universitário Regional


do Norte do Paraná

Dados de Identificação
Número do Prontuário:
Iniciais:
Sexo: ( ) F ( )M
Data de Nascimento: Estado Civil: Escolaridade:
Raça: Religião:
Profissão: Renda familiar:
Tipo de DM: Ano do Diagnóstico de DM:
Ano de entrada no programa do HURNP:

Questões relacionadas ao conhecimento sobre o diabetes mellitus:


1 – O que é diabetes mellitus?
2 – Quais são as diferenças entre diabetes mellitus tipo1 e tipo2?
3 – Quais são as complicações agudas que podem ocorrer em um paciente com diabetes mellitus que fica sem
tratamento por alguns dias?
4 – Quais são as complicações crônicas que podem ocorrer nos pacientes diabéticos?

Questões relacionadas à terapêutica medicamentosa e automonitorização da glicemia:


5 – Por que uma pessoa com diabetes mellitus tipo 1 não usa apenas comprimidos?
6 – Por que uma pessoa com diabetes mellitus tipo 1 precisa usar insulina?
7 – Por que uma pessoa com diabetes mellitus precisa realizar monitorização de glicemia periodicamente?
8 – Por que uma pessoa com diabetes mellitus pode ter uma glicemia capilar de 100mg/dl pela manhã e acontecer
de ter 400mg/dl à tarde?

Questões relacionadas à nutrição:


9 – Como deve ser a alimentação de uma pessoa que tem diabetes mellitus?
10 – O que uma pessoa com diabetes mellitus pode e não pode comer?
11 – O diabético pode comer doces com açúcar?

Questões relacionadas à atividade física:


12 – Por que uma pessoa com diabetes mellitus deve praticar atividade física? Qual deve ser a duração e a freqüência
da atividade?
13 – Quais são as atividades físicas que uma pessoa com diabetes mellitus pode realizar?

Questões relacionadas aos cuidados com o corpo:


14 – A aplicação de insulina pode ser realizada sempre no mesmo lugar? Por quê?
15 – Como uma pessoa com diabetes mellitus pode cuidar do corpo?

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