Fabianapincho, ENSAIO
Fabianapincho, ENSAIO
Fabianapincho, ENSAIO
ENSAIO
159
Revista Areia, n° 3, 2020.
Abstract: The decolonial perspective understands the production of hegemonic knowledge as a non-
neutral space, producer of realities that excludes and stigmatizes subaltern groups, as advocated by the
studies of Kilomba (2019) and Grosfoguel (2016). Discussing blackness and the remnants of
colonization, using theorists who are in the academic field, is insufficient to encompass the experiences
produced by the black people. The objective of this essay is to research for elements in music production
that bring other aspects of history about blackness and the effects of colonization. Adopting the
“decolonial spin” methodology, proposed by Castro Gomez and Grosfoguel (2007), understanding the
need to evoke institutionalized and non-institutionalized experiences for the field of academic
discussion. For this, the analysis of select moments of Beyoncé's musical career was carried out,
bringing to discussion some compositions that deal with blackness, feminism and Afro-centered
relationships. It is concluded that the epistemic erasure caused by the hegemonic white practices of
knowledge production resulted in new strategic methods for the permanence of the narratives of black
people. Music emerges as a space for maintaining experiences, breaking with colonial logics of
knowledge production and maintenance, extolling black narratives from non-academic spaces and
encompassing other experiences.
Apresentação
Desde que tive conhecimento acerca do conceito de “decolonialidade”, venho fazendo
o exercício de refletir sobre e entender as questões dadas no cotidiano a partir dele.
Aparentemente, o mundo se dividiu em alguns extremos: aquelas/es que se dizem decoloniais,
1
Graduando do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas
160
Revista Areia, n° 3, 2020.
161
Revista Areia, n° 3, 2020.
163
Revista Areia, n° 3, 2020.
164
Revista Areia, n° 3, 2020.
Minaj, rapper também negra, cuja apresentação em turnê ganhou uma introdução com frases da
pensadora nigeriana Chimamanda.
Essa é a perfeita transição para a terceira fase de Beyoncé, a sua consolidação. Na
terceira fase, agora sendo precursora de um novo estilo de produção e lançamento de álbuns e,
sobretudo, consolidada enquanto artista, a cantora lança um dos mais arriscados álbuns da vida
dela intitulado Lemonade. O álbum possui 12 faixas e, como o anterior, todas elas possuem
vídeos.
Lemonade the visual album (2016) é uma produção carregada de Beyoncé Giselle, que
traz como pano de fundo, em quase todas as músicas e vídeos, as discussões das relações étnico-
raciais e suas conexões com a existência enquanto mulher, mãe e esposa. Beyoncé mostra sua
relação com o marido em quase todas as canções, se expondo acerca de uma traição cometida
por este, criando um contraponto à música apaixonada, do álbum anterior, Drunk in Love.
Na primeira música Pray You Catch Me, Beyoncé relata o anseio de estar em casa
esperando o marido enquanto sabe que ele está com outra. Entretanto, em apresentação no ano
de 2016, na premiação musical Vídeo Musical Awards (VMA), da mesma música, a cantora se
veste de branco e rodeada de pessoas negras vestidas de branco em alusão ao que seriam anjos,
cada vez em que pronuncia I'm prayin' you catch me, ou seja, "estou rezando para você me
pegar", é possível ouvir um barulho parecido com tiro, uma luz vermelha sobre uma das pessoas
negras e logo em seguida, a queda no chão (VMA, 2017). A apresentação seria uma denúncia
direta a perseguição policial ao povo negro, especialmente no contexto americano em que
naquele ano de 2016 teria assassinado dois jovens negros e provocado uma onda de indignação
(G1, 2016).
O assassinato de pessoas negras é discutido por Bento (2018), como "necrobiopoder",
ou seja, um agrupamento de artifícios governamentais que, para manter a governabilidade,
provoca "zonas de morte" das quais, a partir de metodologias planejadas e sistematizadas,
estabelecem uma política de "fazer morrer". Beyoncé denuncia ainda a injustiça policial sofrida
pela população negra na música Forward, faixa presente no mesmo álbum. Em Formation,
faixa carro chefe de Lemonade, a cantora texana também traz como vocais iniciais Messy Mya,
jovem youtuber negro e gay que foi assassinado por policiais no ano de 2010 (VEJA, 2017).
Na segunda música do álbum, Hold Up, a cantora demonstra uma mistura de amor e
ódio pelo marido, que é endossada pela quarta música, Sorry, da qual discute o mito do amor
romântico, das expectativas em uma relação e demonstra as fragilidades do viver a dois. Em
165
Revista Areia, n° 3, 2020.
2
Tradução: Quando você me machuca, você se machuca / Não se machuque / Quando você me desrespeita, você
se desrespeita / Não se machuque / Quando você me machuca, você se machuca / Não se machuque, não se
machuque / Quando você me ama, você se ama / Ame a Deusa.
166
Revista Areia, n° 3, 2020.
Beyoncé utiliza-se do espaço que ocupa para falar sobre aquelas/es irmãs/os de cor
ligadas/os, direta ou indiretamente, com sua música. A produção musical da cantora subverte o
lugar de alteridade (KILOMBA, 2019) imposto ao povo preto e coloca-nos no patamar de
produtoras/es de nossos próprios selfs, ou seja, do nosso próprio eu, possibilitando assim,
espaços para que novas jornadas sejam possíveis (HOLKS, 2018).
Referências
BERNARDINO-COSTA, Joaze; GROSFOGUEL, Ramón. Decolonialidade e perspectiva
negra. Sociedade e estado. v.31, n.1, p.15-24. Jan-Abr, 2016.
BEYONCE. Don’t Hurt Yourself. Nova Iorque: Parkwood Entertainment, 2016. Disponível
em: https://open.spotify.com/track/78eouBKVRyhbSzJwChr6QM. Acesso em 21 dez. 2019.
HOLKS, Bell. Olhares Negros: Raça e Representação. Ed. 1. São Paulo: Elefante, 2018.
167
Revista Areia, n° 3, 2020.
Lemonade The Visual Álbum. Direção: Beyoncé Knowles, Kahlil Joseph, Melina Matsoukas,
Dikayl Rimmasch, Mark Romanek, Todd Tourso, Jonas Åkerlund. Produção: Beyoncé
Knowles et al.. Parkwood; Columbia, 2016. Duração: 45:49.
VEJA. Beyoncé processada por usar voz de youtuber morto em música. 2017. Disponível
em: <https://www.google.com/amp/s/veja.abril.com.br/entretenimento/beyonce-processada-
por-usar-voz-de-youtuber-morto-em-musica/amp/>. Acesso em: 20 Dez 2019.
VMA - Beyoncé - Pray You Catch Me (VMA 2016) . [S. l.: s. n.], 2017. Disponível em:
https://youtu.be/VLX5I9JiXTI. Acesso em: 21 dez. 2019.
WANG, Amy X. Os 50 momentos que definiram a música nos anos 2010, segundo a Rolling
Stone EUA. Rolling Stone. 2019. Disponível em:
<https://rollingstone.uol.com.br/amp/noticia/50-momentos-definira-a-musica-nos-anos-
2010/>. Acesso em: 20, Dez 2019.
168