Aula Educação e Direitos Humanos

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Fundamentos Sociológicos da

Educação – FE/UFRJ
Profa. Gabriela Honorato

Educação e direitos
humanos
 Atualmente, a noção de uma “educação para os direitos
humanos” tem substituído a chamada “educação para
cidadania”, no sentido que se usou de forma dominante
até mais ou menos os anos 1960/70
 Embora permaneça a mesma preocupação com a
Educação para formação de cidadãos críticos, com uma concepção
cidadania ou para os educativa de participação cidadã e de transformação
direitos humanos? social (em direção a uma sociedade mais justa e humana)
 A diferença é que há uma mudança na pauta das questões
a serem enfrentadas pelos cidadãos, na linguagem
utilizada e nos conceitos enfocados
 Também muda a relação com o Estado
Vamos
entender...

Até mais ou menos as décadas de 1960/1970, a educação pública era pensada...

 Condição para a República se consolidar


 Educação associada a um projeto de nação moderna
 Educação para a transição rural-urbano
 Instrução racional, crítica (discurso)
 Ênfase na alfabetização
 Educação – Economia
 Tema dominante (reivindicações populares): condições de vida das classes TRABALHADORAS
 Estados muito lentamente foram expandindo as oportunidades de acesso à educação

E a relação pública, e de qualidade

 Somente nos anos 1990 no Brasil há universalização do Ensino Fundamental


com o  Escola técnica para as classes populares/trabalhadoras
Estado?  Universidade pública para elites mais qualificadas (com alto investimento nos governos
militares)

 Espaço para educação popular e movimento sociais

Em muitos casos...

 Os objetivos iluministas de uma educação republicana foram capturados por uma onda de nacionalismo extremo
 Exaltação de sentimento patriótico, de uma identidade brasileira e uma educação cívica extremista não está na origem da escola
moderna

 Com extremismos de governos autoritários, esse tipo de concepção educativa só beneficiava a “tirania”
 Nada mais era do que formar um cidadão que aderisse ao regime político autoritário; obtenção de "consenso" quanto às suas
propostas, apostando na força da penetração ideológica via escola pública

 "O campo educacional foi um dos alvos eleitos. Era um espaço com poder de moldar a sociedade a partir da formação das
mentes(...) e a educação seria a arena principal em que o combate ideológico sedaria" (Schwartzman, Bomeny, & Costa, 1984, p. 51).
Os direitos humanos (DH)

 São parte integrante da pauta dos três poderes


 É parte integrante da política de educação do Estado
 Assinatura de tratados internacionais, incorporação de recomendações na
Constituição, implementação de Leis

 O Estado se comprometeu, oficialmente, a respeitar e promover os DH


E hoje?  Isso porque os DH conformam a própria ordem jurídica e política
 No sistema de educação formal, há tendência dos DH serem tema transversal;
trabalhados em projetos interdisciplinares

 Promoção de valores éticos coletivos que constituem o fundamento da


convivência civil e do ordenamento jurídico
 Não se trata de um modismo; faz parte do currículo da educação básica
Os direitos humanos (DH)

 Não é impor um comportamento moral. Nossa sociedade é plural. O


Estado não defende uma moral única para todos, mas entre a moral e
o Direito, existe uma terceira dimensão – ethos coletivo (eticidade –
mundo dos valores coletivos próprios de um povo)
 Neste sentido, os DH seriam mais que direitos, são valores éticos
E hoje? públicos
 Seriam terreno comum de consenso sobre as condições necessárias
para um ser humano se humanizar, plenamente, hoje
 Os DH são um conjunto mínimo de direitos indivisíveis, inalienáveis e
garantidos em âmbito global, escapando às fronteiras geográficas dos
Estados Nacionais
 As pessoas existem, e, por existirem, têm esses direitos
Os direitos humanos (DH)

 Educação sexual  Multiculturalismo


 Educação para paz  Educação antirracista
 Educação para o trânsito  Ética e cidadania
E a escola tem  Educação para os direitos do  Educação decolonial
que dar conta consumidor
de uma série  Educação para saúde
 Direitos da criança e adolescente  Alimentação saudável
de temas
 Educação estética e musical  Culturas juvenis
 Conhecimento de línguas  Etc.
estrangeiras
 Educação ambiental
Conexão de vários fatores:

 Ampliação e aprofundamento do regime democrático


 Intensificação de lutas políticas e por direitos de minorias
 Demandas de integração e inclusão social
 Nova forma de pensar a cidadania, associada ao trabalho e vinculada ao
Estado Nacional
Por que delegar à escola
esses conteúdos?  Hoje, pensa-se o “cidadão global” e de uma consciência universal de
“humanidade”
 Escola é porta de entrada no espaço público, o que é diferente das lógicas do
ambiente privado das famílias. Só escola pode garantir que esses valores
sejam socializados com todos, independentemente da origem familiar

 A escola é local de diversidade e convívio de diferentes, regrado por códigos


que permitem a compreensão que a sociedade não extensão da família
Escola é local de sociabilidade e socialização

 Sociabilidade – relacionamento uns com os outros, ampliando círculos de


relações, aprendendo com amizades
 Socialização – conhecimento e experimentação de um conjunto de regras que
Temas e marcam nosso convívio no espaço público e que são fortemente influenciadas

atividades pelas estratégias de negociação das diferenças

(simples) para  Trabalho com a diversidade e diferenças é bem-vindo


o aprendizado  Trabalho com processos de negociação das diferenças
dos DH  Promoção de estratégias de boa convivência
 Em conexão com as leis, a justiça, os direitos, os deveres, respeito e
responsabilidade com os demais

 Professor deve atuar como um adulto de referência para os alunos, alguém


que representa o espaço público, a despeito do forte lobby contrário
Formação docente continuada

 Fazem parte do cotidiano escolar


 Constituem as tramas das relações que se estabelecem na sala de aula
e na comunidade onde está inserida a escola

O tema dos  Estão nas microrrelações cotidianas que atravessam sujeitos de

DH já estão
múltiplos e diversos pertencimentos. Portanto, devem ser trabalhados
pedagogicamente
na escola  A meta é transformar a escola em um território de respeito à
diversidade, de negociação entre muitos marcadores de diferença e
convívio fraterno entre alunos e alunas, em sintonia com a noção de
escola como espaço público
 Representação  Relação com a vida e com a promoção
de um mundo mais justo
 Debates sobre temas contemporâneos
 Construção de posicionamento pessoal
 Decisões coletivas
 Atividades de construção coletiva do
 Assembleias
saber
Competências  Conselhos
 Estudos de caso e situações-problema
cidadãs e direitos  Fóruns
 Pesquisa para analisar dados
humanos:  Palestras estatísticos

 Oficinas  Elaboração de propostas de

a dignidade da
intervenção social (na escola ou
 Cartilhas
comunidade)

pessoa humana  Atos públicos


 Simulação sobre o processo legislativo
 Contextualização de temáticas por
 Trabalhar com jogos pedagógicos
meio de referências artísticas (filmes,
músicas, quadros, etc.)  Museus e excursões
 Situações do dia a dia  Etc
 Notícias atuais
Voltando-se ao plano interno do Brasil, a preocupação com os direitos humanos toma corpo
a partir dos anos 1980, invocada pelos movimentos sociais na luta a favor do encerramento
da ditadura militar e reinstauração do regime democrático republicano. Como afirma Sader
(2007, p. 81), “[...] no período prévio à ditadura militar, o tema dos direitos humanos não
fazia parte da pauta de debates políticos, nem dos programas educacionais, ficando
reduzido aos currículos dos estudos jurídicos. Foi durante a ditadura militar que o tema dos
direitos humanos ganhou espaço de destaque”. No plano nacional, comissões de direitos
humanos, compostas por juristas, membros da Igreja Católica, do meio universitário, de
movimentos sociais, foram incorporados ao campo das lutas políticas, dos debates, das
denúncias, das matérias de jornal, de teses acadêmicas. A temática passou a disputar

Legislação espaço no discurso hegemônico, no plano nacional.

(Fachinettoet al., 2018) A Constituição Federal de 1988 consolida essa demanda, incluindo em seu texto diversos
dispositivos relacionados à garantia de direitos fundamentais à dignidade humana. Especial
destaque merecem os diversos incisos do Artigo 5º, que concentram a maior parte desses
direitos. Com isso, os direitos humanos tornam-se o debate mais presente na agenda
pública nas décadas de 1980 e 1990. O compromisso com o tema é reafirmado pelo Estado
brasileiro em 1996, com a elaboração da primeira edição do Programa Nacional de Direitos
Humanos I (PNDH). Uma segunda edição do programa foi elaborada em 2002, até
chegarmos à terceira e mais recente versão, o PNDH III, em 2010. Nessa versão do Plano
Nacional de Direitos Humanos há um eixo orientador dedicado com exclusividade à
promoção e garantia da Educação em Direitos Humanos.
Com a Portaria nº 98, em julho de 2003, ocorre a criação do Comitê Nacional para a Educação em Direitos Humanos, vinculado ao
Ministério da Justiça. Esse grupo, em conjunto com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Ministério da
Educação, encarrega-se da elaboração do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), Portaria nº 66/2003 da SEDH7 .
Esse plano foi revisto e sua versão final data de dezembro de 20068 . O PNEDH dialoga com o Programa Mundial de Educação em
Direitos Humanos da ONU, contendo princípios e ações programáticas orientadoras da ação política do Estado voltadas para cinco eixos:
educação básica, educação superior, educação não formal, educação dos profissionais dos sistemas de justiça e segurança e educação e
mídia. Em abril de 2009, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) elabora a Resolução CD/FNDE nº 15, que estabelece
orientações e diretrizes para a produção de materiais didáticos e paradidáticos voltados para a promoção, no contexto escolar, da
Educação em Direitos Humanos9 . Em 2012, o Conselho Nacional de Educação, por meio do Parecer n 8/2012 e da Resolução n 1/2012,
aprova as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH). Não se trata de diretrizes curriculares, pois não tratam
apenas de currículo, englobando também gestão da vida institucional educativa.

A aprovação da segunda versão do Plano Nacional de Educação em 2014 (Lei 13.005/2014) conferiu aos municípios o prazo de um ano
para se adequarem, elaborando os seus respectivos Planos Municipais de Educação (PMEs), sob pena de restrição de repasses
financeiros e da adesão a programas do governo federal voltados para a educação. O não recebimento de tais recursos traria
consequências negativas para as contas dos municípios, motivo pelo qual houve certa pressa na aprovação e sanção dos planos pelas
autoridades municipais até 24 de junho de 2015. A pressa dificultou a amplitude e profundidade dos debates locais com a sociedade civil
e resultou em diversas cidades do país enfrentando forte lobby religioso das igrejas militando contra a inclusão do que foi chamado de
“ideologia de gênero” nas escolas. As assembleias legislativas municipais se viram constrangidas a remover quaisquer referências ao
enfrentamento do machismo e da homofobia, lesbofobia e transfobia nas escolas, bem como remover políticas voltadas à inclusão das
minorias sexuais e compreensão sobre questões de gênero e sexualidade. De toda forma, esses temas estão postos para debate nas
escolas através de um número de ações e programas, bem como de materiais didáticos e livros que já circulam nacionalmente. A
necessidade de debater tais temas, bem como a compreensão da Educação em Direitos Humanos, leva à necessidade de formação
docente continuada.
Fontes

DIBBERN, Thais Aparecida; CRISTOFOLETTI, Evandro Coggo. A educação em direitos humanos diante da ascensão do “novo fascismo”.
Revista Sociais & Humanas, v. 30, n. 3, 2017.

FACHINETTO, Rochele F. et al. Educação em direitos humanos: componente curricular indispensável na escola pública brasileira
contemporânea. In: FACHINETTO, Rochele F. et al. EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2018.

SANTOS, Aldemir Valdir dos. Educação e fascismo no Brasil: a formação escolar da infância e o Estado Novo (1937-1945). Revista Portuguesa
de Educação, 25 (1), 2012.

TOSI, Giuseppe. Por que educar aos direitos humanos?

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